Grande Plano Fátima de Sousa jornalista fs@storemagazine.net
“Temos de ser capazes de construir economias baseadas na inteligência”. A afirmação é de Augusto Mateus, economista, ex-ministro da Economia e fundador da consultora Augusto Mateus & Associados. Na sua opinião, este é o momento da inteligência. Até nas medidas de austeridade: “Austeridade inteligente é aquela que percebe que não há ganho nenhum para o País em que o Estado esteja organizado sem eficiência”.
Augusto Mateus, economista e consultor
O momento da inteligência Store | Tem defendido que a saída da crise não está no aumento dos impostos, mas no investimento privado. Como? Augusto Mateus | Estamos nesta situação de dificuldade por duas razões. A primeira é que virámos a economia demasiado para dentro de casa, quando devíamos tê-la virado mais para fora, uma vez que somos uma economia pequena. O mundo mudou muito nos últimos 20 anos, acelerou-se aquilo a que chamamos globalização, formaram-se mercados verdadeiramente globais, as cadeias de abastecimento e de valor tornaram-se 10 Janeiro/Fevereiro/Março de 2013
também elas globais. Há hoje uma imensa fragmentação das atividades das empresas por todo o mundo: é muito menos importante onde as coisas são feitas e muito mais importante quem distribui essas coisas junto dos consumidores finais. Temos uma inflexão imensa a fazer, que é passar de uma economia virada para dentro para uma economia mais virada para fora, mas numa perspetiva global – temos de perceber que tanto podemos levar bens e serviços a consumidores que estão no exterior como podemos trazer consumidores do exterior para consumir
bens e serviços. Por outro lado, há muito a fazer em Portugal concorrencialmente para vender tão bem no mercado doméstico como no internacional: há muitas atividades em que fazer concorrência às importações é exatamente o mesmo que exportar, uma vez que estamos a disputar o mercado de bens e serviços transacionáveis. Store | Qual é a segunda razão que aponta para estarmos nesta crise? AM | Fomos longe demais no modelo de financiamento do consumo pela dívida. Seguramente que
as pessoas consumiram mais do que podiam, não no sentido de que faça mal às pessoas acederem a bens e serviços no consumo, mas faz mal aceder de forma não sustentável. Precisamos de fazer uma coisa muito fácil de enunciar mas difícil de concretizar que é revisitar os nossos modelos de consumo e ajustá-los. Para quem não está muito limitado nas suas escolhas pelo poder de compra, é possível melhorar o nível de vida eventualmente até com uma redução da despesa de consumo. É completamente diferente uma família ter menos despesa de consumo porque STORE MAGAZINE