Brasil de Fato PR - Edição 152

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Pro Coritiba voltar a ser o Coritiba

Divulgação

Esportes | p. 8

Cidades | p. 6

Visibilidade trans Contra violência e falta de acesso

Atual diretoria descumpre compromissos

Giorgia Prates

PARANÁ

Ano 4

Edição 152

30 de janeiro a 5 de fevereiro de 2020

distribuição gratuita

Incompetência no Enem Governo erra correção de provas e deixa alunos inseguros

Brasil | p. 5 Divulgação

www.brasildefato.com.br/parana

Prefeitura de Curitiba esquece as pessoas Para vereadora Josete, há desmonte na área social Cidades | p. 4 Pretícia Jerônimo

Paraná | p. 6

Brasil 6 Geral | p. 3

Cultura | p. 7

Resistência em Cascavel

Rebelião em Londrina

Pretinhosidade nas ruas

Vigília do MST completa um mês contra despejos

Penitenciária Estadual tem falta de funcionários

Bloco de carnaval defende cultura negra


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 30 de janeiro a 5 de fevereiro de 2020

Mortes sem punição OPINIÃO Celeiro do mundo é dependente em crime da Vale EDITORIAL

C

erca de 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos, equivalentes a 4.200 piscinas olímpicas. Esse é o tamanho da enxurrada que levou embora 272 pessoas, entre mortos e desaparecidos, no rompimento da barragem de Brumadinho (MG), que completou um ano no último dia 25. Duas mulheres eram gestantes. Os números, porém, não traduzem o luto e o sofrimento das famílias. Enquanto isso, a responsável pelo crime-catástrofe, a mineradora Vale S/A, teve o seu valor de mercado recuperado. Investigações da Polícia Federal indicam que a Vale sabia dos riscos de rompimento. O risco era 20 vezes maior que o “aceitável”.

Mas, até hoje, não houve punição efetiva e muitas famílias seguem desamparadas. As práticas predatórias das grandes empresas não enxergam o valor da vida (humana, vegetal e animal) para além dos lucros. O Estado, em vez de pressionar a empresa e apoiar pessoas atingidas, move-se na direção contrária. O governo Bolsonaro tem o menor gasto com prevenção de desastres em 11 anos. Mesmo em situação desfavorável, a população segue lutando por justiça e memória. E nos mostra que passou da hora de construir uma política efetiva não só da segurança das barragens, mas da segurança das populações atingidas por essas barragens.

SEMANA

da importação de fertilizantes Leandro Grassmann,

vice-presidente do Senge-PR

O

Paraná é conhecido como “celeiro do mundo”. Somos o segundo maior produtor de grãos do Brasil. De acordo com o Deral, “a safra paranaense de grãos de verão em 2020 terá crescimento de 18% e pode chegar a 23,3 milhões de toneladas”. Produção intensa e de qualidade como a paranaense necessita de grandes parceiros. Um deles é o mercado de fertilizantes, fundamental para proteger e fortalecer nosso campo. O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes e o décimo em produção. Contudo, o “celeiro do mundo” viu a produção nacional cair de 2012 para cá e a dependência de mercados externos atingir 83%. Um cenário que nos torna vulneráveis estrategicamente. Ainda mais com o fechamento da Fafen, em Araucária. Uma empresa que, junto à ANSA, atendeu cerca de 40% do consumo aparente de ureia em 2016 e está posicionada para atuação de forma relevante nos mercados de ureia industrial e ARLA 32, dentro de um mercado de agribusiness que tem sido principal pilar da economia no Brasil nos últimos 2 anos. Com essa “joia”, é sim-

plesmente assustador debater seu fechamento quando se deveria estar tratando de responsabilizar pessoas por abrir mão de setores estratégicos e fundamentais para economia brasileira e paranaense. Com o fechamento, Araucária deixará de receber R$ 75 milhões pela demissão de mil funcionários. É importante destacar que cada emprego direto criado pela Petrobras ou suas empresas gera até vinte vagas em outros setores.

A produção nacional caiu de 2012 para cá e a dependência de mercados externos atingiu 83%. Um cenário que nos torna vulneráveis estrategicamente De um estado inovador, se espera que as autoridades tenham capacidade de promover avanços tecnológicos, inovação, concorrência com o mercado externo e não serem tão pacatos diante de qualquer ameaça que possa retirar empregos e recursos das famílias paranaenses.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 152 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Leandro Grassmann ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibram Mendes e Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 30 de janeiro a 5 de fevereiro de 2020

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Bolsonaro dá R$ 1,9 trilhão para os ricos O mercado financeiro não tem o que reclamar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Pouco importa seus ataques às minorias, à imprensa ou a forma como protege aliados e filho de acusações de corrupção. O importante é que ele vai destinar aos ricos nada mais do que 50,7% de todo o orçamento para 2020, o equivalente a R$ 1,9 trilhão para pagamento e rolagem da dívida pública. O percentual de Bolsonaro destinado é muito superior ao de Dilma e Michel Temer (MDB). Em 2018, o presidente destinou R$ 1,06 trilhão para a dívida pública, o que representava 40,66% do orçamento. Em 2017, o percentual foi de 39,7%. Já em 2016, 43,94%. Em 2015, os recursos para dívida foram de 42,43% em um orçamento total de R$ 2,26 trilhões. A tendência pró-mercado já havia acontecido no primeiro ano de Bolsonaro, quando R$ 997 bilhões já foram destinados à dívida pública, segundo o site “Auditoria Cidadã”. Para Maria Lucia Fattorelli, Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, “não foram os gastos sociais ou os gastos com a manutenção do Estado que produziram a crise, mas esses têm sido o alvo das medidas adotadas para contorná-la”.

É ESSE?

“Nasci de peito aberto, de punho cerrado/ Meu pai carpinteiro desempregado/Minha mãe é Maria das Dores Brasil/ Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira/Me encontro no amor que não encontra fronteira/Procura por mim nas fileiras contra a opressão” Trecho do samba-enredo da Mangueira de 2020, que tem como tema “A Verdade vos Fará Livre”, que mostra que Cristo defendeu a igualdade, o fim da opressão, os pobres e os desvalidos.

Mariana Auler

Reforma tributária e desigualdade

Divulgação

Apenas dois agentes cuidavam de 200 presos em rebelião em Londrina Ocorrência é exemplo do risco que a falta de servidores tem provocado no Paraná Redação, com informações

do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná

No sábado, 25/1, um policial penal foi feito refém na Penitenciária Estadual de Londrina I por cerca de 5 horas. Ficou trancado dentro de uma cela, com a vida sendo ameaçada por oito presos. A rebelião aconteceu na galeria do chamado “Seguro”, onde ficam detentos que não podem ter convivência com o restante da massa carcerária, seja por rixa ou pela natureza do crime cometido (em geral, crimes sexuais). Essa galeria tem 200 presos, mas apenas dois

policiais penais estão sendo escalados por plantão no local, embora o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), do Ministério da Justiça, estipule que a proporção segura é de um agente para cada cinco presos. Em toda a penitenciária, há 740 presos com 16 agentes no plantão diurno e oito no plantão noturno. A capacidade da unidade é para 630 detentos. Para o sindicato dos agentes penitenciários, “A rebelião do último final de semana foi mais um exemplo dos riscos que a falta de servidores tem provocado no Paraná.” Desde 2010, o número de

presos nos presídios do estado subiu de 14 mil para 22 mil, enquanto o número de agentes caiu. Das 4.131 vagas na carreira de agente penitenciário (atuais policiais penais), apenas 3.098 estão ocupadas. Desde 2013 não há concurso para a área. Segundo dimensionamento feito pelo próprio Departamento Penitenciário do Paraná no ano passado, para atender à demanda da segurança pública do estado, há a necessidade de contratação imediata de 4.300 policiais penais e de mais 2.100 para trabalharem nas unidades previstas para serem inauguradas pelo governo.

O Congresso Nacional retoma seus trabalhos em 2020 com o anúncio da reforma tributária como pauta prioritária. Entretanto, as propostas em debate estão ainda muito longe de atacar o principal problema da tributação brasileira: a desigualdade. As propostas (PEC 45 e 110/2019) estão voltadas à simplificação dos tributos e à revisão do desenho da arrecadação entre governo federal, estados e municípios. Ainda que tais aspectos sejam importantes, não afetam a distribuição da carga tributária sobre a maioria dos cidadãos. Se os trabalhadores já se indignam com a mordida do leão no imposto de renda, ficariam em estado de revolta se calculassem quanto pagam em impostos ao consumir qualquer produto. Isso porque o grande peso da carga tributária brasileira está nos impostos indiretos sobre consumo e produção, cegos para a capacidade contributiva de cada pessoa – o que quer dizer que rico paga igual pobre. Uma verdadeira reforma precisa rever a carga tributária sobre o povo, reduzindo os impostos para aqueles que destinam toda sua renda ao consumo básico e aumentando impostos sobre grandes patrimônios. Infelizmente, não parece ser essa a intenção do governo. integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares


Brasil de Fato PR 4 Cidades

Gestão de Curitiba “embeleza” a cidade, mas esquece as pessoas ENTREVISTA

Em entrevista, vereadora Josete fala do descaso com a área social na cidade Julio Carignano

Ana Carolina Caldas e Frédi Vasconcelos

A

única vereadora do PT na Câmara Municipal de Curitiba, a vereadora Professora Josete Dubiaski concedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato analisando a gestão da prefeitura de Curitiba de Rafael Greca. Brasil de Fato – Fizemos reportagem com idosa abandonada pela prefeitura de Curitiba. Ela não consegue se locomover, vive da ajuda de vizinhos. O Ministério Público determinou que tivesse acolhimento adequado, o que não ocorreu. Como está a área social em Curitiba? Professora Josete – Nós estamos vendo um desmonte na área social em Curitiba. Todo cidadão tem o direito de ser atendido. A questão dos idosos é nacional, nossa população está envelhecendo, e não temos visto esta

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área ser priorizada em nenhum nível de governo. Mas o atendimento aos idosos em Curitiba é precário. Brasil de Fato – Em outras áreas sociais também há esse desmonte? Professora Josete – Sim, como na saúde, em que há uma política de terceirização iniciada nas unidades de pronto-atendimentos, as UPAS. Também na área da educação há muitos retrocessos. Tivemos alteração na lei permitindo a contratação de professores em processo seletivo simplificado. O que é ruim porque não garante um quadro pessoal efetivo, são contratos temporários. Além disso, o PSS permite a precarização dos salários. Outro retrocesso aconteceu em decisão do Conselho Municipal da Educação, que desobrigou o município de contratar profissionais formados em magistério para a educação infantil.

Crimes da Vale agravam enchentes em Minas e Espírito Santo Atingidos por Barragens destacam, em nota, que mortes não são “acidente” Redação

O

Movimento Nacional dos Atingidos por Barragens, MAB, divulgou nota esta semana em que destaca que as enchentes sofridas em Minas Gerais e Espírito Santo, com dezenas de mortos, “não são desastres naturais. Mas resultado da falta de planejamento urbano, de políticas públicas para garantir moradia digna e da especulação imobiliária, que empurra os pobres para as periferias e regiões sem condições de habitação segura.” Além disso, afirma que os crimes socioambientais, como os da Vale do Rio Doce, pioram a situação, como demonstrado nas enchentes dos últimos dias nas bacias dos rios Paraopeba e Doce. “Em 2015, foram mais de 60 milhões de metros cúbicos de lama da barragem de Fundão depositados no leito e nas margens ao longo dos mais 600 quilômetros

de cursos d’água. Somente na Hidrelétrica Risoleta Neves, cerca de 10 milhões de metros cúbicos ficaram retidos na barragem, que foi esvaziada para conter o material. Para o MAB, é esse rejeito acumulado que está provocando as cheias históricas de Governador Valadares, Colatina e Linhares. Além da Risoleta Neves, a Hidrelétrica de Aimorés também está aumentando o volume do assoreamento ao abrir as comportas e despejar mais rejeitos no rio Doce.” Da mesma maneira, há danos no rio Paraopeba. “Os 11 milhões de metros cúbicos que desceram do Córrego do Feijão pioraram os efeitos da enchente em São Joaquim de Bicas e Betim. E o rio avançou sobre as várzeas e áreas de plantação e fez com que a Hidrelétrica do Retiro Baixo abrisse as comportas e despejasse mais rejeitos que agora descem para a Hidrelétrica de Três Marias.”


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Erros no Enem geram insegurança e descrédito Milhares de alunos tiveram provas corrigidas com falhas. Inscrições em universidades foram prejudicadas Ana Carolina Caldas

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studantes de todo o Brasil se preparam anualmente para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, essencial para quem quer entrar numa universidade pública ou conseguir bolsas nas particulares. Porém, a incompetência do Ministério da Educação (MEC) pôs o sonho em risco, com erros nas correções das notas de milhares de estudantes. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em rede social, confirmou as falhas, dizendo que “houve um problema mecânico de impressão que descolou algumas provas dos seus gabaritos”.

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ser evitados ao pensar na importância da prova para o cenário educacional e o futuro dos estudantes”. Já para a coordenadora pedagógica do Cursinho Vanguarda, em Curitiba, a Professora Ângela Coraiola, o sentimento foi de decepção. “Passamos o ano voltados para esse trabalho e no final, o sentimento é de insegurança entre os alunos”. Para ela, “o governo faz tanta propaganda do Enem, deveria ter

cuidado melhor do processo”, disse. Para o presidente da União Paranaense do Estudantes (UPES), Wellington Lopes, há um enorme desrespeito por parte deste governo com a educação. “Tivemos, só em um ano de gestão, três presidentes no Inep, além de levar o Enem ao descrédito. Este exame tem sido exemplo para outros países e é uma pena que aqui ele não seja tratado, nesta gestão, com seriedade”.

SISU

Justiça suspende e depois autoriza abertura do Sisu Com as falhas ocorridas no Enem, que serve para a seleção de alunos nas universidades federais por meio do Sisu, a Justiça, primeiro, suspendeu a divulgação dos resultados. Voltando atrás na terça-feira, 28, permitindo que as notas fossem publicadas. Mas permanece a insegurança. Segundo o site UOL, funcionários do MEC afirmam que resultado do Enem não é 100% confiável, porque alguns itens não foram devidamente conferidos.

Imagem original: Antonio Cruz | Agencia Brasil

Incompetência Para Ana Carla Bernardino, coordenadora do Pré Vestibular gratuito “Em Ação”, o erro foi gravíssimo. “Os estudantes foram os primeiros a identificar as inconsistências e promover a divulgação nas redes sociais”. Ana destaca ainda que “erros podem e devem

Com Bolsonaro, Brasil mantém pior nota no combate à corrupção País caiu de posição em lista com 180 países, indo para o 106º lugar Redação, São Paulo

A

pesar do discurso de combate à corrupção, o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) piorou a situação. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil se manteve no pior patamar em ranking mundial de percepção sobre combate à corrupção no setor público, de acordo com o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) 2019. Com apenas 35

pontos, o pior resultado desde 2012, o país está atrás de outros como Sri Lanka, Vietnã, Timor Leste, Etiópia, Arábia Saudita e Colômbia. Com essa pontuação baixa, o Brasil caiu mais uma posição em uma lista de 180 países, indo para o 106º lugar, a pior colocação desde o início da série histórica, em 1995. Em 2018, o país já havia perdido dois pontos e caído nove posições. Nas primeiras cinco posi-

ções estão Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Singapura e Suécia. Nas últimas, Venezuela, Iêmen, Síria, Sudão do Sul e Somália. Produzida pela Transparência Internacional, a avaliação se dá em cima de 180 países, cuja escala vai de 0 a 100. Quanto mais próximo de 0, mais o país é percebido como altamente corrupto; mais perto de 100, o país é percebido como muito íntegro.


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Giorgia Prates

Famílias do MST completam um mês de vigília contra despejos em Cascavel Cerca de 800 pessoas estão sob risco de perder moradia, entre elas 250 crianças Paulo Borges

Redação, com informações

do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR

A

vigília permanente para denunciar ameaças de despejo no oeste do Paraná completou um mês na terça-feira, 28. Desde dezembro, centenas de agricultores acampados em Cascavel realizam manifestações diárias para cobrar do governador Ratinho Junior (PSD) a efetivação PUBLICIDADE

da reforma agrária. Batizada de Vigília da Resistência Camponesa: por Terra, Vida e Dignidade, a ação ocorre sempre entre 10h e 15h, no Km 557, à beira da BR-277. As comunidades ameaçadas são Resistência Camponesa, Dorcelina Folador e 1º de Agosto, com cerca de 20 anos de trabalho nas áreas. Ao todo, 212 famílias vivem nas terras - cerca de 800 pessoas, sendo 250 crianças e 80 idosos. A or-

dem de reintegração de posse chegou em dezembro e trouxe angústia no Natal e Ano Novo. Após um mês de mobilização, o espaço da Vigília já se assemelha a uma grande praça arborizada e movimentada. Com trabalho em mutirão, foram construídos bancos de madeira, balanços para as crianças e estruturas com lona para proteger os participantes do sol ou da chuva. Uma feira é montada todos os dias para expor sementes crioulas e alimentos produzidos. Angela Gonçalves, moradora e coordenadora do acampamento Resistência Camponesa, conta que a Vigília já recebeu centenas de visitantes apoiadores. “É muito gratificante ter o alimento para oferecer a quem vai nos visitar e manifestar solidariedade. Assim também mostramos que somos produtores de comida, que estamos vivendo da terra”, afirma ela.

População trans ainda sofre com violência e falta de acesso à saúde e educação Lia Bianchini Quem passou pela região da Boca Maldita, em Curitiba, no sábado, 25, foi provocado a pensar. “Quantas professoras trans você já teve? Quantos colegas trans você tem no trabalho? Quantos dos seus amigos são pessoas trans?”. As perguntas saíam de uma caixa de som carregada por manifestantes da 2° Marcha da Visibilidade Trans e Travesti do Paraná, parte dos atos da semana em que se celebra o Dia da Visibilidade Trans (29 de janeiro) e uma forma de mostrar, nas ruas, corpos que são colocados à margem pela sociedade. “A gente tem muito problema de acesso à saúde, conseguir exames pelo SUS, por exemplo. No âmbito acadêmico e escolar também, muitas pessoas trans acabam saindo por sofrerem preconceito”, conta Kaito Dash, um dos or-

ganizadores das rodas de conversa para homens trans e transmasculinos que acontecem no Grupo Dignidade. A fala de Kaito pode ser comprovada em estatísticas. De acordo com estudo da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), cerca de 82% da população trans sofre com evasão escolar. Para acessar os tratamentos específicos via Sistema Único de Saúde (SUS), é preciso laudo de psicólogo, psiquiatra e endocrinologista “comprovando” a transexualidade. Além dessas dificuldades, a população trans segue sendo uma das que corre mais risco de morte no Brasil. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o país lidera o ranking de violência contra transexuais e travestis. Em 2019, foram 124 casos de violência, entre assassinatos e agressões.


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BrasilCultura de Fato|PR 7 Giorgia Prates

Primeira saída do Bloco Afro Pretinhosidade será no domingo, dia 2 Bloco sugere que pessoas saiam de branco pelo Dia de Iemanjá Redação O bloco formado por pretos e pretas de Curitiba, com mais de 3 anos de existência, além da alegria que leva para as ruas de Curitiba, também traz reflexões sobre as questões raciais e valoriza a cultura da periferia. A primeira saída do grupo no pré-Carnaval de 2020 acontecerá no próximo domingo, dia 2. A concentração será às 14h, na praça Santos Andrade; a saída, às 15h. Dia 2, festeja-se o Dia de Iemanjá e, por isso, o bloco sugere que os foliões compareçam de branco. Durante o dia, também estarão à venda os abadás do bloco, no valor de R$ 30.

Valorização da cultura negra O bloco surgiu em 2018, para quebrar o estereótipo de uma Curitiba europeia, sem negros. O grupo começou a partir de reuniões de familiares e amigos, de questionamentos sobre a falta de valorização da cultura negra em Curitiba e no Carnaval. É formado, em sua maioria, por pessoas negras e de bairros periféricos, como Vila Torres e Tatuquara. O bloco tem parceria com a ONG Passos da Criança e algumas crianças da ONG também tocam na bateria do bloco. Parte dos instrumentos é cedida pela Rede de Mulheres Negras do Paraná, Afro Cor e Passos das Crianças.

Para ficar por dentro O quê: pré-Carnaval com o bloco Pretinhosidade Onde: Praça Santos Andrade Quando: Domingo, dia 2, 14h Gibran Mendes

DICAS MASTIGADAS

Doce de manga em calda Ingredientes 5 mangas; 1 colher de cravos; Canela a gosto; 300 gramas de açúcar; Cachaça (opcional); Água. Modo de preparo Descasque a manga madura (não muito mole) e corte em pedaços grandes. Reserve. Em uma panela derreta o açúcar até ficar com uma cor avermelhada, coloque 1 dose de cachaça (opcional) e depois acrescente 3 copos de água. O açúcar vai formar uma crosta dura, mexa bem até derreter o açúcar e acrescente os cravos e o pau de canela, em seguida junte a manga nesta calda e deixe cozinhar por meia hora. Retire do fogo, deixe esfriar e guarde em um vidro na geladeira. Sirva puro. Divulgação

Por Pedro Carrano

Um conto da cidade de Coimbra A biblioteca, há 300 anos, na data da sua construção inicial, era também um local de cárcere, um cárcere medieval, logo um cárcere de estudantes, e terrível para seus prisioneiros. Álvaro havia sonhado com ela várias vezes, mas desta vez o sonho se tornara absolutamente real, borgiano e assustador. O carcereiro era capaz de adivinhar: se gostava de leitura, os 60 mil volumes ficavam trancados na prateleira. Ou então, se o condenado não tinha o hábito de ler, sairia apenas com o término do estudo de todas essas obras dos séculos 16 a 18. À noite teria que conviver com grupos de morcegos, únicos seres permitidos no salão nobre da biblioteca, esgueirando-se por trás de prateleiras gigantescas e pare-

des da grossura de dois metros para devorar insetos e traças, que ameaçavam a vida dos livros. Com isso não se sabia também se os únicos seres vivos ali eram os livros, alimentando o sonho dos mortos. (Inspirado na Biblioteca Joanina, que possui 20 bíblias em hebraico datadas do século 15 e patrimônios incalculáveis da cultura) Pedro Carrano


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Como devolver o Coritiba ao Coritiba

Compromissos assumidos pela diretoria vêm sendo descumpridos, um após o outro Cesar Caldas

A

escalação do Coritiba no Estadual dá mostras de que caiu a última falácia do grupo político que completará, em dezembro, seis anos de poder administrativo do clube: a valorização dos atletas formados no próprio alviverde. Dentre os titulares, apenas dois têm origem nas categorias de base: o meia Thiago Lopes e o centroavante Igor Jesus. Thiago, em verdade, despontou como promessa no último ano da gestão do ex-presidente Vilson (2014) e estreou já no ano seguinte. Está, portanto, em sua sexta temporada, sem idade para integrar um time Sub-23. É sabido que ambos serão os reservas das estrelas contratadas pelo clube – Jadson (por confirmar) e Sassá. Os outros compromissos assumidos pelo presidente do G-5 (Sa-

mir Namur e os vice-presidentes) já estavam descumpridos, total ou parcialmente. Esse grupo gestor foi eleito por meio da chapa “Coritiba

do Futuro”, em 2017. Trata-se de notória continuidade da catastrófica administração eleita em 2014 com a chapa “Coxa Maior”. Divulgação

Coritiba começou bem o Paraense com um empate e duas vitórias, a última no clássico Para-Tiba

Desmanche

Não basta ter grana

Por Roger Pereira

Por Marcio Mittelbach

A cada dia a torcida atleticana é surpreendida com a saída de mais um jogador do elenco campeão. Jogadores devolvidos de empréstimos, jogadores que não renovaram contratos e vendas, muitas vendas, praticamente desconfiguraram o time que fez a melhor temporada de nossa história. Dos 23 jogadores relacionados para a final do Beira Rio, 10 (e mais o técnico) já deixaram o clube. E outras baixas ainda podem ocorrer. Perder Bruno Guimarães para o Lyon era inevitável. Mas perder talentos para adversários nacionais mostra que o tal do “outro patamar” ainda é mais discurso que prática. Há quem diga que a estratégia é correta, os jogadores estão no pico e, se não vender agora, corre-se o risco de perder dinheiro. Mas é preciso repor à altura e não há indício de que os R$ 260 milhões arrecadados até agora serão reinvestidos no futebol.

O que mais preocupa nessa história do investidor milionário não é a demora para fechar o acordo ou os riscos de privatizar o futebol. A preocupação maior é que parte da torcida aproveitou a onda e terceirizou a responsabilidade de manter o time na luta. Para além dos 3 mil que compareceram ao Paratiba, os de sempre, como costumamos dizer, a impressão é que parte dos paranistas entrou no modo stand-by. Enquanto a grana não pingar na conta e os reforços forem apresentados, eles vão ficar em casa, de braços cruzados criticando a tudo e a todos. De nada vai adiantar a grana dos russos se a torcida não abraçar o time. A crítica pode e deve existir. Mas elas não podem existir em separado da participação. É hora de passar confiança aos atletas, de exigir raça e criar um ambiente favorável. Só assim a grana será garantia de dias melhores.

Para constatar essa óbvia relação, basta ligeira passada de olhos nos nomes que compuseram as listas de ambas, em que coincidem mais de meia centena de pessoas. Os coordenadores e recrutados para campanha nas redes sociais também foram os mesmos. Outra prática recorrente foi o descompromisso de muitos conselheiros eleitos que, ao longo de cada triênio, renunciaram ao mandato – evidência de ter integrado as chapas só para “fazer número”. O Coritiba terminou 2019 com imenso déficit financeiro e dívidas de curto prazo confessadas à imprensa. A “salvação” para o pagamento das últimas folhas de pagamento e encargos se dá pela venda do lateral direito Yan Couto. Usar com sabedoria as outras fontes de receita será determinante para devolver o Coritiba à sua torcida.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Quem chega e quem vai? No início do ano é normal vermos notícias sobre a ida e vinda de jogadores para os clubes. Na temporada 2020, o mercado da bola também pegou fogo no futebol de mulheres, com a preparação dos times para os campeonatos do ano. Vamos acompanhar os destaques? O Athletico terá Vantressa Ferreira como técnica e também realizou seletiva no final de 2019 para encontrar atletas. O Palmeiras realizou cinco contratações, entre elas a experiente Rosana e a jogadora Stefany Krebs, campeã mundial de futsal para surdos. O Santos trouxe ninguém menos do que Cris Rozeira, atleta que saiu do São Paulo e voltou para reforçar as Sereias da Vila. O Corinthians trouxe Andressinha diretamente da seleção. O São Paulo, após perdas, apostou em Glaucia (ex-Santos) e Duda. A Ferroviária manteve a base da equipe campeã brasileira e subiu algumas atletas da base. A diretoria do Ceará prometeu um investimento maior. O Bahia, buscando o acesso para a elite, contratou algumas jogadoras com passagem na A1. E a dupla Gre-Nal segue firme na preparação: Grêmio passou por reformulação intensa e o Inter aposta na manutenção de boa parte do time de 2019.


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