Edição 250 do Brasil de Fato MG

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Divulgação / TSE

Minas Gerais

Divulgação

Voto nulo não anula nada

Literatura e paixão nacional

Artigo: quem não escolhe ninguém corre o risco de ajudar o pior candidato

Se você gosta de ler e também gosta de futebol, veja algumas dicas

OPINIÃO 7

ESPORTE 15

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro de 2018 • edição 250 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

CRISE DE MINAS VEM DE LONGA DATA

Gil Leonardi / Imprensa MG

Há anos o estado arrecada menos do que gasta. Renúncias fiscais e Cidade Administrativa são alguns dos problemas herdados. Economista aponta: sem rever privilégios de grandes empresas, é praticamente impossível enfrentar os problemas I MINAS 5 Agência Senado

Trabalho doméstico daria 10% do PIB Dos 20 aos 85 anos, brasileiras passam 4 horas por dia realizando tarefas de casa, como limpeza e cuidados ENTREVISTA 11

Independência a conquistar 7 de setembro: Grito dos Excluídos sai às ruas anunciando que não há pátria livre onde impera a violência CIDADES 4


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

Editorial | Brasil

O impeachment antes da eleição

ESPAÇO DOS LEITORES “Acredito na agroecologia, porque foi a agroecologia que preservou a Amazônia. Os povos antigos praticavam e conseguiram se manter, quem não vai gostar são as empresas de produtos químicos e farmacêuticos” Vera Lu Cruz comenta a coluna de Ciências: “A Agroecologia tem base científica (Parte 1)?” __________ Os que apoiam Lula não podem perder a união após a decisão do TSE. O Judiciário favoreceu a direita tentado tirar a força do movimento que ressurgiu em torno do Lula após o golpe parlamentar. A direita está assustada com essa força que levará Lula de volta à presidência Waldir José Franco comenta a matéria do site do Brasil de Fato: “Defesa de Lula diz que decisão do TSE viola Lei das Eleições e promete ir “até o fim”” __________ “Enquanto houver “Farsa Jato” não vai haver Democracia, nem poesia” Ana Maria comenta a entrevista com Tom Zé, realizada pela Radioagência Brasil de Fato: “Ô meu deus, eu só queria um país normal

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

Dois anos atrás, Dilma, eleita com 54 milhões de votos, foi removida do poder através de um impeachment sem crime de responsabilidade. Em 2018, o impeachment vem antes da posse e mesmo antes do pleito. O golpe, aqui, é desferido pelas mesmas forças que depuseram Dilma, porém contra Lula. Sua prisão, depois de processo que confirma a crítica à seletividade, velocidade e desrespeito a valores básicos da Constituição, só aconteceu para impedir que vença já em primeiro turno. É o que, aos poucos, fica claro até para alguns daqueles que se iludiram com as ruas verde-amarelas e os atos de “combate à corrupção”. O absurdo é ainda maior graça ao papel da imprensa empresarial que

Caminho para barrar retirada de direitos é votar Lula/Haddad perdeu qualquer pudor e esconde os detalhes mais reveladores da situação de nítida perseguição. Desprezou, por exemplo, os gestos do Papa Francisco ao revelar sua simpatia por Lula. Procurou desacreditar o comitê das Nações Unidas que afirmou o direito do ex-presidente de concorrer. Ocultou – e prossegue ocultando – as manifestações de juristas, políticos, chefes de estado, intelectuais e artistas de todo o mundo a favor de Lula. Sonegou as imagens da grande marcha que coloriu Brasília de vermelho para registrar sua candidatura. Menos mal que, como apontam as pesquisas, o conluio entre mí-

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

dia, judiciário e poder econômico, com seu punitivismo seletivo, estão perdendo credibilidade. A ponto de não conseguirem impulsionar o candidato de sua preferência, hoje sob risco de não alcançar o 2º. turno. São dias decisivos Os golpistas perseguem a principal candidatura de esquerda, porém não apagam o fato: os trabalhadores querem um candidato preo-

Imprensa empresarial e Judiciário atuam com punitivismo seletivo cupado com questões sociais. O Judiciário segue manobrando, mas a população trabalhadora deve fazer valer os seus direitos. Quem quiser ficar buscando alternativa à polarização, e uma terceira via, pode buscar, mas estarão desconsiderando a realidade concreta, e o caminho possível para derrotar o golpe. Se quiserem achar que as eleições são só mais um embate, e que podemos nos dar ao luxo de correr o risco de um segundo turno entre neoliberalismo e fascismo, saibam que podem estar ajudando a cimentar longos e sombrios anos da ditadura neoliberal, midiática e Judiciária. Pelos nossos direitos, pela democracia e pelo futuro do país, é preciso fazer contra os candidatos da base de sustentação de Temer (Alckmin, Bolsonaro, Marina, Meirelles) e pela chapa Lula/Haddad/ Manuela.

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? PERGUNTA DA SEMANA

Dia 7 de setembro comemora-se a Independência do Brasil. Em 1822, o príncipe Dom Pedro I dá o “grito de independência” e passa a ser conclamado imperador do Brasil. Muitos pesquisadores dizem que a independência foi uma maquiagem, e que o reinado continuou sob o nome de “Império”. Pensando agora nos dias atuais:

Você acredita que o Brasil é independente?

O Brasil é independente. Desde os tempos passados o que falta é direção. O povo não está nem podendo mais acreditar na Justiça. Se a direção fosse boa, o Brasil podia ser independente em tudo. Antonio Miranda, aposentado

Não acho. Nós passamos por muita desigualdade, falta de emprego, falta muita qualidade de vida. Deveria ser melhor também na educação e na saúde. Isso que poderia fazer que o nosso país fosse independente.

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GERAL

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Tomaz Silva / Agência Brasil

Declaração da Semana Se eles pudessem, nos queimavam junto com as paredes do museu, com o prédio em si, com as salas de onde D. Pedro II reinou, com os corredores por onde transitaram os feitores da primeira constituição da república, se eles pudessem, nos queimavam”

declarou Rui da Cruz Jr, servidor do Museu Nacional do Rio do Janeiro, em um poema feito em homenagem ao local, destruído em um incêndio no último dia 2

Arraiá de Minas leva prêmio nacional R. Moreira / Divulgação

Vani Olinda Fernandes, vendedora ambulante

O Grupo de Quadrilha São Gererê venceu o Concurso Nacional de Quadrilhas de 2018. Esta é a primeira vez que um grupo mineiro leva o título nacional para casa. A agremiação também foi premiada nas categorias individuais de melhor figurino, repertório e marcador. O São Gererê trouxe para o tema da quadrilha de 2018 o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Em novembro o crime completa três anos. O Concurso Nacional de Quadrilhas aconteceu no último dia 26, em Boa Vista (RO).

Arrecadação de brinquedos para o HC

Lucas Braga / UFMG

O Hospital das Clínicas da UFMG está arrecadando brinquedos e livros infantis para construir uma brinquedoteca. A iniciativa é do Departamento de Pediatria da instituição. As doações podem ser entregues até o dia 30 de outubro, no saguão da Faculdade de Medicina da UFMG. O endereço é Avenida Alfredo Balena, 190, em Belo Horizonte.


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CIDADES

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

Grito dos Excluídos denuncia o golpe, a violência e o regime de privilégios no Brasil 7 DE SETEMBRO Manifestação agrega movimentos populares, pastorais sociais e sindicatos em todo o Brasil Divulgação

Larissa Costa

“O

Grito é um desabafo de quem está querendo gritar e não tem ninguém para escutar”, resume Carlos Silva, da Pastoral Metropolitana dos Sem Casa. Carlos é um dos organizadores do 24º Grito dos Excluídos, uma manifestação nacional que envolve pastorais, movimentos populares, partidos e sindicatos. “O Grito é um espaço de mobilização dos setores das igrejas, não só da católica, já que nos últimos anos a gente tem conseguido aderir outras igrejas. É um espaço onde as pessoas se sentem li-

Desigualdade gera violência: basta de privilégios” é o tema do 24ª edição do Grito plo, no extermínio da juventude negra, de indígenas e quilombolas. vres para trazer suas pautas, o que acaba envolvendo outros públicos”, explica Laísa Campos, da Cáritas Minas e uma das organizadoras do evento. Com o tema “Desigualdade gera violência: basta de privilégios”, o Grito deste ano promove um debate em torno

de três eixos, que envolvem o contexto de perda de direitos e de ataque à democracia. Há também uma reflexão sobre os setores que são privilegiados com a exclusão no país, como as elites empresariais e a violência estrutural do Estado, materializada, por exem-

Por que gritar? Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada no dia 30 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego continua alarmante. São 12,9 milhões de pes-

soas à procura de trabalho no Brasil. A isso se soma àa reforma trabalhista, que abriu as portas da terceirização irrestrita, e a Emenda 95, que congelou investimentos sociais. “Quem paga isso são os menos favorecidos”, ressalta Carlos. Há 25 anos, ele luta em defesa do direito de moradia digna para todos. E é também por isso que a Pastoral dos Sem Casa se soma ao Gri to dos Excluídos. Grito em BH A manifestação está agendada para sexta, às 9h, na Praça da Rodoviária. Durante a caminhada, que seguirá até a Praça Sete, haverá shows e apresentações culturais e artísticas.

Projeto de Conselho LGBT é perseguido em Itaúna, afirma advogado DIREITOS HUMANOS Iniciativa está parada na Câmara e sem perspectiva de análise do Legislativo Reprodução

Raíssa Lopes

Legislativo. Movimentos populares atribuem a situação a uma perseguição de pastores e demais congregações religiosas. “Eles estão fazendo uma pressão muito grande nos ve-

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cidade de Itaúna, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vive um impasse em relação à criação do Conselho LGBT. De um lado, estão movimentos populares e organizações de direitos humanos, que acreditam que o município deve avançar no debate dessas questões. De outro, estão religiosos, que se dizem contra a medida e pressionam para que ela seja arquivada. Em janeiro, foi enviado à Câmara de Vereadores o primeiro projeto do Conselho, resultado de conversas entre psicólogos, professores, juristas, jornalistas, e outros gru-

pos. Em abril, após um parecer do vereador Joel Márcio Arruda (PSD), da Renovação Carismática Católica e membro da Comissão de Finanças e Orçamentos da Casa, a proposta foi barrada. O parecer alegava que o projeto do Conselho possuía “falhas técnicas orçamentá-

rias graves” e que geraria a “criação de despesas, sem previsão de receitas”. Um segundo projeto, de autoria do próprio prefeito Neider Moreira (PSD), foi protocolado em julho com as alterações requeridas. No entanto, o documento segue parado e sem perspectiva de análise pelo

Minas é o segundo estado na lista de maior ocorrência de casos de violência contra LGBTs e Conselho quer transformar essa realidade

readores”, diz o advogado Júnior Capanema, um dos criadores e desenvolvedores da ideia do conselho. O que é o conselho? Minas é o segundo estado na lista de maior ocorrência de casos de violência contra LGBTs no Brasil, segundo o Grupo Gay Bahia. O objetivo do Conselho, como explica Júnior Capanema, é transformar essa realidade por meio da informação, com políticas públicas para pessoas LGBT. Resposta Até o fechamento desta edição, a equipe do vereador Joel Márcio Arruda não hava respondido à reportagem.


Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

MINAS

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Situação financeira do estado é tema central da campanha para governador PERDAS Lei que isenta grandes empresas de ICMS é um dos grandes vilões da crise fiscal Divulgação

Wallace Oliveira

Reprodução

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nquanto as economias de Minas e do Brasil cresciam, o problema parecia estar sob controle. Na crise, multiplicam-se as dificuldades com custeio da máquina, atrasos e parcelamentos de salários, cortes em políticas públicas. Em 2015, logo após assumir, o governador Fernando Pimentel (PT) promoveu uma análise intitulada “Diagnóstico MG”. O estudo mostrou o crescimento da dívida pública estadual nas gestões tucanas, entre 2007 e 2014, além de 497 obras paradas, sucateamento das escolas, baixo investimento em tecnologia e um gasto anual de R$ 120 milhões para custear a Cidade Administrativa, cuja construção dispendeu R$ 1,3 bilhão.

Fernando Pimentel realizou um diagóstico sobre o crescimento da dívida pública

Na época, o senador Aécio Neves (PSDB) taxou a auditoria de “encenação” e disse: “quem dirige olhando pelo retrovisor corre o risco de bater forte”. Hoje, olhando pelo retrovisor, o candidato Antonio Anastasia (PSDB) diz que a culpa é do governo Pimentel. Este, por sua vez, atribui o caos financeiro às gestões tucanas. A maior parte da im-

prensa mineira diz que a culpa é dos servidores ativos e inativos. Para economistas, a solução do problema passa, entre outras coisas, pelo fim de renúncias fiscais que comprometem a economia e a saúde financeira de Minas. Problema antigo Dados da Secretaria da Fa-

Para economistas, a solução do problema passa pelo fim de renúncias fiscais que comprometem a saúde financeira de Minas zenda indicam que, nas últimas duas décadas, o orçamento do estado só não fechou no vermelho em 2004, 2005 e 2008 –descontadas as operações de crédito. Desde 2013, a diferença entre despesa e receita está na casa dos bilhões. Para 2018, a Assembleia Legislativa apro-

vou orçamento com déficit de R$ 8 bi e, para 2019, R$ 5,6 bi. A principal fonte de arrecadação com tributos é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Danilo Militão, diretor do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais (Sindifisco-MG), afirma que, entre janeiro de 2014 e abril de 2018, a receita do ICMS mineiro cresceu 30%. “O problema não está na receita, mas na parte dos gastos”, avalia. A economista Eulália Alvarenga, da Auditoria Cidadã da Dívida, aponta que os governos contabilizam como gasto de pessoal as despesas com terceiros, serviços de consultoria, locações e outros, gerando a falsa impressão de que a culpa é do servidor.

Menos R$135 bilhões em 20 anos RENÚNCIA Segundo a Fundação João Pinheiro, esse foi o montante que Minas deixou de arrecadar depois da Lei Kandir Mídia NINJA

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ara a economista Eulália Alvarenga, uma grande fonte de perdas é a Lei Complementar 87/1996, conhecida como Lei Kandir. Aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), essa norma liberou empresas que exportam bens primários e semielaborados de pagarem o ICMS. Passados 20 anos, estados estão endividados, o setor industrial encolheu e o país depende cada vez mais da exportação de mercadorias de baixo valor agregado – as chamadas commodities – cujos preços caíram nos últimos anos. “A Lei Kandir gerou um prejuízo para as finanças do estado e para a

economia. Deixa-se de incentivar a industrialização, que gera valor agregado ao produto mineiro, e o estado perde recursos que eram tributados”, acrescenta Danilo Militão, do Sindifisco-MG. Minas deixou de arrecadar mais de R$ 135 bi-

lhões em 20 anos, de acordo com a Fundação João Pinheiro. Por outro lado, o estado tinha uma dívida de R$ 87 bilhões com a União e, todo mês, desembolsa mais de R$ 400 milhões para saldar esse débito. Em 2003, uma Emenda consti-

Se União pagasse compensação, Minas passaria de devedora para credora

tucional (42) previu compensações aos estados pelas perdas. Em 2016, o Supremo estipulou um prazo de 12 meses para que o Congresso regulamente os repasses do governo federal. Se isso ocorresse, com o abatimento dos débitos, Minas ainda passaria da condição de devedora a credora da União. Essa e outras renúncias fiscais são o principal vilão da crise financeira do estado e jogam o peso nas costas da população. “Há renúncias que foram dadas para grandes empresas, sem benefício nenhum para a sociedade”, conclui Eulália Alvarenga.


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

Opinião

A democracia pode perder a eleição João Paulo Cunha A elite brasileira sempre detestou o povo, o que não é novidade. No entanto, tinha como álibi para seu ódio de classe a defesa teórica da democracia. Definida como governo do povo, pelo povo e para o povo, a democracia brasileira sempre foi o último bastião dos canalhas. Nossa democracia autoritária e elitista teve sua origem apenas com a vez e a voz de proprietários, homens e brancos. À medida que a roda da história ampliava a participação em direção à realidade social, foram sendo aprimorados os mecanismos de controle, de modo a permitir o voto, mas não o poder. O desprezo às formas de democracia participativa tem seu fundamento nesse enredo. Nesse cenário, nada mais radical que a simples democracia. E é o pavor da democracia que faz da atual campanha eleitoral o momento mais crítico dessa trajetória histórica de mentiras. A democracia defendida pela ideologia conservadora se esmerou em extirpar todas as possibilidades reais de participação, mas precisava, até para manter minimamente sua

A democracia conservadora tirou todas as possibilidades reais de participação, mas precisava defender as eleições livres. Agora nem isso coerência e aceitação no contexto mundial, defender as eleições livres. Agora nem isso. As eleições, depois das vitórias seguidas do PT, apontavam para uma alteração dos projetos da elite brasileira. Depois de tentar impedir a governabilidade, em manipulações jurídicas criativas e campanhas midiáticas indisfarçáveis, chegou a hora de jogar abertamente contra as regras do jogo. As eleições de 2018 estão desenhando um cenário abertamente antidemocrático, no

sentido forte da palavra. Todo candidato que minimamente desafiar o esquema será imediatamente perseguido pelo aparato “legal”, secundado pela imprensa comercial. A eleição não está sendo livre, portanto, não é democrática. Toda proposta que implicar distribuição de renda, investimento social e defesa do patrimônio público será codificada como corrupta. Toda pesquisa de intenção de voto que apontar a preferência popular será descaracterizada ou mesmo engavetada, como se viu recentemente com o Ibope. A elite brasileira sempre detestou o povo, mas brincava de democracia. Agora parece não fazer questão de esconder seu ódio. Derrubar presidentes parece ter se tornado fácil demais. Empunhar o cabo do chicote a partir da Justiça se mostrou uma estratégia vitoriosa. Se a vida política brasileira não se aprofundar em sua inspiração original e emanar dos interesses populares, inclusive na capacidade de resistir com a força necessária, é a democracia como valor que estará sendo derrotada.

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Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018 Divulgação /CFM

OPINIÃO

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Liliam Daniela dos Anjos

Voto nulo não anula eleição

Vote em candidato que defenda o SUS Desde que a Constituição Federal de 1988 reconheceu a saúde como direito e foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), a principal batalha dos militantes da saúde coletiva tem sido seu financiamento e sua total implementação. Mas, em tempos de golpe, a pressão agora é para reduzir seu tamanho e priorizar os planos privados de saúde. Mas será que isso é bom para a população? Os pesquisadores e professores da área dizem que não e que, apesar das dificuldades do SUS, ele é responsável pelo atendimento de 75% da população brasileira, além dos serviços coletivos que presta à população, como a vigilância sanitária e a vacinação. E mesmo com o subfinanciamento, ele consegue atender, o que muito plano de saúde não faz. Não falta noticiário para produzir notícias sobre mau atendimento do sistema público, desqualificando o SUS e alimentando a ideia de que plano privado é melhor. A questão é que grande parte dos planos privados não atendem à maioria da população, seja pela baixa qualidade do serviço, seja pelo alto custo. O fato é que, na ponta, quando o já magro investimento no SUS é congelado e o sistema é reduzido, como ocorre desde o golpe de 2016, os resultados negativos aparecem: pesquisadores apontam o crescimento das taxas de SUS atende 75% mortalidade infantil em 2016 e 2017. da população Com a redução e o congelamento de investimentos na saúde realizado pelo governo golpista de Temer, a perspectiva é de piora, com o aumento de pessoas que deixarão de ter planos de saúde por causa do desemprego. É mais gente para usar o SUS. O modelo é bom, mas precisa de investimento. Está na hora de escolher bem em quem você vai votar, para todos os cargos - deputado estadual, federal, governador, senador e presidente. Não vote em quem não defende o SUS. Lúcia Azevedo é jornalista e atua na Frente Brasil Popular

Liliam Daniela dos Anjos é cientista política e militante da Consulta Popular

Na edição 190 ...

ACOMPANHANDO

Lúcia Azevedo

É só começar o período eleitoral que surgem campanhas pelo voto nulo, sugerindo à população que um percentual maior que 50% de votos nulos anulariam as eleições e, portanto, essa seria uma forma de demonstrar a insatisfação do eleitor. Isso não é verdade. Pela Lei Eleitoral (9504/1997), votos nulos e brancos são considerados inválidos e não entram na contagem de votos que definem os vencedores das eleições. Desta forma, se um percentual considerável de eleitores votarem branco ou nulo, esses votos não serão contabilizados e os eleitos serão definidos pelos votos válidos. Uma proporção significativa de votos nulos e brancos pode, inclusive, beneficiar quem está mais bem posicionado na disputa, já que necessitariam um número menor de votos para se eleger. O fato de não anular eleição não significa que não devemos refletir sobre por que um número expressivo de pessoas pretende anular o voto. Pesquisas apontam que 40% da população vote nulo, em branco ou abstenha-se nas eleições para a presidência em 2018. O número reflete o desencantamento da população que não se vê representada nas instituições políticas compostas, em sua maioria, por homens brancos e ricos que votam, quase sempre, para retirar direitos dos trabalhadores. A situação ficou ainda pior após o golpe de 2016 que colocou Voto nulo pode no poder um presidente sem beneficiar quem votos e promoveu, em cur- está na frente to espaço de tempo, medidas que pioraram a vida da população. É sempre bom lembrar que o voto no Brasil é um direito conquistado com muita luta. Até muito pouco tempo atrás, votar era privilégio de alguns. No cenário atual, votar não pode ser apenas uma ação isolada, mas uma ferramenta para contribuir para as mudanças de que o Brasil precisa.

Artistas de rua querem regulamentação do trabalho E agora... Lei é sancionada Depois de grande mobilização dos movimentos da cultura, foi aprovada a lei que autoriza a livre manifestação e o acesso à arte nas ruas e praças de Belo Horizonte. A partir de agora, podem ser realizadas apresentações de música, circo, teatro, dança, entre outras. As atividades devem seguir normas sobre a fluência do trânsito e circulação de pedestres, além de gratuidade para os espectadores e respeito ao meio ambiente. Para a apresentação dos artistas, é exigido apenas que a prefeitura seja comunicada previamente.


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BRASIL

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

Museu Nacional era um dos 3.700 do Brasil que sofrem com ajuste fiscal HISTÓRIA Pesquisadoras ressaltam importância dos equipamentos para construção de consciência crítica e futuro do país Tomaz Silva / Agência Brasil

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diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, afirmou que o incêndio do último dia 2 causou um “dano irreparável” ao acervo e às pesquisa nacionais. O Museu Nacional do Rio reunia um acervo de mais de 20 milhões de itens de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas, havia ainda esqueletos de dinossauros e várias peças de arte.

EBC

Brasil possui 3.700 museus, sendo 65% públicos Em meio a um contexto de ajuste fiscal, as instituições enfrentam dificuldades. De acordo com a dirigente, os museus contam, muitas vezes, com a ajuda de empresas estatais, como a Petrobras, o BNDES e a CEF, tradicionais parceiras

Estão implodindo os Correios para privatizar

Uso do agrotóxico glifosato é liberado pela Justiça Reprodução

Divulgação

O

Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), aceitou, na segunda-feira (3), recurso contra liminar da Justiça Federal que suspendia

Marcos Rogério Inocêncio

O

s Correios estão passando pelo pior ataque desde a sua fundação, há 357 anos. A maior e mais lucrativa empresa de serviços postais do mundo (faturamento de R$ 18 bilhões/ano) está na mira da privatização. Agências próprias sendo fechadas. Frota e estrutura sucateadas. Já tivemos 140 mil funcionários. Hoje, 106 mil. A meta

de programas que apoiam o patrimônio histórico. Ao todo, o Brasil possui mais de 3.700 museus, sendo 65% deles públicos, entre os quais 456 são federais. Em 2016, o Instituto Brasileiro de Museus, que gerencia 30 desses equipamentos, executou um orçamento de cerca de R$ 85,5 milhões e, em 2017, o valor caiu para R$ 78,9 milhões. A lista completa de equipamentos existentes no país consta no endereço museus. cultura.gov.br/

é reduzir para 88 mil. Estão terceirizando a mão de obra, em condições precárias, os funcionários são trocados a cada três meses. Os trabalhadores dos Correios estão há anos sem aumento real, sofrem perseguição e assédio dos políticos nomeados por Michel Temer (MDB), para forçar a demissão. Impedir mais essa irresponsável privatização é nossa obrigação enquanto trabalhador e cidadão. Os Correios são um patrimônio de todos nós, brasileiros.

o registro do glifosato e demais agrotóxicos até a conclusão da análise de toxicidade pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com a decisão, os

agrotóxicos voltam a ter o uso liberado nas plantações brasileiras. Para Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a queda da liminar representa um risco para a população. “A Organização Mundial da Saúde classifica o glifosato como um agrotóxico provavelmente cancerígeno, o que indica que já existem pesquisas sólidas o suficiente para associá-lo ao câncer”.

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CNPJ - 31.243.441/0001-48

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a luta n e r p m e S rania pela sobe nacional! COLIGAÇÃO JUNTOS COM O POVO: PT/PCDOB/PSB/PR/DC

PT

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Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

ELEIÇÕES

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Programa Eleições na Boca do Povo PARTICIPE Brasil de Fato MG inicia série de debates e entrevistas sobre as disputas deste ano Arquivo pessoal

Da redação

Comunicação / Marília Campos

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stá cansada(o) da cobertura jornalística mais do mesmo? Se liga nessa ideia: o Brasil de Fato MG está realizando uma série de entrevistas sobre as eleições de Minas e do país. Nossa ideia é trazer informações novas e opiniões políticas que você não vai ver em outros jornais. O programa “Eleições 2018: Na Boca do Povo” também recebe e responde a perguntas do público. A estreia foi na terça-feira (4), às 17h, transmitida ao vivo pela página do Brasil de Fato MG no Facebook. O público do nosso jornal impresso pode ler agora os melhores momentos dessa entrevista.

ELEIÇÕES

2018

ASSISTA ÀS PRÓXIMAS EDIÇÕES DO ELEIÇÕES 2018: Na Boca do Povo, com informações e análises sobre a política. Às terças-feiras, 17h, transmissão ao vivo na página Brasil de Fato MG no Facebook. Você pode mandar perguntas pelo WhatsApp (31) 98468-4731.

Wagner Xavier

“O povo é amigo do Projeto Popular” Wagner Xavier, um dos entrevistados, é assessor do sindicato dos trabalhadores da água e do saneamento básico (Sindágua/MG) e integrante da Frente Brasil Popular. Para ele, esse é um momento ruim para os partidos de direita, que ainda não conseguiram emplacar um candidato. “Houve uma série de ataques a Lula e ao PT durante a história. Quando Lula vai fundar o PT, é criticado por estar dividindo a esquerda, quando compra um apartamento em São Bernardo, dizem que era feito com compadre. São anos e anos de acusações pesadas. E mesmo assim, 20% da população ainda tem preferência por esse partido [PT]. Não podemos ter medo de conversar com a população.”

Analisando: O que é o Partido Novo?

“É um projeto de partido. O banco Itaú e outros empresários, que sempre financiaram políticos, não querem mais financiar, querem ter o seu próprio partido. O objetivo não é ganhar a eleição, é fazer um partido político dos empresários. Vamos ver se vão apresentar as ideias capitalistas, porque outros partidos não têm coragem. O Novo defende que uma pessoa pode ter milhões e outras têm que viver com salário mínimo, ou que a maioria da população tem que trabalhar 10 horas por dia. Agora, o que não dá para fazer é esconder que por trás do Partido Novo tem a velha burguesia com R$ 400 milhões cada um.”

“O povo brasileiro é sábio, não é ingrato. Ele vota em quem melhorou a vida dele.”

Marlise Matos

“É super importante a renovação desse Congresso Nacional” A segunda entrevistada, Marlise Matos, é cientista social e coordena o Núcleo de Pesquisas de Estudos sobre a Mulher da UFMG. Ela destaca a famosa frase de Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”, e estimula que mulheres, indígenas, quilombolas participem da política.

Analisando: Por que tanta reeleição este ano? “A cada dois anos eles reformam a lei eleitoral. É uma estratégia muito rápida para manter regras que os mantêm no Congresso Nacional. Por exemplo, foi barrado o financiamento empresarial de campanha, qual foi a saída? Eles criaram o fundo público eleitoral, que é distribuído prioritariamente a parlamentares que já estão lá.”

Pergunta do povo: Por que precisamos ter atenção para os cargos do Legislativo? “É super importante a gente discutir a renovação desse Congresso Nacional. Não adianta mudar só a presidência da República. O golpe que a Dilma sofreu tem a ver com os deputados e senadores. Quem estiver como presidente ou como governador precisa ter uma base com que possa contar, para que possa tomar decisões políticas que vão ser cumpridas. Precisamos alinhar os nossos votos para deputados e senadores, com o nosso voto para governador e presidente”.

Pergunta do povo: Se a maioria votar em branco ou nulo as eleições são canceladas? Isso não é verdade! Não caia neste engodo! A eleição é contada a partir de votos válidos. Brancos e nulos são retirados. Se 10% da população votar, são os 10% válidos. A eleição não é anulada. Isso é mais pura lenda!


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MUNDO

Belo Horizonte, 6 a 13 de setembro 2018

Argentina: Macri anuncia pacote de austeridade e diz que pobreza ‘vai aumentar’ no país NEOLIBERALISMO Em vídeo gravado na sede do governo, mandatário admitiu que país vive “uma crise” e anunciou que reduzirá seus ministérios “para menos da metade” Francisco Flores Seguel

Do Opera Mundi

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presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta segunda-feira (3) uma série de medidas de austeridade para o país, que inclui redução de

Macri pediu 50 bilhões de dólares em empréstimo ao FMI ministérios e novos impostos. Segundo o presidente, a pobreza no país “vai aumentar”. A decisão vem em meio à crise financeira que derrubou o valor do peso e levou o país a recorrer ao Fundo Monetário In-

ternacional (FMI) para um empréstimo de US$50 bilhões. Em vídeo gravado na sede do governo argentino, Macri admitiu que o país vive “uma crise” e anunciou que reduzirá seus ministérios “para menos da metade”. “Os governos têm diferentes momentos que requerem equipes diferentes. Decidi compactar

mais minha equipe e poder dar uma resposta mais focada na agenda que virá”, disse. O presidente ainda anunciou um novo imposto sobre exportações. Segundo a agência Reuters, o novo tributo taxará, até o final de 2020, em 4 pesos argentinos por dólar os produtos primários, como matérias-primas, e em 3 pesos por dólar os demais produtos.

Macri afirmou que “esse é um imposto ruim, muito ruim, mas tenho que pedir que entendam que é uma emergência”. A respeito do empréstimo de US$50 bilhões que o país pediu ao FMI, Macri defendeu a estratégia do governo, mas afirmou que, em vista das variações do câmbio, o plano será revisto. Após afirmar que a “pobreza vai aumentar” no país, o mandatário responsabilizou o governo anterior e o cenário internacional pela crise financeira que a Argentina enfrenta. Macri disse que “governar um país é difícil” e que esses foram os cinco piores meses de sua vida. Crise No fim de agosto, após ver o dólar disparar e chegar a ser vendido ao valor

recorde de 40 pesos, o governo decidiu elevar a taxa básica de juros de 45% para 60% ao ano. A decisão configurou uma tentativa de segurar a alta da moeda norte-americana e foi a quarta vez que o Banco Central da Argentina (BCRA) elevou a taxa de juros do país desde o mês de junho. As medidas se tornaram mais um episódio da crise econômica que atravessa o governo do presidente Mauricio Macri. Segundo dados do próprio BCRA, o dólar se valorizou quase 100% em um ano. No fim de agosto de 2017, a moeda norte-americana estava a 17.66 pesos. A expectativa do governo, no início do ano, era de uma taxa de inflação de 15% em 2018. No entanto, o índice subiu a 20% no meio do semestre e, recentemente, a previsão chegou a 30%.

Pequim continua a expansão na África e destina US$ 60 bilhões para financiamentos COOPERAÇÃO O presidente chinês também anunciou que parte da dívida dos países mais pobres será cancelada DIRCO / Governo da África do Sul

Revista IHU Online

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o Grande Salão do Povo, em Pequim, estavam presentes mais de 50 chefes de Estado e de governos dos países africanos. De cima do palco, o anfitrião Xi Jinping, presidente da China, ofereceu recepção mais calorosa possível. Em seu discurso inaugural do Fórum de Cooperação África-China , prometeu financiamento para o continente no montante de US$ 60 bilhões, entre empréstimos e

investimentos para infraestrutura. Uma réplica exata do valor que Xi havia destinado três anos atrás, ao último encontro bilateral,

e que, no meio tempo, tornou Pequim, com crescentes preocupações do Ocidente, o principal parceiro comercial e um dos principais alia-

dos financeiros e militares do continente. Dos U$60 bilhões prometidos para os próximos três anos, U$15 serão de ajuda e empréstimos a juros zero, U$20 em linhas de crédito, US$10 para um fundo especial para o desenvolvimento, US$5 para as importações da África e outros US$10 para projetos privados de empresas chinesas. A ofensiva chinesa pegou no contrapé o Ocidente, com os Estados Unidos e a Europa que a vêem principalmente como uma fonte

de problemas migratórios. Alguns comentaristas denunciam a estratégia de Pequim como “neocolonialismo”, a tentativa de atrair os parceiros para uma armadilha de dívidas, tornando-os assim dependentes. Sem dúvida, por trás do projeto de Xi existem motivações internas: dar trabalho para suas empresas e garantir o fluxo de matérias-primas abundantes na África. Por outro lado, o presidente também anunciou que parte da dívida dos países mais pobres será cancelada.


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ENTREVISTA

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Mulheres passam, no mínimo, 4 horas por dia realizando trabalhos para outros membros da família MACHISMO Pesquisadora analisa tempo gasto com as tarefas domésticas e avalia que, se remunerado, trabalho doméstico representaria 10% do PIB brasileiro Divulgação / UFMG

Amélia Gomes

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avar roupa, preparar as refeições, pagar as contas, ir ao supermercado, levar as crianças à escola. Esses são alguns dos trabalhos realizados para a manutenção de uma casa e que, invariavelmente, são invisibilizados pela sociedade. Em 85% dos casos, essas tarefas são realizadas por mulheres, reflexo da sociedade machista e patriarcal em que vivemos. Dos 20 aos 85 anos, as brasileiras passam cerca de quatro horas por dia realizando tarefas domésticas. No entanto, apesar de não ser valorizado e nem remunerado, o trabalho doméstico tem papel fundamental para a economia do país e gera riqueza para todos os membros da sociedade. É o que afirma a demógrafa e pesquisadora da UFMG Jordana Cristina de Jesus, autora da tese de doutorado “Trabalho doméstico não remunerado no Brasil: uma análise de produção, consumo e transferência”. O levantamento foi realizado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

Os homens não fazem trabalho doméstico para ninguém. O que eles produzem, quando produzem, atende somente seu próprio consumo”

As mulheres ricas conseguem terceirizar o trabalho doméstico, mas as mais pobres precisam dar conta dessa tarefa” homens não fazem trabalho doméstico para ninguém. O que eles produzem, quando produzem, atende somente seu próprio consumo. Domicílio - PNAD. Confira entrevista. Brasil de Fato - Jordana, qual o objetivo da pesquisa e qual o principal resultado que você encontrou?

Jordana Cristina de Jesus As pessoas passam uma parcela significativa do tempo realizando tarefas domésticas e embora isso seja algo extremamente importante, não é valorizado nem remunerado. Então a pergunta que moveu a pesquisa foi: e se fosse para pagar? E se a gente atribuísse um valor monetário para esse trabalho que ninguém percebe que as mulheres estão fazendo, quanto isso representaria? A partir daí nós calculamos quanto tempo de trabalho doméstico as mulheres realizam ao longo de um ano e qual valor é pago em geral para realizar este trabalho. Com esse cálculo, chegamos ao montante de R$ 580 bilhões, o que equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é a riqueza gerada pelo país.

Você utilizou dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, mas também comparou esses números com um levantamento semelhante ao PNAD realizado na Colômbia. Por quê?

Aproveitamos a pesquisa da Colômbia porque ela é mais detalhada. No Brasil a PNAD pergunta somente quantas horas por semana a pessoa gasta com trabalho doméstico. Como a pergunta é muito ampla e simples, muitas vezes as pessoas esquecem de quantificar atividades que elas não consideram como trabalho, como o cuidado com as crianças e idosos. Se é uma atividade que você pode terceirizar para alguém, ela é um tipo de trabalho feito sem remuneração. Ou seja, cuidar de alguém é sim um trabalho doméstico. Então existe uma subnotificação nos dados brasileiros. Para se ter uma ideia, nós calculamos que uma criança de até 1 ano consome em média quase cinco horas diárias de trabalho doméstico.

Na pesquisa, você aponta que há uma transferência de tempo de trabalho das mulheres para os homens. O que isso significa?

Quando a gente olha para a carga enorme de trabalho doméstico que as mulheres fazem, isso significa que elas estão fazendo para os outros. Isso que é a transferência do tempo de trabalho. Todos, homens e mulheres, consomem em média uma hora de trabalho doméstico por dia. Mas as mulheres passam cinco horas do seu dia realizando essas tarefas. Ou seja, há um saldo do que é produzido por elas. Na contramão, os

Não tem como dizer que chegamos a um cenário de igualdade porque dentro das casas as coisas ainda não mudaram”

Como você avalia o cenário para as mulheres depois do golpe?

Estamos em uma conjuntura ruim para todos os trabalhadores, mas ainda muito pior para as mulheres. Quando falamos em congelamento de investimentos públicos, quer dizer que não vamos expandir creches, pré-escolas, que são locais onde as mulheres vão poder deixar seus filhos para poder ir trabalhar. As mulheres mais ricas conseguem terceirizar o trabalho doméstico, mas as mais pobres precisam dar conta dessa tarefa. Discutir a proposta da reforma da Previdência é outro assunto urgente. Porque não tem como ignorar o que acontece nos domicílios e pensar propostas apenas para o que acontece no mercado formal de trabalho. Isso é um retrocesso gigante, não tem como dizer que chegamos a um cenário de igualdade porque há mais mulheres no mercado, porque dentro das casas as coisas ainda não mudaram.


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Amiga da Saúde

BAFAFÁ NOVELA É CRITICADA POR OPINIÃO SOBRE A EDUCAÇÃO Reprodução

Grávidas podem fazer sexo normalmente ou há alguma restrição? Bia Silva, 19 anos, estudante.

A nova novela das 19h, “O tempo não para” já é um sucesso de audiência, se comparada com suas últimas antecessoras. O gostoso da trama são os choques entre os personagens do século 19 com as mudanças e novidades do século 21. Isso rende engraçados e fascinantes diálogos, com palavras e expressões do passado que enriquecem os diálogos e dão uma pitada de humor. Para quem acompanha, já percebeu que essa é a grande sacada da novela: os choques... permeados por críticas – ou pontos de vista – do autor: Mário Teixeira. No entanto, algo incomodou em um dos capítulos exibidos recentemente. As personagens Marocas (Juliana Paiva) e Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho), ao procurarem uma escola pública, se deparam com uma unidade superlotada, com reclamações de falta de estrutura como mobiliário escolar, alunos sem aulas e os professores em greve. A diretora da escola, mostrada na cena, é ríspida no atendimento às personagens que buscam informações. Miss Celine perCNTE diz que gunta ainda sobre uma vaga de emprego na escola e obtém a resposta que para ser Globo joga funcionário tem que passar por um consociedade curso público. Decepcionadas, Marocas contra e a tutora Miss Celine reclamam da buroprofessores cracia envolvendo os serviços públicos. Entidades sindicais da educação não viram com bons olhos esse episódio e criticaram a novela. Segundo a moção de repúdio da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) à Rede Globo, a cena em que as “personagens da trama travam um diálogo (...) sugere, explicitamente, que a culpa e responsabilidade da atual situação da educação pública brasileira é do direito de greve do/a trabalhador/a e de sua forma de contratação por meio de concursos públicos.” A moção ainda diz que “a Rede Globo de Televisão, por meio de suas novelas, manipula opiniões e joga a sociedade brasileira contra a figura do/a professor/a”. Interessante e polêmico esse episódio. Se por um lado é importante a liberdade de pensamento e de opinião sobre os fatos da sociedade – já defendemos muito isso aqui em outras colunas - por outro, há interesses de grupos de comunicação na privatização do ensino público. Sabemos que a Globo está de olho em vender os seus “Telecursos” por aí e que, sim, utilizam dos seus meios para vender a sua ideia/produto. E você, leitor, o que acha disso?

Se estiver tudo bem com a gestação, não há restrições quanto ao sexo, Bia. O prazer sexual (gerado pelo coito ou masturbação) traz vários benefícios à gravida, como redução do stress, melhora do sono, aumento da autoestima, melhora do bem-estar do feto, fortalecimento do sistema de defesa, e melhora do vínculo entre parceiros. Além disso, aumentam as chances de o parto ser vaginal. A gestação pode facilitar o prazer sexual porque há maior sensibilidade nos genitais e mamas. Um maior fluxo de sangue nos órgãos genitais pode melhorar a qualidade do prazer de modo geral e do orgasmo. É importante usar camisinha nas relações sexuais e praticar as posições que trouxerem maior conforto para a mulher, principalmente quando a barriga já está maior. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf.

Nossos direitos SETEMBRO AMARELO Direito à saúde e à vida Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo. A cada 45 minutos um brasileiro morre vítima de suicídio, no entanto, 9 em cada 10 casos poderiam ser evitados. Por isso a Campanha Setembro Amarelo é um movimento mundial de conscientização que busca educar e alertar a população sobre a prevenção ao suicídio. Neste mês se intensificam ações públicas que

orientam sobre transtornos mentais e promovem a valorização da vida. O acesso ao tratamento de saúde e psicológico para aqueles que necessitam deste tipo de atendimento é um direito. A pessoa e a família sozinhas, muitas vezes, não conseguem mediar tal situação e, por isso, buscar ajuda é o melhor caminho. Não tenha dúvidas: procure a rede de saúde do seu município ou busque ajuda no Centro e Prevenção ao Suicídio através do telefone 188.

Um abraço! Felipe Marcelino é professor de filosofia.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


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Dicas Mastigadas PURÊ DE BATATA DOCE

Reprodução

Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br

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3 batatas-doces brancas 1/5 xícara (chá) da água do cozimento 1/5 xícara de chá de leite 2 colheres (sopa) de manteiga gelada sal a gosto 4 dentes de alho amassado

Modo de preparo • Lave as batatas e seque bem. Corte em pedaços grossos e cozinhe por 20 minutos com ½ colher (chá) de sal. • Escorra as batatas por uma peneira. Desligue o fogo e reserve 1 xícara (chá) da água do cozimento. • Volte as batatas, ainda quentes, para a mesma panela e bata com um mixer ou amasse com um gafo até ficar bem liso. Acrescente, aos poucos, a água do cozimento e o leite para dar o ponto. Se preferir um purê mais rústico, passe as batatas por um espremedor. • Numa panela frite a manteiga e o alho. Depois, misture na massa e mexa bem com uma espátula até derreter e o purê ficar cremoso. Prove e, se necessário, tempere com mais sal. Sirva a seguir

Participe enviando sugestões para redacaomg@brasildefato.com.br.


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Flávio Tavares eterniza a tragédia do golpe em tela de 3 metros ARTE POLÍTICA Artista plástico paraibano expõe “Brasil, O Golpe: A Ópera do fim do mundo” Antonio David Diniz

Cida Alves De João Pessoa

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uantas vezes a realidade é mais pitoresca ou terrificante que os sonhos e a fantasia? A pergunta que atravessa séculos, cabe aos artistas, que catalisam as tragédias humanas e as apresentam pelo seu próprio prisma. Flávio Tavares, artista plástico paraibano, expôs no Sesc em João Pessoa (PB), um painel em óleo sobre tela, de 3 metros, contando a tragédia brasileira que culminou no golpe e seus desdobramentos. Flávio ressalta que a tortura da ex-presidente, na sua juventude, foi esquecida, assim como a morte da vereadora Marielle Franco já está caindo no Rio do Esquecimento. O painel tem algumas cenas importantes que se isolam e dialogam entre si. Em formato piramidal, na sua base temos “O Banquete dos Poderosos”, com a presença de Temer e várias figuras do Judi-

ciário, em especial o juiz Sérgio Moro se banqueteando avidamente, enquanto várias pessoas, miseráveis, esperam migalhas embaixo da mesa. Em pé, uma mulher negra serve uma senhora fidalga,

Banquete dos poderosos, fabulário nordestino e Casa Grande estão representadas no painel representando a elite brasileira, branca e impiedosa. Flávio destaca que o tema do painel é a injustiça “e os tantos tropeços que o Brasil tem dado em nome de um processo que eles estão chamando de Democracia, mas a gente vê que há uma transição forte ainda a se vivenciar para a gente ver isso acontecer.”

Bumba Meu Boi no Orlando

O cantador Ribinha de Maracanã, de São Luís (MA), estará no Bar do Orlando, na sexta (7). A Turma de São Benedito realiza ainda uma roda de Tambor de Crioula. O evento é aberto ao público e acontece a partir das 20h. O endereço é Rua Alvinópolis, nº 460, no bairro Santa Tereza, em BH.

Vários anos atuando como chargista político delineiam a sua crítica política à atual história brasileira, profundamente marcada pela herança escravocrata, dramática e carnavalesca ao mesmo tempo. “Eu procurei fazer uma coisa meio felliniana, meio circense, para não cair numa tragédia, porque realmente o ambiente que eu vivo é onde o humor suplanta o choro”, diz. Acima, ao centro da pirâmide, representando o poder em cima do povo, vemos a ama de leite segurando uma crian-

Um ano de Pátria Livre

A Ocupação Pátria Livre, organizada pelo Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), completa um ano. Para comemorar, acontece na sexta (7) uma festa aberta ao público, a partir das 13h, com muito pagode e comida boa. O endereço da ocupação é Rua Pedro Lessa, 435, na Pedreira Prado Lopes, BH.

ça loura, e ao lado, a fera que ainda habita o Brasil. Logo atrás da ama de leite, nas sombras, o pano de fundo da tragédia, vemos os traços de um pelourinho, uma pessoa amarrada a um poste. Um personagem que pode passar despercebido, mas que, no meio das centenas de referências, do fabulário nordestino aos clássicos ocidentais, bem no meio de todo o delírio dantesco, percebemos a (oni)presença da Casa Grande. Casa colonial, na

sobriedade e riqueza do passado dos homens brancos e donos das almas. Um passado tão remanescente, às vezes até mais sofisticado, porém, perpetuando a história das atrocidades. O pintor Flávio Tavares tem mais de 50 anos de carreira, já expôs em vários estados brasileiros e diversos países pelo mundo. Na ocasião da inauguração do painel sobre o golpe, houve o lançamento do livro ‘A Linha do Sonho’, com várias de suas obras.

Desvendando a astronomia

Música na praça

Também no dia 7, às 14h, uma atividade no Espaço do Conhecimento UFMG vai desvendar a influência da astronomia na criação da bandeira do Brasil. No sábado (8), às 14h, participantes encenam Júpiter, Saturno e outros corpos celestes. Os ingressos custam R$ 6 e R$ 3 a meia entrada. O endereço é Praça da Liberdade, BH.

Celebrando os 40 anos da Universidade Federal de Uberlândia e em conexão com o Festival Timbre, acontecerá no dia 16 (domingo), o “Festival Arte na Praça”, com várias atrações musicais. O evento começa a partir das 13h e a entrada é gratuita, na Praça Sérgio Pacheco, Centro, Uberlândia.


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ESPORTE

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O futebol ao pé da letra LITERATURA A grande paixão nacional também pode ser encontrada nas prateleiras Mariela De Marchi Moyano

Miguel Stédile, de Porto Alegre

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uando a Copa do Mundo se iniciava, o escritor uruguaio Eduardo Galeano colocava uma placa na porta da sua casa: “fechado por motivo de futebol”. Conhecido por livros que retratavam a realidade latino-americana, como o clássico “As veias abertas da América Latina”, Galeano se definia como um “mendigo do futebol”, sempre implorando por uma boa partida. A paixão se transformou no livro “O futebol sob sol e sombra” (L&PM), no qual ele conta histórias que ouviu ou testemunhou. A cada Copa, acrescentava um novo capítulo. Falecido em 2015, seus amigos e editores decidiram homenageá-lo, reunindo outros textos em uma nova coletânea, batizada de “Fechado por motivo de futebol”. Galeano não foi o único craque das letras a escrever sobre o esporte. Seu conterrâneo, Mario Benedetti, também escreveu contos sobre grandes jogadores ou o futebol amador, como “O Ponta Esquerda”, em que o craque de um time deve decidir se ganha a final de um campeonato ou aceita o dinheiro do adversário para entregar a partida e ajeitar a vida. Os argentinos também têm longa tradição de histórias sobre o jogo. Porém, não são traduzidos para o português. Autores como Roberto Fontanarossa e Eduardo Sacheri são pouco conhecidos aqui.

Seleção de escritores no Brasil A seleção brasileira de escritores também é admirável. Carlos Drummond de

Eduardo Galeano se definia como um “mendigo do bom futebol”

Nelson Rodrigues escreveu que o Brasil superou o complexo de vira-lata quando conquistou a Copa do Mundo pela primeira vez, em 1958 Andrade, Rachel de Queiroz, João Ubaldo Ribeiro estão entre os que já escreveram sobre esta grande paixão nacional. Entre os gaúchos está Aldyr Schlee, reconhecido e admirado tanto no Brasil quanto no Uruguai, com uma curiosidade: morador da fronteira, Schlee torce para a seleção uruguaia, mas na juventude foi ele quem criou a camisa ca-

narinho, verde-e-amarela da seleção brasileira. Um dos primeiros integrantes deste time foi o jornalista e dramaturgo carioca Nelson Rodrigues (19121980). Torcedor do Fluminense, as crônicas que escreveu fugiam do simples relato dos acontecimentos e eram verdadeiras declarações de amor ao futebol. Foi ele quem disse que o Brasil havia superado o seu complexo de vira-lata, o sentimento de inferioridade, ao conquistar a Copa do Mundo pela primeira vez em 1958. Suas crônicas foram reunidas em livros como “A Pátria de Chuteiras” e “Somos o Brasil”. Seu irmão, Mario Filho, também foi importante em defender o futebol na imprensa, foi homenageado com o nome oficial do Estádio do Maracanã.

As histórias reais do futebol Para os que preferem ler sobre histórias reais, também há muitas opções. O jornalista Juca Kfouri foi editor da revista Placar e trabalhou em diversos veículos e programas esportivos. Se tornou conhecido por denunciar a corrupção na CBF e na FIFA. Sua autobiografia, “Confesso que

Drummond, Rachel de Queiroz e outros grandes escritores brasileiros falaram sobre futebol em seus textos

perdi” (Companhia das Letras), conta sua trajetória com o esporte, mas também sua atuação política. O ex-jogador e atualmente comentarista Walter Casagrande também publicou sua autobiografia, onde, além da passagem pela Democracia Corintiana, conta sua luta contra a dependência química. Casagrande, aliás, é tema também de “Casagrande & Sócrates – uma história de amor” de Gilvan Ribeiro, que retrata a parceria dentro de campo e amizade fora dele entre os dois jogadores desde a época em que jogaram no Corinthians. O Dr. Sócrates, conhecido por suas convicções políticas – prometeu não jogar na Europa se o país aprovasse a emenda das Diretas Já em 1984, campanha em que se envolveu pessoalmente – é tema de outros livros, como a biografia escrita por Tom Cardoso e o testemunho de sua última esposa, Kátia Bagnarelli. Outros livros partem do futebol para entender o mundo e a sociedade, como faz o historiador Hilário Franco Junior, que já escreveu “A Dança dos deuses”, comparando a história política do Brasil com a do próprio esporte no país. Já o historiador Gerson Fraga partiu da derrota do Brasil para o Uruguai, na Copa de 1950, para discutir o racismo e a visão que o brasileiro tem sobre si mesmo em “O Maracanazzo – uma triste história de futebol no Brasil”. Com tantas opções, o certo é que quando as letras invadem a linha do campo, quem ganha são os torcedores-leitores.


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Olímpiadas Universitárias começarão em Uberlândia

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA Allan Patrick Reprodução de vídeo

“Fazer o que, né? Estamos aí!”

Na próxima semana, começa o maior evento esportivo do Triângulo Mineiro, as Olímpiadas Universitárias UFU 2018. Com a participação de dezenas de associações atléticas de Uberlândia, Patos de Minas, Monte Carmelo e Ituiu-

taba, as competições terão início com a Abertura Oficial, no dia 14 de setembro, na Arena Sabiazinho, às 19h. Centenas de atletas competirão por medalhas em diversas modalidades de esportes coletivos e individuais.

Marta, comemorando de forma bem-humorada a indicação entre as finalistas do prêmio de melhor jogadora do mundo. Caso vença a disputa, a alagoana será recordista, com seis premiações.

Gol de placa O Vasco ofereceu seu Centro de Memória para colaborar, na medida do possível, com a recuperação do prédio e do acervo de seu vizinho de bairro, o Museu Nacional, patrimônio brasileiro destruído pelo golpe de 2016. O Gigante da Colina foi o único clube a se dispor no auxílio ao Museu.

Gol contra O jornalista da Globo José Roberto Burnier perguntou à repórter que fazia matéria sobre um assalto no Itaquerão, estádio do Corinthians: “Já prenderam os bandidos? Estão roubando o próprio clube, agora?”. Parece que os torcedores do time de Burnier são todos mocinhos.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

Os próximos dois jogos do América na Série A são em casa e contra adversários que estão abaixo na tabela: Vasco e Ceará. Pelo fato de a tabela estar bastante embolada entre o 9º e 17º colocados, é fundamental vencer as duas partidas, respirando paDecacampeão ra uma sequência bem mais complicada que o América terá à frente, com Botafogo e São Paulo fora e Corinthians em casa. Embora venha de apenas uma vitória nos últimos cinco jogos, o América de Adilson Batista tem se mostrado um time consistente na defesa, empenhado e imprevisível. É preciso melhorar a chegada ao ataque, as finalizações, os passes longos e as infiltrações, sabendo aproveitar as poucas chances de gol que aparecem.

As circunstâncias me levam a escrever antes do jogo com o São Paulo. O Galo joga todas as suas fichas no Brasileirão, em um ano desastroso. Após enfrentar o Tricolor no Horto, o Atlético vai fazer mais dois jogos em BH, contra Atlético Paranaense e Cruzeiro, um conÉ Galo doido!e depois voltra o Flamengo, no Maracanã, ta para casa, onde enfrentará o Sport. A sequência é promissora e isso precisa se confirmar. O momento é de usufruir ao máximo do conjunto e do planejamento tático, pois os desempenhos individuais são pouco confiáveis, ainda mais numa disputa marcada pelo equilíbrio – nivelado por baixo. O segundo turno tem sido desanimador. Porém, quem sabe, não chegou a hora da virada.

Salve, salve, nação azul! Hoje, acordei com fome de gols e fui ao YouTube relembrar os artilheiros que fizeram crescer em mim a paixão pelo manto celeste. Renato Gaúcho, Ronaldo, Paulinho McLaren, Marcelo Ramos, Fábio Jr, dentre outros. QuanLa Bestia Negra do abro o jornal para ler as notícias, vejo a razão da minha fome: em 22 partidas pelo brasileiro, o Cruzeiro só marcou 18 vezes. Piores que nós, só Ceará e Paraná. Historicamente, somos um time de futebol vistoso e ofensivo, coisa que o plantel atual está longe de conseguir, ainda que tenha qualidade. Que os próximos jogos tragam mais gols para a mais apaixonada torcida de Minas saciar essa sede, que tenho certeza não ser só minha.


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