BOM DIA CATAS ALTAS 140

BOM DIA

Catas Altas

Cidade Histórica e Ecológica - Dezembro de 2020 - Ano XIII - Nº 140 - Distribuição Gratuita Dirigida

O QUE SERÁ DA SERRA? Páginas 2 e 3

Saga da Freguesia de Nossa Senhora de Catas Altas do Mato Dentro - tomo vii Páginas 4, 5, 6 e 7

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 2

População denuncia Vale por tentar proibir uso de espaços naturais de lazer, empresa diz que apenas orienta sobre questões de segurança

EXPEDIENTE

BOM DIA

Catas Altas • Diretor Geral/Responsável: Geraldo Magela Gonçalves • Comercial: (31) 99965-4503 • Diagramação: Sérgio Henrique Braga

Lagoa do Mosquito é parte do cotidiano dos moradores do Morro D´Água Quente e ainda atração turística da comunidade.

Moradores do Morro D´Água Quente denunciam a Mineradora Vale por tentar proibir a população de frequentar algumas áreas de lazer da comunidade, como a barragem do Mosquito, o acesso às montanhas, como as trilhas, os picos do Baiano, e as cachoeiras do Bicão, Tamanduá e Quebra Dedo.

Segundo informaram, a empresa contratou pessoal que está passan-

do nas casas do Morro D’água Quente entregando panfletos dizendo para o povo não mais frequentar os citados locais.

Ainda segundo os moradores, dessa maneira a Vale tenta impedir o uso da região para lazer, práticas esportivas e turísticas: “Essa não é a primeira vez que a Vale tenta fazer isso, já há muito tempo ela coloca seguranças para coagir

e ameaçar todas as pessoas que frequentam a Serra e a Barragem”, informam.

Segundo informaram, essa atitude seria uma retaliação diante a conquista da população na Audiência Púbica onde foi negada à empresa a reativação das Minas de Almas e Tamanduá que fazem parte do Complexo do Fazendão.

“A Vale não admite a conquista do povo e in-

siste na mineração da mina Tamanduá e Almas. Essa é mais uma estratégia dela para tomar de vez e privatizar todo território”, disseram.

Os moradores relatam ainda que, durante a Audiência Pública, a empresa havia assumido compromisso de manter abertos esses espaços, justamente por serem usados, alguns, desde a fundação do povoado.

A empresa

Em relação aos comunicados distribuídos à população a Vale informou que se trata de uma campanha de segurança, já que os locais estariam em área operacional da empresa. No entanto ela não respondeu sobre o fato de estar interferindo no direito constitucional de “Ir e Vir” do cidadão, principalmente em se tratando de espaços que a comunidade utiliza há mais de 100 anos.

• Bom Dia Catas Altas online: www.facebook/bomdiacatasaltas Circulação: Catas Altas e mala direta para todo Brasil Impressão: Gráfica Bom Dia Tiragem: 2.000 exemplares

Razão Social : Geraldo Magela Gonçalves MEI CNPJ 27.776.573/0001-68 Inscrição Estadual: Isenta dindao@bomdiaonline.com

O jornal não se responsabiliza por matérias assinadas e ou pagas que são identificadas fechadas em box

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 3

Serra do Caraça ameaçada – até quando?

Passa ano e entra ano e as mineradoras não desistem de minerar na Serra do Caraça.

A população de Catas Altas resiste a todo momento, mas vira e mexe é pega de surpresa.

Dessa vez a Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMA) fez alerta chamando a atenção de todos que lutam pela preservação do patrimônio histórico e natural de Minas em Gerais e, mais especificamente, da Serra do Caraça.

Segundo a Flama, consta no SCM (Sistema de Cadastro Mineiro) da ANM (Agência Nacional de Mineração) o desbloqueio, por via judicial, de áreas com pedidos de lavra de minério de ferro aprovadas que cercam a face leste da Serra do Caraça, saindo de Mariana, passando pelo Morro d’Água Quente e Catas Altas até Cubas, na divi-

sa com Santa Bárbara.

As áreas contam com os seguintes números de registro: 000098/1959; 001182/1958; 001183/1958; 0 0 11 8 4 / 1 9 5 8 , (001.182/1958 Portaria nº 1.183/1982 Catas Altas/MG C-25, fls. 87 001.183/1958 Portaria nº 1.646/1980 Catas Altas e Mariana/MG C-20, fls. 141 001.184/1958 Portaria nº 1.150/1982 Catas Altas e Mariana/ MG C-25, fls. 56) sendo o primeiro pertencente à empresa Pedreira Um Valemix, e os demais direitos pertencentes à Vale S.A. Ainda conforme a Flama a fazenda Quebra Ossos, da empresa Pedreira Um Valemix, que faz divisa com a RPPN do Santuário do Caraça, é o local de onde se pretende retirar 300.000 (trezentas mil) toneladas de ferro por ano.

A Fonasc (Fórum Nacional dos Comitês das Ba-

cia Hidrográficas) já solicitou Audiência Pública para que as populações possam participar ativamente desse processo.

O encantamento da mineração Quando uma cidade faz da mineração sua principal atividade econômica, logo se vislumbra no horizonte um momento em que, com o fim da exploração, haverá um colapso da renda de seus habitantes e das receitas municipais. As empresas vão embora com os lucros, e os moradores ficam com os danos ambientais e sociais. É um processo que ocorre em diversos locais, sendo que no Brasil encontramos histórias como a do município de Catas Altas, onde os erros do passado parecem um roteiro pronto do que aguardar no futuro. Fundado como um arraial em 1703, Catas Altas

cresceu no chamado ciclo do ouro, ainda no período colonial. Ao fim do Século XIX, com o fim dessa exploração, chegou a crise, pois não havia outra atividade econômica na região.

Para resistir, os moradores tiveram que aprender outras atividades, como a agricultura, até que uma suposta nova oportunidade de crescimento surgiu, a exploração de ferro. Assim se iniciou um novo ciclo, que ainda não entrou em colapso, mas que já deixa os efeitos nocivos bem mais evidentes do que os dos séculos do ouro. Todavia, a cidade já conta com moradores cientes dessa questão e que agora lutam para evitar que a história termine com a mesma conclusão.

A beleza da Serra do Caraça, que surge como uma grande muralha a proteger a comunidade, já começa a ser afetada pelos buracos abertos

pela empresa, especialmente em Morro da Água Quente, vilarejo que fica ao lado esquerdo da serra. Assim como o Pico do Caué, em Itabira, terra natal de Carlos Drummond de Andrade, que de montanha virou cratera, o Pico São Luís, a cerca de mil metros do vilarejo, começa a ser destruído pela Vale, numa mineração a céu aberto que vem contaminando o ar da comunidade, assim como trazendo graves riscos de poluição e destruição das fontes de água dos moradores.

Caravana Justiça Global em Catas Altas Os membros da caravana que passaram por Catas Altas em 2015, tiveram a oportunidade de conversar com os estudantes da Escola Estadual Alzira Ayres Pereira. Na cidade há um grande investimento da Vale em publicidade, para tentar vender

a ideia de que a mineração é benéfica a todos e que se trata de uma “vocação natural” de Minas Gerais. Essa foi a oportunidade dos adolescentes ouvirem relatos de países como Moçambique, Colômbia e Peru sobre as violações cometidas pela Vale e outras empresas.

Para a professora de química Agostinha Vieira, é essencial que a juventude comece a ter noção do resultado desse modelo de desenvolvimento ligado à mineração. “A mineração não é uma atividade para o futuro. Aqui em Catas Altas temos minério, água e turismo. Se não pensarmos em alternativas, o minério acaba e leva junto os outros bens da cidade. Para os jovens, é essencial perceber que há outras possibilidades de sustento que não levem à destruição do nosso planeta”, afirmou Agostinha, que, à época já contava com 40 anos de magistério.

Mineração vai aos poucos mudando o formato da serra – secando nascentes e destruindo o que Deus criou. Quando acabar o minério, cidade herdará crateras e a falta d´água.

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 4

Saga da Freguesia de Nossa Senhora de Catas Altas do Mato Dentro - tomo vii Por Éder Ayres Siqueira

1737 Chegamos ao ano comum de 1737, do século XVIII do atual Calendário Gregoriano, da Era de Cristo, que teve início a uma terça-feira e terminou também a uma terça-feira, e no dia 5 de março faleceu o italiano São João José da Cruz, confessor franciscano da 1.ª ordem.

Nascido em 1654 com o nome de Carlos Caetano Calosirto, foi um beato franciscano que construiu um importante mosteiros para a sua ordem com suas mãos e que como permitiu que se abrissem várias outras casa religiosa, assim como viveu uma vida muito austera, muito próxima de São Francisco de Assis que tinha como ideal. Foi beatificado pelo papa Gregório XVI, em 1839.

Em 1737 Lineu publica o seu primeiro trabalho científico a “Flora lapponica”. Lineu foi um botânico, zoólogo e médico sueco, criador da nomenclatura binomial e da classificação científica, sendo assim considerado o “pai da taxonomia moderna”. Taxonomia é a ciência ou técnica de classificação, que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos, individualmente ou em grupo, quer englobando todos os grupos (biotaxonomia), quer se especializando em algum deles, como ocorre no caso da fitotaxonomia e da zootaxonomia.

E em Catas Altas, o que aconteceu no ano de 1737?

Dentre os acontecimentos, em julho a freguesia de N. Sra. da Conceição das Catas Altas foi visitada, conforme Termos de Culpa (livros de devassa de culpa) quando ocorreu no referido a redação dos Termos de Devassas de Culpa, cujos processos de julgamento dos

Capela Santa Quitéria já aparece citada desde os anos 1720 - Crédito Silvio Bazotte

moradores da freguesia dá para verificar que havia uma ação “educacional” que estava presente nos processos, uma vez que se considera que as condenações possuíam um mérito disciplinador.

Por meio dos processos, a Igreja Católica demonstrava que, se outras pessoas cometessem o mesmo crime, estariam sujeitas às penalidades descritas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, promulgadas em 1707.

Nas atas de visitas às freguesias que os bispos ou seus representantes faziam, os visitadores repreendem publicamente a população porque a freguesia de Catas Altas já abrigava, então, mulheres vaidosas a ponto de serem assim advertidas por Dom Frei Guadalupe, ou Dom Antônio de Guadalupe, Bispo do Rio de Janeiro que veio a Catas Altas em 1727, dois anos depois de ter chegado ao Brasil, tamanha era a preocupação com o lugar que tinha uma população muito grande, com muitos problemas sociais e vaidades da carne: “proibimos que dentro das Igrejas e Capelas entrem palanquins que montem e desmontem mulheres. (...) por

ser contra a reverência de semelhantes lugares e serem profanados com menos católica decência.

Portanto, Rev. Vigário se admoeste (...) e quando não queiram obedecer, condena pela fábrica virem uma oitava de ouro (...) de que se dará conta ao Vigário da Vara.”

Palanquim, substantivo masculino, significa veículo, geralmente para uma pessoa, usado em países orientais (como China e Índia) e que consiste numa espécie de liteira fechada ou de leito ou assento coberto, preso a um varal que é levado no ombro por dois, quatro ou seis homens ou, por vezes, no dorso de elefantes ou camelos. No Brasil usava-se a liteira que é uma cadeira portátil, aberta ou fechada, suportada por duas varas laterais.

As liteiras usadas no Oriente são geralmente designadas como palanquins, termo que por vezes também se aplica aos respetivos carregadores humanos, como no caso do Brasil, os escravos.

Não temos ainda nomes das mulheres que usavam as liteiras, nesta época, mas continuaremos pesquisando. Infelizmente, a vaidade está presente em todas as épocas.

Em 1737, aparece a segunda referência sobre a capela de São Francisco das Chagas do Tapanhuacanga, hoje, Chapada do Canga ou da Canga/Fazendão, quando no dia 27 de fevereiro, na Capela de São Francisco de Tapanhuacanga da freguesia de N. Sra da Conceição das Catas Altas se casaram o Tenente-coronel Manoel Ferreira Pinto, que foi cobrador do Quinto Real em 1731. Ele era natural da freguesia de São Salvador de Joane, termo de Barcelos, Arcebispado de Braga, f.l. de Antônio Rodrigues e Da. Maria Ferreira, com Da. Antônia Maria Coutinho, natural da freguesia de São Gonçalo do Recôncavo da Cidade do Rio de Janeiro, f.l. de Pedro

Ferreira Pinto e Da. Maria Rosada Coutinho.

Ambos os contraentes residiam em Catas Altas.

Foram testemunhas: o Revdo Dr. Jose de Macedo Netto e o Reverendo Padre Francisco Alvares Passos, e outros muitos.

Obs.: Há referências em Catas Altas de três capelas dedicadas a São Francisco, sendo que em duas aparece com o complemento “das Chagas”. São Francisco das Chagas é o mesmo São Francisco de Assis, que faleceu em 3 de outubro de 1226 e canonizado em menos de dois anos depois pelo papa Gregório IX que foi pessoalmente para Assis para canonizá-lo, o que aconteceu em 6 de julho de 1228 com grande pompa.

Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido com São Francisco de Asis, depois de uma juventude irrequieta, mundana e de riqueza, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza. Ele foi o primeiro cristão a ser estigmatizado, isto é, ter as chagas de Jesus cristo. Os estigmas são marcas manifestadas fisicamente, mas que tradicionalmente são reputadas como tendo origem espiritual, e que alguns acreditam reproduzirem as cinco chagas de Jesus Cristo. Os estigmas podem tomar formas

variadas, como úlceras, chagas, ferimentos, queimaduras, bolhas e lacerações, dentre outros, e normalmente são verificados em um dos cinco pontos do corpo pelos quais Jesus teria sido pregado à cruz: pés, punhos e tórax.

Que todos não adorem a São Francisco, mas adorem a Deus, e venerem e sigam o exemplo do santo!

Continuando o ano de 1737 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas Altas...

No dia 16 de março, aparece novamente o Capitão Thomé Fernandesdo Valle, meu, três vezes hexavô materno, que era morador na fazenda Sant’Ana, hoje, povoado de Valéria, requerendo data de terra (A data de terra corresponde a 272 hectares e era preferentemente concedida para atividades agrícolas ou pastoris.) no Rio São Francisco (indo para Florália/Santa Bárbara): “uma data de terra... comecei a medir da Ponte Velha que vai para a casa do dito Thomé Fernandes do Valle, correndo … acima.... de posse do mesmo Capitão, pois tinha já confirmada do Guarda-mor Paulo Rodrigues Durão …’ (não dá para ler muito, o Livro de Guarda-moria está danificado por traças e cupins).

Naquele ano, a nova Igreja Matriz estava, há oito

Chapada do Canga ou Tapanhuacanga, um seleiro de histórias e tesouro inestimável de relíquias naturais.

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 5

Saga da Freguesia de Nossa Senhora de Catas Altas do Mato Dentro - tomo vii Por Éder Ayres Siqueira

Crianças escravas eram tratadas como animais de estimação

anos, sendo construída; a capela de Santa Quitéria existia há nove anos; a capela de Sant’Ana, do Capitão Thomé Fernandes do Valle, na Valéria, completava sete anos; a capela de São Francisco das Chagas do Tapanhuaganga, Chapada da canga/Fazendão, existia há, pelo menos, nove anos, e a capela de São Francisco das Chagas do Quebra-ossos já existia, há, pelo menos, 18 anos.

E, a vida continuava nas ricas catas nas partes altas da Serra da Caraça.

Continuando o ano de 1737 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas Altas...

Enquanto a nova Igreja Matriz estava sendo, há oito anos, construída, a antiga Matriz continuava funcionando normalmente, e como prova disso, foi em um batizado que aconteceu no dia 12 de fevereiro do menino Francisco, filho do Capitão Thomé Fernandes do Valle e Da. Thereza de Jesus da Fonseca Magalhães, meus, três vezes, hexavós maternos. “...aos 12-02-1737 nesta

matriz batizei a Francisco, filho legítimo do Capitão Thomé Fernandes do Valle e Da. Teresa de Jesus Magalhães, meus fregueses; foram padrinhos o Coronel Faustino Pereira e Silva e Da. Helena do Prado Cabral.”

Da. Helena do Prado Cabral era a avó materna da criança, viúva do Coronel Pedro da Fonseca Magalhães Maldonado (meus, três vezes, heptavós maternos), sendo que ele também foi sepultado na antiga Matriz, em 1731, como já vimos anteriormente. E como já falamos, a antiga Igreja Matriz, era dedicada a Nossa Senhora da Conceição, e possuía um retábulo com seu altar dedicado a Santo Antônio, que aparece no óbito do Coronel Pedro da Fonseca Magalhães Maldonado, supracitado.

E a vida na freguesia, continuava... Escravos trabalhando nas catas tirando ouro e enriquecendo seus senhores.

Ainda em 1737... Aparecem quatro padres na freguesia de Nossa Senhora da Conceição das

Catas Altas, quando foi dada a posse de quatro datas de terra ao Padre Dr. José de Macedo Neto e seus sócios, e ao capitão-mor Bento Ferraz Lima, pelo guarda-mor o tenente-coronel Manoel Ferreira Pinto. Os sócios eram: Pe. Vitorino da Paixão Moreira, Pe. Antônio de Araújo da Cunha, Pe. Francisco Girão Henriques, João Antônio Julião, alferes Luiz do Valle Machado, João de Freitas de Abreu e Pedro Ferreira Pinto.

Testemunhas: José de Araújo Costa e Pedro do Valle Leitão, e o Escrivão Antônio Ferreira.

No mesmo dia 16 de março, aparece outra referência sobre o capitão Thomé Fernandes do Valle, num Termo de Posse que foi concedido aos senhores: Antônio Carneiro de Araújo, Domingos de Araújo Monteiro e o Alferes Pedro Gomes de Abreu nas proximidades de sua data de terra: “... datas de terra no Rio de São Francisco acima da ponte velha defronte de um barranco que … de agora da parte do Capi-

tão Thomé Fernandes do Valle e para cima da data que tem o dito capitão aonde está sua estaca de braúna correndo o Rio de São Francisco acima até onde trabalharam André de Campos e Manoel de Seabra da Costa e mais sócios...”.

Obs.: Rio de São Francisco, aparece em alguns registros como “Rio de São Francisco das Catas Altas”, que hoje é Florália, que pela lógica teria que pertencer a Catas Altas, mas pertence a Santa Bárbara.

E, assim a história conti-

nua... A escravidão continua... Poucos fazendeiros plantavam... Muitos pensavam que o ouro não acabaria...

Ainda no ano de 1737..., nas catas da Serra da Caraça, no Morro da Tapanhuacanga /Chapada da Canga/Fazendão, no Brumadinho/ Quebra-Ossos, nos córregos da Valéria e Paciência, no Rio de São Francisco, no Morro D’Água Quente etc. havia grande movimentação da mineração aurífera, No dia 16 de março é dada posse de terra a Antônio de Campos, Manoel de Seabra da Costa e mais sócios, Antônio Carneiro de Araújo, Domingos Monteiro, e ao alferes Pedro Gomes de Abreu, no Rio de São Francisco da freguesia das Catas Altas, próxima à ponte velha que ia para a casa do Capitão Thomé Fernandes do Valle; também, na mesma localidade, Antônio Carneiro de Araújo e Domingos Monteiro tomam posse de terra que foi do sargento-mor Antônio Ferreira Pinto.

E, assim a vida na freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas Altas continuava.

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

Chico Xavier

Continuando o ano de 1737... No Brasil teve início a ‘Roda dos Expostos’: Primeira iniciativa de assistencialismo à infância, era um local onde as crianças indesejadas eram deixadas na roda, sem que ninguém soubesse sua identidade. Lá, as pessoas que queriam adotar uma criança, se agradasse de alguma, a levava.

E, nas Catas Altas, como em todo o país, as crianças negras nasciam escravas. A população negra, isto é, o número de escravos era bem grande, e até padres possuíam seus escravos. Muitos foram bem tratados, mas é triste saber que “a criança escrava era “representada como um cachorro de estimação”.

Nota-se nessa colocação que criança escrava no Brasil escravista, não era considerada gente, mas a sociedade branca a enxergava de forma depreciativa, dando-lhe atribuições de seres do mundo animal dos menos qualificados possíveis. Inclusive se referiam aos negros como animais ou bestas, a mulher escrava passava de “grávida” a “prenhe”, e seus filhos eram, então, chamados de “crias”.”

No ano de 1737 tivemos mais alguns acontecimentos comuns, e para não ficar cansativo, partiremos para o ano de 1738.

Interior da Matriz de Nossa Senhora da Conceição

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 6

Saga da Freguesia de Nossa Senhora de Catas Altas do Mato Dentro - tomo vii Por Éder Ayres Siqueira

1738 Ano comum do século XVIII do atual Calendário Gregoriano, da Era de Cristo, com 52 semanas, que teve início a uma quarta-feira e terminou também a uma quarta-feira.

Naquele ano, no dia 24 de Maio John Wesley teve, em Londres, a “Experiência do Coração Aquecido” - Ele foi um clérigo anglicano e teólogo cristão britânico. “No dia 24 de maio de 1738, durante uma pequena reunião na rua Aldersgate, Londres, enquanto ouvia a leitura de um antigo comentário escrito por Martinho Lutero, pai da Reforma Protestante, sobre a carta aos Romanos, John Wesley passou por uma experiência espiritual extraordinária, sentindo “seu coração se aquecer”. Através desta experiência ele experimentou grande confiança em Cristo e recebeu a segurança de que Deus havia perdoado seus pecados.

Esse episódio é assim narrado em seu diário: “Cerca das oito e quinze, enquanto ouvia a preleção sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti que meu coração ardia de maneira estranha. Senti que, em verdade, eu confiava somente em Cristo para a salvação e que uma certeza me foi dada de que Ele havia tirado meus pecados, em verdade meus, e que me havia salvo da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo meu poder por aqueles que, de uma maneira especial, me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes o que, pela primeira vez, sentia em meu coração”.

Nos 50 anos seguintes, Wesley pregou em mé-

John Wesley

dia de três sermões por dia; a maior parte ao ar livre. Houve uma vez que pregou a cerca de 14.000 pessoas. Milhares saíram da miséria e imoralidade e cantaram a nova fé nas palavras dos hinos de Charles Wesley, irmão de John.

Os dois irmãos deram à religião um novo espírito de alegria e piedade.”

Já em Catas Altas, no ano de 1738, no dia 19 de janeiro, a mesa da Irmandade de São Gonçalo decidiu sobre os primeiros trabalhos de talha do seu retábulo (Retábulo [do espanhol retablo] é uma construção de madeira, de mármore, ou de outro material, com lavores, que fica por trás e/ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou em baixo-relevo. Além de sua riqueza visual e de sua complexidade apresentada em sua confecção material, os retábulos geralmente também comportam múltiplas mensagens e significados nem sempre aparentes logo a primeira vista.) diante de seu altar.

O retábulo do Beato

Gonçalo com o seualtar (como já vimos aqui, ele ainda não foi canonizado pela Igreja Católica) está situado do lado das Epístolas, isto é do lado esquerdo da Igreja, do lado direito de quem entra, sendo o 3.º partindo do arco cruzeiro, ao lado do retábulo de Sant’Ana. Continuando o ano de 1738 na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas Altas...

falamos sobre a construção do retábulo dedicado a São Gonçalo (Beato), que é dada a execução de seu risco a Francisco Antônio Lisboa (não é o aleijadinho, pois ele é Antônio Francisco Lisboa).

“O retábulo é em estilo D. João V e apresenta fatura erudita, com vocabulário ornamental ao gosto barroco com conchas, flores, palmeta, anjos e acanto.

Enriquecida pela presença das figuras humanas de grandes proporções.

A composição estrutural é semelhante aos demais retábulos, com quartelões (Quartelão (quartela, peanha) — peça que em estrutura ornamental serve de sustentação a outra.) dispostos em pares, com atlantes e coroamento em dossel.

Destacam-se a sanefa superior e a escultura da águia, que arremata superiormente o retábulo.”

A figura da Águia para alguns e Fênix para outros, que sobre isso, veremos mais adiante.

“Enquanto isso, na frança, nascia no dia 28 de maio Joseph-Ignace Guillotin que foi um médico francês que propôs, em 10 de outubro de

1789, o uso de um dispositivo mecânico para realizar as penas de morte na França. Enquanto ele não inventou a guilhotina, e de fato se opôs à pena de morte, seu nome tornou-se um epônimo para ela.

A associação com a guilhotina envergonhou a família de Dr. Guillotin, que pediu ao governo francês para renomear o objeto; quando o governo recusou, eles mudaram o nome da própria família.”

“Por coincidência, uma pessoa chamada Guillotin foi realmente executada pela guilhotina - ele era JMV Guillotin, um médico de Lyon. Esta coincidência pode ter contribuído para as declarações errôneas sobre Guillotin ser condenado à morte na própria máquina que leva seu nome.

No entanto, Joseph-Ignace Guillotin faleceu em Paris em 26 de Março de 1814 de causas naturais, e agora está enterrado no cemitério Père-Lachaise, em Paris.”

Continuando a história de Catas Altas... Ano de 1738.

No mês de junho a patente no “Posto de Capitão de Cavallos da

Freguesia das Cattas Alttas do regimento da Cavalaria da Ordenança da Comarca de Sabará é confirmada novamente” ao Capitão Thomé Fernandes do Valle.

Em 12 de novembro aparece o Capitão José Ferreira de Araújo tomando posse das sobras de água do “Córrego do Pitangui”, córrego este que ficava próximo às suas terras. Apesar de a palavra Pitangui significar em Tupi: “Rio das Crianças”, em Catas Altas o nome provém das pitangueiras que havia em grande quantidade na região e muito utilizada na fabricação de licores pelas famílias tradicionais, e que até hoje são fabricados, e são de um ótimo agrado ao nosso paladar. Também já se fabricou o fermentado da fruta (que ainda falamos vinho) e ficou também com ótimo sabor.

O córrego Pitangui, nasce na Serra da Caraça, onde tem a Mina do Pitangui, entre o Morro de Sant’Ana e a Mina do Tamanduá. No Morro do Pitangui, que também fora assim chamado, havia, pelo menos, uma fazenda

Liteiras eram usadas em Catas Altas, mas os bispos proibiram de entrar nas igrejas.

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 7

Saga da Freguesia de Nossa Senhora de Catas Altas do Mato Dentro - tomo vii Por Éder Ayres Siqueira

Roda dos Expostos - Onde os bebês indesejados eram abandonados para cuidados da caridade

e uma capela dedicada a Senhora Sant’Ana. Ainda em 1738 nas Catas Altas...

Naquele ano foi celebrada a primeira missa na nova Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, houve a transladação do Santíssimo Sacramento para isso, mesmo sem estar terminada, ainda estava somente a parte da nave, com obras sendo executadas por vários artistas, “e tem-se notícia de que nesta época a Igreja já possuía coro e já pensava em promover uma festa com canto e órgão.”

Na época não havia o altar-mor que é o altar principal, geralmente mais adornado, disposto em frente à entrada principal, situado na capela-mor ou presbitério, que também ainda não existia.

Já vimos o que é retábulo, que geralmente, nas

igrejas católicas, ficam atrás dos altares, e agora vamos quer o significado de altar: Altar, do latim altare ou ara (lat. class.), plataforma semelhante a uma mesa constituída por uma rocha, elevação ou outra estrutura que possibilite ao sacerdote, líder ou mentor espiritual, sacrificar à divindade, ou divindades, em um templo religioso ou local sagrado. No culto católico, por exemplo, é a mesa de madeira, rocha etc. onde se celebra a missa. No protestantismo é onde os pastores pregam durante os cultos. Para o catolicismo, o altar disposto nas igrejas e capelas é objeto consagrado e representa o túmulo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, termo que associa o sacrifício deste aos antigos sacrifícios de animais praticados pelos povos cujas religiões e

cultos precederam a liturgia cristã, que foi imolado e sacrificado pela redenção da humanidade.

Sacrifícios de animais ainda são praticados em rituais em diversas regiões do planeta, geralmente associados a oferendas a divindades.

Requerimento para uso de água.

No mesmo ano o Capitão Thomé Fernandes do Valle, requere água para minerar: “Termo de posse que se dá ao Capitão Thomé Fernandes do Vallle de Agoa de dois Córregos que fazem barra um no outro dentro da sua rossa acima de seu engenho que um deles é as sobras com que moy o engenho do dito, e a dita agoa é tomada acima de um serco velho que está na barra dos dois córregos, o qual serco fez o mesmo capitão Thomé Fernandes

do Valle. Aos dois dias do mês de janeiro de mil setecentos e trinta e oito annos na Rossa do Capitão Thomé Fernandes do Valle a donde ...”.

Em 1738 foi concedida 1/4 de uma Sesmaria a Beatriz Furtada de Mendonça, nos matos devolutos na faldra da Serra da Caraça. Ela possuía 8 (oito) escravos.

Já vimos a respeito de sesmaria, mas vamos rever a respeito: O nome sesmaria deriva de sesmar, dividir. Por esse sistema, as terras cultivadas nas comunidades eram divididas conforme o número de habitantes e, depois, sorteadas. O objetivo era garantir o cultivo das áreas, que eram denominadas sesmo porque correspondiam à sexta parte do valor de cada terreno. Cada sesmaria tinha cerca de 6,5 mil metros quadrados.

Quem recebia a posse da sesmaria não teria, contudo, domínio total administrativo e permaneciam sujeitos à Coroa.

Já os capitães donatários das capitanias, detinham 20% do território e eram obrigados a distribuir os demais 80% em sistema

de sesmaria.

Entre os principais problemas enfrentados pela Coroa para regulamentar as sesmarias estava a obrigatoriedade do cultivo e o estabelecimento de limites territoriais, muitas vezes desobedecidos pelos posseiros.

Os posseiros, a quem os sesmeiros arrendavam as terras, passaram a cultivá-la e exigir o reconhecimento do direito sobre os territórios. A Coroa fez inúmeras tentativas de regulamentar o problema e, somente em 1822 o sistema de sesmarias foi abolido, beneficiando os posseiros.

No dia 2 de janeiro, é dada outra posse, de água para minerar, ao Capitão Thomé Fernandes do Valle, na região do povoado de Valéria, indo para Florália: “Termo de pose que se dá ao Capitão Thomé Fernandes do Valle de um Córrego de água que tem as suas cabeceyras na Rosa do capitão-mor Bento Ferraz Lima e faz dois braços e ajuntando ambos e um e vem paçar o dito Córrego pello pé do engenho do dito, he tomada a dita agoa em

São Francisco de Assis

uma ponte do caminho do carro que está acima logo do engenho.”

Até as águas eram controladas, e muitos acham isso errado, hoje, e brigam por isso. Havia o controle pelo motivo da arrecadação de imposto, mas também pelo controle da natureza, o que é plausível!

Continuando a história das Catas Altas... e alguns acontecimentos importantes no mundo, no ano de 173.

Na Serra da Caraça, a exploração aurífera continuava, como também no Morro da Tapanhuacanga (Chapada da Canga/Fazendão), Na Valéria, em Paciência, no Quebra-ossos, no Morro D’Água Quente etc.

Em 15 de novembro nasceu o alemão William Herschel, astrônomo e compositor alemão naturalizado inglês. Ele descobriu o planeta Urano, assim como de duas de suas luas: Titânia e Oberon; descobriu duas luas de Saturno: Mimas e Enceladus, e a existência da radiação infravermelha. É também conhecido pelas vinte e quatro sinfonias que compôs.

BOM DIA

Catas Altas

Dezembro de 2020 - Página 8

Museu do Caraça é reaberto para o público com visitas guiadas VISITANTE PODE FAZER UMA IMERSÃO NA HISTÓRIA COM PASSEIOS GUIADOS E CONHECER ALGUNS DOS OBJETOS QUE FICARAM INTACTOS APÓS O INCÊNDIO DE 1968 O Santuário do Caraça é um dos destinos turísticos mais procurados do país. E muito além de toda a sua riqueza natural e a vasta gastronomia, o lugar traz consigo histórias marcantes, como exemplo, a do Museu com objetos do Colégio do Caraça.

A instituição de ensino, que foi caracterizado por sua seriedade e qualidade nos métodos educacionais, teve alunos ilustres, como, dois presidentes da República, Afonso Pena (1906 a 1909) e Artur Bernardes (1922 a 1926), além de governadores, senadores, deputados e autoridades eclesiásticas.

Data marcante do Colégio do Caraça foi 28 de maio do ano de 1968, quando um pequeno fogareiro elétrico, esquecido ligado, inflamou e

Onde funcionava o educandário, após o incêndio, foi restaurado e hoje é o museu

deu início ao incêndio que marcaria o último dia do tradicional Colégio. Após contido o enorme incêndio que ficou marcado na mídia brasileira, das ruínas se ergueu o Museu do

Colégio do Caraça, que ainda guarda consigo, lembranças de como era tudo ali. Para a alegria dos visitantes que estavam impedidos de ir ao local por causa da Covid-19, o museu reabre

as portas com direito a visita guiada para conhecer toda a história e objetos do local, com taxa de R$5 por pessoa.

De acordo com Márcio Mol, gerente geral do Caraça, essa é uma

oportunidade para que os visitantes que tanto queriam conhecer o local, possam aprender mais sobre a história, já que tantos objetos da época do colégio, ainda estão lá. “Vários artefa-

tos utilizados na época por estudantes ficam em exposição. A Grade curricular mostra um pouco da rotina dos estudantes, além disso, temos equipamentos máquinas de escrever que eram utilizadas pelos padres, várias máquinas de costura e de sapataria para produção própria de uniformes e sapatos para todos e claro, alguns móveis, como escrivaninhas e estantes que resistiram ao incêndio do ano de 1968”, comentou.

Segundo Márcio Mol, além dos objetos, como camas e estantes, o museu ainda tem bem preservado, itens, como vinis antigos, que vinham com aulas de idiomas diversos, tais como inglês, francês e latim. Com a visita guiada, ele afirma que o visitante vai viajar no tempo.