Edição 204 do Brasil de Fato MG

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MINAS

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ESPORTES

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Sem reparação

Copa cheia de dinheiro

Quase dois anos após o rompimento da Barragem de Fundão, vítimas do maior crime ambiental do país se queixam da assistência dada pelas empresas

Cruzeiro fatura R$ 11 milhões pelo pentacampeonato. Ano que vem, dinheiro para vencedor deve ser seis vezes maior

Minas Gerais

Lucas Figueiredo / CBF

Belo Horizonte, 29 de setembro a 5 de outubro de 2017 • edição 204 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

A CONTA VAI fIcaR muito mais carA ÁGUA, LUZ, GÁS e GASOLINA Entrega do patrimônio nacional deixa de criar empregos, vai gerar aumento das contas dos brasileiros e lucros para estrangeiros. Só com venda de quatro usinas da Cemig, mineiros perdem bilhões para chineses, italianos e franceses. Ato nacional no dia 3 de outubro questiona venda das estatais. Nesta edição, trazemos encarte especial de 12 páginas sobre privatizações I ESPECIAL Ciro Thielmann

Gustavo Marinho

Entrevista

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CULTURA

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Feira da reforma agrária em BH

Detentas escrevem revista

O cantor Zé Pinto, que também é militante do MST, fala sobre evento que vai trazer a cultura do campo para o centro da capital mineira

Publicação “A Estrela” é toda feita por mulheres do Complexo Estevão Pinto. Elas cuidaram da pauta, das fotos e dos textos


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 29 de setembro a 5 de outubro de 2017

Editorial | Brasil

Quem mais sofre é a classe trabalhadora

ESPAÇO dos Leitores

Parabenizo a publicação da matéria “Terceiro maior reservatório da RMBH pode secar”, da edição 203. Foi esclarecedora e contribui com a luta que temos travado em defesa da lagoa de Várzea das Flores. Gostaria, entretanto, de retificar uma frase atribuída a mim, que diz que parte das áreas rurais de Contagem pertencem a vereadores, deputados e ao empresariado. Não fiz essa afirmação. Aproveito a oportunidade para cumprimentar a toda equipe pela excelência do trabalho que vem sendo produzido nestes quatro anos do Brasil de Fato em Minas Gerais. Marília Campos – Deputada Estadual PT/MG Resposta do jornal: Pedimos desculpas pelo erro, duas falas foram trocadas. A versão corrigida pode ser lida em: www.brasildefato.com.br

Como se não bastasse o rolo compressor que o Governo Temer e seus deputados têm passado por cima de nossos direitos de aposentar, de trabalhar e até de morar; nos mesmos bastidores, bancadas conservadoras movem suas peças no campo dos costumes. Silenciosos quando ganham, e barulhentos quando perdem espaço e diante do furacão de retrocessos, às vezes nem nos damos conta do tamanho da tragédia. São como serpentes famintas querendo engolir a diversidade, a arte e as diversas maneiras de pensar e ser. Na semana passada, o Brasil todo acompanhou com indig-

Diversos setores apoiaram a liberdade de orientação sexual nação a decisão do Juiz que confrontou uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe os profissionais da área de aplicarem tratamentos como o de “Reorientação Sexual”, ou seja, um tratamento psicológico para pacientes que “não se sentem confortáveis em ser gays”. O magistrado utilizou-se da noção de liberdade de exercício de profissão dos psicólogos. Parece piada, mas às vezes dão nomes bonitos a ações perversas e utilizam palavras como liberdade. Que ironia. As redes sociais ficaram tomadas por manifestações de apoio à liberdade de orientação sexual e de gênero. Houve manifestações de artistas, intelectuais e movimentos populares. Esse

fervor também tomou as ruas, espalhando-se por todo o Brasil. Ao mesmo tempo em que parcelas menores, mas não menos assanhadas, bradavam pelo fim da “ideologia de gênero”, felizes pela decisão do juiz, pois essa ação é mais uma brecha aberta para validar a violência e o preconceito.

Liberdade e intolerância não dividem mesmo espaço No país que mais mata mulheres, homossexuais, transexuais e jovens negros, essa decisão não fere somente a Constituição, mas também a possibilidade de combater o vetor do problema, que é o preconceito. Esse juiz não fala por si próprio, ele fala também por vozes que têm exercido discriminação por meio de gestos, palavras e também da omissão. Ele age favorecendo a intolerância e a violência. Assistimos as faces de um país que dia-a-dia fenece sob os mandos de uma classe política, vestida de deputados, hipócritas defensores da família, mas que fazem esbórnia com o dinheiro do trabalhador, de uma classe econômica que tem tomado paulatinamente nossos direitos e exploram cada vez mais nossos corpos e nossos desejos. Nesse cenário, a população que mais sofre é a que nunca deixou de sofrer – a classe trabalhadora. É preciso que entendamos que liberdade e intolerância não podem dividir o mesmo espaço.

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Samuel da Silva, Talles Lopes, Temístocles Marcelos, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fernanda Costa, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Marcelo Pereira, Nadia Daian, Pedro Rafael Vilela, Renana Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


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CiÊNCIA, COISA BOA!

“O homem veio do macaco”?

GERAL

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nossa história, exemplares e muito mais

Basta o papo sobre evolução começar que logo a frase acima aparece. Tão grande quanto a sua frequência é o seu erro. Para entender o porquê, vamos por partes. Primeiro, “o homem”? E a mulher, veio de onde? A língua portuguesa possui uma norma machista que diz que o genérico deve sempre ser masculino. É o chamado sexismo gramatical. Por trás dessa inocente regra linguística esconde-se a ideia da superioridade masculina. O mais indicado é a substituição desses termos, sempre que possível, por outros realmente genéricos. Ao invés de “homem” usa-se “ser humano”. Simples! E então, o ser humano surgiu do macaco? É isso que diz a teoria da evolução? Os estudos mais recentes afirmam que a espécie humana surgiu na África Oriental, há cerca de 200 mil anos. Fazemos parte do grupo dos primatas, devido às nossas características físicas. Logo, somos macacos. Contudo, ao dizer que o ser humano veio do macaco, a ideia que se passa é a de que aquele macaquinho que vemos no zoológico ou no parque é nosso ancestral. Não é nada disso. O que a evolução afirma é que um ancestral comum, a partir de várias transformações, deu origem às diversas espécies de primatas. Ou seja, os macacos atuais no máximo são nossos primos, e não nossos antepassados. Somos animais, A famosa imagem que ilustra esta primatas e não coluna reforça essa ideia equivocanecessariamente da. Ao olhar para ela, temos a sensuperiores sação de que a evolução aprimora

#BOMBOUNAREDE

as espécies, tendo um ápice: nós. Seria uma escadinha que os seres sobem até atingir a perfeição. Mais uma vez, não é nada disso. Todas as espécies atuais são igualmente evoluídas, pois estão adaptadas para viver onde vivem. As espécies vivas mais próximas evolutivamente da nossa são os chimpanzés, gorilas e orangotangos. O DNA deles é cerca de 98% igual ao seu e ao meu. Porém, diversas espécies ainda mais próximas de nós já existiram e foram extintas. Por exemplo, o Australopitecos, o Homo erectus e o Neandertal. Algumas inclusive chegaram a conviver conosco, até há cerca de 30 mil anos. A compreensão sobre a evolução biológica e sobre nosso local nessa história possibilita um salto de qualidade no nosso entendimento sobre o mundo. Entender que somos animais, primatas e não necessariamente superiores. Que somos parte da natureza e sofremos com ela de um mesmo destino. São ideias fortes que possibilitam à humanidade uma relação mais saudável com os demais habitantes deste planeta. Concorda?

Limão: um grande aliado

Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de MG

Divugação / UFMG

Divulgação

Fraudes nas cotas raciais Internautas se revoltaram por causa das denúncias de fraude em cotas realizadas por estudantes de medicina da UFMG, divulgadas na semana passada. Brancos, alguns com olhos e cabelos claros, se autodeclararam negros no vestibular para ter acesso às cotas raciais. Segundo o Frei Davi Santos, da Educafro, as fraudes são generalizadas no país. “A comunidade branca, percebendo que o avanço da comunidade negra ia se concretizar, passou a fazer o boicote de maneira deliberada e maldosa, a ponto de, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no curso de medicina, a cada dez vagas destinadas a negros, nove são ocupadas por brancos que entraram por fraude”, denuncia.

Rico em vitamina C, o limão é conhecido popularmente por ajudar na prevenção de gripes e resfriados. Mas a fruta guarda outros importantes benefícios para a saúde. Sua ação antioxidante previne alguns tipos de câncer, além de fortalecer as unhas, o cabelo, melhorar a pele e desintoxicar o organismo. O limão também tem efeito diurético, auxiliando no bom funcionamento do rim e impedindo a retenção de líquido no corpo. Para as gestantes, o limão pode ser um grande aliado para reduzir os enjoos que ocorrem nos primeiros meses de gravidez.


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CIDADES

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Segundo entidades, cadastro da Samarco não contempla atingidos CRIME Rompimento da Barragem de Fundão completa dois anos em novembro Mídia NINJA

Wallace Oliveira

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inda sem reparação. Quase dois anos após o rompimento da Barragem de Fundão (Samarco/Vale/ BHP), vítimas do maior crime ambiental do país se queixam da assistência dada pelas empresas. Entidades questionam o cadastro promovido pela Renova, fundação vinculada à Samarco, afirmando que processo não contempla necessidades dos atingidos e não leva em conta sua participação.

Amparo emergencial “Mesmo em áreas de risco, há famílias que querem sair de suas propriedades, mas têm medo, pois a empresa só aluga uma casa. Eu mesma saí de um sítio e a empresa só alugou uma casa e eu não tenho terreno para pôr meus animais”, contou, durante entrevista coletiva no dia 20 de setembro, Maria do Carmo Silva, moradora de Paracatu de Cima. Ela disse que muitas pessoas não receberam nenhum amparo emergencial, como o aluguel e au-

Moradora diz que muitas pessoas não receberam nenhum amparo emergencial xílio financeiro. “Tem famílias que moram em municípios onde não chegou a lama, mas são funcionários de empresas onde a lama passou e levou tudo; esses funcionários foram demiti-

Efeitos do rompimento da barragem de Fundão foram sentidos em toda a bacia do Rio Doce, como em Cachoeira Escura

dos e não foram reconhecidos”, exemplifica. Cadastro No início de 2016, as empresas responsáveis pela barragem assinaram um Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) com a União, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e diversos institutos e agências de regulação ambiental. Fruto desse acordo, criou-se a Fundação Renova, entidade vinculada à Samarco, cuja finalidade seria restabelecer as comunidades ou, quando isso não fosse possível, compensar as perdas. Para tanto, a Renova contratou, junto à empresa Synergia, um cadastro-padrão das famílias atingidas ao longo de toda a Bacia do Rio Doce, iniciado em julho de 2016. O cadastro, segundo atingidos, não levou em conta sua participação no processo, mas apenas o ponto de

vista da empresa. Suspeitando que o levantamento pudesse gerar informações prejudiciais aos próprios atingidos, passou-se,

em Temáticas Ambientais (GESTA) da UFMG; outro elaborado a pedido do Ministério Público Federal e ainda outro pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Audiência pública No dia 5 de outubro, acontece no Fórum de Mariana uma audiência pública para debater a situação dos atingidos que não foram contemplados pela empresa, a reformulação do cadastro, o reassentamento das comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, bem como a reconstrução de outras localidades do município de Mariana, como Borba, Pedras, Campinas e Ponte do Gama.

Casa da árvore

Atingidos afirmam que cadastro não levou em conta a participação deles então, a questionar o processo judicialmente. “Conquistamos o direito à reelaboração do cadastro por decisão do juiz, que identificou que não é nem de perto a nossa realidade”, afirma Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo. Desde então, alguns pareceres foram publicados, questionando a metodologia adotada pela empresa. Entre eles, um documento do Grupo de Estudos

F

ogo consumiu imóvel, que ficava no bairro Jardim América, no último domingo (24). Todos os cômodos foram destruídos, inclusive a biblioteca, que continha mais de mil livros e era mantida pelos ex-moradores. O Ministério Público requisitou a instauração do inquérito policial e a perícia esteve no local para iniciar as investigações. Na quarta (27), a PBH se comprometeu a reconstruir a casa, em parceria com os antigos ocupantes.


CIDADES

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Opinião

Escola, religião e Estado laico João Paulo Cunha A decisão do Supremo Tribunal Federal em rejeitar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, proposta pela Procuradoria Geral da República, traz questões importantes. A votação apertada, 6 votos a 5, que exigiu “voto de Minerva” da presidente do STF, Carmen Lúcia, é uma prova da divisão sobre o tema: o ensino religioso confessional nas escolas públicas. Confirmando as leis vigentes, os professores poderão dar aulas de religião no ensino fundamental, de acordo com suas crenças. Assim, o ensino poderá ser ministrado por representantes de credos específicos, como padres, rabinos, pastores ou ialorixás. Além desse modelo de ensino, denominado confessional, as escolas poderão adotar o padrão interconfessional, que trata de valores presentes em diferentes religiões, com abordagem histórica ou filosófica. As regras valem para as escolas públicas. No ensino privado, não havia questionamento e o modelo confessional sempre foi praticado, sobretudo nos colégios católicos e protestantes.

O ensino, sobretudo na escola pública, tem vocação para o universal, não para o catecismo particular A decisão do Supremo se dirige às escolas públicas por motivos óbvios. Trata-se de regular um setor que é mantido por recursos públicos e que segue regras definidas em leis de diretrizes e bases, que norteiam o sistema educacional. A arguição de inconstitucionalidade estava ligada principalmente ao fato de o Estado brasileiro ser definido como laico na Constituição Federal. A ação apontava contradição entre laicidade e ensino religioso de doutrinas específicas, em salas de aulas de escolas mantidas com recursos públicos. Há vários aspectos que deverão ser tratados a partir de agora, como a adequação à Lei de

Diretrizes e Bases. Mesmo prevendo o ensino religioso, a norma é atenta ao conteúdo da disciplina, o que exige cuidado em não permitir que o que hoje se chama de confessional se torne proselitista, faça propaganda, ou seja, doutrinário. O ensino, por sua natureza, sobretudo na escola pública, tem vocação para o universal, não para o catecismo particular. O risco em não atentar para a abertura a diferentes religiões pode ser a continuidade da atual configuração religiosa do país, o que poderia reforçar as discriminações ainda presentes em vários contextos culturais. A representação plural das religiões na grade curricular será um desafio tanto prático como pedagógico. Os ministros do STF, pelos argumentos apresentados em seus votos, decidiram mais com convicções pessoais (é só acompanhar a argumentação bisonha de Gilmar Mendes) do que com o senso de equilíbrio e conhecimento que a questão impõe. A decisão convoca a extrema atenção para os defensores da liberdade de pensamento. Pode ser que Deus não exista, mas o diabo mora nos detalhes.

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Quatro hidrelétricas da Cemig foram privatizadas GOLPE Leilão aconteceu na quarta (27) e empresas multinacionais pagaram R$ 12,1 bilhões no total Maxwell Vilela

Da redação

O

governo federal leiloou, na manhã de quarta (27), quatro usinas hidrelétricas operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Por R$ 12,1 bilhões, as usinas São Simão, Miranda, Jaguara e Volta Grande foram vendidas a empresas estrangeiras por R$ 12,1 bilhões. A transação foi realizada na capital paulista na bolsa de valores. Joceli Andrioli, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o leilão repre-

O próprio povo”, questiona. O governador Fernando Pimentel também se mani-

Todas essas hidrelétricas já foram pagas na conta de luz”, diz militante do MAB senta uma entrega de patrimônio público ao capital financeiro. “Todas essas hidrelétricas já estão amortizadas, ou seja, já foram pagas por

meio da conta de luz da população durante 30 anos ou mais. Agora, estão entregando essa riqueza do povo aos banqueiros. E quem vai pagar a conta?

festou, por meio de vídeo em suas redes sociais, criticando a medida e afirmando que a quarta (27) foi “um dia triste” para o estado. “Tentamos,

MINAS GERAIS PROMOVENDO A IGUALDADE RACIAL: POR NENHUM DIREITO A MENOS.

de todas as formas possíveis, uma negociação que permitisse que a Cemig continuasse operando essas usinas. Infelizmente, não encontramos espaço no governo federal”, afirmou. Durante a votação, uma manifestação aconteceu em frente à sede da Cemig, em BH. Novas mobilizações estão previstas para rever a venda. Entre elas, está a pressão pela aprovação de um decreto parlamentar para suspender o leilão e devolver as usinas para controle da Cemig.

DIAS 29 E 30 DE SETEMBRO E 1º DE OUTUBRO

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direitoshumanos.mg.gov.br


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CULTURA

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Elas assinam suas histórias ESTRELA Mulheres detidas no Complexo Penitenciário Estevão Pinto participam da 4ª edição da revista Ciro Thielmann/ Divulgação

Joana Tavares

“M

e chamam de Tempestade. Se você ouvir falar por aí que a Tempestade está lançando um livro, pode saber que sou eu”, avisa Karinne Cândido de Andrade, que pretende contar sua história de rápida ascensão no tráfico. Ela perdeu o aniversário de um ano da neta para participar do lançamento da revista “A Estrela”. Karinne adiou sua ‘descida’ - saída de sete dias concedida a quem está no regime semiaberto - para comemorar com suas colegas a vitória de ver o trabalho impresso, depois de uma semana de oficinas, organizadas pelo fotógrafo Leo Drumond e pela jornalista

Quarta edição da revista Estrela foi a primeira feita em unidade prisional comum

Natália Martino no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto. A revista, que já está na quarta edição, faz parte do projeto Voz, que desenvolve atividades junto a pessoas privadas de liberdade. Foi a primeira vez que ela foi fei-

ta numa unidade do sistema prisional comum – as três anteriores foram realizadas em Apacs (Associação de Proteção e Amparo ao Condenado). O tempo foi mais curto, mas os organizadores se surpreenderam com a quantidade e qualidade de produção

das mulheres. “Tivemos tanto material que foi até difícil editar”, comemora Natália. Como explica o fotógrafo Leo Drumond, o objetivo principal do projeto é que as próprias pessoas contem sobre suas vidas. Por isso, a revista é toda feita por elas. A pauta, as fotos, os textos e até uma letra – e clipe – de rap compuseram o material. Representantes da Defensoria Pública, de secretarias do governo e da coordenação da unidade elogiaram a

Nos olham pelos erros, mas temos qualidades”

iniciativa e destacaram como a experiência é diferente. “Cada mulher que está aqui tem o direito a receber instrumentos para mudar suas vidas, agora e depois que saírem”, destacou a defensora pública Ana Paula Starling. Patrícia Grasiele, autora do rap publicado, pede que as pessoas de fora da cadeia superem suas primeiras impressões sobre quem está dentro. “Muitos nos olham pelos nossos defeitos, nossos erros, mas também temos nossas qualidades”, frisa. Depois da experiência bem sucedida na PIEP, os organizadores pretendem replicar o projeto em outras unidades no estado.

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Por uma reforma tributária que faça justiça aos mais pobres A forma como os impostos são cobrados no Brasil explica o fato de figurarmos entre as nações mais desiguais do mundo. A conclusão acaba de ser reforçada com a divulgação do relatório “A Distância que Nos Une – Um Retrato das Desigualdades Brasileiras”, produzido pela Oxfam Brasil, Organização Não Governamental com sede na Inglaterra. Um dos fatores seria o fato de parte significativa da carga tributária se concentrar em bens e serviços que toda a população consome. Assim, proporcionalmente, ela pesa mais para aqueles que ganham menos – e, em ordem inversa, menos para quem ganha mais. Para se ter uma ideia, hoje, os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos, enquanto os 10% mais ricos consomem apenas 21%, conforme os dados compilados pela organização.

É a isso que chamamos tributação regressiva, que faz com que apenas seis pessoas no país detenham atualmente a mesma riqueza dos 100 milhões mais pobres. O relatório mostra ainda que um brasileiro que recebe atualmente um salário mínimo mensal levará 19 anos para ganhar o mesmo que um integrante do grupo mais rico do país recebe em um mês. E conclui que a tributação no país não é excessiva, mas injusta. Segundo a Oxfam, quem tem rendimento de 80 salários mínimos conta com isenção de cerca de 66%, ao passo que para aqueles que recebem entre 3 e 20 salários mínimos o percentual não ultrapassa 17% – já na faixa mais baixa, que concentra os que ganham entre 1 e 3 mínimos, a isenção gira em torno de 9%. Na tentativa de contribuir para a adoção de um modelo de tributação mais justo, o Sindifisco-MG, em conjunto com outras entidades, compõe atualmente uma

frente nacional que tomou para si a tarefa de formular uma proposta alternativa ao projeto de reforma tributária que tramita na Câmara dos Deputados. Entre outros itens, ela prevê a adoção de um modelo progressivo de tributação, que faça com que aqueles que concentram maior renda contribuam mais; a simplificação de tributos; e a criação de fundos que estimulem o desenvolvimento regional e a sustentação do sistema de Seguridade – ao qual estão subordinadas a Previdência Social, a saúde e a assistência aos mais pobres. Também é nosso objetivo que a proposta contemple a defesa do federalismo, para evitar que a União concentre a maior parte das receitas, como ocorre atualmente, e Estados e municípios permaneçam à mercê da boa vontade do governo federal.

sindifiscomg.org.br


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ENTREVISTA

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Produtos e cultura direto da roça para BH CIRCUITO Cantador e militante do MST, Zé Pinto fala sobre feira que acontece em outubro Larissa Costa / Brasil de Fato MG

Joana Tavares

A

utor dos famosos versos “Esse é o nosso país, essa é a nossa bandeira. É por amor a essa pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”, Zé Pinto é um mineiro que vive em Rondônia. Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apaixonado pela agroecologia e cantador popular, ele fala nesta entrevista sobre os 20 anos da canção “Ordem e progresso” e da marcha que deu origem a ela. Ele também convida os belo-horizontinos para a etapa estadual do Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária, que acontece na capital de 6 a 8 de outubro. Iniciado no dia 2 de setembro, o circuito já percorreu diversas cidades, como Governador Valadares, Montes Claros e Alfenas. Em Belo Horizonte, vai acontecer na Serraria Souza Pinto, no centro, com feira de produtos e apresentações artísticas. Brasil de Fato - Como tem sido a recepção do circuito e qual a expectativa para Belo Horizonte? Zé Pinto – Estou muito feliz de estar na minha terrinha de novo para cumprir uma tarefa como essa. Foi muito bom o circuito nos municípios onde participei. Começou em Valadares, passou por Montes Claros e Alfenas,

O agronegócio tem uma proposta satânica, de encher a produção de venenos”

Zé Pinto: “É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”

A letra trabalha essa realidade, que o povo está de cabeça erguida” e a receptividade foi sempre maravilhosa. Há muitos artistas compreendendo esse projeto do MST, essa iniciativa. Isso tende a render muito. Estamos aguardando acontecer na Zona da Mata. Como aconteceu nos municípios, a questão da feira, com produtos da roça, sem venenos, ajuda a conscientizar as pessoas da importância da pequena agricultura para a população brasileira. O agronegócio tem uma proposta satânica, de encher a produção de venenos, de concentrar hectares e mais hectares de terra nas mãos de uns poucos, e produz para exportar, com monocultura. É tudo de negativo. E os pequenos agricultores estão aí tentando levar outro projeto para frente. O MST está querendo trazer para as cidades os alimentos, fazer essa troca com a população da cidade. Aqui vai ser muito bonito, vai vir gente de muitas regiões, produtos de

muitos lugares. E vai vir a arte também, com várias programações: teatro, música, de tudo um pouco. Vai ser muito bom mesmo.

O MST está puxando isso de trazer para as cidades os alimentos sem venenos” Você é o autor de uma música que ficou conhecida no Brasil, virou quase um hino, “Ordem e progresso”. Qual foi o contexto em que você compôs essa letra? Essa música nasceu na marcha nacional [Marcha Nacional por Emprego, Justiça e Reforma Agrária], que foi uma coisa espetacular. [Na ocasião, 100 mil pessoas receberam os semterra, que foram marchando até Brasília, no dia 17 de abril de 1997, quando completou um ano do massacre de Eldorado dos Carajás]. A gente foi cantando a música na marcha. Fui escrevendo a música durante o trajeto e chegamos a Brasília cantando. Agora o povo canta isso não só no Brasil, mas

mundo afora. A ideia da letra era essa: vamos em marcha. Trabalha essa realidade, que o povo está de cabeça erguida. A história da luta não morreu, como alguns querem convencer a gente. O povo segue em marcha e a música segue essa proposta. “É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”, como diz um trecho. A música retrata isso: o povo luta porque ama a pátria. Infelizmente às vezes vem a repressão e bate nas pessoas que estão querendo uma coisa melhor pra todos. A música e a marcha estão fazendo 20 anos. Como você vê a resistência da luta e da arte no contexto atual? Esse golpe é um negócio muito descarado. Por-

O povo luta porque ama a pátria” que a sociedade sempre sofreu golpes, mas este agora é na cara. A gente não precisa nem detalhar isso. É incrível como isso pode acontecer em pleno século 21. Mas estou feliz, porque há muitas organizações dispostas a lutar, há muita gente investindo também em agroecologia, temos muitas experiências. No caso dos alimentos, a gente vê que quando oferecemos comida saudável o povo vem, compra, cobra por mais, que devia ter mais feiras. O pessoal cobra e quer. Ninguém gosta de coisa que não presta.


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Em última edição “pobre”, Cruzeiro fatura R$ 11 mi

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA Lucas Figueiredo / CBF

Lucas Figueiredo / CBF

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lém da marca de maior vencedor da Copa do Brasil, ao lado do Grêmio, a campanha do pentacampeonato cruzeirense rendeu algum dinheiro. O clube mineiro faturou R$ 11,685 milhões, somando as cotas de participação nas oito fases do mata -mata, do início da competição pelo título.

Já a partir do ano que vem, quem levantar a taça receberá um valor mais significativo: R$ 68,70 milhões. Já o vice deverá receber em torno de R$ 20 milhões. Isso porque CBF e Globo celebraram novo contrato de transmissão, prevendo novos valores para os clubes.

“A coordenação da nossa seleção e do futebol feminino no país está nas mãos de quem não entende uma vírgula do esporte” Emily Lima, técnica demitida na última semana, após dez meses no comando da Seleção Brasileira feminina de futebol.

Gol de placa O jornalista inglês radicado no Brasil, Tim Vickery, criticou o preconceito de atletas brasileiros contra estrangeiros. Para isso, deu exemplos de declarações contra juízes “do Peru e da Bolívia”, que sempre atuariam contra os times do Brasil, e rasgou um jornal que reproduzia o mesmo preconceito.

Gol contra A CBF demitiu a treinadora da seleção feminina de futebol, Emily Lima. Primeira mulher a assumir o cargo, ficou dez meses à frente da seleção (7 vitórias, 1 empate e 5 derrotas). Os cinco técnicos – homens – que antecederam Emily na função completaram mais de um ano de trabalho.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Leo Calixto

Mesmo perdendo para o Inter em Porto Alegre, o América mostrou por que está disputando ponto a ponto a liderança da Série B: jogou de igual para igual com o Colorado, teve chances de empatar ou até vencer e assustou o adversário, que tem uma folha salarial de R$Decacampeão 7,5 milhões mensais, 12,5 vezes mais que o América, que gira em torno de R$ 600 mil. Mas, no futebol, não é só dinheiro e estrelas que contam: vale muito a vontade de vencer, a organização tática e o comprometimento. E tudo isso o Coelhão tem de sobra. Assim, o time sai de Porto Alegre com a cabeça erguida, confiante não só no acesso e na briga pelo título, mas dando esperança para uma boa primeira divisão em 2018.

Eis Oswaldo de Oliveira. Após experimentações, a diretoria aposta em um treinador do grupo de “medalhões”. Falta elenco, disposição, comando, comprometimento, garra? E vem um comandante habituado às estrelas, às celebridades, aos idiossincrátiÉ Galo doido! cos, aos ciclotímicos. Vejamos o que sairá de tudo isto. De candidato a títulos, passamos a ávidos por vaga na Libertadores e, nas últimas rodadas, ameaçados de rebaixamento. Quem espera por tantas oscilações num ano tão promissor? Já vivemos um Galo de todas as esperanças, das decepções, das conquistas e, agora, de muitas dúvidas e nenhuma convicção. A resistência está na alma do atleticano e ela vai vencer todas as adversidades.

Anúncio PENTA CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL! É isso mesmo que vocês estão lendo. O Cruzeiro, maior clube do estado de Minas Gerais, conquistou o quinto título da copa e o nono título nacional de sua história. Quiseram os deuses e as deusas do futebol que, La fraco, Bestia o após um jogo comNegra muita marcação e poucos espaços, o time celeste se sagrasse campeão na disputa de pênaltis, com Fábio, e não Muralha, como herói. A conquista nos garantiu vaga direta para a fase de grupos da Libertadores 2018. Podemos festejar, torcedoras e torcedores. Afinal, agora temos o verdadeiro 9 a 2 entre nós e o rival. Agora, é terminar o ano entre os três primeiros do brasileirão, coroar o ano e planejar bem 2018.


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