Jornal Anúncio em Ação - Abril 2017

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ABRIL 2017

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PAPA FRANCISCO E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Muitos se tem perguntado que pelo fato de o atual Papa Francisco provir da América Latina, seja um adepto da teologia da libertação. Esta questão é irrelevante. O importante não é ser da teologia da libertação, mas da libertação dos oprimidos, dos pobres e injustiçados. E isso ele o é com indubitável claridade. Este, na verdade, sempre foi o propósito da teologia da libertação. Primeiramente vem a libertação concreta da fome, da miséria, da degradação moral e da ruptura com Deus. Esta realidade pertence aos bens do Reino de Deus e estava nos propósitos de Jesus. Depois, em segundo lugar, vem a reflexão sobre este dado real: em que medida aí se realiza antecipadamente o Reino de Deus e de que forma o cristianismo, com o potencial espiritual herdado de Jesus, pode colaborar, junto com outros grupos humanitários, nesta libertação necessária. Esta reflexão posterior, chamada de teologia, pode existir ou não pois pode não haver pessoas que tenham condições de exercer esta tarefa. O decisivo é que o fato da libertação real ocorra. Mas sempre haverá espíritos atentos que ouvirão o grito do oprimido e da Terra devastada e que se perguntarão: com aquilo que aprendemos de Jesus, dos Apóstolos e da doutrina cristã de tantos séculos, como podemos dar a nossa contribuição ao processo de libertação? Foi o que realizou toda uma geração de cristãos, de cardeais a leigos e a leigas a partir dos anos 60 do século passado. Continua até os dias de hoje, pois número de pobres não cessa de crescer e seu grito já se transformou num clamor. Ora, o Papa Francisco fez esta opção pelos pobres, viveu e vive pobremente em solidariedade a eles e o disse claramente numa de suas primeiras intervenções: “Como

gostaria uma Igreja pobre para os pobres”. Neste sentido, o Papa Francisco, está realizando a intuição primordial da Teologia da Libertação e secundando sua marca registrada: a opção preferencial pelos pobres, contra a pobreza e a favor da vida e da justiça... Em 1990 havia na Argentina 4% de pobres. Hoje, dada a voracidade do capital nacional e internacional, elevam-se a 30%. Estes não são apenas números. Para uma pessoa sensível e espiritual como o bispo de Roma Francisco, tal fato representa uma via-sacra de sofrimentos, lágrimas de crianças famintas e desespero de pais desempregados. Isso faz-me lembrar uma frase de Dostoiewski: ”Todo o progresso do mundo não vale o choro de uma criança faminta.” Esta pobreza, tem insistido com firmeza o Papa Francisco: não se supera pela filantropia mas por políticas públicas para que devolvam dignidade aos oprimidos e os tornem-se cidadãos autônomos e participativos. Não importa que o Papa Francisco não use a expressão “teologia da libertação”. O importante mesmo é que ele fala e age na forma de libertação. É até bom que o Papa não se filie a nenhum tipo de teologia, como a da libertação ou de qualquer outra. Seus dois antecessores assumiram certo tipo de teologia que estava em suas cabeças e se apresentava como expressões do magistério papal. Em nome disso se fizeram condenações de não poucos teólogos e teólogas. Está comprovado historicamente que a categoria “magistério” atribuída aos Papas é uma criação recente. Começou a ser empregada pelos Papas Gregório XVI (1765-1846) e por Pio X (1835-1914) e se fez comum com Pio XII (1876-1958). Antes “magistério” era constituído pelos doutores em teologia e não pelos bispos e pelo Papa. Estes são mestres da fé. Os teólogos são mestres da inteligência da fé. Portanto, aos bispos e Papas não cabia fazer teologia: mas testemunhar oficialmente e garantir zelosamente a fé cristã. Aos teólogos e teólogas cabia e cabe aprofundar este testemunho com os instrumentos intelectuais oferecidos pela cultura em presença. Quando Papas se põem a fazer teologia, como ocorreu recentemente, não se sabe se falam como Papas ou como teólogos. Cria-se grande confusão na Igreja; perde-se a liberdade de investigação e o diálogo com os vários saberes. Graças a Deus que o Papa Francisco explicitamente se apresenta como Pastor e não como Doutor e Teólogo mesmo que fosse da libertação. Assim é mais livre para falar a partir do evangelho, de sua inteligência emocional e espiritual, com o coração aberto e sensível, em sintonia com o mundo hoje planetizado. Que o Papa deixe aos teólogos fazer teologia e ele presida a Igreja no amor e na esperança. Papa Francisco: coloque a teologia em tom menor para que a libertação ressoe em tom maior: consolação para os oprimidos e interpelação às consciências dos poderosos. Portanto, menos teologia e mais libertação. Leonardo Boff

INICIAÇÃO CRISTÃ - O QUE É? Diante da sede de infinito, presente em todo coração humano, Deus nos dá uma resposta em Cristo Jesus. Como Pedro, confessamos a nossa perplexidade e a nossa confiança nessa resposta de Deus: "A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68). Consciente disso, a Igreja proclama "que a chave, o centro e o fim de toda história humana se encontram em seu Senhor e Mestre" (GS n 10,2). Com Jesus se faz presente o Reino de Deus, o Mistério revelado entre nós. Jesus, ao falar do Reino, chama-o de mistério: "A vós é confiado o mistério do Reino de Deus" (Mc 4,11). Ser cristão é participar desse mistério e se comprometer com ele que é um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Não se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com aquisição de certas habilidades, mas de uma maneira ou outra a pessoa precisa ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que a marcam profundamente. A missão visa proclamar e fazer experimentar o mistério, não escondê-lo. Mas, ao mesmo tempo, não podemos banalizar o acesso ao sagrado como se estivéssemos distribuindo algo sem consequências mais sérias. Etimologicamente "iniciação" provém do latim "in-ire", ou seja, ir bem para dentro. É um tempo de aproximação e imersão em novo jeito de ser; sinaliza uma mudança de vida, de comportamento, com a inserção num novo grupo. Numa cultura moderna quase pós-cristã a Igreja se vê diante da necessidade de uma real iniciação, para formar cristãos que realmente assumam o projeto do Reino. Daí a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã. O documento de Aparecida é enfático ao falar da necessidade urgente de assumir o processo iniciático na evangelização: "ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o quê, também dê elementos para o quem , o como e o onde se realizam" (n. 287). Boa parte dos adultos católicos foi catequizada a partir das doutrinas e da

metodologia do pequeno catecismo de perguntas e respostas. Alguns, depois, se aprofundaram e tiveram outras experiências evangelizadoras; outros guardam só uma vaga lembrança do que aprenderam na infância, outros se decepcionaram pelo caminho, muitos se perderam no meio dos apelos da cultura pós-moderna. Diante desta desafiadora realidade, de uma catequese diversificada e com itinerários especiais devemos considerar as várias situações em que se encontram as pessoas a serem atendidas nos processos de iniciação. * Adultos e jovens não batizados * Adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciação cristã * Adultos e jovens com prática religiosa, mas insuficientemente evangelizados. * Pessoas de várias idades marcadas por um contexto desumano ou problemático * Grupos específicos, em situações variadas. * Adolescentes e jovens * Crianças não batizadas e inscritas na catequese * Crianças e adolescentes batizados que seguem processo tradicional de iniciação cristã. O objetivo final, conteúdo e origem da iniciação cristã é fazer-nos chegar ao Pai, por Jesus Cristo e participar de sua natureza divina (cf DV, n. 2). A iniciação cristã é graça benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo. Ela se desenvolve dentro do dinamismo trinitário: os três sacramentos, numa unidade indissolúvel, expressam a unidade da obra trinitária na iniciação cristã: o Batismo nos torna filhos do Pai, a Eucaristia nos alimenta com o Corpo de Cristo e a Confirmação nos unge com unção do Espírito. Esta obra de amor de Deus se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja. É ela que anuncia a boa nova, acolhe e acompanha os que querem realizar um caminho de fé. Fonte de consulta: Estudos da CNBB 97 - Iniciação à Vida Cristã - Um processo de Inspiração Catecumenal Conceição Soares Toledo e Gilma Neubaner - Catequese Paroquial


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