Reportagem para a revista ELEELA

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reportagem

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AMOR EM TEMPOS DE crise Homens mais velhos, mulheres independentes, jovens casais na internet... Como anda a fidelidade nos tempos da comunicação virtual e dos animadores remédios para o sexo por

cesar lopes

ilustração

luciano scherer

Incomodada ficava a sua avó! A frase de um antigo anúncio publicitário cai como uma luva nos novos comportamentos e conceitos estabelecidos pelos relacionamentos modernos. No tempo delas, nossas avós, a famosa pulada de cerca era uma coisa típica (e quase exclusiva) masculina. O homem escolhia com quem iria se casar, ter filhos e constituir família e com quem iria se divertir. As pobres esposas sofriam com longas esperas, pois eram educadas para aceitar as escapadas do varão e, além de tudo, perdoá-los. Na cultura ocidental, ainda (!?) fortemente baseada num patriarcado machista e conservador, o homem com muitas mulheres é considerado um garanhão, um comedor, enquanto as mulheres que se acham no mesmo direito são chamadas de promíscuas e outros nomes impublicáveis. Historicamente, as moças consideradas direitas pelos padrões estabelecidos ficavam isoladas em casa cuidando dos filhos, o que oferecia poucas oportunidades e situações que pudessem levá-la à traição e a vingar a galhada adquirida. “A mulher, na questão de sexualidade, é muito mais fechada. Uma irmã, uma esposa, uma mãe podem trair durante anos que ninguém ficará sabendo”, analisa Marta Nunes, 45 anos, terapeuta de casais desde 1994. “Também observo muita traição entre amigos, casais com 20, 30 anos de amizade. É comum haver trocas de casais e ninguém ficar sabendo”, complementa ela. O fato é que do tempo de nossas avós para cá, muita água passou por baixo da ponte e essa senhora submissa, que esperava o marido para jantar com as novidades sobre os filhos e os chifres na testa entrou em extinção. No lugar das Amélias surgiu uma dona de si mesma, independente, profissional e, pasmem os otários, infiel. Quando o assunto é relacionamen-

to, as moçoilas estão enfeitando muuuito mais as cabeças masculinas. Pelo menos é o que garantem os pesquisadores da Universidade do Colorado e da Universidade A&M, no Texas. Eles realizaram uma pesquisa em que entrevistaram 4.884 mulheres casadas – pessoalmente e por computador – e constataram que apenas 1% admitiu ter traído o marido no último ano, enquanto no anonimato do meio eletrônico, esse número cresce para 6%. “É quase impossível mensurar o resultado desse tipo de pesquisa, pois a maioria das pessoas mente diante de uma questão tão pessoal, mas observei que nos últimos anos aconteceram muitas mudanças. A mulher de 30, 40 anos aprendeu a distanciar mais amor de sexo. As de 50 talvez um pouco menos. É mais essa faixa etária que ainda vai para a noite”, revela Marta Nunes. Os estudos mais confiáveis sobre traição saíram da Pesquisa Social Geral, que é coordenada pela Universidade de Chicago. Desde 1972, a instituição monitora comportamentos humanos. As pesquisas, cuja última atualização é de 2006, apontam que cerca de 10% das pessoas casadas dizem ter mantido relações sexuais fora do casamento no ano anterior – a média é de 12% para homens e de 7% para mulheres. E as revelações não param. Na Universidade de Washington foi descoberto que a porcentagem de homens com mais de 60 anos que já foram infiéis em algum momento da vida subiu de 20%, em 1991, para 28%, em 2006. Para mulheres na mesma faixa etária o salto foi de 5% para 15%. “Os novos remédios para disfunção erétil, e estrogênio e testosterona para manter a saúde vaginal e a libido da mulher colaboraram para isso. Uma mulher de até 55, 60 anos ainda pode ter uma vida sexual muito boa e atrair homens de diversas idades”, atesta a terapeuta.


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