Edição 103 do Brasil de Fato MG

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Divulgação

Molejão na praça Mais de 600 artistas se apresentam na capital para a Virada Cultural, neste fim de semana. Em paralelo, movimento independente faz a Revirada

CULTURA 13 Minas Gerais

11 a 17 de setembro de 2015 • edição 103

brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita Hospital Odilon Behrens / PBH

CIDADES 4 Prefeitura propõe fechar 5 leitos de emergência do Hospital Odilon Behrens e transferi-los para UPA. Outros 10 dos 22 leitos do hospital seriam transformados em CTIs. Profissionais criticam a medida e alertam que o número de pacientes aumentou 50% nos últimos quatro meses

Atendimento no Odilon em risco

ENTREVISTA 11

O povo vai fazendo seu caminho

Reprodução

Roberto Amaral, expresidente do PSB, fala sobre a crise política no país e como a Frente Brasil Popular está se organizando para enfrentá-la

Gustavo Ferreira

Midia NINJA

MINAS 5

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PM é violenta com indígena Juvana Xacriabá, estudante de direito, participava do Grito dos Excluídos, em Montes Claros, quando foi presa sem motivo comprovado

BRASIL 9

Habitação popular na mira Para ajustar economia, governo propõe aumento de impostos e cortes em programas sociais. Movimentos de luta por moradia criticam e prometem mobilização


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Editorial | Brasil

Cabo de guerra na política brasileira

ESPAÇO dos Leitores “Estive na Guatemala esses dias. Um exemplo de cidadania contra a corrupção e financiamento empresarial de campanhas. Os atos foram contra estes dois pontos” Eulália Alvarenga, comentando a matéria “Acusado de corrupção, ex-presidente da Guatemala se apresenta à Justiça após renunciar

“Sou professora e as matérias de suas páginas em minha atuação se tornam matéria prima de processos reflexivos em minhas salas de aula nas mãos de sujeitos que vêm de uma longa trajetória de exclusão como é o caso da Educação de Jovens e Adultos” Rosane Pires por email

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

anota aí o número do Brasil de Fato no WhatsApp: 31 8979-8859

A democracia é de quem partici- apenas para um lado da balança, pa, ainda que se mantenham desi- criminaliza lideranças e organizagualdades de oportunidades e con- ções de trabalhadores em ações de dições para seu exercício. Sobre ela enfrentamento por seus direitos. está depositada hoje uma tensão: Pune trabalhadores no seu exercíde um lado, forças conservadoras cio do direito de greve. É também o querem interromper o estado de- espaço em que o povo possui memocrático de direito. De outro, for- nor inserção e sobre o qual detém ças progresmenor cosistas defennhecimento. dem o res- Em comparação com a ditadura, As manipeito aos rea abertura democrática é uma festações da sultados das crise social, conquista eleições e a econômica e implantação política e ardo programa vitorioso nas eleições ticulação neoliberal dentro e por de outubro de 2014. meio do atual sistema político, exiApesar de ser uma democracia gem também uma ação e resposta em sentido amplo, o atual sistema política para a crise. político, no entanto, é ainda uma As lutas por uma nova política herança da ditadura militar. As lu- econômica, por direitos sociais e tas por liberdades democráticas trabalhistas, pela soberania, por renos anos 70 e 80 passaram por uma formas estruturais são por um protransição conservadora, garantin- jeto de sociedade. A luta política vai do a adaptação das estruturas sem além das lutas econômicas. alterar a centralização e manutenAlém de defender a incipienção do poder vigente. te democracia alcançada, uma reEm comparação com a ditadu- forma do sistema político propõe ra, a abertura democrática é uma ampliar suas fronteiras e aprofunconquista, um avanço. As mani- dar suas raízes. A reivindicação por festações da época por Diretas Já uma Assembleia Constituinte, Exsão as maiores protagonizadas pe- clusiva e Soberana para realizar a lo povo brasireforma do leiro. Mas fosistema polítiO atual sistema político, no ram derrotaco é a luta podas. Florestan entanto, é ainda uma herança do lítica do atuFernandes dial momento. período militar zia tratar-se Lutar por uma de uma autoassembleia cracia, que é modelo imposto de constituinte permite denunciar o democracia de cima para baixo, re- elo mais fraco e exposto do atual gulada e sem a participação do po- regime democrático. Só uma provo. O ganho principal do movimen- funda reforma política abrirá espato das Diretas Já foi o engajamento ço para transformações estruturais da massa popular em uma luta po- em nossa sociedade. lítica coletiva firme e decisiva. Diante da encruzilhada em que Hoje, esta democracia restrita o país se encontra, a saída é derrosegue amordaçada pelo poder eco- tar o neoliberalismo e superar os nômico e pela grande mídia e, as- limites do neodesenvolvimentissim como todas reformas estrutu- mo. Cabe às forças progressistas e rantes (urbana, agrária, tributária, populares desenvolver o diálogo e etc) que o país tanto precisa, a de- convencimento junto à sociedade e mocracia que temos hoje é resulta- realizar o enfrentamento necessádo de uma reforma inconclusa. rio na caminhada das reformas esBasta observar a atuação e estru- truturais, incluindo aí uma reforma tura jurídica do Estado, que pende da própria democracia.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em MG, no Rio e em SP. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, Cida Falabella, Cristina Bezerra, Deliane Lemos de Oliveira, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Pedro Cíndio, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Colaboradores: Acsa Brena, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, João Paulo, Léo Calixto, Marcos Assis, Olivia Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Coletivo Henfil. Fotografia: Larissa Costa. Estagiária: Raíssa Lopes. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Diagramação: Bruno Dayrell. Tiragem: 40 mil exemplares.


CIDADES

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

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Código de Defesa do Consumidor completa 25 anos DIREITOS Somente no ano passado, Procon-MG atendeu 240 mil casos Ricardo Lima / Prefeitura de Contagem

Rafaella Dotta Quem nunca recebeu “aquela” conta que não era sua? Teve problemas com a operadora de celular? Viu o artigo do contrato que transformava a dívida do banco numa coisa monstruosa? Para defender o cidadão contra esses abusos, foi lançado, em 1990, o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Foi a primeira medida do Brasil para proteger os direitos dos consumidores, com resultados importantes, como o prazo de validade, a indicação dos símbolos “T” nos alimentos transgênicos e a criação dos SACs (Serviços de Atendimento ao Consumidor) das empresas.

Órgãos estaduais e municipais recebem queixas

É o que explica a coordenadora-executiva do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Elici Checcin. “Na prestação de serviços e na venda de produtos iniciou-se, também, um processo de atendimento mais qualificado”, diz. A criação dos Procons foi

resultado importante do Código. A partir daí começou a se estruturar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, com a abertura dos Procons estaduais e municipais. Estes órgãos recebem reclamações e auxiliam os cidadãos na interpretação de contra-

tos. Atendimentos Somente em 2014, a rede de Procons no Brasil atendeu 2,5 milhões de casos, sendo que 62% se transformaram em uma relação ou denúncia. Em Minas Gerais, os 71 Procons atenderam 240 mil casos, ajudando a descobrir que as empresas Oi, Claro e Vivo são as campeãs de queixas no estado. Código pode estar em perigo Segundo Elici Checcin, a recente criação da Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério da Justiça, é uma conquista. Porém, “continua a missão de lutar, diariamente, para ven-

cer a imaturidade de muitos fornecedores, as manobras de ‘lobby’ no legislativo, agências reguladoras e do Judiciário”, acrescenta. No Senado, corre um Projeto de Lei que pretende atualizar o código. No entanto, o PL é criticado pela Associação Brasileira dos Procons. “O código não precisa melhorar. Quem precisa melhorar são os fornecedores”, defende a vice-presidenta da entidade, Gisela Simona ao site Agência Brasil. Essa atualização, proposta pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB), deve legislar sobre o comércio eletrônico, o endividamento através de crédito bancário, responsabilidade ambiental de empresas e spams.

7 dicas pra garantir seu direito em uma compra Canais para reclamações: Primeiro, procure a empresa e a sua ouvidoria. Se não houver resultado, pode-se recorrer ao Procon estadual e municipal, Ministério Público, Defensoria Pública e entidades civis voltadas a este fim. Como relatar a reclamação? Leve documentos que comprovem o que aconteceu, como uma cópia de contrato, oferta, panfleto, promessa de venda. Os órgãos precisam de prova para notificar a empresa. Documentos necessários: Todos os que dão subsídio à denúncia, como nota fiscal, contrato, anúncio e termo de garantia. Prazos: Se o problema for na compra, o Código de Defesa do Consumidor estipula 30 dias para bens ou serviços não duráveis, conforme o artigo 26. Para os outros casos, até 90 dias. Precisa de testemunhas? Não. As declarações do consumidor são tomadas como de boa-fé. Gastos: Não há custos para pedir esclarecimentos ou realizar reclamações. Ressarcimento: O reclamante pode receber ressarcimento se levar o caso à Justiça.

FOT

LEGENDA Lidyane Ponciano

Mortalidade infantil cai no país A mortalidade infantil no Brasil caiu 73% nos últimos 25 anos, segundo dados divulgados na quarta (9) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o relatório “Níveis e Tendências da Mortalidade Infantil 2015”, o índice de mortes entre crianças brasileiras menores de 5 anos passou, em 1990, de 61 óbitos para cada mil nascidas vivas para 16 óbitos para cada mil nascidas vivas em 2015. Apesar dos avanços, a

OMS destacou que as diferenças continuam no país. O estudo indica que, dos cerca de 5,5 mil municípios brasileiros, mais de mil registraram taxa de mortalidade infantil de até cinco óbitos para cada mil nascidas vivas em 2013, enquanto em 32 cidades a taxa superava 80 óbitos para cada mil nascidas vivas. Além disso, crianças indígenas têm duas vezes mais chance de morrer antes de completar o primeiro ano de vida que as demais.

Segundo o relatório, esse tipo de exemplo demonstra que, mesmo em países com níveis relativamente baixos de mortalidade infantil, são necessários maiores esforços para reduzir as disparidades entre diferentes grupos sociais. “Assim sendo, ainda há muito trabalho a ser feito para que cada criança tenha a oportunidade justa de sobreviver, mesmo em países com baixos índices de mortalidade infantil”, concluiu a OMS. (Rede Brasil Atual)

Milhares participam do Grito dos Excluídos - No feriado de 7 de Setembro, integrantes de pastorais sociais e movimentos de todo o país saíram às ruas, na 21ª edição do Grito dos Excluídos. Este ano, o lema foi “Que país é esse, que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. Em Belo Horizonte, o ato começou na Praça Raul Soares, reunindo mais de 600 pessoas, que participaram de intervenções culturais, denunciando a exclusão e a desigualdade social, como o extermínio da juventude negra no Brasil.


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CIDADES

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Cinco leitos serão fechados no Odilon Behrens

Mandou

BEM

SAÚDE Médicos, sindicato e população contestam decisão da PBH Simone Vieira

Rafaella Dotta O Hospital público Odilon Behrens (HOB), referência em cirurgias em Minas Gerais, está prestes a diminuir seu atendimento de alta complexidade. A Prefeitura de Belo Horizonte processa a transferência de leitos para a UPA Noroeste II, prevista para ser inaugurada no fim do mês.

Trabalhadores do hospital protestam contra a decisão da Prefeitura no domingo (6)

“A gente já tem poucos leitos” A neta de Edna Maria Vieira, moradora da Pedreira Prado Lopes, deu entrada no hospital na segunda-feira (7), com risco de dengue hemorrágica. A menina, de 4 anos, soltava sangue pelo nariz e pela boca, e precisava de um leito urgente. “Ela ficou dois dias aguardando vaga. Enquanto isso estava na observação da pediatria”, conta Edna. Casos como esse acontecem todos os dias, segundo o médico Leonardo Paixão, que trabalha na equipe de pronto socorro e emergência do HOB. “A gente tem muito poucos leitos. E se ho-

je os pacientes chegam com mandado de segurança pra garantir leito, como a gente vai fazer com menos?”, questiona. Sob ordem da Prefeitura de Belo Horizonte, os 22 leitos de emergência do HOB serão transformados ou transferidos. Dez irão se tornar leitos da CTI e sete continuarão na emergência. Ou seja, cinco leitos serão extintos. Para compensar, a PBH afirma que a UPA terá oito novos leitos de emergência. Menos estrutura e mais pacientes Para o médico Leonardo Paixão, a prefeitura está fa-

zendo uma conta equivocada. “Os leitos da UPA não podem ser somados com os leitos do Odilon, porque são atendimentos diferentes”, diz. “A UPA é o que a gente chama de unidade pré-hospitalar fixa, antes do hospital. E o Odilon é uma das únicas referências de alta complexidade, para neurologia e derrame, por exemplo”. A UPA Noroeste II, com inauguração prevista para o final do mês, está localizada em frente ao Hospital Odilon, motivo pelo qual a PBH a classifica como “anexo”. Com a nova dinâmica, os pacientes de alta comple-

xidade seriam internados na UPA, mas fariam exames e consultas no HOB. Mas o médico alerta que esse processo poderia custar a vida do paciente. A reivindicação dos trabalhadores do hospital é que os leitos da UPA sejam abertos sem a exclusão dos leitos do Odilon, já que, segundo dados da prefeitura, a demanda aumentou em 50% nos últimos quatro meses. O relatório técnico de vereadores de BH, feito em junho deste ano, corrobora a necessidade, afirmando que o hospital e os funcionários estão sobrecarregados.

Demanda do Odilon aumentou 50% Prefeitura discorda A prefeitura declara que a nova UPA tem espaço duas vezes maior e instalações mais modernas, configurando um ganho para a população. “Essa mudança possibilitará que o suporte intensivo fique dentro da própria unidade de terapia, agilizando o serviço do setor”, sustenta a PBH, em nota.

Vereador critica economia com saúde Segundo o vereador Gilson Reis (PCdoB), a atitude da prefeitura de Belo Horizonte significa uma “política fiscal com a saúde, reduzindo o custeio e transferindo os trabalhadores pro outro lado da rua”. Isso acontece porque o HOB é responsabilidade da PBH, enquanto a UPA recebe verba do governo federal e do governo estadual. A mudança estava marcada para terça-feira (8), mas foi adiada para o final de setembro, depois de manifestação organizada pelos funcionários no domingo (6). Os trabalhadores não concordam com a medida e cobram que a PBH aja com mais transparência. “Não só para os

trabalhadores, mas para os próprios pacientes. Ninguém foi avisado”, critica Israel Arimar, diretor

do Sindicato dos Servidores da PBH (Sindibel). Em 11 de setembro, vereadores farão mais uma

visita técnica ao hospital e realizam audiência pública em 22 de setembro, às 19h, na Câmara.

No dia 2 de setembro, o ator Wagner Moura publicou em seu Facebook uma mensagem falando do novo filme que está gravando, sobre o guerrilheiro Marighella, um comunista que lutou contra a ditadura militar. Na mensagem, Wagner Moura diz que a tendência na América Latina para as ditaduras foi o esquecimento, ao invés da justiça. “A lei da anistia é ruim, eu acho que ela não faz bem psicologicamente para a nação”, escreveu.

Mandou

MAL

O cantor Fábio Júnior, em show em Nova York no feriado de 7 de setembro, fez uma piada maldosa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a bandeira do Brasil sob as costas, a intenção era criticar o governo federal, mas transformou a opinião em preconceito e incitação ao ódio. “Vocês sabem onde está o dedo que o Lula perdeu, né? Está no c* de nós todos”, disse.


Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

PM agride indígena em Montes Claros

Minas ocupa 2º lugar na lista do trabalho escravo Reprodução de Vídeo

No último dia 7, a indígena Juvana Xacriabá foi agredida pela Polícia Militar (PM) durante manifestação do Grito dos Excluídos em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. A agressão foi flagrada em vídeo, que mostra o momento em que dois policiais militares abordam a indígena e a imobilizam. “O policial me puxou com muita força, me jogou no chão, colocou um joelho na minha cabeça e o outro nas costas. Fiquei alguns minutos sem conseguir respirar, fui tratada como um animal. Quase desmaiei”, diz a indígena. Em nota à imprensa, a Assessoria de Comuni-

cação Organizacional da 11ª Região da Polícia Militar afirma que Juvana estava “bastante exaltada” e que ela teria chutado o gradil que protegia o protesto do palanque, onde estava o prefeito da cidade, Ruy Muniz (PRB). Na quarta (9), Juvana prestou depoimento à Casa de Direitos Humanos em Belo Horizonte e, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC), será investigado se houve abuso na atuação policial. Arco e flecha “O nosso objetivo no Grito era mostrar as causas dos parentes Guarani-Kaiowá e

Vídeo mostra momento em que policial imobiliza indígena com violência

protestar contra a PEC 215 que retira direitos dos indígenas”, conta Juvana. “Eu estava perto da grade quando ela caiu, mas não sei por quê vieram em cima de mim”, aponta a indígena. A PM afirma em nota que Juvana estava “trajando fantasia de índio e portando um arco e duas flechas” e

que ela teria se ajoelhado, posicionado a flecha esticando o cordão e apontando ao público. Juvana critica a acusação da PM e conta que as flechas não tinham ponta. “O arco e flecha são usados para nossa caracterização. É um artesanato e não uma arma”, diz.

Juvana estuda direito e quer ir pra Brasília “enfrentar os dragões” Gustavo Fereira

Quando tinha 18 anos, Juvana Xacriabá saiu da Reserva Indígena Xacriabá, em São João das Missões, para estudar e melhorar a vida de seus parentes. Hoje, aos 23, ela estuda direito em Montes Claros. “Desde pequena já queria lutar pelo meu povo e fui pra cidade grande buscar melhorias para os povos indígenas”, diz. Juvana se lembra da pobreza em que viveu quando criança e de muito sofri-

Sindibel Informa: Na segunda quinzena de setembro Campanha Salarial ganhará novo fôlego, quando acontecerá nova rodada de negociação entre o sindicato e a PBH. Nenhum direito a menos. Não vamos pagar pela crise!

SINDIBEL

Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte

www.sindibel.com.br facebook.com/sindibel (31) 3272-9865

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FATOS EM FOCO

DIREITOS HUMANOS Juvana Xacriabá participava de Gritos dos Excluídos Larissa Costa

MINAS

mento causado por chacinas e intimidações de latifundiários. “Meu pai sofreu muita perseguição. O nosso cacique ainda hoje sofre ameaças”, denuncia.

“Somos os povos originários do Brasil, mas somos tratados como invasores e bandidos” Juvana é uma das poucas jovens que saíram da reserva de 13 mil habitantes para estudar. “Não conseguimos trabalho, porque acham que nossas pinturas vão ser mal vistas. E tem o preconceito. Somos os povos originários do Brasil, mas somos tratados como invasores e bandidos”, afirma. “Quero continuar fazendo isso, lutar pelos direitos dos indígenas, mas com mais conhecimento. Quero ir pra Brasília enfrentar os dragões”, conta, sobre seus planos depois de formar.

O estado de Minas Gerais apresentou, entre maio de 2013 e maio de 2015, o segundo maior número de empregadores que praticam trabalho escravo. O primeiro foi o Pará, com 180 empregadores, Minas Gerais, com 45, e o terceiro é Tocantins, com 28. A lista foi divulgada em 3 de setembro pelas organizações Repórter Brasil e InPACTO, que brigaram na Justiça pelo acesso à informação. A “lista suja” do trabalho escravo é divulgada desde 2003, sendo uma das referências para a Nações Unidas, mas foi impedida de ser publicada no final de 2014 por decisão do Superior Tribunal Federal.

Violência a jornalistas é tema de audiência “Calar os jornalistas a bala”, esta é a prática de poderosos do interior de Minas Gerais, segundo conta Kerison Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de MG (SJPMG). A audiência que recebeu as denúncias e debateu medidas protetivas aconteceu na quarta-feira (9), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Segundo a fala de jornalistas e deputados, o que motiva as agressões é a impunidade da justiça, que costuma não condenar aqueles que ameaçam, agridem ou assassinam jornalistas, o que seria também um crime à liberdade de expressão.


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MINAS

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Artigo

Os barões e a crise da mídia João Paulo Cunha Imprensa e democracia têm tudo em comum. Uma não existe sem a outra. É preciso liberdade para levar informações relevantes a todos os cidadãos. Por outro lado, sem informação de qualidade não se garante um ambiente efetivamente democrático. É preciso cuidar dos dois lados. Um olho na democracia, outro no jornalismo. A onda de demissões nos grandes jornais brasileiros é, por isso mesmo, motivo de preocupação. Pode ser que, de uma só vez, se esteja atentando contra os dois lados. Abrindo o flanco para uma sociedade de pessoas desinformadas e com menos autonomia na tomada de decisões e vitaminando um jornalismo marcado por interesses particulares. Esse conjunto de crises se reflete na diminuição de receitas e tem levado as empresas a abrirem mão de seus melhores profissionais em nome do corte de gastos. Uma espécie de ajuste fiscal em escala reduzida. Quem vem perdendo com isso é o leitor, que passa a receber menos informação, menos análise, menos luz. E dá para ver o resultado: a cada dia os jornais estão mais fininhos em páginas, superficiais em conteúdo e iguais em opinião. O pensamento úni-

co é, ao mesmo tempo, inimigo da pluralidade e da profundidade. Rápido e rasteiro. Parece óbvio que a saída para o jornalismo, num ambiente em que a informação explode em todas as direções, deveria ser a aposta na qualidade da informação. Se for para ficar na superfície, as redes sociais são imbatíveis. No entanto, os grandes jornais não entenderam a lição e estão mandando para casa a inteligên-

O pensamento único é, ao mesmo tempo, inimigo da pluralidade e da profundidade cia e ficando com as curtidas. Mas é preciso atenção. O capitalismo geralmente descobre um jeito próprio de adiar as crises estruturais, quase sempre pelo exercício da política, no pior sentido do termo. Num ambiente de eterna lamentação sobre as perdas do setor, as Organizações Globo, que recentemente demitiram cerca de 300 profissionais, alegando crise, curiosamente emplacaram seus três principais executivos na lista dos homens mais ricos do mundo. Somados os pa-

trimônios dos manos Marinho, não há outro empresário de mídia capaz de lhes fazer frente no planeta. Nem mesmo alguns governos eleitos ano passado, que sentiram na carne o estilo pernicioso dos meios de comunicação que não fizeram jornalismo são capazes de romper com esse ciclo. Há um misto de covardia e vaidade que paralisa a reação dos responsáveis pela comunicação na área pública. O modelo de comunicação brasileiro protegeu historicamente as grandes empresas, quando não foi fiador de sua gênese e desenvolvimento, por meio de grana de publicidade, isenção de impostos de insumos e empréstimos de pai para filho. Sem falar que o setor nunca viu investimento relevante e indutor nas áreas da diversidade cultural, da produção independente, da imprensa popular e do jornalismo público. O resultado dessa contradição não vai demorar a se expressar pelo seu pior prognóstico. Teremos um jornalismo sem jornalistas, uma imprensa sem opinião, uma sociedade baseada na fofoca. Poucos empresários bilionários e uma ordem informativa indigente. Aí, jornalismo e democracia vão ocupar faixas distintas. E vai ser ruim para os dois lados.

Artistas criticam virada cultural em Santa Luzia EDITAL Segundo grupos, critérios de seleção dos participantes excluem artistas locais Divulgação

Wallace Oliveira Um coletivo de artistas e produtores realizou um ato público contra a organização da Virada Cultural de Santa Luzia 2015. O evento foi promovido pela prefeitura da cidade e contou com recursos do Ministério da Cultura, no montante de R$ 600 mil. Para os artistas, a regras adotadas no edital são excludentes e incompatíveis com as demandas culturais da cidade. Um dos pontos criticados foi a concentração do recurso nas mãos de um pequeno número de artistas, durante um megaevento de apenas dois dias. Conforme o edital, seriam pagas premiações de R$ 45 mil a bandas de música, R$ 32.765,15 para companhias de dança e R$ 25 mil para grupos de teatro. “Por que não dar [esse valor] para um coleti-

Durante virada, que aconteceu em julho, artistas protestaram contra critérios da prefeitura

vo durante seis meses, um ano?”, questiona Vinícius de Carvalho Lage, membro do grupo Arte 22. Critérios Outra crítica diz respeito ao critério de seleção

de artistas. Apenas pessoas jurídicas com CNPJ e situação cadastral superior a cinco anos puderam se inscrever, deixando fora pessoas físicas e microempreendedores individuais (MEI’s). Dos 15

grupos aprovados, apenas três eram de Santa Luzia. “Os editais não contemplam os grupos de base, os grupos dentro das comunidades. Não sou contra os grandes festivais, mas, antes de tudo, defendo que a cultura seja de base comunitária”, defende Vinícius de Carvalho. Imprensa desqualifica A Virada Cultural de Santa Luzia foi realizada nos dias 25 e 26 de julho, com 15 grupos de música, dança e teatro. Durante a virada, artistas e produtores organizaram um protesto, com

panfletagem e lançamento de um manifesto contra a política cultural da Prefeitura. Artigos publicados em jornais como “O Grito” e “Vitrine Santa Luzia”, acusaram o movimento de estar a serviço de partidos e de agir para impedir o evento. Para a vereadora Suzane Almada (PT), cujo mandato acompanhou as manifestações, as acusações não têm fundamento e desviam o foco da discussão: “Atribuem os descontentamentos a nosso mandato e não aos artistas que realmente protagonizaram o ato”, explica.

Outro evento já foi impugnado Em 2014, a Prefeitura de Santa Luzia abriu edital para a realização do Festival de Inverno da cidade. Na época, o Ministério Público Municipal acusou irregularidades no evento. O edital foi impugnado e o festival não ocorreu.


Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Acompanhando

Foto da semana

OPINIÃO

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PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Mario Campagani / Justiça Global

Na edição 102... Acusado de corrupção, ex-presidente da Guatemala se apresenta à Justiça após renunciar ...E agora O ex-presidente Otto Pérez Molina foi preso e as eleições guatemaltecas vão para o segundo turno, previsto para 25 de outubro. Na corrida presidencial estão o comediante Jimmy Morales, do partido de direita Frente de Convergência Nacional (FCN), e a ex-primeira dama Sandra Torres, candidata pelo partido de centro-esquerda União Nacional da Esperança. O momento em que vive o país é de crise política e, além de Molina, vários nomes do alto escalão de seu governo respondem a acusações de corrupção.

Na edição 97... Agência de risco S&P rebaixa nota da Globo e mantém da Petrobrás ...E agora A agência rebaixou a nota do Brasil, que perde o grau de investimento e entra no grau especulativo no mercado financeiro. Isso significa que, para a agência, a economia brasileira corre risco de calote com os investidores estrangeiros.

MINERAÇÃO - A cidade de Catas Altas recebeu, no último mês, a Caravana Sul da Articulação Internacional das Atingidas e Atingidos pela Vale. Ao fundo está a Serra do Caraça, que já começa a ser destruída pela mineradora. “As pessoas já estão adoecendo. Agora, a situação pode se agravar ainda mais, pois a Vale quer reabrir uma mina desativada, a de Tamanduá, que fica a cerca de 700 metros das nossas casas, ou seja, praticamente dentro delas”, afirma Sandra Vita, moradora de Morro da Água Quente, comunidade vizinha de Catas Altas.

Breno Altman

Simone Euclides

O que é a Frente Brasil Popular?

O não lugar das mulheres negras

No dia 5 de setembro, em BH, 2,5 mil delegados vindos de 21 estados lançaram uma nova coalizão, agrupando movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos e personalidades. Estavam presentes entidades tradicionais, como a CUT, o MST e a UNE e lideranças oriundas de diversas agremiações ajudaram a afirmar o caráter amplo e plural da empreitada. O nome de batismo da iniciativa: Frente Brasil Popular. Mas do que se trata, afinal, este projeto desenhado por tantas mãos? Representa, acima de tudo, uma tentativa da esquerda em responder, da forma mais unitária possível, à ofensiva conservadora em curso. Não se define, porém, como aliança de apoio ao governo de Dilma Rousseff, ainda que um de seus compromissos centrais seja a defesa da legalidade democrática. O outro pé programático da FBP é o combate à política econômica adotada pe- Frente busca unir lo governo depois da reeleimovimentos ção, centralizada pelo chamado ajuste fiscal. O transformismo do governo, submetido a programa e composição ministerial derivados de concessões profundas ao conservadorismo, coloca em alto risco as conquistas pós-Lula e o futuro de uma alternativa sob a batuta da classe trabalhadora. A FBP, ao se propor soldar a coalizão pela democracia com mudança da política econômica, busca igualmente alterar a função caudatária que foi reservada aos movimentos sociais e mesmo aos partidos de esquerda em boa parte do período posterior à vitória de 2002. Também expressa esforço de renovação militante. Sua fundação carrega o desafio de desbravar, das ruas às instituições, um novo protagonismo para o mundo do trabalho e da cultura, para mulheres e jovens, para a afirmação da diversidade sexual e a luta contra o racismo. Breno Altman é diretor do site Opera Mundi. Leia íntegra em www.brasil247.com

A ideia do não lugar é algo com que constantemente deparamos. Enquanto mulher, negra e professora universitária, lido com muitos olhares silenciosos e tendenciosos, que se assustam com a minha presença na academia. Os que acham que estar em outra esfera social mudaria a questão racial, não, isso não modifica nada. Nessa nova etapa, ela vem revestida de uma lógica ainda mais difícil de combater. É como se eu não me encaixasse nesse lugar. Ou que tenha que provar e comprovar sempre que eu tenho direito a estar nesse espaço. Causa certo estranhamento e quebra de paradigmas para muitos daqueles que esperavam me ver nos espaços ditos “naturais” para mulheres negras (como empregadas domésticas, babás, lavadeiras e etc). A mesma situação pode ser pensada para tantas mulheres que hoje conseguem, a duras penas, se legitimar em carreiras que cul- Ascensão não resolve preconceito turalmente são reservadas aos lugares do masculino. Quebra de uma sequência linear do que é esperado para cada um dos gêneros. Por que causa tanto desconforto reconhecer o “outro” no polo oposto do que é naturalmente colocado pela sociedade? Medo da perda de privilégios ou só preconceito? Fico a me perguntar se esse lugar não é o meu ou como os lugares são inventados. E se são, por quem são delimitados? Ao tocar nesse ponto, chegamos ao cerne onde tudo se antevê, que é o imaginário social, esse espaço das ideias que coletivamente se propagam e cimentam as nossas realidades. Quebrar esse círculo vicioso é estar na retaguarda o tempo todo; passar por cima de olhares e pré-conceitos sobre nós mesmas e mostrar a tudo e a todos que somos capazes, que fazemos jus ao lugar que ocupamos. O desafio é grandioso, não é fácil quebrar estereótipos; e é necessário que haja espaços de desconstrução. Maria Simone Euclides é pedagoga e mestra pela Universidade Federal de Viçosa.


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BRASIL

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Movimentos sociais propõem a construção de Constituintes Populares POLÍTICA Encontro nacional reúne pessoas de 19 estados em BH Isis Medeiros

Rafaella Dotta e Pedro Carrano* Mudar o sistema político e combater os recuos na atual linha econômica do governo é o que propuseram cerca de mil pessoas, vindas de 19 estados e reunidas em Belo Horizonte na sexta-feira(4). A parte externa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi palco do Encontro Nacional e Popular pela Constituinte, fórum no qual se apontou que, para cumprir as tarefas apontadas, é preciso mobilizar a população construindo assembleias e constituintes populares durante 2016.

Meta dos organizadores para 2016 é construir assembleias populares

Vozes, porque o povo quer falar

O encontro dessa sextafeira (4) marca um ano do plebiscito popular que recolheu quase 8 milhões de votos em favor de uma assembleia nacional constituinte para modificar o atual sistema político, com o intuito de pôr fim ao financiamento empresarial de campanhas eleitorais, entre outros pontos, tornando as instituições mais representativas da sociedade e combatendo a influência do poder econômico. Os integrantes da campanha aprovaram a realização de assembleias constituintes populares, em um processo “pedagógico de mobilização”. “O avanço do

Reforma agrária, reforma urbana, reforma educacional, todas as reformas pra fazer um país soberano são travadas pelas instituições, que hoje estão muito longe da vida do nosso povo. Mudanças na política só podem se dar através de uma constituinte porque deputados e senadores não querem avançar na democracia.

A proposta da Constituinte

A gente precisa mudar o patamar que vivemos hoje, tanto da democracia participativa quanto a representativa. Principalmente avançar na democracia participativa, que é a forma como as mulheres podem ter mais condições de colocar as suas pautas, porque no Congresso é muito difícil. Sônia Coelho, Marcha Mundial das Mulheres

Nisa Boito, PT

Paulo Mansan, Pastoral da Juventude Rural de Pernambuco

(*colaborou Raíssa Lopes)

A campanha pela Constituinte do Sistema Político propõe a mudança das regras relativas à política, ou seja, sobre a eleição, os partidos, a participação dos cidadãos, o financiamento de campanhas políticas, a ocupação dos cargos por mulheres, negros, LGBTs e índios. Para isso, defende a realização de uma assembleia de representantes que tenham o poder de modificar nossas leis.

A diversidade é grande. Além de virem de várias partes do Brasil, as mil pessoas que participaram do encontro estão ligadas a inúmeros movimentos. A campanha chegou ao número de 470 organizações, quando foi realizado o Plebiscito Popular em setembro de 2014 e foram recolhidos 7,5 milhões de votos a favor de uma assembleia constituinte.

O que se comprovou nos últimos anos, nesse período de reabertura democrática, é que o nosso sistema político está completamente falido. Uma constituinte é extremamente necessária pra conseguirmos melhorar a participação popular e fazer uma ocupação mais justa dos cargos políticos.

conservadorismo na política brasileira reafirma a atualidade e a necessidade de uma Constituinte”, aponta Paola Estrada, da coordenação da campanha. “Regionalmente, vamos construir comitês com atividades de formação, de propaganda e daremos a orientação para que sejam realizadas assembleias, convocando associações de moradores, sindicatos, entre outros, para debater o que esperamos de uma Constituinte e qual o conteúdo social que uma constituinte deve ter”, disse Julio Turra.

Acho que o sistema político do Brasil não está funcionando. Tem que ter uma reforma? Tem. Já está sendo debatida uma reforma política, mas qual é essa reforma? São mudanças que não refletem o que tem na sociedade. Então o que adianta? As pessoas precisam parar de decidir dentro da Câmara dos deputados o que acha que o povo quer. Marcela Soares, Levante Popular da Juventude


Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Imposto para os mais ricos ou corte para os mais pobres? ECONOMIA Para conter déficit, governo pretende ampliar arrecadação, mas precisa definir se diminui programas sociais ou se enfrenta poderosos interesses José Cruz / Agência Brasil

Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF) O governo federal apresentou ao Congresso Nacional, na semana passada, previsão de déficit orçamentário de R$ 30,5 bilhões em 2016. Significa que estão programadas mais despesas do que receitas nas contas públicas, devido à baixa arrecadação dos últimos anos. Diante desse quadro, o debate do momento é sobre como cobrir esse rombo fiscal e, principalmente, quem vai pagar mais para fechar essa conta. As alternativas dividem setores da oposição, da base do governo e da sociedade. O discurso dominante na grande mídia vocaliza os segmentos empresarial e financeiro, que pedem mais cortes de gastos públicos. Parte desses apelos foi atendida pela presidenta Dilma

ra custeio da educação e da saúde. Também incluise nesse bolo o pagamento dos juros da dívida pública (R$ 450 bilhões em 2015). No total, mais de R$ 960 bilhões previstos no orçamento de 2016 não podem

Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, anunciou que investimentos dependem de arrecadação

Rousseff, que confirmou a redução de dez ministérios e o congelamento de cerca de mil cargos comissionados, medidas que devem entrar em vigor no mês de outubro. Dinheiro reservado O problema é que essa iniciativa só tem valor sim-

bólico, uma vez que a economia de recursos é quase insignificante dentro do orçamento geral. Mais de 90% das despesas públicas são gastos obrigatórios que não podem ser cortados, como pagamento de salário de servidores, Previdência Social, percentuais mínimos exigidos pa-

Só para o pagamento dos juros da dívida pública serão destinados R$ 450 bilhões em 2015 sofrer bloqueio. O que sobra, cerca de R$ 250 bilhões, serve para financiar diferentes ações de governo. Boa parte são os programas sociais, como o Bolsa Família, Pronatec, Minha Casa, Minha Vida, financiamento estudantil, reforma agrária, políticas culturais, entre outros.

Habitação popular está ameaçada OPÇÃO Governo anunciou que fase 3 do Minha Casa, Minha Vida pode ter cortes E justamente uma das vitrines do governo Dilma pode ser alvo de corte neste mandato. Após reunião com sua equipe política na terça (8), a presidenta escalou o ministro Ricardo Berzoini (Comunicações) para confirmar que programas de transferência de

“Não aceitamos pagar a conta da crise. Se o ajuste fiscal continuar, o país vai parar”, diz MTST renda, como o Bolsa Família, serão “absolutamente preservados”, mas aque-

les “com investimentos físicos” em educação, saúde e habitação terão que passar por um “alinhamento”, com a necessidade de aperto diante do resultado negativo nas contas. Na Educação, é certo que o programa de Financiamento Estudantil (Fies) e o Ciência Sem Fronteiras – que congelará a abertura de novas vagas – serão afetados pelo corte. De acordo com o ministro, a fase 2 do ‘Minha Casa’ prevê a entrega de 1,4 milhão de moradias populares, mas a fase 3, que estava programada para ser lançada nesta quinta-feira (10), ficará sujeita à “disponibilidade orçamentária”. Movimentos criticam A reação dos movimentos sociais foi imediata. Em

comunicado divulgado na quarta (9), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) lançou uma advertência clara ao governo: “Caso o lançamento não ocorra na data prometida ou ocorram cortes que prejudiquem a meta de cons-

trução de moradias para a faixa 1 [menor renda], mobilizaremos todas nossas forças em lutas, ocupações e bloqueios no Brasil inteiro. Não aceitamos pagar a conta da crise. Se o ajuste fiscal continuar, o país vai parar!”.

Imposto de Renda Apesar de ser o patrono do ajuste fiscal, até mesmo o ministro Joaquim Levy (Fazenda) admite a necessidade de criar alíquotas mais altas para o imposto sobre altas rendas e grandes fortunas. No Brasil, a cobrança mínima de imposto de renda está em 7,5%, muito abaixo de países como Estados Unidos (10%), Turquia (15%), Portugal (15%), Reino Unido (20%) e Itália (23%). Além disso, o extrato mais rico da população, cerca de 72 mil super-ricos , pessoas que têm renda mensal acima de R$ 126 mil, pagam menos imposto de renda do que quem recebe de 3 a 5 salários mínimos por mês.

BRASIL

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FATOS EM FOCO

Câmara aprova financiamento privado

A Câmara dos Deputados derrubou na quartafeira (9) a proposta do Senado que proibia o financiamento empresarial de campanhas políticas. A Câmara também manteve regras de coligação de partidos nas eleições proporcionais, para deputados e vereadores.

STF abre ação contra o deputado Paulinho da Força

Na terça-feira (8), o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu ação penal contra o deputado federal Paulinho da Força (SDD-SP) após denúncia realizada pela Procuradoria-Geral da República. O parlamentar é acusado de desviar dinheiro de empréstimos de financiamentos do BNDES, caracterizando crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Ministro pede errata de decreto sobre Forças Armadas Um decreto presidencial foi emitido na terça-feira (8), delegando ao ministro da Defesa competência para atos relativos a pessoal militar. Porém, na quarta-feira (9), Jaques Wagner, ministro que cuida da pasta da Defesa, pediu uma errata do decreto, esclarecendo que a gestão de pessoal militar é subdelegada aos comandantes das Forças Armadas.


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MUNDO

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Moscou confirma envio de armamentos e soldados em ajuda à Síria CRISE HUMANITÁRIA Número de refugiados do conflito chega a 4 milhões Christiaan Triebert

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, confirmou, na quinta-feira (10), que tropas russas estão presentes na Síria, como informou a agência russa Pravda. O chanceler disse ainda que seu país transportava armamentos militares em voos humanitários com destino à Síria. A confirmação ocorre dois dias após a Bulgária ter fechado seu espaço aéreo para aviões militares russos, por suspeita de que o país estivesse enviando armamentos e soldados ao invés de ajuda à Síria. A Ucrânia anunciou que tomará medida semelhante. Washington tem pressionado a Grécia para que faça o mesmo. O secretário de impren-

paz” de combater o Estado Islâmico.

Mais de 240 mil pessoas morreram e 4 milhões estão refugiadas

sa da presidência russa, Dimitry Peskov, afirmou que seu país considera conve-

niente apoiar o Exército da Síria, já que não há nenhuma “força organizada é ca-

Crise humanitária O conflito sírio já matou cerca de 240 mil pessoas e é um dos principais fatores da crise humanitária causada pela quantidade de pessoas que fogem para a Europa em busca de refúgio. Em julho, a Organização das Nações Unidas confir-

mou que o número de refugiados em decorrência do conflito na Síria superou 4 milhões, o que faz desta a pior crise do tipo enfrentada pela entidade nos últimos 25 anos. No país, há ainda 7,6 milhões de deslocados internos dentro da fronteira nacional, grande parte em lugares de complicado acesso para as organizações que fornecem ajuda humanitária. Além disso, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, o grupo EI (Estado Islâmico) recrutou, desde o começo deste ano, mais de 1,1 mil menores de idade, chamados de “filhotes do califado”. (Da redação, com Opera Mundi)


Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

ENTREVISTA 11

“O povo está decidido a fazer valer seus direitos”

UNIDADE Roberto Amaral comenta o contexto político e os desafios da Frente Brasil Popular Fred Rodriguez

Joana Tavares Militante das causas populares desde os tempos de estudante secundarista no Ceará, Roberto Amaral chega a seus 76 anos mantendo a coerência de defesa dos interesses do povo. E com a coragem de admitir que todos os dirigentes sociais – incluindo ele mesmo – precisam fazer uma autocrítica para entender como foi construída essa crise de legitimidade dos partidos de esquerda. Amaral, que foi militante do PCB antes do golpe militar, do PCBR durante a ditadura e ajudou a refundar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 1985, saiu da presidência do partido em 2014, após discordar do apoio ao PSDB, em um processo que classifica como “pragmatismo cínico”. No último dia 5, foi um dos milhares de militantes que participou do lançamento da Frente Brasil Popular, articulação que pretende construir uma saída à esquerda para a crise política do país.

“O governo faz uma administração econômica neoliberal”

Brasil de Fato - Como o senhor avalia esse contexto de crise em várias esferas, política, ideológica, econômica? Roberto Amaral - É um momento muito grave. Do ponto de vista político/institucional, é o mais grave desde a redemocratização. Do meu ponto de vista, a crise política é anterior à crise econômica. A crise econômica deriva de erros da política. E isso se torna vasos comunicantes: uma crise acentua a outra, porque implica nas contradições da sociedade brasilei-

do governo e presidente do PMDB, partido que tem a metade do governo sob seu comando, que tem o presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Ignorar isso é suicídio. Alguns políticos podem se suicidar, mas o povo não quer suicídio. Vencida essa tarefa, permanecerá outra: a necessidade de fazermos frente à onda conservadora, que está aí percorrendo todos os escaninhos da sociedade brasileira. A frente, ousadamente, se propõe a enfrentar isso, tendo como ponto de partida a unidade. A expectativa é que essa frente produza inumeráveis frentes, que se esse movimento se estenda por todos os estados, por todos os municípios. Ela não tem dono. Roberto Amaral: “Começamos a discutir essa frente em uma reunião com poucas pessoas. Agora estamos aqui com mais de 2 mil.

ra. O governo faz uma administração econômica neoliberal, que atende aos interesses do capital financeiro. Mas depende do apoio das classes trabalhadoras e não tem o apoio de quem se beneficia de sua política. Isso coloca um desafio muito grande para a esquerda brasileira. Estamos atuando numa linha muito tênue. Não podemos renunciar à defesa dos direitos dos trabalhadores e ao mesmo tempo não podemos aceitar o golpismo, o conservadorismo. Por azar nosso, essa crise – e eu não sei quem é o ovo e quem é a galinha – se dá num momento de fragilidade das estruturas partidárias de esquerda. A começar pela fragilidade política e ética do PT, a qual atinge coletivamente todo o campo da esquerda. Eu recomendaria aos companheiros do nosso campo que acham que vão se beneficiar da crise do PT, que pensem duas vezes. O que é e quais os desafios da Frente Popular de Es-

querda? Em face de tudo isso, a história está apontando um novo caminho, que é o caminho da unidade popular, nascida da sociedade, dos meios sociais, do movimento sindical. Pela primeira vez, temos uma fren-

“Temos dois grandes desafios: enfrentar o golpismo e a onda conservadora” te que não foi idealizada na cúpula, não foi idealizada por partidos, mas pela sociedade civil. A sociedade civil tomou consciência da gravidade do momento que estamos vivendo. Nosso manifesto cita vários desafios, vou me ater a dois. Um é o golpismo. O golpismo hoje está nas folhas, está no Congresso, está nas declarações do vice-presidente da República, que é ex-coordenador político

“A expectativa é que essa frente produza inumeráveis frentes” Como o senhor avalia a postura dos partidos políticos, em especial ao PSB, de cuja presidência o senhor saiu após discordar da decisão de apoiar Aécio Neves? Há uma crise nos partidos políticos. E essa crise não beneficia ninguém. E ela será muito grave se nós a ignorarmos. Mas ela pode ser muito salutar, se nós pararmos para refletir, se cada dirigente partidário fizer sua autocrítica, dos erros que cometemos, porque somos todos, coletivamente, responsáveis, pela crise que estamos vivendo. Em relação ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e seus dirigentes do momento, avalio que foi cometido um erro muito grave. Mobilizados por oportunismo, porque apostavam na vitória do Aécio, [esses dirigentes] rasgaram a história do partido, a biografia dos seus fundadores e daque-

les que trouxeram o partido de 1985. Optou por apoiar a direita, uma direita raivosa, golpista, e adotar o princípio do pragmatismo cínico, que destrói qualquer partido, que é a conquista de votos e quadros a qualquer preço, sem saber quem está trazendo para dentro de seu seio.

“Há uma crise nos partidos políticos, que não beneficia ninguém” O senhor disse que a crise pode ter uma faceta salutar. Na sua avaliação, pode se abrir caminho para o avanço de um projeto popular no Brasil? A crise pode ter uma saída salutar, mas não é automática, ela tem que ser buscada. Aprendemos pouco com 64 e temo que se aprenda pouco com 2014. Temos que rever tudo, nossas organizações, nossos programas, nossas formas de luta, nossas formas de dialogar com a sociedade. Perdemos a classe média. Estamos travando a guerra – não é luta, é guerra ideológica – com a sociedade? Estamos enfrentando a direita? Estamos debatendo? O que estamos fazendo? Nós, o povo, as organizações populares que não têm projetos pessoais, eleitorais, que estamos pensando na construção da sociedade, nos interesses do campo popular, nós temos que fazer o caminho. Não vai vir um salvador de cima pra baixo e dizer ‘esse é o caminho’. O povo está sentindo isso. Começamos a discutir essa frente em uma reunião com poucas pessoas. Agora estamos aqui com mais de 2 mil. Foram realizadas plenárias massivas em vários estados. O povo está decidido a fazer valer os seus direitos.


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CULTURA

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

Regras duvidosas no ar

Novela Joaquim Vela também no email: quimvela@brasildefato.com.br

“A Regra do Jogo” chegou no horário nobre na semana passada, mas ainda é cedo para afirmar se ela vai cair no gosto do público. A péssima audiência do folhetim anterior e as novidades da trama bí-

blica da Record (tema da coluna da semana passada) são obstáculos a serem enfrentados pela nova novela. Mesmo assim, os primeiros episódios já renderam boas conversas na mídia do gênero e nas rodas dos aficio-

nados. A história de João Emanuel Carneiro, reconhecido e premiado por trabalhos anteriores como “A Favorita” e “Avenida Brasil” é repleta de personagens duvidosos, que transitam entre o bem e o mal e que vão confundir os telespectadores. Nada mais nada menos que uma facção composta por políticos, lideranças sociais, bandidos e policiais vai gerar sede de vingança e justiça em muitos personagens. Vai ser um desafio mostrar a regra do jogo dessas organizações criminosas. O protagonista Romero Rômulo (Alexandre Nero) dá sinais de mocinho e vilão. Ele se vende como protetor dos direitos humanos, mas vem lutando para ser promovido na fac-

Oficina de teatro em Contagem abre inscrições

A oficina contará com a presença de Jessé Duarte, escritor, diretor e ator de teatro, batuqueiro e artis-

ta popular, e Tobias Santos Teixeira, músico independente, ambos da cidade de Contagem.

Serviço Onde: “Espaço Bartô”, em Contagem. Quando: 19, 21 e 22 de setembro | sábado das 14h às

18h, segunda e terça, das 18h30 às 22h). Quanto: R$ 30 Mais informações: http://migre.me/rtbqS

Ainda não dá para saber as reais intenções dos personagens da novela, que pretende ser mais verossímil que os folhetins anteriores. Para isso, a direção está usando fotografia típica de reality show, com câmeras escondidas que nem os atores sabem onde ficam. O recurso possibilita a exibição de cenas em ângulos distintos e que nem sempre trazem os atores no primeiro plano. O que você já sacou sobre a personalidade dos personagens? Quer contar para mim e para os leitores da coluna? Escreve lá no quimvela@brasildefato.mg.gov.br Um abraço, Joaquim Vela

Barreiro recebe festival de arte Divulgação

Para aqueles interessados, com ou sem experiência em teatro, estão abertas as inscrições para a “Oficina de Teatro Épico” organizada pela Cia. Crônica de Teatro. A oficina acontecerá nos dias 19, 21 e 22 de setembro no Espaço Bartô, em Contagem. A proposta é abordar um ponto de vista histórico da sociedade atual para projetar suas contradições nas cenas. Para isso, serão utilizados jogos e exercícios corporais e musicais que fazem parte do processo de criação da companhia. Será realizada uma introdução acerca do teatro crítico, dos fundamentos do teatro épico-dialético e de estudos sobre Bertolt Brecht.

ção. Diagnosticado com esclerose múltipla, o ex-vereador tem uma relação conturbada com a mãe, Djanira (Cassia Kis), que também parece esconder sua verdadeira personalidade. A filha adotiva dela, Toia (Vanessa Giácomo), foi capaz de roubar dinheiro da chefe num momento de desespero e vai tentar convencer o namorado Juliano (Cauã Reymond) a desistir de se vingar da facção, já que afirma ser vítima de uma armação dela e por isso, ficou preso quatro anos injustamente. Juliano é filho de Zé Maria (Tony Ramos) foragido da justiça por um crime que também diz não ter cometido. Quem será que está falando a verdade? Ou melhor: quem será que está jogando ou vai jogar a regra do jogo da facção?

VALORIZAÇÃO Circuito Periférico organiza apresentações e diálogos culturais nos bairros da RMBH O projeto Circuito Periférico teve nova parada nesta semana. Desde terça (8), o Centro Cultural Urucuia, no Barreiro, em Belo Horizonte, recebeu palestras, debates, pockets shows e vivências culturais, com participação gratuita. Os festivais acontecem em bairros e cidades da Região Metropolitana de BH e têm o objetivo de descentralizar o acesso à arte. Já passaram pelo festival a cantora Talita Barreto, Anderson Lobo, Cristiano Lemos, Fransoah Sabino e Alexandre Augusto, com pequenos shows. Na roda de conversa sobre vivências artísticas participaram bandas como 12duOito e Favela Groove. E na conversa sobre Conexões Urbanas, a organização convidou fóruns de Contagem, Ribeirão das Neves e BH. Na sexta (11), a partir das 19h, acontece a pales-

tra “Corre Criativo”, sobre empreendedorismo cultural, além de uma oficina de DJ e um encontro de saraus. No sábado (12), acontece o encerramento do festival, com a presença de seis bandas, entre elas Celso Moretti e Gestos grupo de dança. O festival é apoiado pelo Fundo Municipal de Cultura, em parceria com os centros culturais de Venda Nova e Urucuia.

Serviço Quando:

de 8 a 12 de setembro Onde:

Rua W3, 500, Urucuia Informações:

3277-1531


CULTURA

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

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BH recebe Virada e Revirada cultural DIVERSIDADE Artistas se apresentam durante 24 horas. Em paralelo, Revirada traz o diálogo sobre problemas da cidade Divulgação

Pedro Cindio No próximo final de semana, entre as 19h de sábado e 19h de domingo, a capital mineira vai receber o evento que já entrou no calendário cultural da cidade, a Virada Cultural. Serão 24 horas de shows, teatros, danças, exposições e diversas atrações extra-oficiais. Como prioridade, artistas locais irão mostrar seus trabalhos em diversos pontos da cidade. Serão 18 palcos, com 600 atrações gratuitas. Nos palcos parceiros, ingressos a preços populares também estarão na programação – como a Orquestra de Ouro Preto, que convida Nelson Ayres e Max de Castro e Simoninha no Baile do Simonal, ambas as atrações no Sesc Palladium.

Gaymada, Mundialito de Rolimã e orquestra também compõem virada A Praça Sete, no coração da cidade, será palco do

ro Santa Tereza. Para o baixista da banda, Paulo Jr, o show será ainda mais especial na virada. “Isso é tocar praticamente no quin-

“Poder mostrar nosso trabalho de graça para as pessoas, mesmo as que não são fãs da banda, será inacreditável”, diz baixista do Sepultura samba, choro, forró, MPB e soul, com o grupo Monoclube (SP), Trio Lampião, Janaína Moreno, Quarteirão do Soul. No palco Guaicurus, o cantor Felipe Cordeiro traz o seu tempero paraense e coloca todo mundo para dançar ao som da guitarrada, assim como os blocos carnavalescos “Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro” e “Juventude Bronzeada”. A região historicamente boêmia e festiva também recebe a segunda competição de passinhos de funk Duela BH e o desfile da Daspu! Esporte no roteiro

A rua Aarão Reis, quase embaixo do Viaduto Santa Teresa, recebe o 1º Campeonato de Basquete de Rua do Baixo Centro. No Circuito, ocorre o Mundialito de Rolimã (leia mais na página 15) e as intervenções dos coletivos BH Bike Polo, Bloco da Bicicletinha e EBA – Escola Bike Anjo BH. A TODA DESEO! leva para o Parque uma releitura da queimada, tradicional brincadeira de rua, e convoca a todos para a Gaymada, campeonato Interdrag. No Palco Guaicurus, entre as atrações estão apresentações de Pole Dance. O Palco Artes Cênicas,

localizado em frente ao Chico Nunes, no Parque Municipal, reúne grande parte da programação de teatro e dança desta edição. No mesmo parque, o destaque fica para a Orquestra Sinfônica Arte Viva, sob a regência do maestro Amilson Godoy, que convida o cantor Ivan Lins. Sepultura no quintal Na Praça da Estação, o destaque é para a banda Sepultura, que fará o show de sua turnê comemorativa de 30 anos de estrada, desde seu surgimento no bair-

tal de casa, poder mostrar nosso trabalho de graça para as pessoas, mesmo as que não são fãs da banda, será inacreditável. É o primeiro show gratuito do Sepultura na capital após o lançamento do primeiro disco. Estamos ansiosos com a experiência”, comenta. O palco ainda terá atrações como Eminence, Metallica cover e Tia Nastácia. O Grupo de samba Molejo fechará a edição da virada nesse palco.

Artistas questionam bandas covers e critérios Arthur Alckmin, baixista da banda Engradado e integrante do MURRO - Movimento Underground Rock & Roll, por exemplo, discorda da escolha do Metallica cover para se apresentar na edição. “Respeito demais o trabalho do Metallica Cover Brazil, são músicos excelentes. Só que não faz sentido colocar uma banda cover sendo que há tantas boas autorais excelentes na cidade de Belo Horizonte”, ar-

gumenta. Ele afirma que diversos artistas se inscreveram para participar da Virada, mas não receberam nem uma resposta negativa. A atriz e poetisa Larissa Alberti pensa que a prefeitura precisa mudar os meios de incentivo e buscar mecanismos de democratização do incentivo à cultura. “Eventos como a Virada deveriam mostrar a ampla gama de trabalhos artísticos que a cidade oferece,

ao invés de focar em megashows, que, por sinal, são de altíssimo custo. A cidade hoje tem um número muito significativo de artistas e os mecanismos de incentivo à cultura do município não conseguem contemplá-los de uma forma democrática. Somente parte deles conseguem participar de eventos como a Virada, tanto que foi organizada a Revirada, com quem ficou de fora do evento”, destaca.

Revirada Cultural Paralela à programação oficial, será realizada a terceira edição da Revirada Cultural, evento de artistas independentes de BH e região que não foram selecionados para a Virada. Criado em 2013, este ano a proposta é ficar 13 horas em atividade. “Não entendemos a Revirada como um evento, é um diálogo político cultural com a população. Não temos patrocínio, palco, som, tudo é feito às nossas custas, então teremos a participação de pessoas excluídas dos editais”, conta Poliane Honorio, integrante da Revirada. Confira a programação em: migre.me/ruj5e


14 VARIEDADES

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015 www.malvados.com.br

Bolo fofo por Laryssa Sampaio

E você, tem alguma receita que queira compartilhar? Envie para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

INGREDIENTES

Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br

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MODO DE PREPARO

6 ovos 4 xícaras de chá açúcar 4 xícaras de chá de farinha de trigo com fermento 250g de margarina 1 xícara de chá de leite

Bata os ovos, o açúcar e a margarina no liquidificador, até formar uma massa uniforme. Despeje a mistura em uma bacia e acrescente devagar a farinha de trigo peneirada e o leite, alternando entre os dois para não empelotar. Depois, é só colocar a massa pronta em uma forma com furo no meio untada com margarina e farinha de trigo. Leve ao forno médio (210 graus) já pré-aquecido por cerca de 30 minutos.

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Solução

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Estou usando gengibre pra emagrecer, mas uma amiga disse que ele faz mal pra saúde, é verdade? Angelina, 50 anos trabalhadora do lar Querida Angelina, nem tudo que é natural faz bem pra saúde. O gengibre tem vários benefícios, porém é preciso cuidado. Ele ajuda a emagrecer, pois tem efeito termogênico, ou seja, acelera o consumo de energia do corpo, queimando calorias mais rápido. Além disso, tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Mas ele também tem efeito vasodilatador (alarga os vasos sanguíneos), e pode interferir na circulação sanguínea, aumentando o risco de hemorragia. O efeito termogênico também pode ser ruim para alguns. Quem tem problemas do sangue, do coração, úlceras, hipertireoidismo e enxaqueca não devem consumir o gengibre. Diabéticos que usam medicamentos precisam ter cuidado porque ele também abaixa o nível de glicose no sangue, podendo gerar hipoglicemia. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-Enf.


Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

na geral

Cerveja proibida no Horto

ESPORTES

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na geral

Três Toques Wallace Oliveira

Reprodução

Futebol aos sábados Wikimedia

Barça pode ser punido por contratar menores

O governador Fernando Pimentel sancionou, no início de agosto, uma lei que autorizou a venda de bebidas alcoólicas nos estádios mineiros. A proibição durou oito anos, mas somente em quatro partidas os atleticanos desfrutaram da liberação. O veto de agora veio do clube e da empresa que administra a Arena, alegando dificuldades na fiscalização e ocorrências na partida, contra o Atlético Paranaense.

Jogos de Minas Gerais Acervo / SEESP

A FIFA pode punir o Barcelona por contratar menores de idade. O clube já tinha sido responsabilizado pela prática em abril de 2014, quando foi denunciado pela contratação de parentes de jovens atletas, levando-os para a Espanha junto com os garotos. Na época, o Barça ficou proibido de utilizar suas contratações em jogos oficiais até 2016. Agora, segundo a FIFA, o clube catalão é investigado pela aquisição de outros 31 jovens futebolistas, sendo que 16 deles teriam saído de países africanos. Reprodução

Exploração de jovens nas categorias de base do Brasil

Na mesma época em que o Barça recebeu a punição da FIFA, a Unicef lançou no Brasil um documento intitulado “A Infância entra em campo – riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol”. Ao entrevistar familiares de atletas que treinam nas categorias de base dos clubes brasileiros, os autores da publicação identificaram alguns riscos aos quais esses jovens estão expostos: 1) afastamento do ensino regular e profissionalização precoce, prejudicando a formação escolar; 2) exploração e abuso sexual; 3) ameaça à integridade física, por se tratar de um esporte de grande impacto e esforço; 4) distanciamento do convívio familiar, facilitando o acesso de aliciadores de todo tipo. O documento está disponível no link: migre.me/rubUS.

Jogador quer receber refugiados em casa Em entrevista ao jornal francês “Le Parisien”, Eric Cantona, ex-jogador do Manchester United e da seleção francesa, disse que está disposto a acolher refugiados em sua casa. Ele também convidou toda a nação francesa a fazer o mesmo. “Fazemos guerras por razões econômicas e, depois, quando as pessoas fogem de seus países porque estão vivendo uma catástrofe, não somos capazes de recebê-los?”, questionou o jogador, reconhecendo o papel de países europeus nos problemas enfrentados atualmente por países da Ásia e África.

Entre os dias 3 e 7 de setembro, as cidades de Lavras, Caratinga, Uberaba e Montes Claros receberam a segunda fase dos Jogos de Minas Gerais. Foram disputadas 372 partidas de basquete, handebol, vôlei e futsal, no feminino e masculino. O objetivo da competição é contribuir com a formação de atletas de alto rendimento, especialmente no interior do estado. O evento conta com o apoio de prefeituras municipais.

VocêSabia?

Pratique esportes

Rolimã

Onde:

Avenida Assis Chateaubriand, próximo à TV Alterosa, BH.

Quando:

13 de setembro, das 10 às 16h.

Informações:

Em Israel, parlamento e o governo querem acabar com o repouso sabático dos jogadores. Para a religião judaica, o sábado deve servir ao descanso. No mês passado, entretanto, a federação israelense marcou algumas partidas no sétimo dia da semana. Atletas entraram com recurso contra a medida, que atende a interesses de patrocinadores e emissoras de televisão, interessados na audiência dos jogos no fim de semana. Agora, um grupo de deputados apresentou projeto de lei que revê a definição dos atletas como trabalhadores. Não sendo considerado um trabalho, o futebol profissional poderia, então, ser praticado no dia sagrado dos judeus. Já na quinta-feira (10), o assessor jurídico do governo, Yehud Weinstein, garantiu que os jogos dos sábados não serão desmarcados.

Aquecimento para mais um Mundialito de Rolimã. Não haverá competições ou inscrições. Basta trazer seu carrinho e brincar. Atenção: é obrigatório ir de capacete e bom humor.

migre.me/rt7KZ

O jornal Brasil de Fato não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação. Recomendamos aos interessados que entrem em contato com os organizadores das atividades para confirmar data, horário e local.

Há rumores de que os primeiros carrinhos de rolimã foram produzidos nos anos 60, em cidades como BH e Rio de Janeiro, repletas de ladeiras íngremes para a garotada descer a mil.


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ESPORTES

Belo Horizonte, 11 a 17 de setembro de 2015

DECLARAÇÃO DA SEMANA

CURTO E GROSSO

Wikipedia

Vem aí a Liga Sul-Minas

“ Site do Cruzeiro

Wallace Oliveira Na quinta-feira (10), em reunião na sede do Flamengo, foi criada a Liga Sul-Minas. O estatuto foi assinado por 13 clubes fundadores: Atlético-MG, Atlético-PR, Avaí, Chapecoense, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Inter e Joinville. Para dirigir a Liga, foi eleito Gilvan de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro. O objetivo é iniciar uma Copa regional em 2016, com a participação de dois representantes de cada estado: MG, RJ, PR, SC e RS. A Liga tem sido anunciada como um ato de independência frente à CBF e ao futebol paulista. O nome

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Se tivesse existido um Estado catalão, eu teria jogado com a seleção da Catalunha, mas, naquele momento, isso ainda não era viável.

Pep Guardiola, treinador do Bayern de Munique, que jogou pela seleção espanhola e tem posição favorável à causa separatista da Catalunha.

Cruzeiro venceu a última edição da Copa Sul-Minas, em 2002

lembra a extinta Copa SulMinas, conquistada uma vez pelo América-MG e duas pelo Cruzeiro. Essa competição, vale lembrar, surgiu devido ao descontentamento de mineiros e sulistas com as rendas da Copa Centro-Oeste e Copa Sul.

Agora, o estopim da criação da Liga Sul-Minas parece ser a insatisfação de clubes grandes com os estaduais e a possibilidade de que os participantes faturem cerca de R$ 80 milhões com a competição.

Até o fechamento desta edição, ainda não havia terminado o jogo entre Flamengo e Cruzeiro, no Maracanã.

Gol de placa

O Bayern de Munique está fazendo sua parte: além de doar 1 milhão de euros para auxiliar os refugiados, montará uma estrutura em suas categorias de base para abrigá-los e oferecerá cursos de alemão para que os imigrantes se adaptem mais rapidamente ao novo país.

Gol contra

Placa de “machista da semana” para o presidente da federação ganesa de futebol, Kwesi Nyantakyi, que, a fim de aumentar o público nos estádios, teve a ideia: “Precisamos deixar mulheres sexy entrarem nos nossos estádios e os homens imediatamente as seguirão para ver os jogos”. Dá pra acreditar?!

OPINIÃO Bráulio Siffert O técnico Givanildo demorou demais para aceitar que em time que não se ganha se mexe. Após cinco jogos sem vitória, escalando mais ou menos o mesmo time e dentro de um mesmo esquema tático, que já se mostrava desgastado, Giva enfim cedeu e optou por usar o 3-5-2 e trocar Robertinho por Walber. Resultado: contra o Sampaio Cor-

rêa, então terceiro lugar da série B e único time do Brasil que estava invicto em casa, o América surpreendeu, ocupou bem o meio de campo, dominou o jogo e conseguiu uma grande vitória de 2 a 0 no Maranhão, com exímia atuação do garoto Richarlison. O time ficou melhor distribuído em campo, com mais proximidade entre o meio e o ataque. Agora, o América volta a sonhar com o acesso à

OPINIÃO Rogério Hilário Após duas vitórias seguidas, o Atlético tem três pedreiras pela frente, decisivas para conquistar o título brasileiro. Disputa o clássico mineiro, enfrenta o Santos, na Vila, e, depois, o Flamengo, em BH. Já o Corinthians vai encarar Joinville, em casa; Inter, em Porto Alegre, e Santos, nos seus domínios. Em uma semana, poderemos assistir a ascensão do Ga-

lo ao primeiro lugar ou o afastamento do sonho do bi nacional. Daí chegamos a um dos momentos mais emocionantes, quando realmente veremos quem é o mais gabaritado para vencer. O interessante é que não se pode descartar qualquer concorrente. O Grêmio continua perigoso e próximo. Outros também podem crescer. Por isto, o Alvinegro precisa ganhar e, depois, secar.

OPINIÃO Léo Calixto Após uma semana cheia de novidades, desde a troca de treinador, diretor de futebol e mudança de atitude de jogadores e da torcida - que compareceu em peso no último jogo em casa – o Cruzeiro volta a trabalhar com tranquilidade. Oscilações ainda vão acontecer e uma vitória contra o maior rival dentro do Mineirão, no domingo (13), será um grande passo para

se afastar de vez da perigosa zona onde estão os candidatos ao descenso. A direção ouviu a China Azul e promoveu mudanças. A chegada de Mano Menezes e a promoção de Bruno Vicintin à vice-diretoria de futebol mostram que Gilvan volta a pensar grande, não só na busca por títulos, mas no desenvolvimento do Cruzeiro enquanto instituição modelo que sempre foi.


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