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B OL E T I M E SC OL A R

Confluências

Confluências

(2ª Série) maio-junho 2015

P e l o Te j o v a i - s e p a r a o m u n d o

BONS EXAMES E...

BOAS FÉRIAS!

X EDIÇÃO CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES EUGÈNE IONESCO UMA ADAPTAÇÃO DO GTESC (GRUPO DE TEATRO DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES)

UMA PARCERIA COM O I. H. C. DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

Nesta edição:

Scriptomanias “Veni, Vidi, Vici” X Conc. Lit. Camões Ist. Camões Creative...

Aberturas Um Encontro Um Colóquio Em Aventura Breves

Envio de trabalhos para: confluencias@escamoes.pt

pp. 2-5 pp. 6-7 pp. 8-12 p. 12 p. 13 p. 14 p. 14 p. 15 p. 16

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Confluências SCRIPTOMANIAS As metáforas Amar sem metáforas é acariciar um rosto e perder o desconforto na mão; é fugir à dor e permanecer no superficial, perder a força do ser enquanto a falsa noção te consome. Amar com metáforas implica temer o que mais desejas, ter poder quando passeias os teus dedos na pele do outro, quando traças um começo e um fim entre os sinais da idade, nas estrias da vida, nas rugas do saber.

Já dizia Camilo Castelo Branco ‘’O silêncio é uma confissão’’. Já dizia José Luís Peixoto, que não se limitou a descrever uma lareira como algo quente e vivo, mas como chamas que se agitam nas suas danças femininas. E Fernando Pessoa que embarcou numa viagem de significados vários, afirmando que quando

um poeta escreve, é um exagero do que sente, pois “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente. / Que chega a fingir que é dor. / A dor que deveras sente.’’. São estas palavras íntimas, que grandes génios substituem pelas expressões patentes e fatigantes utilizadas pelo homem do senso comum.

Camões, grande homem, outrora disse ‘’Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê.’’. E perguntam ‘’Para quê as metáforas?’’, e eu respondo: são a única coisa que escapa à compreensão humana, sobrevoa a cabeça dos poetas e se esconde no rio que atravessa o conhecimento do mundo, da beleza das línguas, da explicação científica, do brilho do teu olhar quando as percebes e nelas te revês.

Catarina Carvalho, 10º E

ESTE ESPAÇO É TEU! APROVEITA-O PARA DAR LARGAS À IMAGINAÇÃO (COLABORA COM TEXTOS CRIATIVOS, DESENHOS, FOTOGRAFIAS, RECENSÕES DE LIVROS E DE FILMES…) Não sei o que sentir Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Não sei escrever o que sinto tão difícil exprimir o que sinto por palavras palavras, frases sufocadas no meu pensamento que não consigo transmitir para o branco do papel uma vontade inexplicável de mudar esta nuvem nuvem cinzenta que paira sobre todos os meus profundos eus e que atormenta o meu coração em sofrimento nuvem suicida que me inferniza e mata…

Micaela Ribeiro, 12º E

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Confluências SCRIPTOMANIAS Arquiteto de fechada, sabendo ele quem estava do outro lado.

O seu vizinho da frente, encontrando-me uma vez mundos e ali à espera, olhou-me melancolicamente e disse histórias “não vale a pena, ele nunca sai, nem nunca deixa Ainda me recordo daquela folha vazia, há tanto ninguém entrar”. Perguntei a mim própria como é tempo atrás. A primeira que ele encheu com as suas que tal isolamento podia ter acontecido, qual seria o ideias brilhantes e a sua imaginação infindável. seu porquê. Afastou-se do mundo e afastou o mundo Lembro-me daquela frase, daquele incentivo que de si. Tornou-se ele próprio uma personagem, lhe dei e que originou tudo o que ele arquitetou vivendo nos seus livros, mas nunca vivendo realmente. para a sua própria vida.

Foi tão simples, aquele início. “Devias escrever Talvez ele fosse demasiado brilhante, e este munisso”, foi tudo o que eu lhe disse, deparando-me com do constituísse para ele um castigo, decidindo assim a criatividade que me mostrava dia após dia, quan- criar o seu próprio. Havia quem lhe chamasse louco, do brincávamos juntos no meu jardim. Estendi-lhe havia quem lhe chamasse génio. E eu não sabia. uma folha em branco, manchada de aguarelas no Tentei enviar-lhe cartas, mas não obtive resposta. rodapé, e ele aceitou-a suavemente. No dia seguin- Contactei a editora, mas foi em vão. Apareci todos te, correu na minha direção com a mesma folha os dias à sua porta, mas os meus olhos nunca viram entre os seus dedos, desta vez completamente mais que o seu tapete de entrada. Ponderei desistir, mas não consegui. Talvez por me sentir responsável preenchida.

E foi tudo o que bastou. Àquela primeira página por todo aquele isolamento, por ter sido eu a guiá-lo seguiram-se muitas mais. Não tardou o nosso afas- à escuridão. tamento, talvez por sermos demasiado diferentes, Um dia, ultrapassei o medo e revelei-lhe a minha demasiado crescidos para manter uma amizade que identidade. As teclas cessaram por uns momentos, se baseava em gargalhadas infantis e histórias com aumentando a minha esperança, mas fui ingénua. miniaturas. Mas mesmo nessa altura, lia os seus Não tardou a ser recuperada a sonoridade habitual, artigos no jornal da escola, e observava o seu entu- e acabei por me afastar, as lágrimas caindo a camisiasmo no corredor, com o seu caderno aberto e o nho de casa.

Quando recuperei a compostura e voltei ao seu lápis a dançar entre os seus dedos. forte, a porta estava aberta, mas a melodia habitual Passaram-se mais uns anos até a escrita se apoderar da sua vida. Deixei de o ver, mas o seu nome vivia agora apenas na minha memória. Dei um pasperseguia-me por todo o lado. Livros publicados, so, apreensivo, rumo ao seu ninho secreto, e a visão poemas declamados, prémios literários… Questio- foi avassaladora. O minúsculo apartamento estava nava-me se alguma vez, na sua escrita, ele se lem- completamente vazio, exceto uma moldura torta na braria daquela primeira página. Talvez ele estives- parede. A derradeira mensagem que deixou para se tão perto do sol, que, olhando para baixo, lhe fos- mim, antes do seu desaparecimento. Na parede caiada estava aquela primeira folha que marcou o se impossível observar a vida sob as nuvens.

Sempre deduzi que ele se tivesse mudado para início de tudo, partilhando a modesta moldura com uma cidade maior, mais importante, com maior uma fotografia nossa em crianças. contacto com a sua editora, mas afinal esteve aqui Afinal, ele sempre se lembrava daquele começo, a este tempo todo. No único sitio onde nunca ninguém última memória a que se agarrava, e mesmo isso decidiu deixar para trás, marcando a sua total o pensou encontrar.

Descobri finalmente a sua morada, e fiz várias ausência. Se a nossa vida fosse um livro, então viagens ao seu casulo, aquele apartamento minús- aquela página manchada era o seu início e o seu culo a que chamava lar, mas ele nunca me abriu a fim. Reconheci-o, finalmente, por aquilo que ele porta. Encostando o meu ouvido à fechadura, ouvi o aspirava ser, o protagonista do seu próprio mistéinfinito matraquear das teclas de uma máquina de rio. À saída, fechei a porta do seu apartamento, com escrever, e a calma música clássica a transportá-lo a moldura na mão, consciente de que fechava tampara outros mundos que não este que recusou. Nun- bém a porta da nossa história. Afinal de contas, é ca se deu ao trabalho de vir espreitar o olho da por- escusado procurar quem não quer se encontrado. ta, e talvez isso seja melhor. Não consigo imaginar Ana Carolina Correia, 10º E a dor que me teria causado se a porta se mantivesse

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Confluências SCRIPTOMANIAS Os doces anos (parte III) As montanhas estavam sempre apinhadas de turistas durante o Natal, pessoas que vinham de países quentes e distantes e que ansiavam testemunhar a pura beleza das paisagens da serra. Por todo o lado se viam famílias, com os seus casacos coloridos, as suas máquinas fotográficas e os seus sorrisos genuínos. Ao princípio ficava sempre muito contente ao observar tantos viajantes que, tal como eu, compreendiam a beleza das minhas montanhas, mas, por outro lado, não podia deixar de sentir que estes viajantes estavam a ocupar os meus lugares secretos como estranhos que invadem a nossa própria casa, por isso várias vezes tentava encontrar uma clareira onde apenas se ouvisse o vento e o cantarolar dos pássaros e onde não houvesse famílias com casacos coloridos ou máquinas fotográficas ou sorrisos genuínos!

Chegara a véspera de Natal, a claridade matinal preenchia o pequeno sótão e eu estava deitada na cama de ferro velho, coberta com cobertores e mantas para combater o frio seco da manhã. As pequenas partículas de poeira eram visíveis nas estreitas faixas de luz que iluminavam a madeira escura e os móveis antigos e os meus cabelos ondulados também brilhavam alegremente. Levantei-me com calma e, como fazia todas as manhãs, caminhei em direção à janelinha e observei as paisagens pálidas que se estendiam ao sol. Deslizei rapidamente pelas escadas em direção à cozinha. A minha mãe, junto da janela, ocupava-se com os preparativos da ceia enquanto os meus irmãos faziam o possível para a ajudar, na esperança de mais tarde poderem saborear os doces natalícios…

Como era costume, a minha fun-

ção era apanhar o musgo ainda fresco para o presépio, por isso saí de casa o mais depressa possível em direção aos bosques junto ao lago cintilante. Mais uma vez, as famílias sorridentes acumulavam-se em redor dos pinheiros brancos e as crianças divertiam-se a lançar bolas de neve umas às outras. Foi junto ao lago gelado que encontrei o António, que, com muito esforço, tentava impedir os mais pequenos de se aproximarem das margens, pois apesar de belas ocultavam perigos escondidos. Para ele, observar a serra salpicada de casacos coloridos era algo que o fazia incrivelmente feliz, sentia-se menos isolado e mais útil. Partimos os dois em busca do musgo macio, caminhando cautelosamente pela floresta pintada delicadamente de branco. Já passava da hora do almoço quando regressei à casa de pedra, aquecida pelo fogo que crepitava na lareira fumegante.

O meu pai já me esperava à porta, impaciente, pois o sol tinha desaparecido por completo e as nuvens adensavam-se lentamente preparando mais um temporal cruel….

Pouco antes das seis da tarde chegavam alguns vizinhos que tinham por hábito passar lá em casa a noite de Natal e, embora o espaço fosse ligeiramente apertado, era sempre muito acolhedor e a noite tornavase muito mais alegre! Um cheirinho a bacalhau e couves espalhava-se pelo corredor enquanto as mulheres acabavam de arranjar a massa para as filhoses, que ficava a levedar durante o jantar. Os mais velhos saboreavam a refeição, conversavam exaltadamente ao mesmo tempo que agradeciam a sorte que tinham por ter uma ceia tão maravilhosa, mas eu e o resto dos cachopos esperávamos o mais pacientemente possível o fim da refeição, altura em que se fritavam as deliciosas filhoses que todos adorávamos e que só eram feitas nesta altura do ano. Assim, depois de todos

terem terminado, sentávamo-nos em redor do fogo, e enquanto uns esticavam a massa com movimentos enérgicos e repetitivos outros fritavam as finas tiras de bolo em azeite, numa grande panela na lareira.

Canções eram cantadas e histórias partilhadas naqueles momentos tão simples e que seriam recordados para sempre nos nossos corações…

Depois das filhoses havia ainda a missa do galo, celebrada à meianoite. Confrontando o frio e o vento gélido, seguíamos com muito esforço os trilhos escorregadios e pouco iluminados, e ao chegarmos à pequena capela fazíamos os possíveis para encontrar um ou outro lugar vazio para os pequenos se sentarem.

Como já era costume, eu ficava de pé com o António e passávamos o tempo todo na conversa, sendo que todos os anos éramos repreendidos pelo próprio padre depois da missa, o que já era quase uma tradição natalícia…

No dia seguinte acordávamos muito cedo, pois era de manhã que tínhamos a sorte de receber as nossas muito esperadas prendas. Na altura, o Natal não era o que é hoje, não era materialista, e as crianças não faziam listas compridas dos brinquedos que desejavam. As nossas preciosas prendas eram na verdade laranjas e figos secos! Uma laranja e alguns figos para cada um! Estes frutos não era cultivados na região, por isso eram algo muito valioso para nós. Para a maior parte das crianças de hoje receber uma laranja é completamente absurdo, mas para mim e para os meus irmãos era algo único e simplesmente delicioso! E assim íamos nós, caminhando pela espessa camada de neve ainda fresca, segurando com todo o cuidado as nossas laranjas e desejando um feliz Natal a todas as famílias sorridentes de casacos coloridos.

Beatriz Santos, 10º C

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Confluências SCRIPTOMANIAS Um Passeio a Sintra No dia 10 de abril de 2015 alunos e professores da Escola Secundária de Camões realizaram uma visita de estudo no âmbito de duas disciplinas, Biologia e Geologia e Português, tendo como principais objetivos a observação de fenómenos geológicos e, a reprodução do caminho até Seteais feito por Carlos da Maia, Cruges e Alencar, personagens de Os Maias.

Apesar das paragens na Lagoa Azul, na Praia do Guincho e na Boca do Inferno terem despertado o meu interesse, foi, na verdade, a ida a Sintra aquilo de que mais gostei, por isso este texto abordará apenas o nosso passeio neste local.

Recordo-me do momento em que atravessámos o arco do Ramalhão, sobretudo por sentir que aquela era a verdadeira entrada na Vila de Sintra. Assim, pude observar através do vidro do autocarro o que Carlos e Cruges haviam observado muitos anos antes, no seu break, as mesmas " verduras na estrada" e a " lenta e embalada sussurração de ramagens", embora as condições climatéricas divergissem pois no romance, naquele dia, o sol brilhava e no dia 10 de abril chovia um pouco.

Ao longo do dia continuámos a percorrer as ruas de Sintra, onde circulavam inúmeros turistas, também em semelhança com a Sintra retratada em Os Maias, atraente para artistas e aristocratas estrangeiros.

Porém, os veículos utilizados opunham-se completamente aos de outrora.

Parámos, não durante muito tempo, no Hotel Nunes e lendo uma citação da obra acerca deste local, lembreime, inevitavelmente, de um episódio bastante cómico protagonizado por duas espanholas, Palma e Eusebiozinho, tendo ainda uma breve intervenção de Carlos e de Cruges. No entanto, revelou-se mais agradável a paragem seguinte, defronte do Hotel da Lawrence que quase todos fotografaram, possivelmente imaginando os pensamentos de Carlos, ali mesmo, centrados na

Como pausar a realidade Livros. Uma infinidade de conhecimento e emoções. Não há forma de expressar o significado dos livros, pois cada livro tem um significado diferente, e aqueles que realmente tocam na tua alma e te fazem envolver numa relação inexplicável com as personagens, esses… Esses são muitas vezes mais que melhores amigos, são uma terapia, uma forma de escapar da realidade e do mundo que conheces, uma forma de te

mulher que o atraíra a Sintra, lugar inspirador e ao mesmo tempo romântico, talvez pelos seus monumentos, pelo domínio da verdura ou pelo seu clima especial.

Já a caminho de Seteais, a chuva intensificou-se, o que dificultou ligeiramente o nosso percurso, mas não perdemos o ânimo. Não parámos muitas vezes, somente para fotografar este ou aquele sítio especial, por exemplo, o Palácio da Regaleira ou Palácio do Monteiro dos Milhões que tal como toda a região em que se inseria, aparentava ser misterioso e belo.

Quando finalmente atingimos o centro de Seteais, senti-me feliz por ter cumprido aquele objetivo. O arco de grandes dimensões, com um escudo de armas abriunos as portas para um terraço a partir do qual se conseguia ver a bonita paisagem do vale de Sintra. Do lado oposto poderíamos ter conseguido encontrar, no alto, o famoso Palácio da Pena, porém naquela altura estava o alto coberto de nuvens pelo que vimos apenas a vegetação, típica de toda a serra de Sintra. E de uma forma diferente de Cruges que ali se havia embasbacado, apreciámos, igualmente, o meio envolvente, porque de facto, " no vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava (...) um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como uma bela lenda de cavalaria e amor". Penso que, caso tivéssemos o talento de Alencar para a poesia, teríamos sido capazes de escrever um belo poema perante o que víamos.

No regresso ao centro da vila voltámos a encarar a imensidão verde e, não nos esquecemos das queijadas, em parte por tanto termos ouvido Cruges repetir aquelas palavras, e em parte porque durante todo aquele passeio as personagens caminharam ao nosso lado.

Concluindo, pela realização desta visita de estudo, percebi o porquê de Sintra ser fonte de inspiração dos artistas, além de que compreendi as razões que a tornam Património da Humanidade, daí que a sua preservação seja essencial.

perderes, de te entregares às palavras e dançares com elas durante horas seguidas ao som da doce melodia que é ler.

Em muitos deles aprendes o significado da vida, a nível físico e psicológico, aprendes o porquê de existirmos e o que faz do homem um Homem. Eles são cultura, são aprendizagem, são uma forma de formação completamente diferente de todas as outras, contudo a melhor.

Eles consomem-nos, enlouquecem-nos e, ao contrário do que muita gente pen-

Mariana Vieira, 11º A sa, não são perdas de tempo, mas sim uma forma de ganhar anos de conhecimento em escassas horas, uma maneira de viveres centenas de vidas enquanto fazes uma pequena pausa na tua, são a melhor maneira de te perderes enquanto te encontras.

Livros não são apenas meras folhas de papel, são uma forma de vida, uma forma de vida solitária talvez… mas mágica, e, mais que tudo, viciante.

Mariana Mota, 10º C

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Confluências “VENI, VIDI, VICI” Palestra Alunos de Latim invadem a Biblioteca de “A leitura na Antiguidade Letras Greco-Romana” No dia 24 de abril de 2015, Durante a Semana da Leitura, mais precisamente no dia 19 de março de 2015, pelas 10h00, realizou-se, na Escola Secundária de Camões, a Palestra “A leitura na Antiguidade Greco-Romana”. o evento decorreu numa sala repleta de alunos ávidos de saber e contou com a participação de duas docentes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa: a Professora Doutora Leonor Santa Bárbara e a Professora Doutora Maria Rosário Santos.

Na primeira parte da Palestra, destacou-se essencialmente a figura do “aedo” (poeta que cantava os feitos heroicos) na Grécia Antiga. Na segunda parte, foram dados a conhecer alguns dos materiais de escrita utilizados pelos romanos, a importância das bibliotecas públicas e privadas e as “recitationes” (leituras públicas), na Roma Antiga.

Os objetivos desta Palestra passavam por realçar que o gosto pela leitura é um legado dos nossos antepassados Gregos e Romanos e, concomitantemente, despertar o interesse dos alunos pelas Literaturas Grega e Latina.

“Aspectos Clássicos na Literatura Portuguesa” No dia 8 de abril, pelas 11:45H, teve lugar na Biblioteca da Escola Secundária de Camões a Palestra “Aspectos Clássicos na Literatura Portuguesa”, proferida pela Prof.ª Doutora Leonor Santa Bárbara da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Ao longo de cerca de uma hora, o numeroso público presente pôde descobrir relações temáticas e intertextuais entre Camões, António Ferreira, Eça de Queirós e Ricardo Reis e alguns dos mais relevantes autores gregos antigos, como, Homero, Teócrito e Epicuro.

A Palestra possibilitou aos alunos o alargamento dos seus conhecimentos literários, sensibilizando-os para a importância da matriz clássica no âmbito literário e cultural dos cidadãos.

“A Temática da Viagem em Roma” No dia 30 de abril, recebemos a Prof.ª Doutora Rosário Laureano Santos, da Faculdade de Ciências Sociais e

das 15.30h às 17.00h, alunos e professores de Latim fizeram uma visita de estudo à Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). A Dr.ª Isabel Rebolho, bibliotecária da FLUL, conduziu os alunos de Latim do 11º L e os docentes que os acompanharam através de algumas seções da biblioteca. Na sala de Formação, deu a conhecer o Catálogo SIBUL (Sistema Integrado das Bibliotecas da Universidade de Lisboa) e a Biblioteca Digital. No depósito, os presentes tiveram oportunidade de contactar com obras antigas e verificar o tratamento documental que se faz. Por fim percorreram a sala de Leitura, centrando a sua atenção na área dos Estudos Clássicos vendo algumas obras literárias em Latim.

Esta visita de estudo teve o intuito de dar a conhecer a Biblioteca da FLUL, incentivar a frequência do meio, promover a leitura e reforçar o gosto e interesse pela Literatura Latina.

Profª Cláudia Lopes (Núcleo de Estágio de Latim) Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na Biblioteca da Escola Secundária de Camões, por ocasião da Palestra "A temática da Viagem em Roma”.

O público presente, constituído sobretudo por alunos de Latim e professores, ficou a conhecer alguns textos de autores latinos sobre o tema anunciado e diversos aspectos relacionados com as viagens que os Romanos realizavam, tais como os pretextos para as realizar, os destinos favoritos, o tempo que elas demoravam, os meios de transporte utilizados e os perigos que as ensombravam.

Ao longo desta agradável travessia, verdadeiro périplo, foi igualmente abordada a questão da viagem na literatura, esclarecendo -se os seus significados em autores como Cícero, Catulo, Vergílio e Ovídio.

Esta Palestra permitiu aos alunos o aprofundamento de conhecimentos sobre cultura latina, a consolidação de um tópico do programa de estudos do 11.º ano e a sensibilização para a riqueza da história e da cultura romanas, guiados sempre pelo latim.

Profª Leonor Moura (Núcleo de Estágio de Latim)

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Confluências “VENI, VIDI, VICI” Arquivo Nacional da Torre do Tombo Do português antigo ao atual Alunos e professores de Latim do 11.º ano realizaram uma visita de estudo ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no dia 13 de maio.

Esta visita tinha como principal objetivo tomar contacto com algumas das mudanças que o português sofreu ao longo dos séculos, a partir dos textos.

A Dra. Trindade Marques Soalheiro, técnica superior daquele Arquivo Nacional, após as boas vindas, orientou a visita. Partindo da maqueta do edifício, apresentou as principais valências daquele edifício e o seu funcionamento.

O Arquivo Nacional da Torre do Tombo é composto por aproximadamente 35 km de prateleiras com livros. Os livros novos, quando chegam, são levados para câmaras escuras para ali se proceder a verificação e tratamento físico procurando com isto afastar fungos e pragas que tragam evitando ab initio que possam contaminar os diferentes acervos.

Os presentes viram uma edição setecentista de Os Lusíadas, de Luís de Camões, levada a cabo por António Melo, impressor da Casa Real. Curioso foi notar que aquela edição da epopeia camoniana (do ano 1669) apresentava três distintas licenças: a licença de impressão

do Rei, a licença do cabido da Sé e a licença de impressão da Inquisição.

Com curiosidade também os olhos focaram a Carta de doação de um montado de Elvas, escrita em latim medieval e notarial, do ano 1258.

Ainda em latim, foi possível ver a Carta de escambo entre Afonso Henriques e Paio.

Sendo o mais importante património arquivístico português, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo é um local muito interessante que deve ser visitado por todos, pois constitui a casa da memória coletiva de Portugal e do Mundo.

Profª Tânia Figueiredo (Núcleo de Estágio de Latim)

MÉRIDA Visita de estudo interdisciplinar a Mérida No dia 20 de março de 2015, sexta-feira, último dia de aulas do segundo período, quarenta alunos de História da Cultura e das Artes (10.º F e 11.º F) e de Latim A (11.º L), acompanhados de nove professores, visitaram a cidade espanhola de Mérida, antiga Emerita Augusta, capital da província da Lusitânia, nos tempos do Império Romano.

Os participantes tiveram oportunidade de ver identificar algumas manifestações culturais e artísticas da civilização romana em território peninsular e ver in situ os principais monumentos do centro histórico/arqueológico de Mérida: Teatro e Anfiteatro romanos, templo de

Diana e respetivo Pórtico, ruínas do Fórum, Casa de Mitreu.

Muito interessante foi a visita ao Museu Nacional de Arte Romano (MNAR), estrutura que conserva e revela muito do expoente máximo da Romanização da Hispânia, explicado através das centenas de peças recuperadas dos campos arqueológicos de Mérida.

O MNAR é um centro investigador e difusor da cultura romana, palco anual de congressos, colóquios, conferências, cursos, exposições e muitas outras atividades de âmbito nacional e internacional.

Vale a pena ir a Mérida (também) para o visitar, pois é um dos melhores museus mundiais no que à civilização romana diz respeito.

Esta visita de estudo enquadrou-se nos conteúdos e objetivos das duas disciplinas. Para os organizadores, foram cumpridos os objetivos propostos.

Profª Leonor Borralho (fotos) Prof. Mário Martins (texto)

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Confluências X CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES 2014-2015 “Esta 10ª edição do Concurso Literário Camões vem mais uma vez provar que a escola tem cumprido um dos seus objetivos, o de estimular, juntos dos alunos, as capacidades criativas de leitura e de escrita.

Nesta edição, regista-se uma participação assídua e empenhada dos alunos que responderam ao desafio lançado. Acresce o facto de, este ano, o número de textos a concurso ter aumentado em relação a edições anteriores, provando que, como nos diz o poeta, tem valido a pena, porque a “alma” dos alunos tem correspondido.

A todos os seus autores, por igual, a nossa gratidão. Sentimento que tornamos extensivo a quantos, formal ou informalmente, colaboraram e tornaram possível esta iniciativa.”

Lídia Teixeira Teresa Saborida A comissão organizadora (abril 2015)

POESIA — TEXTOS PREMIADOS 1º Prémio Duarte Bénard da Costa  11º L levados numa barcaça rio acima com silêncio olhávamos o crepitar da cidade não era precisa a luz das tochas já tão alto acordavam as chamas iluminavam a nossa subida já tão altas o barqueiro insistia contra o curso das águas o tejo precipitava-se em auxílio à cidade na tentativa de extinguir o fogo e se aquecer as ondas abatiam-se sobre as labaredas como os ramos de um chorão se inclinam à fogueira e estremecem saudávamos os murmúrios do rio conscientes que corriam à fonte da nossa fuga a barcaça atracou e deixámos o barqueiro que roubara as nossas moedas ao fogo e no-las cobrara

súbito descemos pelo solo a uma estrada acampados vimos o barqueiro voltar ir e voltar sempre continuámos a pé na margem percorremos o bulício do rio que cantava o calor das chamas deitámo-nos os rumores subiam o rio amanhecia e subiam ainda contando o reconforto a extinção das labaredas e da cidade pensámo-nos um chorão de ramagens inclinadas sobre a fogueira tacteantes pelo alívio das chamas

(O autor não seguiu o AO de 1990)

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Confluências X CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES 2014-2015 sôfrega vivo eu!

2º Prémio

o Tejo é meu pai e minha musa, desejo outra vez abúlico, agora perene; Eu sou a chuva.

Joana Rato 11º L Quo vadis?

por vezes atravesso o rio sem olhar para trás.

não olho para trás; sei da bonança que me espeé um remorso constante ra abandonar a pátria sem não hesito nunca! sequer decerto novos rostos se afiagradecer gurarão no meu regaço aos solos e quando chegar, venturosa, que outrora fecundaram sedenta,  porque um só rio não partir, escrava do esquecimento, embala a sede incerta – será o dilúvio! Venham marés, torpedos, ergam(o absurdo olvidar de uma manhã em que o Céu se as montanhas! me foge) esconda-se o sol! brilhem os espelhos! o ritmo compassado das marés e os rumos incertos, e que todo o mundo me cante, num coro infame, sempre sempre submisso, e me coroe incertos. rei dos Rios e das Mulheres!

3º Prémio Adriana Jorge  12º E

E olho Mergulho Mais fundo Abismo

E olho E crio Meu mundo Loucura

E olho E sonho Mais alto Sorriso

E olho Navego Meu rio Verdade

E olho Viajo Mais longe Saudade

E olho Meu Tejo Meu sangue Vontade

NA ENTREGA DOS PRÉMIOS ALGUMAS DAS PERSONALIDADES CONVIDADAS

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Confluências X CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES 2014-2015 Menção Honrosa Catarina Letria 12º L

[Exemplo de Littérature Définitionnelle, segundo OuLiPo] Pelo Tejo vai-se para o Mundo Pelo Tejo é-se levado para o conjunto de espaço corpos seres que a vista pode abranger Pelo Tejo é-se arrastado para a reunião das partes que constituem um todo de extensão indefinida porções distintas de matéria aquilo ou aqueles que são e que o órgão visual tem a faculdade de abraçar

CONTO — TEXTOS PREMIADOS 1º Prémio Violeta d’Aguiar – 12º L As velas do Moleiro Havia uma Aldeia pousada num vale, descansando encostada a uma colina verde com os pés mergulhados no Tejo. Não havia nenhuma estrada que ligasse a Aldeia ao mundo, certamente porque nunca ninguém quisera que tal estrada houvesse. Lá, vivia um velho Moleiro, num velho moinho à borda d'água. Este Moleiro, tal como todos os habitantes da Aldeia, nunca quisera de lá sair, certamente porque nenhuma estrada havia.

Um dia, o solarengo céu da Aldeia ensombrou-se. O vento soprou, assobiando por entre as casas, a chuva caiu, escorrendo pelas ruas, indo juntar-se ao rio, a gente correu, escondendo-se uns nas casas, outros na velha igreja, feita de pedra tal que nem vento levanta nem chuva leva. Toda a noite, o troar dos trovões afastou o sono.

Mas a tormenta passou, como sem-

pre passa, e o dia seguinte amanheceu azul. O Moleiro e os outros aldeões abriram as portas da igreja e deixaram-se banhar pelos raios de sol que tudo enxugam. E depois, um a um, dirigiram-se para suas casas. Uma tempestade sempre deixa cicatrizes. Um relâmpago atingira um velho salgueiro, que, gemendo e estalando, fora cair em cima do moinho. As paredes caiadas, por terra, a hélice de madeira, quebrada, as velas brancas, rasgadas. E as páginas dos muitos livros que lá viviam cobriam o chão a toda a volta, um extenso lençol branco de papel. Eram os bens mais preciosos do Moleiro, esses livros, pois estavam povoados de histórias que, desde a infância, lhe povoavam os sonhos, e os eram. O velho olhou em redor e suspirou, numa tristeza discreta e muda de quem sempre viveu em solidão.

Durante algum tempo, ficou a ver correr o rio, sentado nos destroços do seu lar, depois, sem saber bem o que animava os seus gestos, levantou-se e começou a construir uma barca. Com as madeiras partidas fez casco e mastro. Apanhou do

chão cada página de histórias e a todas coseu, fazendo assim as velas que levariam o pequeno navio.

Não partiu logo. Levou o resto do dia a deambular pelas ruas familiares, a acenar, de longe, a rostos conhecidos. Dormiu na igreja. Acordou havia ainda estrelas no céu.

Dirigiu os seus passos para as águas, o luar alumiava-lhe o caminho. Com uma força de que não se sabia capaz, levou a barca para o rio. A corrente logo a empurrou, as primeiras rajadas da manhã encheram as velas feitas de histórias. O Moleiro encheu o peito de ar fresco, lavou-se das hesitações que ainda lhe pesavam, e deixou a retesada corda que segurava deslizar por entre os seus dedos, ficando a vê-la cada vez mais fina e distante a serpentear ao sabor da corrente. Deixava para trás a Aldeia, nada mais conhecia. As casas que eram já pequenas manchas brancas, brilhavam ao longe sob a luz da aurora.

Os que mais cedo despertaram ainda o viram partir, as velas levadas pelo vento e pelo sol, o barco carregado pelo Tejo. (…)

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Confluências X CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES 2014-2015 2º Prémio Margarida Vaz – 12º L O nome do rio Lembro-me perfeitamente, foi numa noite de Verão. Voltava para casa a pé, e tudo à minha volta parecia estranhamente desconcertante. Tinha o equilíbrio alterado, a visão turva, e um vago sentimento de náusea ia crescendo dentro de mim.

Deviam ser aí umas 6h da manhã e, como o metro só abria daí a meia hora, decidira ir a pé. O pessoal ainda me disse «tem cuidado, meu, vê lá se não cais ao rio!», mas eu ignorei-os e afastei-me com uma forte dor de cabeça, enquanto ia pensando «Não devia ter bebido tanto…». Percorria as ruas desertas, vendo a noite a desvanecer-se. Assim caminhava agora de Santos até ao Cais do Sodré, esperando que o ar fresco da noite ajudasse alguma coisa, e fazia a minha própria viagem noturna.

O caminho parecia-me interminável, numa sucessão de calçada e candeeiros foscos e amarelados.

Finalmente, cheguei ao Cais do Sodré e, achando que se parasse já não me levantava, continuei até ao

3º Prémio Violeta d’Aguiar – 12º L Uma breve crónica de Dom Guidovaldo Barroso Passarinho, Fidalgo Português Eis Lisboa, vibrante e garrida à beira-Tejo. Eis uma rua larga, salpicada de gente calcorreante. Eis uma casa apalaçada, de varanda debruçada sobre o rio. Eis um rico quarto de vestir, despoticamente povoado de luxuosa mobília. E eis o nobilíssimo e mui celebrado Dom Guidovaldo Barroso Passarinho, sentado no banquinho florido do toucador de sua mulher, Dona Isaura. Já estava composta a rica vestimenta, já pendia da cinta a espada resplandecente, tão afiada como quando saíra da forja, posto que nunca vira batalha. Chegado a este ponto de aprumo, o fidalgo espreita

Terreiro do Paço. Estava a passar o Cais das Colunas quando as minhas pernas fraquejaram repentinamente. Lá me sentei um pouco nos degraus do cais, mesmo à beira-rio, e para descansar encolhi-me e encostei a cabeça entre os braços. Lembro-me da calma das ondas do rio a baterem na pedra, ruído embalador interrompido esporadicamente pelas vozes de outros que iam também a caminho de casa depois de uma noite de festa. Via ao longe as luzes irrequietas da margem sul e da ponte, mas tudo me parecia invulgarmente deserto e silencioso. Fechei por momentos os olhos, não sei por quanto tempo.

Quando levantei a cabeça, deparei-me com uma figura sentada ao meu lado, do outro lado do cais.

Fiquei surpreendido, dado que até ali me julgava sozinho, e observei com atenção. Era um homenzinho velho, com umas farripas de cabelo totalmente branco desalinhadas no cimo da cabeça, e, pelo que conseguia discernir entre a escuridão, tinha a pele sulcada por profundas rugas e vestia um casaco largo e desbotado de um cinzento azulado. Olhava ora para o céu ora para o rio, e anotava num caderninho algumas palavras. Eu preferia estar sozinho, mas o cansaço e a curiosidade faziam-me ficar junto deste homem. (…)

por cima do ombro, incorrendo no comum erro de olhar em redor numa sala que se sabe vazia para atestar a sua vaziez. E, satisfeito da presente solidão, pega num pequeno pente de marfim, mergulha-o na cera dos caracóis de D. Isaura, com o coreografado à vontade do hábito, e usa-o para pentear o seu cuidadosamente esculpido bigode. Assim começou o dia em que a vida de D. Guidovaldo mudou.

O ano era o de 1494 e o mês era o primeiro. O dia, esse, pareceu banal ao fidalgo. Tão semelhante ao dia anterior, que seria impossível crer que viria a ser tão diferente do dia seguinte. A hora ia alta e a nobre ceia estava servida, aguardando os seus nobres provadores. Mas D. Guidovaldo precisava de ir compor o bigode que, como tantas outras coisas belas, não resistira ao teste do tempo. Quando ia já a sair do quarto, uma brisa convidativa

soprou, chamando-o para a varanda sobranceira ao rio. Vai o fidalgo debruçar-se sobre a balaustrada, para sentir o aroma fresco das águas, doces e salgadas, deste Tejo que, ainda rio, é quase mar, e eis que vê um estranho objeto preso nas sinuosidades da margem. À primeira vista pareceram-lhe duas grandes pedras, no entanto, à medida que os seus olhos se habituavam à escuridão, chegou à tese de que se tratava de dois barris de estranha forma, unidos por uma corda. Antes que pudesse elaborar uma teoria, a insistente corrente afastou os barris, conduzindo-os mais para o centro do rio onde se reuniram. Reparou, de seguida, numa cadeia de objetos semelhantes que escorregavam, quase invisíveis na noite, para a foz. Achando-se testemunha deste bizarro espetáculo, D. Guidovaldo encolheu os ombros e voltou para dentro. (…)

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Confluências X CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES 2014-2015 Menção Honrosa João Lucas  12º F Não havia nada mais que estar ali, sentado de costas para a praça, com um familiar assobio pelos ouvidos. A quente e leve brisa primaveril numa silenciosa harmonia com o cantar dos pardais e o sol, ah, como sabia bem ser banhado pelo sol e ser esticado pela sua sombra pelo chão fora, olhar para o Tejo e ser também banhado pelas visões ondulantes de mares longínquos. Já era costume todas as manhãs pelas 10h espreguiçar-se e abrir a janela para ouvir a cidade e as gaivotas, comer uma torrada e ligar o rádio.

Abrir a porta, descer as escadas e desejar os bons dias à octogenária senhora do andar de baixo. Finalmente, sair para rua e deixar-se entusiasmar por todas as coisas que eram sempre novas, cada vez que as via, todos os dias. O sapateiro que já não tinha sapatos para consertar mas sentava-se num banco à porta da loja sorrindo e falando ora consigo mesmo ora com os seus botões. Passava então pelo snack-bar com o menu do dia repleto de coisas como: "Tipical

portuguese food", "Bacalhau with Natas" ou "Temos Caracóis". A dona Casimira estendia a roupa lá em cima no 5° andar e pingava água das plantas. Tudo acontecia assim mesmo, naturalmente e como devia e tinha acontecido sempre. Já eram 10h 15 por isso apressou o passo quase escorregando na calçada para estender o braço ao 28. Lá entrou atabalhoadamente sorrindo ao condutor e sentou-se mesmo no centro do veículo, junto à janela para poder sentir o vento. Foi tirando da pasta uns textos em que estava a trabalhar mas algo o incomodava, sentia o olhar penetrante de alguma coisa mas não percebia o quê. Nem sequer os turistas japoneses ou os alemães estavam virados para ele. Não, este olhar era mais profundo, diria mesmo que não era humano; mas rapidamente afastou essa ideia com um largo gesto da mão fazendo, agora sim, com que os franceses olhassem para ele. Saiu mais perturbado do que quando havia entrado e pareceu-lhe ouvir qualquer murmúrio, audível apenas para ser distinguido como tal. Apurou a sua audição ao máximo mas a confusão de pessoas distraía-o constantemente. Subitamente, perguntou à pessoa que acabava de passar por ele se tinha ouvido alguma coisa, mas já não foi a tempo. (…)

1st Camões Creative Writing Contest Awards Ceremony The awards Ceremony took place on April, 29 at the Escola Secundária de Camões Auditorium.

The Organizers of the Contest were the English teachers Ângela Lopes and José Mota.

The award ceremony hosts and singers: Rita Pereira and João Figueiredo, 12º B, who sang "Lisboa que amanhece" (by Sérgio Godinho), "Lisboa e o Tejo" (by Mário Rainho and Fontes Rocha) and "Maria Lisboa" (by David Mourão-Ferreira and Alain Oulman). Beautifully!

The Jury: English teachers Ângela Lopes, José Mota and Teresa Almeida The theme: Through the river Tagus into the world The award-winning short story (“The Voyage”) was written by Maria Leonor Palminha Alves, 11º A

The Voyage It was the day of the departure, our families had gathered at the harbor to see us off, we were bouncing off the walls, eager to set sail and barely paid any attention to them, if only we had known that might have been the last time we saw each other... As we disappeared into the horizon the people cheering for us at the harbor left and so did our loved ones, expecting us back in a year.

The trip down the Tagus was full of nostalgia, after all we were leaving behind our hometown, so we talked about all the great moments we had here as kids and the not so good experiences that made us better sailors. But it was also gleeful hour or so, due to our excitement and hopes for the trip.

Our voyage plan was quite simple: sail up the coast of

Portugal, then go along the north coast of Spain and harbour in Bilbao for a couple of weeks in order to resupply and rest. Leave Bilbao and sail through the Bay of Biscay up to France. Then cross the English Channel and arrive at our destination: Brighton.

Things ran smoothly up until Bilbao, favourable winds, plenty to eat and to do. Sailing during the day and anchoring during the night we spent our time between adjusting the nautical equipment, reading and talking.

The satellite phone was only for emergencies and we phoned home every week. We would often be on each other’s throats, no matter how friendly people are, being together for so long in a confined area brings out the worst in everyone. (…)

Alex Fry

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Confluências

Fotos de Lurdes Fernandes

ABERTURAS

O Grupo de Teatro da Escola de José Saramago, e as imagens de situações conSecundária de Camões volta temporâneas de degradação do ser humano) permite iluminar o absurdo exposto por Ionesco. à ribalta!

Na Escola Secundária de Camões, as resistentes À medida que os rinocerontes se têm nome: Maria Clara Melo da Silva e Graça multiplicam, poucos são os Gomes. Sem elas, o GTESC já estaria extinto há homens que resistem! muito. A montante, o rio parece ter estagnado!

Desta vez, a alegoria saiu das Em síntese, a peça denuncia o que está a ocorrer páginas do Rinoceronte (1960) de sob os nossos olhos, portas dentro... De parabéns, Eugène Ionesco (1909-1994), estão todos os que ousaram preparar e levar a numa adaptação e encenação consistentes, com cabo este espetáculo. incidência nas personagens Berénger, Jean e Manuel C. Gomes Daisy. in blogue Caruma, 24/05/2015 O recurso ao intertexto (Ensaio sobre a Cegueira,

19 de maio, Biblioteca (17 horas) Aula aberta de Clássicos da Literatura sobre a peça Macbeth, de Shakespeare, por João de Almeida Flor, professor catedrático (aposentado) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro da Academia das Ciências de Lisboa.

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Confluências UM ENCONTRO Afonso Reis Cabral na Esc. Sec. de Camões Apesar de ainda não ter terminado a leitura do romance O meu Irmão, posso, desde já, assegurar que se trata de uma obra original que não defrauda o leitor porque não cede nem à ciência literária nem à vulgaridade tão em moda.

Esta minha convicção saiu, hoje, reforçada pelo modo autêntico, sincero, como Afonso Reis Cabral se disponibilizou a responder às per-

guntas que lhe foram colocadas sobre a génese, a maturação e a composição do romance.

O autor deixou a ideia de que escrever exige sonho, empenho, indagação, tempo e, sobretudo, reformulação e revisão. Escrever não resulta de inspiração divina, nem deve submeter-se a qualquer exigência de natureza editorial, nem se inscreve num qualquer legado familiar por mais nobre que seja.

(A iniciativa de trazer o escritor à Escola foi da responsabilidade dos professores Maria Teresa Saborida e Mário Martins. Este último leu um excerto do romance gerando condições para que os alunos colocassem algumas perguntas pertinentes. A sessão decorreu na sala 32 e contou com cerca de 50 participantes, entre alunos, professores e dois representantes da editora Leya.)

Manuel C. Gomes (In blogue Caruma, 15/05/2015)

UM COLÓQUIO (folhas A3, a cores), imagens, conteúdos e referências bibliográficas. (na sala grande da Biblioteca) A tudo quanto se ouviu e viu, retornaremos numa O primeiro consistiu nas " his- outra oportunidade. tóricas" sessões ocorridas nas O segundo evento teve lugar na tarde do já referido manhãs de 15 e 22 de Maio pp., dia 15 quando o arquitecto António Caria Mendes nos promovidas pela felicíssima veio palestrar acerca dos Judeus em Portugal − priparceria entre o Instituto de meiro numa perspectiva ideológica (os princípios e História Contemporânea da Universidade Nova de Lisvalores do Judaísmo) e, depois, quanto à evolução hisboa (Profª Fernanda Rollo e seus colaboradores) e o tórico-social e presença arqueológica do "Povo de Departamento de História da nossa Escola (Profª CecíNação" em território português − as Sinagogas. lia Cunha e seus alunos), durante as quais foram apreConsiderando que o conferencista é não só uma persosentados e "questionados" 12 resumos de trabalhos nalidade de vasto e profundo saber religioso/cultural discentes respeitantes a 4 épocas dos séculos 19 e 20 mas também Presidente da Direcção da Associação de portugueses: Amizade Portugal-Israel, penso que − Do Absolutismo à Monarquia Liberal − 3 trabalhos; esta sua generosa colaboração com − Primeira República − 1 trabalho; a Escola deveria prosseguir no pró− Estado Novo − 7 trabalhos; ximo ano lectivo, 2015/16, sob a − Pós-25 de Abril − 1 trabalho. forma de um pequeno ciclo aberto Simultaneamente, estiveram expostos no átrio do 1º não só aos alunos mas também ao andar do edifício outros temas, também investigados pessoal docente. pelos alunos, os quais se destacaram pela sua excelenJosé Luís Vasconcellos te apresentação, normalizada quanto ao formato (O autor não segue a AO 90) DOIS EVENTOS MEMORÁVEIS

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Confluências EM AVENTURA costeira, no âmbito do “Projeto Coastwatch”, fizemos UM PASSEIO À BEIRA MAR PRAIA DAS AVENCAS: UM OLHAR SOBRE o reconhecimento de várias espécies animais e vegetais. Agora é a sua vez de o fazer, porque o impacto A BIODIVERSIDADE O período estival está aí e convida a muitas idas à praia e passeios à beira mar. É o momento de lhe propormos uma ida à praia das Avencas (Parede, litoral de Cascais), mas o melhor é ir em período de maré baixa. O convite está feito, com um duplo objetivo. O primeiro, o que qualquer veraneante gosta de fazer, um mergulho no mar e o descanso no areal. O segundo, deitar um olhar “com olhos de ver” sobre as poças de maré, que se instalam no substrato rochoso da zona intertidal e deleitar-se com a diversidade de espécies marinhas, animas e vegetais. Um verdadeiro santuário de biodiversidade, com interesse para a conservação, mas também para efeito de estudos científicos. A riqueza é tamanha que o setor entre a Praia da Parede e a Praia da Bafureira adquiriu o estatuto legal de “Zona de Interesse Biofísico das Avencas” (ZIBA). É um instrumento de planeamento que se encontra definido no “Plano de Ordenamento da Orla Costeira Cidadela – São Julião da Barra”.

Por outras palavras, é uma classificação com um critério de proteção.

Durante a monitorização ambiental desta unidade

(“Touch Tank” – Centro de Interpretação Ambiental das Avencas

“Touch Tank” – Centro de Interpretação Ambiental das Avencas

visual da paisagem é espantoso. Alertamos para o facto de a circulação de pessoas ser condicionada, para que a perturbação sobre a paisagem e espécies seja minimizada, por isso deverá fazer-se de acordo com as regras estabelecidas, em cartazes informativos existentes no local, e nos trilhos construídos para o efeito. Ser pró-ativo na defesa e promoção de um bom ambiente, seja o ambiente marinho ou de outro tipo, é o dever de cada um de nós, cidadãos informados e esclarecidos.

Mais à frente, depois da Praia da Bafureira, ocorre a Ponta da Pedra do Sal, que, para além de ser um local magnífico para usufruir da paisagem, tem o “Centro de Interpretação Ambiental”. Este conta com equipamentos essenciais para a informação e sensibilização do público para a riqueza em espécies da ZIBA. No interior, encontra um “Touch Tank”, que permite o contacto com alguma fauna e flora existente nas Avencas. Pode tocar nas espécies existentes para obtenção de conhecimentos. É uma ótima experiência para crianças e adultos.

10º N – Curso Técnico de Informática de Gestão

Zona Intertidal Rochosa – poças de maré para observação da fauna e flora

Anémonas Verdes - Grupo de animais sésseis, presos ao substrato por um pé adesivo, com uma coluna que leva a um disco oral. Utilizam os tentáculos para capturar alimentos (pequenos peixes e crustáceos – zooplâncton). Desenvolveram uma adaptação para reduzir a perda de água, recolhendo os tentáculos para o interior do corpo.

Burrié - Molusco gastrópode com uma só concha (univalve) arredondada com riscas largas de cor vermelha. Tem cerca de um centímetro de altura.

Algas Vermelhas – Alga multicelular que cresce junto ao substrato rochoso. As suas dimensões são muito variadas, variando de formas macroscópicas a formas microscópicas filamentosas

Ouriço do mar — Equinoderme que é encontrado frequentemente nos enclaves do intertidal. Embora sejam redondos, têm uma estrutura interna em forma de estrela e são herbívoros, alimentando-se de algas e pequenos invertebrados, que raspam das rochas. Em termos de adaptações ao meio, prendem-se às rochas para não serem arrastados pela força das ondas e correntes.

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE

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Confluências

http://esccamoes.blogspot.com/

ATIVIDADES QUE VÃO CATIVANDO OLHARES E INTERESSES NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES (O PROFESSOR LINO DAS NEVES REGISTA A MAIOR PARTE DELAS)

Uma Iniciativa dos Alunos do Curso Profissional de Serviços Jurídicos.

Uma Iniciativa dos Alunos do 10º N, Curso Profissional Técnico de Informática de Gestão.

(Cartazes cedidos pelo professor António Gabriel  Educação Especial)

B

R

E

V

E

S

(Cartazes cedidos pelo professor António Gabriel  Educação Especial)

www.escamoes.pt A todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal