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Confluências

Confluências

(2ª Série) dezembro 2017 / fevereiro 2018

A ESCOLA SEC. DE CAMÕES ANO APÓS ANO

MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIA!

Nesta edição:

Scriptomanias …..………...

Filme do Desassossego ….

Ex-alunos - e o Camões ….

Ler Para Viver …………….

Entrevista a Rui Reininho …………………………….

Instantâneos …………….....

Uma visita de estudo .……

Desafio Matemática ……...

Reflexão …………...……...…

Olimpíadas da Língua Portuguesa ………………….

Ler Pessoa Hoje ………...…

Breves …………………...

pp. 2-4 p. 5 pp. 6-7 pp. 8-9 pp. 10-13 p. 14 p. 15 pp. 16-17 p. 17 p. 18 p. 19 p. 20

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Confluências SCRIPTOMANIAS (Haiku) ’Mor lindo que vai, sim.

Mas Amor que não vem.

A rosa contempla Só meu coração transborda na súbita primavera de amores por ti. toda a natureza.

Luís Silva, 10º H

Luís Silva, 10º H

Florença, Itália

Importa quando o desassossego bate à porta, mexe e dança com a tua mente.

Enquanto o medo avança, rígido e severo, tanta luz alcança de repente.

Bate as asas e voa alto como quem dorme para sempre.

Colhe as flores dos jardins do teu lamento.

Misericórdia está naquilo que te faz crescer por dentro.

Respira. Sente.

Maria Marcelino, 10º J

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

A família é como um fogo.

Se a abandonares ela irá acabar por morrer e apagar-se. Mas se a tratares com cuidado, ela irá proteger-te, aquecer-te e nunca te irá abandonar.

Filipe Mendes, 10º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS “Na minha rua…”

Na minha rua, o sol brilha e os passarinhos cantam. É larga e sem saída, com blocos lado a lado, forma uma correnteza de prédios perfeitamente iguais e alinhados. A perfeição é assustadora, as árvores são mais verdes que a relva e as crianças que brincam no asfalto trazem alegria e brilho a uma rua onde as cores predominantes são quentes com salpicos, aqui e ali, de cores frias.

As portas abertas transmitem conforto, segurança, confiança nas pessoas com quem partilhamos aquela largueza tão familiar e reconfortante; os vizinhos sorriem uns para os outros, partilham dicas de receitas, frutas ou especiarias. Todos vivem numa perfeita harmonia, onde cada um deseja o bem do outro, e os olhares de carinho fazem sentir-se.

Os cães correm no extenso tapete verde que existe nas traseiras do prédio, e as cigarras, penduradas nas árvores, marcam o compasso do momento, da vida.

Uma vez por outra, passa um estranho pela minha rua, não muito raramente, vem sempre em busca de algo, de um lugar para estacionar, para parar o carro e sair, nem que seja para se sentar num banco do grande e belo jardim ou para tomar um cafezinho no pequeno e agradável estabelecimento que existe alguns metros abaixo.

Todos os dias há algo de novo na minha rua, mas confesso que nem todos os dias olho para ela com olhos de ver, ou melhor, com olhos de cheirar, de ouvir, de sentir. Nem todos os dias reparo na nudez das árvores, no desgaste dos passeios, no cheiro a pão feito no forno. Porém, em dias como hoje, quando realmente paro para olhar, vejo, sinto, cheiro tudo, nada escapa, e sinto-me agradecida por viver neste cantinho tão precioso e único que eu considero a minha casa.

Beatriz Cerdeira Bento, 12ºQ

A sua alma é límpida É quieta, porém destemida Os seus olhos transportam a cor do céu E o seu sorriso o peso do vento.

Ela é tão bela, tão serena...

Os seus cabelos são longos, tão longos que separam terras longínquas E quem a vê sonha navegar por ela, Ela é o mar.

Ana Baptista, 10º J (Fotografia e texto-legenda)

Foto de Lurdes Fernandes

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Confluências SCRIPTOMANIAS

Lá por te encontrares num sítio não quer dizer que exista um significado para estares nesse ponto.

Na verdade, acho que, quanto mais uma pessoa pensa no sítio onde está, menos significado dá ao que está a acontecer à sua volta.

Acredito que cada um aproveite a vida de uma maneira diferente, e todos nós acabamos por fazer tudo e mais alguma coisa, exceto aquilo que queremos realmente fazer.

Não me perguntem sobre esta filosofia, pois nem eu sei o porquê de isto acontecer incessantemente.

Não sei por que razão tenho o pressentimento de que me falta sempre fazer algo ou de que tenho um problema por resolver. Não sei porque é que acordo de manhã e faço aquilo que tenho de fazer, mas não aquilo que quero fazer. Sei que muitas pessoas me avisam e aconselham a seguir os meus sonhos.

Sei que não se pode viver sem ter amor às várias coisas que a vida nos oferece. No entanto, sei que não posso viver pelas regras, comentários e opiniões que o mundo me dá.

No fim de cada dia que passa não tenho o sentimento de amor ou de gosto por nada, apenas chego a casa e sento-me no sofá, pensando no que fazer. Cada ideia que me aparece à frente não me motiva, nem para a concretizar, nem para a experienciar.

Imagino como será a vida dos outros que me rodeiam, quer eles estejam longe ou perto de mim, quer eu os conheça ou nunca os tenha visto em toda a minha existência. Na minha imaginação, cada um destes seres vive como se não tivesse um único problema, e a curiosidade de saber se estes pensamentos são reais é muita. De qualquer maneira, gosto de olhar para os outros e de os ver felizes porque, por mais estranho e irreal que isto soe, eu vivo das emoções das pessoas. Elas sofrem, eu sofro; elas estão frustradas, eu estou frustrada; elas estão alegres, eu estou alegre; elas apreciam a vida, eu também a aprecio.

No meio disto, será necessário dizer, que “estar” e “ser” são dois verbos diferentes. “Estar”, é momentâneo e pode ser mudado a qualquer momento, não importa a situação. “Ser”, é permanente, algo difícil de modificar, mas não impossível, nunca impossível. Por isso, utilizo, “estar”, para caracterizar os sentimentos dos outros, porque, estes, são tão fáceis de alterar, tal como as minhas próprias emoções.

Assim, estas verdades aparentam ser estranhamente autossuficientes. Quem vive dos sentimentos das pessoas, vive apegado a elas. Realmente, se eu própria lesse estas palavras acreditaria nisso mesmo, mas julgaria estes pensamentos dessa forma se não existisse uma explicação válida de quem os pensou. Então, passo a esclarecer.

Não sou dependente de ninguém. Também não sou uma pessoa que segue em vez de liderar. Sou alguém que procura uma vida para além daquilo que vivo e que sonho e que amo e que experiencio.

Quero explorar acontecimentos diferentes daqueles que estou habituada a viver. Quero sempre saber mais sobre tudo, e que maneira melhor de fazer isso do que estudar as pessoas que me rodeiam?

Parece loucura? Penso que não, pois na nossa existência qualquer coisa que criamos, vivemos, fazemos retirar uma emoção, um pensamento ou uma ideia de nós. As escolhas que decidimos tomar, não as concluímos sem sentir algo.

A habilidade que nós possuímos de poder sentir é extraordinariamente natural, é uma coisa que fazemos sem pensar. Assim, estudo e observo o comportamento do ser humano ao realizar uma atividade tão natural e aproveito para experimentar novas emoções, pois tenho pouca coisa que me possa fazer sentir muitos mais sentimentos.

Clara S. Diniz, 10º L

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Confluências FILME DO DESASSOSSEGO Realização: João Botelho Produção: Alexandre Oliveira Argumento: João Botelho Direção de Fotografia: João Ribeiro Elenco: Cláudio da Silva, Pedro Lamares, Margarida VillaNova, Catarina Wallenstein, Rita Blanco Género: Drama Duração: 90 minutos País: Portugal Ano: 2010 “Às horas em que a paisagem é uma auréola de Vida, e o sonho é apenas sonhar-se, eu ergui, ó meu amor, no silêncio do meu desassossego, este livro estranho como portões abertos ao fim duma alameda numa casa abandonada. (...)

E eu ofereço-te este livro porque sei que ele é belo e inútil. Nada ensina, nada faz crer, nada faz sentir.

Regato que corre para um abismo-cinza que o vento espalha e nem fecunda nem é daninho. (...) pus toda a alma ao fazê-lo, mas não pensei nele fazendo-o, mas só em mim que sou triste e em ti que não és ninguém.

E porque este livro é absurdo, eu o amo; porque é inútil, eu o quero dar; e porque de nada serve querer to dar, eu to dou…” in Peristilo from Livro do Desassossego, Bernardo Soares

A premissa é simples: um homem amargurado num qualquer quarto soturno e perdido nas alturas da Rua dos Douradores. A localização concreta de tão modesta acomodação lisboeta prontamente se torna irrelevante, visto que a divisão somente evoca os confins da mente onde, como se sabe, mora grande parte da escuridão do Mundo. É neste cenário em tons de negrume que encontramos Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, na sua jornada pela tormenta que o assombra. O reflexo de toda a sua angústia, uma pilha de papel destratado sobre a secretária. Na capa, tocada pela brusca mão do tempo, lê-se em grafite e a letras garrafais: Livro do Desassossego.

A opinião popular não é de todo generosa: são muitos os que se afirmam descontentes com a obra de João Botelho. Contudo, remar contra a corrente é doença de quem estas palavras compõe, nas linhas codificadas de um mero documento eletrónico, todas elas 1 e 0. É de facto tarefa hercúlea pôr em cena um livro que nunca foi senão uma união de aforismos sem linha condutora clara ou palpável.

Embora seja motivo de perturbação para

alguns, o carácter fragmentado de Filme do Desassossego espelha, a meu ver, a crua natureza da obra em que se inspirou: reflexões aparentemente desconexas na bruma caótica da mente.

A voz assume um papel fulcral, elevando a palavra escrita, algo que chega a antecipar a produção Cartas de Guerra (2016), do realizador português Ivo M. Ferreira, inspirada na obra D’este Viver Aqui Neste Papel Descripto de António Lobo Antunes. A escolha de dar vida a Pessoa e Soares como personagens de manifestação individual é, embora ousada, adequada pois sublinha todo o conceito de semi-heterónimo, uma “simples mutilação” do criador.

Encarando a cinematografia, as cenas em tonalidade de caligem e trevas convidam à introspecção e à inquietude melancólica de Soares. João Botelho, aliando-se à mestria de João Ribeiro, harmoniza então a palavra com a imagem – esta irremediavelmente monocromática e sombria, tendência já presente em Quem És Tu? –, colhendo-se assim um trabalho que é simultaneamente pleno como uma cadência perfeita e revolto como uma bagatela de Ligeti, somente ritmada pelo som de um guarda-chuva.

Evitando quase heroicamente o vão monólogo e afirmando-se como um dos mais arriscados tour de force na carreira do cineasta, Filme do Desassossego merece, a meu ver, uma visão mais positiva do que a que tem recebido, não só pelo primoroso exercício estético que revela, como pela admirável performance de Cláudio da Silva, que mesmo exposto ao impiedoso olho das câmaras, não abandona Soares e as suas excentricidades. Concluindo, cito somente o próprio, pois quaisquer palavras que eu pudesse inventar nunca seriam tão acertadas, tão próximas da verdade: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito. (...) Pasmamos, adorando, da tensão para o perfeito dos grandes artistas. Amamos a sua aproximação do perfeito, porém o amamos porque é só aproximação”.

Sara de Sousa, 12º K

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Confluências EX-ALUNOS — E O CAMÕES AQUI TÃO PERTO “Lisboa à beira-mar, cheia de vistas, Ó Lisboa das meigas Procissões! Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas! Ó Lisboa dos líricos pregões…

Lisboa com o Tejo das Conquistas, Mais os ossos prováveis de Camões! Ó Lisboa de mármore, Lisboa!

Quem nunca te viu, não viu coisa boa…”

António Nobre

O meu nome é Leonor e fui aluna do Liceu Camões no curso de Línguas e Humanidades (Científico-Humanísticos). Vim fazer a minha licenciatura em Copenhaga, no verão de 2016, após concluir, com êxito, o 12º ano.

Estudar no estrangeiro, ao contrário do que muitos possam pensar, não é só diversão, é uma forma excelente de sermos independentes, de nos descobrirmos, bem como de aprendermos novas línguas e culturas. Sempre foi um sonho meu ir estudar para fora e ter uma experiencia.

Desde o dia em que aqui cheguei, muitas coisas correram mal, e ainda correm, para dizer a verdade. A Dinamarca é um país de muito difícil adaptação, com uma cultura completamente diferente, na maneira de pensar e agir, de uma frieza inigualável (quando se fala com as pessoas), aparentando ter ainda um grande nível de indiferença face aos problemas alheios.

Eu gosto imenso do curso que estou a tirar, e os materiais e ferramentas educativos são ótimos, de um ponto de vista profissional. Os cursos têm uma componente teórica, mas também prática, o que nos permite ganhar algum traquejo bem antes de começarmos a trabalhar.

Além disso, o governo oferece imensas ajudas financeiras que nos possibilitam ser completamente independentes – o que me fez dar imenso valor ao dinheiro e à maneira como o gastamos. Com isto, cresci imenso e ganhei experiência de vida, pois de um dia para o outro saí do conforto da casa dos pais e tive que me preocupar em pagar uma renda, um loan, em pagar impostos, fazer o IRS, lavar roupa, cozinhar e comer, e tudo isto sem qualquer tipo de ajudas...

Gostaria de sublinhar que mais importante do que tudo o resto foi redescobrir a minha cultura e o ser portuguesa. Todos nos queixamos muito do que não temos em Portugal, mas desde que saí do meu país passei a dar especial valor e atenção àquilo que possuímos. Portugal tem muitas e boas qualidades, e nunca me teria apercebido delas se não tivesse partido para o estrangeiro à procura de algo maior. Assim, incentivo-vos a saírem em Erasmus, ou através de outros programas de study abroad.

Agora, sempre que sobrevoo a nossa cidade, fico com lágrimas nos olhos, porque entrar em Lisboa e ver o rio Tejo num dia soalheiro e de céu azul, que ilumina de graça a grande cidade, traz-me uma enorme felicidade, e é com grande orgulho que olho para ela e penso: finalmente, cheguei a casa!

Leonor Belo Copenhaga, 7 de fevereiro de 2018

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Confluências EX-ALUNOS — E O CAMÕES AQUI TÃO PERTO Uma experiência Camoniana Sempre que oiço o nome Liceu Camões, a minha Escola, apercebo-me da sorte que tive em poder crescer neste lugar, escola histórica que enche de orgulho qualquer um, e que marcou a minha adolescência, como marca a de todos os que por aí passam.

Foram três anos cheios de momentos extremamente enriquecedores, que fazem parte de quem hoje sou, e sempre o farão. Isto, porque a educação dada nesta instituição se distingue de todas as outras, tanto por valorizar as artes e as humanidades (que são tantas vezes esquecidas), como pelas variadas conferências (com diversas pessoas dispostas a partilhar o seu conhecimento e experiência), pelas visitas de estudo, pelo incentivo ao nosso espírito crítico (com diversos debates que são rotina no nosso dia-a-dia), pelos diversos trabalhos e temas abordados, pela maravilhosa biblioteca e pelos fantásticos professores que nos dão a conhecer para além do referido nos manuais.

Hoje, estudo direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, um sítio muito diferente do Camões. No ensino superior, somos totalmente responsáveis por nós mesmos e traçamos o nosso próprio caminho. Por isso, nós sozinhos temos de descortinar as oportunidades que existem, lutar por elas e escolhê-las, é essa dinâmica que nos distinguirá no futuro, e para o qual o Camões tão bem nos prepara, ao semear dentro nós uma vontade, um interesse, uma curiosidade em conhecer mais, quer através de actividades, quer de oportunidades ou de experiências, pois uma semana comum no Camões é composta por tudo isto, é o mais repleta possível.

Direito foi a minha primeira opção. Fui-a descobrindo ao longo do meu percurso no secundário, visto que cada um dos momentos que a escola nos proporcionava era uma peça essencial para desvendar quem somos, o que gostamos, e, no final, que caminho queremos continuar a prosseguir. Direito era o passo seguinte na minha vida, ao conhecer a minha paixão por história e filosofia, conjugando com a minha ambição de querer fazer a diferença e entender a sociedade onde vivemos, o seu direito e fundamento.

Lembro-me como o trabalho de pesquisa (que fiz no âmbito da disciplina de história), as visitas e os depoimentos a que assistimos foram marcantes

para aclarar o meu gosto em compreender a nossa história, o nosso tempo, a origem dos nossos direitos e como os defender. Claro, que também, me recordo das discussões que tínhamos em filosofia ou em ciência política sobre a vida e o mundo em constante mudança, ou até do sentimento que encontrávamos na escrita e poesia durante as aulas de português. Ou, ainda, todas as outras actividades, como concursos de escrita, de tradução, karaoke, palestras sobre todo o tipo de temas, e visitas de estudo que nos enriqueceram tanto e que continuam nítidas na minha memória enquanto escrevo este texto (e houve tantas extremamente inspiradoras).

Felizmente, o meu percurso na faculdade tem-me permitido fazer a ponte com muitos destes meus interesses revelados durante o meu tempo no Camões, nomeadamente através de disciplinas como História das Ideias Políticas, História das Relações Internacionais, Direito Constitucional, Direito Internacional Público…

De facto, o que sou, deve-se em parte ao que vivi no Camões. Não teria a mente aberta e a atitude crítica que tenho (e que nos diferencia de tantos jovens), não teria a noção do conhecimento infindável que é possível obter em tantas e diferentes áreas, todas elas essenciais para a sociedade e mundo em que vivemos. Aliás, não esperava que quando chegasse à faculdade me sentisse tão bem preparada, e que houvesse tantos alunos que nunca tinham feito uma apresentação oral, que nunca tinham lido um livro ‘pesado’ para um trabalho, ou só por gosto, que não tinham o hábito de ir a conferências; no fundo, que não sabiam que a educação não é apenas a sala de aula, mas sim um número infinito de realidades fora dela, e que o Camões me trouxe sempre, enquanto lá estive.

Por fim, a minha escola identifica-se pelas palavras: cor, diferença, descoberta, crescimento e liberdade. O Liceu Camões é uma experiência inesquecível, e eu não teria escolhido este percurso se não fosse tudo aquilo que ele me proporcionou, de forma a conhecer-me e a preparar-me melhor para a vida que se seguiria.

Obrigada,

Leonor de Azevedo Tavares

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Confluências LER PARA VIVER - W. SHAKESPEARE Píramo e Tisbe Píramo e a sua amiga Tisbe são os heróis de uma aventura amorosa de que existem duas versões diferentes. Na versão mais antiga, Píramo e Tisbe amavam-se, e dessa irresistível paixão resultou a gravidez da jovem antes do matrimónio. Desesperada, ela suicidou-se. Ao saber que a sua amada pusera termo à vida, Píramo seguiu-a na morte. Os deuses apiedaram-se deles e metamorfosearam-nos em cursos de água: Píramo ficou transformado no rio siciliano homónimo, e Tisbe numa fonte cuja água brotava para o leito desse rio.

A outra versão da lenda, muito mais dramática, é transmitida por Ovídio e supõe uma elaboração literária complexa. Píramo e Tisbe eram dois jovens da Babilónia que se amavam, mas não podiam casar-se em virtude de os pais se oporem ao seu enlace. Encontravam-se em segredo, vendo-se através de uma fenda existente no muro que separava as casas das duas famílias. Um dia, marcaram um encontro junto do túmulo de Nino, fora da cidade. Tisbe foi a primeira a chegar. Mas algo inesperado aconteceu: eis que uma leoa se aproximou da fonte para beber. A jovem foge, mas deixa cair o véu que lhe cobria a cabeça. A leoa apanhou-o e, com a boca ainda ensanguentada do repasto, despedaçou-o e foi-se embora. Quando chega, Píramo, ao ver os pedaços do véu manchados de sangue, logo imaginou que Tisbe fora morta por um animal selvagem. Num ímpeto de desespero, trespassa o coração com a espada. Quando, pouco depois, a sua amada aparece e o vê morto, arranca a espada do cadáver e suicida-se. E os frutos da amoreira, que até então eram brancos, tomaram a cor vermelha do sangue derramado. As cinzas dos dois amantes permaneceram juntas na mesma urna.

Esta narrativa amorosa pode ter constituído uma das fontes literárias da escrita de um dos dramas mais famosos de Shakespeare: Romeu e Julieta.

Catarina Gomes e Tamára Pinto Romeu Montéquio É quase impossível falar-se de amor sem que, a certo ponto no diálogo, não surja o nobre nome do eterna e fatalmente apaixonado Romeu.

Esse nome, que ainda ressoa como um sussurro nos ouvidos das almas apaixonadas que erram pela noite dentro, é e será sempre um símbolo do mais puro e fulgurante dos amores, que para muitos já não faz sentido neste século.

Romeu Montéquio, de 17 anos, apresenta-se, na trágica e enternecedora obra de Shakespeare, como um jovem que, vivendo rodeado de violência e de rixas promovidas pelo ódio entre a sua família e a dos Capuletos, é de uma

grande sensibilidade e, em contraste com os seus semelhantes que constantemente procuram vinganças e desforras, ele apenas procura o amor.

Romeu vive para o amor. Como água, este sentimento flui em si e, apesar de ainda o não ter verdadeiramente experienciado, o jovem anseia por viver as mesmas emoções que os protagonistas dos livros por ele devorados.

No momento em que a ação se inicia, Romeu encontra-se mergulhado na sua também característica melancolia, pois sofre devido ao amor não correspondido de Rosaline, mas por essa altura é-nos apresentada outra face aventureira e espontânea do jovem que aceita a ideia dos amigos de ir ao baile de máscaras, organizado na casa da família sua inimiga. À medida que a ação se desenrola, somos por diversas vezes confrontados com palavras e atos que nos permitem decifrar traços psicológicos de Romeu como a coragem, a afetividade, alguma imaturidade, inteligência, astúcia e, sobretudo, um espírito guiado por emoções e por impulsos o que nem sempre é positivo.

Maria Cardeira

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Confluências LER PARA VIVER - W. SHAKESPEARE The Fairies Among the plethora of characters in A Midsummer Night’s Dream, the fairies have varying degrees of importance. Oberon and Titania are both main characters.

Their quarrel, its motives and consequences influence all the other participants in the play. As minor characters in the realm of magic, there are the servants of Titania, the fairies Moth, Peaseblossom, Cobweb and Mustardseed, and some others who are not mentioned by name.

Puck, however, is the most important of all the fairies for he is the one who moves the plot forward. He generates both the conflict and the outcome of the play by manipulating the human beings, albeit remaining separate from them. Oberon asks Puck to fetch him a flower he has seen Cupid dip an arrow in, whose juice will be the basis for a love potion. While waiting for Puck, Oberon witnesses Demetrius being cruel to Helena in the woods and when Puck returns, Oberon asks the goblin to use the flower on Demetrius. Puck

has no idea that there are actually two Athenian couples in the woods that night and, accidentally, enchants Lysander to fall in love with Helena. He later enchants Demetrius to fall in love with her as well.

The fact that both men are now pursuing Helena instead of Hermia bewilders the four lovers. Helena accuses Demetrius and Lysander of scorning her and also accuses Hermia of participating in the joke. However, Puck makes amends by uniting Demetrius with Helena and, once again, by uniting Lysander with Hermia. Thus, the fairies play this pivotal part of making the plot unravel.

Yet, while they interact with the human creatures by manipulating them through the use of their magic, the purpose of the fairy world is to remain separate and distinct from the human world, but it can challenge and contaminate the world of reality.

At dawn, the lovers wake up in the woods half believing that what they had experienced was a dream and half believing it was real. The fairies made them believe it was a dream because they wish to keep the magical world apart from the world of reality. The role of the fairies in this play is then to portray Shakespeare's theme of "fantasy vs. reality" and to show us how reality is often manipulated by fantasy.

Sofia Andrade

Próspero Na peça A Tempestade, Próspero, o legítimo Duque de Milão, foi traído pelo seu irmão, António, que lhe usurpou o ducado. Próspero foi um poderoso príncipe e Miranda, a filha, era a sua única herdeira.

Para o protagonista da peça, António era a pessoa que ele mais amava a seguir à filha e aquele em quem mais confiava. Naquele tempo, o governo de Próspero, famoso pela sua dignidade e pela proteção das artes, fazia de Milão o mais importante ducado. Próspero acabou por entregar o governo ao irmão, o pérfido tio de Miranda, que se tornou mestre em conceder favores, ou em negá-l os , p r om ovend o uns e d es t i t ui nd o out r os , m ud and o -os ou moldando-os.

Próspero despertou a natureza maligna do irmão. A sua confiança, a sua boa-fé, de facto ilimitada, gerou neste último a falsidade. A ambição de António foi crescendo cada vez mais, colocando em primeiro lugar o poder e a fortuna e, em último lugar, o sentimento que os unia. Fez, então, um pacto com o Rei de Nápoles em troca de menagem e de bens, expulsando Próspero e Miranda, enfiados à pressa numa barca e levados mar adentro. Próspero não sabia se iria sobreviver com Miranda, ainda bebé. No entanto, foi ela que com o seu sorriso conseguiu transmitir esperança ao pai.

Próspero e Miranda foram ajudados por um nobre, Gonçalo, que lhes deu, por caridade, alimentos, água fresca e vestuário. Próspero não conseguia compreender a atitude do irmão, por quem nutrira enorme respeito e afeto. Desejou vingar -se, simulando um naufrágio, ajudado por Ariel, o seu espírito fiel, pois Próspero, que tinha aprendido artes mágicas num livro, detinha o poder de mudar as condições atmosféricas. Ele queria que António sentisse o sufoco e o desespero pelo qual passara quando abandonado no meio do mar, sem qualquer esperança de sobrevivência. No entanto, acabou por perceber que a virtude está sempre no perdão e nunca na vingança.

Joana Nunes «Shakspeare 401» [Projeto interdisciplinar da turma K do 10º ano - 2016/17], uma iniciativa do Projeto Ler para Viver (Conceção geral de Alice Xavier, Cristina Duarte, Emília Paco e Madalena Contente, com a colaboração, entre outros, de Mário Rita, Lino das Neves e José Alvega).

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Confluências ENTREVISTA A RUI REININHO tível, e eu repeti viagens, mas nunca naquelas circunstâncias.

Mas são, de facto, muito marcantes porque, para já, em termos civilizacionais, comecei pela Europa, vim por aqui acima até à Europa do Norte e, de facto, eram cidades muito diferentes. Agora creio que, com uma certa globalização, as coisas estão muito mais parecidas, das últimas vezes que viajei pela Europa constatei até coisas um bocadinho desagradáveis. Um centro comercial na Bélgica ou na Finlândia não é assim tão diferente destes aqui, não é, não há uma diferenciação grande, mesmo musicalmente as surpresas são cada vez menores, com certeza que um DJ na Grécia não é muito diferente do que se passava aqui no Festival Sudoeste… Realmente, as coisas eram muito diferentes porque não havia festivais pop-rock. Não me permitiram ir a Vilar de Mouros, que foi um dos primeiros que apareceram. O primeiro festival a que eu assisti com curiosidade para ver música foi já se calhar um bocadinho tarde em relação a estas geraEntrevista conduzida por Leonor Gaião, 11º I ções, já tinha para aí uns dezasseis e fui ver o festival de jazz de Cascais, com o Miles Davis, com um tipo de artistas que até “GNR, boa noite; o senhor está detido, está aqui a fazer poemas.” seria um pouco inesperado. Mas eu não estou a ver tanta gente a ir um festival de jazz, como havia tão poucos, ia-se um pouco se Começou por perguntar, com um sorriso nos lábios, se as percalhar por moda… Eu não, porque na altura tinha descoberto a guntas não iam ser difíceis. Respondi que se ia sair lindamente e música de jazz no secundário e achava aquilo perturbante. começámos uma viagem de palavras mal planeadas. Um caminho desordenado, sem ambições desmedidas de estruturação (LG) – Há quem não perceba nada do que o Rui escreve e há aborrecida. Falámos sobre livros e cidades, sobre o Oscar Wilde e quem o considere o maior poeta português vivo… o homem que cantou o Monsieur le Président. Trocámos as voltas à normalidade, falámos do humor mais que negro, de gente mais (RR) – Ao vivo (risos), como dizia o Paulo Varela Gomes, que era que genial e de “poetas da desilusão amorosa”. Trespassámos um escritor que eu prezo, que conheci, mas com quem contactei Manhattan, Londres, Barcelona e Paris numa hora. Regressá- muito pouco. E fiquei muito admirado pela atenção que ele me mos ao tempo em que a terra era plana, ao Vasquinho da Can- deu porque, de facto, do ponto de vista dos intelectuais, digamos, ção de Lisboa e ainda arriscámos aterrar no planeta errado. tiveram um desprezo pela minha arte, se se lhe pode chamar Quis saber qual era o maior elogio que lhe podiam fazer. Ele assim. Os académicos também, pelo lado deles, o desprezo; do negou querer ficar para a História da Humanidade, mas não meu lado, a indiferença é grande, para não dizer muita. hesitou em falar sobre ela. Contou histórias, desmitificámos as (LG) – Ia perguntar se se percebe a si próprio, mas prefiro perpessoas. Perguntei-lhe se ainda se surpreendia. Ele disse-me guntar se há um certo encanto em deixar que não nos percebam. que ainda é tudo um prazer muito grande.

(RR) – Não, se eu não quisesse ser entendido continuaria se Leonor Gaião (LG) – Fugiu da escola, atirou-se para lagos, calhar naquela saga de um certo experimentalismo. A certa altucaiu do palco, fez transportes clandestinos e foi raptado… Acha ra, eu tenho a impressão que senti uma necessidade de me aproque a vida se mete consigo ou é o Rui que se atira para o meio ximar de um pensamento mais colectivo, seja porque, politicadela? mente, achei que havia ali uma mensagem que era necessária, Rui Reininho (RR) – (Risos) Havia se calhar ali um vírus de embora, as chamadas letras com conteúdo… Eu não estou a rebeldia, mas eu acho que antes de ser uma criança ou um ado- dizer aquelas líricas pop que não querem dizer nada, que são só lescente infeliz era mais o tédio que me levava a estas coisas, os até um desejo muito juvenil do “eu quero, eu quero”, se reparar, ingleses chamam-lhe boredom. Tive ainda recentemente uma a maior parte das canções, mesmo em inglês, “I want, I want, I reunião de família porque não tenho estado, principalmente com want”, muito da música, muito da lírica, quer dizer “eu quero, eu o lado Reininho, não estava com os meus primos. Lá está, foi um quero, eu quero”. Parece uma coisa quase infantil,“eu quero, eu quero, eu quero!” Mesmo aquilo que eles chamam música pop, funeral de uma tia que permitiu a gente encontrar-se.

(Um empregado de mesa aproximou-se. Pediu um chá, como não para nós é diferente. Mas uma Katty Perry ou uma Britney Spears é muito “I want, I want, I want”, parecem meninas poderia deixar de ser. Perguntou se tinha de menta.)

E foi engraçado ouvir as memórias deles. De facto, eu tinha mimadas, não é, aqueles meninosmuito“torrões”, digamos assim. assim umas atitudes inesperadas, da parte comportamental, que E, para mim, o que eu escrevo e o que interpreto tem uma lógica. não eram normalmente coisas violentas; há pessoas que se tor- Agora, eu quero é deixar ali um sintoma de liberdade. Hoje, por nam até serial killers e coisas do género (risos), mas eu não era exemplo, estava ali a ensaiar, pegámos numa música como o uma criatura violenta. Mas é engraçado, porque um primo que Efectivamente, e eu dei por mim a dar-lhe outra interpretação. eu já não via há muito tempo, que estava a viver em Inglaterra, Como é que a minha cabeça ainda reage desta maneira, portandisse-me: “pois, tu realmente para nós eras assim um bocado a to, não reage como um piloto automático. Tentar não dizer semencarnação de um certo surrealismo”, que, na altura, começámos pre as mesmas coisas, mas adaptar aos sítios. Lembrei-me que hoje em dia, se calhar, e com as circunstâncias jurídicas, e pora descobrir, com o Breton e com aquela gente toda. que disse isso num espectáculo há pouco tempo, uma música (LG) – O que é que mais guarda das viagens que fez na sua como o Efectivamente nestes dias podia chamar-se talvez Alegajuventude? São desvios irrepetíveis? damente, (risos) que é o que se ouve mais nos meios de comunicação, nas acusações - “alegadamente, o culpado e a culpada, o (RR) – Sim, o que acontece nas viagens com certeza que é repeassassino… Alegadamente, um banqueiro alegadamente ladrão.”

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Confluências ENTREVISTA A RUI REININHO pensa assim - “aquele tipo também já não tem mais nada a dizer” - eu já vi isso, eu já ouvi isso até, por entrepostas pessoas, mesmo na classe pseudo-crítica e jornalística, sei que há essa convicção. Ainda há pouco tempo soube que me iam fazer uma entrevista e estava alguém lá que me conhecia e veio fazer queixa,- “olha, os jornalistas do Ípsilon estavam a dizer: mas quem é esse gajo, esse gajo já não tem mais nada a dizer.”Não querem que eu tenha mais nada a dizer, essencialmente. Agora, se eu tenho mais alguma coisa a dizer, nem eles sabem, nem eu; pode sair ou não. Embora eu faça minhas as palavras do Camilo José Cela, o prémio Nobel Espanhol, que dizia - “quando a inspiração (LG) – Dá para fazer toda uma nova letra, não é? chega, encontra-me a trabalhar”. Agora trabalho um bocadinho (RR) – Sim, sim, dá para fazer leituras, porque eu deixo ali uma mais nesse aspecto, trabalho mais de manhã, que é uma coisa base de sustentação que é rítmica e das entradas nos tempos. A que não me acontecia muito. E trabalhar às vezes é arriscar tudo partir dali, se conseguir improvisar nem que seja um bocadinho, o que foi feito na noite anterior, mas também é trabalho, não é? a satisfação é grande. […]

(LG) – Já o ouvi dizer que tem estranhónimos, uns que são companheiros de palco, outros de retiros espirituais, alguns até de (LG) – A propósito do lançamento do novo disco do Morrissey condução… Estas personagens são uma forma de manter um em Novembro, “o poeta da desilusão amorosa”, como o Rui lhe equilíbrio, quase uma espécie de autoprotecção ou fazem parte chama, é um homem revoltado com o mundo e com as pessoas. de um lado mais criativo?

Também se sente assim? Como é que se contorna essa revolta?

(RR) – Não, enquanto amigos até, pessoas que… mas relativa- (RR) – Pois, somos da mesma geração, ele é um tipo talentosíssimente a serem personagens na minha vida? mo de várias maneiras. Teimoso, obstinado, solitário, egoísta, dá -me ideia que como pessoa é uma peste. (risos) Sei que uma pes(LG) – Sim, sim. soa que costuma conduzir-nos o achou um tipo antipatiquíssimo, (RR) – São, são… desde miúdo que tinha tendência a isolar-me antipaticíssimo, porque no festival de Paredes de Coura, onde eu e a viver muito isolado, mas, às vezes, é com rejúbilo. Por exem- o fui ver, de facto… E ele devia estar maldisposto naquele dia; plo, hoje tive um almoço com os meus “capangas”, como eu já interromperam o espectáculo ao fim de um quarto de hora, vinte lhes chamo há muito tempo, e que já não via há muito tempo. E minutos, meia hora talvez, meia hora em palco. E o nosso condufoi um almoço extremamente agradável, não politicamente cor- tor, que o foi buscar ao aeroporto, disse: “ah, gajo esquisito, recto. Aqueles disparates às vezes, comezinhos que se fazem ali embirrento, pá, disseram-me – olha, não fales com ele que ele durante uma refeição, para mim é muito agradável, é quase não gosta que lhe dirijam a palavra durante a viagem”. E ele relaxante ter esses momentos. Eu tinha uma táctica quando era parece que veio muito incomodado para Paredes de Coura por mais tímido ainda, que era fazer-me de morto e gostava muito de causa das curvas, quando chegou lá, àquelas lindas estradas assistir às conversas, e não as liderar, digamos, não estar sem- minhotas, mas às vezes realmente com um bocadinho de curvas a mais… Pelos vistos, ele ia muito irritado. E, a certa altura, pre a opinar. parece que ele é que queria falar e o nosso condutor disse: “ah, (LG) – Há quem o conheça pela voz, mas o Rui também é a poe- mas eu também me vinguei, que ele estava a tentar falar comisia do que canta. Que parte é que a escrita ocupa na sua vida? go, queria perguntar-me se as curvas nunca mais acabavam, se (RR) – A parte poética da vida está ligada muito à performance, ainda faltava muito e eu só lhe respondi por monossílabos, yes, de facto, e é uma maneira muito agradável de a viver. Mas, não no…, i don’t know” (risos)… O homem que se vingou do Morrissei, eu já desisti do…, como é que eu de dizer, já desisti do espe- sey. Mas, de facto, ele… às vezes em poucas palavras consegue… lho há muito tempo, daquela personagem narcísicae de atitudes Eu já aprendi a nova música dele, Spent the day in bed, e é fandesse género. Agora sou uma pessoa contida e tendo a observar- tástico, é um desejo às vezes um pouco depressivo…, mas a canme a mim próprio nessas circunstâncias. E em palco, às vezes, ção até é jovial, eu paguei os meus lençóis, tenho o direito a estar em muitas circunstâncias não me reconhecia sequer. Há ali um aqui. Mas tem toques ainda muito antigos, de músicas antigas. pathos, em grego, não é pato, (risos), um pathos, com h a seguir Estou com uma pessoa que não me agrada fisicamente, ele próao t, em que eu não me reconheço, não reconheço mesmo a perso- prio não se agrada fisicamente. Realmente…, pronto, nota-se um nagem, sendo minha, quer dizer, reconheço porque já a vi algu- envelhecimento, como eu também, até cabelos brancos e essas coisas todas, e ele era um tipo muito vaidoso, mas, lá está, com res, mas aqui flui, flui bastante. grandes desilusões amorosas. De facto, sempre que o ouço cantar (LG) – Quando escreve pensa no público ou, pelo contrário, é um dá-me a sensação que ele está a perder alguém ou algo, mas tem exercício, eu não diria egoísta, mas puramente introspectivo? para mim essa magia, de ser um tipo que mesmo a falar de coisas banais dá-lhes uma certa transcendência, é um diário lá de (RR) – Não, sinceramente…, sinceramente, não. Não, porque, casa, uma curva do caminho precisamente ou, de facto, pequenos quer dizer, não penso…, é me agradável se estou a entoar, e statements geniais, morrer ao teu lado contra um autocarro de depois quando tomo notas normalmente é a lápis que é para dois andares é a coisa mais maravilhosa que existe. (risos) Aliás, depois riscar muito, corrigir muito. Agora corrijo muito mais, parece que foi reeditado, o de TheQueen is dead, dos Smiths. Ah, agora sinto que é mais difícil…, vou entrar em contradição, agoé verdade, pois, que hoje vem cá uma jornalista…, eu fiz uma ra se calhar penso mais, porque tenho a sensação de que sou entrevista para a M80, que estava a comemorar isso, e hoje promais ouvido do que há trinta anos talvez… quer dizer, mais meteram-me uma caixinha, uma prenda, do TheQueen is dead, ouvido não, mais espiado. Mais ouvido já fui também. Há muita que eu já não tenho o vinil…, sou um homem do tempo do vinil. gente agora que pura e simplesmente me ignora e com certeza

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Confluências ENTREVISTA A RUI REININHO gaudio que há gente que agora reivindica isso outra vez; a terra é plana, há uma série de cientistas que estão a contestar a curvatura da terra, quer dizer, nem sequer as fotografias vistas do espaço servem de argumento. […] […]

(LG) – A última frase dita no filme Manhattan é “You have to have a little faith in people”. Já precisou que lhe dessem este (LG) – O Rui viu a Londres dos anos 70? Como é que hoje vê conselho?

Londres?

(RR) – Muito longe, como as pessoas vêm Braga, por um canudo. (RR) – (Risos) Darem-me a mim? Não, mas agradecia; que um anjo aparecesse. (Risos) Mas está-me a dar esse conselho?! Acho De facto, ando a adiar a minha ida a Londres há uns tempos.

Mas foi muito importante para mim, uma cidade muito interes- muito bem, aceito, aceito. Sim, mas às vezes tenho, sim, às vezes sante, o contacto com uma certa pop, uma cultura pop, desde o fico muito desiludido. Não quero parecer um Einstein, que tinha dito que não se está seguro de nada nas leis do universo a não metro até aos designers pop. E a vivência muito forte dos clubes em que se tem a sensação de que toda a gente toca bem (risos), ser sobre a estupidez humana. Eu disso tenho a certeza também, tenho provas provadas de que a estupidez humana existe e de em que há sempre qualquer coisa de interessante para fazer.

Haja é disponibilidade e distâncias, que para além de serem que maneira, mas… pois, o Manhattan, e aquilo sai em fade sobre a ponte de Brooklyn, creio eu. A semana passada, tive um muito grandes, para além de gastar muito dinheiro e passar assim muita fominha, às vezes ficava-me por um chá e umas encontro sobre cinema com médicos e foi engraçado; era sobre as dependências, por alguma razão acharam que o meu contributo bolachinhas, pensava assim: “bolas, quero ir ver aquele show, aquele espectáculo” e era sinceramente caro e longe. Daí, depois, era importante (risos). Era o Morrer em Las Vegas, com o Nicoter aprendido uns truques. Na altura, ainda era possível sair las Cage, o Montage of Heck sobre o Kurt Cobain e o suicídio e ainda havia um terceiro… estava distraído se calhar… Ah, o logo nas estações, conhecendo bem a linha de metro, simular que se vinha de perto, dava-se uns pences ao senhor ou à senhora Trainspotting 2. E era sobre os comportamentos e dependências.Eram os médicos da minha especialidade, que estão mais que estava com aquelas fardas na portinhola…, isso na zona de próximos, os médicos vingam-se, então convidaram-me também Parsons Green, quando tinha de regressar e fingia, quer dizer, às vezes ia para muito longe e andava ali a contornar as veda- para me expor como se fosse o Elephant Man. Não, mas gostei muito, foi uma noite até muito agradável. Estas coisas das tertúções porque só em viagens gastava-se três ou quatro libras, e era muito, muito caro. Na altura, representavam duzentos e tal lias às vezes são raras, agora com as televisões. Juntar ali as pessoas numa sala de espectáculos a ver excertos de filmes e a escudos, a desproporção ainda com o escudo…, era bastante caro e continua a ser em termos de transportes, táxis… E, realmente, debater é interessante. tive anos em que não conseguia ver Londres de táxi como queria, porque tinha de sair. Eles zangavam-se, porque às vezes queria ir para um sítio e via que o taxímetro estava a andar muito depressa e dizia: “pare, pare, pare”, tinha de ficar ali para não ter problemas e fazer quilómetros a pé porque Londres de uma ponta à outra…, e a minha referência é quase ir do Porto a Coimbra, chega-se a fazer distâncias muito, muito grandes, mas muito grandes. E depois perdia-me um pouco em Londres, porque toda aquela orientação, e o facto de se guiar ao contrário, e as casas serem parecidas, aqueles bairros, as casas são muito parecidas por fora. London’s…, London’s burning, isso é mais Clash…

[…]

(LG) – Há nove anos disse que tinha medo da normalidade a ao mesmo tempo uma enorme inveja da normalidade. Já encontrou o segredo para não se deixar afectar por ela?

(RR) – A normalidade é uma sucessão de actos; chegar ali, tenho de me lembrar para que andar é que vou, essas coisas todas. É como olhar para o chá e não beber…, é como se costuma dizer, não comer gelados com a testa. Mas às vezes é pelo convívio que essa normalidade se adquire, são regras sociais, é o meu lado Paula Bobone. Eu agora nem sequer temo a vulgaridade, […] já não tenho essa (LG) – Vou citá-lo, se não se importa: “São um milhar as proba- necessidade.

Não bilidades/ de não existir mais ninguém/ de já conhecermos tudo/ gosto muito de chadeixamos de nos mover/ as situações con-fundem-se. Já devemos mar às atenções. ter adormecido há muito.” Rui, porque é que “a originalidade é (O Rui olha para a um plágio descarado”? parede ao nosso lado, (RR) – (risos) Eu acho que é uma frase que se aplica muito; vi pintada com um tom outro dia explicada de maneira muito mais inteligente pelo de azul esverdeado Pablo Picasso, em que ele fala sobre isso e este ano, até no meio surpreendentemente musical, falou-se muito sobre os plágios… Sim, eu creio que a idêntico ao das calças certa altura a atitude de originalidade, a constatação de que não que traz vestidas.) há nada de novo debaixo do solo…, mas as coisas entrelaçam-se da maneira como se entrelaçam, a música é isso, dá-me essa Aliás, até estou vestisensação, as pessoas querem reduzi-la a meia dúzia de notas, do da cor das paredes, escalas pentatónicas; o dodecafonismo destrói esses conceitos, o reparei agora, para pensamento ocidental pensava isso. Lá está, que a terra era o me confundir com as centro do universo, o centro do sistema solar, e eu soube com paredes. (risos)

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Confluências ENTREVISTA A RUI REININHO (LG) – Há os bons e os maus. Tem muitos vícios?

(RR) – Não. Mais um cliché, o que de antes eram vícios tornaram-se hábitos. Não, nem é verdade, não tenho assim…, quer dizer, tem mais a ver com a chamada sanidade, com a limpeza.

Tenho agora uma hora reservada para os meus exercícios energéticos, que vou ter de fazer antes de ir para o espectáculo. Hoje tive de sair, podia ter feito de manhã mais cedo,mas não me apetecia. Mas o Tai Chi e essas coisas todas ajudam-me, até do ponto de vista físico, os alongamentos e coisas assim do género são importantes. […]

(LG) – Trouxe outro livro para nos fazer companhia. O Arranca Corações…

(RR) – Eu não queria chamar à música Arranca-coração, foi a pedido do Rui Couceiro, o homem da Porto Editora. Ia só chamar -lhe chorões ou chorão, o mais importante no meio daquilo é o chorão, de facto. E é uma canção sobre o meu cão, que morreu, e é por isso que eu digo a minha flor castanha, porque alguém que gostava também muito do meu cão é que dizia: “é a tua flor castanha” e eu pensei: “flor castanha não há”, não é, não há flores castanhas. E ela gostava muito de ir cheirar para aqueles chorões de praia. É claro que o resto da música não tem nada a ver com isso, mas essa frase sim; está no meio dos chorões, de facto… e acho muito bonitas as flores de chorão, roxas e amarelas, é muito surpreendente uma planta daquelas ter flores tão bonitas, quer dizer, não é bonitas nem apetitosas, são estranhas.

pas, “J'irai cracher sur vos tombes”e eu já cheguei a dizer isso a alguns pseudo arqui-inimigos que eu tinha (risos), lembro-me de ter dito isso: “estou aqui à espera, irei cuspir-te na tumba.” Um deles não, foi simplesmente despedido, com aquele cinismo que alguns diziam:“então vieste ao funeral, mas não gostavas dele e eu: “não, eu vim ter a certeza de que ele está morto” (risos) E, realmente, o humor do Boris Vian é mais que negro, com vários tons de cinzento-escuro. […]

(LG) – “É absurdo dividir as pessoas entre boas e más. As pessoas ou são interessantes ou são maçadoras” era o que dizia o Oscar Wilde. Não lhe vou perguntar se concorda, mas acha que se lhe tivesse sido vedada essa ficção, essas “Ficções” também, seria uma pessoa maçadora?

(RR) – Sim, sim, eu consigo ser extremamente entediante, uma das maneiras de cortar as minhas relações é tornar-me extremamente repetitivo e entediante, irritante mesmo. Como nos filmes (LG) – Voltando ao Arranca-Corações. É um livro fascinante, do Nanni (Moretti), “diz alguma coisa de esquerda, diz alguma mas muito pouco confortável, não é daqueles que se vê as pes- coisa inteligente.” Tenho a certeza que passo meses sem dizer soas ler na praia. É um livro que é encantador e perturbador ao assim nada de interessante, até para mim mesmo. mesmo tempo. Quem lê o Arranca Corações encontra alguma […] explicação, arriscaria dizer quase uma espécie de berço para as palavras do Rui… Trocámos mais umas escassas palavras. Faltavam poucas horas para o concerto. O Rui ainda ia ver o filho.

(RR) – Sim, do meu pensaCheguei à conclusão que nos mento. Foi um livro muito surpreendemos a toda a marcante, um dos primeiros hora. Perguntei-lhe sobre o livros que eu me lembro de Woody Allen. O Rui tinha-lhe começar a ler. É, é muito mandado uma mensagem há perturbador, e há aquela dois dias. Perguntei-lhe sobre relação escatológica com a uma obra escondida na gavemãe. Muito mais tarde é que ta e ele disse-me que talvez soube que ele cantava tamtivesse resolvido um livro bém, e o Monsieur le Présiprecisamente no dia anterior. dent, durante muitos anos Há coincidências inexplicánão soube que era do Boris veis. E é bem possível que Vian, uma canção em que ele sejam encontros como este escreve uma carta ao Presique nos movem. Plana ou dente da França, contra a não, a terra move-se e com guerra, contra a participação ela as pessoas. É sobretudo na guerra, a dizer que vai por elas que gostamos de recusar. O Boris Vian é um estar aqui. tipo perturbante. Outra imagem dele que guardo é na Espuma dos Dias, em que a rapariga tem um nenúfar [Dada a extensão do texto, a equipa sempre a crescer-lhe no peicoordenadora do Confluências tomou a liberdade de recortar alguto, é perturbante, e o quarto mas passagens. Pelo facto, pedimos fica mais pequeno, é asfixiandesculpa à A., aproveitando para te. E o Sullivan, os livros dele lhe agradecer a cedência da entredo Sullivan também. Irei vista.] cuspir sobre as vossas cam-

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Confluências INSTANTÂNEOS

Fotos de:

Joana Formiga, 10º C

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Confluências UMA VISITA DE ESTUDO

No Palácio de Belém com o Professor Alexandre Quintanilha No dia 12 de dezembro de 2017, realizou-se uma visita de estudo ao Palácio de Belém, com alguns alunos e professores da Escola Secundária de Camões, com o propósito de participar num debate, sobre a influência da tecnologia e da ciência na sustentabilidade do planeta Terra, com o professor Alexandre Quintanilha, físico internacionalmente reconhecido.

A palestra foi iniciada com uma pequena apresentação, por parte do referido professor, seguida de um PowerPoint que se focou em diferentes temas, tais como alguns acontecimentos fascinantes que ocorreram recentemente na área da medicina (o genoma humano), curiosidades acerca do corpo humano e muitos outros. Contudo, não foi necessário muito tempo para que os alunos iniciassem as suas perguntas, algumas previamente planeadas e outras nem tanto. Relativamente à nossa turma, o 11° A, foram feitas duas perguntas, a saber: “Deve a ciência procurar prolongar os recursos existentes ou criar mais fontes alternativas para melhorar a sustentabilidade do planeta Terra? “ e, ainda, “Estamos numa época

em que o aumento populacional provoca a escassez de recursos. É possível reverter a situação e tornar os nossos recursos sustentáveis?”. À primeira pergunta, foi respondido que sim, uma vez que alguns recursos terrestres são limitados e devem ser criados mecanismos que os permitam ser reutilizados. À segunda pergunta, Alexandre Quintanilha propôs uma solução bastante intrigante: incentivar a educação das mulheres. Aparentemente não relacionada, está provado que quando as mulheres são educadas, a taxa de natalidade diminui, o que posteriormente significa uma menor taxa de população e um menor gasto dos recursos terrestres, o que é algo bastante útil e bom para a manutenção da sustentabilidade do planeta. Esclarecidas estas perguntas, foram colocadas outras, pelos restantes alunos, igualmente importantes e interessantes, como, por exemplo, e entre outras, se a política e a ciência deveriam estar mais relacionadas.

No final da palestra, os alunos e os professores foram encaminhados para um espaço exterior e tiveram direito a alguns sumos de laranja e pastéis de nata, incluindo a possibilidade de conversar diretamente com o professor Quintanilha. No geral, penso que foi uma visita que me enriqueceu bastante, não só científica como também culturalmente, e, por esta razão, aconselho muito fortemente a repetição deste tipo de visitas.

Tomás Pereira, 11º A

Uma visita para repetir A Escola Secundária de Camões, juntamente com Sua Excelência o Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, deram-nos a oportunidade de passar uma manhã com o Professor e físico teórico Alexandre Quintanilha. Esta visita teve lugar no passado dia 12 de dezembro, no palácio de Belém.

A palestra centrou-se no Ser-Humano e teve vários subtemas, como o genoma humano e o desenvolvimento sustentável, algo que considerei fascinante. O desenvolvimento sustentável é, atualmente, um tema muito discutido. De facto, o Homem consegue arranjar soluções para o efeito estufa e a poluição, causados pelo próprio Homem, se abdicar do seu conforto, o que ninguém quer. Um outro problema sério, se quisermos chegar a um desenvolvimento sustentável, é o excesso de população, algo que pode ser resolvido se educarem as mulheres, visto que são estas que têm a dádiva de conceber.

As curiosidades ditas pelo professor captaram de imediato o meu interesse. Uma delas, que considero mais cativante, foi que nós, humanos, “somos mais filhos da mãe do que do pai”, sendo que temos mais material genético da mãe do que do pai. As histórias que o professor contou do seu passado, relacionadas com o tema em questão, para além de melhorarem a relação entre o auditório e o orador, fizeram-nos aprender de uma maneira mais descontraída.

Foi uma manhã bem passada que eu gostaria de repetir. Acho benéfico para os alunos este tipo de visitas, sendo que ganhamos conhecimentos científicos de uma maneira mais atraente.

Rita Barbosa, 11º A

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Confluências DESAFIO MATEMÁTICA (nº anterior) A idade dos filhos do amigo do Éder Um dia, depois de ser campeão europeu, Éder encontrou um amigo e, a certa altura, perguntou-lhe a idade dos três filhos.

O amigo resolveu testar o jogador e perceber se ele só era bom a jogar à bola ou se teria, também, alguma argúcia matemática.

E foi, então, que decorreu esta conversa: O amigo: O produto das idades é 36. Éder: Só com isso não consigo descobrir as idades dos teus filhos. Tens de dar mais informação.

O amigo: A soma das idades é igual ao número da camisola do Lopes no jogo que fizemos ontem à tarde (amigo comum: o Éder lembrava-se do número). Éder: Ainda não chega.

O amigo: A diferença entre a idade do meu filho mais velho e a idade do seguinte é superior a 1. Éder: Já sei a idade dos teus filhos.

E tu, também já sabes?

DESAFIO “MATEMÁTICA” (SOLUÇÃO) O problema do número anterior foi adaptado de um publicado no site da Sociedade Portuguesa de Matemática, em Novembro de 2012. Foram-nos enviadas duas resoluções, de duas alunas do 12º Q, da Maria Louro e da Daniela Mendes. Decidimos publicar a resolução desta última. mite descobrir as idades dos filhos do amigo, o Para descobrirmos as idades dos filhos do amigo que nos leva a concluir que a soma das idades dos do Éder são-nos dadas três informações: filhos e a soma de outras três idades possíveis 1.O produto das idades é 36; têm o mesmo valor.

2. A soma das idades é igual ao número da 1+3+12=16 camisola do Lopes; 1+2+18=21 3.A diferença entre a idade do filho mais velho e 2+3+6=11 do seguinte é superior a 1.

2+9+2=13 Para que as idades vão de encontro à primeira 3+3+4=10 pista, devemos escrever todos as maneiras possí- 1+4+9=14 veis de combinar números de modo a que o seu 1+6+6=13 produto seja 36. Concluímos que as idades podem 1+1+36=38 ser as seguintes: Assim sendo, ficamos a saber que as idades dos 1,3,12 filhos do amigo do Éder podem ser 9,2,2 ou 6,6,1, 1,2,18 e é aqui que entra a pista 'A diferença entre a ida2,3,6 de do filho mais velho e do seguinte é superior a 2,9,2 1', a qual exclui as idades 6,6,1.

3,3,4 1,4,9 Concluímos assim que o amigo do Éder tem um 1,6,6 filho de 9 anos e 2 filhos de 2 anos, possivelmente 1,1,36 gémeos.

De seguida, devemos ter em atenção o facto de o Éder dizer que a segunda informação não lhe per-

Daniela Mendes, 12º Q

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Confluências REFLEXÃO A Esperança em Mensagem On ne doit mettre son espoir qu’en soi-même Virgílio in As Éclogas

É inquestionável afirmar-se que os grandes poetas clássicos celebraram admiráveis indivíduos em suas obras. Contudo, é do meu entendimento que a esperança pode também ser útil servindo um propósito maior que o do “eu” isolado, o bem coletivo. Mensagem é de facto um exemplo rigoroso deste cenário.

Considere-se o poema “Ulisses”. O poeta cria nele dois planos distintos: um superior, ligado ao mito e ao sonho, e um inferior, ilustrando uma existência sem esperança ou ambição em que o indivíduo somente subsis-

te, mas não vive realmente. Este desejo de ir mais além surge também associado a uma espécie de megalomania, uma loucura necessária para que os homens ultrapassem a sua condição natural de «cadáver adiado», como é descrito em “D. Sebastião, Rei de Portugal”.

Neste sentido, O Quinto Império encoraja igualmente a que se transcenda a mediocridade, a ‘vidinha’ cómoda e sem aspirações que Queiroz tanto condenava.

Em suma, a noção de esperança é essencial à compreensão plena de Mensagem e da mensagem que esta pretende transmitir: uma de superação do plano superficial que tão avidamente suga os de alma pequena, de modo a exaltar a identidade da Pátria, desvendar os mistérios que o horizonte oculta e escapar ao nevoeiro.

Sara de Sousa, 12º K

NOVO DESAFIO MATEMÁTICA Duas amigas, a Madalena e a Teresa, estavam a conversar: Madalena: Ó Teresa, achas que existe na superfície da terra um ponto onde se andares 100 metros para sul, a seguir 100 metros para este e, finalmente, 100 metros para norte acabas no ponto de partida?

Teresa: Essa é velha, já o meu bisavô me punha essa questão. Mas já que te estás a armar em esperta, responde lá a isto: um ponto nessas condições é único?

Madalena: Claro que o Polo Norte é o único ponto. Quando ando 100 metros para sul e depois 100 para este, mudo de meridiano, e, por isso, quando volto para norte só chego ao ponto de partida se este for comum aos dois meridianos: o de descida e o de subida. E claro que o único ponto nessas condições é o Polo Norte.

Teresa: Estás enganada, há infinitos pontos nas condições que indicaste, e digo-te mesmo mais: se pensares nos percursos associados a algum desses pontos, podes encontrar pontos arbitrariamente próximos do Polo Sul!

Pergunta: És capaz de identificar os infinitos pontos de que fala a Teresa?

Ou será que é a Madalena quem tem razão?

As propostas de resolução, devidamente identificadas, devem ser enviadas para confluencias@escamoes.pt

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Confluências OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA Há dois anos, quando frequentava o décimo ano de escolaridade, a minha professora de português, a professora Ana Enes, desafiou a minha turma dessa altura a participar nas Olimpíadas da Língua Portuguesa. Eu fui um dos poucos alunos que se interessou pela iniciativa e decidi participar.

Apareci na sala que me indicaram, à hora que me indicaram, sem ter qualquer ideia de como seria a prova. Rapidamente descobri que era uma prova apenas constituída por itens de escolha múltipla, assentes na interpretação de texto e em conteúdos de gramática. Foi uma experiência muito interessante, não só por ter sido desafiante, mas, principalmente, por me ter deixado curioso e me ter levado a procurar as respostas certas para os exercícios que não sabia resolver.

No ano passado, decidi voltar a participar, porque tinha boas recordações da prova do ano anterior, mesmo não tendo passado à 2ª fase, a fase final. E não saí de lá desapontado. Voltei a ter imenso prazer em fazer a prova da primeira fase e, desta vez, passei à final. Nesta segunda fase, a prova já incluía também, para além dos itens de escolha múltipla (interpretação de texto e gramática), um texto de desenvolvimento a partir de um tema dado, que, neste caso, foi a importância da literatura, e deu-me especial gozo escrever este texto, por se tratar de um tema que me diz muito.

mio que tal acarreta. No entanto, não posso deixar de sublinhar que, mesmo sem esta recompensa extra, teria tido todo o gosto em participar e espero poder participar de novo este ano. Assim sendo, não posso deixar de recomendar a todos os meus colegas que gostam de estudar e escrever a língua que falamos Depois desta experiência, acabei que participem nas edições das por ter o bónus de conseguir o pri- Olimpíadas da Língua Portuguesa meiro lugar a nível nacional na que se seguem! minha categoria, a do secundáThomas Childs, 12º B rio, com o reconhecimento e o pré-

Vivemos num mundo cada vez mais definido pelo raciocínio frio e lógico das ciência, um mundo no qual um número vale mais do que uma palavra.

Numa sociedade assim limitada pelo que é dito objetivo e numérico, como poderá o Ser Humano atingir a sua plena concretização? É este o dilema que, a meu ver, se apresenta, atualmente, como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de um ser que é, por excelência, marcado pela intersubjetividade e por valores qualitativos (e não quantitativos). Afigura-se-me um caminho que permite ultrapassar esta encruzilhada: a aposta na arte e, em particular, na literatura, enquanto dimensão humana que deve orientar a nossa vida individual, intelectual e social.

Olhemos para o papel que a literatura tem desempenhado no passado da nossa espécie, começando pelas cantigas transmitidas oral-

mente, de geração em geração. Podemos verificar que, de um modo geral, tem sido uma das vertentes que definem o expoente máximo de cada cultura, através da qual podemos aceder ao passado e a outros modos de vida díspares, relativamente ao nosso próprio. Mas também notamos que a literatura tem sofrido uma crescente desvalorização, que terá começado, por ventura, com a ascensão da ciência e com a sua progressiva pretensão do valor de validade única e inabalável.

Pretendo mostrar que a desvalorização da literatura que se verifica nos nossos tempos contrasta com a importância que quase sempre teve para os nosso antepassados. Não poderíamos argumentar que a desvalorização das obras literárias surge associada à ignorância e à decadência da nossa própria humanidade?

Termino com um apelo no sentido do reconhecimento da importância da literatura, que me parece constituir um dos pilares centrais que suportam toda a nossa civilização.

Thomas Childs, 12º B

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Confluências LER PESSOA HOJE Aconteceu ontem [1 de Fevereiro], nas caves da Escola Secundária de Camões, a que muitos teimam em chamar o Liceu Camões, uma tertúlia intitulada “Ler Pessoa Hoje”. Cerca de cem pessoas tiveram o privilégio de ouvir recitar poemas do poeta do Desassossego (por alguns alunos e pelo actor Luís Lucas) e de escutar os especialistas convidados da obra pessoana falar a propósito dela (Fernando Cabral Martins, Manuela Parreira da Silva e Rita Patrício). Se dúvidas houvesse de que a essência da poesia está na voz que a declama e quase a transforma em canto, ontem essas dúvidas dissiparam-se. Respigo algumas ideias que ouvi, sem alguma preocupação de coerência e sem atribuir a paternidade a quem as proferiu.

A responsabilidade de eventuais erros é inteiramente minha.

Ao génio do poeta múltiplo correspondem, como não podia deixar de ser, múltiplas leituras do poeta. Da sua obra, aberta como nenhuma outra, pode-se dizer que foi sendo construída mais em função das leituras críticas que se fizerem depois da sua morte do que daquilo que publicou no fugaz tempo que o destino lhe concedeu viver. Em vida foi sobretudo um escritor desassossegado pelo génio, o que não lhe permitiu realizar mais do que um livro – Mensagem – para além de ter publicado poemas e textos de intervenção crítica nas mais progressistas revistas literárias da sua época. A Mensagem, originalmente pensada em 1910, a que o autor pretendia dar o nome “Portugal”, foi publicada um ano antes de morrer, em 1934. Neste pequeno livro, composto por 44 poemas, o tema é a pátria/ nação, uma espécie de deus bifronte que olha simultaneamente para o passado e para o futuro: «Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez./ Senhor, falta cumprir-se Portugal!»

O que falta cumprir e cujo cumprimento o poeta celebra é a ideia de portugalidade vertida na singularidade e riqueza da língua portuguesa: “A minha pátria é a língua portuguesa”.

Tudo o mais ficou depositado numa arca encantada, de onde se foi soltando, qual lâmpada mágica, o seu génio, que concedeu aos seus hermeneutas o desejo e a oportunidade de dar à luz o que ficou por nascer. Nos últimos 35 anos, dessa arca fecundada pela genialidade do poeta, têm saído muitas outras “personas”, uma miríade de heterónimos a somar aos consagrados Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e ao ortónimo, de nome Fernando Pessoa. De tanto esfregar a lâmpada, os hermeneutas do poeta da “Hora Absurda” foram-nos dando a conhecer a multiplicidade de um eu que voluntariamente se fragmentou para ser semelhante à realidade de um universo que é tanto mais uno quanto mais plural se manifesta. Fernando Pessoa, com raras excepções, produziu um universo de fragmentos não caóticos, semelhantes a pedaços de espelhos-máscaras que se reflectem uns aos outros, e nessa

reflexão de multiplicidades de sentido criam o sentido do seu próprio cosmos que é sempre maior do que a soma das suas partes.

O Pessoa que lemos hoje nasce a partir da publicação, em 1982, do Livro do Desassossego. Não deixa de ser curioso ter sido um semi-heterónimo, Bernardo Soares, que nos permitiu conhecer um outro poeta, ao mesmo tempo o mesmo e outro diferente daquele que lemos nas edições da Ática. Um poeta que pôs a máscara de um prosador por excelência, ainda que de fragmentos ou projectos inacabados, que se revelou como contista, escritor de novelas e até filósofo teórico do paganismo (António Mora). Dos fragmentos ou projectos por acabar evidencia-se cada vez mais a ideia de que Fernando Pessoa levava muito a sério escrever uma sequência de novelas policiais, tendo para o efeito criado uma personagem, o inspector Quaresma, como o arquétipo do raciocinador e decifrador de enigmas policiais, inspirado, como se sabe, em Edgar Alan Poe. O verdadeiro risco de banalizar Pessoa é não ler. Mas o facto de não ler Pessoa não impediu que se fossem criando, ao longo do tempo, uma série de mitos acerca do poeta.

Este é o destino dos génios autênticos. Muitos mitos criados em torno da vida do poeta tendem a sobrevalorizar alguns dos seus hábitos (alcoolismo), crenças (ocultismo e astrologia), idiossincrasias, em detrimento da sua obra.

Um jornalista chegou mesmo a noticiar uma falsidade: quando os restos mortais do poeta foram trasladados do cemitério dos Prazeres para os Jerónimos, difundiu-se rapidamente a ideia de que o seu corpo estava incorrupto (como se de um santo de tratasse), quando a urna nem sequer tinha sido aberta. «O mito é o nada que é tudo». O anedotário pessoano resulta, em grande parte, da necessidade de preencher o vazio do conhecimento da obra do escritor provocada pela ausência de leitura da mesma. É sobejamente conhecida a frase publicitária que o poeta, nos seus afazeres profissionais, criou para a Coca-cola: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Esta frase pode-se aplicar inteiramente à recepção da sua obra. Pessoa, inicialmente, estranhou-se, tendo-se posteriormente entranhado, isto é, cristalizado em ideias-feitas. É preciso revisitar o poeta, relê-lo a partir dos seus textos originais (na versão mais próxima do legado do próprio poeta), muitos deles diferentes dos que foram fixados no corpus estabilizado na década de 80 do século passado. Para esse fim, torna-se imperioso voltar a estranhar Pessoa, estar disposto a sofrer os efeitos do feitiço encerrado nessa arca de Pandora inesgotável. Se assim for, os textos já conhecidos ganharão uma outra espessura hermenêutica.

São acontecimentos destes que fazem de uma escola um lugar onde, para além de se aprender e ensinar, a cultura acontece. Trazer os poetas para fora da sala de aula, para as catacumbas do Camões, como foi o caso, é fazer a cultura acontecer. E quando a cultura acontece são os alunos que ganham.

Texto gentilmente cedido por

José Carlos Madureira (o A. não segue o AO/90)

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE

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http://esccamoes.blogspot.com/

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Falecimento (02/02/2018)

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Professora Mª Antónia Costa

Página institucional da Escola Secundária de Camões Novo Visual! https://liceucamoes.wixsite.com/camoes A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal