Edição 297 do Brasil de Fato MG

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Belo Horizonte, 6 a 12 de setembro de 2019

BRASIL

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Bolsonaro vai vender setor que ele mesmo afirmou ser vital para qualquer “país sério” SOBERANIA Quando deputado, o capitão reformado apontava o risco de se privatizar áreas como a de energia Agência Brasil

Pedro Biondi “A ‘questão’ (sic) de energia elétrica no Brasil: isso simplesmente é estratégico, é vital. País sério nenhum no mundo faz isso – entregar isso para outros países”, enfatizava um então deputado federal de extrema direita caricata há exatos dois anos, em vídeo no qual se declarava favorável a privatizar “várias coisas”. “E você estar tirando de uma estatal brasileira para botar nas mãos de uma estatal chinesa?! Ou seja, eles vão decidir o preço da nossa energia e onde, com toda certeza, no futuro, estará chegando essa energia.” Como previsto, muito patrimônio foi entregue na “Ponte para o futuro” do governo Michel Temer (MDB), mas o capitão reformado não mudou “isso daí”. Pelo contrário. Grupos empresariais controlados por (ou

Na contramão do mundo

com forte participação de) governos de outros países seguem comprando subsidiárias e lotes nos leilões dos setores elétricos e de petróleo e gás, e despontam como favoritos a arrematar a Eletrobras, caso o governo consiga levar adiante a entrega do patrimônio público. Uma possível compradora seria justamente a chinesa State Grid. Com 23 concessionárias em 14 estados

Lula faz alerta sobre soberania: “Os pobres são os que mais sofrem com essa traição”

e 11.169 quilômetros em linhas de transmissão, a State Grid declara-se a maior distribuidora de energia do país. A chinesa também é apontada como candidata a arrematar a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que o governador Romeu Zema (Novo) pretende passar adiante, apesar de ter registrado seu melhor balanço semestral – um lucro líquido de R$ 2,1 bilhões.

Mapeamento de 2017 contabiliza 884 serviços devolvidos ao controle público em todo o mundo desde o ano de 2000. São concessões não renovadas, contratos rompidos ou empresas compradas de volta em função de insatisfação popular com as tarifas e o atendimento. Mais de 80% dos casos aconteceram de 2009 em diante. Nailor Gato, da FNU, lembra do exemplo da Enel Goiás, eleita pior distribuidora do país nos últimos dois anos, depois de demitir mil funcionários – metade

Em agosto, queimadas devastaram área 300% maior do que em 2018 AMAZÔNIA Com a explosão de focos de incêndio, destruição da floresta já supera total registrado no ano passado inteiro Joao Laet/AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou na quarta-feira (4) uma carta aos participantes do “Ato e Seminário pela Soberania Nacional e Popular”, em Brasília (DF). O texto expressa preocupação com os processos de privatização e entrega do patrimônio nacional encabeçados pelo governo Jair Bolsonaro (PSL). “Os

pobres são os que mais sofrem com essa traição. O povo brasileiro terá mais uma vez que tomar seu próprio caminho. Antes que seja tarde demais para salvar o futuro”, escreve o ex-presidente na carta, ao citar especificamente a destruição da Amazônia, da Petrobras e das cadeias produtivas do óleo e do gás.

do quadro – da antiga Companhia Energética de Goiás (Celg). “Eles estão tentando devolver a concessão para a União, porque não dão conta de cumprir as condições do contrato”, diz, mencionando, ainda, condições exaustivas e alto índice de acidentes de trabalho. Após o governador Ronaldo Caiado (DEM) pressionar pelo cancelamento da concessão, em 26 de agosto a empresa assinou um acordo comprometendo-se a melhorar os serviços no estado.

O volume de áreas queimadas na Amazônia em agosto deste ano foi 300% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). No mês, os incêndios destruíram 24.944 km² da floresta, contra 6.048 km² em agosto de 2018. Com o crescimento, a área perdida na Amazônia neste ano, até aqui, é de 43.573 km², maior

do que o total de 2018 inteiro, que foi de 43.171 km². Um dado alarmante é que,

dentro da série histórica do Inpe, o mês de setembro é o que tradicionalmente registra o maior número de queimadas – chegando, em alguns anos, a alcançar o dobro de agosto. Nos dois primeiros dias de setembro, os sistemas do Inpe identificaram cerca de mil focos na região Amazônia. Os municípios com mais focos de incêndio são também aqueles que sofreram maior desmatamento neste ano.


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