Brasil de Fato - Edição 131

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Ratinho quer se livrar

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credito foto

Editorial | p. 2

Especial | p. 8

Bela Gil: “A agroecologia é um projeto que se contrapõe ao agronegócio”

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Governador força venda da Copel Telecom

PARANÁ

Ano 4

Edição 131

19 a 24 de julho de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

Leandro Taques

ESPECIAL JORNADA DE AGROECOLOGIA

Cidades | p. 4

Balanço da greve Coordenadora do Fórum de Entidades Sindicais analisa movimento

Opinião | p. 2

Mantenha o BdF Paraná nas ruas Por que a manutenção do jornal impresso é fundamental?

COOPERATIVA TERRA LIVRE Experiência vende alimento saudável e em escala Pág. 8 ÁGUA CONTAMINADA Paraná possui grande índice de contaminação por agrotóxicos Pág. 6 O QUE É A JORNADA DE AGROECOLOGIA? Conheça o evento que divulga uma forma alternativa de produção Págs. 5 e 7


de Fato PR 2Brasil Opinião

Ratinho Júnior avança suas garras também sobre a Copel Telecom EDITORIAL

N

o dia 13 de julho, o governa- Telecom é provedora de banda lardor do Paraná, Ratinho Júnior, ga em todas as 399 cidades do Para(PSD) embarcou, novamente, para ná, com rede óptica de mais de 34 os Estados Unidos. Na agenda, uma mil quilômetros. Outro papel fundasérie de encontros de negócios. Na mental é o atendimento das neces“mala” de Ratinho, a privatização da sidades de telecomunicação da própria Copel, de outras Copel Telecom. O proestatais e do governo jeto ainda não chegou O governador do estado. Segundo a à Assembleia LegislaCelepar, a Copel Teletiva. Por ora, o goverdesconhece o com fornece mais de no prepara o terreno e papel social, 3 mil acessos de banpara isso contratou astecnológico e da larga aos órgãos sessoria do banco Rodo governo estadual. thschild. econômico da Além disso, promoO discurso privatisCopel Telecom ve acesso à internet e ta, que define as estaredes de comunicatais como geradoras ção de dados a munide prejuízo e prestadoras de serviços ruins, está longe cípios. Já são mais de 2 mil escolas de ser justificado. A empresa regis- estaduais conectadas. O governador trou lucro de R$ 32 milhões e é líder desconhece o papel social, tecnolóde satisfação dos clientes no ranking gico e econômico da Copel Telecom da Anatel. Com 400 funcionários e e ameaça gravemente o desenvolvireceita de R$ 584 milhões, a Copel mento do estado.

SEMANA

Brasil de Fato PR

Paraná, 19 a 24 de julho de 2019

Por que o Brasil de Fato é indispensável? OPINIÃO

Laís Melo e Pedro Carrano,

integrantes do Brasil de Fato Paraná

O

Brasil de Fato Paraná, durante o mês de julho, lançou a campanha online “Mantenha o Brasil de Fato Paraná nas ruas”. Diante da crise do jornal impresso e também de arrecadação do sindicalismo, nosso principal apoiador, queremos sensibilizar a sociedade sobre a importância de um veículo impresso, que hoje alcança 20 mil cópias semanais, distribuído em terminais de ônibus, nos bairros mais afastados de Curitiba e cidades-polo, nos locais de trabalho de importantes empresas. Nosso jornal seria dispensável se o Brasil fosse um país onde predominasse a democracia, os direitos populares, os direitos constitucionais e a educação fosse prioridade de investimento. Infelizmente, não é o caso, e por isso achamos que não podemos nos somar à longa lista de jornais que têm fechado as portas, isso porque incentivamos a leitura, a cultura, a reflexão política. Em um país com média de leitura reduzida, não podemos apenas fazer a transição para a leitura em plataformas digitais dispensando o impresso.

Nosso jornal seria dispensável se a sociedade estivesse bem informada sobre os direitos de cada trabalhador e trabalhadora, sobre o que acontece seja numa comunidade como a Flores do Campo, em Londrina, ou mesmo no Bolsão Sabará, no CIC. Infelizmente, essa ainda não é uma realidade e o povo trabalhador, que precisa da divulgação dos seus anseios e lutas. Nosso jornal seria dispensável se a cultura em toda a sua diversidade tivesse espaço de divulgação. Se negras e negros, LGBTQI+, trabalhadoras terceirizadas, indígenas, trabalhadores em geral, tivessem seus rostos aparecendo na TV, suas formas de arte divulgadas na rádio, mas sabemos que não é isso que acontece. Por tudo isso, o Brasil de Fato Paraná conta com sua contribuição. Reduzir um jornal como o nosso neste momento seria um recuo na democracia.

Apoie A campanha na plataforma Benfeitoria vai até segunda-feira, dia 22. www.benfeitoria.com/ mantenhaBDFnasruas

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição131 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Gabriel Ruiz e Giovana Fogaça ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Leandro Taques e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 19 a 24 de julho de 2019

Geral | 3

FRASE DA SEMANA

Inflação de Curitiba está abaixo da média nacional O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) tem registrado queda da inflação desde abril de 2019. Em março, a inflação dos últimos 12 meses estava em 4,58%. Agora, em junho de 2019, o índice é de 3,37%. Percentual também menor que o mesmo período do ano passado, quando o INPC de junho de 2018 registrou 4,39% A queda da inflação é ainda maior em Curitiba. O índice na capital paranaense ficou em 2,62%, sendo menor do que Porto Alegre (2,80%) e São Paulo (3,72%), que subiu a média nacional. Embora a inflação tenha sido baixa para Curitiba no mês de junho, alguns quesitos pesaram no bolso da população. Alimentação fora do domicílio registrou 4,64%. Saúde e cuidados pessoais subiram 3,98%. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Avançados (Dieese), Curitiba apresentava variações acumuladas superiores ao INPC nacional. Em dezembro de 2015, enquanto a média nacional atingiu 11,31%, Curitiba registrou 13,81%. A partir do mês de junho costuma haver uma inversão de tendência. Curitiba começa a apresentar variações inferiores ao INPC nacional. É um período em que a inflação cai em todo país.

“Normalizar absurdos é como as democracias morrem”

600 estudantes de Direito criticam poder Judiciário

Disse o comentarista Kennedy Alencar sobre o cancelamento da participação dos jornalistas Míriam Leitão e Sérgio Abranches na Feira do Livro de Jaraguá do Sul (SC) após ameaças de pessoas favoráveis a Bolsonaro. Divulgação

Obras na Casa do Estudante de Curitiba consomem milhões e ficam inacabadas Ana Carolina Caldas e Gabriel Carriconde Na semana passada, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) intimou a Casa do Estudante Universitário (CEU), em Curitiba (PR), a realizar reformas para obter alvará de incêndio. Porém, a diretoria da CEU, uma fundação que abriga estudantes universitários em Curitiba, alega que as reformas deveriam ter sido feitas pela Prefeitura desde 2007, quando um convênio foi firmado entre as duas entidades. Mas as obras, iniciadas em 2008, nunca foram finalizadas, porque as construtoras contratadas pela Prefeitura faliram no meio do processo e, segundo estudantes, recursos que estavam disponíveis na conta do convênio foram transferidos para outra obra.

Há também inquérito do próprio MP constatando que a gestão municipal não concluiu as obras. Hoje, o prédio da CEU apresenta problemas de infraestrutura e corre o risco de fechar. Para entender o caso Em 2007, a Prefeitura, na gestão Beto Richa (PSDB), fez convênio com a CEU, para reforma do prédio, em que buscaria recursos por meio da venda de títulos de potencial construtivo. Os recursos, de mais de R$ 6 milhões, seriam depositados numa conta específica para reforma e restauração do imóvel. No convênio número 17511/2007, estabelecido entre a Prefeitura e a Fundação Casa do Estudante Universitário, em seu parágrafo 2, conta que “devem as partes manter a conta bancária específica para o depósi-

to dos recursos provenientes das vendas das cotas de potencial construtivo, para custear as obras de reforma e restauração.” Desde lá, duas construtoras licitadas pela prefeitura faliram, o convênio venceu e não foi renovado, em 2014, pela administração Gustavo Fruet, mesmo restando mais de R$ 1 milhão na conta. Segundo a estudante Cláudia Santos, da diretoria da CEU, um valor equivalente ao que havia na conta do convênio foi transferido para obras de reforma do Palácio Belvedere, prédio histórico no centro da cidade. Leia a matéria especial na íntegra em www.brasildefato. com.br/parana

O Encontro Nacional de Estudantes de Direito da Federação Nacional (Fened), entre os dias 14 a 20 de julho, reúne 600 estudantes da área que discutem o chamado “devido processo legal” e os atuais abusos perpetrados pelo poder Judiciário brasileiro e pela Operação Lava Jato nos dias de hoje. Os estudantes, além de participaram de painéis e grupos de trabalho, também organizaram uma roda de debates na vigília Lula Livre, no dia 18 de julho. Com a participação do jurista e professor da UFPR, Manoel Caetano, e também de Michele Cabrera, professora de Direito Penal, foi pautado o risco de um Direito distante da vida da população. “Não houve uma ditadura no mundo que não tenha se estabelecido com a ajuda de juristas”, critica Cabrera. Houve também uma apresentação sobre o sentido hoje da Vigília Lula Livre. “É um espaço rico de visita internacional e nacional. Isso aqui se tornou uma grande universidade a céu aberto. É a universidade popular de número 248 que o Lula fundou. Todo o dia tem atividades aqui nessa perspectiva”, afirma Roberto Baggio, integrante da coordenação da vigília.


de Fato PR 4Brasil Cidades

Brasil de Fato PR

Paraná, 19 a 24 de julho de 2019

Professores e funcionários de escolas suspendem greve no Paraná após 18 dias Outras categorias ainda fazem assembleias para decidir fim da paralisação Pedro Carrano

E

m assembleia, no sábado, 13, em Curitiba, professores e funcionários de escolas da rede de ensino estadual aprovaram a suspensão da greve deflagrada há 18 dias. Ao mesmo tempo, a categoria apontou continuidade das mobilizações. Nova assembleia está agendada para o dia 10 de agosto, com o retorno do recesso da Assembleia Legislativa. A assembleia foi decisiva por se tratar de um segmento importante entre as 30 categorias em greve organizadas no Fórum das Entidades Sindicais (FES). O governo do Paraná tem uma dívida de reposição com o funcionalismo de 17%, decorrente do congelamento de salários desde 2016. Na noite de sexta (12), PUBLICIDADE

o governo estadual ofereceu aos sindicatos uma contra-proposta oficial de 2% de reajuste em janeiro de 2020 e parcelas de 1,5%, em 2021 e 2022 – alcançando 4,93%. A retirada do Projeto de Lei Complementar número 04/2019, que limitava a progressão em carreira do funcionalismo; comissão de saúde do servidor, auxílio-alimentação e vale transporte atualizados aos funcionários, alcançando cerca de 10 mil trabalhadores de escola, estão entre os itens analisados e considerados como avanço da luta pela maioria dos presentes na assembleia. Outras categorias do funcionalismo estão fazendo assembleias esta semana para decidir se também suspendem a greve.

ENTREVISTA

Greve foi histórica por unificar todo o funcionalismo Joka Madruga

Frédi Vasconcelos Para Marlei Fernandes de Carvalho, da APP-Sindicato e uma das coordenadoras do Fórum de Entidades Sindicais, FES, a greve deste ano foi vitoriosa porque uniu 22 sindicatos e 9 associações do funcionalismo com a mesma pauta de reivindicações, o que é inédito. Leia abaixo trechos da entrevista. Brasil de Fato Paraná – Qual a avaliação da greve do funcionalismo do estado neste ano? Marlei Fernandes de Carvalho – Tivemos uma greve muito positiva do ponto de vista de agregar todos os sindicatos de servidores, foram 22 sindicatos e 9 associações, incluindo o apoio da polícia civil e militar, que participaram ativamente. É histórica por ser, pela primeira vez, uma greve unificada de todos os servidores. Em segundo lugar, nessa pauta unificada, um dos pontos principais era a defesa das políticas públicas. Nesta conjuntura nacional e estadual bastante adversa, os servidores fizeram a defesa de um estado que tenha a política pública como centro. Nesse sentido a gente travou uma luta contrária à precarização, à terceirização, à retirada de vários serviços públicos da população. Uma das pautas principais também era acabar com os quatro anos de congelamento de salário, nas negociações como ficou isso? Essa conjuntura vem desde o ano passado, porque desde o governo Beto Richa existia uma trava que impedia qualquer reajuste. No ano passado conseguimos mudar isso na Lei de Diretrizes Orçamentária, o que propiciou neste ano a condição de luta pela data-base. Não tivemos, neste momento, uma vitória como gostaríamos. Serão 2% no próximo mês de janeiro, mais 1,5% em janeiro de 2021, mais 1,5% no ano seguinte. Mas a

gente vai continuar a luta do que ficou para trás, além da data-base dos próximos anos. Foi importante acabar com essa política de congelamento e a conquista da luta unificada. Outra importante vitória foi a retirada do projeto de lei complementar 04, parecido com projeto de Beto Richa que gerou a greve gigantesca da maioria dos servidores. Essa, talvez, seja a principal conquista, porque era um projeto que congelava as carreiras e trazia outros prejuízos para os servidores. E como fica a situação dos professores? Na questão da educação, de professores e funcionários de escolas, tivemos o descongelamento do auxílio-transporte e do auxílio-alimentação e a complementação do salário mínimo regional, temas importantes para quem tem os mais baixos salários. Para os professores, temos a data-base, a retirada do PL 04 . Mas ainda temos uma pendência sobre a situação dos professores temporários. Foi criada uma comissão entre professores e o governo para reavaliar a forma de contratação desses profissionais. Nós defendemos a realização de concurso público, não uma prova qualquer, para valorizar os profissionais que são bons e já estão atuando.


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Paraná, 19 a 24 de julho de 2019

Especial Agroecologia 5

Participe da Jornada de Agroecologia, que acontece em Curitiba Evento será no final de agosto e contará com feira e atividades culturais Leandro Taques

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O Pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vai receber o “Túnel do Tempo”, uma espécie de museu sobre a história da agricultura e da luta pela terra, construído com a participação de estudantes de escolas públicas. A 18ª Jornada de Agroecologia do Paraná acontece de 29 de agosto a 1º. de setembro deste ano no centro de Curitiba. A Praça Santos Andrade será novamente ocupada pela feira de produtos vindos de áreas da reforma agrária e de territórios de povos tradicionais, pelos práticos típicos oferecidos na “Culinária da Terra”, e pelo palco de apresentações culturais e shows.

Leandro Taques

Conferências, seminários, rodas de conversas e oficinas vão garantir a formação em temas relacionados à jornada. A programação completa e mais informações sobre como participar do evento serão divulgadas nas próximas semanas.

Campanha de arrecadação Divulgação

Para viabilizar a edição deste ano, as mais de 30 organizações integrantes da Jornada lançaram campanha de financiamento coletivo. Para contribuições feitas a partir da plataforma online Kickante, há sete opções de valores, que variam de R$ 25 a R$ 1 mil. Entre as recompensas estão alimentos agroecológicos e produtos personalizados com a marca da Jornada.


Brasil de Fato PR 6 Especial Agroecologia

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Agrotóxicos fazem mal para a saúde, mas consumo só aumenta Problemas neurológicos, câncer, desregulação hormonal e até óbitos são registrados Ana Carolina Caldas

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ocê sabia que em 2017 o Paraná ocupou a posição de terceiro maior consumidor de agrotóxicos no Brasil? E ainda, segundo dados do Ministério da Saúde, de 2007 a 2014, foram 34.147 notificações de intoxicação por agrotóxico registradas no Brasil? E que um terço dos alimentos consumidos está contaminado pelos agrotóxicos, segundo análises de amostras coletadas em todos os 26 Estados pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa? E isso representa riscos sérios para a saúde. O Dossiê dos Agrotóxicos, elaborado pela Abrasco, explica que “o uso de um ou mais agrotóxicos em culturas para as quais eles não estão autorizados... apresenta consequências negativas na saúde humana e ambiental, causando problemas neurológicos, reproPUBLICIDADE

dutivos, de desregulação hormonal e até câncer (...)”. Intoxicações Além dos efeitos no longo prazo para a saúde, há dados que revelam que ano a ano aumentam os casos de intoxicação por uso de agrotóxico. De 2007 a 2017, data do último levantamento oficial do Ministério da Saúde, foram notificados cerca de 40 mil casos de intoxicação aguda por causa deles. Quase 1.900 pessoas morre-

ram. Segundo maior produtor de grãos do país, o Paraná é o estado com o maior número de casos relatados. Consumo no Brasil O consumo desses produtos cresceu 93% em todo o mundo, no Brasil o crescimento foi de impressionantes 190% nos últimos dez anos, segundo dados divulgados pela Anvisa. E a explicação está no interesse pelo lucro muito mais do que na saúde.

VENENO 64%dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos (Anvisa, 2013) 34,147 notificações de intoxicação por agrotóxico foram registradas de 2007 a 2014 12 bilhões de dólares foi o faturamento da indústria de agrotóxicos no Brasil em 2014

Em 326 das 399 cidades do Paraná há presença de agrotóxicos na água consumida

Dos 27 pesticidas detectados na água, 11 estão associados a doenças crônicas como câncer

Agrotóxicos contaminam a água em 326 cidades do Paraná No estado, foram encontradas 27 substâncias tóxicas no sistema de água consumido pela população Ana Carolina Caldas, com informações de Gabriel Ruiz e

Giovana Fogaça

O

paranaense consome uma das águas mais contaminadas do país. Em 326 das 399 cidades do Paraná foram identificadas 27 variedades das substâncias tóxicas, incluindo Curitiba. Os dados são de análises feitas de 2014 a 2017 pelo Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da Saúde. O professor Dr. Paulo Meletti, do departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina, UEL, que integra o grupo de pesquisas do Laboratório de Ecofisiologia Animal, diz que o aumento de contaminação se dá porque o Brasil é bastante permissivo em relação aos níveis de agrotóxicos utiliza-

dos. “Temos a resolução Conama 357 que deixa de fora muitos agrotóxicos, é uma lista muito pequena comparada, por exemplo, a países europeus, ” diz. Dos 27 pesticidas testados e detectados na água, 11 estão associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Várias dessas substâncias são proibidas nos Estados Unidos e na União Europeia. A água é contaminada, explica Paulo, porque o destino final do agrotóxico que é lançado no solo são os rios, são levados pelas águas da chuva, ou seja, o destino final é a água que se consome. “O que fazemos em nossa pesquisa é coletar mostras de águas e compreender os efeitos da sua contaminação em organismos vivos. O que já se pode sugerir é que os efeitos à saúde são graves.”


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Paraná, 19 a 24 de julho de 2019

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Especial Agroecologia 7

O que é a agroecologia É a produção de alimentos, em pequenas e médias propriedades, sem a utilização de venenos (agrotóxicos).

Joka Madruga

É a reorganização da distribuição dos alimentos. Primeiro a família camponesa abastece a si mesma. Em seguida, prioriza a população local e regional. A partir daí, a produção que sobra é ofertada para abastecer as populações que estão a distâncias cada vez maiores num sistema de intercâmbio, em que uma região complementa com sua Leandro Taques produção as necessidades de outras regiões.

É uma forma de trabalho associativa no campo, em cooperação e solidariedade com as populações das cidades. Não admite a exploração do trabalho no campo nem a exploração da população da cidade com preços injustos.

É a luta pela reforma agrária para garantir trabalho, renda e a soberania alimentar para que cada pessoa no Brasil possa se nutrir com alimentação saudável.

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É garantir um ambiente saudável – as florestas com suas plantas e animais nativos, a água limpa e potável das fontes d’água e dos rios, a fertilidade natural da terra, a biodiversidade, a diversidade das sementes das plantas cultivadas e das raças de animais, a pureza do ar, a reciclagem da matéria orgânica.

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Éa organização das indústrias que transformam os alimentos com tecnologias limpas.


Brasil Agroecologia de Fato PR 8 Especial

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DESTAQUE

“A agroecologia vai muito além de um modo de plantar, é uma filosofia de vida. É também um projeto que se contrapõe ao agronegócio, que tem como sua base o uso indiscriminado de veneno, a exploração e concentração de terras e a padronização da produção e consumo de alimentos ao custo do bem-estar da população.” Bela Gil é apresentadora do programa Bela Cozinha, no canal GNT, formada em nutrição, chef de cozinha natural, ativista e escritora. Busca destacar a importância da alimentação saudável e consciente em diversos projetos.

Arquivo Pessoal

Cooperativa Terra Livre é modelo de alimentação saudável e autogestão 230 famílias produziram e comercializaram 270 toneladas de alimentos na Lapa e região Leandro Taques

Lu Sudré e Marcos Hermanson

A

Cooperativa fica na Lapa, cidade próxima de Curitiba

Dezenas de famílias vivem no Assentamento Contestado

Cooperativa criada comercializa produção de 230 famílias de 5 municípios

partir da produção de uma alimentação saudável e da autogestão, pequenos agricultores mostram que o campo também é terreno fértil para uma experiência de sucesso. É o caso de dezenas de famílias do Assentamento Contestado, localizado naLapa, a 60 quilômetros de Curitiba (PR). Para comercializar hortaliças, frutas e verduras produzidas semanalmente pelos assentados, em 2010, foi criada a Cooperativa Terra Livre que, somente no ano passado, vendeu 270 toneladas de alimentos. Antônio Capitani, agricultor rural e trabalhador da cooperativa, conta que os produtores do Assentamento Contestado - modelo em produção de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. “A

partir do momento que criamos a cooperativa, passamos a ingressar em famílias de outros municípios. Iniciamos com 70 e poucas famílias e hoje estamos com 230 famílias dos cinco municípios ao redor. Trabalhamos com produção orgânica, sem veneno. Produtos certificados”, orgulha-se Capitani. Atualmente, a Terra Livre comercializa a produção do Assentamento Contestado, de integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), de famílias quilombolas e faxinalenses da região. Oito toneladas de alimentos são entregues aos municípios da Lapa, Campo Largo e Curitiba semanalmente. A Terra Livre participa de chamadas públicas e garante que uma alimentação saudável esteja presente na merenda de mais de cem escolas estaduais e municipais.


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