Amazônia: mais perto do que você imagina

Page 1

Edição Especial Nº 13 / 2019 Circulação nacional Distribuição gratuita

UMA VISÃO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO

AMAZÔNIA

M a i s p e r t o d o q u e vo c ê i m a g i n a Efeito das queimadas chega às cidades e afeta a saúde pública

Com menos fiscalização e ataques a povos tradicionais, Bolsonaro incentiva ações predatórias

Indígenas e camponeses: a base de uma floresta sustentável

Pág. 2

Pág. 4

Pág. 5


2

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Amazônia

A vida da floresta é a vida de seus povos Maior floresta equatorial do planeta, a Amazônia não é um grande vazio a ser habitado; é preciso conhecê-la para conservá-la

Por Lu Sudré e Bruno Malheiros

O

termo floresta vem da palavra latina foresta que, segundo Silvia Nestrovski, é uma junção de foris (do lado de fora) e silva (bosques dentro dos muros dos castelos). Tal ligação teria surgido na corte de Carlos Magno, no século 8, para delimitar um terreno, fora dos muros do castelo, como reserva de caça para o rei. A floresta, portanto, sempre representou um “fora”, ou aquilo que não somos e nem queremos ser. No Brasil, a Amazônia se tornou a nossa expressão de floresta e também foi jogada para fora das representações da nação, tornando-se um verde homogêneo, sem gente e sem cultura. O resultado disso tudo foi uma engrenagem de destruição e morte, de fogo e sangue, que hoje põe em risco todos nós se considerarmos o papel decisivo que esta região tem para o equilíbrio do planeta. É hora conhecer a nossa Amazônia.

OS POVOS ANCESTRAIS Esta é uma região habitada há pelo menos 39 mil anos na Formação Cultural Chiribiquete, Amazônia colombiana, e há 11 mil anos no Sítio da Pedra Pintada, em Monte Alegre, no Pará. Esses milênios conferem um rico acervo de conhecimentos construídos por distintas etnias indígenas, pensados a partir de diferentes línguas e enriquecidos pelas diversas formas de pensar a partir do modo de vida afro-amazônico e camponês. Essa ancestralidade regional também é responsável pela produção da diversidade ecológica e biocultural do que hoje é a maior floresta equatorial do planeta.

POR DENTRO DA MATA Com uma rica e única biodiversidade, a Amazônia se estende por uma área aproximada de 5,5 milhões de km2. Apesar de abranger outros oito países da América do Sul, é no Brasil que a Amazônia encontra sua casa, pois 60% desse território se concentra aqui. Compreendendo os estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Amapá, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, a Amazônia

abriga mais de 30 mil espécies de plantas, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Maior bioma do Brasil, a fauna amazônica é reconhecida internacionalmente por ser constituída por milhares de espécies de animais, entre répteis, anfíbios, peixes, aves, insetos e mamíferos terrestres e aquáticos. Muitas delas endêmicas, ou seja, só ocorrem nessa região.

Os povos indígenas representam menos de 5% da população mundial (Fonte: Greenpeace)

Abriga mais de um terço das espécies que vivem sobre a Terra (Fonte: Governo Federal)


3

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

OS GUARDIÕES DA FLORESTA De acordo com a ferramenta de monitoramento do Instituto Socioambiental (ISA), 210 povos indígenas ocupam territorialmente os diversos estados da Amazônia brasileira. Na região, existem 424 áreas de terras indígenas (TIs), que representam 23% do território amazônico e 98% de todas as TIs do Brasil. O campesinato amazônico é composto por uma diversidades de povos e comunidades tradicionais, como castanheiros, seringueiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas, assentados e tantos outros. Esses modos de vida estão baseados na extração de

A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km2 e e tem 1.100 afluentes (Fonte: Governo Federal)

muitos produtos nativos que abastecem o Brasil e o mundo, como a borracha, a castanha e o açaí, sem prejudicar o meio ambiente. Além do extrativismo, há uma rica e produtiva agricultura que abastece a população do campo e da cidade de várias regiões do país. A partir dessa produção, os projetos de comércio local das comunidades tradicionais são essenciais para um desenvolvimento socioeconômico sustentável. Para que isso aconteça, os guardiões da floresta propõem a defesa de seus territórios, das águas e de suas formas de produção de alimentos saudáveis.

A bacia amazônica tem 20% de toda a reserva de água potável do planeta e 45% de toda a água subterrânea Jorge Araújo/Fotos Públicas

(Fonte: Governo Federal)

POR ONDE ANDA O DINHEIRO... Mais de 10 mil espécies de plantas da área possuem princípios ativos para uso medicinal, coméstico e controle biológico (Fonte: Plano de Amazônia Sustentável)

Leia mais sobre a Amazônia no site do Brasil de Fato

O Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas, maior estado do país e que concentra a maior parte da floresta, totalizou R$ 24,72 bilhões no primeiro trimestre de 2019, segundo levantamento do governo estadual. No mesmo período, o PIB brasileiro totalizou R$ 1,714 trilhão, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as principais atividades da economia amazonense, a de maior crescimento, segundo os dados estaduais, é a agropecuária, com alta de 7,59% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. A atividade totalizou R$ 1,786 bilhão nos primeiros três meses de 2019. As demais atividades para composição do PIB do estado, por ordem de importância, são: serviços, indústria e impostos.

Centro de São Paulo por volta das 16h, quando espessas nuvens de fumaça, vinda das queimadas, escureceram a cidade

QUANDO O DIA VIROU NOITE A

Amazônia brasileira enfrenta atualmente a maior onda de incêndios dos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No início de agosto, os impactos das queimadas foram sentidos em todo o continente. Em São Paulo, por exemplo, o dia virou noite. Às 16h do dia 19 de agosto, a cidade foi coberta por uma grande nuvem escura, devido a partículas oriundas da fumaça produzida pelos focos

de queimada na Amazônia e a chegada de uma frente fria na região. As queimadas também prejudicaram a saúde da população amazônica. O número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou em decorrência da explosão dos focos de incêndio. Entre maio e junho deste ano, foram registradas 2,5 mil internações a mais, por mês, em relação a igual período do ano passado, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou o impacto em cerca de 100 municípios.


4

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Tudo vira pasto

Derrubadas e fogo abrem espaço para o agronegócio

A em chamas impressionam. s imagens da Amazônia

De onde surgiram os focos de incêndio que continuam a destruir, a cada dia, a maior floresta equatorial do mundo? Apesar do tempo seco comum a este período do ano, ele não é o único responsável por essa devastação. No dia 10 de agosto, fazendeiros do sudoeste do Pará promoveram o chamado “Dia do Fogo”. As queimadas iniciadas na região se alastraram rapidamente por outros estados amazônicos nos dias seguintes e, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 30.901 focos de incêndio foram registrados ao longo do mês. Prática predatória usada por latifundiários e pecuaristas para “limpar as terras” em busca de expansão das áreas de pastagem ou para plantações de soja, as queimadas estão ligadas ao avanço do desmatamento e fazem parte do mesmo processo de destruição: primeiro a derrubada, depois o fogo e tudo vira pasto. O objetivo da ação criminosa,

“A destruição, como está ocorrendo, é realmente suicida. Suicida para o Brasil, mas também para o mundo.”

“Precisamos mostrar para o presidente que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando” Fazendeiro, em troca de mensagens com outros latifundiários

segundo o jornal local Folha do Progresso, era “mostrar trabalho” para Jair Bolsonaro, que frequentemente protagoniza reiterados ataques às políticas ambientais, aos ambientalistas e aos órgãos de fiscalização da área. "Precisamos mostrar para o presidente que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. Para formar e limpar nossas pastagens, é com fogo", dizia a conversa entre latifundiários publicada pelo jornal. A crise ambiental no país se iniciou com a destruição dos órgãos de fiscalização, como o Instituto Chico Mendes (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e se intensificou quando Bol-

Antropólogo Armando Bartra

Marcos Correa / AFP

Por Lu Sudré

João Laet / AFP

Incentivados pelos discursos e ações de Jair Bolsonaro, práticas criminosas de fazendeiros provocaram um aumento expressivo do desmatamento na Amazônia

Aumento dos avisos de desmatamento em relação a 2018 (%)

Área desmatada em 2019 (km2) 2255

278

1702

222 96 90

1447

936

Jun

Jul

Ago

Set

Jun

Jul

Ago

Set

Fonte: Sistema Deter, do Inpe

sonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desqualificaram dados produzidos pelo Inpe sobre o desmatamento da Amazônia.

Recuperação

Rdo Instituto de Manejo e oberto Palmieri, pesquisador

Certificação Florestal e Agrícola, explica que as consequências dessa política antiambiental são catastróficas. “Em um incêndio florestal, uma área como a amazônica demora décadas para se recuperar. Estamos falamos em uma perda na qual a recuperação possivelmente não irá recompor a diversidade que tínhamos nesses locais”, lamenta. Para o antropólogo Armando Bartra, da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), os ataques aos recursos naturais fazem parte de uma nova dimensão do modelo capitalista, que ele chama de “capitalismo do fim do mundo”. “Todos dependem dela [Amazônia]. Qualquer ecossistema ultrapassa suas fronteiras. A destruição, como está ocorrendo, é realmente suicida. Suicida para o Brasil, mas também para o mundo.”


5

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

A partir dos anos 1960 e 1970…

Conservação

…o atual modelo de exploração da Amazônia foi se formando por meio de políticas governamentais de infraestrutura e de incentivo à exploração da floresta, do solo e do subsolo. Assim, constituiu-se um modelo de ocupação que tem o latifúndio como fundamento. Ele é a base da destruição da natureza originária para exploração mineral, madeireira, pecuária e, mais recentemente, da soja. Esse modelo de exploração da Amazônia sempre esteve associado a uma falsa ideia de que

Indígenas e camponeses são a base de uma Amazônia sustentável Retomar o reconhecimento de terras e desapropriar latifúndios são o caminho para salvar a floresta, aponta pesquisador

A

início da colonização, como por outros migrantes. Grupos que adentraram as matas e constituíram formas específicas de vida, combinando extrativismo, agricultura e criação de animais em estreita relação com a diversidade florestal.

Desde a virada do século...

Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), apresenta, a seguir, as principais formas de exploração da região ao longo das últimas décadas e destaca a necessidade de proteger os modos de vida tradicionais de indígenas e camponeses, os únicos capazes de salvar a Amazônia.

Nos últimos 50 anos… …a migração de camponeses de outras partes do Brasil intensificou-se, ampliando o repertório de lutas de enfrentamento ao modelo latifundiário e em prol da constituição de um projeto de desenvolvimento agroflorestal e agroecológico.

...no entanto, o pacto de poder em torno do agronegócio no Brasil voltou a exercer pressão sobre a Amazônia e seus povos, fortalecendo o modelo de ocupação latifundiário que se articulou em uma escala jamais vista, estruturado a partir dos megaprojetos de infraestrutura, de mineração e de exportação de commodities. As queimadas que chamaram a atenção nos últimos meses são apenas a expres-

Nos anos 1980...

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Da Redação

extração de riquezas marca a história da colonização da Amazônia, mas outros modelos de desenvolvimento ainda mais predatórios avançam sobre a floresta. O engenheiro agrônomo Fernando Michelloti, professor da Universidade Federal do

a região era um imenso vazio demográfico e, por isso, podia ser apropriada pelos agentes do grande capital. Mas, ao contrário disso, a Amazônia sempre foi habitada, não apenas por povos indígenas que ali estavam antes do

...com a redemocratização do Brasil, o caráter ambientalmente destrutivo e socialmente violento do modelo de exploração latifundiário ficou evidente e muitas forças sociais em todo o país e no mundo passaram a apoiar as lutas de resistência de povos indígenas, comunidades tradicionais e camponeses sem terra. Muitos deles tiveram conquistas importantes como o reconhecimento de suas terras e territórios, além da criação de assentamentos de reforma agrária pela desapropriação de latifúndios. Formava-se, assim, uma base territorial para o desenvolvimento de projetos produtivos agroflorestais e agroecológicos e os modos de vida a eles associados.

são mais visível do caráter violento e destrutivo desse modelo de ocupação. Ele só se viabiliza avançando destrutivamente sobre a floresta e buscando expulsar os povos indígenas e comunidades camponesas de seus territórios, inclusive aqueles já oficialmente delimitados.

A Amazônia do futuro exige...

...a interrupção dos projetos do grande capital e a retomada dos programas de reconhecimento de terras tradicionalmente ocupadas e de desapropriação de latifúndios para a reforma agrária. “Este caminho é urgente para salvar a Amazônia da destruição irreversível e fazer avançar um projeto de desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Sem isso, não haverá redemocratização nesta região”, defende o professor da Unifesspa Fernando Michelloti.


6

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Depoimento

Povos indígenas resistem

“ várias famílias de invaso-

João Laet / AFP

Onde fica a nossa aldeia há

Queimadas crescem 83% e deixam o mundo em alerta

Por Catarina Barbosa

O

fogo que tem devastado extensa área da floresta Amazônica e o caráter destrutivo com que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) trata o meio ambiente tomaram conta dos noticiários do Brasil e do mundo nos últimos meses. Os focos de incêndio cresceram 83% até agosto de 2019, na comparação com o ano passado, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A preocupação da sociedade gira em torno da possibilidade de vivenciarmos a extinção da maior floresta equatorial do mundo e as implicações disso para a vida na Terra. O Brasil registrou 131.327 queimadas

florestais até o mês de agosto de 2019. Só na Amazônia, foram registrados 43.573 focos, segundo dados do Inpe. Celebridades internacionais, como Leonardo DiCaprio e Madonna, reagiram nas redes sociais e citaram diretamente o presidente brasileiro, pedindo providências e lembrando que a floresta importa para o mundo. Outros artistas, como Leandra Leal, falaram dos moldes de consumo capita-

lista, que ditam a forma como modificamos e lidamos com o meio ambiente. Lideranças políticas de todo o mundo também se manifestaram sobre o aumento das queimadas e do desmatamento. A questão foi tema de reuniões do G7, que reúne as maiores economias do mundo, e também na Assembleia Geral das Nações Unidas. “Esse alerta [de que a Amazônia tem interesse interna-

cional] está posto, e não é de hoje. Nesse aspecto, é preciso distinguir cooperação de ingerência. A cooperação é muito importante, mas é evidente que a gestão da Amazônia deve ser feita pelos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)”, avaliou o pesquisador Wagner Costa Ribeiro, do curso de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).

"Eles desmataram muitas áreas e fizeram queimadas, porque querem tomar as nossas terras."

Arquivo Pessoal

Celebridades e autoridades políticas cobraram a responsabilidade do governo brasileiro na defesa do território amazônico

res. Eles desmataram muitas áreas e fizeram queimadas, porque querem tomar as nossas terras. As queimadas não prejudicam só o indígena, prejudicam também os animais. A queimada mata os matos. Então, a nossa preocupação é com essa quantidade de fumaça que prejudica os indígenas. Além disso, as queimadas expulsam a caça. Elas vão embora com o fogo e os pássaros são os primeiros a ir embora, eles atravessam o rio e procuram outro local. De 14 mil hectares da nossa aldeia, cerca de 7 mil foram desmatados com as queimadas. Está cada vez mais difícil.”

Cresce onda de incêndios na floresta amazônica neste ano, divulgou o jornal estadunidense The New York Times

Amazônia brasileira queima a um ritmo recorde, diz manchete do jornal espanhol El País

Katoprore Xikrin, da Terra Indígena Trincheira-Bacajá, do povo Xikrin, aldeia Mrôtidjãm. A área fica localizada entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no Pará. Uma ação do Ministério Público Federal pede a retirada de posseiros da terra indígena.


7

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Andreas Solaro / AFP

Um governo contra o meio ambiente

Papa Francisco

“A Amazônia é um problema mundial”

Relembre ações e discursos de Jair Bolsonaro e de sua equipe que incentivam o desmatamento e ataques contra os povos da floresta Da Redação

O

site Pátria Queimada Brasil, da organização não governamental (ONG) Greenpeace, reúne os principais fatos relacionados ao meio ambiente no governo de Jair Bolsonaro. Desde que tomou posse em janeiro, as declarações e as medidas do presidente e de sua equipe estimulam práticas predatórias.

A defesa da mineração em terras indígenas, a anulação de multas ambientais e o desmonte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) são exemplos de propostas e ações que impactam nas nossas reservas de fauna e flora. “O aumento do desmatamento e das queimadas não acontece por acaso. Em regiões como a Amazônia e o Cerrado, elas são a previsível consequência da falta de planejamento e de ação de nossos governantes. Porém, desde janeiro deste ano, o que já estava ruim ficou muito pior”, avalia a ONG internacional.

C tir e repensar o papel da

01.01.2019 Um ministro falso Ricardo Salles, o ministro do Meio Ambiente, inventou que se formou na Universidade Yale, nos EUA, e que entende de meio ambiente. Na verdade, ele é um advogado que prestava serviços para o agronegócio. Duas semanas antes de assumir o ministério, foi condenado pela Justiça de São Paulo por fraude ambiental.

28.02.2019 Começa o ataque Salles, sob o comando de Bolsonaro, demitiu quase todos os líderes dos órgãos ambientais e não colocou ninguém no lugar da maioria. O investimento em programas ambientais despenca.

om o objetivo de discu-

Igreja Católica em defesa do meio ambiente, o chamado Sínodo para a Amazônia, convocado pelo papa Francisco, está reunindo bispos de todo o mundo no Vaticano. O encontro teve início no dia 6 e vai até 27 de outubro. Durante as atividades que antecederam a reunião, o papa declarou: “A Amazônia que queima não é apenas um problema daquela região, é um problema mundial”. O Instrumentum Laboris, documento que orienta as discussões feitas pelas autoridades religiosas, questiona o atual modelo de desenvolvimento na Amazônia e aborda a exploração internacional dos recursos naturais da região. Representantes de diversos movimentos populares da América Latina entregaram um documento ao Vaticano, no qual relatam uma disputa de projetos econômicos e sociais opostos, em meio a uma grave crise ambiental na região. “[Esse processo] está marcado pelo avanço do agronegócio, a exploração mineral e petrolífera”, aponta a carta.

07.05.2019 O fim da prevenção de incêndios 38% do orçamento dos programas de prevenção e controle de incêndios florestais foram bloqueados.

27.05.2019 Corre que a polícia vem aí

06.07.2019 O crime sente que tem o apoio do governo

Governo avisa antecipadamente onde fará operação de fiscalização do Ibama contra desmatamento, para que os infratores possam se esconder.

Quando as equipes de fiscalização do Ibama chegaram à Terra Indígena Zoró, em Rondônia, para impedir uma ação criminosa de madeireiros, os fiscais foram recebidos com violência. Um caminhão-tanque do órgão foi incendiado. Na semana seguinte, o ministro Salles foi à Rondônia e discursou aos madeireiros, chamando-os de “cidadãos de bem”.

Agosto de 2019 Mais infrações, menos punições O aumento no desmatamento foi gigantesco no último ano. Ainda assim, de janeiro a agosto de 2019, houve uma redução de 28% na quantidade de autuações ambientais em todo o país, quando comparado com o mesmo período de 2018.

28.08.2019 E a floresta cai Depois de meio ano de reduções nos esforços de monitoramento, prevenção e fiscalização, o desmatamento explode. O número de alertas de desmatamento em julho foi 278% maior que o verificado no mesmo mês de 2018. No acumulado do ano, o aumento de alertas foi de quase 50%.


8

ED. ESPECIAL Nº 13 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Destruição da Amazônia ameaça a soberania nacional Da Redação

A

destruição da Amazônia, com o aumento da área desmatada na maior floresta equatorial do planeta, junta-se a outras ações do governo de Jair Bolsonaro que ameaçam a soberania nacional e popular do Brasil. O abandono de políticas de proteção e fiscalização do meio ambiente são indicativos de como o governo pretende submeter o patrimônio nacional aos interesses da iniciativa privada. Para o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, a postura diplomática do Brasil no caso

Chico Batata/Greenpeace

As imagens da floresta em chamas rodaram o mundo nos últimos meses. Celebridades nacionais e internacionais manifestaram apoio e mobilizaram esforços em campanhas para arrecadar recursos. Nas redes sociais, a hashtag #PrayForAmazônia (Tradução: #OrePelaAmazônia) ficou entre as mais comentadas.

“Minha terra tem madeiras onde cantam motosserras: peões que ali viviam servem de adubo à terra.” das queimadas na Amazônia revela um país a serviço de nações imperialistas. “A nossa concepção de soberania é a defesa dos recursos naturais, da nossa capacidade de desenvolvimento autônomo, uma política externa que sempre busque o interesse nacional”, analisa. Em setembro, a Frente Popular e Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional foi lançada no Congresso Nacional. Assim como a Amazônia, outros patrimônios brasileiros estão ameaçados pelo governo, como as empresas públicas, entre elas Petrobras e Eletrobras. No caso da empresa de energia, o Sindicato dos Eletricitários do Rio de Janeiro estima que a privatização da companhia pode aumentar o preço da luz em 160%.

Organizações populares estão mobilizadas em defesa do patrimônio brasileiro

Apoio de celebridades

Autoexílio

Ademir Braz

AGENDA DE OUTUBRO 16 – Dia Nacional da Alimentação - atos em diversas cidades em defesa da soberania alimentar e da Amazônia 17 – Ato Nacional em defesa da Amazônia em Marabá (PA)

"Estamos profundamente preocupados com a crise em curso na Amazônia, que demonstra o delicado equilíbrio entre clima, biodiversidade e bem-estar dos povos indígenas"

"É triste, revoltante e não são fake news. São dados e estudos, sem achismos, que comprovam o total descaso com o meio ambiente que estamos enfrentando

Ator Leonardo DiCaprio no Instagram, em agosto

Atriz Camila Pitanga no Instagram, em agosto

"A gente viu com nossos próprios olhos e não é mentira, é real. Por que poderia ter sido evitado? Porque uma das formas de colocar fogo na floresta é desmatar e tacar fogo. A floresta não pega fogo sozinha" Ator Bruno Gagliasso Em sobrevoo na Amazônia, a convite Neilson Barnard do Greenpeace, Getty Images North America AFP em setembro

18 - MST recebe Salva de Prata na Câmara Municipal de SP 18 – Ato Nacional em defesa da Eletrobras em Recife (PE) 25 – Ato em Brumadinho (MG) pela reestatização da Vale

#ANaturezaEstáFalando"

"As queimadas crescentes vêm destruindo em dias o que a natureza leva anos, séculos para construir. Eu já estive lá e pude ver de perto como tudo acontece" Modelo Gisele Bündchen no Twitter, em agosto

EXPEDIENTE: Edição especial. Circulação nacional gratuita. Outubro/2019 | Reportagem: Bruno Malheiros, Catarina Barbosa e Lu Sudré. Edição: Camila Maciel e Nina Fideles | Revisão: Vívian Fernandes | Jornalista responsável: Nina Fideles (MTB 6990/DF ) | Artes e diagramação: Fernando Bertolo e Gabi Lucena | Foto de capa: Chico Batata/Greenpeace | Contato: brasildefato.com.br / jornalismo@brasildefato.com.br

"Presidente Bolsonaro, por favor, mude suas políticas e ajude não apenas seu país, mas todo o planeta. Nenhum desenvolvimento econômico é mais importante do que proteger esta terra. #PrayForAmazonia" Madonna no Instagram, em agosto


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.