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Confluências

Confluências

(2ª Série) Nº 44 Jan. / março 2019

C A MÕ E S À T E RC E I R A S E R Á DE V E Z C AM ÕE S À T E RC E I R A

C A MÕ E S À T E RC E I R A S E R Á DE V E Z C AM ÕE S À T E RC E I R A

CAMÕES À TERCEIRA SERÁ DE VEZ CAMÕES À TERCEIRA SERÁ DE VEZ

CAMÕES À TERCEIRA SERÁ DE VEZ CAMÕES À TERCEIRA SERÁ DE VEZ

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES

B OL E T I M E SC OL A R

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Confluências SCRIPTOMANIAS A esperança e a resiliência Como podem a resiliência e a esperança contribuir para uma vida melhor?

A resiliência é, na minha opinião, um dos fatores mais necessários para atingirmos qualquer objetivo. Quer seja na nossa vida escolar, quer seja na nossa vida profissional, acredito na enorme importância do trabalho e do espírito persistente (não desistir ao primeiro impasse). Aproveito para fazer alusão ao discurso de Obama na sua tomada de posse, onde refere “a grandeza nunca é um dado adquirido”.

No que toca à esperança, creio que é fulcral ter presente na nossa consciência que nada é inatingível. Foi impossível voar? Foi impossível ir à lua? Foi impossível curar inúmeras doenças devastadoras? Então, será mesmo impossível conseguirmos aquele emprego que tanto desejamos ou uma nota num teste que é tão precisa? É, a meu ver, deste pensamento positivo que necessitamos, independentemente das adversidades com que a vida nos surpreende constantemente.

Concluo, inspirando-me novamente no que afirmou Barack Obama na sua intervenção: devemos levantar-nos, sacudir a poeira e dar azo às nossas ambições!

João Simões, 11º H

Um sentimento adolescente De olhos fechados, o sol na cara Encontro-me inquieta Tudo à minha volta não para E eu aqui tentando ser correta

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Preocupada com o meu futuro Objetivos por alcançar Pensamentos ocultos no escuro E o sol sempre a brilhar Ser livre é um desejo E eu presa na confusão Obstáculos prevejo Será a liberdade uma ilusão?

Quero ver o invisível Quero reconhecer a verdade Quero sentir o possível Qual a cor da liberdade?

Carolina Santos, 11º H

[Texto elaborado dentro do ‘espírito’ do Prémio Literário Camões 2019, embora não sujeito a concurso.]

Nesta edição:

Scriptomanias …………...………...

Semana da Leitura ……….....…...

Scriptomanias …………………..…

Manifestação ……………………….

Estrangeiros em Lisboa …..….....

Oficina de escrita …………………

Almoços literários …….……....….

Curso de Artes …………………….

Cidadania e desenvolvimento ………………………………………….

Jorge de Sena …………………..….

Avulsos ……………………………....

Hoje é tudo falso ……………...…..

Breves ……………….........…………

pp. 2-3 p. 3 pp. 4-6 p. 6 pp. 7-9 p. 9 p. 10 p. 11 pp. 12-13 p. 14 p. 14 p. 15 p. 16

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Confluências SCRIPTOMANIAS A cor da liberdade A televisão estava toda aos chuviscos porque a antena se tinha partido há uns meses – isto porque os espadachins não estão familiarizados com as nossas modernices e não se importam de quebrar um galho ou dois para salvar a sua amada. De qualquer maneira, dava para perceber o que se passava no ecrã poeirento: um bicho grande de quatro patas e dois cornos perseguia incessantemente um sujeito magrinho que agitava um pano encarnado.

– É uma tourada filho! Os touros são impulsivos e não gostam da cor vermelha, daí esta correria toda, o fulano está a provocá-lo!

Porque fervia o sangue do animal ao avistar tal cor não me soube responder o meu pai, até porque para “nós” o vermelho é força, sacrifício, luta e tudo mais que é bom e da pátria.

– É o sangue que corre nas veias, derramado por muitos na busca pela liberdade!

Pois claro! Faz todo o sentido. Mas ai de mim raspar o joelho, o braço, ou outra qualquer parte do corpo que se encontre normalmente envolta em tecido – olha que as nódoas de sangue são difíceis de sair e a roupa é para durar, rapaz!

Beatriz Mendes, 12º D Clepsidra No âmbito do Projeto de Leitura do 12º ano, decidi ler a obra Clepsidra, de Camilo Pessanha. Foi uma escolha aleatória que teve frutos marcantes na minha leitura, não só da arte, mas do dia a dia.

A incompreensão inicial de vários aspetos dos poemas levou-me a uma pesquisa mais aprofundada sobre o estilo do autor, e, após várias tentativas, encontrei naquelas palavras uma nova dimensão literária: a tradução do vago.

O vago e o nada foram sempre elementos cruciais da minha formação enquanto pessoa, mas nunca os tinha encontrado expressos em letras. Esta ambiguidade permanente da vida e dos livros pareciame dois mundos separados, sem qualquer relação direta. Porém, através da escrita de Pessanha, percebi que as palavras eram simultaneamente concretas e vagas – que eram algo e não eram nada.

Nas palavras escolhidas, no ritmo, nos espaços entre os vocábulos, nos temas cantados… Encontrei em tudo isto uma nova harmonia entre as sensações e a sua expressão.

Filipe Baixinho, 12º C

SEMANA DA LEITURA (11-14 março) Com um programa diversificado, e com múltiplos convidados, a Semana da Leitura inscreveu também, no dia 14, uma outra iniciativa, já ‘recorrente’ – STOP’45 (este ano dedicada à arte dramática – “Camões em Palco”).

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Confluências SCRIPTOMANIAS - OS NOSSOS DESASSOSSEGOS “Nunca amamos alguém.

Amamos tão-somente a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nos mesmos – que amamos.”

Livro do Desassossego

Vivemos de expectativas esboçadas à luz da vela, enquanto deambulamos pelas nossas solidões, procurando formas de as distrair do confronto com a realidade da nossa singularidade.

Procuramos incessantemente alguém que acalme os nossos desassossegos e perturbe as nossas certezas, um lugar seguro em noites frias de tempestade.

Vagueamos pelas diversificadas ruas das cidades vizinhas, com que sonhamos nas noites obscuras de inverno, em busca de meios para preencher as fissuras das nossas casas. Percorremos com os dedos as lombadas dos livros expostos em estantes, com intenção de embar-

car numa viagem a par por terras desconhecidas; ilhas idílicas em que o tempo parece não andar e de noite a lua abraça-nos numa felicidade calorosa.

Todavia, quando folheamos as páginas de um livro, lemos as frases com urgência corrigindo erros e escrevendo nas entrelinhas.

Somos seres insatisfeitos. Exigimos que vivam sob as nossas expectativas, escolhendo aliviar as que colocamos sobre nós próprios. Vivemos cabisbaixos com o peso de opiniões alheias e erros, arrastando-nos pela longa estrada sinuosa sem levantar a cabeça para observarmos a paisagem.

Chegamos ao destino com o corpo pesado e a alma vazia, cambaleamos para o nosso túmulo desamparados e sozinhos.

Vivemos sem nunca existir, procurando em outros o que sempre esteve connosco.

Amor-próprio.

Beatriz Costa, 12º LH (ESR@D

“E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes (…)”

Livro do Desassossego

Caro Bernardo, Queria poder dizer-te que sim! Que a tua voz é a substância da minha e a de muitas mais vozes, ao longo das vidas, anos, séculos e gerações por onde passas. A tua voz, “aparentemente tão pouca coisa” para ti, é, para mim, como um eco intemporal da expressão de tantos sentimentos muitas vezes inexprimíveis e inexplicáveis…

Não, Bernardo, nunca te devias sentir pequeno nessa tua grandeza de existir! Como? Se é através das tuas palavras que encontro algumas respostas ao que o meu cérebro tanto se cansa de perguntar e conceber, e que às vezes a minha própria consciência acha ridículo? Como se diz “pouca coisa” de uma voz que, passados mais de cem anos, ainda sossega muitas mentes irrequietas?

Sim, Bernardo Soares, eu também me canso de sentir, de pensar, também não me consigo ver por dentro, também vivo e amo Lisboa! E talvez seja por isso que é neste teu Livro do Desassossego que me encontro, que viajo...

Tenho o sossego de saber que não penso sozinha!

Obrigada!

Joana Tavares, 12º LH (ESR@D)

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Confluências SCRIPTOMANIAS - OS NOSSOS DESASSOSSEGOS

«Mais nada... um pouco de sol, um pouco de brisa, umas árvores que emolduram a distância, o desejo de ser feliz, a mágoa de os dias passarem, a ciência sempre incerta e a verdade sempre por descobrir... Mais nada, mais nada... Sim, mais nada...»

Eu quero rasgar a minha carne, um pouco de sofrer, Eu quero, sim! Porque também isso é viver.

A felicidade na forma desejada?

Anda daí! Vamos procurá-la que a vida é pouca.

Livro do Desassossego Eu quero um abraço apertado, uma gargalhada, qualquer coisa, Como assim mais nada?

Eu quero amar, chorar e sobre isso escrever, qual Se conheces a minha alma e poetisa! sabes que voa livre, leve, solta e por vezes louca.

E quando a mágoa de os dias passarem, chegar, choEu quero mais que um pouco de ra! sol, mais que um pouco de brisa, Chora com a certeza de teres vivido, não apenas Eu quero a chuva forte, fria e imprecisa. existido.

Eu quero mais, mais e mais...sempre mais...

Vamos subir a uma árvore?

Uma daquelas que emolduram a distância.

Carina Silva, 12º LH (ESR@D)

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Confluências SCRIPTOMANIAS - OS NOSSOS DESASSOSSEGOS O “Filme do Desassossego”, de João Botelho, é a adaptação para cinema de alguns dos fragmentos que constituem o livro que dá pelo mesmo nome.

Esta obra, escrita por Bernardo Soares (um semiheterónimo de Pessoa, que muito nos revela sobre o poeta), é uma compilação de textos variados, acabados e inacabados, rabiscados ou cuidadosamente redigidos.

Cláudio Silva, que interpreta Bernardo Soares com sucesso, consegue encarnar o discreto, sofredor e pensativo ajudante de guarda-livros que medita sobre os aspetos físicos e metafísicos da vida lisboeta e que, com um pé no imaginário e outro no real, diz ser a sua alma “só comovida do sonho e pouco da vida”.

Para além da performance marcante de Cláudio

Silva, outro aspeto a exaltar nesta longa-metragem é a realização, e como esta transforma a mera declamação de fragmentos numa experiência dos sentidos, através do som e da fotografia – o retrato sombrio e melancólico da cidade de Lisboa; os episódios musicais grandiosos, dramáticos e encenados parecem até constituir um novo filme.

Apesar de ser por vezes parado e muitas vezes teatral, este filme não deixa de se destacar pelas suas peculiaridades, e não falha em despertar em todos os que a ele assistem uma curiosidade pela obra da personagem principal e do seu tão ‘semelhante’ criador. Dito isto, recomendo-o a todos os que deambulam pela cidade e que se interrogam acerca do “porquê” de algo, ou de tudo.

Beatriz Mendes, 12º D

MANIFESTAÇÃO 10 DE JANEIRO DE 2019 A união faz a força

Um ato de força A manifestação que ocorreu no dia 10 de janeiro de 2019, organizada pela Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões, foi realizada com o propósito de alertar o Estado, mais uma vez, para a falta de condições deste espaço e enfatizar a necessidade de novos orçamentos para a reabilitação da escola.

Foi um ato de força por parte dos membros escolares e demonstrou a união dos mesmos, os quais lutaram com grande vontade pela causa em questão.

Manifestações são um ato de liberdade por parte de quem as realiza, pois permitem que os insatisfeitos possam lutar pela melhoria de alguma coisa nas suas vidas, sendo sempre, portanto, um grande feito, tanto aos olhos de quem participa como aos olhos de quem vê a acontecer. É uma maneira de pôr em prática a liberdade que nos foi concedida e de que muitos ainda são desprovidos.

Foi um dia de força, esse, e proporcionou emoções comoventes e impressionantes. Aliás, todos os eventos de força e união o promovem visto que é natural dos humanos sentir tal adrenalina quando sentem que estão a ganhar algo pelo qual tão fortemente lutam. É desta força que todos nós somos feitos e é ela mesma que nos continua a movimentar.

Que haja mais manifestações, não só de insatisfação mas também de todas as outras emoções, pois são elas que permitem que a humanidade evolua.

Vindo de uma escola privada onde tinha garantias relativamente a quase tudo, sinto que vir para o Camões foi uma decisão muito importante, que me permitiu abrir os olhos para o Mundo, contrariando o ambiente algo tóxico que havia na antiga escola.

Há muito que participo em manifestações, desde pequeno que os meus pais me levavam à Avenida da Liberdade, no 25 de Abril. Considero fulcral a mobilização da população com um objetivo comum, e, na passada quinta-feira, esse objetivo foi o de demonstrar desagrado face ao tempo de espera pelas obras.

Nesta manifestação senti que, de facto, todos os 647 intervenientes tiveram um grande contributo, e acho que todos nos sentimos importantes por fazermos parte de uma forte união. Do meu ponto de vista, esta manifestação foi mais um exemplo de que o poder coletivo se sobrepõe aos interesses individuais, porque "A União faz a Força". Com isto quero dizer que fatores como os interesses políticos de cada um de nós nada significavam no âmbito da manifestação, apesar de a preparação ter sido orquestrada por partidos como o PCP, tal como os cartazes evidenciavam.

A questão é a seguinte: será que quando lutamos por um bem-comum devemos ter em conta questões políticas? Bom, por um lado, sim, visto que os responsáveis pelo estado da nossa escola participam na política do nosso país, e ao querermos obras estamos a protestar também contra a sua ação. Por outro lado, acho que todos os alunos deveriam ter noção do impacto desta mobilização e da ambição de lutarmos por algo que nos beneficiará a todos.

Notei este querer e esta ambição nos participantes, e gostei da iniciativa, pois não é algo que aconteça regularmente. É importante juntarmo-nos e reivindicarmos aquilo a que temos direito, enquanto cidadãos informados e esclarecidos sobre o que nos rodeia.

Inês Guerreiro, 10º A

Miguel Sá, 10º H

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Confluências ESTRANGEIROS (NO CAMÕES) EM LISBOA Se está a aprender uma língua, o alfabeto também pode ser importante!

Há dois anos que moro em Lisboa. Comecei a estudar português desde os primeiros dias. Eu acredito que é necessário aprender a língua do país onde se está a estudar, mesmo que o programa de estudos seja em inglês. Pode aprender-se mais sobre a sua cultura do povo e também juntarmo-nos aos ‘outros’ em eventos, ‘fazendo parte’ como se fôssemos um deles. Durante dois anos nunca descobri que saber o alfabeto de uma língua era tão importante, mas vou contar a minha experiência.

Já era tarde, de noite e eu estava na Universidade. O prazo de entrega de um artigo para uma conferência estava a terminar e ainda tinha muitas coisas para fazer. Decidi comer alguma coisa e depois continuar a trabalhar. Fui a um restaurante, que fica perto do Instituto Superior Técnico, para jantar.

Naquele restaurante registam-se os pedidos com o nosso nome no pedido. O meu nome é longo e também difícil de pronunciar para as pessoas que não são persas. Eu também tenho uma alcunha JJ (Jay-Jay em inglês).

Sentei-me e mergulhei nos meus pensamentos. Passado muito tempo, ouvi uma rapariga irritada gritar. “Jota Jota! Quem é Jota Jota?”. De repente, eu pensei que “Jota Jota” poderia ser “Jay Jay”, e era mesmo. Naquela noite, realmente, eu percebi que é essencial aprender-se o alfabeto de uma língua.

Alireza Javaheri

e tentar aprender português e obter o nível B1. VolO motivo de querer estudar português e por tar a esta cidade onde fui tão feliz. que estou cá Voltei em 2016. No começo não foi fácil, não estás em Erasmus, não há brincadeiras e tens de procurar A minha relação com o português e com Lisboa trabalho para comer, pagar o quarto… não há uma começou já há uns tempos. Cheguei a Lisboa pela bolsa para ti. Além disso, fiquei doente, de Hospital, primeira vez no ano de 2012 para fazer Erasmus. durante duas semanas. Sozinho e sem a minha Também, precisamente, nesse ano fiz uma viagem, família, só com o apoio de bons amigos que consercom os colegas da turma, pelo Alentejo, e isso ajuvava da minha estada de Erasmus. Mas, nem por dou-me a escolher definitivamente Portugal como destino, e não Itália. Foi sem dúvida a melhor esco- isso deixei de querer ficar cá e tentar aprender português, sempre digo tentar, porque acho que é uma lha que pude fazer, uma experiência incrível, da língua difícil. Fiz o curso de português e, finalmente, qual só tenho lembranças de bons momentos e de aproveitar ao máximo as cadeiras que fiz na univer- no ano passado consegui o nível B1 no CAPLE. Mas, sidade. Pensei como podia ser tão desconhecido para agora, o que fazer? Decidi continuar cá.

Entretanto, arranjei um trabalho no qual ainda mim um país que ficava tão perto, ou seja, vamos continuo, não é o melhor, mas dá-me para viver e para fora da Europa, para destinos muito longe e temos esta maravilha aqui perto. Mas, nem tudo foi pagar as contas, e quero continuar a aprender pormuito bem aproveitado. Como nas disciplinas podia tuguês.

Agora começa uma verdadeira vontade de me fazer os testes e os trabalhos em castelhano, não envolver na cultura daqui, de aprender a cozinhar aproveitei a oportunidade para aprender melhor a os seus pratos, de ir visitar as suas vilas e olhar língua.

Depois de fazer o Erasmus tentei ficar cá, mas para as suas paisagens. foram os piores anos da crise e não consegui arran- Presentemente, o desejo de ficar é maior, mas só jar trabalho, foi um pouco traumático, mas achei de pensar em voltar para Málaga o meu coração fica partido em mil pedaços. Será esta a saudade dos que não seria o momento certo.

Assim, na minha cidade, em Málaga, procurei tra- portugueses? balho para fazer o mestrado em ensino, já que fiz o Não sei muito bem, só tenho a certeza de que esta curso de História. Em Espanha, segundo a norma, cidade, as suas pessoas, a sua gastronomia, as suas temos de ter acreditação em nível B1 de qualquer festas, os seus cafés e ruas já fazem parte da minha língua dentro do mercado europeu. Então, passados vida. três anos, pensei que o melhor seria voltar a Lisboa Jose Manuel Rios Guerrero

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Confluências ESTRANGEIROS (NO CAMÕES) EM LISBOA A minha experiência em Portugal Eu vim para Portugal em setembro de 2015 e comecei os meus estudos de doutoromento em engenharia informática. Portugal é um pequeno país, do tamanho de uma província do Irão, e também tem uma população inferior à de Teerão, a capital do Irão.

Portugal está cercado por mar a sul e a oeste, e faz fronteira com Espanha a este e a norte. Ter o oceano como vizinho, torna o país muito florescente e exuberante. Tem paisagens extraordinárias, especialmente nas ilhas.

Portugal tem uma história muito rica. Existem muitos vestígios no país, desde a era dos romanos, como, por exemplo, em Évora. Recentemente, visitei um sítio, Tróia. Mas o interesse maior é onde Portugal começou: a cidade de Guimarães, onde D. Afonso Henriques presumivelmente nasceu.

Portugal é famoso pelos Descobrimentos no mundo.

Os navegadores de Portugal foram para longe, para o ocidente, para o Brasil, e também para o extremo Oriente, até Macau. No Irão, ainda temos pessoas de origem portuguesa, há pessoas negras que são originárias dos portugueses navegadores que não saíram do Irão.

Eu acho que a primeira indústria de Portugal é o turismo. Todos os dias, muitas pessoas vêm visitar Portugal: as praias ou as cidades e sítios históricos.

Porque Portugal tem um bom clima, em qualquer estação do ano, para receber os turistas.

A língua oficial de Portugal é o português e a religião predominante é a católica. Existem muitas igrejas

católicas por todo a país. Mas o lugar mais importante é o santuário de Fátima.

Com a rotina da vida, a minha experiência tem tido pontos positivos e negativos. A primeira coisa que me incomodou muito foi o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Eu não pude renovar o meu título de residência por razões burocráticas e não pude estar com a minha família na festa de Ano Novo.

A segunda, é que eu estava muito sozinha nos dois primeiros meses. Eu não conhecia ninguém quando vim para Portugal. Normalmente, os portugueses dizem que são muito afetuosos. Eu acho que, no primeiro encontro, eles são afetuosos, mas a longo prazo eles não gostam de se associar aos estrangeiros.

Apesar desses momentos tristes, eu também tive muito boas experiências em Portugal.

Eu gosto muito de viajar e já visitei Portugal de norte a sul. A minha região favorita é o norte, porque eu gosto muito de montanhas, gostei muito do Parque Natural do Gerês. O sul não é do meu interesse, mas é bom para os amantes de praias. Já visitei as ilhas que têm vistas espetaculares.

A minha melhor experiência foi conhecer muitas pessoas de todo o mundo com diferentes origens: brasileira, indiana, paquistanesa, francesa, entre outras.

Eu também gosto muito de museus e já visitei muitos em Portugal. O meu favorito é o Museu do Teatro, não só porque eu gosto de teatro, mas também porque pude vestir as roupas das personagens da peça Don Quixote.

Então, na minha opinião, Portugal é um bom país para turistas, mas não é muito bom para imigrantes.

Mojgan Hashemian

A noite iraniana Shabe Yalda (Yalda, noite) é um festival iraniano celebrado na noite do ano que é mais longa e mais escura. Depois da Yalda (noite), os dias vão ser mais longos, e nós, iranianos, celebramos a luz da vida.

Isto corresponde à noite de 20/21 de dezembro no calendário gregoriano, e à noite entre o último dia do nono mês (Azar) e o primeiro dia do décimo mês (Dey) do calendário civil iraniano.

Nesta noite, as famílias reúnem para comer, beber e ler poesia (especialmente o Hafez, que foi um famoso poeta que viveu no século XIV) até muito tarde, depois da meia-noite. Os iranianos põem uma mesa, separada da mesa do jantar, com várias frutas, doces e o Divan-e Hafez: duas frutas que simbolizam essa noite são romãs e melancias, por isso a cor desta noite ser vermelha. A cor vermelha nestas frutas simboliza o brilho da vida. Depois do jantar, os poemas de Divan-e Hafez são lidos pela pessoa que é mais velha ou a pessoa que lê melhor poesia.

Mojdeh

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Confluências ESTRANGEIROS (NO CAMÕES) EM LISBOA O dia do Ano Novo no Vietname O dia do Ano Novo no nosso país é diferente cada ano porque é dependente do calendário lunar. No ano de 2019, o Ano Novo é a 5 de fevereiro. Nós temos 3 dias para o comemorar. Cada dia tem significados diferentes. O primeiro dia é para visitar os parentes do pai. O segundo dia, é dia de visitar os parentes da mãe. O último dia é para visitar os professores dos pais e dos filhos.

Fotografia de família, no Ano Novo – veem-se as vestes tradicionais, chamadas "Áo dài". As vestes das mulheres e dos homens não são muito diferentes. Há vestes também para as crianças.

Fotografia da comida do Ano Novo – esta comida é para o último dia do ano, que é dia 30 de dezembro (de 2018) do calendário lunar (4 de fevereiro de 2019). Mas, primeiramente, nós costumamos rezar pelos nossos avós, antepassados que estão mortos.

Depois, temos o jantar de família.

Temos um bolo especial de nome "bánh chưng". Este bolo é feito de arroz, carne de porco e feijão verde fervido. Por fora, a cobrilo, uma folha de bananeira. O bolo é baixo e representa o chão com cor verde. Também temos outro bolo, redondo, que representa o céu, mas diferente.

No ano novo, os pais e avós oferecem dinheiro aos filhos e netos, com desejos de bom estudo!

Yen, Luna e Duyen

OFICINA DE ESCRITA Girassóis

Um grande riacho estendia-se à nossa frente e as flores, pequenas e coloridas, coloriam o chão como se de um tapete se tratasse.

Ao longe ouvíamos as pessoas conversar, mas não nos esforçávamos por entender o que diziam.

Estávamos ali deitados, sobre um largo manto amarelo, a olhar para o céu de fim de tarde naqueles meses que fazem a transição entre a primavera e o verão.

– Já pensaste em como estamos tão cheios de pessoas que estamos vazios? – Perguntou-me num murmúrio quase inaudível.

Não lhe respondi, e ela não perguntou novamente. A sombra das árvores desenhava figuras no relvado e eu ouvia o som das histórias que cantavam. Era a melodia dos galhos, das conversas alheias e da água que corria que me embalava.

– Um dia vou procurar-te noutra forma de vida que não esta pele rugosa de quem viveu de mais. – Disse-lhe.

Ela não respondeu, eu não repeti.

O que nos ligava não eram as palavras ditas, mas as palavras escondidas nas entrelinhas. Concordávamos a um nível mais espiritual, mais profundo e menos superficial. Éramos almas velhas em corpos novos, como árvores num mundo de rosas.

Mas o que queríamos, na verdade, era ser girassóis.

Noa Brighenti, 11º J

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Confluências ALMOÇOS (LITERÁRIOS)

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Confluências CURSO DE ARTES

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Confluências

CIDADANIA AMBIE P: Como presidente do GEOTA, por que razão (razões) acolheram o projeto Coastwatch?

A Professora Karin Dubsky do Trinity College, Dublin, que concebeu o projeto, convidou o GEOTA, em 1989, para promover o Coastwatch em Portugal. Na altura, havia uma lacuna de dados que caracterizassem o litoral português do ponto de vista da poluição a que estava sujeito, desde resíduos até às descargas ilegais de efluentes, a biodiversidade e as ameaças do litoral. Era um projeto inovador porque envolvia diretamente os cidadãos na observação e proteção do litoral, promovendo a sensibilização e a educação ambiental, de forma nunca experimentada. A metodologia estava a ser afinada para cada país participante e permitia a comparação entre eles. O GEOTA considerou o convite um desafio aliciante e uma oportunidade para promover a cidadania ambiental sobre as questões do litoral e do mar.

P: Já passados os 28 anos de Coastwatch em Portugal, que balanço para as atividades do projeto?

O Costwatch é o programa de educação ambiental mais longo, em vigor em Portugal. Centenas de milhar de cidadãos percorreram o litoral português no continente e nas ilhas e ajudaram a conhecer melhor o litoral, durante quase três décadas. Contribuíram para identificar problemas emergentes no litoral e as maiores pressões humanas sobre este ecossistema.

Estabeleceram-se parcerias entre ONGs, Municípios, Escolas, instituições e outras entidades que apoiam, divulgam e promovem o Projeto Coastwatch. Estas parcerias são muito importantes para a existência deste projeto. Muitas recolheram os resíduos que encontraram, limpando a praia. Aprenderam sobre os seres vivos que habitam o litoral – zona interface entre a terra e o mar.

P: Que história consegue traçar da participação das escolas?

A participação das escolas é muito importante e tem vindo a crescer ao longo dos anos. Todos os alunos e todos os professores podem participar na monitorização ambiental Coastwatch, pois existem materiais pedagógicos adequados aos diferentes níveis de escolaridade, e a equipa Coastwatch do Geota poderá acompanhar e apoiar as saídas de campo no litoral. O Projeto Coastwatch fomenta a pluridisciplinaridade, uma vez que integra objetivos de vários programas curriculares, promove o contacto com a natureza e fomenta o trabalho de grupo.

Após a saída de campo coastwatch, os alunos poderão apresentar os resultados obtidos à restante comunidade educativa e/ou a toda a comunidade e aos media locais.

Algumas escolas destacam-se pelo seu dinamismo e pela forma como se organizam para aumentar o conhecimento dos alunos sobre a literacia do litoral e do mar, através da realização de atividades diversas, ao longo do ano letivo, no âmbito de diferentes disciplinas, como é o Caso da Escola Secundária de Camões.

P: Que estratégias futuras tem para a divulgação do Coastwatch?

Potenciar a divulgação do projeto, na imprensa escrita, rádios locais, youtube e redes sociais, de acordo com as diferentes faixas etárias e tipos de participantes (facebook, instagram, twiter).

Com base nos resultados obtidos na monitorização Coastwatch, promover uma maior sensibilização junto de todos os cidadãos e, principalmente, dos órgãos decisores, para mudar paradigmas de consumo e utilização de produtos, e.g. plásticos descartáveis. Fomentar práticas ecológicas em todos os estabelecimentos (restauração, alojamentos e outros equipamentos) de zonas costeiras.

P: Como pessoa relacionada com o ambiente, quais os grandes temas em discussão relacionados com Portugal?

Destaco:  ‘Ordenamento do território terrestre e marítimo’. Neste momento, está em processo de discussão pública o Programa Nacional de Ordenamento do Território e o ponto de situação sobre o Ordenamento Marítimo. O ordenamento do território condiciona o uso racional dos recursos naturais, os incêndios florestais, a produção de gases de efeito de estufa, a mobilidade, etc. Em suma, condiciona o metabolismo das comunidades, das cidades, dos cidadãos.  ‘Alterações Climáticas’. É essencial promover políticas públicas coerentes de energia e mobilidade. É necessário investir em eficiência energética e na produção de energias renováveis de baixo impacto ambiental e evitar a construção de grandes barragens hidroelétricas inúteis, bem como criar sistemas integrados de transportes que privilegiem transportes inteligentes com baixos impactos ambientais por passageiro/quilómetro, com recurso a transportes públicos e a modos suaves de mobilidade, como a bicicleta e o andar a pé.  ‘Conservação da Natureza’. É determinante dar a conhecer o património natural e o valor dos ecossistemas para que cada cidadão compreenda a importância de desenvolvermos uma rede de áreas protegidas ou classificadas. Ecossistemas com maior biodiversidade são mais resilientes e, por isso, permitem maiores equilíbrios, dos quais depende a sobrevivência humana.  ‘Agricultura sustentável’. A agricultura é uma das atividades mais importantes para a sobrevivência humana. Atualmente, é uma das atividades mais poluentes e que consome mais recursos naturais. Ao mesmo tempo tem um grande potencial para promover a biodiversidade, se for desenvolvida com recurso a práticas ou modos de produção mais sustentáveis.

“Deixe aqui outros assuntos que gostaria de mencionar.”

Na foto: Marlene Marques Presidente do Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA)

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Confluências

ENTAL E DESENVOLVIMENTO criar um novo modelo global para acabar com a pobre ‘Cidadania ambiental’. Um país desenvolvido cria cidaza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, dãos com conhecimento dos seus direitos e deveres e proteger o ambiente e combater as alterações climáticom uma consciência ambiental atuante. Não basta cas. Os ODS devem ser implementados por todos os saber, é urgente agir para cumprir as metas da Agenpaíses, abrangendo áreas desde: o acesso equitativo à da 2030 e respetivos objetivos de desenvolvimento suseducação e a serviços de saúde de qualidade; a criação tentável. de emprego digno; a sustentabilidade energética e  ‘Consumo Sustentável e “decrescimento sustentável”’. ambiental; a conservação e gestão dos oceanos; a proPara além de a importância das escolhas do consumimoção de instituições eficazes e de sociedades estáveis, dor deverem ser adequadas, do ponto de vista da sua tal como o combate à desigualdade a todos os níveis. sustentabilidade, é necessário criar nos cidadãos a Portugal participou de forma proativa no processo de consciência da necessidade de sermos consumidores definição da Agenda 2030, com destaque para a redamais inteligentes e eficientes, de forma a satisfazer as ção de objetivos como: promover sociedades pacíficas e mesmas necessidades com redução de consumos inúinclusivas, erradicar todas as formas de discriminação teis. e de violência com base no género, e a conservação dos  ‘Agenda 2030 – “Transformando o nosso Mundo: a mares e oceanos, gerindo os seus recursos de forma Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de sustentável.

2030”’. Este documento aprovado sob a égide das Nações Unidas na cimeira da ONU, em Nova Iorque É importante que as respetivas metas sejam conhecidas (EUA), de 25 a 27 de setembro de 2015, que reuniu os suficientemente pelos cidadãos. Infelizmente, não é o líderes mundiais, define 17 Objetivos de Desenvolvi- caso. mento Sustentável. A Agenda 2030 resulta do trabalho Entrevista concedida ao aluno Bruno Cardoso conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo para (Julho de 2018)

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Confluências JORGE DE SENA em celebração No âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Jorge de Sena (Lisboa, 2 de novembro de 1919) – que foi aluno do ‘Liceu de Camões’ –, decorreu, nas Caves da Escola, no dia 24 de janeiro, uma Tertúlia inaugural que contou com a presença de Fernando J. B. Martinho, Margarida Braga Neves, Jorge Vaz de Carvalho e José Manuel Mendes (ator e exprofessor do ‘Camões’). A iniciativa teve ainda a colaboração de atuais alunos.

Entretanto, no dia 21 de fevereiro, realizou-se na Biblioteca uma Aula Aberta, pela Professora Doutora Margarida Braga Neves, em torno do conto “Homenagem ao Papagaio Verde” (inserto na antologia Os Grão-Capitães – coletânea só publicada em Portugal em 1976).

Sena em Cena. No dia 13 de março, pelas 15 horas (numa sessão integrada na Semana da Leitura), houve lugar a uma ‘recitação de poemas’.

Nos dias 28 de março e 4 de abril, darão também uma Aula Aberta, respetivamente, o ex-aluno Duarte Bénard da Costa (sobre O Físico Prodigioso [capítulos 1 e final]) e o Professor Jorge Fazenda Lourenço (sobre o conto “Super Flumina Babylonis”).

AVULSOS Em fim de tarde, uma palestra ‘motivadora’ que tentou ‘desmontar’ o desafio do diploma publicado em julho do ano transato – “que estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão de todos e de cada um dos alunos”.

(O decreto-lei nº 54/2018, de 6 de Julho, e o respetivo Manual de Apoio à Prática podem ser consultados na página oficial da DireçãoGeral da Educação.)

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Confluências HOJE É TUDO FALSO e outras crónicas 14 de Fevereiro, Biblioteca Apresentação do livro de crónicas de António Souto (por Pedro Mexia) «Foi com enorme satisfação que pude assistir ao lançamento de mais um livro de António Souto, amigo e colega de profissão no antigo Liceu Camões, hoje e há muito designado escola secundária. Aconteceu ontem, na sua lindíssima Biblioteca, num fim de tarde de Inverno a prenunciar a Primavera, que não tarda. Para além do autor, que assim nos presenteou com o mais recente livro – intitulado Hoje é tudo falso e outras crónicas – falaram ainda o professor João Jaime Pires, director da escola, António Manuel Venda, editor e responsável pela selecção das crónicas que compõem o livro, e Pedro Mexia, que nos brindou com uma apreciação crítica que fez jus ao seu reconhecido talento como autor e crítico literário.

Mas porque se trata de falar do autor do livro então apresentado, António Souto, e porque só há minutos terminei a sua leitura integral – iniciada ainda ontem depois da sessão, na carruagem do metro que me levou de regresso a casa – apenas digo que gostei imenso de o ter lido.

Para quem está habituado à companhia dos livros (sejam de que género for) e não consegue passar sem o seu manuseamento e leitura diários, não me posso quedar numa apreciação tão sumária.

Trata-se de um livro de crónicas, como já se disse. E apesar de ontem se ter dito que não é tarefa fácil encerrar o género numa única definição, e não apenas por falta de consenso sobre como definir ‘crónica’, arrisco ainda assim dizer que é uma curta narrativa que paira entre a literatura e o jornalismo, que é palavra derivada do termo grego krónos, esse deus que personifica o tempo, e que, no dizer de Ricardo Reis, é um “deus atroz/ que os próprios filhos/devora sempre”, que é uma curta narrativa, dizia, de acontecimentos ocorridos num determinado período. É certo que algumas das crónicas que perfazem o livro remetem para um passado de que o autor manifesta alguma nostalgia, esse passado de menino e moço que a sua memória convoca para um festim em que se presentificam personagens, objectos ou situações desnudadas numa simplicidade de quem acabou agora mesmo de chegar ao mundo, e que, decorridas décadas, involuntariamente assaltam o espírito do autor como um ladrão justiceiro e bom. É também por isso que gosto deste livro. Mas não é só. É sobretudo porque foi escrito com a mestria de quem domina a arte de juntar palavras com conta peso e medida. Igualmente por isso, António Souto, mereces a minha admiração e, por que não dizê-lo, uma certa dose de inveja salutar. Invejo-te porque gostava de escrever como tão bem escreves e desejo que continues a fazê-lo para que te

continue a invejar.

Um bom escritor – mais uma definição que aqui arrisco – deve fazer adequado uso de técnicas ou recursos estilísticos que causem vivo efeito literário no leitor. Uma das técnicas a que dou mais apreço é o uso do discurso indirecto livre, pelo dinamismo e ritmo que empresta à prosa, transfigurando-a numa poética da narrativa, como se pode exemplificar citando um excerto da crónica “Moura encantada”: “No dia seguinte, pela hora de almoço, numa pequena pastelaria do cimo de Beja, acerca-se de nós uma catraia, de uns cinco anos, e fita-nos. Como é que te chamas? Diana. Ah, és muito linda, toda morenaça. E tens um nome muito giro, sabias, um nome de deusa. Nada. Silêncio. De supetão, alheia a divindades e floreios. O meu pai chega daqui a dois dias. Ai vem, e vem de onde, da França, da Suíça… Não, o meu pai está preso. E aos saltinhos, tão insondável como viera, afastou-se rua fora e deixou-nos sumidos num afogamento enorme.

A senhora por detrás do balcão encolheu um sorriso, que era normal, o pai da menina até já vinha passar os fins de semana a casa, que ela andava muito contente por o pai vir agora de vez, isto se não voltar a meter-se de novo em sarilhos, coisa de drogas, e que a menina contava a toda a gente, não fizesse caso. Mas fizemos. Fizemos porque há perguntas que se não devem fazer quando se não podem adivinhar respostas, quando se não pode decifrar a inocência que brota do fundo dos olhos de uma criança. Fizemos caso, também, porque a alegria que juncou o ar naquele instante contrastou com a dolência da véspera, mas isso foi o menos importante. O que valeu mesmo a pena foi termos trazido connosco, no regresso a casa, a candura confiante de uma deidade.”

O título, bem escolhido, encerra um paradoxo, como bem assinalou Pedro Mexia. Se nos lembrarmos do conhecido paradoxo de Epiménides, o mentiroso, o tal que mentindo era vero, e se era verdade o que dizia, logo mentia, mutatis mutandis percebemos que afirmar “hoje é tudo falso” conduz-nos a uma contradição inelutável e sem saída: pois se é verdade que “hoje é tudo falso”, então o próprio dito é falso, por não poder ser verdade que hoje tudo seja falso; mas, se for falso que “hoje é tudo falso”, então a frase é verdadeira, o que nos leva de novo à negação de que hoje seja tudo falso…

E é isto que eu tenho a dizer do meu fim de tarde de ontem. Muito obrigado, António. Até ao próximo livro, que já aguardo com paciência, por perfeitamente saber que a arte da escrita requer o vagar necessário para a parir.»

José Carlos Madureira (FB, 15 de fevereiro de 2019) [o A. não segue o AO/90]

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE

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http://esccamoes.blogspot.com/

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Adelina Precatado (Profª de Matemática)

Aposentações Muitas Felicidades!

Isabel Aguiar Barcelos (Profª de Português)

Página institucional da Escola Secundária de Camões https://liceucamoes.wixsite.com/camoes

A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal