Brasil de Fato PR - Edição 132

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Satiro Sodré | Fotos Públicas

Esportes | p. 8

Cidades | p. 6 e 7

Julho das Pretas

Para ela, não há distância Brasileira é tetracampeã mundial de natação

O 25 de julho traz artes e reflexão sobre racismo e resistência

Antônio Cruz | Agência Brasil

PARANÁ

Ano 4

Edição 132

25 a 31 julho de 2019

distribuição gratuita

Ratinho deixa secretários gastarem R$ 248 mil em viagens

www.brasildefato.com.br/parana

Joka Madruga

Enquanto funcionalismo fica sem reajuste e universidades estaduais estão em greve Paraná | p. 4 e 5 Gabriel Carriconde

CASA DO ESTUDANTE EM RUÍNAS Gravação mostra que recursos foram desviados Geral | p. 3

Brasil | p. 5

Stedile não perdoa Para dirigente sem-terra, compra de votos da reforma da previdência foi uma vergonha

Cidades | p. 3 e 6

Moradia urgente Conheça o direito à regularização fundiária e pessoas que lutam por ele

Esportes | p. 8

Futebol de mulheres Cai o técnico, mas quem assume? Com qual projeto?


EDITORIAL

Ensinamentos de uma greve estadual

este começo de mandato, o go- imprensa, mostra sua postura anvernador Ratinho Junior joga tidemocrática. Além disso, o secrecom armas diferentes daquelas do tário de Educação, Ricardo Feder, ex-governador Beto Richa, que fi- ligado ao setor privado de tecnolocará marcado pelo massacre do dia gia, traz para a educação a lógica das metas e da terceirização, conside29 de abril de 2015. Um balanço da greve dos servi- rando a escola pública como mercadores estaduais, que envolveu trin- doria que deve gerar lucros. Ainda assim, o ta categorias duranmovimento greviste 18 dias – sendo O serviço público ta é considerado vique as universidatorioso por duas rades estaduais see o magistério zões: construiu uma guem ainda em são fundamentais ampla mobilizaluta -, revela avanem nossa ção, como não se ços do movimenvia desde 2015, com to, mas também o estrutura social atos que chegaram choque contra a via 30 mil pessoas; e são neoliberal e priconquistou avanvatista de Ratinho, que se valeu do poder político e mi- ços: a retirada do PLC 04, que condiático para tentar desmobilizar gelava a carreira dos servidores em 20 anos. O serviço público e o magisos grevistas. O governador, que não recebeu tério são fundamentais em nossa esas lideranças do movimento em ne- trutura social e devem ser valorizanhuma negociação e fez anúncios dos, mesmo que sejam necessárias sobre a pauta apenas em coletiva de mais greves e lutas.

Eu sei o que é fome Alex Cardoso,

catador de materiais recicláveis da equipe de Articulação do Movimento Nacional das Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)

N

SEMANA

Brasil de Fato PR

Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

OPINIÃO

Brasil de Fato PR 2 Opinião

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u sei o que é fome. Sei o quanto dói. Sei o quanto não quero ela de volta. Sei que não quero nem para mim nem muito menos para outros adultos que conseguem compreender ou imaginar o que é fome, imagina então para uma criança. Quando criança, sentia e pedia a mãe, ela estava sempre perto, cuidando. A barriga doía, como se um bicho estivesse devorando-a por dentro. Eu chorava e gritava por minha mãe. Quando ela falava comigo, pelo menos me acalmava, tentava voltar a fazer o que estava fazendo, às vezes brincando de separar os recicláveis, em outras brincando de limpar o pátio. Eu tinha até a minha própria vassoura, pequena e adaptada, exclusiva. Eu voltava e não entendia o porquê da dor, muito menos o cansaço dobrado, a falta de vontade, de força. Apesar de esforçado, eu não en-

tendia porque não conseguia fazer minhas brincadeiras com a mesma rapidez que em outros momentos. Por muitas vezes, dormia, acordava e sentia um gosto horrível na boca, sentia a saliva grossa, amarga, parecendo azeda. Às vezes, sentia vômito e expelia um líquido verde gosmento que deixava a boca e a garganta ardendo. Torcia muito para que um carro parasse na rua, torcia para ver gente correndo e gritando: “tão dando coisas”. Quem “dava coisas” eram pessoas que passavam de carro na vila e davam roupas, comida e doces. Eu torcia muito para ser doce. Para ser comida. Eu tentava, em meio a tantas outras crianças, chegar perto do carro, queria que me vissem, que me dessem algo, qualquer coisa serviria, qualquer coisa. Eu só queria comer. Queria matar quem me matava. Eu me aproximava e o máximo que conseguia era levantar as mãos e gritar com todas as minhas forças: “Aqui, tia!” (…) Eu entendo, sei o que é fome. Eu escrevo e sinto. São sensações que somente deixarei de sentir quando eu for. Sei que não quero isso para mais ninguém. Eu sei. Eu entendo.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 132 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Alex Cardoso, Gabriel Carriconde, Hellen Lima, Manoel Ramires e Paula Zarth Padilha ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@ gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

“Bolsonaro é um perigo para o Brasil”

Greca obriga servidores a receberem vale-transporte em cartão da URBS Bicicleta, carro, a pé, de carona, moto, ônibus da empresa e transporte público. São muitas as opções que os trabalhadores têm para ir ao trabalho. Contudo, o pagamento do vale-transporte só pode ser feito no transporte coletivo público. É isso que estabelece a lei 7418/1985, que define o uso do vale e outras providências. É com base nessa legislação que o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), por meio do Decreto 958, está alterando a Lei Municipal nº 8.704, de 21 de setembro de 1995 e obrigando os servidores a receberem o valor do vale-transporte apenas no cartão da URBS. Anteriormente, o governo municipal depositava esse valor no contracheque de cada servidor, levando em consideração a necessidades de cada um. O decreto, publicado em 22 de julho, define que o “benefício do auxílio-transporte aos servidores têm a finalidade de contribuir exclusivamente para o deslocamento da residência para o trabalho e vice-versa”. É também o que prevê o artigo 1º da Lei Federal. Contudo, a mudança instituída por Greca obriga o pagamento apenas no cartão transporte. O prefeito vai além na mudança da regra e ainda criou uma comissão para controlar o uso do vale pelos servidores.

Disse o governador do Maranhão, Flávio Dino. O governador foi citado na semana passada por Bolsonaro, que declarou “Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”, expondo seu preconceito contra os nordestinos.

Divulgação

Para onde foi o dinheiro da Casa do Estudante Universitário?

Áudio obtido pela reportagem do Brasil de Fato Paraná mostra que parte dos recursos foi remanejada Gabriel Carriconde O Brasil de Fato Paraná teve acesso a áudio com diálogos entre Luiz Fernando Jamur, secretário de governo da prefeitura de Curitiba, e o presidente da Câmara dos Vereadores, Sabino Picolo (DEM), revelando que parte do recurso destinado à reforma da Casa do Estudante Universitário, CEU, foi transferida para restauração de outro imóvel. Na gravação, Jamur responde que “o dinheiro está executado em outra obra” e que a CEU ‘’já foi restaurada pelo município via potencial construtivo’’ e que ‘’a prefeitura fez um investimento enorme lá”. Fotos tiradas pelo Brasil de Fato mostram que a ala em que supostamente teria sido reformada não foi concluída. O prédio so-

fre com problemas estruturais e não possui alvará de incêndio. Segundo Cláudia Santos, vice-presidente da CEU, “há contradição nesse discurso. Quando entramos no sistema, verificamos que o recurso foi solicitado pelo Palácio Belvedere, que o recurso da CEU é citado e parte dele é aprovada pela prefeitura para essa obra.” E continua, “mas ainda sobra cerca de 1,1 milhão, que não sabemos onde está.” Segundo o advogado Bruno Meirinho, esse remanejamento não poderia ser feito, “parece que ou teria

NÚMEROS

250

estudantes universitários moram na casa

ocorrido equívoco ou adulteração da finalidade do potencial construtivo se esses recursos, em vez de irem para a CEU, tiverem ido para outra obra”, afirma. O Brasil de Fato Paraná entrou contato com a prefeitura de Curitiba para saber a posição em relação aos valores na conta da CEU, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta. Histórico Em 2007, a CEU fez convênio com a prefeitura que determinava que recursos obtidos pela venda de títulos de potencial construtivo seriam utilizados para reforma e restauração do imóvel, que abriga mais de 250 estudantes universitários. Desde lá, as construtoras contratadas pela prefeitura faliram. O convênio venceu em 2014 e não foi renovado.

É ESSE?

Mariana Auler

O que fazer em casos de despejos coletivos? Nas cidades brasileiras são comuns áreas de ocupação informal. Nessas situações em que não há segurança do título de propriedade, existe sempre o risco de reintegrações de posse. Embora a lei seja superprotetora da propriedade, dando mais proteção ao título formal que à posse, há mecanismos que podem ser reivindicados nessas situações. A lei dispõe que o Ministério Público e a Defensoria Pública devem ser intimados para atuar nos casos e recomenda a mediação para a busca de soluções alternativas. Ainda, como o poder público tem responsabilidade sobre a política habitacional, ele também deve ser chamado a colaborar com soluções. Assim, com a notícia de uma ameaça de despejo, a Defensoria Pública e Ministério Público podem ser imediatamente acionados para que atuem na defesa do direito à moradia e de grupos vulneráveis como crianças e idosos. A prefeitura e o governo do estado também devem ser procurados na busca de políticas públicas como a regularização fundiária. Nessas situações, é muito importante que a comunidade atue conjuntamente e não individualmente, pois a dimensão social desses casos fortalece a sua defesa. Mariana Auler é integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares


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Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

Universidades estaduais do Paraná mantêm greve por melhores salários e condições de trabalho Todas as sete instituições estão com aulas suspensas neste começo de segundo semestre Sindiprol | Aduel

Frédi Vasconcelos

A

s sete universidades estaduais do Paraná começam o segundo semestre em greve, depois de negociações de sindicatos com o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, que não levaram a qualquer resultado na segunda, 22/7. Além da reposição salarial de 17,04%, por conta do congelamento de salário nos últimos anos, os professores querem a contratação de profissionais que já fizeram concursos, mas não foram chamados para assumir os cargos, o arquivamento do projeto de lei 04, que congela carreiras por até 20 anos, e a retirada da proposta da Lei Geral das Universidades que, segundo eles, fere a autonomia universitária. Em relação ao reajuste, os professores explicam que a proposta do governo Ratinho Jr., de reajuste de 2% em janeiro de 2020, não repõe nem

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a inflação de agora até o começo do próximo ano, aumentando mais ainda as perdas salariais já registradas. Segundo Artur Lourival da Fonseca Machado, professor de matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste, “Com essa defasagem já

foram perdidos 3,57 salários até abril de 2019, devendo chegar a 5,2 salários até dezembro deste ano”, afirma. Ele calcula que, se for aceita a proposta do governo, os professores e funcionários públicos podem perder 11 salários até 2022.

Falta de Professores Sobre o projeto de Lei 04/2019, que congela as carreiras do estado, e que foi pauta de negociação entre o governo e todo o funcionalismo, os professores alegam que Ratinho se comprometeu a retirar a proposta da Assembleia Legislativa, mas, segundo dados da Alep, ela continua tramitando. Para os sindicatos, o projeto tem de ser arquivado definitivamente. Mas um dos pontos principais da greve é a contratação de professores já aprovados desde 2015 e que não foram chamados e a abertura de novos concursos. Hoje, dos 7,6 mil professores nas universidades estaduais, cerca de 1700 são temporários. E, para o começo do segundo semestre, não está garantida nem a manutenção desses temporários, o que praticamente inviabilizaria o funcionamento de diversos cursos mesmo sem a greve.

Bancários fortalecem organização sindical para enfrentar retrocessos Paula Zarth Padilha Cerca de 300 trabalhadores bancários do Paraná se reuniram em Londrina, no último final de semana, para organizar a luta contra os retrocessos enfrentados no país. As plenárias regionais por cidade e conferências estaduais são realizadas pelo movimento sindical bancário há 21 anos como estratégia de organização da campanha salarial, que é unificada em todo o país. A diferença é que, em 2019, está em vigência uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que garante direitos por dois

anos e reajuste que contempla reposição da inflação mais 1% de aumento real, em todas as verbas salariais, a partir de setembro. Mas o calendário de lutas foi mantido e fortalecido por debates conjunturais aprofundados para enfrentar o momento político e econômico desfavorável aos trabalhadores e aos movimentos progressistas. Conforme explica Junior Cesar Dias, presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR), entidade responsável pela 21º Conferência Estadual da catego-

ria bancária, mesmo não tendo negociação efetiva com banqueiros em 2019, há também o envolvimento com questões gerais. “As conferências foram mantidas para nos inserir nesses debates, o ataque é geral contra todos os trabalhadores”, diz. “Nós fizemos avaliação de nossos problemas específicos, mas também do cenário político e econômico do país. Para nós, nossa categoria tem uma atuação bastante efetiva, tem se destacado na defesa dos direitos dos trabalhadores como um todo e também tem se envolvido nas pautas da sociedade”.


Brasil de Fato PR

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Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

Sofremos uma derrota gravíssima na previdência Para Stedile, trabalhadores precarizados estão lutando pela sobrevivência e não conseguem visualizar daqui 30 anos

Secretários de Ratinho Jr. gastaram R$ 248 mil em diárias Manoel Ramires

Rafael Stedile

Frédi Vasconcelos

O

E

m entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná, João Pedro Stedile, militante da reforma agrária e da Frente Brasil Popular, analisa a aprovação da reforma da previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados. Brasil de Fato Paraná – Um dos principais temas deste começo de governo Bolsonaro foi a reforma da previdência. Como você avalia o que aconteceu até agora? João Pedro Stedile – Primeiro, no tema da previdência nós sofremos uma derrota gravíssima porque não conseguimos ampliar entre os deputados o número de votos necessário. Diversos setores que no movimento popular se articulam conosco, como a Força Sindical, lá no parlamento os deputados ligados ao partido Solidariedade (da Força) votaram a favor. Segundo, o governo foi hábil, foi retalhando as propostas, ficou uma proposta meio “transgênica”, e isso foi também debilitando uma oposição mais sistemática. Mas o jogo lá do parlamento é sempre muito difícil, tem mil-e-um interesses pessoais. E influenciou o governo ter liberado R$ 40 milhões por deputado, isso é uma vergonha. Inclusive, como não tinha dinheiro no orçamento, remanejou até dinheiro que era para o Mais Médicos. Tirou de um programa que ia direto para os mais pobres para comprar deputados para votar contra os mais pobres.

Sem contar os interesses dos bancos e instituições financeiras que bancam muitos deputados... Foram retalhando a reforma, mas mantiveram o essencial para eles, que é a previdência privada. Já tem banco fazendo propaganda nos grandes jornais. A burguesia já criando fundos de previdência privada para pegar poupança daquelas categorias que têm salário um

Agora, o principal problema foi do lado de cá porque não conseguimos mobilizar a classe trabalhadora

pouquinho melhor. Agora, o principal problema foi do lado de cá, porque não conseguimos mobilizar a classe trabalhadora. As centrais marcaram greve, mas ela não aconteceu na intensidade necessária. E o principal fator é que a classe trabalhadora está tão derrotada com o golpe e com a crise econômica que aquelas camadas mais pobres, e que vão ser mais afetadas pela reforma da previdência, estão mais preocupadas com o emprego. Não visualizam daqui 30 anos, precisam resolver o hoje, o aluguel, a feira. E, segundo, o movimento sindical não tem mais capacidade de chegar àquele trabalhador precarizado, terceirizado, que hoje é maioria.

governador do Paraná levou à Assembleia o segundo ciclo da falada reforma administrativa. “A proposta prevê a junção de autarquias, com mais redução da estrutura física do Estado. A estimativa é de corte de R$ 10 milhões por ano nas despesas correntes”. Mas a contenção de gastos poderia ser bem maior se os secretários economizassem em viagens, hospedagem e alimentação. De janeiro até aqui, o Paraná já pagou R$ 248 mil com diárias para seus secretários. Apenas para promover o governo descentralizado, em Londrina, Ratinho levou uma comitiva de secretários que custou R$ 24,3 mil. As despesas dos secretários vão de viagens internacionais a eventos nacionais, com custo alto para os cofres públicos. É o caso da viagem do chefe da Casa Civil, Guto Silva, a Dubai. O estado bancou R$ 9.735,64. Porém, o campeão em diárias é aquele responsável pelas contas do estado. De janeiro a julho de 2019, o secretário da Fazenda, Renê de Oliveira Garcia Junior, já recebeu em diárias o equivalente a R$ 45,6 mil. Ele é seguido pelo secretário de educação, Renato Feder, com R$ 30,5 mil em diárias de fevereiro a junho de 2019 e pelo secretário de Saúde, Beto Preto, com R$ 29.762 de gastos de março a julho de 2019. Em uma única viagem foram R$ 11.508,86. De acordo com levantamento feito no Portal da Transparência, o custo com diárias na ExpoLondrina saiu por cerca de R$ 24,3 mil. O secretário que mais promoveu despesas foi da Educação, Renato Feder, com R$ 4.322 para participar da atividade. José Fernando Ogura | ANPr


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Brasil de Fato PR

Paraná, 25 a 31 de julho de 2019 Pedro Carrano

Giorgia Prates

Uma nova geração em associação de moradores Fabrício Rodrigues é presidente em uma área que, desde que ele nasceu, não conhece a regularização fundiária Pedro Carrano

N

o dia do encontro com a reportagem, Fabrício Santos Rodrigues, presidente recém-eleito da Associação de Moradores da Vila Maria e Uberlândia, tinha várias tarefas antes de ser internado para uma cirurgia. A retirada de um tumor não tira o ânimo do jovem, que coordena uma entidade na qual ele tem 28 anos, o secretário tem 24 e “a média da direção menos de 40”. Isso em uma cidade marcada por lutas por legalização de lotes que já passam de décadas. Assim, uma nova geração redescobre as associações.

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“Nasci aqui. A sede da associação foi fundada na gestão do meu avô”, Rodrigues narra. Dois problemas graves existem nessa ocupação no bairro Novo Mundo, a 8 km do centro da capital. O primeiro é a falta de legalização dos lotes da Cohab, a exemplo do que se vê também em áreas vizinhas, na Vila Formosa e Ferro Vila. O jovem aponta prejuízos aos moradores nos contratos com a Cohab e busca reuniões com a companhia para mudar a situação. “Há moradores que gastam até R$ 1.042 em prestações e não têm a escritura da casa”, critica. O outro conflito são as enchentes do rio Formosa, hoje

contidas a partir do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2008. Mas ainda é preciso concluir o projeto de recuperação da mata ciliar e término da realocação dos moradores. Como jovens que se prezem, os diretores da associação querem contornar as dificuldades de participação em assembleias fortalecendo os grupos de Whatsapp e as redes sociais da entidade. “Já que não conseguimos reuniões presenciais”, explica. Presencialmente, já fizeram também atividades como o “chá de bebê coletivo”, que beneficiou doze mulheres da comunidade.

Evento destaca cultura e luta de mulheres negras e latinoamericanas Vanda Moraes Indígenas, negras, migrantes e latino-americanas se reúnem, na quinta (25), no evento “Mulheres e Resistência”, que ocorre no espaço Rua Pagu, em Curitiba. O dia 25 de julho, Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha, é um marco na luta das mulheres. “Uma data para lembrar que, num país tão diverso e rico como o Brasil, ainda existem desigualdades sociais que atingem, na maioria das vezes, determinadas ‘raças’ de mulheres”, lembra a pedagoga Jéssica Miranda, uma das responsáveis pela organização do evento. “Eu, enquanto mulher negra, afro-indígena, acredito que levar a desconstrução do racismo para pessoas não-pretas também é uma forma de combate a essa opressão”, defende. Por isso, a impor-

tância, segundo ela, de fazer um evento que dê visibilidade para os saberes, a arte, a cultura e as lutas das mulheres negras e indígenas. Na programação, as Djs Dani Black e Mari Bomba dividem o espaço com exposição da fotógrafa Giorgia Prates e o brechó Kaw Black. Ninoska Potella, refugiada venezuelana, também se apresenta no evento com a proposta de manter vivas as raízes que a conectam ao país de origem pela música. A bailarina Laremi Paixão apresenta o resultado de sua pesquisa e trajetória nas danças afro-brasileira e africana.

Fique por dentro Quando: 25 de julho Horário: 18h30 Onde: Espaço Rua Pagu, Rua Alberto Bolliger, 120 Quanto: Gratuito


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Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

Programação do Julho das Pretas vai até o fim do mês

LUZES DA CIDADE Venâncio de Oliveira

O propósito é clamar pela vida, pela paz, para que a população negra tenha liberdade de ir e vir Giorgia Prates Gibran Mendes

Sobre a condução compartilhada

Redação

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rogramação com uma série de atividades que remetem ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no Brasil também concedido à Tereza de Benguela, liderança quilombola que lutou contra a escravidão da população negra, acontece neste mês de julho em Curitiba e no interior do estado. Julho das Pretas é um evento nacional, proposto pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras do Brasil (AMNB), e propõe que cada estado do país realize suas atividades próprias com o objetivo de dar visibilidade às pautas das mulheres negras. Em sua 3ª edição no Paraná, o mote deste ano é “Negras pela Paz. Basta de tiros e de prisão, basta de execução”. O tema remete aos casos de violência nos quais a maior vítima é a população negra. Pessoas negras são assassinadas em razão do racismo estrutural da sociedade e a frequência desses casos aumenta entre as mulheres e jovens. Mães pretas veem a vida de seus filhos ceifadas pelo genocídio e o feminicídio e têm como seus principais al-

vos as mulheres negras. O propósito do Julho das Pretas – PR 2019 é o de clamar pela vida, pela paz, para que a população negra tenha a liberdade de ir e vir, de soltar sua voz, de trabalhar, de estudar, ou seja, de ter a devida dignidade.

Programação em Curitiba 25 de julho Culto Inter-religioso Dia da Mulher Negra 19h - Igreja de Nossa Senhora do Rosário de São Benedito Dia internacional da Mulher Negra 20h - Quintal da Maria 27 de julho Oficina: O corpo e as memórias que ele carrega 18h - Teatro Universitário de Curitiba (TUC) 28 de julho Show pela vida 11h - Escadarias Ruínas de São Francisco

Na dança nossa existência tem um fluir. Vai e segue as correntes tuas e a do outro. Mas neste nadar tem uma condição, uma intencionalidade desde dentro de uma lógica mentalizada de esquemas que educam seu corpo. E um, dois, um, dois... Hipnotizadora. Sei lá. Você acha que nunca pode saber mais do que foi condicionado. Caixinhas. Você já foi domado pelo organismo da multidão. Mas ali éramos crianças expostas. E depois, no salão, a emoção era ainda maior. O vinho era sedutor. Mas embargava. E quando ela chega, parece inundar uma embriaguez transcendental. C tem uma maciez própria, ela sabe incitar a condução. Um passo curto, leve, mas imponente. Será que estava num sonho, preso à alguma loucura? A mão rigidamente posicionada, mas totalmente macia e sedutora ao mero toque, indicando a direção certa, me levando a levá-la. E o enigma dela é... Ainda era inexpugnável. Todos temos um segredo? Somos algum tipo de fortaleza? Ela indica que tenho de fazer e neste fluir, um, dois, um, dois, pareço sonhar, fluir. Hipnose. E o vinho. E no limiar parece que o real era apenas uma metáfora dela.

DICAS MASTIGADAS

Risoto de Abóbora (jerimum) Ingredientes 150g de arroz arbóreo 500g de jerimum 100 ml de vinho branco 100 ml de caldo do caldo do jerimum cozido 20 g de cebola picada 2 dentes de alho 30 ml de azeite 100g de queijo Rúcula a gosto Sal a gosto Modo de preparo Corte o jerimum, sendo 1 copo em cubos e 1 copo em lâmina e separe, o restante cozinhe em uma panela com água e sal. Separe a água do cozido e amasse o jerimum com um garfo. Em uma panela, refogue a cebola e o alho no azeite, deixando caramelizar. Acrescente o arroz arbóreo e mexa até que solte o amido. Entre com o vinho e depois o caldo de jerimum. Deixe cozinhar até reduzir. Introduza o purê e misture até que se incorpore ao arroz. Coloque pedacinhos de jerimum em cubos e continue mexendo. Sirva em um prato fundo e decore com sementes e lâminas de Jerimum e folhas de rúcula fresca.


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Brasil de Fato PR

Paraná, 25 a 31 de julho de 2019

Vovô visita vovô Por Cesar Caldas Após duas vitórias em casa contra as fracas equipes de São Bento e Vila Nova, que brigam entre si por um dos lugares na zona do rebaixamento, o alviverde vai ao interior na sexta-feira, 26/7, para enfrentar o Operário Ferroviário. É oportunidade de mostrar que aprendeu com os erros cometidos em Criciúma, quando o acentuado recuo do time determinou uma improvável derrota fora de casa. A viagem evoca a raiz do futebol paranaense: também foi em Ponta Grossa a gênese desse esporte no Estado, num match entre o Coritiba e um time princesino. Dessa vez, os dois vovôs se encontrarão com objetivos distintos – o dos Campos Gerais querendo se aproximar do pelotão de frente e o da capital em busca de um lugar do G4. Depois, o torcedor coxa-branca espera comemorar, contra o Botafogo de Ribeirão Preto em 29/7 no Alto da Glória, o ingresso na faixa de acesso à Primeira Divisão.

Símbolo da resistência Por Marcio Mittelbach Lá se vão mais de oito anos desde o dia mais triste da história do Paraná Clube. No dia 24 de abril de 2011 o tricolor foi rebaixado à série B do estadual depois de um empate com o Arapongas na Vila Capanema. Mas toda aquela destruição deixou uma semente, um legado. Esse legado se chama Thiago Rodrigues, nosso Camisa 1 naquela terrível tarde. Com atuações impecáveis na série A em 2018 e agora na Série B, ele calou quem criticou o seu retorno. Na partida diante do Brasil de Pelotas, dia 18/7, completou seu 19º jogo pelo Paraná Clube em 2019, mesmo número de participações que teve em 2018, ano que mais havia atuado pelo Clube após oito temporadas. Thiago é hoje um ídolo da torcida. Único atleta formado na base paranista no time titular, ele é a personificação do momento tricolor. Aos 30 anos, superou os tempos difíceis e está pronto para ser as mãos da nação tricolor em mais um acesso.

Ana Marcela é a maior campeã mundial de natação em longa distância Brasileira vence 5 km e 25 km. É a primeira tetracampeã em provas de águas abertas e acumula 11 pódios Fotos Públicas

Frédi Vasconcelos

A

o vencer a prova dos 25 quilômetros de natação em águas abertas, a brasileira Ana Marcela Cunha tornou-se a maior campeã mundial em longas distâncias. Foram 5 horas, 8 minutos e 3 segundos, braçada após braçada, com direito a um “sprint” no fim, que deixou para trás a francesa e a alemã que disputavam com ela o ouro desde o início nas águas da Coreia do Sul. A prova foi disputada com muita chuva, vento e um mar difícil, condições que ajudaram a brasileira, que rende melhor e gosta de competir nessas condições, como já declarou seu técnico. Nas provas anteriores do mundial, havia chegado

em primeiro também nos 5 quilômetros e ficado em quinto nos 10 quilômetros, garantindo vaga nessa distância para a Olimpíada do ano que vem, em Tóquio. Competição que nunca ganhou. Mas a vitória no mundial também torna Ana Marcela a primeira tetracampeã da história da competição de águas abertas. No total, já são 11 pó-

dios em provas de longa distância. Sem contar que, antes, nenhuma brasileira tinha conquistado duas medalhas de ouro em mundiais de natação. Os próximos desafios da nadadora são o Pan-Americano de Lima, no Peru, que tem abertura agora, em 26 de julho, competição que também nunca venceu. E a Olimpíada de Tóquio.

ELAS POR ELA Cofres abertos Por Roger Pereira Abner por R$ 10 milhões; Adriano com salário de R$ 350 mil por mês. Demorou, mas o Athletico abriu o cofre e fez importantes contratações para a sequência da temporada. Estranhamente, as duas grandes contratações atuam na mesma posição, a lateral-esquerda, onde o Furacão ficou órfão de sua principal revelação, Renan Lodi. Mas a versatilidade e experiência de Adriano, que brilhou no Barcelona, deve permitir que o jogador vire uma solução para o meio de campo, até por conta da possibilidade de transferência de Nikão, ainda não descartada. Uma grande aposta e um jogador consagrado (mas que estava jogando na Turquia, não sabemos em que condições chega) mostram que não ficou na falácia a promessa de que o dinheiro arrecadado com a venda de nossas revelações seria reinvestido em futebol. Que assim continue sendo.

Fernanda Haag

A queda A CBF, após um mês da eliminação do Brasil na Copa do Mundo, nas oitavas de final, anunciou a demissão do técnico Vadão do cargo. A notícia foi bem recebida pela maioria dos torcedores do futebol de mulheres. O treinador encerrou sua segunda passagem no comando da seleção com 53% de aproveitamento e marcado por uma sequência terrível de nove derrotas pouco antes do Mundial e foi fortemente criticado. Marco Aurélio Cunha, coordenador do futebol feminino, por enquanto permanece no cargo. As especula-

ções para a vaga de treinador/a já começaram. O nome mais cotado é da sueca Pia Sundhage, alguns sugerem a possibilidade de René Simões assumir. Independentemente de quem vier – e lembramos que uma mulher seria mais que bem-vinda – o fundamental é a CBF estruturar um plano de longo prazo e investir nesse projeto. A modalidade não pode ser lembrada apenas de quatro em quatro anos. A entidade também deveria escolher um nome para treinar a base, já que o sub-20 e o sub-17 estão sem técnico desde o ano passado. Fica a cobrança!


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