Edição 22 do Brasil de Fato MG

Page 2

02 | opinião

Belo Horizonte, de 24 a 30 de janeiro de 2014

editorial | Brasil

editorial | Minas Gerais

Janeiro quente em Minas O mês de janeiro é tradicionalmente pouco movimentado na política. Mas não está sendo bem assim em 2014. Ano eleitoral e ações na Justiça esquentam a disputa. Contratos sem licitação levaram a Justiça mineira a aceitar o pedido do Ministério Público Estadual de quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico do senador Zezé Perrella (PDT), e de seu filho, deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), além de outros diretores da empresa Limeira Agropecuária e Representações Ltda. (sim, a mesma do helicóptero dos 445 kg de cocaína), e de ex-diretores da Epamig. E ainda tiveram R$ 14,5 milhões em bens da família bloqueados. No período investigado, os Perrella estavam impedidos por lei de terem contratos com o poder público, já que eram parlamentares.

Faltam pouco mais de 150 dias para prescrever o mensalão tucano. Considerando que o chamado mensalão petista, denunciado sete anos depois, já está com os condenados presos, tem ou não tem lado a Justiça?

no. Considerando que o chamado mensalão petista, denunciado sete anos depois, já está com os condenados presos, tem ou não tem lado a Justiça? Também esta semana, a Justiça mineira, numa atitude controversa, mandou prender o jornalista Marco Aurélio Carone. Ele é proprietário do Novo Jornal, site que não cansa de denunciar políticos e gestores públicos, sem poupar Aécio Neves e aliados. O promotor que pediu a prisão se diz ameaçado pelo acusado, logo, como parte interessada, deveria ser impedido de se meter no processo. A acusação é de que o jornalista seria uma ameaça pelo que escreve. Se é isso, é preciso perguntar onde está a liberdade de imprensa, já que o processo não cita quais ameaças e a quais autoridades. E, claro, antes da prisão, deveriam ter pedido retratação ou simplesmente determinado a publicação de direito de resposta no veículo. Dado que Carone foi divulgador da Lista de Furnas, que associa políticos do PSDB ao desvio de verbas públicas, fica a interrogação: será que a justiça em Minas foi imparcial com essa prisão?

Um rolezinho das periferias Em suas sempre profundas e lúcidas análises sobre a sociedade brasileira, Florestan Fernandes dizia que a burguesia primava pelo seu caráter antinacional, antissocial e antidemocrático. O fenômeno dos rolezinhos ainda é um enigma a ser decifrado, mas teve o mérito de expor ao país o acerto e atualidade da assertiva de Florestan. A primeira engrenagem que a burguesia põe em movimento dessa estrutura antissocial é o aparato repressivo. A ação indiscriminada da Policia Militar para reprimir os rolezinhos atestam a máxima “questão social é caso de polícia”. Diante da repercussão que obteve a brutalidade policial, se buscou no Poder Judiciário uma justificativa legal para atender aos interesses da irracional política de segregação social. Assim, os shoppings obtiveram liminares para proibir e fazer uma “triagem” de quem pode ou não entrar no estabelecimento. Os critérios usados para a “triagem” restringiam-se às indumentárias e aos traços físicos das pessoas. Não é difícil identificar jovens da peri-

Pedro Nathan

Era um negócio da China: a Epamig fornecia as sementes, técnicos acompanhavam o plantio e o Estado comprava toda a produção. Quem não quer um contrato desse? Quem sabe, com os sigilos bancários e telefônicos quebrados, não se descobre um pouco mais também sobre o caso do helicóptero? De outro lado, a Justiça Mineira deixou que o ex-vice governador de Eduardo Azeredo, Walfrido dos Mares Guia, ficasse livre de qualquer punição pelas acusações de peculato e formação de quadrilha. Como completou 70 anos, não será julgado. Se a sociedade não pressionar, logo todos os acusados ficarão livres de julgamento, já que faltam pouco mais de 150 dias para prescrever o mensalão tuca-

feria, pretos, mestiços e pobres. Imaginaram que respaldo judiciário e a costumeira força repressiva era condição suficiente para barrar os jovens pobres... A triagem motivou estudantes, movimentos negros e de direitos humanos a organizar um protesto em frente de um dos shoppings mais luxuosos de SP, o Iguatemi JK, do Grupo Jereissati. Foi o suficiente para o shopping tomar a decisão de fechar as portas em pleno sábado, ao meio-dia. Nesse processo, não faltou a participação da mídia. Sobraram reportagens para tentar promover uma histeria coletiva e pedir uma ação enérgica dos governos. São análises que partem sempre da premissa de que as concentrações de jovens das periferias representam perigo e destinam-se sempre a provocar badernas.

Quando esses jovens iam apenas aos shoppings olhar as vitrines e lotar as praças de alimentação, eram tolerados. Quando encontraram uma forma de serem ouvidos, causaram medo e insegurança Quando esses mesmos jovens iam apenas aos shoppings olhar as vitrines e lotar as praças de alimentação, eram tolerados. Quando os grupos encontraram uma forma de serem vistos e ouvidos, causaram medo e insegurança, sentimento que se transformou na ação de expulsá-los e não permitir sua entrada. É animador perceber, desde já, que os que detêm o poder de fazer triagem nas portas de shoppings, os que gastam fortunas com a segurança patrimonial, obtêm facilmente liminares na Justiça e contam com o irrestrito apoio de uma mídia oligopolizada – e decadente – tomaram um verdadeiro rolezinho dos jovens das periferias.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado. conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, César Augusto Silva, Cida Falabella, Cristiano Carvalho, Cristina Bezerra, Daniel Moura, Dom Hugo, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Lindolfo Fernandes de Castro, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Maria Brigida Barbosa, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Administração: Valdinei Siqueira e Vinicius Moreno. Distribuição: Larissa Costa. Diagramação: Luiz Lagares. Revisão: Luciana Santos Gonçalves Editor-chefe: Nilton Viana (Mtb 28.466). Editora regional: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Maíra Gomes e Rafaella Dotta. Estagiária: Raíssa Lopes. Endereço: Rua da Bahia, 573 – sala 306 – Centro – Belo Horizonte – MG. CEP: 30160-010. Contato: redacaomg@brasildefato.com.br/ (31) 3309-3314


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.