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BOLETIM ESCOLAR

Confluências

Confluências

(2ª Série) março-abril 2016

Mudam-se os tempos, movem-se as pontes

No próximo número daremos nota do DIA ABERTO (21 de abril) e de outras iniciativas de interesse realizadas no 3º Período e que encerrarão o ano letivo.

CONSULTAR! Regulamento do Júri Nacional de Exames / Regulamento das Provas e Exames do Ensino Secundário 2016 Despacho normativo nº 1-D/2016, de 4 de março

Envio de trabalhos para: confluencias@escamoes.pt

Nesta edição:

Scriptomanias …..…….

Ciência - O Corpo Humano …………………

Ciência - Bioinformática ……………………….

Circunstanciais ………

Caprichos do Destino & ………………………….

A Importância da Literatura ……………...

Not Just Numbers ……

Breves …………………...

pp. 2-8 p. 9 p. 10 pp. 10 –12 p. 13 p. 14 p. 15 p. 16

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Confluências SCRIPTOMANIAS Uma vida tempestiva

momento, a razão do começo da aventura era irrelevante, pois o instinto de sobrevivência impunha -se no coração e na mente de cada marinheiro. O som do vento varria os pedidos de socorro, as lamúrias e as rezas. E, porém, de entre as nuvens negras e da chuva grossa, um foco de luz vermelha recaía sobre a barcaça e parecia incentivar e esperançar os homens, encher-lhes o coração de coragem e força para dominar aquele pedaço de madeira que já dava sinais de fraqueza. A vela rasgada, as cordas soltavam-se descontroladas e a água entrava.

Terror, angústia, impotência, todas estas emoções atravessam o coração de Diana, mas a sua expressão, como sempre, mantinha-se inalterável. Apenas o som que saía dos altifalantes a fez despertar daquele seu estado de contemplação.

O céu negro como carvão, mas ao longe o horizonte apresenta o recorte de uma montanha. Talvez fosse esse o destino, porém muito incerta era a chegada. A chuva atacava forte, sem sinais de abrandar. O vento não dava tréguas e incitava as ondas a elevarem-se. Com o mar revoltado o pânico instalara-se. Naturalmente, todos tomaram por certo a ocorrência de uma tempestade, no entanto, ninguém poderia ter previsto uma desta amplitude. Navegavam numa barcaça simplória: base côncava de madeira barata, um único mastro com uma grande vela quadrada e uma bandeira já gasta e rasgada no topo. Aquele não seria certamente o tipo de barco usado numa viagem pelo alto mar e o número de homens que neste se encontravam passava do limite razoável. Tratar-se-ia de “Atenção ao horário de encerrauma fuga, de uma decisão repenti- mento da Galeria de Arte. Dentro na e desesperada? Naquele dos próximos 5 minutos, pedimos a todos que se desloquem para a saída. Esperamos que tenha desfrutado da sua visita e o seu Título: Confluências regresso será sempre bem-vindo.”

Iniciativa: Departamento

de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Era tempo de regressar a casa. A fixação de Diana naquele quadro foi perturbada pela voz robótica da mulher, que ecoava em todos os corredores vazios. Era praticamente a única alma viva no meio de estátuas e retratos. Todos os dias visitava a Galeria, não na expectativa de encontrar alguma nova obra de arte que lhe despertasse o interesse, mas sim na esperança de continuar a reencontrar aquele quadro de reduzidas dimensões, quase impercetível no recanto da sala. Era a única que o comtemplava com tanta emoção.

Sentia uma atração inexplicável

por ele, uma ligação tão irracional, mas, de certo modo, tão familiar… Seria, talvez, aquele quadro, aquela tempestade, uma metáfora para o estado em que se encontrava a sua vida?

Diana saiu do edifício e, caminhando cabisbaixa, dirigiu-se a um banco de jardim, que se encontrava o mais isolado possível daquela confusão de um final de tarde, onde todos saem do trabalho já com planos idealizados para o resto do dia. E ela, no banco, sem planos, cheia de incertezas.

Nada poderia ter feito prever a mudança de rumo repentina que tomou a sua vida. Tudo corria bem, mas mudou tão inesperadamente quanto a direção do vento, e, quando deu por si, já não tinha uma rede segura a seus pés, que lhe aparasse a queda. Como que numa tempestade, perdeu o controlo e agora era dominada pela revolta do destino incerto. Ainda sabe bem onde quer chegar, qual é a sua terra prometida, contudo todas as peripécias fazem-na recuar, dia após dia, como ondas que embatem num barco instável.

E, por mais uma vez, entrou numa espiral de autorreflexões, naquele banco de jardim, relembrando o quadro e a sua realidade diária: o emprego que não lhe garantia estabilidade, o seu apartamento que agora, por questões financeiras, era partilhado com outros dois indivíduos, a morte dos pais e o fracasso de mais uma relação. Tudo ingredientes para um desenlace trágico, pensava ela. Pessimista e desencorajada, via-se incapaz de enfrentar o mar irado que se instalara na sua vida, e os seus sonhos continuavam a flutuar, cada vez mais longínquos e inalcançáveis.

Mafalda Pereira, 11º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS O mar de Sines Os meus passos são marcados na areia. Fundos e sem vida, deixo para trás os leves vestígios da minha identidade. Olho o mar de Sines que brilha sob a luz do sol, gabando-se de não estar escuro como eu. De repente, este cenário vivo não me parece apropriado para o meu peito oco.

A cada passo que dou, a minha mente vai ficando mais agitada, como o mar num dia de tempestade, lembrando-me das razões de toda a minha tristeza e sofrimento.

Neste último ano, toda a minha alegria foi em vão porque tentei esconder o que sentia. Por dentro eu estava vazia, mas por fora sorria. Todas as asneiras que fiz só me prejudicaram, só me levaram a mais sofrimento.

Foi então que olhei aquele mar

azul e esverdeado e me lembrei da cor dos teus olhos, observei a areia que se colava aos meus pés e recordei o vento a bater nos teus cabelos castanhos, quase da cor do ouro.

Foi impressionante! Naquele instante senti-te ao pé de mim, mas foi uma ilusão. Apenas me perguntei “Como te perdi tão rápido?”, “Será que o podia ter evitado?”… A resposta era simples, ninguém sabe quando a vida vai acabar, e não o podia ter impedido. Fiz tudo quanto pude, passei os teus últimos dias como se cada um fosse o último, nunca imaginando que num deles fosse mesmo o fim…

Sempre imaginei que seríamos felizes e ficaríamos juntos eternamente, mas foi a doença que não o permitiu… Eu não voltarei a amar tão intensamente como te amei a ti e a minha vida nunca

Se Eça soubesse…

Olho pela janela. Vejo a rua.

Estas calçadas lisboetas, das mais famosas da Europa, levam-me aos tempos longínquos em que passeavam, lado a lado, Carlos da Maia e o seu amigo Ega. Era por estas ruas empedradas que viviam suas tristezas, suas amarguras, suas alegrias e suas vitórias. E, mais importante ainda, assistiam aos seus romances. Decidi hoje perguntar às ruas que memórias existem ainda desses remotos tempos da Lisboa de Os Maias.

O Aterro, outrora espaçoso e agradável à vista, com ocasionais carros puxados a cavalos, tornou-se agora uma fila de mamarrachos egoístas olhando sobre automóveis de maior cavalagem que correm a toda a hora tapando esse Tejo poluído de que os lisboetas tanto gostam. O Hotel Central perdeu o seu lustro, transformado agora num misto de negócio e residência que já só é observável a poucos metros da fachada. Cortesia dos autocarros. O velho Abraão já

mais será a mesma.

Por momentos, parei de andar, olhei para o mar e decidi sentarme a apreciá-lo, tal como fizemos todos os dias até teres desaparecido. Fiquei ali, com o pensamento finalmente em silêncio e o peito a deixar de estar desabitado, recordando tudo o que nos aconteceu, desde o dia em que nos conhecemos até ao dia da tua morte…

No final do dia, com o sol a afastar-se e a dar uma nova cor ao mar, fiz o que costumavas fazer quando vínhamos a Sines.

Entrei no mar e atirei-me de cabeça; dei um mergulho, com a roupa que tinha no corpo, e consegui sentir o que tu sentias…

Senti que pertencia àquele mar, senti que pertencia ao azul e grandioso mar de Sines!

Maria Lima, 11D

não negoceia. Mas é aquele que menos razão de queixa tem, pois os que lá agora vendem dão continuidade aos seus métodos. O poeta lá continua, de pala no olho, olhando o Chiado. As vistas é que mudaram. As belas calçadas do coração da cidade estão cobertas de turistas e artistas de rua. Mas não é só a vista: no lugar onde vigorava o gradeamento protetor de Camões estão agora bancas de negócio e estrangeiros descansando. Como diz o velho ditado: antes sozinho do que mal acompanhado. O Tavares Rico está na mesma... ou quase. Como está fechado à hora de almoço, parece mais morto. Onde posso agora procurar o Vilaça para lhe dar as más notícias? O Teatro da Trindade está melhor. Já é mais elaborado o espetáculo e mais culto o seu público, mas há ainda quem mereça umas valentes bengaladas... O hotel do Guimarães já não existe, a Maria Eduarda já não vive na rua que já nem de S. Francisco é. No Rossio e nos Restauradores... a mesma desgraça: mamarrachos, autocarros, pessoas... Uma verdadeira maldição.

Se Eça soubesse, não morria de doença: morria de desgosto.

Francisco Monteiro, 11º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS O Sonho de Blimunda Estava Blimunda à procura de seu amado, Baltasar Sete-Sóis, pelos caminhos de Sintra. Até então, já haviam passados mais de três anos, mas Sete-Luas nunca perdera a esperança. No cimo do monte, era possível observar uma pequena casa com um modesto jardim que convidava qualquer um que por ali passasse a contemplar a beleza das magníficas petúnias.

Cansada de tantos quilómetros percorrer, Blimunda decidiu bater à porta de tão humilde casa. Uma senhora, já de alguma idade, trajada de forma muito invulgar, abriu a porta num ápice e perguntou: – Minha filha, porque vens a meu encontro?

– Meu nome é Blimunda Sete-Luas e tenho andado, há mais de três anos, a percorrer Portugal à procura do meu eterno amor. O cansaço começa a apoderar-se de mim…

– Nada temas! Trata-me por Beatriz. Entra e recupera as tuas forças. Temos muito tempo para conversar.”

Ficaram, assim, as duas mulheres, a partilhar as suas histórias até ao pôr-do-sol enquanto escutavam o crepitar da madeira a arder na lareira. Beatriz cedo se apercebeu de que Blimunda possuía poderes extraordinários – bastava-lhe jejuar para que pudesse observar as “entranhas” do mundo. De igual modo, D. Beatriz mostrou-lhe um pequeno mineral, revelando-lhe o segredo de uma mística e poderosa pedra, a Pedra da Lua. Lendas antigas contam-nos a história de um tempo em que os gregos e os romanos lutavam pela conquista da Terra e de um segredo bem mais valioso. Uma simples pedra que, ao mesmo tempo que era exposta a um raio de Sol, exibia as sete cores do arco-íris e possuía capacidades mágicas de cura e de proteção. Foi, desde então, considerada como a pedra da força, pois aumentava as influências da Lua sobre a Terra. Mas de todos os poderes nela guardados, o que mais sobressaía era, sem dúvida, a possibilidade de quem a tivesse em sua posse poder viajar no tempo e no espaço em procura dos seus maiores desejos.

Extenuada, Blimunda, embora entusiasmada pela história da pedra da Lua, acabou por se sentar numa pitoresca cadeira de baloiço esculpida em madeira de ébano, cobrindo-se com uma linda manta de lã púrpura. Envolta numa nuvem branca, começou por se sentir cada vez mais leve, num bem-estar indescritível, caindo lentamente num sono profundo.

Uma luz branca ofuscava-lhe os olhos. O ruído de fundo tornava-se cada vez mais evidente, as ruas ganhavam espaço e abriam caminho em várias direções. As árvores revelavam o seu esplendor e as pessoas que por ali passavam atarefadas tornavam-se cada vez mais nítidas. O Sol estava alto, parecia Verão.

Onde terei eu adormecido? Não me recordo de ter pas-

sado por estas ruas… É melhor continuar a procurar por Baltasar, pensou Blimunda.

Subiu então uma rua calcetada com blocos de pedra, ora brancos ora cinzentos-escuros, formando curiosos símbolos pela estada fora. Estava rodeada de casas embelezadas com canteiros de flores multicoloridas. Ao longe, elevava-se algo grandioso… Duas torres brancas que davam forma aos grandes sinos que comportavam. À medida que subia, mais se revelava a beleza do monumento. Blimunda estava diante do incomparável Convento de Mafra.

Não pode ser! Estarei eu em Mafra? Está tudo tão diferente… Ao menos o convento parece igual, apesar de se aparentar desgastado. Oh meu amor… Estarás tu em casa?

Blimunda não tardou em fazer o caminho até sua antiga casa, mas em vez de encontrar as inúmeras habitações improvisadas e o cheiro incomodativo, que era habitual, deparou-se com um cenário futurista, recheado de grandes caixas luzidias com várias janelas e grandes rodas a passar diante dela a grande velocidade.

Será esta mais uma das invenções do padre Bartolomeu? Desorientada, decidiu voltar para trás, até chegar novamente à fachada do convento.

“Que farei eu agora?” – perguntou a si mesma – De certo que não entrarei na basílica… Frades não são de confiança! O melhor será examinar as redondezas, talvez encontre a passarola no meio do mato.

Blimunda caminhou em direção ao parque, atravessou os grandes portões de ferro e percorreu os caminhos de terra batida até chegar a uma fonte de pedra, de onde corria uma água límpida com nenúfares. Perto desta, estava sentada uma senhora idosa que vislumbrava o reflexo de Blimunda nas águas. Numa doce voz proferiu: – A tua jornada vai ser árdua e longa…. Olha em volta, que vês tu Blimunda?

– Um mundo diferente. – respondeu Blimunda, reconhecendo a familiar voz de Beatriz – Porque me trouxeste até aqui?

– Trouxe-te ao futuro para te mostrar algo que tua mãe te quer dizer… O que procuras não se encontra à tua volta, está dentro de ti. Tu sabes onde e quando encontrar Baltasar. Segue o teu coração, segue a tua vontade.

De súbito, Blimunda voltou a sentir o balouçar da cadeira de ébano. Um raio de Sol atingiu-a na face e acordou com o chilrear melódico de um rouxinol. Levantou-se lentamente da cadeira e despediu-se de Beatriz com profundo agradecimento – a pedra cumpriu o seu dever.

E, assim, com um simples acenar, partiu novamente Sete-Luas à procura da sua própria vontade.

Cláudia Fernandes, 12º D

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Confluências SCRIPTOMANIAS Um passeio pelo tempo Saio do metro. Estou no Cais do Sodré. Vejo o Hotel Central, local onde o amor nasceu, cresceu e também se desvaneceu. Tão diferente do que li, mas, ao mesmo tempo, tão igual. Talvez por serem tempos diferentes. Em vez de coches e berlindas, vejo carros e lambretas. Obras por todo o lado, dando-me vontade de voltar para o meu canto e continuar a fantasiar com a beleza de outros tempos. Claro que falo do século XIX, tempo de grandes escritores como Eça de Queirós e Sir Arthur Conan Doyle.

Subo agora pela Rua do Alecrim. Olho para a direita e observo a loja do Abraão. Claro que para a ver tive de usar a minha imaginação, mas, com uma pequena ajuda do grande escritor que vejo, ao olhar para a esquerda, no Largo Barão de Quintela. Esse “Criador do séc. XIX”! Esse grande escritor que me fez viver o seu tempo. Falo, pois, de Eça. Não é ele, mas sim a sua estátua que tenho o privilégio de contemplar. Paro para lhe falar, ou melhor, monologar. Vejo a verdade nos seus olhos. Não, nos braços. Nada precisa Eça de dizer, só a sua inspiração me ajuda a perceber a realidade.

Ao continuar a minha subida, chego ao Largo de Camões, onde olho o grande poeta e autor d‟Os Lusíadas, encontrando-me, por momentos, em tempos ainda mais longínquos. Subindo a Rua da Misericórdia, dirijo-me ao Café Tavares para um almoço tardio, mas, ao chegar, bato com o nariz na porta. Tinha-me esquecido de que este café só serve jantares e ainda nem era hora do lanche. Bem, de barriga cheia ou não, tinha de continuar. Chego agora ao Teatro da Trindade. Olho para o cartaz e decido comprar bilhetes para a comédia romântica “O apartamento”. Pode não ser o mesmo que uma peça do séc. XIX, mas, sendo uma comédia, não consigo resistir.

Visto estar perto, decido visitar S. Roque para ver se encontrava o Padre António Vieira. Só esperava que, caso o encontrasse, não tivesse de ouvir um sermão por me estar a desviar do meu passeio pelo séc.

XIX. Mais tarde, chego a São Pedro de Alcântara, onde posso apreciar a magnífica vista sobre o jardim, com uma leve brisa sobre o meu rosto e o suave cheiro a relva acabada de cortar. Depois desta pequena pausa, volto para o Chiado, e, estando perto do Teatro do Ginásio decido dar uma vista de olhos. De repente, lembro-me de que ainda tinha muitos locais para visitar e, ao olhar para o relógio, vejo que já não tenho muito tempo. Decido não ir ao Ginásio, tomando o rumo do casino Lisbonense, no Largo da Abegoaria. Ao chegar, vejo (ou imagino!) Antero de Quental com o seu grupo de intelectuais, realizando uma das suas famosas conferências.

A seguir, chego ao Chiado, onde passo pela Casa Havaneza e pelo Café Central. Apesar de os apreciar, a minha atenção vira-se para uma das pastelarias, pois, não obstante estar a gostar do passeio, estou com uma fome desgraçada. Paro então cinco minutos para me deliciar com um croissant com manteiga.

Encontro-me agora em frente ao Hotel Aliança, local de revelações surpreendentes. Sigo para a Rua Serpa Pinto. De um lado, vejo o grande Teatro de S. Carlos, teatro onde já estiveram personagens fictícias e reais importantes. Do outro, o prédio onde Fernando Pessoa, grande poeta português, nasceu.

Depois, dirijo-me à Rua de S. Francisco, onde vivia Maria Eduarda. Ou será que não? Quando passeio pelo tempo, perco um pouco da noção da realidade! Continuando, Maria Eduarda tinha como vizinho, nesta rua, o Grémio Literário. Infelizmente, não me deixam lá entrar por ser limitado a membros.

Infelizmente, o passeio está quase no fim, mas cheguei agora ao Rossio, e não é que tenho a sorte de encontrar o prédio onde Eça de Queirós viveu durante quatro anos?!?! Após um breve momento a observar a casa deste grande escritor, dirijo-me ao café Nicola na esperança de encontrar e conversar um pouco com Bocage. Sem o encontrar, porque a minha imaginação e tempo estavam a acabar, dirijo-me ao local final deste passeio – o Passeio Público –, a Praça dos Restauradores. Tudo estava diferente do que li. Só estradas e carros por todo o lado.

Apesar de grande parte destes locais estarem remodelados, este passeio fez-me realmente voltar ao passado. Para meu infortúnio, o passeio chegou ao fim e tenho de voltar ao presente, o séc. XIX. Ups, queria dizer XXI! Por vezes, fico tão envolvido que acabo por me perder nas areias do tempo.

Tiago Daniel Farinha, 11º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS Voltar ao Passado Era o final de mais uma tarde de quintafeira e de um passeio pelas marcas que relembram o passado. Encontrava-me agora defronte do Obelisco da Praça dos Restauradores, um monumento de homenagem às lutas pela Restauração da Independência Portuguesa, em 1640. Sentia-me derreada e procurava, por isso, um banco onde pudesse descansar e deixar-me levar pelo pensamento. Imaginar o que seria viver numa outra época anterior à minha sempre foi algo fascinante para mim. É aos livros que eu recorro como fonte de conhecimento sobre outros tempos tão diferentes do nosso e, deveras, é através deles que formo muitas das minhas imagens visuais dessas épocas. Porém, ver fisicamente o remanescente delas oferece uma outra dimensão preciosa para a perceção de uma realidade não vivida.

Lisboa é um local onde ainda se observa muita História. Apesar da contínua urbanização e modernização, que têm vindo a tomar um papel cada vez mais central nas prioridades dos governos atuais, existem zonas onde ainda são visíveis vestígios do passado, que a uns causam nostalgia e a outros curiosidade.

As casas atarracadas, umas a seguir às outras, bem juntinhas em fileiras, cada uma com a sua forma, tamanho e cor, nos tons de pastel, e com as varandas de ferro forjado a contrastarem com as telhas tipicamente vermelhas dos telhados, todas elas agora devoradas pela ação do tempo que se mostra impie-

doso: a tinta lasca, as pessoas partem e elas permanecem abandonadas. Mas do Miradouro de S. Pedro de Alcântara apenas se veem os telhados e tudo parece permanecer com o encanto de outrora, como que um refúgio à construção moderna. Um local onde histórias de amores encontrados e perdidos, de intrigas entre vizinhos, de dias bem passados com a família ou com amigos esvoaçam pelas ruas estreitas, à espera de serem relembradas.

A minha curiosidade é alimentada com os pensamentos da existência destes segredos pelos cantos de Lisboa e, felizmente, satisfeita com livros como Os Maias, de Eça de Queirós. “Episódios da Vida Romântica” são assim intituladas as vivências das personagens que, apesar de fictícias, representam a mentalidade lisboeta do séc. XIX. A descrição detalhada do modo de vida citadino da capital permitiu-me hoje refazer os passos dos protagonistas, ainda que não se tenha conservado tudo inalterado: mudaram-se nomes de ruas e largos, alguns edifícios que já não albergam as mesmas funções, e outros que desapareceram.

Fazer este percurso do Cais do Sodré até à Praça dos Restauradores, onde me encontro, ajudou a situar-me melhor no espaço e a compreender um pouco mais da essência da época da obra. O romance de Carlos da Maia com Maria Eduarda pode não ser real, mas quantas outras histórias de amor imprevisíveis poderão ter tido palco nos mesmos locais que frequento agora no stress do meu dia-a-dia?

Mafalda Pereira, 11º C

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Confluências

SCRIPTOMANIAS Os doces anos – parte V Perto da casa de pedra existia um lugar com uma beleza peculiar. Um estreito riacho que deslizava ao longo do pequeno vale entre as duas encostas. Serpentes de água límpida corriam lentamente entrelaçando as rochas e os tufos de erva fresca. Lembro-me de correr pelo vale, saltitando de pedra em pedra, até chegar a um pequeno precipício onde o riacho formava uma pequena cascata cintilante. Do precipício era possível observar uma pintura extraordinária. Prados que se estendiam majestosamente, montanhas que se erguiam ao longe, florestas densas e misteriosas, o lago prateado que brilhava ao sol. Eram estas paisagens que me enchiam o coração de alegria, aquele era o meu lar, o meu lindo lar…

Depois do inverno cruel e da primavera florida tinham por fim regressado os dias de sol de verão.

Aquele verão foi particularmente quente e seco, perfeito para passar os longos dias perto dos riachos frescos. E foi assim que passámos aquela tépida tarde de domingo, nas preguiçosas margens do Zêzere. Sob as árvores verdejantes corria uma brisa agradável e o sol já se deitava por detrás das montanhas, criando um ambiente suave e acolhedor. Lembro-me de estar distraída a flutuar nas águas geladas quando me apercebi da grande agitação junto às cortes velhas. Desviei o olhar das nuvens que pairavam no alto e foi então que reparei no fumo cinzento que se elevada ao longe. “A serra arde!

Meu deus, a serra arde!” Exclamava a minha mãe levando as mãos à cabeça com movimentos desesperados. O calmo fim de tarde tornou-se num pesadelo inesperado. Em pouco tempo já estávamos todos a subir a encosta íngreme de regresso a casa, para confrontar o fogo…

Era uma caminhada difícil e demorada. À medida que nos aproximávamos o ar tornava-se cada vez mais pesado. Foi então que apareceram as chamas, cruéis, impiedosas, correndo pela serra, iluminando aquele cair da noite. É algo realmente assustador, ver o nosso lar a arder, ver a nossa casa ameaçada pelo fogo, ver tudo aquilo que conhecemos, de repente, ser destruído…

As florestas próximas da casa de pedra eram conquistadas pelas chamas, a confusão e o pânico instalaram-se e por todo o lado se ouviam ora os gritos desesperados do povo, ora as ordens determinadas dadas pelos bombeiros que corajosamente enfrentavam a parede de chamas mortais. A minha mãe levou-me a mim e aos meus irmãos para casa, enquanto o meu pai tentava ajudar no que podia.

Foi uma noite verdadeiramente aterradora. As crianças choravam no colo da mãe, que por sua vez tentava esconder a preocupação que lhe ia na alma. Eu, empoleirada no parapeito da janela, ouvia o crepitar do fogo e observava, com um grande peso no coração, as chamas ardentes que engoliam a serra…

Tinham passado mais ou menos dois dias. O fogo estava extinto, por fim. Pouco tínhamos saído de casa, para evitar o perigo, mas naquela manhã ainda fresca, o meu pai levou-me com ele no seu passeio matinal. Seguimos pelo caminho de terra até aos prados e foi então que eu vi… Fiquei parada. Não é possível descrever tal tristeza.

Um quadro pintado de negro, de cinzas que ainda pairavam no ar. Árvores antigas, que outrora tinham estado cobertas por folhas verdejantes que bailavam ao som da brisa, estavam agora nuas e sem vida e a relva macia onde costumávamos brincar estava agora desfeita. O meu pai segurou-me a mão com firmeza. Não me disse nada, mas não era preciso dizer, pois a sua expressão transmitia toda a sua dor, toda a sua angústia. Partimos os dois, partilhando o sofrimento em silêncio.

Então, o estreito riacho que deslizava ao longo do pequeno vale entre as encostas já não entrelaçava os tufos de erva fresca, a cascata cintilante caía agora ao longo do precipício despido e aquele lugar, antes dotado de uma beleza tão única e extraordinária, transformara-se agora num triste correr de águas solitário…

Beatriz Santos, 11º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS Visita de estudo à nascente do rio Alviela (Alcanena) No dia 19 de fevereiro, visitei com a minha turma e alguns professores a nascente do rio Alviela, em Alcanena. O percurso consistiu numa visita ao Centro de Ciência Viva do Alviela/ Carsoscópio e num passeio pedestre até à nascente do Alviela.

A zona envolvente do Carsoscópio é muito agradável, com uma paisagem muito bonita e bem cuidada. O Centro tem boas instalações.

Para além de bastante informativo, o Carsoscópio é muito interativo e cativante. O simulador leva-nos a descobrir a evolução da paisagem do carso ao longo de milhares de anos, de modo fácil e divertido. O filme em 3D que mostra o percurso das águas no carso foi elucidativo e interessante; os simuladores com maquetes são ótimos para perceber não só o percurso da água em paisagens calcárias, mas também o efeito da poluição nos aquíferos; a zona dedicada aos morcegos – a minha preferida – está bem organizada e contém as doses certas de informação e interatividade, mostrando a ligação destas espécies com a paisagem.

Embora tenha gostado do passeio pedestre pelo campo e ficado maravilhada com a paisagem, acho que esta foi a parte da visita menos bem conseguida. Acho que o passeio foi pouco organizado e muito curto, abrangendo uma área demasiado restrita.

Não obstante, considero que a visita atingiu vários dos seus objetivos, nomeadamente interpretar fenómenos geológicos, conhecer os recursos naturais do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros e reconhecer a importância de respeitar e preservar o ambiente.

Mª Inês Vargas, 10ºB

Centro de Ciência Viva do Alviela/ Carsoscópio Ao realizar uma visita de estudo ao Centro de Ciência Viva do Alviela/Carsoscópio, através de um percurso pedestre realizado nesse espaço, consegui aumentar o meu conhecimento bio-geológico, não só por observar novos tipos de biodiversidade e rochas, como também por ver em primeira mão várias paisagens geológicas portuguesas. No entanto, o Centro de Ciência Viva parecia, maioritariamente, destinado a um público de menor idade.

Por um lado, o percurso pedestre ofereceu nova, e interessante, informação sobre a flora e distribuição geológica da zona, mesmo que, infelizmente, a fauna observada não tenha sido muita ou memorável. Para além disso foi possível admirar grandes monumentos geológicos, verdadeiramente capazes de tirar o fôlego a qualquer pessoa.

com um simulador, sendo este a única fonte de entretenimento de um filme com diálogo claramente criado para crianças de oito a nove anos. O segundo, ao contrário do primeiro, não tinha qualquer salvação, sendo um filme aborrecido, cujo 3-D foi tão mal construído que criava náuseas. Mesmo assim, o Centro ainda incluía uma exposição sobre morcegos cavernícolas que provou ser interessante, mas que não é suficiente para colmatar o completo aborrecimento causado pelos vídeos.

Em conclusão, nesta visita, o ponto alto foi, claramente o percurso, e o ponto baixo o Centro de Ciência

Viva. Ainda assim, eu acredito que vale a pena visiApesar de o percurso ter sido quase excelente, tar essa zona, mesmo que seja só pelo percurso. o mesmo não pode ser dito do Centro de Ciência Viva.

Sérgio Esteves, 10ºA Neste edifício, é possível observarmos dois vídeos, um

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Confluências CIÊNCIA - O CORPO HUMANO

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Confluências CIÊNCIA - BIOINFORMÁTICA Bioinformática A bioinformática pode ser definida como uma área científica que engloba todos os aspetos da biologia, aquisição de dados, processamento, armazenamento, distribuição, análise e interpretação, combinados com as técnicas de matemática e computação. Tem como objetivo entender o significado dos dados biológicos. Várias áreas da biologia necessitam destes métodos, por exemplo, biologia estrutural, sequenciamento de genomas e genes, criação de fármacos baseadas em estruturas e evolução molecular.

Esta área apresenta inúmeras aplicações práticas no dia a dia dos profissionais que trabalham diretamente com informações biológicas, tais como: médicos, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, agrónomos, entre outros, acompanhando sempre o avanço tecnológico.

A bioinformática apresenta um papel central nas indústrias farmacêuticas. A criação de um medicamento apresenta inúmeras etapas e ensaios tanto préclínicos como clínicos, os quais visam avaliar a toxicidade, eficácia, efeitos colaterais, entre outros aspetos. Para a produção de novos fármacos é fundamental que sejam selecionadas moléculas biológicas com o perfil necessário para o uso daquele fármaco, e que as demais moléculas sejam descartadas, a fim de não interferirem com as moléculas selecionadas. A bioinformática é essencial na seleção dessas moléculas, orientando os investigadores na manipulação correta das mesmas.

Uma aula de bioinformática

As turmas de 12º participaram numa aula de bioinformática dinamizada pela ex-aluna Ana Catarina Fernandes Paiva, que estuda Engenharia Biológica no Instituto Superior Técnico.

Através do recurso à técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), a aula teve como objetivo levar-nos a compreender como é possível amplificar o gene pgmG a partir do DNA cromossómico de Sphingomonas elodea ATCC 31461. Para tal, foi utilizada a proteína “XP_447058.1”.

Este processo foi-nos explicado através de duas etapas.

A) Desenho in silico de uma experiência de southern blotting, de uma experiência de clonagem de um gene, e previsão da função de uma sequência de DNA não caracterizada Através deste processo, foi possível compreender a experiência de Southern blotting, entender como é possível prever a função de um gene ou proteína não caracterizados, bem como produzir e purificar uma proteína.

Em primeiro lugar, com o recurso a ferramentas de bioinformática online, foi possível desenhar primers e selecionar as enzimas de restrição adequadas para a clonagem do gene pgmG, produzindo e codificando a proteína que este codifica em E. Coli. Com a observação de open reading frames – ORFs, foi possível analisar sequências de nucleótidos, e através de ferramentas de BLAST ou NCBI conseguimos comparar sequências de aminoácidos a outras sequências de proteínas com uma função biologicamente conhecida.

B) Amplificação de uma região do DNA cromossómico de S. Elodea ATCC 31461 por

recurso à técnica de PCR O uso da PCR é um método simples que permite a amplificação de sequências específicas de DNA. A repetição de ciclos de desnaturação, hibridação e extensão do DNA tem como resultado uma significativa acumulação de um fragmento específico de DNA. Nesta parte do trabalho, procedemos à amplificação por PCR de uma região contendo parte do gene pgmG de S. Elodea ATCC 31461, recorrendo aos oligonucleótidos iniciadores PGMinc-Up e PGMinc-low e condições de amplificação específicas.

A proteína conseguida é uma proteína que se sabe que existe mas que ainda não se conhece a sua concreta funcionalidade. Este facto é deveras interessante, pois contactamos diretamente com um método que os cientistas utilizam para investigar novas proteínas que podem levar à criação de inúmeras terapêuticas para problemas de saúde que afetam atualmente a população.

Conclusão Com esta aula de bioinformática, tivemos um primeiro contacto com esta área de estudo que nos pode ser útil no ensino superior, visto que pode vir a ser uma das disciplinas do nosso plano curricular e, ainda, por ser atualmente uma área em expansão.

Nesta aula, tomamos conhecimento da existência de vários sítios online, frequentemente utilizados nesta área científica, e, sobretudo, foi uma forma de "sermos cientistas" durante uma hora e meia!

Artigo do 12º D

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Confluências CIRCUNSTANCIAIS Dos múltiplos eventos que ocorreram na escola entre Novembro de 2015 e Março de 2016, quero aqui destacar 7 deles a que assisti e sobre os quais gostava de dizer/escrever algumas palavras. (Por José Luís Vasconcellos) 1.ª CIRCUNSTÂNCIA – Em 14 de Dezembro de 2015, o Prof. Rui Freitas (Universidade Lusófona) veio falar de um tema aliciante intitulado De como o espírito move a matéria na Mensagem de Fernando Pessoa. Contudo, em minha modesta opinião, foi uma palestra pouco eficiente: nada disse sobre a origem da expressão O espírito move a matéria, em latim Mens agitat molem, que está num verso da Eneida de Virgílio. Depois, seguindo o texto da obra de Pessoa, descarregou sobre a assistência, impiedosamente, sem qualquer apoio literário (em volantes) ou apoio técnico (Powerpoint), uma extensa lista de autores e concepções ideológicas e culturais difíceis de entender quando não explicadas, e das quais, como é habitual, a maior parte dos alunos não fez qualquer registo escrito…

2.ª CIRCUNSTÂNCIA – No dia seguinte, 15 de Dezembro, assisti à primeira de quatro sessões do ciclo Quatro livros/Quatro debates, na qual David Marçal (doutorado em Bioquímica) nos falou da obra de que é co-autor juntamente com o Prof. Doutor Carlos Fiolhais, Pipocas com telemóvel, palestra excelente em termos de comunicação/visualização e explicitação de histórias de falsa ciência.

3.ª CIRCUNSTÂNCIA – Em 24 de Janeiro de 2016, a Prof.ª Filomena Bandeira trisou* uma palestra relativamente à história dos serviços de judicialização e protecção de menores, no estrangeiro e em Portugal. Neste caso, referiu muito concretamente o Colégio de S. Fiel (Louriçal do Campo – Castelo Branco) onde, não só desde os meados do século XIX, os Jesuítas acolheram órfãos e crianças pobres e desenvolveram aprendizagens científicas (cf. Brotéria/Sciências Naturais, desde 1902), mas também foi o local onde, na década de 1920, funcionou como reformatório para menores ali internados pelas Tutorias de Infância. Foi sobretudo fascinante ver/saber como hoje, depois de uma cuidadosa recuperação, o património material e o espólio documental do colégio estão a ser trabalhados e transformados por especialistas em rigorosa matéria historiográfica.

4.ª CIRCUNSTÂNCIA – A 11 de Fevereiro foi a vez de assistir à magnífica conferência da Prof.ª Doutora Maria Alzira Seixo, apresentada pela Prof.ª Cristina Duarte. Sob o título Uma lição de vida, veio falar-nos de duas personalidades incontornáveis da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, Vergílio Ferreira e Mário Dionísio, ambos docentes na nossa escola. A Professora Maria Alzira não só contrapôs essas duas personalidades (Vergílio Ferreira, o rigoroso prosador, ficcionista e ensaísta, autor da Aparição, esse romance eborense e universal que qualificou como “uma obra-prima”, e Mário Dionísio, o grande poeta e artista plástico, autor do primeiro grande estudo estético-histórico em Portugal, A Paleta e o Mundo), mas cruzou admiravelmente essas vidas com a sua, o que me fez lembrar Gertrude Stein, a qual, ao escrever a Autobiografia de Alice B. Toklas, sua grande amiga e companheira durante 25 anos, não fez mais do que descrever-se a si própria.

5.ª CIRCUNSTÂNCIA – Na manhã de 24 de Fevereiro, entre as 10h45m e as 11h30m, ocorreram em cinco espaços da escola outros tantos tempos de Ouvir a Música em Silêncio, tendo como audiências todas as turmas: 12 estiveram no pavilhão com a Orquestra Clássica Metropolitana; 11 na cave com a Escola de Jazz Luís Villas Boas/ Hot Club de Portugal; no auditório, 8 turmas, e na sala 32/Geografia, 5 turmas, com os grupos de sopros do Conservatório Nacional e de metais e percussão da Escola Superior de Música de Lisboa, respetivamente. O nosso Diretor sugeriu-me que fosse para a biblioteca onde um antigo aluno, o violinista Luís Cunha, e a pianista Mafalda Pernão fizeram uma sugestiva combinação de música e palavras, introduzindo as peças e procurando interpelar os assistentes. Foram apresentadas quatro peças do repertório clássico e contemporâneo: Meditação, de Massenet, Sarabanda, de Bach, uma das Gymnopédies, de Satie, e um fragmento da banda musical da Lista de Schindler, da autoria do recentemente falecido David Bowie. Bem tentou Luís Cunha dialogar com os ouvintes, mas estes, exceptuando dois ou três, por falta de à vontade, ignorância ou desinteresse não corresponderam. * Palestra proferida pela Prof.ª Filomena Bandeira na sequência de duas outras anteriores.

[Continua na pág. seguinte.]

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Confluências CIRCUNSTANCIAIS [Continuação da pág. anterior.]

6.ª CIRCUNSTÂNCIA – O Prof. Doutor Fernando Rosas esteve na manhã de 4 de Março na sala grande da biblioteca a explicar magnificamente o que foram O Estado Novo e os Fascismos.

Dividiu a sua fala em duas partes: – na primeira, referiu as cinco origens, causas ou pré-condições que favoreceram a advento dos Fascismos: 1) o período bélico revolucionário da Grande Guerra; 2) a derrota dos movimentos operários; 3) a “rendição dos liberalismos”; 4) a emergência dos regimes antiliberais e antidemocráticos; 5) os dois ciclos da fascistização europeia: 1918-1929 e 1929-1939.

Na segunda parte, o Professor elencou as características comuns destes regimes e foi explicando-as de uma forma muito clara: 1) o mito palingenético (ou a ressurreição dos “Absolutismos”); 2) o nacionalismo orgânico; 3) o corporativismo supraclassista; 4) a supremacia do Estado ditatorial; 5) a violência ao serviço do controle social; 6) a chefia carismática; 7) o totalitarismo; 8) a imposição do monopartidarismo; 9) o discurso e a prática imperiais.

No período das perguntas e/ou esclarecimento de dúvidas, poucos assistentes se pronunciaram. Pela minha parte, disse-lhe que, aos cinco fatores enunciados como motivadores do advento do fascismo, talvez não fosse despiciendo acrescentar mais dois: estes regimes surgiram e desenvolveram-se com a expansão das sociedades de massas; a sua ideologia foi fortemente estimulada pelos “medos” que as classes médias burguesas, “essencialistas” e capitalistas tinham dos socialismos igualitários, materialistas e coletivistas…

Seja como for, não só penso que a lição dada pelo Professor Fernando Rosas devia ter sido para toda a escola, como também no fim dela fui cumprimentá-lo agradecendo e dizendo: – Lamento, quando fiz o meu curso universitário de História, não ter sido seu aluno!

7.ª (e última) CIRCUNSTÂNCIA – Ocorreu na noite do mesmo referido dia 4 de Março, mas nas caves da escola, tendo como objectivo um «in memoriam» sob a forma de Tertúlia à volta de Vergílio Ferreira, cujo centenário de nascimento tinha sido em 28 de Janeiro.

Começou por ouvir-se uma pequena série de canções pelo coro da escola dirigido pela Prof.ª Ângela Lopes à qual se seguiram duas visualizações: a do Prefácio a Vergílio Ferreira (do amigo realizador Lauro António) e a de uma montagem de fotos sobre a vida do escritor escolhidas pelas professoras Teresa Almeida e Madalena Contente.

Tendo o Diretor aberto o longo período das intervenções-testemunhos, seguiu-se-lhe Madalena Contente, que disse que, para além dela, estavam ali presentes mais duas colegas, ainda em atividade, e que todas tinham aqui lecionado no tempo de Vergílio Ferreira, ou seja, as professoras Alice Xavier e Cristina Duarte.

Por fim, alguns dos presentes contaram pequenas saborosas histórias com ou sobre o professor: antigas colegas-professoras, Élia Pereira de Almeida e Margarida Lélis, o professor Gião Marques, seu antigo aluno em Évora e posteriormente seu colega aqui na escola, e alguns dos seus antigos alunos como Henrique Garcia, Luís Marinho, Esbela da Fonseca, Luís Valente Rosa, José Dias Ferreira, Ricardo Sá Fernandes, Laurinda Rodrigues, Nuno Júdice. Diogo Dória leu sobretudo fragmentos da ficção e José Luís Vasconcellos três trechos extraídos de uma monografia elaborada em Janeiro de 2009.

Claro que a melhor maneira de lembrar Vergílio Ferreira é continuar a ler a sua obra, é estudá-la, é divulgá-la, é completá-la com textos esgotados, publicando inéditos ou construindo uma biografia digna da sua grandeza como escritor e pensador, com o máximo da bibliografia activa e passiva. A propósito: o que é feito da sua correspondência, dele e para ele? Quando é que se conhece a totalidade da sua biblioteca, dos livros que comprou e dos que lhe foram dedicados e oferecidos? Tarefas que é necessário realizar…

Prof. José Luís Vasconcellos (O A. não segue o AO de 1990)

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Confluências CAPRICHOS DO DESTINO &...

Lição de sapiência Caprichoso, como só ele sabe ser, quer o destino umas vezes uma coisa, outras vezes quer outra. Quis o destino que dois homens, nascidos no mesmo ano, precisamente há um século, viessem a ser professores no mesmo estabelecimento de ensino (o Lyceu Camões), se tornassem ambos escritores e amigos, acabando por se desamigar em consequência de convicções políticas e estéticas díspares, de que resultaram conceções do humano divergentes, uma mais escorada num individualismo existencialista de cariz mais metafísico (Vergílio Ferreira), outra mais enraizada na ideia do humano que apenas se cumpre integralmente na terrena teia dos laços que estabelece com os outros.

Foi isto e muito mais que o destino me propor-

A lição de Fernando Rosas Na Escola (Liceu Camões) que testemunhou a ascensão e a queda do fascismo, e que foi durante muito tempo um dos pilares do Estado Novo, mesmo que no seu seio despontasse e crescesse a oposição ao regime ou que das suas janelas Humberto Delgado tenha ousado desafiar Oliveira Salazar, Fernando Rosas proferiu, esta manhã [4 de março], uma lição soberba, em termos de explicação dos fatores que, após a primeira Grande Guerra, levaram ao poder, na periferia da Europa, sem esquecer a humilhada Alemanha, o fascismo (e o nazismo) que, em nome da Nação, tudo fez para destruir definitivamente os avanços civilizacionais resultantes da Revolução Francesa...

Fernando Rosas mostrou que o fascismo conseguiu atrair simultaneamente as elites conservadoras e empresariais, e todos aqueles que se viram reduzidos a uma vida precária e sem hori-

cionou ouvir, hoje, no salão nobre da Biblioteca da Escola Secundária de Camões. E o que pude ouvir, da boca de Maria Alzira Seixo (na foto ao lado), foi mais do que uma lição de sapiência. Foi uma autêntica lição de vida e simultaneamente uma dádiva, porque não há outra lição mais importante que a literatura nos possa dar, ao nos convidar para a companhia dos escritores, esses mediadores da vida mesma que, em palavras, se soube transcender a si própria e acrescentar significado ao mundo. Entre a assistência estava Mário de Carvalho, ouvinte também aprisionado pela magia das palavras da conferencista, a quem, no final, foi dada a voz para acrescentar, de sua lavra, uns breves apontamentos, contribuindo igualmente para que as nossas vidas se tornassem mais ricas. Bem hajam!

Prof. José Carlos Madureira (texto publicado no facebook do autor, no dia da Conferência, e por ele gentilmente cedido)

zontes pela guerra, pela incompetência dos partidos de inspiração liberal e pelo crash da Bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro de 1929.

A síntese que Fernando Rosas fez em 90 minutos foi certamente estimulante para quem gosta de conhecer o passado; no entanto, o mais importante da lição residiu no tom pedagógico com que procurou que o auditório entendesse que hoje, na Europa, sobretudo nas suas periferias, estamos a ressuscitar os fanatismos, os extremismos e as soluções do passado... (...)

Uma das razões que justificam a reabilitação do Liceu Camões é precisamente porque, para o bem e para o mal, ele é uma testemunha fundamental de mais de 100 anos, cujo memorial não deverá esquecer os diversos contributos que Fernando Rosas lhe tem dado.

Prof. Manuel C. Gomes [http://cabeleiragomes.blogspot.pt/2016/03/a-licao-de-fernandorosas.html?spref=fb]

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Confluências A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA A literatura na nossa vida Na quinta-feira passada, veio à nossa escola Maria Alzira Seixo, professora catedrática da Faculdade de Letras. Confessou o enorme prazer de ter convivido com alguns dos maiores escritores da Literatura Portuguesa do século XX, de quem estudou afincadamente as suas obras. Mostrou ser alguém que tem um verdadeiro amor pela literatura – que tenta transmitir a quem por si passa.

A conferência realizou-se com o objetivo de celebrar o centenário de dois grandes escritores portugueses, Virgílio Ferreira e Mário Dionísio, que foram, também, professores na nossa escola.

A Professora não se limitou a falar apenas da escrita singular destes homens, pois através da memória deu forma às suas personalidades e vidas, que nos eram desconhecidas.

Após uma breve introdução, começou por enunciar várias obras como: A Aparição, A Manhã Submersa e a Carta ao Futuro de Vergílio Ferreira, mas também Não há morte nem princípio e Poesia Incompleta de Mário Dionísio. Fez-se acompanhar de edições antigas destas obras, colocando-as em cima da mesa.

Foi apaixonante entender a diferença entre estas personalidades que, embora tivessem sido amigos, acabaram por se desentender até ao resto das suas vidas, talvez por serem tão diferentes…

Vergílio Ferreira era profundamente existencialista, fechado, discreto, contudo um verdadeiro „humorista‟ com uma posição política bastante

assertiva. Na verdade, este escritor, por mais que abordasse questões complicadas em relação à vida, revelava inseguranças e comportamentos mesquinhos como todos nós. Para provar esta humanidade de Vergílio Ferreira e desmentir a ideia de frieza e de racionalidade existencialista, a Professora Maria Alzira relembrou algumas situações caricatas passadas com ele, como quando, por exemplo, foram ambos à URSS e viu nele o medo e o pavor que sentia pelos comunistas, ou, ainda, as conversas interessantíssimas em que ele salientava o interesse pela vida dos outros escritores, em jeito de competição.

Por outro lado, Mário Dionísio, um verdadeiro professor, visto como metódico, genial na construção do verso, perfeccionista e realista. Tratou-se mais da sua personalidade enquanto professor e escritor, do que da sua pessoa, porque tinha sido apenas professor da professora Maria Alzira e também, por coincidência, de um espectador, escritor Mário de Carvalho. Este e a Professora Maria Alzira expuseram as memórias das aulas dadas por Mário Dionísio.

A conferência completou-se com a leitura de dois belíssimos poemas de Mário Dionísio, um sobre a solidão, e outro dirigido a nós, estudantes, sobre o sentimento que domina um professor que vai envelhecendo junto dos mais jovens de diferentes gerações.

Assim, e uma vez mais, foi possível reconhecer a importância e o valor da Literatura na nossa vida, mas também da vida, por momentos, destes autores, apenas pelo avivar da memória.

Leonor Tavares, 12º L

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Confluências

NOT JUST NUMBERS – MAIS DO QUE NÚMEROS 2 de março de 2016 O Auditório da Escola Secundária de Camões foi palco para a apresentação de um projeto promovido pela Direção-Geral da Educação, Alto Comissariado para as Migrações e OIM Lisboa.

Nesta sessão, que contou com a abertura e encerramento oficiais dos, respetivamente, MinistroAdjunto, Eduardo Cabrita, e Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, foi feita a referida apresentação pública do projeto “Beyond Not Just Numbers – Mais do Que Números” e explicada a preocupação havida na elaboração de vários materiais de cariz didático, adaptados ao contexto português, destinados fundamentalmente à sensibilização de alunos dos

ensinos básico e secundário para a p roblemática da migração e dos refugiados.

José Vítor Pedroso, do Alto Comissário para as Migrações, Pedro Calado, da Presidente da Dire-

Na segunda parte da sessão, houve lugar a um Debate, moderado pela jornalista Rita Garcia, com a participação do DiretorGeral da Educação,

ção do Conselho Português para os Refugiados, Teresa Titto de Morais, e do Coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, Rui

Marques.

Um debate conciso mas esclarecedor cuja tónica foi colocada sobretudo na urgência da tolerância e da solidariedade, na necessidade de «fazer acordar a sociedade e a juventude» para o drama de quantos abandonam um cenário de guerra em busca de um espaço onde possam encontrar um lar e a felicidade que deixaram atrás de si.

Apelo igualmente sublinhado pelo Ministro da Educação, para quem não pode continuar a haver um «nós» e um «eles», porque somos todos «Nós».

Alguns dos trabalhos de Artes (11º F) expostos no átrio da Biblioteca, um espaço de renovadas exposições que ao longo do ano dão visibilidade a trabalhos de alunos ou a pesquisa temática.

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt

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BE/CRE http://esccamoes.blogspot.com/

Confluências

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ATIVIDADES QUE VÃO CATIVANDO OLHARES E INTERESSES NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES (O PROFESSOR LINO DAS NEVES REGISTA A MAIOR PARTE DELAS)

APOSENTAÇÕES Maria Antónia Costa (Prof. de Física e Química) Carminda Pimenta (Assistente. Técnica) Maria Helena Magalhães (Assistente Operacional)

A Escola Secundária de Camões agradece reconhecidamente o trabalho prestado e deseja a todas um futuro longo e Feliz.

A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Com o generoso apoio do

Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal