Brasil de Fato PR - Edição 89

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Dados pessoais protegidos

Atuação solitária

Mostra de cinema negro

Projeto é aprovado no Congresso Nacional e segue para sanção de Michel Temer

Vereadora Josete fala da dificuldade de defender servidores na Câmara

Evento propõe uma nova construção de olhares e narrativas

PARANÁ

19 a 25 de julho de 2018

distribuição gratuita

Ano 3 | Edição 89

Ricardo Stuckert

MAIS DE 100 DIAS DE RESISTÊNCIA

Vigília Lula Livre se mantém em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba, com mais de 20 mil visitantes e militantes que todos os dias amenizam a prisão do ex-presidente com sua solidariedade. Artistas, intelectuais, religiosos e políticos também passaram por lá Brasil | p. 5

Privatização pode encarecer alimentos Feijão, batata e outros alimentos dependem de fertilizantes que são feitos por fábrica no Paraná, que governo e Petrobras querem vender para estrangeiros Brasil | p. 4

Abridor de Latas


2 | Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 19 a 25 de julho de 2018

Por um projeto popular para o Paraná

CONTRA O RACISMO

EDITORIAL

N

as próximas edições, o Brasil de lheres, índígenas, pequenos agricultoFato Paraná publicará entrevistas res, entre outros. com pré-candidatos às eleições deste E queremos também mostrar aos ciano para o executivo e legislativo estadadãos que há saída na política. Nem todual. A escolha dos entrevistados resdos os políticos obedecem a interesses ponde à própria razão de ser do BDF, pessoais, há espaço para o pensamento que é acompanhar pascoletivo. so a passo a luta dos traFocamos nos parbalhadores e movimen- Nem todos os tidos de esquerda, PT, tos populares no Brasil. políticos obedecem a PCdoB e Psol sobretuPor isso, estamos do, cientes de que, ainda entrevistando quem é interesses pessoais, hoje, se dizer de esquercomprometido com um há espaço para o da significa defender o projeto democrático e patrimônio nacional, os pensamento coletivo popular e nomes que foinvestimentos do Estado ram contrários ao golna economia e em polítipe de Estado de Temer, cas sociais e priorizar os que retirou direitos sociais, trabalhistas trabalhadores. e constitucionais. Queremos ouvir canEm tempos de debates vazios de condidatos que visibilizem as pautas de trateúdos, queremos retomar o espírito do balhadores (formais e precarizados), debate de ideias e projetos que benefinegros e negras, pessoas LGBT+, muciem a maioria da população do Paraná.

Nelson Mandela, guerrilheiro e presidente da África do Sul (1994-1999), faria 100 anos na última quarta-feira, 18. Sua maior luta foi contra a segregação racial

Sobre a construção de novas narrativas: a representação da mulher negra OPINIÃO

Bea Gerolin,

pesquisadora, educadora e realizadora em cinema

N

este mês, em 25 de julho, comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, e é necessário perceber e celebrar os avanços que nos acompanham, resultado de muita luta e enfrentamento. Constrói-se, nesse momento, pelas quebradas, universidades e campos, outras e novas narrativas sobre o que é ser uma mulher negra. Desde pequenas, aprendemos que o negro é feio, que nossa pele é escura demais, nosso nariz largo demais, nosso cabelo crespo demais. A representação da mulher negra nas novelas e no cinema contribui para o aprisionamento desse corpo. Somos condicionadas pelo olhar do branco, que nos olha

de fora, como algo exótico, e nos vemos representadas por estereótipos: as empregadas domésticas (e não há problema nenhum com a profissão de doméstica, o problema é serem apenas mulheres negras nesses papéis); prostitutas ou amantes, com seus corpos hiper-

Eu quero ver filmes e novelas onde mulheres negras não sejam retratadas de modo subalterno, nem sejam apenas um corpo pejorativamente exotizado -sexualizados; mães solteiras que abrem mão da própria vida para cuidar da família; mulheres escravizadas.

É preciso que uma mulher negra conte sua história, de seu ponto de vista. Estamos cansadas de ser retratadas como uma imagem que confirma o racismo e o patriarcado. Precisamos entender os estereótipos como tática da estrutura racista, para então descartar esse tipo de representação. Não somos isso. Eu quero ver filmes e novelas onde mulheres negras não sejam retratadas de modo subalterno, nem sejam apenas um corpo pejorativamente exotizado. O que nossas crianças pensam e sentem ao ver essas imagens? Como nos tocam e tiram a potência do que podemos ser? Queremos nos ver vivas, felizes, nos atos do cotidiano, dando e recebendo afeto, e essas novas possibilidades de imagens e existências estão sendo construídas por mulheres negras nesse momento.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Paraná. Esta é a edição nº 89 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bea Gerolin, Camila Vida e Leila de Paula ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza, Lia R. Bianchini e Priscila Murr FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Gibran Mendes e Joka Madruga ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Naiara Bittencourt, Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)


Brasil de Fato PR

Comunicação em ocupação de Londrina

Paraná, 19 a 25 de julho de 2018

RADAR

FRASE DA SEMANA

DA LUTA

“Só lembrando: mulher pode cantar, e não é só cantar... Pode opinar sobre política, futebol e pode fazer o que ela quiser”,

Bancários vítimas de assédio moral Na base da federação dos bancários no Paraná, Fetec, 20,5% dos 4.782 bancários que responderam a uma pesquisa declararam que já foram vítimas de assédio moral. Esse índice é superado nos bancos privados, com 32,45% dos bancários do Santander, 28,28% no Itaú e 21,39% no Bradesco declarando que já foram vítimas desse tipo de assédio.

Divulgação Ocupação

disse a cantora Marília Mendonça, em postagem nas redes sociais, nesta terça (17). Um dos principais nomes do universo sertanejo da atualidade, a cantora traz, em suas composições e posicionamento públicos, o debate sobre o feminismo e o papel da mulher.

Divulg ação

O barracão da Ocupação Flores do Campo, em Londrina, será transformado em sala de aula, nesta quinta-feira (19). Trata-se da apresentação de um projeto de conclusão do curso de pós-graduação em “Comunicação Popular e Comunitária” da Universidade Estadual de Londrina (UEL) sobre a prática de oficinas de comunicação realizadas na Ocupação Flores do Campo e aborda temas como comunicação comunitária, ativismo e conflitos urbanos oriundos de processos urbanizatórios. Segundo o realizador do projeto, o jornalista e professor Gabriel Pansardi Ruiz, o estudo é resultado de nove oficinas práticas de comunicação desenvolvidas entre julho e dezembro de 2017 na própria ocupação, que contaram com a participação de cerca de 40 moradores. A ideia foi auxiliar os habitantes a produzir e divulgar informações a partir do seu próprio ponto de vista: “A ideia surgiu porque costumeiramente veículos da imprensa londrinense publicavam informações incorretas e atacavam covardemente a dignidade dos moradores”, explica. Como resultado, após as primeiras oficinas foi criado um canal de comunicação da própria ocupação (http://facebook.com/OcupaFloresdoCampo), que serve para informar apoiadores, jornalistas e a população em geral.

Brasil terá lei para proteger dados pessoais Cristiane Sampaio, Brasília (DF)

O Brasil deverá contar em breve com uma lei geral de proteção de dados pessoais. O projeto de lei que veio da Câmara dos Deputados foi aprovado também pelo Senado Federal e estabelece normas para a coleta e o uso de dados dos cidadãos por empresas e órgãos do setor público, além de definir penalidades para quem fizer mau uso dessas informações. A norma abrange dados como conteúdos compartilhados em redes sociais e aqueles destinados a formulários de cadastro em farmácias, supermercados e outros serviços. São considerados dados pessoais aqueles capazes de identificar o titular das informações. Pelo projeto, as empresas só poderão coletar dados es-

3 | Geral

senciais aos serviços oferecidos. A ideia é aumentar a segurança dos titulares, restringindo, inclusive, o comércio das informações entre diferentes organizações. E prevê para os infratores punições como aplicação de multas e até suspensão das atividades. O projeto surgiu após anos

As empresas só poderão coletar dados essenciais aos serviços oferecidos. A ideia é aumentar a segurança dos titulares, restringindo, inclusive, o comércio das informações entre diferentes organizações

de intensa articulação envolvendo setores sociais, empresariais, especialistas e atores políticos. No Legislativo, a medida contou com o apoio parlamentar de diferentes partidos. Entretanto, a coordenadora de direitos digitais da ONG Artigo 19, Laura Tresca, afirma que, apesar da aprovação no Congresso, a sociedade civil segue em alerta por conta da possibilidade de vetos no texto. “Vai ser um prejuízo enorme mexer em qualquer dispositivo que já foi amplamente debatido e consensuado, tanto na Câmara quanto no Senado. A gente segue junto na campanha pra que o Temer não faça nenhum veto na lei”, reforça. O presidente tem 15 dias para assinar a lei e, após a sanção, o prazo para a implementação das novas normas no país é de 18 meses.

Mobilização contra fechamento de CRAS Os servidores da Fundação de Ação Social (FAS) e a comunidade têm se mobilizado contra o fechamento de sete equipamentos dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS). A medida foi impedida na última reunião do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), mas novo encontro ocorre no próximo dia 31 de julho. E o fechamento dos equipamentos deve voltar à pauta.

Comissão do Senado visita Lula A carceragem da PF em Curitiba recebeu, no dia 17 (terça), visita oficial da Comissão de Constituição e Justiça do Senado para avaliar as condições de saúde e segurança do ex-presidente Lula. Estiveram lá os senadores Renan Calheiros, Roberto Requião e Edison Lobão (MDB), Armando Monteiro (PTB) e Tião Viana (PT). Para Tião Viana, “Lula não quer nenhum tipo de concessão, apenas espera um julgamento justo, em respeito à sua história e em respeito ao povo que confia nele”.


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Brasil de Fato PR

Paraná, 19 a 25 de julho de 2018

“É resistência o que fazemos”, diz Professora Josete Vereadora afirma que, na defesa do serviço público, muitas vezes fica sozinha na Câmara dentemente de ele ser da base de apoio ou oposição. Na leitura deles, quem apoia a gestão não fiscaliza. Ser mulher e de oposição, sofre-se duplamente.

Ana Carolina Caldas

A

vereadora Professora Josete (PT) foi eleita pela primeira vez em 2004, reelegendo-se em 2008 e 2012. Em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato, relata como tem sido sua trajetória como mulher e, muitas vezes, atuando sozinha na defesa do serviço público na Câmara de Vereadores.

O brasileiro tem mostrado descrença em relação aos partidos políticos. Qual sua atuação para diminuir esse sentimento? Tenho buscado debater que um partido político precisa ter um projeto para a sociedade. Nesse sentido, vejo que há muita fragilidade. Tento sempre levar as pessoas a refletirem quais os partidos

Brasil de Fato | Como é fazer política sendo mulher e na oposição a gestões da Prefeitura de Curitiba? Professora Josete | É um desafio diário, pois trata-se de um espaço extremamente machista. Além disso, infelizmente ainda há, por parte da maioria dos vereadores, um entendimento equivocado do seu papel. A fiscalização é um dever de todo vereador, indepen-

Giorgia Prates

quem têm um projeto claro e, a partir daí, falo do PT que, nos governos Dilma e Lula, mostrou que tem projeto e todas as conquistas foram fruto de uma construção coletiva. Mas temos um outro lado para enfrentar, que é a mídia comercial, que faz a desconstrução e desqualificação diária da política. E como fazer a defesa do serviço público, tão atacado na atual conjuntura? A partir do momento em que ouvimos a base, podemos estabelecer os mecanismos de discussão na Câmara, tendo sempre como referência quem vive diariamente esses ataques, em especial a perda de direitos. Hoje, temos uma bancada da base do prefeito que é totalmente insensível às demandas da categoria. Rafael Greca tem conseguido aprovar todos os projetos que retiram direitos dos trabalhadores. Portanto, é resistência o que fazemos, dando voz aos servidores públicos.

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Privatização de fábrica de fertilizantes pode aumentar preço de alimentos Preço do feijão e da batata podem ser afetados com venda das empresas proposta por Temer Ana Carolina Caldas O governo Temer mandou a Petrobras vender a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) para a Acron, uma empresa russa, sem licitação. A medida só foi impedida pelo ministro Ricardo Lewandovski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu pela necessidade de debates em audiências públicas e votação no Congresso Nacional. Mas para garantir que a fábrica não seja vendida, várias entidades e sindicatos, como a Federação Única dos Petroleiros (FUP)

e o Sindicato dos Petroquímicos do Paraná (Sindiquimica), iniciaram campanha de conscientização para mostrar que a privatização põe a soberania alimentar do Brasil em risco. Preços Absurdos Para Sérgio Monteiro, coordenador do Sindiquimica, “os países compradores farão o preço que bem entenderem e, como a agricultura é o ponto forte da economia brasileira, é preciso investir para que ela possa concorrer externamente. Se você tiver preços absurdos de fertilizantes, os agricultores não terão condições de assumir

o custo.” Em março deste ano, a Petrobrás anunciou a “hibernação” das fábricas (Fafens) em Sergipe e na Bahia. O diretor de Comunicação da FUP, Gerson Castellano, afirma que, se ocorre, o fechamento e a venda das fábricas prejudicará a economia local. “Os fertilizantes são usados em alimentos de que dependemos muito, como feijão, batata, milho e trigo, que podem ficar mais caros para a população. Vamos ficar reféns de multinacionais que não vão priorizar o nosso mercado e também das oscilações dos países que serão importadores.”


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Vigília Lula Livre completou 100 dias Reportagem faz um panorama de um espaço marcado por solidariedade e diversidade Eduardo Matysiak

Camila Vida

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o dia 15, domingo, a Vigília Lula Livre completou 100 dias de resistência, luta, debate, formação e companhia ao ex-presidente Lula, mantido como preso político na superintendência regional da Polícia Federal. A vigília já se concentrou a 100 metros do prédio da PF e hoje está num terreno do outro lado da rua, a menos

DESDE O COMEÇO

Ricardo Stuckert

VISITAS DE ARTISTAS E RELIGIOSOS

Ilderaldo Ferreira Gomes é jornalista, cinegrafista e baiano de Juazeiro. Chegou ao Paraná em 1992, ao passar num concurso da TV Educativa, emissora pública do Estado, onde trabalhou por 20 anos. Atualmente, está afastado “por perseguições políticas do governo Beto Richa.” E conta: “estou aqui desde o primeiro dia, por conta própria. Tive que vender meus equipamentos. Estou morando com o pessoal de Colatina (ES) porque, para não perder o pouco que tinha, alugamos uma casa.” Diz que só sai de lá com o ex-presidente, que mudou a vida de sua família. “Minha filha se forma este ano em psicologia e é bolsista graças à política de Lula”.

MAIS CARAVANAS A cada dia, mais caravanas se somam à luta, enquanto outras deixam Curitiba. Mas outros militantes permanecem. Rosani Silva, trabalhadora do ramo sapateiro e dirigente do PT, conta que a construção de toda a Vigília, desde a programação até a alimentação dos militantes, é uma construção coletiva. “Queremos que a democracia volte ao nosso país e ela só irá voltar de fato com o debate democrático do processo eleitoral. Por isso, não aceitamos essa prisão arbitrária do presidente Lula. Nesse espaço aqui a gente consegue dialogar com o mundo pelas redes sociais, e o mundo sabe que existe uma resistência em Curitiba”.

Giorgia Prates

de cinco metros. Nesse período, foram realizadas rodas de conversas sobre feminismo, agroecologia, economia solidária, impactos da reforma trabalhista, entre outros temas. Além disso, todos os dias, militantes dão “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” a Lula e declaram que só dissolverão a vigília quando ele sair dali. Até lá, ele recebe visitas pelo menos duas vezes por semana.

Gibran Mendes

As segundas-feiras são dias de visitas religiosas. Já estiveram lá monges, sacerdotes de igrejas cristãs de diferentes orientações (pentecostais, católica protestante, católica apostólica romana etc) e um pai de santo, que foi levar uma imagem de Xangô, orixá que representa a Justiça para as religiões de matriz africana. Às quintas, são realizadas as visitas de lideranças políticas, dentre as quais Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Também lideranças políticas nacionais estiveram lá e falaram à Vigília, caso de Eduardo Suplicy, Dilma Rousseff, Fernando Haddad, e os presidenciáveis Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila. Mas nem só de celebridades e políticos se forma a vigília. Segundo a coordenação, cerca de 20 mil

Joka Madruga

visitantes estiveram na Praça Olga Benário, ponto de concentração para as saudações ao ex-presidente Lula. Em média, passam pelo local 200 pessoas por dia, entre militantes permanentes e passageiros. Maria Maciel trabalha na cozinha do ponto de apoio chamado Marielle Franco. Militante do movimento de moradias populares, ela vive com a família na ocupação Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). “Faz quatro anos que quebramos o cadeado e montamos nosso barraco”, explica. Desde a prisão de Lula, veio para ajudar a sustentar a luta. “Aqui a gente passa mais ou menos 200 litros de café e cozinha 40 quilos de carne todos os dias para a militância”, diz Maria, que afirma estar ali pelo projeto que Lula representa para o povo brasileiro.


6 | Paraná

Paraná, 19 a 25 de julho de 2018

A dura e feliz vida de acampado Acampados e assentados do MST contam um pouco de seu cotidiano, os sonhos, as alegrias e as dificuldades Frédi Vasconcelos

Leila de Paula

Empreendedoras da periferia ocupam espaço público no centro de Curitiba Mulheres incentivam o consumo de moda com responsabilidade ambiental Leila de Paula

A

Coletiva Brechó reuniu no último sábado (14) seis empreendedoras da periferia de Curitiba e Região Metropolitana que atuam com moda para incentivar o consumo de roupas e acessórios sustentáveis e com preço justo. De diferentes bairros, as jovens mulheres comandam seus próprios brechós - o Descabida, Bazar AmassaPUBLICIDADE

do, Kombrexó, Lumos Brechó, Coletivo Flor Carnívora e Brechó Kaw Black -, onlines ou físicos, e se deslocaram até o centro para fortalecer suas causas sociais e disputar a economia central da cidade. Auto-organizado, o evento reuniu um coletivo mulheres “negras, da periferia ou gordas que trabalhassem também com roupas para gordas”, explica Thayná Batista, uma das articuladoras, que afirma que PUBLICIDADE

atuar em causas sustentáveis não se limita a questões ambientais diretas, como reutilizar um produto. Ela acredita que promover o trabalho de meninas que estão à margem da sociedade também é uma forma de agir em prol da causa. “Aqui, nesse espaço, elas podem vender seus produtos e disputar com um modelo mercadológico fechado, que são os grandes centros”, esclarece.

Nair e sua sobrinha: felicidade em plantar

Frédi Vasconcelos,

Quedas do Iguaçu (PR)

“A esperança de ter um pedacinho de chão”, como diz Rosa Maria, de 58 anos, que vive no Acampamento Dom Tomas Balduíno, do MST, em Quedas do Iguaçu, é o que une as vidas de pessoas que deixaram a cidade e hoje lutam por um lugar para viver e plantar. Como completa Rosa, “a gente vive aquela esperança todo dia... As coisas vão indo no seu momento exato. Não perdemos a esperança.” Sua alegria é viver na terra, porque nunca se acostumou na cidade. “Eu me criei na roça e tinha vontade de ter tudo aquilo de novo. Mudei pra cidade, trabalhei 12 anos, mas não me adapto”. E complementa, “a gente gosta de cuidar do ‘bicharedo’, cuidar da natureza, da água, ter suas coisas, comer o que você planta sem veneno.” Antônio dos Santos, agricultor de 49 anos, é outro que não se acos-

tumou na cidade. “Pra quem nasceu no sítio é meio difícil. Fui porque a mulher queria. Daí toquei de vender o que tinha. Não deu certo com ela e quis voltar”, conta. Como tinha vendido a terra, sua opção, depois de trabalhar por anos em pequenos empregos na cidade, foi participar do acampamento. Hoje, seu sonho é voltar a ter um sítio. “A esperança nossa é de sair a terra, para nós plantar e produzir.” O sonho de Rosa e Antônio já vem sendo vivido na prática por Nair Rótule, de 49 anos, que é do Assentamento Celso Furtado, também em Quedas do Iguaçu. Ela diz que no começo, quando também estava num acampamento provisório, a vida era bem difícil. “A gente sofreu muito, como o pessoal aqui.”. Hoje, diz que a vida ainda é dura, mas que é muito feliz no seu sítio. “Planto arroz, feijão, milho, mandioca, batata, toda a verdura que a gente consegue plantar, é uma alegria estar lá”, diz.


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Estudantes realizam mostra de Cinema Negro em Curitiba Divulgação

Filme Espelho do Outro, da cineasta Kariny Martins

Para ficar por dentro

Nos dias 27, 28 e 29 de julho, acontece, na Cinemateca de Curitiba, a Mostra de Cinema Negro Brasileiro. Organizado por estudantes de cinema e audiovisual negros da Faculdade de Artes do Paraná, a mostra reúne filmes dirigidos e protagonizados por mulheres e homens negros, propondo uma nova construção de olhares e narrativas. Filmes contemporâneos como Peripatético, de Jéssica Queiróz, Nada, de Gabriel Martins, e Travessia, de Safira

Moreira, estão na programação. “A ideia surgiu quando percebemos que, nos quatro anos de graduação, nenhum dos nossos professores mencionou cineastas negros brasileiros ou cineastas do continente africano. Nós, enquanto realizadores e pesquisadores, já conhecíamos alguns realizadores negros e achamos importante provocar: ‘ei, diretores negros existem! Vamos olhar pra eles e para seus filmes?’ ”, pontua Bea Gerolin, estudante, pesquisadora e realizadora em cinema e uma das organizadoras. “A mostra foi pensada por

Molho Carbonara para comer com massa

Divulgação

Exposição de Tomie Ohtake gratuita

27, 28 e 29 de julho, na Cinemateca de Curitiba R. Carlos Cavalcanti, 1174 Para contribuir com a vaquinha acesse: https:// www.vakinha.com.br/ vaquinha/alma-no-olhomostra-de-cinema-negrobrasileiro

Laís Melo

117 | Cultura

e para pessoas negras, pela escassez que temos de filmes que nos contemplem nas outras mostras e festivais que acontecem na cidade. Porém, a presença de pessoas não negras é bem-vinda e, mais do que isso, necessária, porque discutir as questões raciais e pensar o nosso lugar e o do outro no mundo são responsabilidades de todos”, provoca Bea. Com caráter independente, a equipe realizadora conta com o apoio de professores e da comunidade em geral e organizaram uma vaquinha online para arrecadar fundos para arcar com as despesas.

A exposição Tomie Ohtake em Curitiba – Vultos, fissuras e clareiras – foi aberta na última quarta-feira, tem entrada franca e fica em cartaz até o dia 30 de setembro. A mostra celebra os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil e aborda as três principais frentes de trabalho da artista considerada a “dama das artes plásticas brasileira”. De acordo com a curadora Carolina de Angelis, o público vai poder conferir uma pequena amostra da produção da artista nipo-brasileira. “É uma breve amostra, porque, como sabemos, dos 101 anos de vida da Tomie, sessenta deles ela estava produzin-

DICAS MASTIGADAS | Por Clara Lume

Ingredientes 2 ovos; 2 colheres de sopa de creme de leite; 2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado; 200 g de bacon (em cubos); Pimenta do reino e sal a gosto Modo de preparo Frite o bacon cortado em cubinhos em sua própria gordura, até ficarem bem crocantes. Enquanto isso, em uma vasilha, bata os ovos inteiros, depois acrescente o creme de leite, o queijo ralado a pimenta e o sal. Quando a massa de sua escolha estiver ponta escorra a água do cozimento e com a panela ainda quente, jogue sobre o macarrão o bacon e misture bem, em seguida coloque a mistura de ovos e creme de leite e misture ate perceber que o calor da massa cozinhou levemente os ovos. Sirva quentinho.

do. Foi uma artista que começou com a pintura e foi alargando o seu trabalho para a gravura, para as esculturas, até chegar às esculturas em grande escala, como as obras públicas”, explica.

Para ficar por dentro Onde: Memorial de Curitiba – Salão Paranaguá (1º andar) Rua Claudino dos Santos, 79 Quando: 9h às 12h e 13h às 18h (3ª a 6ª feira) e 9h às 15h (sábado, domingo e feriados) Quanto: Gratuito

Reprodução


8 | Esportes

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E o Brasileirão recomeça depois da Copa

Lanterna não Por Cesar Caldas Insistir é preciso. Conforme alertei um mês atrás neste espaço, não existe na história da Série B acesso à Primeira Divisão por clube que não tenha vencido muitos jogos como visitante. Faltando duas partidas fora de casa no primeiro turno, o Coritiba é 19º colocado, jogando longe de seus domínios. Soma quatro pontos em 24 possíveis (oito jogos), com aproveitamento de 16%. Para piorar, as duas próximas viagens são para enfrentar o Goiás (time de maior frequência na Série A depois do próprio Coxa) e o Fortaleza, líder do certame. Daí porque vencer esses jogos torna-se tão importante quanto derrotar o São Bento (próximo sábado) e a Ponte Preta no Couto Pereira. Se não, iniciará o returno como o lanterna fora de casa – algo inadmissível para o clube de maior receita financeira da competição.

Pra quem não lembra, Flamengo liderava e times do Paraná estavam na zona do rebaixamento na última rodada

Por Marcio Mittelbach O Paraná Clube voltou a campo depois de trinta dias de paralisação. Além de muito treinamento e ansiedade, o período de recesso abrigou uma baita notícia. É que no mês de junho, o Paraná foi o décimo Clube de futebol da América com mais interações no Twitter. A informação é da Deportes & Finanças. Foram mais de 290 mil interações na rede social, superando marcas tradicionais como Boca Juniors, Cruzeiro e a dupla GreNal. Twitter não ganha jogo, é claro, mas a boa nova nos diz muita coisa sobre o nosso Clube. O feito não é só uma conquista dos profissionais de marketing. Claro que, sem um departamento competente, nada aconteceria, mas o maior protagonista dessa façanha é o torcedor. Patrimônio maior do nosso Clube, a torcida paranista segue fazendo a diferença não só nas arquibancadas, mas também na internet!

Desrespeito Por Roger Pereira A Copa deixou o legado da mistura de povos. Todas as nacionalidades e torcidas juntas, celebrando o futebol. E é assim que tem que ser. Mas, na Arena da Baixada, numa articulação do Ministério Público com a diretoria do Atlético, o futebol é bem mais triste. Segue em vigor a aberração da torcida única, uma medida injustificada de combate à violência que só tira a graça do espetáculo, desrespeita os torcedores de outros clubes que moram na cidade e, muito em breve, prejudicará, também, os atleticanos que moram fora de Curitiba, pois não demorará a, por questão de reciprocidade, os jogos do Furacão fora de casa serem vedados aos atleticanos. Ministério Público, Atlético Paranaense e todos os adeptos da torcida única em estádio de futebol estão conseguindo acabar com o espetáculo.

Ricardo Duarte | Internacional

Entre os dez da América

Jogo entre Inter e Atlético Paranaense, em 2017

Frédi Vasconcelos

D

epois de mais de um mês de Copa do Mundo, o Brasileirão da Série A recomeçou na última quartafeira com cinco jogos. Entre eles, o líder Flamengo contra o terceiro colocado, São Paulo, numa disputa direta pela liderança. Outro jogo importante na parte de cima da tabela é entre Grêmio e Atlético (MG), respectivamente, 5º e 2º colocados. Mas o que mais interessa neste momento para os paranaenses é a luta pela saída da zona de rebaixamento. Vitória e Paraná é um jogo decisivo e pode representar um suspiro de esperança para os tricolores. Até o fechamento desta edição, as partidas ainda não tinham acabado. Na quinta, é a vez do Atlético PR, que está na penúltima colocação, encarar o Internacional e ver se as coisas mudam depois da troca de técnico. Na partida decisiva contra o Cruzeiro, pela Copa do

Brasil, na segunda-feira, o time foi desclassificado, mas arrancou um empate fora de casa e contra um time forte, que pode mostrar o caminho para a virada de fase. Agora sob o comando do técnico Tiago Nunes, que ganhou o campeonato paranaense deste ano, saíram do elenco os jogadores Pavez, Ribamar, Caio, Ederson, Gustavo e Cascardo. E chegaram Marcelo Cirino e Bruno Nazário. Estão perto de acertar Rony e Wellington. No Paraná, que terminou a fase anterior na 18ª colocação, também houve ajuste no elenco. Saíram Matheus Pereira, Luan Viana, Alemão, Neris e Diego Gonçalves e chegaram Nadson e Rodolfo. Mas o período de recesso foi usado, principalmente, para treinar e corrigir erros para a sequência do Brasileirão. Para dar ritmo aos atletas, recuperando alguns jogadores, foram feitos amistoso contra o River Plate-URU e jogo-treino com o Atlético-PR.

Confira os jogos de quinta-feira da 13ª rodada Mineirão | 19h30 Cruzeiro

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América-MG

Arena Condá | 19h30 Chapecoense

Bahia

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São Januário | 20h Vasco

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Fluminense

Pacaembu | 20h Santos

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Palmeiras

Arena da Baixada | 21h Atlético-PR

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Inter


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