Edição 178 do Brasil de Fato MG

Page 1

CIDADES

4

CULTURA

Trabalhadoras do SUS precarizadas

Tarcísio de Paula

Música negra Peça musical “Bala da Palavra”, dirigida por Sérgio Pererê, faz encontro de composições da velha e nova gerações

Com salário, vale transporte e refeição atrasados, funcionárias terceirizadas reivindicam direitos e exigem mudanças à PBH

Minas Gerais

13

31 de março a 6 de abril de 2017 • edição 178 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita • facebook.com/brasildefatomg

Resistência

ontem e hoje

01 de abril de 1964, golpe militar. 31 de agosto de 2016, golpe institucional. Em ambos, a população organizou atos para dizer ‘não’ aos governos autoritários. Apesar de algumas semelhanças, também há diferenças importantes nesses processos. Confira reportagem e entrevista especiais sobre as características e manifestações que marcaram os dois períodos

MINAS

5

A luta não cessa Dia 28, trabalhadoras da educação protagonizaram grande ato em BH, contra a terceirização e o desmonte da Previdência. Nesta sexta (31), grande mobilização promete tomar as ruas do país contra as retiradas de direitos

ESPECIAL Para beneficiar bancos, seguradoras e políticos, o governo não eleito de Temer (PMDB) quer aprovar, com urgência, o desmonte da Previdência. Quem perde são os milhões de trabalhadores do Brasil, que dependem dos serviços da Seguridade Social. Em especial sobre o tema, o Brasil de Fato MG mostra como o discurso da “reforma da Previdência” é uma farsa


2

OPINIÃO

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

Editorial | Brasil

A resposta que eles merecem

ESPAÇO dos Leitores “Precisamos marcar luta entre o dia 31/3 e 28/4. Temo que até lá já vamos ter perdido todos os nossos direitos.” Nezito sobre a matéria “Confira a agenda das próximas mobilizações no país”

“Enjoado de pizza. Indignação resume bem.”

Fabiano Maduro sobre a matéria “Justiça suspende processos movidos contra Samarco sobre má qualidade da água”

“Quaresma, representa para nós católicos, os 40 dias que Jesus orou e jejuou no deserto, depois foi tentado. É a maior celebração Cristã.”

Flavia Goulart Guimaraes comenta a Pergunta da Semana: “Para você, o que significa a quaresma?”

“Parabéns! O povo Brasileiro tem que se manifestar contra estes golpistas.” Marilene Santos sobre matéria “Moradores de Conceição do Mato Dentro realizam manifestação em defesa da aposentadoria”

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

Relatório da ONG Oxfam demonstrou que seis homens brasileiros detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do país, ou seja, 100 milhões de pessoas. Isso quer dizer que 0,00000003% da população tem a mesma riqueza que 50% dos 200 milhões de brasileiros. A desigualdade social é a verdadeira chaga brasileira. Resulta dessa desigualdade econômica a desigualdade de acesso ao conhecimento, ao poder e à política. Não há sistema político, democracia e nem mesmo economia que funcione nessas condições.

Greve contra a brutalidade e a ignorância É levando em conta essa desigualdade social no Brasil que é possível entender o afastamento da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016. A essa altura do jogo, não há ninguém que vá conseguir sustentar que foi por pedaladas fiscais, motivo pífio e falacioso. Nossa frágil democracia não conseguiu sobreviver a um curto período de três mandatos presidenciais (dois de Lula e um de Dilma) em que houve um breve ensaio de medidas para melhorar a vida dos mais pobres. Esses governos implementaram uma série de programas sociais, mas esqueceram do principal, democratizar o poder, a política e os meios de comunicação. Quando os ricos já não aceitaram nem mesmo aqueles poucos programas sociais, passaram por cima da nossa democracia.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

Desde que Temer assumiu, tomou as medidas mais duras contra os mais pobres. Todas as iniciativas desse governo não eleito jogam o peso da crise nos trabalhadores. A reforma da Previdência vai impedir que as pessoas saiam do mercado de trabalho, aumentando o desemprego e rebaixando os salá-

Todas medidas de Temer são contra pobres rios. Vai falir municípios pequenos e jogar milhões na miséria no período da velhice. A reforma trabalhista visa permitir que os patrões possam negociar com os trabalhadores, fazendo acordos abaixo dos direitos trabalhistas. Se aprovada, os trabalhadores perderão a garantia de férias, descanso semanal, décimo terceiro, dentre tantos outros direitos. A resposta deve ser à altura. Contra a ignorância, a brutalidade e a insensibilidade dos ricos, que ignoram o direito à vida dos mais pobres, a greve e a luta de massas nas ruas. Os milhares de brasileiros que foram às ruas no dia 15 de março acuaram o governo. Também o 31 de março manda um recado aos poderosos. As centrais sindicais e a Frente Brasil Popular estão chamando greve geral para 28 abril. Convoquemos parentes, amigos, vizinhos e conhecidos a nos somar nessa agenda de lutas.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Durval Ângelo Andrade, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Samuel da Silva, Talles Lopes, Temístocles Marcelos, Titane, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Larissa Costa, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fernanda Costa, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Marcelo Pereira, Nadia Daian, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Cristiane Verediano. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Amélia Gomes. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


?

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

“Perguntaram-me se não estou com medo e se não seria melhor me calar. Se nos calarmos, instalaremos ditadura ainda pior no país. Levantem-se!”

Após sete meses do governo não eleito de Michel Temer, que assumiu a presidência do país em 31 de agosto e criou muitas medidas polêmicas, o Brasil de Fato MG pergunta:

O que você menos gosta nesse governo?

Andreia Lúcia, supervisora de eventos

É mais fácil eu falar para você o que ele fez de bom, né? Que na verdade é nada. Até agora esse governo só tem sacaneado com o trabalhador, aprovando a terceirização e diminuindo a previdência.

3

Declaração da Semana

PERGUNTA DA SEMANA

Acho que as coisas só estão piorando, e o mais horrível é o aumento do desemprego. Um amigo meu está há um ano e oito meses procurando emprego e nada. A gente está com medo. Por enquanto não vi melhoras não.

GERAL

Divulgação

Eduardo Guimarães, blogueiro, foi conduzido à força para prestar depoimento na última semana, a mando do juiz Sérgio Moro.

#BombouNaRede

Reprodução de vídeo

Pedro Rafael, agricultor

DJ MACHISTA, APRESENTADORA CORAJOSA

A transmissão ao vivo do Festival Lollapalooza, que aconteceu em São Paulo no dia 26 de março, teve exposição de verdades. A apresentadora Titi Müller, do Canal Bis, falou ao vivo sobre o machismo do DJ israelense Asaf Borgore. Asaf possui músicas do tipo “aja como vadia, mas antes lave a louça”, que na opinião da apresentadora são músicas “machistas” e “babacas”.

2ª chance no ProUni Vão até 5 de abril as inscrições para o Programa Universidade para Todos (ProUni) para estudantes que já estudam na instituição em que desejam obter bolsa. O processo visa preencher as vagas que não foram ocupadas durante o processo regular. Podem concorrer professores da rede pública e estudantes que fizeram alguma prova do ENEM a partir de 2010. Mais informações: siteprouni.mec.gov.br

ARREPENDEU DE ENVIAR? PODE APAGAR! Quem nunca enviou uma mensagem para o destinatário errado ou mesmo desistiu de dizer o que havia escrito, mas era tarde demais? Com a nova versão beta do aplicativo WhatsApp, é possível apagar uma mensagem enviada sem que ela chegue ao destinatário. Agora os usuários terão 2 minutos para desistir de enviar o texto, foto, áudio ou vídeo.


4

CIDADES

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

Terceirizadas, trabalhadoras dos serviços gerais do SUS estão com salários e benefícios atrasados ABUSO Além da falta de pagamento, funcionárias enfrentam sobrecarga e péssimas condições de trabalho Raissa Lopes / Brasil de Fato - MG Reprodução

Raíssa Lopes

T

rabalhadoras terceirizadas dos serviços gerais do Sistema Único de Saúde (SUS) da capital mineira vivem uma situação difícil. Após o contrato de prestação de serviço selado entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e a empresa Qualitécnica, que ficou respon-

Muitas das minhas companheiras faltam porque não podem arcar com a passagem”, diz servidora

sável por arcar com os direitos das funcionárias, elas não recebem regularmente o salário, ticket alimentação e nem vale transporte. Uma reunião foi realizada no prédio do Conselho Municipal de Saúde (CMS), na manhã de quarta-feira (29), para buscar respostas dos responsáveis. Após a espera de uma hora, as trabalhadoras e membros do conselho

tiveram que sair à procura dos representantes da prefeitura, que se encontravam no prédio. Com a intervenção, decidiram participar do encontro o gerente administrativo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Mário Lúcio Diniz, e o assessor de gabinete, Marcelo Azalim. Durante a conversa, as trabalhadoras expuseram as graves situações que vi-

vem no ambiente de trabalho. Além dos honorários não pagos, elas cumprem as funções sem supervisão e muitas vezes têm que limpar, sozinhas, toda uma unidade de saúde. Segundo os relatos, as auxiliares chegam até a atuar como copeiras. Também não estão sendo fornecidos materiais básicos de limpeza, como sabão e saco de lixo.

“A Qualitécnica assinou nossa carteira em 5 de maio de 2016. Desde então a gente vive esse absurdo. Com três meses de firma, o Ministério do Trabalho interviu para que a empresa pagasse o salário. Muitas das minhas companheiras faltam porque não podem arcar com a passagem. No serviço, chegamos até a fazer uma vaquinha para uma colega que não tinha o que comer em casa”, critica Marlene dos Santos Ribeiro, de 57 anos. Ela trabalha em um centro de recuperação de drogados que atende, diariamente, cerca de 60 pacientes. Tem que limpar banheiros, salas, cozinha e fazer café. Para suportar, criou um grupo de WhatsApp chamado “Guerreiras da Qualitécnica”, no qual as trabalhadoras consolam umas às outras.

Terceirização precariza ainda mais o trabalho que com os valores, já que a empresa responsável alega falência e impossibilidade de quitar as dívidas. “Que fique de alerta para o povo brasileiro. Esse modelo de trabalho só é bom para patrões”, continua Bruno.

O

contrato da PBH com a Qualitécnica vai completar 11 meses. Ele tem vigência de cinco anos, mas, de acordo com as respostas da secretaria, será cancelado. Passando de uma empresa para outra, as trabalhadoras seguem há anos sem férias. “Nós estamos diante de mais um exemplo de atroci-

dades, em função da terceirização”, declara o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Bruno Pedralva. Ele avalia também que, além fiscalizar a total ruptura com a Qualitécnica, o órgão irá atuar para garantir que os direitos das funcionárias sejam cumpridos. A ideia é que a PBH, como subsidiária, ar-

Ficou acordado entre prefeitura e trabalhadoras o pagamento de tudo que está atrasado. Para viabilizar, a PBH realizará uma nova reunião na sexta (31) com o Ministério do Trabalho e a presença de sindicatos.

Da reunião, o conselho também listou as críticas para cobrar melhorias do executivo municipal.

Anúncio

ao maior ataque aos REAJAdireitos dos trabalhadores

Uma campanha de financiamento coletivo para a publicação do livro “100 Mulheres Cabulosas da História” foi lançada na última semana. Organizado pelo Levante Popular da Juventude, o projeto faz releituras fotográficas e resgata a vida de mulheres que marcaram a história, seja nas artes, na ciência e em processos revolucionários. A intenção é que o livro seja publicado em março de 2018. Para colaborar, acesse www.catarse.me/mulherescabulosasdahistoria. Nessa plataforma, também são disponibilizados os orçamentos e brindes para quem contribuir.

VEM AI, GREVE GERAL www.facebook.com/SindSaudeMG


Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

MINAS

5

Opinião

Puxadinhos golpistas João Paulo

O presidente não eleito tem enchido a boca para falar de reformas. Quase sempre, seguindo um jogo de chantagem pré-política, apresenta seus projetos destrutivos, como se fossem a salvação do país. Ele mente de graça em discursos para empresários e paga para mentir nos meios de comunicação. Próprio da condução autoritária do atual poder ilegítimo, são desqualificados todos os canais de consulta e participação popular. O Congresso entra como fiador da representatividade, ainda que manchado em sua maioria pelo alinhamento fisiológico explícito. Tem feito o serviço sujo sem constrangimento. Maia e Eunício não ficam nada a dever a Cunha e Renan. Os puxadinhos golpistas não merecem sequer o nome de reforma. A chamada reforma da previdência, que conseguiu ser rejeitada em duas manifestações de ins-

piração ideológica completamente distintas, já mostrou a que veio. Aumenta o tempo de contribuição e defende uma idade mínima

Temer mente, chantageia e destrói o Brasil que inviabiliza a aposentadoria para quem mais trabalha e menos ganha. Além disso, o projeto retira, de forma abrupta, princípios de equidade de gênero e reduz o valor dos benefícios de ponta a ponta. Inclusive com artifícios que permitirão pagamentos abaixo do salário mínimo. Os responsáveis pelo projeto mentem sobre a situação dos recursos (evitando sempre falar em auditoria do setor) e acabam com a solidariedade geracional. Já a reforma trabalhista, enfiada sorrateiramente no Projeto de Lei 4302, recém-apro-

2

SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO ANOS UMA CONQUISTA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE MINAS GERAIS

Em apenas 2 anos a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário apresenta resultados que valem para a vida toda, beneficiando milhões de pessoas em toda Minas Gerais. Com o fortalecimento da agricultura familiar o Governo do Estado contribui para que o povo mineiro tenha uma alimentação mais saudável, com comida de verdade na mesa.

vado pela Câmara dos Deputados, tem como fundamento a terceirização universal por parte das empresas. A terceirização vai tornar a força de trabalho mais barata, a empregabilidade mais instável e a vida dos trabalhadores mais perigosa. Dados do Dieese e da OIT são explícitos nesses três aspectos: salários menores, maior rotatividade e aumento de acidentes de trabalho. Mas não para por aí. A terceirização enfraquece os sindicatos, diminui a qualidade das condições laborais e tem uma vinculação histórica com casos de denúncia de trabalho escravo. E não tem o impacto anunciado na criação de empregos. O que vários estudos comprovam é que o fortalecimento da legislação que protege o trabalho leva à queda do desemprego no longo prazo. Não há reforma da previdência, mas destruição da seguridade social. Não há reforma trabalhista, mas intensificação da exploração do trabalho.

Anúncio


6

MINAS

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

Medidas do governo provocam nova onda de protestos FORA TEMER 31 de março será mais uma data de manifestações por todo o país. Reforma da Previdência, reforma trabalhista e terceirização são principais reclamações Rafaella Dotta

Roberto Parizzoti / CUT

s centrais sindicais A anunciam a realização de uma paralisação

nacional no próximo dia 28 de abril. Antes, porém, estas organizações divulgam uma outra manifestação, nesta sexta-feira (31), junto com as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. O ato desta semana é uma espécie de termômetro para uma greve geral em todo o país. Os protestos são um enfrentamento ao governo do presidente não eleito, Michel Temer, e suas mais recentes propostas, a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. Além da já aprovada lei 4.302, a lei da terceirização. “Só há uma forma de brecar

o desmonte do Estado brasileiro e a pauta de retirada de direitos: ir às ruas e pressionar os deputados e senadores em seus domicílios eleitorais”, afirmam as frentes em nota. A expectativa é reproduzir as ações do último dia 15 de março, quando cerca de um

milhão de pessoas, segundo os organizadores, participaram das manifestações em todos os estados e o Distrito Federal contra a reforma da Previdência. Em Belo Horizonte, o ato reuniu 100 mil pessoas, segundo a Policia Militar.

Seminário e protesto A Central Única dos Trabalhadores (CUT MG) antecipa seu congresso estadual e vai realiza-lo durante os dias 31 de março e 1 de abril, em BH. São esperados pelo menos três mil trabalhadores que integram sindicatos, movimentos populares e de juventude, e palestras com João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Carmem Foro, da CUT, e Emir Sader, sociólogo e cientista político. Em Belo Horizonte acontece também manifestação com concentração às 17h, na praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, saindo em marcha para o centro, contra a reforma da Previdência e trabalhista e a lei da terceirização.

Professores aprovam continuação de greve No dia 28 de março (terça), os professores estaduais decidiram, em uma gigantesca assembleia, continuar a greve iniciada em 15 de março. Segundo balanço do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (SindUTE MG), escolas de 350 cidades mineiras estão paralisadas totalmente ou parcialmente. Após a assembleia, professores municipais e estaduais saíram em marcha, que terminou na praça da Estação, contra a reforma da Previdência, a reforma trabalhista e pelo cumprimento de acordos firmados pelo governo estadual.

Caixa deve fechar cerca de 100 agências

Lei da terceirização deve ser explicada

De acordo com declaração do presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, o banco está prestes a fechar até 120 agências. A medida faz parte da contenção de despesas que a direção do banco implantou, juntamente à demissão voluntária de 5 mil trabalhadores. Sindicatos e especialistas afirmam que a medida demonstra a vontade do governo de privatização do setor.

O ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu explicações sobre a aprovação do Projeto de Lei 4.302, a lei da terceirização. Ele notificou a Câmara Federal no dia 28 de março, em resposta a um mandado de segurança do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), alegando que a lei é incompatível com a Constituição. A Câmara não tem prazo para dar as explicações.

2

ANOS

SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO UMA CONQUISTA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE MINAS GERAIS

Anúncio


Minas Gerais

abril de 2017 • edição especial • brasildefato.com.br • facebook.com/brasildefatomg • distribuição gratuita

A Previdência não está quebrada Governo não eleito de Temer (PMDB) quer aprovar, até maio, a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, maior golpe contra o sistema da Seguridade Social em toda a história do Brasil. Trabalhadoras e trabalhadores, no campo e na cidade, serão os mais prejudicados. Entre as mudanças, a medida aumenta a idade e o tempo mínimo de contribuição, com a justificativa de déficit nas contas. Mas não é isso o que os números dizem: eles apontam uma diferença entre arrecadação e despesa que beirava os R$ 20 bilhões em 2015. Contra a farsa, manifestações reúnem milhões de pessoas em todos os estados do país.


8 8

ESPECIAL

Belo Horizonte, abril de 2017

Mulheres serão mais prejudicadas com a reforma da Previdência DESIGUALDADE Ao igualar o tempo de contribuição, medida ignora que mulheres trabalham 6 horas a mais por semana que os homens Sumaia Villela / Agência Brasil

Da redação

O

desmonte da Previdência, previsto caso haja a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, é ainda mais perverso quando se trata das trabalhadoras urbanas, rurais, professoras, negras e idosas. Essa avaliação é realizada por especialistas que afirmam que a medida despreza as desigualdades de gênero, raça e regionais, ao elevar a idade de aposentadoria de 60 para 65 anos, igualando aos homens. “Todos os trabalhadores sairão perdendo com essa reforma, mas nós mulheres, vamos perder ainda mais, porque querem anular o diferencial de tempo de contribuição entre homens e mulheres. Isso significa ig-

norar toda a luta em torno do reconhecimento da dupla e até mesmo tripla jornada de trabalho das mulheres, no trabalho doméstico e de cuidados”, afirma Bernadete Monteiro, da Marcha Mundial das Mulheres. Marilane Oliveira Teixeira, assessora sindical e pesquisadora na área de relações de trabalho e gênero da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que aumentar o tempo de trabalho e contribuição é “absurdo”. “As mulheres continuam trabalhando o dobro na comparação com os homens. As mulheres trabalham em média 21 horas por semana e os homens 10h. E somando com o tra-

balho remunerado, as mulheres trabalham 58 horas por semana e os homens 52, ou seja, as mulheres continuam trabalhando seis horas a mais que os homens por semana”, explica Marilane. Falsos argumentos Entre os argumentos utilizados pelo governo não elei-

to de Michel Temer para a aprovação da reforma da Previdência, estão o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e a redução da diferença salarial entre homens e mulheres. Marilane aponta que a realidade é outra. “Não cresceu tanto assim a participação das mulheres no mercado de trabalho – praticamente estacionou em torno de 42%. A diferença salarial reduziu muito pouco no último período e, em relação aos salários maiores, essa diferença aumentou. A diferença se deu principalmente pela valorização do salário mínimo, mas agora, com ele parando de valorizar, começa a aumentar o fosso entre as mulheres e homens de rendimentos menores”, destaca a pesquisadora.

Debaixo de sol e chuva até os 65

RURAL Temer quer forçar a equiparação entre campo e cidade

Reprodução

Wallace Oliveira

N

a regra atual, as trabalhadoras do campo podem se aposentar, recebendo o benefício integral, aos 55 anos, enquanto os trabalhadores se aposentam aos 60. Isso acontece porque, em geral, essas pessoas começam a trabalhar ainda na infância. Além disso, o trabalho no campo exige mais esforço físico e exposição ao sol, chuva, mudanças de temperatura e outras intempéries. Por essa razão, é considerado um dos mais degradantes.

Porém, se a reforma do governo não eleito de Temer (PMDB) passar, trabalhadores rurais só se aposentarão após 65 anos de idade

e 25 anos de contribuição. Para receberem o valor integral do benefício, terão que contribuir por 49 anos. “É uma besteira comparar todo

mundo daqui para frente, tanto na cidade quanto no campo. Isso exigiria que as pessoas trabalhassem 50 anos na agricultura, o que é uma vergonha”, critica o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile. Outro ponto problemático são as regras para recolhimento da contribuição ao INSS. Atualmente, agricultores/as pagam ao INSS uma percentagem sobre a produção, mas, com a reforma, passariam a contribuir todo mês, de forma individual, com uma alíquota sobre o limite mínimo da

base de cálculo para o recebimento do benefício. Acontece que, no regime de safra da agricultura familiar, a renda do trabalhador é algo irregular, que não permite que ele tenha dinheiro todo mês. “Não pode ser assim. O trabalhador urbano tem salário, mas a renda do trabalhador rural depende da produção. Olhe para o Nordeste, que enfrenta uma seca há seis anos. Como é que pagaremos ao INSS todo mês?”, questiona o presidente da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Pernambuco (FETAPE), Doriel de Barros. Anúncio


Belo Horizonte, abril , 2017

Papel de Temer é colocar retirada de direitos em prática, diz sindicalista GOLPE Proposta de reforma da Previdência é parte de um programa não eleito Beto Barata / PR

Luiz Felipe Albuquerque

P

ara a coordenadora-geral do Sind-UTE/MG e presidenta da CUT/MG, Beatriz Cerqueira, o processo jurídico para a deposição da ex -presidenta Dilma Rousseff em 2016 serviu apenas como um pretexto para viabilizar um programa de governo que havia sido derrotado nas eleições presidenciais de 2014. Para ela, a aliança do governo não eleito de Michel Temer, junto ao Congresso Nacional e ao sistema financeiro, busca construir “um Estado menor do que aquele conquistado com a Constituição de 1988. Na visão da elite brasileira, a Constituição garantiu direitos demais, o Estado ficou ‘grande demais’”, avalia. “Pelas urnas, nenhum proje-

to de corte de direitos sairia vitorioso. O golpe parlamentar foi essencial para que esta retirada de direitos fosse colocada em prática”, pontua. As políticas econômicas e sociais que estão sendo implementadas pelo governo, segundo Beatriz, como as mudanças na Previdência e na legislação trabalhista, o

corte de investimentos nas esferas municipal, estadual e nacional e a diminuição de investimentos obrigatórios em Saúde e Educação comprovam essa avaliação. Política ultraneoliberal Na mesma linha, o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães avalia que o “os gol-

pistas que destituíram Dilma Rousseff tinham uma agenda já preparada” para implementar uma política “ultraneoliberal”, a partir de uma “visão equivocada da sociedade e da economia, para impedir o desenvolvimento da sociedade brasileira e a construção de uma sociedade moderna, democrática e inclusiva, menos desigual e mais harmônica”. Beatriz acredita que a população já começou “a perceber que tem algo errado”, e que “a tomada das ruas no último dia 15 demonstrou isso. Precisamos rapidamente construir mais dias ‘15’. Temos a obrigação de tentar entregar este mundo melhor do que aquele que recebemos”.

Quem recebe pensão e benefício também vai perder

ESPECIAL

99

Empresas devem mais de 426 bilhões à Previdência Empresas públicas, privadas, fundações e entes da federação devem ao Regime Geral da Previdência Social mais de R$ 426 bilhões, segundo informações da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Entre os maiores devedores estão empresas já fechadas, como a TV Manchete e as antigas companhias aéreas Varig e Vasp. Somente essas devem mais de R$ 7 bilhões. A lista conta também com bancos privados e públicos, como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, todos com dívidas milionárias. A empresa JBS, da Friboi, é a segunda maior devedora com quase R$ 2 bilhões e 400 milhões. A mineradora, Vale também é devedora e as cifras chegam a quase R$ 600 milhões. A PGFN tenta recuperar esse valor na Justiça.

RETROCESSO Desmonte proposto pela PEC 287 atinge também quem já se aposentou Wallace Oliveira

Fernanda Castro / GEPR

A

proposta da reforma da Previdência não atinge apenas quem quer se aposentar um dia, mas também pensionistas, aposentados e famílias que dependem de outras políticas da Seguridade. Por exemplo, o idoso que não acumulou os requisitos para se aposentar só terá direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) aos 65 anos, se aprovada a nova regra. A idade mínima aumenta-

ria um ano a cada biênio, até atingir o limite etário de 70 anos para acessar o BPC. Além disso, a reforma pretende desvincular benefícios e pensões do salário mínimo. Nos governos Lula e Dilma, o salário mínimo praticamente triplicou, e o menor valor a ser recebido por um/a aposentado/a ou pensionista cresceu nessa mesma proporção. Com a PEC, o piso pode ser menor que o mínimo.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

A PEC 287 também proíbe que uma mesma pessoa acumule aposentadoria e pensão por morte ou duas aposentadorias de um mesmo regime.

Quem depende de outras políticas de Seguridade terá corte de direitos

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983


10

ESPECIAL

Belo Horizonte, abril de 2017

Quem ganha com o desmonte da Previdência

Credores da dívida pública

Bancos e seguradoras

Políticos golpistas

O Brasil tem os juros mais altos do mundo e a dívida pública consome boa parte do orçamento da União. Em 2015, foram gastos 42,43% com juros e amortizações da dívida; com a Previdência Social, foram 22,69%. O pagamento da dívida beneficia um pequeno número de especuladores. A Previdência atende diretamente mais de 100 milhões de pessoas. “Ao retroceder em direitos e rebaixar o gasto social, o governo abre espaço no orçamento para a gestão da dívida pública”, afirma o economista Eduardo Fagnani.

Entre julho e dezembro de 2016, o secretário da Previdência Social, Marcelo Caetano, encontrou-se com bancos, seguradoras e fundos de pensão e investimento. Entre os bancos, estavam o Bradesco, Santander e Itaú. Caetano também é conselheiro de uma das maiores empresas de previdência privada do país, a BrasilPrev. O pânico causado pelo desmonte da Previdência fez várias pessoas correrem atrás de um plano privado. O problema é que a previdência privada não oferece as mesmas garantias da pública, e a maior parte da população não tem condições de pagar.

O presidente não eleito, Michel Temer (PMDB), aposentou-se aos 55 anos e recebe um benefício mensal de mais de R$ 30 mil. O relator da PEC 287, deputado Arthur Maia (PPS), é dono de uma empresa que deve R$ 150 mil ao INSS. E os políticos que vão votar a proposta já querem driblar as novas regras. O deputado Carlos Eduardo Cadoca (PDT) apresentou uma emenda à PEC 287, prevendo regras especiais para deputados e senadores. Para Cadoca, parlamentares com mais de 54 anos e um mandato cumprido não devem ser afetados pela reforma.

Mais de um milhão de pessoas já foram às ruas contra reformas MOBILIZAÇÃO Novos atos e greves estão sendo convocados para expressar indignação popular Maxwell Vilela

lhadores Rurais Sem Terra (MST), é manter o clima de luta para pressionar a classe política. “Temer não recua e o Congresso não é de confiança. O dia 15 mostrou que temos unidade no campo popular e que existe uma reclamação coletiva dos trabalhadores”, analisa.

Larissa Costa

D

iante dos ataques aos direitos sociais, como as reformas da Previdência e trabalhista, movimentos populares e sindicatos se unificam e organizam lutas contra as propostas do governo Temer. No 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, pelo menos 150 mil mulheres foram às ruas em cidades de todo Brasil. No dia 15 de março, protestos organizados pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo mobilizaram mais de 1 milhão de pessoas. Para o dia 28 de abril está marcada uma greve geral, que pro-

mete a adesão de diversas categorias no país. A avaliação de Ricardo Gebrim, da Consulta Popular, é que essas manifestações mostram a força do povo, única capaz de derrubar as reformas. “Conseguimos reorganizar todo um

campo popular democrático e conquistamos o apoio e simpatia popular. É um ato expressivo que vai fazer a gente entrar em um novo patamar de luta”, afirma. O desafio, na opinião de João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Traba-

Indignação Diversos artistas se posicionaram em suas redes so-

Frentes unitárias reúnem diversos movimentos e organizações

ciais contrários às reformas de Temer. O ator e diretor Wagner Moura afirmou que “o governo quer votar logo a reforma [da Previdência], acalmar os credores, passar a conta para o trabalhador e partir para a reforma trabalhista antes que o povo se dê conta”. Camila Pitanga, em vídeo, afirma que “o que os autores da reforma querem é retirar direitos dos trabalhadores, apenas, nada de empregos a mais. E a reforma trabalhista ainda vai piorar a qualidade dos empregos, ampliando a contratação de temporários. Esse tipo de contrato não dá nenhuma garantia ao trabalhador”, defende.


Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

ENTREVISTA

11 11

“Esse papo de que não havia corrupção na ditadura é conversa para boi dormir” HISTÓRIA Estudioso compara os golpes de 1964 e 2016 Assessoria de Comunicação / TRT

Wallace Oliveira

N

o dia 1º abril, o golpe militar de 1964 completa 53 anos. Dado com a desculpa de que se iria combater a corrupção e pôr o país em ordem, o regime, então instaurado pela força, deixou como herança um país extremamente desigual, um meio urbano violento, um sistema político completamente corrompido e um estado de imprevisibilidade difusa, que leva muitas pessoas a clamarem mais uma vez por um salvador da pátria. Após novo golpe, o que fica da ditadura militar? Quais as diferenças entre os golpes de 2016 e 1964? Para discutir essas questões, o Brasil de Fato MG entrevistou Rubens Goyatá Campante, membro do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG.

Que marcas a ditadura militar deixou na sociedade brasileira?

Por um lado, aumentou o individualismo, o consumismo, a indiferença com a pobreza e uma ideologia que culpa as pessoas por seu fracasso material. Na economia, um sistema concentrador de renda, mas, principalmente, um sistema de atração e exclusão. Ele atrai para o consumo, mas é

Aumentou o individualismo, o consumismo, a indiferença com relação à pobreza”

“Na ditadura militar o Estado passou a funcionar para um grupo cada vez menor”

impossível que todo mundo consiga consumir. Atrai para a cidade grande e manda para a periferia. Atrai para o trabalho, mas boa parte das pessoas fica no trabalho informal e precário. Além disso, uma economia viciada na troca de favores e na exploração de trabalho barato. No poder político, o Estado passou a funcionar para um grupo cada vez menor e a única lei duradoura é a lei do mais forte. Então, quem não está no círculo do poder vive em um clima de imprevisibilidade e insegurança na vida. Cada pessoa começa a confiar apenas em si mesma e em seus familiares e amigos. Paradoxalmente, ganha força a ideia de que é preciso um salvador da pátria para pôr ordem na casa com mão de ferro. Apesar dessa herança maldita, algumas pessoas têm saudades da ditadura e dizem que não havia corrupção e violência urbana nessa época. Como você analisa esse discurso?

Nas décadas de 60 e 70, o Brasil deixava de ser rural para ser majoritariamente urbano. O meio rural brasileiro sempre foi muito vio-

No início dos anos 1980, o regime militar foi desmoralizado e passou a ser visto como corrupto” lento. Agora, a criminalidade urbana é maior, mas um fator importante é que o nosso sistema de segurança é caótico, ineficiente e violento. Ele deixa o povo exasperado e, contraditoriamente, pedindo mais porrada do Estado. Ora, esse sistema foi gestado na ditadura, os esquadrões da morte também. Outra herança da ditadura é a disseminação do uso de armas. O combate à corrupção foi um dos motes para o golpe de 64. A partir do governo Costa e Silva, cresceu a participação dos militares em agências e empresas públicas. Começaram, então, a pipocar escândalos. Na segunda metade dos anos 70, a mídia começou a falar desses casos. Alguns exemplos: os escândalos da Ponte Rio Niterói e da Transamazônica e a falência fraudulenta da

Capeme, um fundo de previdência privada. O banco Halles e o Banco Econômico também faliram de forma fraudulenta, e os militares injetaram dinheiro público neles. Houve o suborno no tratado de cooperação nuclear entre Brasil e Alemanha, denunciado pela revista alemã Der Spiegel, e as inúmeras mordomias, como na residência oficial do ministro Arnaldo Prieto. Tudo isso fez com que, no início dos anos 1980, o regime militar fosse desmoralizado e passasse a ser visto como corrupto por boa parte da classe média. Então, esse papo de que não havia corrupção na ditadura é conversa para boi dormir. Que comparações podemos traçar entre os golpes de 1964 e 2016?

O golpe de 64 foi um golpe armado e imediatamente gerou uma grande repressão. Logo após a tomada do poder político, cerca de 50 mil pessoas foram molestadas, presas, chamadas a depor, demitidas, cassadas em seus mandatos. Em 64, a população demorou muito a perceber a corrupção que existia. Agora, com Temer, até quem apoiou o golpe conhece a imensa corrupção do governo. Em 64, o governo militar tinha muitas tensões internas, mas não era amedrontado, acuado, como esse governo do Temer, que está completamente desmoralizado. Tanto antes quanto agora, o país está muito polarizado ideologicamente, mas um elemento da polarização que não existia em 64 é a questão cultural e comportamental, que abarca os debates sobre raça e gênero, bem como o reacionarismo que tenta res-

ponder aos avanços que esses setores conquistaram nos últimos anos. Em 64, a crise econômica tinha a ver principalmente com a inflação alta e a desaceleração do crescimento. A crise de agora é muito mais grave, com retração do PIB. O encaminhamento da crise no imediato pós-64 foi um pouco semelhante ao de hoje em alguns aspectos. O ministro Roberto Campos cortou gasto social, restringiu o crédito e promoveu o arrocho salarial. De 64 a 67, a política externa brasileira mantinha uma união carnal com os EUA, mas, depois, os militares adotaram uma política mais independente, que prezava pela construção de infraestrutura para o capitalismo brasileiro. Agora, o que se tem no governo Temer é um neoliberalismo xiita, que veio desmontar qualquer pilar da soberania nacional. Outra diferença seria o papel do Judiciário?

No golpe de 2016, o Judiciário foi fundamental. Ele foi ganhando protagonismo político até não ter mais nada que se contraponha a ele. Os juízes passam a se considerar salvadores da pátria. No Ministério Público, cada procurador faz o que quer e não há mecanismos para pôr freio neles.

O Judiciário foi ganhando protagonismo político até não ter mais nada que se contraponha a ele”


12 12

GOLPE

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

Golpe: de 1964 a 2016 o que fica é o legado da resistência LUTA A ditadura e o golpe institucional têm diferenças, mas também semelhanças Raíssa Lopes

N

este ano, o aniversário do golpe militar de 1964, , será lembrado enquanto um outro tipo de golpe segue em curso. Segundo análise do advogado Aton Fon, se o golpe de 64 foi abertamente violento, o atual veste uma “capa de juridicidade”.“ Os antecedentes são parecidos. Tanto o governo de João Goulart quanto o do Partido dos Trabalhadores (PT) não desejavam fazer mudanças estruturais na sociedade, apesar de Jango ter sido mais incisivo. Contentaram-se em fazer medidas que beneficiassem os trabalhadores, e que de fato beneficiaram, mas se esqueceram de organizar a classe operária, uma base de massas, para enfrentar a burguesia, que acabou sendo a base dos golpes”, avalia. De lá para cá, são muitas as resistências . O Brasil de Fato MG selecionou alguns desses momentos.

Reprodução / Iconogrphia

Kaoru / CPDOC

Val Trindade / CPDOC - JB

1964

2016

Grandes atos

Grandes atos

Antecedentes Já no 1º de abril de 1964, aconteceram as primeiras manifestações de resistência. Diversos deputados, artistas e organizações se posicionaram a favor da legalidade do governo de João Goulart.

Não vai ter golpe! O golpe contra a presidenta Dilma Rousseff começou a ser desenhado em dezembro de 2015, e foi consolidado um ano depois, em agosto de 2016. Nesse período, milhares de pessoas se envolveram em mobilizações de rua, com a palavra de ordem “Não vai ter golpe, vai ter luta!”.

1º de Maio de 1968 Em julho de 1965, uma lei estabeleceu o reajuste salarial abaixo da inflação e diversas novas normas para os processos dos dissídios. Com objetivo de acabar com o arrocho, os trabalhadores planejaram uma agenda de atividades que culminou, três anos depois, no grande ato político do dia 1º Maio de 1968, na Praça da Sé, em São Paulo. Passeata dos Cem Mil Apesar da repressão, o governo não conseguiu acabar com as manifestações. Decidiu, então, aceitar uma marcha contra a ditadura, mas ordenou que ela deveria ter hora, data e local acordado com a Polícia Militar. No dia 26 de junho de 1968, aconteceu a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, que marcou o ápice da reação da sociedade contra o regime, a censura e a violência. Diretas Já A ditadura já durava 20 anos, quando milhões de pessoas de todo o país saíram às ruas em 1984, num imenso movimento de massas, para pedir o fim do regime militar e a volta das eleições diretas. Em Belo Horizonte, mais de 300 mil manifestantes tomaram a Avenida Afonso Pena e a Praça da Rodoviária, no dia 24 de fevereiro de 1984.

Fora, Temer Milhares de pessoas saíram às ruas em pelo menos 19 estados brasileiros e também no exterior. O fenômeno “Fora, Temer” acabou se tornando palavra de ordem, presente em diversos tipos de atos e movimentos, como a Parada Gay, o carnaval, apresentações culturais e premiações. Ocupações de secundaristas A PEC 241 e a reforma do ensino médio, anunciadas por Temer no início do governo, geraram uma onda de protestos de estudantes secundaristas e uma série de ocupações de colégios. Em outubro de 2016, mais de 1100 escolas foram tomadas, além de 82 campi universitários e núcleos regionais de Educação e Câmaras Municipais.

Mídia NINJA

Reprodução

Mídia NINJA

15 de março Um milhão de pessoas lutou nas ruas contra a reforma da Previdência. Trabalhadores da educação, bancários, metalúrgicos, químicos, petroleiros, metroviários e servidores públicos de todo o Brasil cruzaram os braços. Em BH, 150 mil se somaram ao protesto.

Confira outras experiências de resistência no site www.brasildefato.com.br


Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

13 13

CULTURA

A voz negra atravessa gerações CRIATIVIDADE Sérgio Pererê dirige releitura de clássicos de cantores negros inserindo rap e percussão afro Tarcísio de Paula

S

érgio Pererê dirige o espetáculo “Bala da Palavra”, que reúne clássicos da MPB rearranjados com o rap e a percussão afro-brasileira. As músicas de Clementina de Jesus, Milton Nascimento, Itamar Assunção e Gilberto Gil ganham forma na voz de jovens cantores: o rapper Douglas Din, a cantora Laís Lacôrte e o MC Materia Prima. “Tem um pouco de freestyle, tem um pouco de funk, tem lá sua dose de samba, tem capoeira, e o tambor faz o melhor serviço: deixa tudo mais pesado!”, anima-se Douglas Din. Além de fazer uma mistura de grandes no-

Feira de Brechós em BH

Moda, estilo e sustentabilidade são os lemas do 3º Breshop, maior feira de brechós de BH. O evento traz 35 expositores com a venda de produtos usados de moda feminina, masculina e infantil, produtos de beleza, decoração e brinquedos. Esta edição acontece no dia 8 de abril (sábado) e promete “precinhos em conta”. Rua Ituiutaba, 105, Prado, das 10 às 18h30. Entrada R$ 5.

Mulheres nos muros mes de diferentes gerações negras, o espetáculo centra força em temas sociais, como moradia, latifúndio, êxodo rural, trabalho e vida. A percussão é de Débora Costa, Maýra Motta, Johnny

Herno e Daniel Guedes, teclado de Richard Neves, e baixo de Rafael Eloi. Ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Dia 7 de abril, no Tambor Mineiro (Rua Ituiutaba, 339, Prado).

Gabriella Soares

O grupo Minas de Minas promove no domingo (1), das 8h às 19h, o “1º Encontro Delas”, somente com grafiteiras. O evento gratuito tem como objetivo reunir mulheres que fazem dos muros da cidade um espaço de divulgação de arte, protestos e lutas. Estarão presentes também o DJ Sense, as MCs Ohana e Lana Black. O encontro será na rua Alga Verde, 77, Jardim Guanabara, BH.

Anúncio

Gastos com a Previdência não são responsáveis pelo desajuste fiscal do país Ao contrário do que o governo federal tem afirmado para tentar convencer a população de que a reforma da Previdência é necessária, o desajuste fiscal enfrentado pelo país não é provocado pelo gasto social. Em outras palavras, o dinheiro usado para pagar a aposentadoria do trabalhador brasileiro não é o responsável pela situação financeira caótica que o Brasil vem vivendo e que faz com que não sobrem recursos para aplicar nas áreas essenciais como saúde, educação, segurança, saneamento básico e outras. É por isso que o trabalhador brasileiro não pode pagar essa conta, sendo privado de um dinheiro que é seu por direito, já que contribuiu a vida toda para a Previdência, e do qual necessita para garantir a sobrevivência de sua família. O colapso financeiro enfrentado pelo país tem origem em problemas antigos e que nunca foram enfrentados com seriedade pelos governos, começando pela adoção de um modelo econômico perverso de transferência de renda do trabalho para o capital financeiro, com medidas que favorecem o mercado, como o estabelecimento de um sistema de inflação por meta, câmbio flutuante e superávit primário. Com a reforma da Previdência, o governo quer ampliar as garantias para o mercado financeiro, tirando dinheiro que é, por direito, do trabalhador, para pagar juros da dívida e outros fins.

A dívida pública, aliás, é outro dos problemas responsáveis pelo caos financeiro do país. Para se ter uma ideia do seu impacto nos cofres públicos, basta dizer que, em 2017, a dívida irá consumir cerca de 54% do orçamento da União. Há que se considerar ainda as políticas públicas negligentes com o combate à sonegação de tributos, que em 2015 privaram os cofres públicos de cerca de R$ 790 bilhões ao ano, tolerantes com a concessão sem critérios e sem transparência de benefícios fiscais a grandes empresas – a União deixou de recolher R$ 281 bilhões com esses benefícios em 2015 – e condescendentes com a corrupção. Para agravar, ainda temos no Brasil um dos sistemas tributários mais injustos do mundo, em que 75% da carga tributária incidem sobre o consumo e a mão de obra. A carga tributária é regressiva, ou seja, ela penaliza os mais pobres, e indireta, o que significa que quem paga mais é o consumidor/trabalhador na ponta. Além disso, para compensar as perdas de receita com benefícios fiscais e sonegação de tributos, o governo pesa a mão sobre os bens e produtos essenciais. Como resultado desse desgoverno, estamos assistindo o crescimento vertiginoso do desemprego no país. Em 2017, o Brasil deve contabilizar o número recorde de 13,6 milhões de desempregados. Se a PEC 287/2016 for

aprovada, o contingente de trabalhadores sem proteção na velhice será ampliado em níveis alarmantes. Outros possíveis prejuízos da reforma da Previdência serão a redução dos benefícios previdenciários, já que será praticamente impossível se aposentar com 100% da média do salário de contribuição, a diminuição do número de contribuintes – por causa do desemprego, da informalidade e até mesmo pelo desinteresse dos trabalhadores em contribuir com esse sistema – e a redução das receitas do regime geral. Se o trabalhador só terá perdas, por que o governo quer mudar o sistema? O que está por trás dessa reforma é atender interesses de bancos e do setor de Previdência complementar privada, que estão de olho nos lucros que poderão ter administrando as contribuições dos trabalhadores. Com todas essas perdas à vista, só há uma resposta possível à proposta do governo:

Diga NÃO à reforma da Previdência e lute pelo seu direito de se aposentar.

sindifiscomg.org.br


14

VARIEDADES

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

VARIEDADES

Dicas Mastigadas Polenta com Cogumelos PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Cada sinal da escrita do Egito Antigo

© Revistas COQUETEL

Conjunto de meios de comunicação como as rádios comunitárias Ocorrência social

Ingmar Quebra-molas (bras.) Bergman, cineasta Infortúnio que ocorre sueco em aeroportos

O trânsito típico das grandes cidades

Parte da ópera destinada ao solista

Motivo do registro no SPC

Ingredientes:

Albert Eckhout, pintor holandês

Permanece acesa durante a Olimpíada

Onomatopeia de explosão

Resultado da má gestão empresarial

Emissora italiana Ágil; célere

Olívio Dutra, político Via pública urbana

Profissão de Lima Duarte Trapo, em inglês Reto, agudo e obtuso (Geom.)

Instrumento de desenhistas Uniforme

• • • • • •

Queira bem a Engodos de pesca

Praticantes do crime de usura

(?) Paraguaçu, prefeito de Sucupira (TV)

(?)-datasmânia, carnívoro marsupial Alexandre Dumas, escritor francês

Sulcada; vincada Reprodutor de áudio para PCs da Apple Carro de lotações Peversão sexual de quem gosta de sofrer

Paquerar (gíria) Unido; íntegro

Malvino Salvador, ator amazonense Rafael (?): já foi o número 1 do tênis

Modo de fazer Molho: Cozinhe os inhames com casca até ficarem macios. Depois, tire a casca e bata no liquidificador até virar um creme e reserve. Em uma frigideira funda, refogue a cebola. Em seguida, jogue os cogumelos picados e deixe até amolecerem, e coloque um pouco de molho shoyu. Coloque então o creme de inhame e deixe cozinhando por 10 minutos. Polenta: Misture o fubá com a água ainda fria. Quando virar uma pasta homogênea, leve ao fogo e deixe cozinhar por 30 minutos, sempre mexendo. Ao final, despeje sobre uma tábua de madeira e deixe esfriar até endurecer um pouco. Sirva um pedaço da polenta com o molho por cima. Tempere com pimenta do reino.

Tradição camponesa italiana

Ministério que organiza o ProUni

3/bum — rag. 4/cego — zebu. 5/diabo. 6/itunes. 10/bancarrota. 16/mídia alternativa.

21

Solução A B A L A T E R A N R A T I V M A

A G I O T A S

M H I E DI V E N T O

R O G L I D A PI R A C A R R R A I R F A E M A G D I U L O S C A DA A Z A U N E S N B O Q U I EN

L I F O B U M R B O T A O D R D A U E A B O A D E G O R A R G I M E C S M O

BANCO

Sem visão A Capital do (?): Uberaba

2 litros de água 400 g de fubá 1 colher (sopa) de sal 200 g de cogumelos 2 inhames 1 cebola

A polenta feita de fava ou cevada já era conhecida durante o Império Romano. Mas foi apenas em torno de 1500, quando Colombo levou o milho da América Central para a Europa, que a polenta passou a ser feita como conhecemos hoje. O prato se popularizou na Itália por ser o alimento dos camponeses, pela sua simplicidade de preparo e pelo valor nutritivo, sobretudo durante o inverno. Ainda hoje, em diversas regiões da Itália, a polenta é um prato de festa, preparada em grandes tachos de metal e sempre acompanhada de um bom vinho. * Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.


Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

na geral

Termina Parapan da Juventude

Rafaela Silva: símbolo contra o racismo

ESPORTES

15 15

Alexandre Ursh / MPIX -CPB

N

o dia 21 de março, data mundial de combate ao racismo, a judoca brasileira Rafaela Silva foi citada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como destaque por sua trajetória no esporte. Rafaela nasceu na Cidade de Deus, Rio de Janeiro, e sofreu comentários racistas após perder uma luta nas Olimpíadas de 2012. A judoca ficou quatro meses sem treinar, mas superou a humilhação e ganhou o ouro nas Olimpíadas de 2016. Roberto Castro

D

urante seis dias, foram realizados, em São Paulo, os Jogos Parapan-Americanos de Jovens. Participaram mais de 800 jovens paratletas, vindos de 19 países, na faixa etária de 13 a 20 anos. O evento, que terminou no dia 25, teve competições em 12 modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, natação, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e vôlei sentado. A próxima edição será realizada em 2021, em local que ainda será definido. (Com informações do CPB)

Anúncio


16

Belo Horizonte, 31 de março a 6 de abril de 2017

Cruzeiro veta materiais da torcida atleticana

ESPORTES

16

DECLARAÇÃO DA SEMANA Reprodução

Washington Alvez / Cruzeiro EC

O

Cruzeiro, mandante do clássico do sábado (1º), pediu a Federação Mineira de Futebol (FMF) que seja impedida a entrada de instrumentos de bateria, das bandeiras de organizadas atleticanas e do mascote “Galo Doido” no Mineirão, local da partida. A atitude seria uma retaliação ao arquirrival que

“É um meio preconceituoso, machista e que tomou medidas semelhantes, quando foi mandante de clássicos no Indepen- não aceita as mulheres, mas, aos pouquinhos, a dência. O Atlético, por sua vez, protesgente vai vencendo as barreiras” tou junto à FMF. A Polícia Militar disse que não se opõe às reivindicações do Déborah Cecília Correia, árbitra que se destacou, nos últimos dias, por apitar jogos da Copa do Nordeste e do Campeonato Pernambucano. alvinegro, mas, por se tratar de evento privado, a responsabilidade é do mandate do jogo, no caso, o Cruzeiro.

Gol de placa A torcida da Espanha criticou a invasão do território palestino por Israel. Pelas eliminatórias da Copa, a Fúria venceu os israelenses por 4 a 1, mas o que chamou a atenção foram os gritos de “Palestina” nas arquibancadas espanholas.

Gol contra Em mais uma negociata, Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, deu peso 3 para o voto de cada uma das 27 federações estaduais nas eleições da entidade. Os clubes da série A terão peso 2; os da B, peso 1. Por essa lógica, Cruzeiro e Atlético-MG têm menos importância no futebol que o Acre. É mole?

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Giovanna Fantoni

Nas últimas partidas, o América jogou com mais consistência e passou a ter mais organização em campo. Agora, o time já tem cara de time e não de amontoado de jogadores. Boa parte dessa evolução se deve à manutenção do esquema com dois zaDecacampeão gueiros e ao novo meio campo, com os volantes Blanco e Christian, que defendem bem e atacam com rapidez. Acertadamente, Enderson Moreira vem encostando jogadores que estavam mal, como Tony, Matheuzinho e Marion e testando outros jogadores, como Rubens e Mike, no ataque, e Alex Silva na lateral esquerda. Ainda há mais dois jogos para os últimos testes, antes de ir com força máxima para a semifinal e ver o que será preciso para a Série B.

O clássico deste sábado (1º) será o maior desafio do Galo na temporada. A única derrota do elenco principal no ano foi para o arquirrival. E isso aconteceu na Primeira Liga, quando o elenco estava no período de preparação. Agora, com padrão É Galo doido! de jogo delineado, embora ainda distante do ideal, e melhor entrosamento, o técnico Roger Machado, finalmente, parece ter definido a equipe. Dessa forma, a perspectiva é de um rendimento dentro do que é necessário para conquistar títulos em 2017, após alto investimento em contratações. Esperamos um grande duelo, digno das tradições do futebol mineiro. Pena que será num dia atípico para o confronto. E ninguém se preocupou em explicar por que.

Neste clássico, o Cruzeiro entra com o desafio de garantir o bom retrospecto contra o time do bairro Lourdes. A última vez em que eles nos venceram foi em abril de 2015, com a ajuda da arbitragem, nas semifinais do Estadual. De lá para cá, venLa Bestia Negra cemos três vezes e empatamos outras três. O nosso trunfo, nesse período, tem sido o meia-atacante De Arrascaeta, que adora fazer gols bonitos sobre os goleiros Victor e Giovanni. O problema é que o uruguaio retorna de sua Seleção desgastado pela viagem e ainda não sabemos se terá condições de jogar toda a partida. Como diz o poeta, “clássico é clássico”. Vale a pena fazer aquele esforço a mais. A oportunidade de zoar o rival é a recompensa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.