NOV 2016 | MENSAL | 2€
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JORNAL ENFERMEIRO C O N T E X TO S , C O M P E T Ê N C I A S E N E C E S S I DA D E S DA E N F E R M A G E M
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Enfermeiros são essenciais no diagnóstico educativo da diabetes RUI OLIVEIRA
08 JOANA RAMOS OLIVEIRA
COMER PARA CONTROLAR A DIABETES
11 VACINA PNEUMOCÓCICA
AS VANTAGENS DE ALARGAR A COBERTURA
12 ESTUDO EUROPEU
O RISCO DE SUBSTITUIR ENFERMEIROS POR AUXILIARES
Um novo paradigma É urgente e necessário uma mudança de paradigma na prestação de cuidados de saúde. O foco das intervenções tem de ser cada vez mais nos/pelos Cuidados de Saúde Primários, nas famílias e na comunidade e, associada muito a esta intervenção,
OPINIÃO
a prevenção, enquanto disciplina maiúscula de objectivos.
comunidade e do seu universo. Se “pensarmos” dentro desta escola a saúde dos seus alunos, estaremos com certeza e inequivocamente a pensar, a intervir, a tratar/cuidar/ prevenir na saúde comunitária do seu universo de comunidade. E estas escolas/agrupamentos, que às vezes até podem ser de uma mesma cidade, têm universos/ comunidades obrigatoriamente diferentes. Esta escola, a escola de hoje, é o encontro de multiculturalidades, face à globalização que vivemos, porquê? Porque: > É o (re)encontro/descoberta(s) de valores, referências e saberes; > É integradora, enquanto receptadora de alunos de várias culturas, civilizações e formas de agir e pensar; > É socializadora e socializante para/e da sua comunidade; > É educadora enquanto disponibiliza e oferece conhecimento, experiência e oportunidade/possibilidade da cultura do eu diferente; > Mas também tem de ser + aberta, + integradora, +actualizada, + moderna. Mas a saúde também tem que seguir estas variáveis para poder acompanhar e intervir nestas realidades comunitárias actuais. A escola, enquanto micro universo de uma comunidade, é um local/espaço privilegiado para a construção da personalidade, da socialização e do espaço para a manifestação de muitos afectos, tem que ter a capacidade e a flexibilidade de compreender inúmeros fenómenos que se conjugam em acontecimentos
culturais, sociais e políticos, mas também, antropológicos, biográficos e biológicos. Por isso a parceria com a saúde é crucial e indispensável, numa intervenção comunitária responsável. Penso que a intervenção e parceria da saúde na escola potencializa: a importância da literacia em saúde; a prevenção – os ganhos em saúde verificam-se essencialmente pela mudança de comportamentos e adopção de hábitos e estilos de vida saudáveis; a prevenção é o que criará a sustentabilidade do SNS. E, por isso, entre muitas outras intervenções em Saúde Escolar, é preciso: potencializar as competências sócio-emocionais; potencializar a saúde oral e prevenção de cáries dentárias. Por isso, evitar que seja uma porta de entrada para futuras patologias; potencializar os afectos e a sexualidade enquanto disciplina major de intervenção; potencializar os hábitos de sono e repouso; prevenir comportamentos aditivos; e prevenir acidentes escolares e peri-escolares. É este um campo enormíssimo e infindável de trabalho. Não podemos ser líricos perante esta realidade, mas também não a podemos ignorar. Assim, entendo que há investimento a fazer: > Investimento na investigação em Saúde Escolar promovida pelas unidades de saúde; > Fomentar a qualificação para uma intervenção capaz, abrangente e selectiva nas escolas; > Articulação conjugada com as entidades do terreno (autarquias, redes sociais, IPSS);
Humberto Domingues enfermeiro especialista em saúde comunitária
> Pensar na importância do enfermeiro nas escolas, tal como existe o psicólogo e amanhã, talvez, o assistente social. Em minha modesta opinião, tudo o que a saúde quiser trabalhar no âmbito da prevenção e no desmistificar de “muros e barreiras” que possam parecer intransponíveis, terá que ser trabalhado a nível da Saúde Escolar onde tudo, me parece, é mais fácil, oportuno, económico e no contributo para a “construção” de cidadãos mais conscientes, conhecedores e praticantes da sã cidadania.
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domicílio/família/ /cuidador(es) tem de passar a ser o espaço interessante e de eleição para uma das muitas intervenções nobres que os profissionais de saúde desenvolvem e prestam às populações. Neste particular, a configuração agora das unidades de saúde acrescenta uma mais-valia ao cuidar das populações clientes. E nessa perspectiva, as Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) têm/possuem uma mais-valia que é/tem de ser potencializada pela proximidade e conhecimento que tem (e vai adquirindo) junto da população que cuida/trata/ reintegra/e previne. Para além das potencialidades que estas intervenções adquirem, verifica-se um ganho económico inquestionável pela diminuição dos dias e custos de internamento hospitalar, conjugado com a mais-valia e conforto do doente, ao ser tratado no seu domicílio, no seu ambiente favorável, longe das muitas infecções hospitalares. Aqui há uma intervenção de importância major do trabalho das equipas de Cuidados Continuados Integrados. O conjunto de intervenções na comunidade é de uma dimensão e importância grande. Neste particular, a intervenção nas escolas, através da Saúde Escolar, ganha uma prioridade visível, aceite e aceitável por todos os parceiros. Nas escolas está uma larga franja da população do nosso território e da nossa comunidade. Por isso, é importante pensar e nunca dissociar esta escola da sua
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Rui Oliveira, enfermeiro da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal
Enfermeiros essenciais na prevenção da diabetes
ENTREVISTA
A 14 de novembro celebrou-se o Dia Mundial da Diabetes, doença cuja prevalência continua a aumentar em Portugal. Atualmente, quatro em cada 10 pessoas têm diabetes ou pré-diabetes e, dessas quatro, três não saberão que a têm. É, por isso, importante estar alerta aos sintomas da doença para evitar males maiores, como problemas oftalmológicos, cardiovasculares, renais ou, no extremo, amputação de membros inferiores. O enfermeiro Rui Oliveira, da Associação Protectora dos
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ENTREVISTA
Diabéticos de Portugal (APDP), enquadra o papel dos enfermeiros neste cenário.
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JORNAL ENFERMEIRO | Qual o panorama da diabetes em Portugal? O número de doentes está estável? Rui Oliveira | O panorama é um bocadinho negro. Nós temos uma prevalência de diabetes superior a quase todos os países europeus, quase metade das pessoas que têm diabetes não sabem que a têm e, quando juntamos aquelas condições que genericamente são consideradas por “pré-diabetes”, ficamos com uma prevalência gigante no país. Quatro em cada 10 pessoas no país poderão ter diabetes ou pré-diabetes e, dessas quatro, três não saberão que têm. Isto significa que essas três pessoas em 10 podem vir a ter consequências da diabetes sem sequer pensarem que têm a doença e andam sem qualquer vigilância ou tratamento. Os números têm aumentado progressivamente, como em quase todos os países. Isso pode dever-se a vários fatores, normalmente o sedentarismo e uma pior alimentação e, por isso, todos os países desenvolvidos ou em grande desenvolvimento têm as taxas de prevalência a aumentar. O estudo de prevalência nacional foi estatisticamente bem desenhado, são números fiáveis e todas as observações que temos agora têm grande rigor científico.
Estamos com uma prevalência de diabetes de 13,1%, que cresceu 1,4% de 2009 a 2014, portanto, ainda estamos na curva crescente. E temos 40,3% de diabetes ou prédiabetes. JE | Qual o papel dos enfermeiros na prevenção da diabetes? RO | Eu diria que é um papel muito importante, neste momento, não só na prevenção da diabetes, mas na promoção de estilos saudáveis. O enfermeiro não trabalha isoladamente aqui: temos os enfermeiros a ir às escolas, ajudando professores a educar para tornar os hábitos mais saudáveis, e, depois, já numa população adulta, temos o enfermeiro a colaborar na deteção da população de risco (pessoas já com excesso de peso, com algum sedentarismo, com uma má alimentação, com dislipidemias) e a atuar diretamente nessa população. Eu costumo dizer que os médicos estão mais centrados nas doenças e nos medicamentos e, portanto, esse papel de diagnóstico educativo fica mais sob a responsabilidade do enfermeiro, que tem formação de base para trabalhar a educação para a saúde. Identificando os comportamentos e hábitos que têm de ser corrigidos e promovendo a educação para a saúde na lógica da alteração de comportamentos,
não só com transmissão de informação, porque para isso temos os panfletos, media, etc., mas o enfermeiro tem também de perceber se essa informação foi bem rececionada e se a pessoa está motivada. Depois, individualmente, tenta perceber o que é mais importante em termos educativos para essa pessoa. Genericamente todos sabemos o que são comportamentos saudáveis, mas para uma pessoa fará mais sentido tentar alterar um determinado comportamento e para outra pessoa fará mais sentido alterar outro. Por exemplo, se há alguém que tem uma má alimentação e que é sedentário, nós podemos não conseguir mudar tudo ao mesmo tempo... numa pessoa pode ser importante mudar a alimentação, para outra pode ser colocá-la a fazer mais exercício físico. E são as estratégias individualizadas que podem ser um sucesso, por exemplo, propor a participação em grupos organizados de caminhada, ou propor ir diariamente comprar o pão na padaria que fica a 1km. JE | Os enfermeiros fazem formações especializadas nesta patologia? Qual a importância dessa especialização? RO | Para a diabetes em si, interessa-nos muitas vezes que já haja alguma formação específica,
no sentido de melhorar a capacidade de identificar pessoas de risco e junto dessas pessoas começar, precisamente, a trabalhar na prevenção de forma ativa. E quando falamos do tratamento da diabetes em si, exige-se uma formação mais sólida relativamente a esta patologia, onde as coisas têm evoluído muito rapidamente. Há umas décadas, uma injeção de insulina demorava quase meia hora a ser administrada pelo próprio, porque tinham de desinfetar as agulhas e depois usar uma lamparina para evaporar o álcool. Portanto, era uma coisa altamente complicada e neste momento é uma coisa que dura segundos. Mas mesmo dentro das insulinas, nós temos quase novidades todos os anos e, por isso, é preciso estar sempre atualizado para conseguir ajudar a pessoa que utiliza esses
recursos, para entendê-los, para que os use de forma correta, para evitar as consequências ou, pelo menos, a progressão das complicações se elas já estiverem instaladas. Para além de insulinas, os antidiabéticos orais e injetáveis e os aparelhos para monitorização da glicemia evoluem muito rapidamente.
JE | Os números de adesão às terapêuticas não são, então, satisfatórios? RO | Não são satisfatórios. Em nenhuma doença a adesão à terapêutica é satisfatória... eventualmente em doenças agudas...e mesmo em doenças agudas é prescrito o antibiótico, as pessoas têm queixas de dor e mal passa a dor largam o antibiótico, coisa que não deveriam fazer. Mas nas doenças crónicas, como normalmente não há consequências imediatas, as pessoas não se motivam tanto, ou não se lembram tanto de que têm de cumprir. Há uma parte da população que cumpre, mas estamos longe daquilo que os profissionais de saúde considerariam ideal. E importa
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JE | Quais as mais-valias da consulta de enfermagem em diabetes? RO | Tem a ver com a relação de proximidade que o enfermeiro consegue ter e com as competências que tem para ir para além da doença, tentar conhecer a pessoa e a vida da pessoa, perceber como é a rotina dessa pessoa, que apoios e que suportes tem, que dúvidas, para que, ajudando
O enfermeiro é uma mais-valia, porque, normalmente, os médicos centram-se mais na doença e medicação e os enfermeiros centram-se mais na pessoa
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JE | Como vê essas mudanças constantes, essas novidades nos tratamentos? RO | É bom que as coisas evoluam, os problemas que temos com a evolução são, quase sempre, os recursos económicos. As novidades quase sempre são mais caras e isso está a atrasar o avanço do acesso a essas novas opções terapêuticas à população em geral, um pouco pela pressão do orçamento da saúde em si, que não nos permite oferecer os
medicamentos mais caros a toda a gente. Mas quando, efetivamente, eles provam que têm benefício para aquela pessoa em questão, claro que sim, que têm de ser prescritos. Há algumas novidades que ainda não são comparticipadas e aí, obviamente, ficam quase destinadas apenas às pessoas que têm condições económicas para as obterem.
a otimizar esses recursos, possa controlar o melhor possível a doença. Porque o controlo não se faz apenas com medicação. Na diabetes a medicação é apenas um dos parâmetros: temos alimentação e exercício físico, temos medicação mas, depois, há que ajustar isto tudo ao seu dia a dia. E se a pessoa não entende, por exemplo, o mecanismo como funciona a medicação, pode vir a ter um descontrolo da patologia e ter consequências no futuro. Quando nós olhamos para os números de adesão à medicação – em qualquer doença – ficamos um bocadinho escandalizados: pessoas que cumpram a toma na dose certa, às horas certas, como lhe foi prescrito, são 20% a 40%, o que significa que isso quase nunca é cumprido. Na diabetes isto pode ser complicado, porque pode descontrolar-se para hiperglicemias ou para hipoglicemias, que podem ser graves em pessoas que tenham pouco suporte ou que tenham poucas condições para se aperceberem delas. E aqui o enfermeiro é uma mais-valia, porque, normalmente, os médicos centram-se mais na doença e medicação e os enfermeiros centram-se mais na pessoa e, portanto, é o conjunto da equipa de saúde, com partilha de informação, que vai oferecer maior benefício ao doente.
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saber porque é que isso acontece. Há vários caminhos a percorrer, várias investigações a fazer, mas, por exemplo, nós agora temos as terapêuticas combinadas, ou seja, mais do que um medicamento no mesmo comprimido, porque se forem muitos comprimidos as pessoas tendem a não querer tomar todos e de 10 ou 15 comprimidos prescritos optam por tomar cinco num dia e depois vão alternando: tomam outros cinco noutro dia e, depois, mais cinco noutro dia. Isto é uma confusão e as pessoas não percebem que, além de não se tratarem, estão a impedir outros de os ajudarem a ter um bom tratamento. Por causa das tomas erráticas, as doenças vão ficando descontroladas e a opção do médico vai ser alterar a terapêutica. E entra-se num jogo complicado, em que não é possível tratar, ou ajudar mais, porque a própria pessoa não está a cumprir e não tem coragem de dizer que não está a cumprir. Por isso, há estratégias que se estão a procurar para aumentar a adesão, mas eu acho que o enfermeiro pode ajudar no conhecimento de como funciona o medicamento, o que nem sempre é transmitido ao doente quando lhe é prescrito. De um modo geral, a baixa adesão atinge todas as faixas etárias, mas por motivos diferentes. Por exemplo, uma pessoa idosa poderá esquecer-se com mais facilidade se tomou ou não tomou, já os jovens, se calhar, não tomam de uma forma consciente, porque não o querem tomar naquele momento, por terem vergonha de o fazer num determinado local, ou simplesmente por não valorizarem essa toma.
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JE | É importante haver uma atuação multidisciplinar (médicos e enfermeiros)? RO | Está bem provado que, para melhorar os resultados (de adesão terapêutica, controlo metabólico...), o que funciona melhor é uma equipa de saúde, mais do que um fármaco novo, ou de substituir três comprimidos por um. A equipa de saúde, como tem conhecimentos diferentes, quando trabalha verdadeiramente em equipa consegue resultados
diferentes. Porque é preciso que não só o enfermeiro entenda as dificuldades, como as partilhe com o médico, com o prescritor, para que, em conjunto, percebam o que é melhor e, eventualmente, em alguns casos chamar outros profissionais, nutricionistas, por exemplo, para dietas mais complexas. Depois, quando começam a existir complicações, temos várias especialidades, podemos ter que envolver cardiologistas, psicólogos, psiquiatras, urologistas, oftalmologistas, podologistas, ortoprotésicos. JE | O diagnóstico precoce é fundamental? RO | O diagnóstico precoce é fundamental, inclusive daquelas fases a que chamamos de pré-diabetes: intolerância a glicose em jejum e intolerância a glicose pós-prandial. Ou seja, há pessoas que têm alterações da glicemia em jejum, têm valores mais altos do que aquilo que é considerado normal em jejum, mas não têm valores tão altos que dê para considerarmos o diagnóstico de diabetes; depois temos pessoas com valores de glicemia alterada após as refeições, também não tão altos que dê para o diagnóstico de diabetes, mas também mais altos do que o normal. Estas são as fases a que agora se chama, de uma forma genérica, de pré-diabetes, mais até por questões didáticas, para a própria população perceber que, se não alterar os comportamentos, provavelmente, entrará no diagnóstico de diabetes dentro de pouco tempo. O diagnóstico precoce é importante porque as complicações vão surgir se a doença não estiver controlada. Neste momento, aquilo de que nos apercebemos é que as próprias fases de pré-diabetes podem vir a trazer as complicações da diabetes, que é aquilo que queremos evitar, porque o problema não é a diabetes nem os sintomas imediatos de um descontrolo – a sede, urinar muito, a fome –; são as complicações a longo prazo da diabetes: complicações oftalmológicas, que podem levar a cegueira, a parte renal que pode
As novidades quase sempre são mais caras e isso está a atrasar o avanço do acesso a essas novas opções terapêuticas à população em geral levar à hemodiálise, o problema dos membros inferiores que pode levar até amputações, toda a rede arterial que fica danificada e que leva a maior incidência de acidentes cardiovasculares... esse é o verdadeiro problema. Por isso, quanto mais tardio for o diagnóstico, maiores problemas a pessoa já terá. Continuamos a ter pessoas que obtêm o diagnóstico de diabetes quando têm uma ferida que não cura; num episódio de agravamento, vão ao hospital ou fazem análises e aí é-lhes detetada a doença. Teoricamente, para termos uma ferida de pé diabético teríamos que ter aí uns 15 a 20 anos de doença, ou pelo menos 8 a 10 anos de evolução de doença descontrolada. Por isso, para além desta complicação no pé, terá também já complicações noutros órgãos. JE | Onde deve ser feito esse primeiro diagnóstico? RO | O diagnóstico precoce cabe aos cuidados de saúde primários, será nos centros de saúde, nas USF (Unidades de Saúde Familiar), nas UCSP (Unidades de Cuidados de Saúde Partilhados), onde se fazem análises de rotina. As coisas podem estar dificultadas, porque, quando se pedem análises a alguém, muitas vezes essa pessoa prepara-se para as análises e comem de maneira diferente durante um dia ou dois para que tenham bons resultados atrasando o diagnóstico. Em relação à diabetes, o que se
pode fazer é tentar perceber qual a população de risco, seja por obesidade, seja por uma vida mais sedentária, seja por fatores hereditários, e ser mais pró-ativo no rastreio. JE | Estes doentes necessitam de uma certa vigilância. Qual a importância dos enfermeiros no acompanhamento dos diabéticos? RO | Depois do diagnóstico feito, os doentes têm de ter consultas periódicas que, preferencialmente, devem ser feitas por uma equipa multidisciplinar. Neste momento, existe contratualização nas unidades de saúde dos cuidados de saúde primários para que as pessoas tenham pelo menos duas consultas por ano – isto é quase uma imposição. Depois é feita uma avaliação para ver se essas consultas são suficientes, ou se têm que vir mais vezes – e podem vir a mais consultas médicas ou mais consultas de enfermagem, para resolver um problema específico. Numa determinada fase as pessoas têm que começar a fazer a sua autovigilância, ou seja, picar o dedo para ter uma gota de sangue para fazer uma análise, depois é preciso saberem interpretar esse resultado. E aqui é fundamental o enfermeiro, não apenas na explicação do resultado da análise, mas na técnica em si; podem ser necessárias várias consultas até que a pessoa consiga fazer corretamente a análise e pode haver necessidade, ou não, de melhorar a terapêutica, de acordo com os valores – aqui entra, obviamente, a equipa de saúde, nomeadamente o médico. JE | Entre outras funções, é coordenador do departamento de podologia da APDP, um dos serviços mais solicitados. O pé diabético é uma das maiores preocupações destes doentes? Qual a importância deste serviço? RO | Não diria que é a maior preocupação dos doentes, mas começa a ser uma grande preocupação quando surgem os problemas. Infelizmente a nossa população não tem cuidado com os pés: os mediterrânicos são os mais vaidosos com o calçado, mas usamos os piores sapatos
e temos o pior comportamento possível para os pés. Eu diria que os portugueses, a par dos italianos, são os que têm piores hábitos em relação ao seu calçado – são os dois países que produzem os melhores sapatos do mundo, mas não com as dimensões corretas ou com a intensão de conforto, mas sim com a intenção da estética...e foi assim que evoluíram. Por isso, não vejo que a nossa população tenha uma grande preocupação com o pé. Torna-se uma preocupação grande quando têm uma ferida por curar, quanto têm um problema maior e têm medo da amputação. O departamento de podologia da APDP, o departamento de pé diabético, é muito solicitado, é o mais antigo que existe nesta subespecialidade, tendo a APDP registos de cuidados aos pés desde os anos 30. Temos uma média de 100 a 120 atendimentos por dia de pé diabético de alto risco e é a nossa evolução e os nossos resultados que levam a que haja esta procura imensa. Mas não me parece que esta seja a maior preocupação, é apenas uma delas... por exemplo, em termos da visão, quando a pessoa começa a ver pior, começa a perceber que pode ficar cega, aí preocupa-se bastante...Ou o medo da hemodiálise...
JE | Os Estados Unidos aprovaram recentemente o “pâncreas artificial híbrido”. Na sua opinião, esta tecnologia será uma realidade em Portugal? RO | Olhando para a evolução da tecnologia, já existem alguns modelos de pâncreas artificial de laboratório há muito anos. No fundo o pâncreas artificial é um conjunto de duas coisas: um sensor para perceber qual é o valor de glicémia e uma bomba infusora que vai libertando a insulina que o
A estratégia do plano de diabetes nacional é tentar responsabilizar algumas pessoas localmente pela diabetes, o que é uma mais-valia
os valores trepam para as várias centenas de euros. Se estamos a falar de uma tecnologia que vai combinar as duas, provavelmente, o valor vai duplicar ou triplicar e o Estado não vai conseguir suportar. Também não sei se os outros países vão suportar rapidamente... Mas a tecnologia também ainda não está assim tão perfeita: para aquilo que consideramos ser um pâncreas artificial, ainda vai ter que ser mais aperfeiçoada. Neste momento, se falarmos de diabetes e enfermagem, a rápida evolução que está a haver nas terapêuticas e nas novas tecnologias, nas novas máquinas e nos novos dispositivos de injeção e monitorização, torna-se relativamente difícil que alguém que esteja em cuidados de saúde primários consiga acompanhar toda esta panóplia. Porque quem está em cuidados de saúde primários tem que acompanhar a diabetes, mas tem que acompanhar a tensão arterial, obesidade, vacinação, enfim, tudo à volta da pessoa. A estratégia do plano de diabetes nacional é tentar responsabilizar algumas pessoas localmente pela diabetes, o que é uma mais-valia. É preciso é que todas as unidades coordenadoras estejam a funcionar e que todos os enfermeiros tenham uma ótima relação com essas unidades para irem conseguindo acompanhar toda a evolução que vai surgindo à volta desta doença.
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A livre circulação de bens torna as coisas mais complicadas no tratamento de doenças
corpo necessita. Isto é aquilo que se chama de pâncreas artificial, mas que na realidade não é um pâncreas artificial, porque o pâncreas verdadeiro perante, por exemplo, uma descida brusca de glicemia, consegue injetar hormonas de contra regulação para fazer com que os níveis se mantenham corretos no sangue. Por isso, não é um verdadeiro pâncreas artificial, mas também não é preciso que o seja. O conjunto de sensor e bomba infusora de insulina...já existem alguns sensores de medição contínua, já existem as bombas, mas neste momento acaba por ser o utilizador a tomar as decisões e não automaticamente tudo a funcionar. Eu acho que quando existir tecnologia mais aperfeiçoada, provavelmente, também será uma realidade imediata em Portugal. Totalmente comparticipada ou não, provavelmente não para a população toda. Será algo semelhante àquilo que tem acontecido para as bombas, que é aquilo que já estamos à espera que aconteça também para os sistemas de monotorização contínua, que já foram aprovados noutros países. Cá, estão aprovados mas não são comparticipados, por isso tem de ser a própria pessoa a pagar e são tratamentos dispendiosos. Se pensarmos no custo de consumíveis de uma bomba e no custo de consumíveis de um medidor contínuo de glicémia, vamos ter valores de algumas centenas de euros... 200, 300, 400 euros, dependendo da utilização que a pessoa fizer desses consumíveis. Neste momento, os sistemas de monotorização da glicose em Portugal custam o mesmo que em outros países europeus, por causa da livre circulação de bens, que é 118 euros por mês. Mas 118 euros para alguém que vive na Dinamarca ou na Noruega não é a mesma coisa do que para alguém que vive em Portugal, que ganha o ordenado mínimo, por isso, a livre circulação de bens torna as coisas mais complicadas no tratamento de doenças, impedindo o ajuste ao poder económico do país. E se a isso associarmos a bomba,
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JE | A bomba infusora de insulina só chega a cerca de 2% dos diabéticos tipo 1. Há muitos portugueses em lista de espera? RO | O problema das bombas tem a ver com a comparticipação. As comparticipações das bombas não são para a população em geral, nem sequer para os doentes tipo 1 em geral. Vai havendo faixas etárias que vão sendo privilegiadas pela administração central, há pessoas que conseguem entrar dentro dos parâmetros em que o Estado comparticipa – e é mais fácil quando assim é – e há pessoas que têm de pagar a bomba e os consumíveis para poderem ter acesso a este recurso. Claramente, em relação a outros países da Europa, estamos anos-luz atrás. Os parâmetros decididos pelo Estado podem ir variando de ano para ano, muitas vezes têm a ver com a idade em si, com o controlo da doença...por exemplo,
num ano podem decidir dar um determinado número de bombas a crianças que tenham entre os 2 e os 5 anos e que não consigam controlar a diabetes com um determinado número de injeções –depois tem de haver capacidade da família perceber como é que a bomba funciona, porque é um aparelho eletrónico e que também vai evoluindo e é preciso ter utilizadores capazes para o fazer. Para uma pessoa mais idosa a bomba pode não ser a melhor opção, de um modo geral, pelos problemas que podem surgir: perante um determinado alarme, ou um cateter entupido a pessoa tem de sabe o que fazer. Apesar de existirem linhas de apoio 24 horas, é preciso haver uma formação das pessoas para a utilização da bomba e, por isso, se estivermos a falar de pessoas muito idosas, com algumas limitações na utilização de novas tecnologias, isso faz com que não sejam o “cliente” ideal para a bomba.
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Alimentação do doente diabético São vários os mitos que influenciam negativamente as escolhas alimentares das pessoas com diabetes. A cenoura tem muito açúcar, o mel não faz mal, não se pode comer pão, quem tem diabetes não pode comer banana, os alimentos especiais para diabéticos podem comer-se à vontade, são algumas convicções que ainda existem.
EDUCAÇÃO
Joana Ramos Oliveira
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dietista, autora de “Comer para Controlar a Diabetes”
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xistem cerca de 1 milhão de pessoas com diabetes em Portugal, todas elas diferentes e, claro, com necessidades específicas. Era mais simples se existisse uma dieta standard aplicável a todas estas pessoas, mas, na prática, as recomendações gerais têm de se ajustar às características e rotinas individuais. Atualmente, aconselha-se a distribuição dos hidratos de carbono por 5 a 6 refeições diárias. E quando existe um período do dia, normalmente de manhã, em que, devido a uma maior
insulinorresistência, apenas uma porção de hidratos de carbono complexos provoca um pico de glicemia? Será que nestes casos devemos continuar a seguir as recomendações gerais ou propor outras alternativas? O tratamento da diabetes, pelo seu carácter crónico, deve ser visto como um caminho. Enquanto profissionais de saúde devemos apoiar a pessoa a percorrer o seu caminho, promovendo escolhas informadas e seguras. A educação terapêutica torna-se indispensável para que se consiga atingir um equilíbrio entre terapêutica, alimentação e atividade física e,
dessa forma, controlar a diabetes. Quantas vezes, nas inúmeras iniciativas de avaliação de risco de desenvolver diabetes em que participei, as pessoas não sabiam responder se tinham ou não diabetes. Como queremos que a pessoa controle uma doença quando não sabe que a tem, quanto mais o que é? O primeiro passo é explicar o que é a diabetes e qual o impacto da alimentação. O ser humano não produz glicose, esta é obtida através da digestão dos alimentos. De todos os alimentos? Não, apenas dos cereais e derivados, tubérculos, leguminosas, fruta, leite e iogurte, sem contar com os produtos de pastelaria, sobremesas e outros alimentos aos quais se adiciona açúcar. É fundamental que estes conceitos fiquem claros. A roda dos alimentos pode ser uma ferramenta visual útil. A partir daí deve-se explorar a diferença entre hidratos de carbono simples e complexos, as consequências da sua ingestão excessiva ou deficiente, o papel da fibra e desmistificar os vários mitos que persistem em relação à alimentação e a diabetes. São vários os mitos que influenciam negativamente as escolhas alimentares das pessoas com diabetes. A cenoura tem muito açúcar, o mel não faz mal, não se pode comer pão, quem tem diabetes não pode comer banana, os alimentos especiais para diabéticos podem comer-se à vontade, são algumas convicções que ainda existem e de que fiz questão de falar no meu livro. Mas
existe também muita incerteza e confusão devido ao elevado número de produtos alimentares que surgem no mercado, às várias “dietas da moda”, aos artigos sensacionalistas e às opiniões pouco fundamentadas dos curiosos da área. Entre alimentos detox, funcionais, light, integrais, sem glúten e sem lactose, torna-se complicado saber o que comer. Normalmente, as pessoas perguntam se determinado alimento é “bom” ou é “mau”. Não existem alimentos perfeitos. Tal como as pessoas, os alimentos têm defeitos e qualidades. Por isso, a questão deve ser sobre a sua densidade nutricional, ou seja, sobre o tipo e a quantidade de nutrientes. Por exemplo, a fruta tanto pode ser “boa” como “má”. O seu elevado teor em micronutrientes e fibra é sem dúvida uma vantagem, mas, em excesso, o açúcar naturalmente presente vai provocar um pico de glicemia. Variedade e moderação são, assim, palavras-chave. Não acredito em dietas restritivas e monótonas, muito menos em alimentos proibidos. Excluir alimentos da dieta pode tornar a alimentação incompleta e pobre em nutrientes reguladores, como vitaminas e minerais. Não nos podemos esquecer que diferentes alimentos têm diferentes nutrientes. A solução é ajustar e adequar a quantidade. Os alimentos processados e refinados (ex.: refrigerantes, bolos, folhados, salgadinhos, aperitivos, produtos de salsicharia e charcutaria, etc.) não são de todo uma boa opção,
O objetivo da intervenção nutricional será capacitar para a contagem de hidratos de carbono, que cada vez mais tende a ser mais rigorosa cereais integrais, nas leguminosas, frutos amiláceos e tubérculos, essencialmente ricos em amido. A fruta é constituída por frutose, um hidrato de carbono de absorção rápida semelhante à sacarose. Assim, deve-se distribuir as 2 ou 3 peças de fruta recomendadas durante o dia, como sobremesa ou nas refeições intermédias, tornando a refeição principal menos calórica e aproveitando a fruta para uma refeição adicional. Especialmente para as pessoas com mais apetite, comer a fruta uma hora depois, como ainda está a fazer a digestão, não precisa de acompanhar com outro alimento e, especialmente do ponto vista psicológico, conta como outra refeição. Quando fora das refeições, não se deve comer a fruta isoladamente mas acompanhada de uma porção de frutos oleaginosos, de um iogurte sem adição de açúcar ou de uma porção de pão ou tostas. No entanto, prefiro as duas primeiras opções, pois os alimentos fontes de proteína e/ou gordura atrasam a velocidade de absorção sem sobrecarregar a refeição de hidratos de carbono. Assim, não existem frutos proibidos, apenas frutos que se devem comer em menor quantidade de cada vez. Por exemplo, o pão é feito à base de cereais. Os cereais são essencialmente constituídos por hidratos de carbono. Uma porção de hidratos de carbono (12 g), corresponde a 20 g de pão de mistura e a 30 g de pão integral. Comparando com outros alimentos, para termos a mesma
porção, os mesmos 12 g de hidratos de carbono, temos de comer 70 g de batata ou 110 g de maçã. Mas na batata e no pão temos 12 g de amido e na maçã temos 12 g de frutose. A glicose é a fonte de energia preferencial do nosso organismo, por isso, a exclusão dos hidratos de carbono da dieta está de todo desaconselhada. A quantidade a cada refeição, ou seja, o número de porções de hidratos de carbono por refeição, tem de estar ajustada à terapêutica e à rotina da pessoa. Qual o número de porções diária? Essa é uma pergunta que deve ser esclarecida junto do dietista ou nutricionista. Não só o número de porções, mas a sua distribuição ao longo do dia. O número de porções normalmente varia entre 15 a 25 porções por dia. Sendo que as 25 porções correspondem a uma dieta de cerca de 2500 kcal diárias e as 15 porções a uma dieta de cerca de 1500 kcal.
Se a dose da medicação é fixa, seja de antidiabéticos orais ou insulina, o que acontece normalmente na diabetes tipo 2, a pessoa deve ingerir todos os dias a mesma quantidade de hidratos de carbono, variando as fontes de hidratos de carbono e mantendo a quantidade definida para cada refeição. Quando falamos em esquemas intensivos de insulina, o objetivo da intervenção nutricional será capacitar para a contagem de hidratos de carbono, que cada vez mais tende a ser mais rigorosa, contabilizando-se gramas de hidratos de carbono em vez de porções. Ter diabetes não é impeditivo de adotar diferentes dietas ou excluir determinados alimentos, mas exige conhecimento para adaptar a alimentação às particularidades desta doença. Só conhecendo os alimentos e o seu efeito se pode evitar ou tratar as complicações agudas da diabetes.
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pelo que a solução passa por evitar, reduzir e escolher versões mais saudáveis. Por exemplo, as sobremesas fazem culturalmente parte da nossa alimentação, mas, devido à sua elevada densidade energética e reduzida densidade nutricional, devem ser evitadas. Não considero que faça sentido proibir, porque a maior parte das pessoas vai comer na mesma. Os bolos e doces devem ser reservados para ocasiões especiais ou festivas e ingeridos às refeições principais, de preferência aumentando a quantidade de alimentos ricos em fibra e diminuindo a quantidade de alimentos fontes de hidratos de carbono no prato. Por outro lado, podemos torná-las mais saudáveis, aumentando a sua densidade nutricional para equilibrar a elevada densidade energética. A alimentação é um dos pilares do tratamento e controlo da diabetes, mas isso não significa que não seja entusiasmante, colorida e saborosa. Sim, a diabetes deve influenciar a alimentação, mas não deve torná-la monótona e insípida, sob pena de a tornar incompleta. A alimentação deve ser completa, variada e equilibrada, tal como a alimentação saudável que se recomenda à população em geral. Ter diabetes condiciona o metabolismo dos hidratos de carbono, mas não determina a quantidade diária necessária. As necessidades energéticas variam de acordo com as características individuais, como o peso, a altura, a idade, a atividade física, entre outras. Por exemplo, à medida que envelhecemos as nossas necessidades energéticas diminuem e quanto mais ativos somos fisicamente mais estas aumentam. Assim, a quantidade diária de hidratos de carbono varia de pessoa para pessoa, de acordo com as suas características específicas. O facto de ter diabetes vai apenas influenciar o tipo de alimentos que se deve privilegiar e o seu fracionamento. Dessa forma, não tem de acabar com o pão e as batatas! A questão está na quantidade e qualidade. Em relação à qualidade, deve-se privilegiar os hidratos de carbono de absorção lenta, presentes naturalmente nos
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Formação dos enfermeiros para a diabetes PROFISSÃO
Maria Henriqueta Figueiredo
JORNAL ENFERMEIRO
Professora Doutora da Escola Superior de Enfermagem do Porto
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o âmbito dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, publicados pela Ordem dos Enfermeiros em 2001, os cuidados de enfermagem centram-se na promoção dos projetos de saúde da pessoa cliente de cuidados. A promoção da saúde, a prevenção de complicações para a saúde do cliente, o bem-estar e o autocuidado englobam alguns dos aspetos referentes ao mandato social dos enfermeiros. Neste enquadramento é conjeturado que o enfermeiro deverá assumir o papel de pivot na equipa de saúde, assumindo-se como gestor de recursos para a maximização do potencial de saúde da pessoa e, consequentemente, da família e da sociedade.
No seu exercício profissional, o enfermeiro diferencia-se pela formação e experiência que possibilita o estabelecimento de uma relação terapêutica conducente à capacitação do cliente no que se reporta aos processos de tomada de decisão que lhes permite o autodomínio das suas vidas. A formação dos enfermeiros alicerça-se nos saberes e conhecimentos integrados na trajetória formativa, que agrega a formação contínua, ação e experiência. Deste modo, os processos de formação deverão ser impulsionadores de experiências conducentes ao desenvolvimento de conhecimento, aptidões e atitudes para a prestação profissional competente, sustentada na evidência que emerge do conhecimento científico, num padrão de reciprocidade entre conhecimento, ação e postura crítica reflexiva. Pretendendo o domínio praxeológico, resultante da tomada de decisão clínica, converter o conhecimento em ação e inovação, os cuidados de enfermagem incorporam a promoção de estratégias de coping, favorecedoras de autonomia do seu cliente, face às especificidades do seu desenvolvimento, que implicam transições acidentais, como é o caso da doença crónica. A Diabetes Mellitus (DM), enquanto doença crónica, assume-se como uma das principais causas de morbilidade e de diminuição da qualidade de vida, com consequente impacto na saúde individual, saúde familiar e saúde pública. A retinopatia diabética, a insuficiência renal crónica, o acidente vascular cerebral, enfarte agudo do miocárdio e amputações são alguns dos quadros clínicos
descritos, subsequentes, em simultaneidade com outras doenças crónicas presentes na pessoa com DM, como é o caso da hipertensão arterial, doenças osteoarticulares, obesidade, depressão, entre outras. Neste contexto, o impacto na saúde individual pode determinar alterações no equilíbrio dinâmico referente ao controlo do sofrimento, ao bem-estar físico e no conforto emocional, espiritual e cultural da pessoa. Assumido este impacto como fator de stresse associado a transição acidental, requer a identificação e mobilização de recursos capazes de potencializar a funcionalidade individual, no que se reporta à manutenção da autonomia e independência e/ou à capacidade da família e sociedade em darem respostas adequadas às necessidades dos seus membros. Na resposta às necessidades da pessoa portadora de DM, além da avaliação, diagnóstico e eventual intervenção no âmbito das áreas descritas no Processo Assistencial Integrado da Diabetes Mellitus tipo 2, nomeadamente a gestão do regime terapêutico e a autovigilância, é imperativo a avaliação suplementar relativa ao impacto da doença nos processos de saúde da pessoa, no domínio emocional, espiritual e cultural, integrando a atribuição de significado à adversidade, esperança, redes de apoio, sistema de crenças, resiliência e outros fatores associados à capacidade de “encontrar um lugar para a doença e ao mesmo tempo coloca-la no seu próprio lugar”. O ajuste e a adaptação de cada pessoa à circunstância derivada de uma doença crónica em geral, e da DM em particular, resultam tanto das suas particularidades pessoais, como das interações familiares
estabelecidas, que, por sua vez, influenciam a evolução do problema e resolução da crise. Inerentes ao impacto da DM no sistema familiares estão as exigências decorrentes da situação de doença crónica de um dos membros da família, no caso da DM, situadas nas dimensões estruturais, de desenvolvimento ou de funcionamento. A avaliação destas dimensões permitirá a identificação de recursos e necessidades, das quais surgirão intervenções de enfermagem colaborativas com o propósito de empoderar a família nas fases de ajuste e adaptação à doença. Na perspetiva da saúde pública, com vista quer à diminuição dos custos financeiros decorrentes, entre outros, dos medicamentos e hospitalização, assim como dos custos sociais provenientes da dependência, as estratégias previstas no Programa Nacional para a Diabetes assentam na prevenção primária da diabetes, na prevenção secundária e na prevenção terciária. Visando a introdução de modelos de boas práticas na gestão da diabetes, os enfermeiros têm um papel decisivo na definição de políticas sociais no que diz respeito ao apoio à gestão, acessibilidade ao SNS e consolidação de redes sociais de apoio. Um papel relevante no desenvolvimento de estratégias de empoderamento, a nível intrapessoal, organizacional e comunitário. A formação específica dos enfermeiros sobre DM e o impacto das suas especificidades permite, no exercício profissional, aumentar o reportório de recursos pessoais, familiares e comunitários, para lidar com este desafio de saúde, produzindo ganhos em saúde efetivos nos clientes dos seus cuidados.
Vacina pneumocócica
Alargar cobertura é necessário Plano Nacional de Vacinação (PNV) nem era comparticipada. Mas acabou por ser integrada e, desde 1 de julho de 2015, está disponível nos centros de saúde, gratuita para todas as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2015. É igualmente gratuita para alguns grupos de risco mediante indicação médica, e, a partir de junho de 2015, passou a ser comparticipada para cidadãos que apresentem receita médica. A Direção-Geral da Saúde instituiu que, “em idade pediátrica, devem ser vacinados gratuitamente portadores de doença cardíaca, doença hepática crónica, insuficiência renal crónica, doença respiratória crónica, pré-transplantação de órgão, dador de medula óssea (antes da doação), fístulas de LCR, implantes cocleares, diabetes mellitus, asplenia ou disfunção esplénica, imunodeficiências primárias, infeção por VIH, recetor de transplante, doença neoplásica ativa, imunossupressão iatrogénica, síndrome de Down e síndrome nefrótico”. Já em idade adulta, “devem ser vacinados gratuitamente utentes portadores de fístulas de LCR, implantes cocleares, infeção por VIH, recetor de transplante, asplenia ou disfunção esplénica, síndrome nefrótico ou doenças neoplásicas como leucemias, linfomas, mieloma múltiplo ou doença de Hodgking. Em adultos é ainda recomendada, embora não gratuita, a portadores de doença cardíaca, doença hepática crónica, insuficiência renal crónica, doença respiratória crónica, pré-transplantação de órgão, dador de medula óssea (antes da doação), diabetes mellitus, imunodeficiências primárias, imunossupressão iatrogénica, síndrome de Down.
COMUNIDADE
É igualmente recomendada a vacinação dos idosos a partir dos 65 anos, pelo elevado risco de desenvolverem pneumonias.” Segundo Olga Pousa, que se baseia em dados da DGS, no final de 2015, a cobertura vacinal nos bebés rondou os 80%: “Esta cobertura é bastante boa, considerando que só foi gratuita no segundo semestre do ano. É muito importante o cumprimento do PNV nesta faixa etária, pois os bebés são um grupo muito suscetível a infeções pela sua imaturidade e pela sua frequência nos infantários, que em muitos casos ocorre a partir dos 5 meses. Nos grupos de risco e nos idosos é um trabalho mais recente, mas que tem tido cada vez mais adesão. No entanto, temos o entrave do preço elevado da Prevenar 13 que, neste grupo etário, nos casos em que não é gratuita, é apenas comparticipada em 25%. A adesão à Pneumo 23 é maior, pois é uma vacina mais antiga e mais barata”. São conhecidos, pelo menos,
91 serotipos de Streptococcus Pneumoniae, que diferem na capacidade de colonização e transmissão, virulência, idade em que predominam, manifestações de doença, resistências aos antimicrobianos, distribuição geográfica, capacidade para causar doença endémica ou surtos. De acordo com a Sociedade de Infeciologia Pediátrica, desses, 12 a 15 serotipos são a principal causa da maioria dos casos de doença nas crianças. A vacina pneumocócica torna-se, então, “essencial”. Olga Pousa sublinha que, “uma vez que as vacinas são administradas nos cuidados de saúde primários, cabe aos enfermeiros o importante papel de informar, esclarecer e ensinar a população sobre a importância da vacinação, garantir o cumprimento do PNV e desmistificar ideias erradas sobre as vacinas, no sentido de aumentar cada vez mais a cobertura vacinal, principalmente nos grupos de risco e nos idosos”.
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vacinação é o melhor meio para fortalecer e conferir imunidade ao nosso organismo contra determinadas infeções, garantindo mesmo, em alguns casos, a erradicação de algumas doenças. É o caso da vacina pneumocócica. São palavras da enfermeira Olga Pousa, presidente da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados de Saúde Primários (APECSP), que não tem dúvidas da importância de uma cobertura alargada desta imunização em concreto. A vacina pneumocócica protege de alguns tipos de infeções graves causadas pela bactéria Streptococcus Pneumoniae – vulgarmente chamada de pneumococo –, como é o caso da meningite, da septicémia, da pneumonia e da otite média aguda, entre outras. Por outro lado, a pneumococo é a principal responsável pela pneumonia nos idosos. Vacinar as crianças, impedindo que a bactéria circule, é também a melhor forma de evitar a sua transmissão aos mais velhos. “Em Portugal, existem dois tipos de vacinas pneumocócicas, a Pneumo 23 (a mais antiga, uma vacina polissacarida 23-valente, VPP23, que protege contra os serotipos 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12F, 14, 15B, 17F, 18C, 19A, 19F, 20, 22F, 23F, 33F) e a Prevenar 13 (vacina polissacárida conjugada 13-valente, adsorvida, que protege contra os serotipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F, 23F). A Pneumo 23 é recomendada a partir dos 2 anos de idade, a Prevenar 13 é recomendada a partir dos 2 meses de vida”, enquadra a enfermeira. Até há pouco mais de um ano, esta vacina não fazia parte do
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Estudo europeu conclui
Substituir enfermeiros profissionais por auxiliares aumenta risco de morte dos pacientes
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INVESTIGAÇÃO
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m estudo europeu de larga escala, publicado pela BMJ Quality & Safety, revela que a substituição de enfermeiros profissionalmente qualificados por auxiliares de enfermagem está associada ao aumento do risco de morte dos pacientes, assim como a outros indicadores de fraca qualidade nos cuidados. As pressões financeiras, as reformas da saúde e a escassez de profissionais estão a levar os hospitais a repensar a qualificação dos seus enfermeiros e a contratar auxiliares de enfermagem. Contudo, de acordo com o estudo “Nursing skill mix in European hospitals: crosssectional study of the association with mortality, patient ratings,
and quality of care”, essa não é a melhor solução. Para medir o impacto do “nurse skill mix” – ter enfermeiros qualificados e auxiliares –os investigadores analisaram a ligação entre os diferentes níveis de conhecimento dos enfermeiros e o risco de morte do paciente, a visão dos doentes sobre os cuidados recebidos e outros indicadores de qualidade do atendimento, nomeadamente a prevalência de quedas e escaras, em hospitais de cuidados agudos na Bélgica, Inglaterra, Finlândia, Irlanda, Espanha e Suíça. Basearam-se nas respostas de mais de 13.000 enfermeiros de 243 hospitais e de cerca de 19.000 pacientes de 182 desses hospitais, assim como dados de alta de 275.500 doentes que tinham sido
submetidos a um procedimento cirúrgico em 188 das unidades. Chegaram à conclusão que, por cada 25 doentes, a substituição de um enfermeiro profissional por um auxiliar estava associada a um aumento de 21% de probabilidade de morte. Mas há mais constatações a ter em conta. Segundo a BMJ, o “nursing skill mix” foi medido para cada hospital dividindo o número de enfermeiros qualificados pelo número de auxiliares que estavam presentes na unidade durante o último turno dos enfermeiros entrevistados. Estes rácios foram, depois, calculados cruzando as respostas dos enfermeiros de cada hospital. Já para calcular o total de “staff” de enfermagem, dividiram o número de enfermeiros (profissionais e auxiliares) pelo número de pacientes que estavam presentes no último turno. Estes rácios foram encontrados como os anteriores, cruzando as informações dos diversos hospitais, e multiplicados por 25 – o número médio de pacientes em cada unidade. Com esta análise, chegaram à conclusão de que há, em média, seis enfermeiros (entre profissionais e auxiliares) para cada 25 pacientes, com uma variação entre 2,5 e 14, que a percentagem média de enfermeiros profissionais é de 66%, variando entre 41% e 87%, e que a taxa média de mortes nos hospitais é de 12,8 por cada 1.000 altas.
O estudo revela ainda que um em cada cinco enfermeiros classifica de fracos os cuidados na unidade onde trabalha e cerca de um terço dos enfermeiros diz que há pouca segurança nos seus hospitais. Quase um terço dos entrevistados fala também de esgotamento e uma percentagem similar afirma-se insatisfeita com o seu trabalho. Relativamente aos doentes, cerca de metade dos entrevistados deram classificações baixas aos hospitais onde estiveram internados. Numa análise final, puderam constatar que uma maior quantidade de enfermeiros profissionalmente qualificados está associada a um menor risco de morte, maior número de pacientes satisfeitos, menos registos de queixas sobre a fraca qualidade dos cuidados, menor registo de escaras, quedas e infeções urinárias. Mais especificamente, cada aumento de 10% na proporção de enfermeiros qualificados está associado a uma diminuição de 11% de probabilidade de um paciente morrer após uma cirurgia, uma queda de 10% na probabilidade do paciente ficar insatisfeito e uma diminuição de 11% na probabilidade de reportarem uma fraca qualidade dos cuidados de saúde. Além disso, nos hospitais com um maior número de enfermeiros qualificados, estes profissionais estão menos desagradados com o trabalho e apresentam menor tendência para esgotamentos.
“Darei o meu melhor, quer seja no meu país ou não” Segundo a Ordem dos Enfermeiros, em 2014 licenciaram-se 2633 estudantes de enfermagem e nesse mesmo ano foram emitidas 2850 declarações a profissionais para poderem exercer no estrangeiro. Mónica Araújo, a frequentar o último ano do curso, já pondera essa possibilidade. ENFERMAGEM PORQUE... O gosto pela enfermagem surgiu aos poucos. Recordo-me que desde a infância mantive um pequeno fascínio pelo trabalho dos enfermeiros. Gostava muito de ir ao centro de saúde com a minha mãe e adorava observar tudo o que se passava em meu redor. Sonhava, então, um dia vir a ser “como a senhora enfermeira”. Com o passar dos anos, desenvolvi novos interesses. Até ao fim do ensino secundário estava muito confusa sobre qual a área de estudos que desejava seguir. Independentemente da área que escolhesse, sabia que queria ajudar as pessoas a viverem melhor. Na minha escolha final pela enfermagem, prevaleceu este meu desejo.
LIGAÇÃO COM A ÁREA Não tinha qualquer ligação familiar com a enfermagem ou com qualquer outra área da saúde, conhecia apenas, socialmente, algumas pessoas que haviam prosseguido pela enfermagem.
A ESCOLHA DA UNIVERSIDADE
Acredito que, como profissional de saúde, este desafio manter-se-á.
O CURSO
Na minha universidade, durante todos os anos da licenciatura, existe um período de tempo letivo reservado para a realização de ensinos clínicos em que podemos contactar com a prática clínica de enfermagem nos mais diversos contextos (desde o contexto comunitário ao hospitalar). Acho que, de modo geral, correu muito bem, foram experiências muito enriquecedoras. Na minha opinião, estas oportunidades são uma mais-valia para a nossa formação. Também acho que estas experiências são muitos importantes para podermos ter uma noção do âmbito da atuação do enfermeiro como profissional de saúde, bem como para percebermos um pouco qual o possível impacto dessa atuação na vida das pessoas.
Na minha perspetiva, o curso corresponde e excede as expetativas. Acredito que este curso é muito importante para o nosso desenvolvimento tanto a nível profissional como pessoal. É exigente, implica muitas horas de estudo, muito trabalho e, acima de tudo, muita dedicação. No final de contas, acredito firmemente que, todo este esforço vale a pena, porque contribui para que nos tornemos melhores pessoas, com maior maturidade e também melhores profissionais de saúde. Acredito que a formação oferecida pela Universidade dos Açores está adequada à prática da enfermagem atual. Acredito estar preparada para exercer a minha profissão; não vou mentir e dizer que entrar no mercado de trabalho não me assusta, porque assusta, mas tenho muita vontade de exercer a profissão que escolhi e também quero continuar a investir na minha formação profissional.
OS DESAFIOS Durante o curso, um dos maiores desafios com que me tenho deparado está relacionado com a gestão do stress do dia a dia e também a conciliação entre a minha vida académica/profissional e a minha vida pessoal/social.
EXPERIÊNCIA ‘IN LOCO’
FUTURO
Mónica Araújo 21 anos, natural de São Miguel, Açores, frequenta o 4.º ano de Enfermagem na Escola Superior de Saúde, da Universidade dos Açores
PREOCUPAÇÕES Tendo em conta o nosso contexto atual, uma das minhas maiores preocupações enquanto estudante e quase profissional de enfermagem é a instabilidade no mercado de trabalho em Portugal. Com o aproximar da reta final do meu percurso de quatro anos, preocupa-me bastante a possibilidade de vir a não ter emprego no futuro. No entanto, apesar disto, estou confiante e acredito que darei o meu melhor
para exercer a minha profissão, quer seja no meu país ou não.
DEPOIS DO CURSO, PORTUGAL OU ESTRANGEIRO? Gostaria de exercer a minha profissão no meu país, se isso for possível. No entanto, considero a possibilidade de vir a exercer no estrangeiro, se surgir essa oportunidade.
JORNAL ENFERMEIRO
Na escolha da universidade, um dos aspetos que tive mais em conta foi a qualidade dos profissionais de enfermagem formados pela mesma. Através de notícias na comunicação social e também através de conversas sociais, tive conhecimento da qualidade da
formação. Foi muito interessante ver reconhecida a formação em enfermagem nos Açores, quer a nível nacional como internacional.
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Sem enfermeiros não há cuidados continuados As respostas de enfermagem são comprometidas pelas atuais políticas de saúde, que diminuem sistematicamente os rácios de enfermagem e, com eles, as condições de trabalho dos enfermeiros e condicionam a qualidade dos cuidados de enfermagem.
PROFISSÃO
Cristina Maria Alves Dias Henriques
JORNAL ENFERMEIRO
Especialista em Enfermagem de Reabilitação, pós-graduada em Gestão de Serviços de Saúde, enfermeira da Equipa Coordenadora Regional da RNCCI – ARSLVT, Mestranda em Cuidados Paliativos
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EDIÇÃO
s Cuidados Continuados e Paliativos (CCP) visam a prestação de cuidados entre a vertente comunitária e a hospitalar. Neste pressuposto constituem-se como uma área fundamental e prioritária no contexto de saúde. Os cuidados de enfermagem, de natureza preventiva, reabilitadora e paliativa acompanham as necessidades de saúde da população com respostas diferenciadas às novas realidades decorrentes do aumento: de pessoas idosas com dependência funcional; da prevalência de pessoas com doenças crónicas incapacitantes; e de pessoas com doença incurável em estado avançado e em fase final de vida. Respostas diferenciadas que contam com a colaboração de várias áreas de especializações pós-graduadas em Enfermagem (Reabilitação, Comunitária, Médico-Cirúrgica, Saúde Mental e Psiquiátrica, Saúde Infantil e Pediátrica e Pessoa em situação de doença crónica e paliativa). A proximidade ao cidadão caracteriza, desde sempre, a prestação de cuidados de enfermagem. Presente em todos os momentos do ciclo de vida, o enfermeiro acompanha os
processos de saúde e doença da pessoa e da sua família de uma forma autónoma, interdependente e insubstituível. Os cuidados continuados correspondem a mais um momento desta prestação. É o enfermeiro de CCP, integrado em equipas interdisciplinares, que garante a articulação e continuidade de cuidados, após a alta hospitalar, quer nas equipas domiciliárias (Equipas de Cuidados Continuados Integrados, ECCI), Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos, ECSCP), quer nas unidades de internamento, e isto de acordo com o Regulamento do Exercício Profissional de Enfermagem que determina que “os enfermeiros têm uma atuação de complementaridade funcional relativamente aos demais profissionais de saúde, mas dotada de idêntico nível de dignidade e autonomia de exercício profissional”. Na conjuntura atual de crise económica e austeridade, os CCP assumem uma responsabilidade crescente na resposta de saúde da população. Os enfermeiros dos CCP são confrontados, diariamente, com pessoas que são encaminhadas para cuidado das suas famílias, sem a preparação adequada do prestador de cuidados
É evidente que sem enfermeiros não há CCP
e independentemente das suas condições habitacionais, sociais, físicas e económicas devido a internamentos tendencialmente mais curtos por necessidade de libertar camas hospitalares. Contudo, as respostas de enfermagem são comprometidas pelas atuais políticas de saúde, que diminuem sistematicamente os rácios de enfermagem e, com eles, as condições de trabalho dos enfermeiros e condicionam a qualidade dos cuidados de enfermagem. É evidente que sem enfermeiros não há CCP e que os enfermeiros pelo seu nível de formação e visão holística dos cuidados de saúde são os profissionais de saúde mais capacitados para assegurar a prestação de cuidados, articulação e coordenação dos CCP em diferentes serviços, sectores e níveis de diferenciação.
Jornal Enfermeiro é uma publicação multiplataforma de informação entre enfermeiros e as comunidades que com eles interagem // Diretora Fátima de Sousa (fatimasousa@newsengage.pt) // Equipa editorial Ângela dos Vais (angeladosvais@newsengage.pt); Teresa Nunes (teresanunes@newsengage.pt) // Diretor de Arte Cátia Tomé (catiatome@newsengage.pt) // Coordenadora Publicidade Sónia Coutinho (soniacoutinho@newsengage.pt) // Redação Edifício Lisboa Oriente, Av. Infante D. Henrique, 333 H, esc. 37, 1800-282 Lisboa, T. 218 532 916, F. 210 435 935, E-mail: jornalenfermeiro@jornalenfermeiro.pt // Edição multiplataforma impressa e digital enviada para 12.500 profissionais de saúde // Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores // Impressão RPO // Depósito legal 392674/15 // Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, artigo 12º, número 1A
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