Brasil de Fato PR - Edição 83

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2 | Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 7 a 13 de junho 2018

Lattuf

EDITORIAL

Judiciário: um poder cada vez mais antidemocrático

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epois de dez dias de greve das transportadoras e caminhoneiros autônomos, petroleiros declararam greve de três dias, já anunciada desde antes, com a pauta justa da redução do preço do gás de cozinha, da gasolina, contra a privatização da Petrobras e por mudança na política de preços baseada no mercado internacional. Porém, mesmo cumprindo o rito legal, com aviso anterior de 72 horas, a greve acabou no segundo dia, pois sofreu uma intervenção do Tribunal Superior do Trabalho (TST), com ameaça de multa de R$ 500 mil inicialmente, podendo chegar a R$ 2 milhões.

As crises de Parente e a greve dos petroleiros OPINIÃO

Anacélie Azevedo,

petroleira, dirigente do Sindipetro PR/SC e Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-PR

Apenas com mobilizações trabalhadores podem conquistar a manutenção de direitos

A

Esta é uma demonstração de que, embora a greve seja um direito assegurado na Constituição de 1988, por sua vez, a Lei de Greve, de 1989, coloca barreiras quase intransponíveis à sua realização. Como a aplicação de multas milionárias, interditos proibitórios, classificação de serviços “essenciais” em qualquer setor, fatores que limitam o direito à manifestação e dificultam que a greve seja ferramenta de pressão quando não há diálogo entre trabalhadores e patrões. Apenas com mobilizações, organização e lutas os trabalhadores podem conquistar a manutenção de direitos em ameaça pelo atual governo de Michel Temer (MDB).

O modelo de preços dos combustíveis adotado pela Petrobrás castiga o povo brasileiro. Desde julho de 2017, a Petrobrás alterou mais de 230 vezes os preços nas refinarias, com aumentos de mais de 50% na gasolina e diesel, enquanto os preços do GLP subiram 60%. Essa fórmula de reajustes quase diários segue a cotação do dólar e do petróleo no mercado internacional. Foi projetada e colocada em prática por Pedro Parente, um velho inimigo do povo, mas grande aliado do mercado financeiro internacional. Seu nome é sinônimo de crise profunda. Na época da superinflação do governo Sarney, foi se-

cretário-geral adjunto do Ministério da Fazenda. Quando Collor confiscou a poupança, era secretário de planejamento do Ministério da Economia. Nos tempos de apagão do governo FHC, era ministro de Minas e Energia.

As ações de Parente frente à Petrobrás, no governo Temer, foram catastróficas

É de imaginar que um nome tão ligado ao fracasso iria falhar novamente, desta vez na área dos combustíveis. As ações de Parente frente à Petrobrás, no governo Temer, foram catastrófi-

cas. Abriu mão de imensas reservas na área do Pré-Sal, vendeu o que pôde na Petrobrás, reduziu a capacidade de produção das refinarias para favorecer as importações e avacalhou com o preço dos combustíveis. O conjunto da obra não poderia ser outro, uma nova crise, iniciada com a greve dos caminhoneiros. Parente resistiu, mas a greve dos petroleiros tirou a blindagem do governo sobre seu nome e teve que abandonar a presidência da Petrobrás. Sua queda não significa o fim da luta dos petroleiros. A categoria quer que a Petrobrás volte a produzir com força total e retome sua função econômica e social. Os petroleiros entrarão em greve novamente, pois caiu o Parente, mas a política de preços e o desmonte da Petrobrás permanecem.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Paraná. Esta é a edição nº 83 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Franciele Petry Schramm, Laís Melo, Ana Carolina Caldas e Júlia Rohden COLABOROU NESTA EDIÇÃO Anacélie Azevedo, Luis Lomba, Daniel Giovanaz e Poliana Dallabrida ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza, Lia R. Bianchini e Priscila Murr FOTOGRAFIA Giorgia Prates ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)


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Paraná, 7 a 13 de junho 2018

Luis Lomba

Para a pastora Cleusa Caldeira, os cristãos têm o dever de denunciarem as injustiças

Evangélicos se mobilizam em defesa da democracia Luis Lomba, Curitiba (PR) Lideranças evangélicas defenderam, em Curitiba (PR), a democracia, o direito de Lula ser candidato e o restabelecimento de direitos perdidos depois do golpe contra Dilma Rousseff. O economista Wagner Wiliam da Silva e os pastores Cleusa Caldeira, Mike Viana e João Mario integram a Frente Evangélicos pelo Estado de Direito, que participa da Vigília Lula Livre na capital paranaense. “Os direitos básicos do ser humano são defendidos pelo cristianismo. Lula não queria ver o brasileiro passando fome, sem saneamento básico. O papel do evangélico hoje não é se tornar petista, mas ler a Bíblia é entender que cristianismo não combina com derrocada de direitos”, afirmou William, durante o programa Democracia em Rede, transmitido da Vigília Lula Livre. A pastora Caldeira, por sua vez, acredita que é preciso conscientizar a comunidade evangélica sobre a atual perda de direitos. “Nossa democracia está sendo golpeada e estamos resistindo. Cremos que esse movimento é capaz de dar outro rumo à nossa história”, disse.

3 | Geral

FRASE DA SEMANA

“Como me retirar da disputa eleitoral se as pesquisas comprovam que tenho mais votos que a soma de todos os concorrentes?”

R A DA R DA LUTA Centrais pedem desenvolvimento e democracia

disse o candidato a presidente Lula ao receber visita de Frei Betto, na sede da Polícia Federal, na última segundafeira (4) Ricardo Stuckert

População da CIC fica sem atendimento na saúde Ana Carolina Caldas,

Curitiba (PR)

Desde 2016, está fechada a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro CIC, em Curitiba, região que conta atualmente com mais de 180 mil habitantes. A prefeitura, no ano passado, prometeu a reabertura se fosse aprovado projeto autorizando a contratação de organizações sociais, OS, uma forma de terceirizar a gestão da saúde. A aprovação aconteceu, porém a UPA não reabriu. Mais de 17 associações de bairro e clubes de mães estão organizados e realizaram protestos para a reabertura da unidade. Em fevereiro deste ano, por exemplo, chegaram a bloquear a BR-376, no Contorno Sul. Além disso, coletam abaixo-assina-

do pedindo que o processo de terceirização seja revisto. Diego Batista, da Associação de Moradores Sabará I, defende que a reabertura é urgente, mas não resolverá os problemas locais. “É um direito, mas seguiremos lutando contra a terceirização, para a qualidade não ser inferior”, afirma.

UPA do bairro mais populoso de Curitiba fica fechada. Terceirização piora ainda mais a situação O Ministério Público (MP) chegou a entrar com ação na justiça em 2017 pe-

dindo a suspensão da contratação de empresas privadas para “a terceirização dos serviços públicos de saúde”. Porém a prefeitura, até o momento, ganhou na Justiça. Para Irene Rodrigues dos Santos, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba, “quem está sendo sacrificada é a população. São muitos os exemplos em outras cidades e em Curitiba de que a terceirização reduz a qualidade dos serviços”. Aponta que uma das soluções é contratar mais pessoas. “O que precisamos em Curitiba é investimento equilibrado. Temos déficit de mais de mil funcionários. Em 2012, tínhamos 7.150 servidores da saúde, agora são 6.030. E vai aumentar com muitas aposentadorias sem previsão de reposição”, explica.

O Fórum das Centrais sindicais, que envolve CTB, CSB, CUT, Força Sindical, Nova Central, UGT e Intersindical, lançou no dia 6, em São Paulo, documento com 22 propostas para desenvolvimento e democracia. A agenda propõe medidas de combate ao desemprego e ao subemprego, a exemplo da criação de frentes de trabalho, em especial para os jovens. Pede também a retomada das obras de infraestrutura e a implementação de políticas de amparo aos desempregados.

Brasil é denunciado por desrespeito às convenções trabalhistas A inclusão do Brasil na lista dos 24 países que violam as normas internacionais de proteção aos direitos trabalhistas será analisada pela Comissão de Normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O objetivo de representantes de sindicatos presentes na reunião em Genebra, na Suíça, é denunciar o descumprimento no Brasil de convenções que se referem ao direito de negociação coletiva.


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Paraná, 7 a 13 de junho 2018

Assessor afirma que intermediou propina para Beto Richa Ex-diretor da Secretaria de Educação, que está preso, fez proposta de delação premiada, vazada pela Rede Globo ANPR

De acordo com Fanini, deveria ser feita uma arrecadação mensal de propina com prestação de contas exclusivamente a Beto Richa

Fanini diz ter repassado R$ 500 mil para o filho mais velho de Richa complementar o pagamento de um apartamento

ao governo do Estado. Além de dinheiro para campanhas, Fanini diz ter repassado R$ 500 mil para o filho mais velho de x-diretor da secretaria de EduRicha, Marcello, complementar o cação no governo Beto Richa, pagamento de um apartamento Maurício Fanini está preso por seu que comprou em 2013. Além de vaenvolvimento na operação Quadro lores para viagens e outros gastos Negro, que apura o pagamento de do governador e sua família. propina na área de educação no goDiz que quando Richa foi eleiverno do Paraná. Para tentar reduzir to ao governo do Estado, assumiu sua pena, fez proposta de delação cargo na Secrepremiada ao Mitaria de Educanistério Público ção. E, no mesem que envolve Fanini diz ter mo ano, houve diretamente o exconversa entre -governador Beto repassado R$ 500 ele e o governaRicha. mil para o filho dor sobre doaNo documento mais velho de Richa ções para camvazado pela RPC, panhas. Richa retransmissora da complementar o teria dito a Farede Globo, na úl- pagamento de um nini, nessa épotima terça-feira, apartamento ca, com “muita o ex-assessor diz naturalidade”, ser amigo de Rique deveria ser cha desde os temfeita uma arrecadação mensal com pos de faculdade. Que se reaproxiprestação de contas exclusivamenmou quando ele era vice-prefeito te a ele. Disse também ter ouvido de Curitiba, tendo recebido propide Richa que ele poderia separar na de empresários e repassado para uma parte para o próprio sustento. as campanhas de Richa na prefeituO dinheiro de propinas, segunra e, depois, em suas candidaturas Frédi Vasconcelos, Curitiba (PR)

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mediadores’ no banheiro de uma sala da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude) e depois levado para a casa dele, onde permanecia guardado até ordem do governador. Quando exigidos, os valores eram repassados a Luiz Abi, primo de Beto Richa. O esquema teria funcionado até 2015, quando surgiram as denúncias

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da Operação Quadro Negro. Fanini acabou sendo demitido do governo, mas, segundo ele, teria passado a receber mesada de R$ 12 mil de empresários a mando do governador, no que entendeu como uma operação para que ficasse calado. Isso durou até o início de 2017. Resposta No dia em que a matéria foi exibida, o governador Beto Richa soltou nota à imprensa afirmando que a proposta de delação premiada “ainda se encontra sob sigilo e mais uma vez foi vazada criminosamente...” E continua: “qual a razão de dar credibilidade a um criminoso que realizou 870 depósitos em dinheiro vivo, em sua própria conta corrente, pagou cartões de crédito em dinheiro vivo e formou um patrimônio incompatível com sua renda? É uma tentativa desesperada de delação, que pela ausência de provas, não será aceita pela Justiça. São acusações criminosas, com o objetivo de envolver pessoas inocentes, retirando o foco das fraudes por ele cometidas. E para isso, mente descaradamente. Nem eu, nem qualquer membro da minha família, recebeu dinheiro desviado dos cofres públicos”, afirma a nota.


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Paraná, 7 a 13 de junho 2018 Frédi Vasconcelos

Ator de dezenas de filmes em Hollywood e militante de causas humanitárias, Glover visitou Lula e falou com exclusividade para o Brasil de Fato

Frédi Vasconcelos, Curitiba (PR)

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ator Danny Glover veio ao Brasil na última semana de maio deste ano e cumpriu uma extensa agenda como embaixador da ONU para os direitos humanos e questões raciais. Entre elas visitas à favela da Rocinha, no RJ, encontros com os pais da vereadora assassinada Marielle Franco e com o ex-presidente Lula, na Polícia Federal em Curitiba. Após a visita a Lula, a reportagem do Brasil de Fato fez entrevista exclusiva com o ator no cami-

OPINIÃO

nho da sede da PF ao aeroporto em que embarcaria de volta aos Estados Unidos. Nessa conversa, Danny falou que encontrou Lula na prisão “muito calmo e convencido da necessidade de se candidatar a presidente.” E também de lutar contra as mentiras que foram ditas pelas autoridades, pela polícia, pela imprensa e a necessidade de limpar seu nome. “Ele sabe exatamente o que está acontecendo e está bastante resoluto, confiante e calmo”, afirmou o ator. Danny também disse que a possibilidade de Lula concorrer à presi-

5 | Brasil

Exclusivo: no carro com

Danny Glover

dência existe constitucionalmente, mesmo com ele preso, mas a questão é se a oposição vai permitir. “Eles têm em mente negar essa tentativa de ele se candidatar porque têm medo de Lula nas urnas”, analisa. E aponta que existe toda uma estratégia do judiciário de não levar o caso a julgamento no Supremo Tribunal Federal, STF. “Tem toda essa burocracia deliberada para que Lula não possa de candidatar. Se eles fizessem tudo à risca, eles só conseguiriam levar o processo a cabo depois que ele se elegesse”, complementa Danny.

Influência dos EUA e CIA Perguntado sobre a interferência da agência de espionagem dos Estados Unidos, a CIA, no golpe que houve no Brasil, o ator não tem dúvida de que tem feito seu trabalho de preservar “o status quo”. Mas diz que é alarmante como isso ocorre mesmo na sexta maior economia do mundo. “Até num país economicamente forte, uma potência econômica, eles se sentem à vontade para interferir em seus assuntos. Isso não é uma questão nacional, o que controla o Brasil é o capital internacional.”

Vigília Lula Livre resiste há dois meses

Neudicléia de Oliveira e Pedro Carrano, Curitiba (PR) No dia 8 de abril completam-se dois meses de uma resistência única na capital paranaense. No dia 7, Lula se apresentou à Polícia Federal. Na chegada do helicóptero que trazia o ex-presidente, uma multidão se reunia nos portões da PF, de maneira pacífica, mas recebeu bombas lançadas pela corporação, numa ação abusiva. Ali mesmo a resistência se manteve e formou o acampamento (agora vigí-

lia) Lula Livre. Desde então, a vigília é um espaço de visita de caravanas, mantida pela militância aguerrida da Frente Brasil Popular, que organi-

za atividades com a presença de grupos religiosos, artistas e figuras do mundo político. Leonardo Boff, Manuela D´ávila, Dilma Rouseff, Frei Betto, Lucélia Santos e Danny Ricardo Stuckert

Glover foram algumas das personalidades que vieram enviar mensagens ao ex-presidente. Porém a prefeitura de Rafael Greca (PMN) pressiona e tentar desfazer os acordos com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, criando uma situação para o despejo forçado da vigília. A atual decisão do desembargador do Tribunal de Justiça Fernando Paulino da Silva Wolff Filho, por um lado reconhece o direito à manifestação, mas os termos de mediação da sentença, que aponta o uso do espaço a cada 15 dias, não

satisfaz os movimentos, que exigem a permanência diária das atividades no horário comercial. Esse incômodo das elites se deve ao fato de que Lula se tornou um problema político, mesmo no interior da PF. Afinal, ele se revigora com as mensagens diárias da vigília. A Vigília Lula Livre resiste e necessita do seu apoio. A intenção das organizações é manter essa praça pública de solidariedade, resistência e voz firme contra as elites e judiciário, responsáveis pelo crime de manter preso um ex-presidente inocente.


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Paraná, 7 a 13 de junho 2018

Ditadura foi um dos períodos mais corruptos do Brasil

Gilson Camargo

Grandes obras como a Transamazônica deram prejuízo ao país e ajudaram construtoras envolvidas em corrupção Ana Carolina Caldas, Curitiba (PR)

E

m algumas imagens da recente greve dos caminhoneiros apareceram faixas com pedidos de intervenção militar para, supostamente, acabar com a corrupção. O problema é que nos 21 anos sob o comando dos militares, além de prisões, tortura e mortes, houve um dos períodos mais corruptos da história do Brasil. É nesse período, por exemplo, que acontecem casos de corrupção como o da Rodovia Transamazônica, obra que custou 1,5 bilhão de dólares aos cofres públicos e terminou sem asfalto e com quilometragem inferior à prevista. Emerson Urizzi Cervi, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Paraná, cita que somente agora dados reais sobre o que aconteceu à época vêm sendo revelados. “Não tivemos uma ditadura militar, mas uma ditadura civil-militar, parceria de militares com PUBLICIDADE

uma elite econômica ascendente que queria acabar com o governo de João Goulart, que chamavam de comunista. Temos nesse regime grandes casos de corrupção, mas que nunca foram revelados, pois esse era o acordo. Não existia transparência e fiscalização.”

Além de prisões, torturas e mortes, a ditadura foi um dos períodos mais corruptos. “Não existia transparência e fiscalização” O coordenador do Grupo Tortura Nunca Mais do Paraná, Narciso Pires, também lembra que empresas que vêm sendo citadas em casos de corrupção agora encontraram terreno fértil no regime militar: “OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa, tornaram-se grandes PUBLICIDADE

construtoras no regime militar. Esse modo operacional foi construído nessa época em que tivemos o maior número de obras faraônicas, como Itaipu, Ponte Rio-Niterói, Angra dos Reis, com valores altíssimos de superfaturamento”. E continua: “A Odebrecht antes da ditadura era uma empresa que se limitava a pequenas obras. No governo de Costa e Silva passou de 19ª para a 3ª com maior faturamento.” Além dessas evidências, recentemente foram encontrados documentos da Inglaterra que mostram que a ditadura brasileira se recusou a fazer investigação de corrupção numa compra de navios. Em 1978, o governo inglês comunicou ao Brasil a descoberta de superfaturamento na compra e se ofereceu para devolver o dinheiro. O regime militar abriu mão do valor desviado dos cofres públicos e abafou o caso, descoberto pelo historiador João Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de São Carlos.

Grávida e encarcerada, Zélia Passos chegou a ser hospitalizada e ficou vários meses em uma sala no Hospital Militar de Curitiba

“Só quem viveu a perda da liberdade sabe quanto dói” Ana Carolina Caldas, Curitiba (PR)

Nos anos anteriores ao início da ditadura militar no Brasil, a então estudante de Pedagogia Zélia Passos vivia a efervescência cultural dos anos 60: participou de um grupo de teatro político que ia para as ruas de Curitiba, começou a se interessar pela Campanha de Alfabetização iniciada no Governo João Goulart e chegou a levar o Método Paulo Freire para dentro de comunidades carentes. Conheceu na militância o advogado e militante Edésio Passos, pai dos seus filhos. Em 1968, com o AI5, Zélia e sua filha de 5 anos vão, na clandestinidade, para o Rio de Janeiro. Em 1971, Edésio é preso em Curiti-

ba e levado para o Rio de Janeiro, onde foi submetido a interrogatórios e tortura, especialmente em relação a Zélia, que fora presa em Curitiba, grávida do seu segundo filho. Ela foi detida em dezembro de 1971. Grávida e encarcerada chegou a ser hospitalizada e depois removida para uma sala no Hospital Militar de Curitiba, onde ficou por vários meses. Sobre o que viveu, disse em depoimento ao Grupo Tortura Nunca Mais, “que o ideal mais nobre de um ser humano pode viver é o da liberdade. Você não se sentir dona da sua vida e que outros vão decidindo seu destino, é muito ruim. Isso doía fisicamente, relata. “Só quem viveu a perda da liberdade sabe o quanto doloroso é”, finaliza.


Paraná, 30 de maio 5 de junho de 2018 Paraná, 7 aa13

7 | Especial

Jornada da Agroecologia traz para Curitiba feira, oficinas e debates Giorgia Prates

MAIS PRA VER

Ana Carolina Caldas, Curitiba (PR)

Parceria com as universidades

O

Centro de Curitiba vai receber, entre 6 e 9 de junho, a 17ª edição da Jornada de Agroecologia. Entre outras atividades, ao longo dos quatro dias a população da capital e da Região Metropolitana poderá consumir alimentos agroecológicos que estarão à venda em uma feira na Praça Santos Andrade. A estimativa dos organizadores é reunir cerca de 60 expositores. Junto à feira haverá espaço para a “Culinária da Terra”, com barracas de pratos típicos da região sul do Brasil.

Seminários e debates acontecerão no campus da UFPR Reitoria, Prédio Histórico e UTFPR. Saúde, Educação do campo e da cidade, participação social, soberania alimentar são alguns dos temas que farão parte.

Túnel do Tempo Durante todos os dias, o público poderá entrar no Túnel do Tempo, que será instalado no pátio da Reitoria por estudantes e professores das escolas estaduais do campo do Paraná. Ao percorrer o túnel, o visitante conhecerá a história do campo, da luta pela Reforma Agrária, da agricultura familiar e da produção agroecológica, culminando em reflexões sobre a reconstrução de um projeto popular para o país.

AGENDA CULTURAL

Baquetá Nação Guarani Apresentação do es-

JulioDivulgação Garrido

Divulgação

Cantora que vai do MPB ao rock e ao pop, conhecida pela técnica, bom gosto musical e militância política. Quando: 7 de junho, às 20h30

Orquestra Latino Americana da Unespar Divulgação

Alohabana

Divulgação

Cantadeiras Mulheres do MST com repertório de músicas latino-americana e popular brasileira Quando: 7 de junho, às 13h

petáculode rap BaquetiGrupo comnhá, musical totalposto por indígenas mente interativo da etnia guarani. Quando: 7 de de junho, junho, às 10h 16h

Ana Cañas

Divulgação

Shows gratuitos na Praça Santos Andrade

Grupo de música “guajira” latino-americana (son montuno, guaracha, rumbas, son cubano, tumbao, boleros e chachachás) formado em Curitiba/PR Quando: 8 de junho, às 19h

Divulgação

Alunos, professores e músicos da comunidade interpretam canções da América do Sul, América Central e Caribe. Quando: 8 de junho, às 13h

Otto O cantor pernambucano transita entre o mangue beat e o rock, sendo um dos mais originais artistas brasileiros. Quando: 9 de junho, às 17h

Acadêmicos do Tuiuti Escola vice-campeã do Carnaval do Rio de Janeiro traz sua bateria para esquentar a noite de sábado na Santos Andrade. Quando: 9 de junho, às 18h


8 | Esportes

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Paraná, 7 a 13 de junho 2018

Julio Carignano

Petisca quem arrisca Por Cesar Caldas Com mais de 25% dos jogos em casa já cumpridos na competição (5 das 19 partidas no Alto da Glória), o Coritiba tem 100% de aproveitamento, o que tem sido suficiente, porém não muito seguro, para posicionar o time no G4 dos que subirão à Série A de 2019. Para abrir uma margem de estabilidade, porém, será necessário vencer fora de seus domínios, o que ainda não aconteceu – foram dois empates e duas derrotas. Nos próximos 8 e 11 de junho, em Florianópolis e Caxias do Sul, respectivamente, terá a oportunidade de iniciar uma jornada rumo a essa afirmação que o grupo precisa. Avaí e Juventude não serão adversários fáceis, mas em um campeonato como esse, é melhor uma vitória e uma derrota que dois empates. É preciso arriscar. Jogar como se joga em Curitiba, pressionando o adversário. É a postura que se espera do técnico Eduardo Batista e seus comandados.

Em tempo Por Marcio Mittelbach A dura do presidente após o jogo do Vasco parece ter surtido efeito. O anúncio de uma lista de dispensas fez os jogadores voarem em campo diante do Fluminense. Sorte dos 4.352 torcedores que não se intimidaram com a chuva e o frio de 8 graus. Mesmo com o time cheio de desfalques, o Paraná Clube fez um jogo equilibrado contra o bom time comandado pelo técnico Abel Braga. Além da vitória, a torcida paranista ainda pôde presenciar o reencontro de Guilherme Biteco com as redes depois de 11 meses machucado e, de quebra, viu o atacante Thiago Santos “desenterrar a metralhadora” e fazer o gol que abriu caminho para o triunfo. Seguimos com a corda no pescoço, é verdade, mas as esperanças foram renovadas. Mesmo depois de tantos vacilos, estamos a apenas três pontos de sair da zona de rebaixamento.

Convocados de Tite têm raízes na periferia Daniel Giovanaz e Poliana Dallabrida, Direto de Moscou, Rússia

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és descalços, campinho de terra batida. A periferia ainda é o maior celeiro de talentos do futebol brasileiro. É o que demonstra um levantamento feito pela reportagem do Brasil de Fato, baseado em imagens de arquivo, sínteses de entrevistas e relatos dos jogadores e familiares, concedidos ao longo da carreira. A maioria dos jogadores convocados pelo técnico Tite para a Copa do

Mundo 2018 vêm da região metropolitana de grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, de municípios interioranos distantes da capital, sem infraestrutura adequada, ou de bairros com altos índices de criminalidade e baixos indicadores sociais. São, de modo geral, filhos de trabalhadores braçais, mal remunerados, com anos de escolaridade inferiores à média brasileira. Só não seguiram o mesmo caminho dos pais devido ao esporte. Mesmo no mundo

Lucas Figueiredo | CBF

do futebol, eles são exceção. Cerca de 82% dos jogadores profissionais brasileiros ganham menos de R$ 1.000 por mês. Dos 23 convocados para a Copa, 19 jogam em grandes clubes da Europa. Todos recebem mais de cem salários mínimos, entre remuneração fixa, direitos de imagem e patrocínios.

ONDE NASCERAM OS CONVOCADOS Alisson Novo Hamburgo-RS Cássio Veranópolis-RS Ederson Osasco-SP Marquinhos São Paulo-SP Miranda Paranavaí-PR Pedro Geromel São Paulo-SP Thiago Silva Rio de Janeiro-RJ Danilo Bicas-MG Fagner São Paulo-SP Marcelo Rio de Janeiro-RJ Filipe Luís Jaraguá do Sul-SC Paulinho São Paulo-SP Fernandinho Londrina-PR Renato Augusto Rio de Janeiro-RJ Fred Belo Horizonte-MG Casemiro São José dos Campos-SP Willian Ribeirão Pires-SP Philippe CoutinhoRiodeJaneiro-RJ Taison Pelotas-RS Neymar Mogi das Cruzes-SP Roberto Firmino Maceió-AL Gabriel Jesus São Paulo

Deixa o guri trabalhar Por Roger Pereira Dois nomes conhecidos da torcida estão à disposição e só não serão aproveitados se o Atlético não quiser. O atacante Marcelo Cirino, destaque do terceiro lugar do Brasileiro e do vice da Copa do Brasil, e o meia Marcos Guilherme, uma das grandes revelações do clube. Encerraram seus contratos de empréstimo e retornaram ao Furacão. Suas qualidades técnicas os colocariam entre os titulares, mas a forma como a diretoria atleticana trata seus jogadores pode impedir que tenhamos esses reforços. O caso mais emblemático é o de Marcos Guilherme. O Atlético não o quer e ele não quer mais jogar no clube. Vinha bem no São Paulo, mas teve de ser devolvido. Tem proposta de equipes da Série A, mas o Atlético insiste em fazer (muito) dinheiro com ele. Enquanto isso fica encostado e tem sua carreira prejudicada. Deve parar em um time do mundo árabe, esquecido para o futebol mundial.

Firmino esquenta disputa com Jesus no ataque da Seleção Daniel Giovanaz,

direto de Moscou, Rússia

Os atacantes Roberto Firmino, do Liverpool, e Gabriel Jesus, do Manchester City, protagonizam uma das disputas por posição mais intensas da Seleção de Tite. Na última temporada, quem mais brilhou foi Firmino. O alagoano foi um dos destaques da equipe inglesa e chegou à final da Liga dos Campeões. Jesus ficou afastado de vários jogos por lesão, marcou menos gols, mas foi campeão inglês e

tem total confiança do técnico brasileiro. Nas entrevistas, Tite não deixa dúvidas: o titular é Gabriel Jesus, por toda a contribuição dada à Seleção durante as eliminatórias. O que não significa que não haja sombra no banco de reservas.

Por enquanto, Tite não deixa dúvidas: o titular da seleção brasileira é Gabriel Jesus


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