PDF da edição 261 do Brasil de Fato MG

Page 1

Carla Coreira

Tambores em Contagem

Existem raças humanas?

Evento reúne Congado e Tambor de Crioula em celebração ao Dia da Consciência Negra

Coluna de ciências fala se existem ou não diferenças genéticas entre brancos e negros. Descubra!

CULTURA 14

VARIEDADES 13

MG Minas Gerais

Belo Horizonte, 14 a 22 de novembro de 2018 • edição 260 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita Rupestre

Comunicação e direitos humanos Sem comunicação, não há democracia. Em encarte , o Brasil de Fato apresenta experiências de formação de comunicadores populares em seis regiões de Minas Gerais I Especial Arison Jardim / Secom

Menos médicos para quem mais precisa A saída de 8 mil médicos cubanos prejudicará a saúde de 29 milhões de pessoas, principalmente moradores de periferias e de cidades do Norte e Nordeste do país BRASIL 10

Escrita Negra Conceição Evaristo fala sobre literatura, militância e luta contra o racismo ENTREVISTA 13


2

OPINIÃO

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

Editorial | Brasil

Um time que joga contra o Brasil O governo de Jair Bolsonaro (PSL) inaugura um novo período, que exigirá extrema atenção de todos. Viveremos uma disputa que envolve o uso estratégico e ilegal das novas tecnologias de comunicação. O time de governo montado por ele joga contra o Brasil e contra os mais pobres. Bolsonaro promete não apenas dar continuidade e aprofundar as políticas neoliberais, levadas a cabo pelo fantoche Michel Temer, mas também endurecer e ampliar o braço repressivo do Estado. Para isso, di-

ESPAÇO DOS LEITORES

“Esses generais... sempre dando golpes. Sempre a favor das elites” Sidney Dias comenta a matéria “República começou com golpe e presidente marechal” “Ai, que delícia.... vou ficar na vontade” Lidyane Ponciano escreve sobre “Feriado prolongado tem Festival da Jabuticaba em Sabará” “Ele não enganou ninguém, sempre falou em privatizar tudo. Mas seremos oposição e resistência” Cassia Braga comenta o editorial “Quando o ´novo´ é bem mais velho do que achamos” “A lavagem cerebral que a mídia fez no povo, num grande acordo com tudo... é impressionante!” Milson Gama escreve sobre a matéria no site do Brasil de Fato “Lula nega envolvimento com obras no sítio de Atibaia; assista na íntegra”

Escreva para a gente também: redacaomg@brasildefato.com.br ou em facebook.com/brasildefatomg

Reforma da Previdência atingirá o povo em cheio minuirão cada vez mais as margens democráticas e aumentarão a repressão e a censura aos meios de comunicação, às organizações políticas e sociais da classe trabalhadora e principalmente ao povo mais pobre. O aumento da presença militar em nosso território demarca um retorno ao passado. É mais um elemento que anuncia o caráter conservador e repressivo, mais um sinal do rompimento com o pacto democrático conquistado pela Constituição Cidadã de 1988. Até agora, todos os ministros anunciados são pessoas de extrema direita. As políticas econômicas confirmam a aceleração das privatizações. Vêm por aí mais contrarreformas que retiram direitos e aumentam a precarização do trabalho. A reforma da Previdência é a primeira iniciativa, e atingirá o povo em cheio. Fiquemos atentos: o governo

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

lançará mão de estratégias que buscarão convencer os jovens, as mulheres e os nordestinos, segmentos nos quais encontra maior resistência contra o desmonte da aposentadoria. Musa vai envenenar a população brasileira Uma das definições do dicionário para “musa” é “o que pode inspirar um poeta”. Já “veneno” significa “substância que mata seres vivos ou os torna doentes”. A nova Ministra da Agricultura de Bolsonaro, a deputada e pecuarista Tereza Cristina (DEM-MS), é conhecida entre os colegas como “musa do veneno”. Cristina estreou em 2015 como deputada federal. Ela é líder da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), também conhecida como “bancada ruralista” (que reúne 227 dos 513 deputados). No Congresso, a deputada ajudou a barrar investigações sobre denúncias de corrupção que envolviam governo Temer. A “musa do veneno” reverencia o seu deus agronegócio. Seu projeto de lei, conhecido como “PL do Vene-

Futura ministra é autora de PL do Veneno que aumenta uso de agrotóxicos no”, aumentará enormemente o uso de agrotóxicos nas lavouras, como se não fossem substâncias mortais para seres vivos. O projeto (ainda em tramitação) é criticado por órgãos de saúde, pesquisadores e ambientalistas, que temem riscos à saúde pública e à vida da população.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg CORREIO: redacaomg@brasildefato.com.br PARA ANUNCIAR: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Marcelo Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Robson Sávio, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes, Thainá Nogueira e Wallace Oliveira. Colaboradores: Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Bruno Mateus, Diego Silveira, Fabrício Farias, Felipe Marcelino, João Paulo Cunha, Jordânia, Souza, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Taciana Dutra. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


? PERGUNTA DA SEMANA

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

Declaração da Semana “Quem tem medo da igualdade? A quem interessa a desigualdade? A quem interessa a manutenção dos privilégios de alguns e manutenção das dificuldades estruturais de outros? A quem interessa continuar mentindo que somos todos iguais?”

Por que esse problema não foi resolvido até hoje?

A cidade tem muito dinheiro, muita verba, só que eles desviam esse dinheiro para coisas superficiais, que ajudam a população, mas não diretamente. Moradia é uma coisa que a gente tem que prever aí porque é nossa vida. Tem que fazer obras para essa população. Se chove, prejudica muita gente.

Renata Benfica, agente de vendas

Bianca Molinario, agente de vendas

3

Andrea Dematte / Divulgação

Todo ano, no período das chuvas, parte de BH entra em estado de pânico. Determinadas regiões têm alagamentos, que por vezes custam as vidas de pessoas; casas em áreas de risco estão ameaçadas de deslizamento. O Brasil de Fato foi às ruas perguntar:

Eu acho que é falta de comprometimento do governo com as pessoas, principalmente naquela região do Vilarinho. Sempre alaga, com qualquer tipo de chuva. Fizeram obra lá recentemente, mas não priorizaram fazer uma obra conjunta, melhorando, por exemplo, o esgoto da região.

GERAL

Escreveu a atriz Juliana Alves em suas redes sociais, na terça (20), dia da Consciência Negra.

Corte Momesca do Carnaval de BH 2019

Nathália Torres

As inscrições para candidatos a Rei, Rainha e Princesa do Carnaval de Belo Horizonte 2019 já estão abertas. Os interessados podem se inscrever gratuitamente até 27 de novembro, na sede da Belotur (Rua da Bahia, nº 888, no 7º andar). Para participar do concurso, basta ter simpatia e amar o carnaval! A premiação é de R$ 9 mil para a Princesa e R$ 12 para o Rei e para a Rainha. A eleição acontece no dia 2 de dezembro e os candidatos serão julgados por uma comissão formada por cinco jurados. Para detalhes dos regulamentos, acesse https://goo.gl/kkr37d

Sabe quem foi Luiz Gama? Apesar de apagado da história, Luiz Gama foi um grande lutador contra o escravismo no Brasil. Nascido em Salvador, em 1830, é filho de Luíza Mahin, liderança de várias revoltas negras no início do século XIX. Luiz Gama aprendeu a ler e escrever e leu a biblioteca jurídica inteira de um desembargador com quem foi trabalhar. Além de advogado não formado, foi poeta e jornalista, conseguindo libertar mais de 500 pessoas escravizadas. Morreu seis anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Mas seu espírito combina mais com outra data: 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares.

Raul Pompeia / Wikimedia Commons


4

MINAS

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

Um dos mandantes da Aprovação de Plano de Unaí terá Diretor em primeiro turno chacina novo julgamento é fruto da pressão popular A Abraão Bruck / CMBH

BELO HORIZONTE No segundo turno, vereadores examinarão substitutivo encaminhado pelo governo Wallace Oliveira

C

entenas de pessoas lotaram as dependências da Câmara Municipal de Belo Horizonte, na terça-feira (20), durante sessão que votou o projeto de lei 1749/2015, que cria o novo Plano Diretor da capital. O texto elaborado pela população na IV Conferência Municipal de Política Urbana, em 2014, passou em primeiro turno na Câmara, com 31 votos a favor, 6 contra e 2 abstenções. A votação foi marcada por uma reviravolta. Para que fosse aprovado, o plano diretor que a população elaborou precisava do voto de 28 dos 41 vereadores. Inicialmente, a maioria, atendendo a uma exigência dos empresários do setor imobiliário, era contra a proposta. Nos últimos dias, porém, os movimentos pela reforma urbana conseguiram a maioria necessária na Câmara.

“Nós fizemos uma ‘via sacra’ nos gabinetes dos vereadores, quase todos os dias, e aproveitamos os espaços que tivemos para conscientizar, mostrando que esse plano não é bom apenas para um segmento, mas para toda a cidade”, comenta Edneia Aparecida de Souza, integrante do grupo “Vereador, aprove o Plano Diretor”,

Emendas no texto, como de Léo Burguês, serão votadas no segundo turno articulação de entidades que participaram da Conferência de Política Urbana. Segundo turno, emendas e substitutivo O texto agora será discutido em segundo turno, quando os vereadores examinarão as emendas ao projeto.

A principal mudança proposta, segundo o líder do governo, Léo Burguês (PSL), é um novo critério para a edificação de prédios no Centro. Para a vereadora Cida Falabela (PSOL), a espinha dorsal do Plano foi preservada. “Esse primeiro turno é uma vitória do povo. Mesmo com um substitutivo sendo apresentado, os princípios básicos foram mantidos e é por isso que nós defendemos que fosse votado. A luta continua no segundo turno, não vai ser fácil, mas o povo mobilizado é que faz as mudanças mesmo”, pontua. Vereador contesta votação Ao fim da seção, o vereador Doorgal Andrada (Patri), que votou contra o Plano Diretor e foi contrário à outorga onerosa, fez uma questão de ordem. O parlamentar disse que a sessão extrapolou o tempo regimental e que, por esse motivo, ele vai tomar medidas legais para anular a votação.

Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região decidiu, na segunda (19), refazer o julgamento de Antério Mânica, condenado como um dos mandantes da chacina de Unaí, na região Noroeste do estado. O crime aconteceu em janeiro de 2004, quanto três auditores-fiscais do trabalho e um motorista foram executados a tiros durante uma fiscalização de trabalho análogo à escravidão.

“Isso gera uma sensação de impunidade que pode causar, para o agente público que fiscaliza, uma insegurança de exercer sua atividade com rigor”, lamenta Lindolfo Fernandes, ex-presidente do Sindifisco. Antério e o irmão Norberto Mânica, também condenado como mandante dos homicídios, são fazendeiros influentes na região e estão em liberdade. Os outros cinco condenados cumprem pena na prisão.

Audiência discute situação do Quilombo Campo Grande

Guilherme Bergamini

A reintegração de posse do terreno do Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, teve mais um capítulo na quinta (22): uma acalorada audiência pública na Assembleia Legislativa. Os deputados Antonio Carlos Arantes (PSDB) e Bruno Engler (PSL) se embasaram na liminar do juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, e alegam que a ocupação é uma fraude. Arantes usou termos ofensivos como “vagabundos” frente aos 300 trabalhadores do MST que compareceram à audiência. As acusações geraram revolta entre os participantes da audiência. O MST dá outra versão. Segundo o movimento, na últi-

ma safra foram produzidas 8,5 mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão. J Já estão plantadas 1,7 milhão de pés de diversas culturas e mudas, e para 2019 a expectativa é plantar mais 1,3 milhão, totalizando 3 milhões de mudas e pés. O movimento lista ainda 418 casas, 1.200 cabeças de gado, 100 mil árvores e 20 mil galinhas. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal fará uma visita ao assentamento na segunda (26), onde também deve realizar uma audiência pública com os agricultores. A Comissão de Direitos Humanos da ALMG acompanha a visita.


Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

MINAS

5

Opinião

Um país sem educação João Paulo Cunha Não existe nada mais importante para o Brasil que a educação. Infelizmente, o presidente eleito Jair Bolsonaro sabe disso, e, como não gosta do país, está fazendo de tudo para destruir o setor. O recente vaivém na indicação do ministro responsável pela pasta – método que se tornou regra, voltando atrás de decisões e culpando os outros por suas barbeiragens – teve pelo menos desta vez o mérito da clareza. Ele não voltou atrás para melhorar sua decisão, foi exatamente o contrário. O presidente eleito se desdisse por pressão explícita dos defensores da chamada escola sem partido. Em outras palavras, Bolsonaro se arroga de independente de partidos e outras forças políticas, mas pelo visto não manda nada. O presidente eleito vai deixando claro, a cada anúncio de novos colaboradores, que segue os passos ditados pelos patrocinadores de sua eleição, e não pelos compromissos com o eleitor. Sua lista de ministros tem o carimbo de seus quatro maiores credores:

Presidente eleito segue os passos ditados pelos patrocinadores de sua eleição os militares, os pastores evangélicos, os juízes e os representantes do capital e do rentismo. Tem de tudo nesse cardápio: banqueiro que não sabe como se vota o orçamento, juiz que operou para definir o quadro eleitoral, musa do veneno, astronauta pop, deputado do baixo clero, diretor de plano de saúde, diplomata com traços paranoides que deslustra a tradição intelectual do Itamaraty. E por aí vai. O mais grave, no entanto, parece estar programado para a educação. A forte reação dos setores ligados à escola sem partido não preservou sequer a imagem do presidente. Ele foi desmoralizado. Tiraram

a moral do homem. Cada segmento mandou sua fatura. Os pastores, de olho no conservadorismo e na formação repressiva, querem empreender uma cruzada moralista e anti-iluminista, relativizando fatos históricos e mesmo científicos. Os procuradores, apoiando a bandeira da censura de cátedra, que já defendem em várias ações do Ministério Público, além de propor uma vigilância dirigida ao trabalho dos professores. Os economistas neoliberais, com a defesa do lucrativo mercado educacional, que já ganhou de Temer o estímulo ao ensino à distância. A caserna se esbalda com a valorização das escolas militares, que assumem o papel de modelo educacional em termos, sobretudo, disciplinares: uma escola para a submissão, treinamento, ordem unida, hinos e juras à bandeira. Ideias curtas e contidas. O projeto educacional de Bolsonaro quer chegar: num sistema voltado apenas para desenvolvimento de habilidades requeridas pelo mercado, não para a emancipação humana. Trata-se do futuro do país. Ou de um país sem futuro.

Anúncio


6

CULTURA

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018 Giulliana Souza

Religiosidade afro-brasileira na telona Dalton Paula/ Divulgação

Diálogos entre Tambores: intercâmbio de culturas e tradições

Em sua 22° edição, o já tradicional FórumDoc.BH traz debates sobre o cinema brasileiro e a afro-religiosidade. A mostra, que acontece até o dia 2 de dezembro, acontece no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes e na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Informações em: www.forumdoc.org.br

Mais consciência negra

Divulgação

FÉ E ARTE No dia 24, grupo de Congado promove atividade com apresentações e roda de conversa em Contagem Lívia Bacelete

A

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Os Ciriacos realiza uma atividade cultural para celebrar a cultura negra, durante o mês da Consciência Negra, no dia 24 de novembro, na sede da Irmandade, em Contagem. “Diálogos entre Tambores: intercâmbio de culturas e tradições” convida as mulheres para uma roda de conversa sobre resistência, cultura negra, suas práticas e vivências. O evento também vai contar com intervenções culturais do Bloco Transborda e do Bloco Oficina Tambolelê, além de comidas preparadas na cozinha de São Benedito, na sede da Irmandade. Com mais de 64 anos de história, a Irmandade Os Ciriacos traz em sua trajetória de fé e luta uma resistência em prol da preservação do congado, patri-

mônio artístico cultural de Minas Gerais e importante tradição religiosa da cultura negra no Brasil. Atualmente, a Irmandade conta com 120 membros, envolvendo várias gerações que vivem em comunidade no mesmo território. São idosos, jovens, crianças, homens e mulheres que durante o ano vivem e convivem em torno de algo comum, a tradição do Reinado (congado). As atividades começam às 18h, na sede da Irmandade Os Ciriacos (rua Balneário, n. 240, Ressaquinha, Contagem).

Carla Coreira, do Tambor de Crioula do Maranhão, vai marcar presença

Tambor de Crioula Buscando fomentar a troca de saberes entre expressões tradicionais da cultura negra e popular, a atividade contará com a participação especial de Carla Coreira, figura representativa do Tambor de Crioula do Maranhão. Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2007, o Tambor de Crioula integra as manifestações tradicionais da cultura popular do Maranhão. A brincadeira é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve dança circular feminina, canto e percussão de tambores. Dela participam as coreiras, conduzidas pelo ritmo intenso dos tambores e pelo influxo dos cânticos ou toadas evocadas por tocadores e cantadores, culminando na punga ou umbigada – movimento entendido como saudação e convite.

E para comemorar o Dia da Consciência Negra (20/11) acontece nos dias 24 e 25 de novembro a Festa Afro Cultural Makamba. Na programação, feira de artesanato, atrações culturais, dança afro e culinária típica. A festa acontece durante todo o sábado e domingo, de 10 às 18 horas, no Mercado da Lagoinha. O endereço é Avenida Presidente Antônio Carlos, n° 821. A entrada é gratuita.

Festival para o povo da rua Flávia Viana

No dia 1° de dezembro acontece a 9ª edição do The Street Store BH. O Festival funciona como uma loja aberta e gratuita para pessoas que estão em situação de rua. Os organizadores do evento estão coletando roupas e acessórios para doação. O The Street Store BH acontece no dia 1º de dezembro, das 8h às 16h, na calçada do Parque Municipal, no Centro de Belo Horizonte.


Rupestre

MG

ESPECIAL

COMUNICAÇÃO POPULAR Minas Gerais

Belo Horizonte, novembro de 2018 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita

COMUNICAÇÃO E DIREITOS HUMANOS FOI TEMA DE OFICINAS E CURSOS EM SEIS REGIÕES DE MINAS Funk e consciência: conheça a história do Pancadão dos Montes Jovens de comunidade de BH aprendem a fazer seus próprios programas Uma professora, uma assentada, uma estudante e um sindicalista comentam o papel da comunicação hoje Confira dicas de segurança na rede


8

ESPECIAL

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

Pancadão dos Montes: politização do funk e diálogo com a periferia RÁDIO Pessoas privadas de liberdade viam no programa uma forma de diálogo e diversão, mas perseguição fez com que experiência se interrompesse

Reprodução

Oficinas oferecem formação técnica para jovens de comunidade em BH Wallace Oliveira

D

Amélia Gomes

“É

muita treta, mas firmeza. Segue cantando pra espantar toda tristeza”. Com letra de Moleque Doido, o MC Bó do Catarina, esse era um dos funks mais tocados no programa de Rádio Pancadão dos Montes, transmitido nos bairros da periferia de Montes Claros, norte de Minas Gerais. A iniciativa surgiu em 2008 para promover as batidas do funk com letras politizadas. Logo a proposta pegou e em pouco tempo o Pancadão dos Montes já era um dos programas mais ouvidos da cidade. Nos finais de semana os apresentadores chegavam a receber mais de 20 cartas. A

maioria de ouvintes escrevia das penitenciárias. “Os detentos escreviam para a gente e pediam um salve na rádio e os familiares ligavam e pediam música para os detentos. Foi um momento muito legal de interação”, relembra Wender dos Santos, um dos realizadores. O programa virou um fenômeno entre os ouvintes e alcançava o pico de audiência. Além do Pancadão dos Montes, também havia na rádio Studio FM o Atitude no Ar, programa com enfoque nos rappers locais. Perseguição Com a grande repercussão dos programas, a Rádio Studio FM foi ganhando reconhecimento e junto dis-

EXPEDIENTE Esta edição especial é uma produção do Brasil de Fato MG em parceria com o projeto Comunicação e Direitos Humanos nos Territórios de Minas Gerais, promovido pela Associação Henfil, com apoio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania.

so vieram as perseguições. A falta de outorga e a visibilidade que era dada aos presidiários foram os motes para as retaliações. A emissora foi fechada quatro vezes e a cada

Oficina trouxe novas perspectivas para retomada da rádio em Montes Claros apreensão todos os equipamentos eram recolhidos. Os coordenadores da emissora, os apresentadores do programa e a comunidade ajudavam a retomar a rádio, mas eram novamente apreendidos.

Depois de inúmeras tentativas, ambos os programas migraram de emissora, mas não adiantou. As perseguições continuaram até que em 2013 os coordenadores da rádio decidiram encerrar os programas. Recomeço Depois de cinco anos, Wender pretende retomar o projeto de outras formas. Na oficina de rádio do projeto de Comunicação e Direitos Humanos, viu no Whatsapp e na rádio web a possibilidade de colocar o programa no ar novamente. “Ter feito a oficina ajudou a gente a pensar novas possibilidades de rádio, para dar continuidade ao nosso trabalho”, anima-se Wender dos Santos. APOIO

urante o ano em que foi executado, o projeto “Comunicação e Direitos Humanos” promoveu 45 iniciativas de educação em comunicação. Uma destas foi realizada na comunidade Pedreira Prado Lopes, região Noroeste de BH. Oito adolescentes de 11 a 17 anos aprenderam técnicas de rádio. O conteúdo foi definido a partir das necessidades dos participantes. “O objetivo era ensinar a produção de áudios, que é algo barato, simples, que dá para aplicar na vida deles. Isso funciona nas comunidades, pois há divulgações em motos de som e rádio poste”, explica a jornalista Amélia Gomes, facilitadora da oficina. Útil para a vida O estudante Pablo Henrique dos Santos, 14 anos, produziu dois spots. “Gostei muito de aprender a mexer no programa. Quanto mais projetos assim, melhor, porque a gente só vai aprendendo”, avalia. Os participantes pretendem aproveitar o saber para criar um miniempreendimento de materiais de divulgação para o comércio na região.


Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

9

ESPECIAL

Comunicação é um direito humano MULTILPLICADORES Papel da mídia corporativa e também de outras ferramentas de informação é tema de reflexão

A

ssim como a saúde, educação e moradia, a comunicação é um Direito Universal garantido desde 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Isso quer dizer

que todas as pessoas no mundo deveriam ter garantidas a liberdade de expressão, de acesso às notícias e também de produzir informação. Esse direito fundamental também

é previsto na Constituição Brasileira. Mas, na prática, o que isso representa para nossa vida? Em tempos de notícias falsas, manipulações de infor-

mações e da censura, discutir e conhecer novas formas de comunicação são desafios fundamentais para a sociedade brasileira. Confira depoimentos sobre a importância

do assunto, de pessoas que participaram do programa de formação continuada em comunicação e direitos humanos. E você, como vê o papel da comunicação hoje? Rupestre

“Comunicação popular terá um papel essencial” “Eu creio que a eleição de Bolsonaro é a prova mais que cabal do papel da comunicação no cenário político do Brasil. Creio que o ciclo do golpe ainda não se fechou. Teremos um longo caminho de retrocessos e isso vai ser uma perda grande para o campo popular, para a proposta de uma comunicação plural, mas muita coisa foi feita. Há uma mídia popular que está muito bem estruturada, apesar da falta de recursos, e terá uma resistência muito importante. A comunicação popular terá um papel essencial para jogar luz sobre o que será silenciado pela mídia corporativa, que vai se alinhar ao governo Bolsonaro”. Eliara Santana, jornalista e doutoranda em Estudos Linguísticos na PUC Minas/ Capes

“Mídia faz os oprimidos defenderem os opressores”

“Trabalhador precisa conhecer o que está acontecendo”

“Comunicação é poder, em nosso país essa tem sido uma ferramenta da classe dominante para manter sua hegemonia na sociedade, impondo suas ideias e falseando a realidade, colocando os oprimidos para amar e defender os seus opressores, cumprindo com a função de uma mídia irresponsável com os valores humanos e com a verdade. Para nós oprimidos/as, a comunicação tem um papel fundamental: mostrar que as sombras da realidade nem sempre são a verdade, fazendo da comunicação uma ferramenta esclarecedora dos fatos e questionadora da realidade”.

“Olá galera do BdF MG, aqui é o Luizão do Sindicato dos Empregados no Comércio de Uberlândia e Araguari e Frente Brasil Popular. Esse jornal é sensacional, ele leva, muitas das vezes, as notícias que a grande mídia esconde. Para nós é muito importante ter esse material pra distribuir nas bases, pro trabalhador ficar sabendo da realidade do que está acontecendo no Brasil e no mundo. É fundamental levar a notícia ao cidadão, aquele trabalhador que muitas vezes chega ao seu local de trabalho e não tem a informação necessária para conversar com os colegas”.

Maria José Santos, Assentamento Nova Vida - Novo Cruzeiro

Luizão - Sindicato dos Empregados no Comércio de Uberlândia e Araguari (SECUA)

“Mídia hegemônica defende o projeto neoliberal” “A comunicação tem papel fundamental na tomada de decisão das pessoas, é ela que dissemina as informações do que ocorre nos diversos cantos do mundo. Porém, existe no Brasil uma mídia hegemônica que imprime nas notícias as suas opiniões. E nós sabemos que essas opiniões têm um lado e um projeto, o projeto neoliberal, que vem na contramão do que acreditamos para uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, nós vemos os meios de comunicação populares como a saída para a construção de uma resistência na luta pela democratização da mídia”. Karolina Oliveira, estudante de enfermagem

Programa de formação continuada Construir uma visão crítica da mídia e fortalecer a perspectiva de uma comunicação feita por e para o povo. Esses foram alguns dos objetivos do Programa de Formação Continuada em Comunicação e Direitos Humanos, desenvolvido pela Associação Henfil em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Social. Mais de 700 pessoas participaram das 45 atividades realizadas em seis territórios do estado de Minas Gerais.


10 ESPECIAL

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

A internet é um lugar seguro?

Freepick

VIGILÂNCIA Saiba como proteger seus dados e senhas ao navegar nas plataformas digitais

D

esde o avanço das redes sociais, têm sido recorrentes os escândalos de vazamento de dados de internautas. Para você não ser mais uma vítima, o Brasil de Fato MG consultou os espe-

Quais as dicas para proteger minhas senhas? André, professor, 29 anos Não use dados pessoais como aniversário, nome do bichinho de estimação e datas marcantes. Não use a mesma senha para várias redes. Não use a opção “salvar senha” dos navegadores. Não compartilhe suas senhas com outras pessoas! Senhas grandes, com letras maiúsculas e minúsculas são indicadas. Lembre-se de se desconectar ao usar computadores públicos. Além disso, é importante mudar todas as senhas com frequência.

cialistas Caio Augusttus, que é Analista de Segurança da Informação, e Taise Assis, Analista de Sistemas. Eles responderam perguntas de quatro leitores sobre esse tema. Confira e fique atento!

Nos últimos anos houve vários vazamentos de dados de internautas no mundo todo. Como nos proteger na internet? Mariana Dupin, bióloga, 26 anos É importante configurar o nível de privacidade das redes sociais de acordo com sua necessidade. Evite usar extensões de navegadores que pedem acesso a seus perfis. Quando participar de brincadeiras, jogos ou coisa do tipo, evite permitir o acesso à sua rede social (por exemplo, logar com Facebook), pois pode ser uma armadilha.

Ouvi dizer que mesmo quando desligamos a internet do celular é possível que ele esteja gravando áudio ou o GPS esteja funcionando. É verdade isso? Luiz Fellippe de Fagaraz, 27 anos, autônomo É possível ter um aparelho rastreado através da triangulação de antenas das operadoras de celular, que são indispensáveis para manter o serviço de telefonia e internet ativos. Mesmo com o pacote de dados desativado, alguém da operadora ou de alguma agência governamental pode ter acesso à localização do seu aparelho. Acredito que esse acesso seja difícil para um hacker ou uma pessoa comum. Mesmo assim a recomendação é manter os aparelhos desligados em momentos mais sigilosos.

SENHAS! Os testes que fazemos no Facebook são perigosos? Thainá Nogueira, jornalista, 23 anos Geralmente, para participar desses testes precisamos aceitar os termos e condições de uso. Pouca gente lê, mas estamos autorizando as empresas a acessarem e utilizarem nossos dados (públicos ou privados), inclusive permitindo que eles sejam repassados. Muitas informações sobre nossos comportamentos, gostos e opiniões são utilizadas para traçar nossos perfis, que também poderão ser vendidos para empresas interessadas em nos vender algo ou manipular uma situação.

E como memorizar tantas senhas? Recomendamos o uso de um “cofre” virtual, que nos ajuda a gerar e armazenar senhas de forma prática e segura. Para acessá-lo, é necessária uma senha e, a partir daí, ter acesso aos sites e serviços em que você tem cadastro. Alguns “cofres” disponíveis são o KeePassX e o LastPass

Quer saber mais?

Acesse o guia Autodefesa contra Vigilância no link ssd.eff.org/pt-br. Lá você encontra dicas, ferramentas e tutoriais para uma maior segurança na comunicação on-line.


Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

“Não sei mais o que fazer a não ser esperar por Deus”, diz Lula JUSTIÇA Ex-presidente desabafa e afirma ser vítima do maior “processo de mentira que este país já viveu” Frédi Vasconcelos

E

m depoimento à juíza Gabriela Hardt sobre as reformas num sítio na cidade de Atibaia (SP) que teriam sido pagas por construtoras, o ex-presidente Lula voltou a reafirmar sua inocência e se disse ofendido. “Não sei mais o que fazer a não ser esperar por Deus ou esperar que um dia este país tenha Justi-

ça, porque eu sou vítima do maior processo de mentira que este país já conheceu”. Lula cumpre prisão em Curitiba há sete meses, após ser condenado pelo ex-juiz Sergio Moro no processo do apartamento do Guarujá. Alega que o apartamento nunca foi dele e que, no caso atual, também nunca teve a propriedade do sítio reformado nem deu nenhuma vantagem a construtoras

em contratos da Petrobras, denúncia em que se baseia o processo. “Nem da Odebrecht nem do Vaticano. Porque o presidente da República não se mete nessas coisas da Petrobras, em qualquer contrato... Não é coisa de um presidente da República. É entre uma empresa estatal, pública, de economia mista, que tem ações na Bolsa de Nova York (e as empresas).”

BRASIL

11

Centrais sindicais fazem protesto contra mudanças na aposentadoria A

s nove maiores centrais sindicais do Brasil realizaram, na quinta-feira (22), um dia nacional de luta contra a reforma da Previdência e alterações nas regras de aposentadoria, com campanhas de panfletagem e rodas de bate-papo nos locais de trabalho. As centrais elaboraram um texto conjunto com os principais pontos contrários à ideia de precarização da Previdência apresentadas pelo governo Michel Temer (MDB) e pela equipe

de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Os sindicatos propõem mudanças em alguns eixos específicos para manter e fortalecer a Seguridade Social, que inclui a Previdência, a Saúde e a Assistência Social. A proposta inclui a manutenção do piso mínimo de benefício, políticas públicas de proteção do emprego e regras específicas para os trabalhadores rurais.

Anúncio


14 BRASIL 12

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018 Divulgação

Menos médicos:

Saída de profissionais cubanos pode gerar catástrofe na saúde

CONHEÇA MELHOR O PROGRAMA Atendimento de 29 milhões de pessoas está ameaçado Pedro Rafael Vilela De Brasília (DF)

C

ontrário ao programa Mais Médicos, implantado no país desde 2013, o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou por diversas vezes que queria mudar as atuais regras do programa, afetando o convênio do país com Cuba, que disponibiliza cerca de 8,5 mil médicos para atendimento de saúde nas regiões mais remotas do país e periferias das grandes cidades, onde a assistência médica era precária. Como resposta, o governo cubano se antecipou e rompeu, na semana passada, o contrato com o governo brasileiro. Com isso, os profissionais do país caribenho, que representam quase a metade do total de 18 mil médicos do programa, deverão deixar o Brasil até dezembro. Cerca de 29 milhões de pessoas poderão ficar sem atendimento médico nos próximos meses, segundo estimativas da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Os profissionais cubanos atuavam em todas as regiões

do país, em 2.857 municípios, e sua saída deve afetar especialmente os municípios do Norte e do Nordeste e as periferias das grandes metrópoles. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), a maior parte dos municípios onde os cubanos atuam tem 20% ou mais da população vivendo em extrema pobreza. Em 1.575 municípios, ou seja, 28% do total de municípios brasileiros, havia apenas médicos cubanos atuando pelo programa Mais Médicos. “Tirar essa quantidade de médicos hoje, em torno de 8 mil, é uma catástrofe sanitária. O que a gente vai ver é a fila dos pronto-socorros aumentarem, as poucas unidades onde vão continuar tendo médico vai aumentar ainda mais a demanda”, critica Thiago Henrique Silva,

A gente vai ver a fila dos pronto-socorros aumentarem”

médico de família e comunidade e membro da Rede Nacional de Médicos Populares. A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) lançaram uma nota conjunta apelando para o futuro governo que tente reverter a saída dos cubanos. Apesar dos apelos, Jair Bolsonaro reforçou as críticas aos médicos cubanos e disse que eles trabalham como “escravos”. Pesquisa recente mostrou que 85% das pessoas atendidas pelos médicos cubanos afirmaram que a assistência à saúde melhorou com o programa. Em relação ao salário recebido pelos cubanos para atuar no Brasil, Thiago Silva explica que eles não são profissionais liberais, mas sim funcionários de carreira de uma empresa estatal cubana, que repassa pouco mais de R$ 3 mil aos profissionais. O restante é reinvestido no sistema de saúde e educação de Cuba, que é totalmente gratuito para a população, e considerado um dos melhores do mundo.

Entenda as polêmicas e mitos em torno do programa Mais Médicos Revalidação de diplomas O Revalida é um exame que reconhece os diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem trabalhar no Brasil. A prova é feita tanto por estrangeiros formados em medicina fora do Brasil, quanto por brasileiros que se graduaram em outro país. No caso dos Mais Médicos, os profissionais podem trabalhar exclusivamente no programa por até 3 anos sem precisar prestar o exame, mas devem comprovar a formação médica.

Cuba exporta medicina Todos os médicos cubanos são funcionários públicos de uma empresa estatal do país. Cuba faz cooperação com 66 países do mundo, inclusive nações europeias. O trabalho começou de forma humanitária para vítimas de catástrofes naturais, como furacões que assolaram o Caribe ou tratamento de doenças como o ebola na África. Com o reconhecimento da excelência do trabalho desses profissionais, outros países começaram a pedir o serviço, mediante pagamento de contrapartidas financeiras ou materiais à Cuba, país que sofre há quase 60 anos com um bloqueio econômico apoiado apenas por Estados Unidos e Israel.

Reposição de vagas O governo já publicou um edital para repor as 8,5 mil vagas abertas com a saída dos cubanos. A reposição não é tão simples porque a maior parte dos médicos brasileiros não tem interesse de se fixar nas áreas mais necessitadas e remotas do país. No primeiro edital do Mais Médicos, em 2013, das 15 mil vagas oferecidas, apenas cerca de 2 mil foram preenchidas por brasileiros, por isso o governo teve de recorrer aos cubanos, que até agora ainda correspondiam à metade do contingente de médicos que atuam no programa.


Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

13 ENTREVISTA 15

“Na escola em que estudei, ricos ficavam no andar de cima e pobres nos porões” CONCEIÇÃO EVARISTO Escritora consagrada fala sobre militância, conquistas históricas e o preconceito contra autores negros Lis Pedreira

e você vê que na maioria das vezes não temos padrinho.

Juca Guimarães

A

escritora Conceição Evaristo é uma voz forte dentro da comunidade negra brasileira e uma autora consagrada mundo afora, que cada vez ganha mais prestígio. Perto de completar 72 anos, no próximo dia 29, ela traça um panorama sobre as barreiras impostas aos escritores e escritoras negras. No ano passado, a autora apresentou seu nome para ocupar a cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras, mas teve sua candidatura rejeitada em favor do cineasta Cacá Diegues. Confira a entrevista. Brasil de Fato - Por que há essa dificuldade em se vender a literatura negra no Brasil? Conceição Evaristo - O ra-

cismo que permeia as instituições brasileiras é muito cruel. Ficam no imaginário do brasileiro algumas competências para o sujeito negro. Acredita-se que ele sai-

Meu texto traz personagens relacionados à minha experiência enquanto mulher negra ba dançar, cantar, principalmente no caso das mulheres, cozinhar, mas acredita-se que as competências intelectuais, principalmente as literárias, não. Não se tem dificuldade em conhecer uma música negra brasileira, ou reconhecer que as culturas africanas influenciaram a música brasileira. Ou a culinária negra. Mas quando se trata da literatura, talvez porque ela use o maior bem simbólico da nação que é a língua, a escrita negra não é acreditada. Grande parte dos escritores negros nasce dos estratos populares

Como se dá a influência da questão racial na sua literatura?

Tudo que escrevo, tanto do ponto de vista literário, quanto [meus] ensaios e pesquisas, são profundamente marcados pela minha condição de mulher negra na sociedade brasileira. Então eu procuro trazer no meu texto personagens, homens, mulheres, crianças, ambientes, posturas de vida, acontecimentos relacionados com a minha experiência enquanto mulher negra, nesse ambiente de corpos africanos escravizados no Brasil. Como foi a sua infância? Qual era a sua percepção de racismo naquela época?

A minha infância foi a de uma família que tinha uma consciência sobre a questão racial. Não era elaborada em termos teóricos, mas a própria contação de história so-

bre a escravidão, a prepotência dos brancos sobre os sujeitos escravizados, isso já era indicativo, um conhecimento. Eu cresço em Belo Horizonte, vou estudar em uma escola pública, mas de classe média, que atingia um bairro de classe média e média alta, na Escola Barão do Rio Branco. Na favela onde eu morava havia duas escolas, mas eram escolas que deixavam a desejar. Então minha mãe nos matriculou em uma escola melhor. Essa experiência marca a minha percepção cruel do racismo e da condição racial, porque era uma escola de dois andares, e no segundo andar estudavam os meninos ricos. E ricos - ainda mais naquela época - era sinônimo de brancos. Nos porões da escola estudavam os alunos pobres. E como foi na adolescência?

Na juventude eu conheço alguns movimentos negros de Belo Horizonte, tinha um movimento que era organizado por uma família negra e as reuniões aconteciam na casa deles. Tinha a Associação do José do Patrocínio, que também era um grupo que pensava a questão racial. Aí eu venho para o Rio de Janeiro em 1973, faço concurso para magistério. Em 1976 entro na Faculdade de Letras. A quantida-

Dia da consciência negra coloca Zumbi no panteão dos heróis brasileiros

de de alunos negros era bem pequena. Como foi esse levante do movimento negro no país no final dos anos 1970?

No final dos anos 1970 há uma grande efervescência das pessoas no Rio de Janeiro. Teve a fundação do IPCN, o Instituto das Pesquisas das Culturas Negras. Conheço vários militantes que foram fundamentais na formação desse movimento, conheço Lélia Gonzales, uma intelectual negra importantíssima e uma das fundadoras do MNU. A senhora foi candidata neste ano a uma vaga na Academia Brasileira de Letras e infelizmente não foi eleita.

A ABL, como muitas instituições brasileiras, tem o perfil da sociedade brasileira. Uma sociedade que provoca suas exclusões.

Escrita negra não é acreditada Qual o grande mérito do Dia da Consciência Negra?

O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, nasce como Dia do Zumbi e ganha esse nome no Rio de Janeiro, quando na véspera do dia, em reunião no IPCN, Paulo Roberto, um dos militantes, escreve: “Amanhã é o dia da consciência negra”. Então esse nome foi sendo divulgado. Acho que o grande mérito foi levar à sociedade brasileira um dia provocativo. E coloca também Zumbi, inclusive, no panteão dos heróis brasileiros, como foi Tiradentes, Frei Caneca e João Cândido.


14 VARIEDADES 14

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

CIÊNCIA, COISA BOA! É CORRETO FALAR EM RAÇAS HUMANAS?

Reprodução

Amiga da Saúde Toda vez que tenho relação sexual tenho um leve sangramento depois. Preciso me preocupar? Jordânia Silva, 38 anos, cuidadora de idosos

Todo ano é a mesma coisa. Basta chegar o dia da consciência negra para ouvir o clichê de que “precisamos é de um dia da consciência humana”. E argumentos biológicos para justificar que “somos todos iguais”. Tal discurso ingênuo joga lenha na potente fogueira do racismo brasileiro. A biologia usa o termo “raça” como uma categoria de classificação dos seres. A vida é dividida em reinos, classes, espécies... Raça, para os biólogos, é um subnível de classificação, também chamado de subespécie. Por exemplo, cães são uma subespécie de lobos. Para falar em raças biológicas é preciso haver uma diferença genética significativa entre grupos dentro de uma mesma espécie. Nem tão grande que impeça o cruzamento entre eles, e nem tão pequena que não cause grandes diferenças físicas. Nos humanos não há variação genética que justifique o uso do conceito biológico de raça. Geneticamente, somos uma das espécies mais uniformes do planeta. Isso se deve ao fato de que, em algum momento da nossa história evolutiva, quase fomos extintos. Isso mesmo! Há cerca de 70 mil anos, uma grande erupção do vulcão Toba, na Indonésia, nos reduziu a menos de 10 mil indivíduos. Ou seja, os mais de 7 bilhões de humanos vivos hoje descendem desse pequeno grupo que encheria um estádio como o Mineirinho. Graças a esse dramático episódio é possível achar mais semelhanças genéticas entre uma chinesa e um tupi-guarani do que entre, por Há mais exemplo, dois escoceses. Veja bem, há mais didiversidade versidade em um grupo de 55 chimpanzés do genética em que em toda a população humana! um grupo de 55 As diferenças de cor, traços faciais e textura do chimpanzés do cabelo que geralmente diferenciam as pessoas em raças surgem de uma ínfima porção de nosque em toda a so DNA. E mesmo sendo tão próximos e parehumanidade cidos, isso não foi suficiente para impedir que europeus escravizassem durante séculos povos africanos. Nem para evitar o surgimento do nazismo. Ou para impedir que israelenses levassem à beira da extinção o povo palestino. Usar o termo “raça” e consequentemente criar um dia da consciência negra se justificam, pois, o conceito aqui não é biológico, e sim social. Se pra biologia não faz sentido falar em raças humanas, para as ciências sociais faz. E muito. Pois a raiz do racismo é econômica, política e social, e não biológica. Enquanto nossas enormes desigualdades sociais persistirem, enquanto nossas elites considerarem alguns mais humanos que outros, seguirá necessário lembrar que, infelizmente, ainda somos muito diferentes. Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais

Precisa sim, Jordânia. O sangramento após a relação sexual (pós-coito) pode ser sinal de algum problema. Entre as possíveis causas estão as infecções, o ressecamento da vagina (que resulta em lesões com a penetração), doenças sexualmente transmissíveis, câncer, entre outras. Você precisa procurar um médico (preferencialmente ginecologista), para fazer uma avaliação e tratar esse sangramento. Aproveite para atualizar também o exame Papanicolau (preventivo para câncer de colo uterino), caso não tenha feito no último ano. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf.

Nossos direitos Crime de Injúria Racial e Racismo Nesta semana foi comemorado o dia da Consciência Negra, uma data importante para toda a população refletir sobre a importância de enfrentar o racismo, ainda tão forte no país. Além da conscientização, o Estado também criou uma política criminal de punição de atos de ofensa e discriminação racial, reconhecendo o racismo e a ofensa racial como crimes. Por isso, se você ou algum conhecido passar por estas situações é importante denunciar, pois a de-

núncia é um instrumento para dar visibilidade às tensões raciais existentes no país. O primeiro passo é reunir provas do ocorrido, os dados principais do agressor (nome, endereço, telefone) e de alguma testemunha, se houver. O segundo passo é registrar a ocorrência em alguma Delegacia de Polícia. Portando a cópia da ocorrência e seus documentos, compareça à Defensoria Pública para que sejam tomadas as demais medidas judiciais.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

VARIEDADES 15 15

www.malvados.com.br

Dicas Mastigadas TORTA FANTASIA Reprodução

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br São demarcadas pela Funai (?)-se: pedir desculpas Polígono de nove lados (Geom.) É formado por bois e novilhos

© Revistas COQUETEL

Ser mitológico como Ariel (Cin.) Peças trocadas no pitstop (autom.)

Susana Naspolini, jornalista e repórter

Cantora americana de "Love Sex Magic"

Sugestão Anuro usado em sopas

Força a expulsão do muco nasal Local das travas na chuteira de futebol BANCO

Consequência de calçados apertados

Tribo que devorou o bispo Sardinha

O último imperador romano

Aquele que transfere o domínio

Ingredientes (?) Shuai, tenista chinesa Ao acaso

(?)-Bretanha, ilha britânica Nornordeste (abrev.)

Apelido de "Manuela" Abrigo do De novo, tatu e do em inglês coelho

Sucesso de Milton Nascimento SobrescriConteúdo tar

Pertencente a ti Símbolo olímpico

• • • • • • • • • • • • •

Metal de antigas obturações (símbolo)

Afasta-se Isso, em espanhol Comitivas ferroviárias (bras.)

Ted Turner, magnata da mídia (?) Batista, locutor

2 ovos 2 colheres de manteiga 1 xícara de leite 250 gramas de farelo de trigo 1 cebola 300 gramas de frango ou carne desfiada 1 colher cheia de fermento em pó 1/5 de um brócolis 1 cenoura pequena 1 copo de milho verde (de preferência não enlatado) 1 copo de queijo (parmesão ou mussarela) Chia e gergelim a gosto Sal a gosto

3/eso. 4/peng. 5/again — ciara. 9/alienante.

59

Modo de preparo

Solução

No liquidificador, junte ovos, manteiga, leite, cebola, e sal a gosto. Bata tudo até virar um “creme”. Em uma vasilha, despeje e acrescente o farelo de trigo e o fermento em pó. Deixe descansar um pouco para hidratar o farelo. Depois, unte uma assadeira e coloque metade da massa. Cubra com os galhos do brócolis, rodelas de cenoura, milho e o frango desfiado. Cubra com o restante da massa e polvilhe o queijo, orégano, chia e gergelim. Leve ao forno a 180ºC por 30 minutos ou até o garfo sair limpo.

Participe enviando sugestões para redacaomg@brasildefato.com.br.

N C P G

A R E A S I N D I G E N A S

T E T R A N E A G D O V A E R E I R S N E U S Ç I D A R A R Ã P S A I E T R S S O A O L A

M T A O N C U A A C A L E I T E E N A E N T L E

R O M U L O A U G U S T O


16

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

ESPORTES

16

DECLARAÇÃO DA SEMANA Observatório da Discriminação Racial no Futebol

Pedalando pela vida das mulheres Domingo (25) é o Dia Internacional pelo Fim da Violência contra a Mulher. Em Belo Horizonte, mulheres organizam um passeio de bike pela cidade. O objetivo é dar visibilidade à pauta e dizer não às agressões que sofrem diariamente dentro de casa, nas escolas, universidades, no mercado de trabalho, no espaço público. O ato começa às 8h30,

com café da manhã, aula de Yoga e aplicação de stencil. A pedalada tem início às 10h. Onde Casa de Referência da Mulher Tina Martins. R. Paraíba, 641. Funcionários, BH Informações goo.gl/6LUfT8

“Há mais denúncias de racismo no futebol. O pacto de silêncio foi quebrado” Marcelo Carvalho, idealizador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, organização que monitora e divulga casos de racismo, além de promover ações educativas sobre o tema.

Gol de placa A Seleção Brasileira de tiro esportivo conquistou a primeira colocação do Aberto Internacional da modalidade, entre os dias 12 e 18 de novembro, na cidade de Cali, Colômbia. Os brasileiros subiram ao pódio 18 vezes, faturando 9 ouros, 5 pratas e 4 bronzes.

Gol contra 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. O futebol é um dos ramos onde mais negros conquistaram o reconhecimento como grandes craques. Porém, em postos de comando, ainda há um longo caminho a percorrer: não há nenhum treinador negro à frente de times das séries A ou B do Brasileirão.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

Apesar da vergonhosa derrota de 4 a 0 para o Palmeiras, sem dar uma finalização sequer ao gol adversário, o América ainda tem chances reais de escapar do rebaixamento. Se vencer o Bahia em casa e o Fluminense fora, times que provavelmente jogam sem qualquer pretenDecacampeão são no campeonato, é bem provável que fique na Série A de 2019, tendo em vista que concorrentes diretos têm jogos mais difíceis e não deverão chegar a 43 pontos. Givanildo Oliveira, o técnico mais vitorioso da história do América, já salvou o time de ser rebaixado para a Série C em 2014 e comandou o time em três acessos. Se operar mais esse grande feito, vai fortalecer seu posto na categoria dos grandes ídolos americanos.

Burro com sorte. Levir fez valer essa alcunha, na vitória de 2 a 1 sobre o Inter. O Galo, sob seu comando, chegou ao terceiro triunfo seguido, ficou mais perto da Libertadores e acabou com a invencibilidade do adversário em Porto Alegre. Visivelmente, a equipe melhorou É Galo doido! com o treinador. Cazares renasceu das cinzas. Mas como explicar os gols perdidos por Leandro Damião, quase debaixo das traves? O comandante atleticano, pelo visto, é realmente um predestinado. O drama continua, com peso menor nas costas. Faltam os jogos contra o Santos (fora) e Botafogo (em BH), dois times já fora da luta pela vaga no torneio continental. O maior desafio será montar um elenco competitivo para 2019.

Salve, salve, nação azul! Há algumas semanas, escrevi que Fred poderia ser a novidade nesse fim de temporada. Na quarta (21), ele balançou as redes duas vezes contra o Vitória e deixou o campo confiante pela recuperação do joelho. TalvezLa a expectativa que tínhamos paBestia Negra ra este ano seja satisfeita em 2019. Tomara que estejamos assistindo a um ensaio dos muitos gols que Fred fará. Outro destaque foi o lateral Patrick Brey, que mostrou ter condições de seguir no elenco e ser peça importante em 2019. Domingo (25) é dia de despedir do Mineirão em 2018. Nada melhor que um clássico contra o Flamengo para fecharmos o ano em que o Brasil sonhou com o Hexa, mas só nós ganhamos a 6ª estrela. Saudações!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.