HISTÓRIAS DE FÉ - A DEVOÇÃO POR MARIA DO CARMO

HISTÓRIAS DE FÉ

A DEVOÇÃO POR MARIA DO CARMO

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série memória São Borja/RS

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Série Memória

Adriana RuschelSão Duval Borja/RS Barbara Moraes e Miro Bacin Iago Zeni Matheus Bernardes São Borja/RS Ale Xerox - São Borja/RS

Série Memória

HISTÓRIAS DE FÉ

A DEVOÇÃO POR MARIA DO CARMO

P386h

Pellenz, Barbara Denise Siqueira Moraes.

Histórias de fé: a devoção por Maria do Carmo / Barbara Denise Siqueira Moraes Pellenz. – São Borja, 2018.

120 p. : il.

BARBARA MORAES

ISBN 1. Fé – RS. 2. Adoração (Religião). 3. Peregrinos e peregrinações. 4. Milagres. 5. Promessas – Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Título.

CDU 248.159 CDD 248.2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Bibliotecária: Raquel Herbcz França – CRB 10/1795)

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As religiþes são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?

Mahatma Gandhi

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Ă€ memĂłria de Maria do Carmo Fagundes.

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SUMÁRIO 11.

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Apresentação Introdução Maria do Carmo, a santa profana O bairro que leva seu nome A Procura de saúde pela fé Orações para os outros Graças de estudo e trabalho Fé e liberdade A conquista do diploma O zelo pelo santuário Devoção em família Vencendo o vício Um nome por uma graça Crença que se mantém Futebol abençoado Maria, benzedeira devota Resignação e alegria Preces por Maria do Carmo Um lar perto dela Análise e conclusões Agradecimentos Referências Crédito das fotos 9

APRESENTAÇÃO

A devoção em santos é tida, por muitos, como uma ponte entre o homem e Deus. A busca pelo Criador, independentemente de credo ou religião, é um movimento de fé que pode de ser empreendido através de diferentes caminhos. O próprio Jesus Cristo teria ensinado: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João, 14:2).

Acreditar em algo superior é uma necessidade que a maioria das pessoas tem, principalmente diante das provações da vida e das questões que o próprio cotidiano vai apresentando. A fé 10

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ajuda a abrir horizontes, fortalecer a esperança, confortar em

está São Borja, localizada na fronteira Oeste do Rio Grande do

momentos difíceis. O encontro da fé com um objeto de devoção não oficialmente santificado é bastante comum no mundo todo, e tem vários casos presentes no Brasil. Pesquisas apontam que é grande a incidência de santos populares, principalmente nos municípios do interior. Espalhados pelo país estão relatos de graças ligados a essas entidades.

Um desses casos é o do Menino da Tábua de Maracaí, interior de São Paulo, que faleceu no ano de 1945, no mesmo dia em que nasceu. Marcelinho teria vindo ao mundo com uma deficiência que o deixou se desenvolver apenas do pescoço para cima, sendo que costumava ficar todo o tempo sobre uma tábua. Faleceu aos 45 anos de idade, em corpo de criança, sempre nu. O culto a sua imagem atrai pessoas de diversos locais para pedir graças e pagar promessas.

Outra entidade cultuada popularmente é Maria Francelina, mais conhecida como Maria Degolada, na capital gaúcha, com propagada fama de milagreira. Ela teria sido assassinada por um amante. Naquele lugar, as pessoas começaram a praticar ritos de fé, ofertando velas. Ali foi também construída uma capela.

Histórias de devoção também são encontradas em cidades gaúchas como São Gabriel, onde se cultua a “Guapa”. Seu nome, Maria Isabel Hornos. Uma mulher que, após sua morte encomendada, se tornou santa popular do município. Os fiéis acreditam que sua bondade, em vida, teria sido preponderante para Deus conceder a ela o dom de continuar ajudando o próximo.

A uma distância de cerca de 330 quilômetros de São Gabriel

Sul, a 600 quilômetros de Porto Alegre. No município, conhecido por diversos apelidos, como “Terra dos Presidentes” e “Capital do Fandango”, uma mulher também teria sido abençoada com dons divinos: Maria do Carmo. Seus pesquisadores fazem referência a ela como tendo sido uma jovem bonita e festeira, brutalmente assassinada em crime passional. O local onde foram encontrados seus restos mortais virou espaço de fé. Primeiro, pela devoção espontânea, praticada por fiéis no espaço por eles assegurado. Depois, não apenas pelos devotos, como também por turistas, quando o túmulo e seu acesso deram ao ambiente status de santuário e ponto turístico.

Em São Borja ainda há outras entidades que dão margem à fé popular, como O Anjinho do Cemitério, que teria sido um bebê nascido morto ou falecido ao nascer, de família abastada, cujo túmulo foi erguido da madrugada para o dia. Sem registros oficiais, a única informação que se tem é a data colocada em sua pequena sepultura: 1922. Os populares passaram a considerar a força de sua “pureza” de alma para a realização de pedidos ligados a bebês e crianças, ofertando, em troca, chupetas, mamadeiras, sapatinhos, roupas, brinquedos, balas, velas e flores.

O que essas figuras têm em comum? Todas estão associadas a poderes conferidos por Deus. Independente da religião, crença ou doutrina que a pessoa segue, o culto a essas entidades é adotado, sem interferir em sua prática espiritual fora do santuário.

Assim, católicos, umbandistas e espíritas, por exemplo, estão entre os fiéis de Maria do Carmo, conforme as pesquisas realizadas.

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São Borja, por fazer fronteira com Santo Tomé, na Argentina, tem ampliada a propagação da fama de milagreira de Maria do Carmo, atraindo devotos do país vizinho. Isso pode ser atestado através das plaquinhas de agradecimentos colocadas junto à sepultura, com referência às cidades de origem das pessoas que ali foram pagar promessa.

E assim, no cotidiano da população, um bairro e a mulher ali tida como santidade recebem visitantes das mais diversas partes.

E guarda mistérios e histórias ligadas a seus supostos poderes de intercessão divina.

INTRODUÇÃO

Mapear a fé em Maria do Carmo, a partir de histórias particulares de devotos, é o principal objetivo deste trabalho.

Prospectar, conhecer e identificar o perfil dos fiéis e os tipos de graças associadas à entidade estão entre as questões que nortearam a pesquisa.

O trabalho de campo envolveu um chamamento à população são-borjense, por meio das redes sociais, a partir do qual foram identificadas algumas fontes devotas, que posteriormente indicaram outras. Por fim, a maioria dos consultados acabaram sen14

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do os próprios moradores do bairro que leva o nome dessa santa

histórica sobre a santa popular Maria do Carmo. Na sequência,

popular. Dessa forma, foi possível compor um grupo de devotos para a investigação pretendida. Diante das questões previamente elaboradas, esses foram entrevistados e seus relatos contribuem para o entendimento da fé em Maria do Carmo na atualidade.

O propósito da presente obra foi, com base no exposto, produzir memória desse diagnóstico, igualmente retomando a história de Maria do Carmo como importante figura pertencente à cultura e à espiritualidade são-borjenses. Para tanto, a pesquisa bibliográfica junto a autores referenciais sobre ela – Apparício Silva Rillo, Fernando O´Donell, Antônio Augusto Fagundes – e outros, bem como a pesquisa documental – certidão de óbito – deram subsídios para se conhecer e compreender a história dessa santa popular.

A produção de memória por intermédio da História Oral, junto às fontes selecionadas, foi imprescindível para a realização do estudo. Propiciou a revelação de um cenário de fé, composto por quinze histórias de vida, que compartilham suas experiências e sentimentos envolvendo demandas que teriam sido atendidas por Maria do Carmo.

Tendo como resultado este livro-reportagem, o conteúdo foi distribuído entre o resgate da história de Maria do Carmo, da história do bairro de mesmo nome e das histórias dos fiéis entrevistados. Nas conclusões, divide-se com o leitor avaliações propiciadas pelos dados levantados, bem como reflexões que remetem ao exercício de fé sob análise.

Desenvolvemos os relatos contando, primeiramente, a síntese

discorremos sobre o bairro que acabou ganhando seu nome, por ter sido local onde ela morreu.

As histórias dos fiéis começam pela de Nara do Nascimento, que teve pedidos atendidos em nome da saúde de sua filha. Depois, a de Terezinha Braga, que nasceu no bairro e foi agraciada com bênção relacionada à saúde de um neto. Clóvis Benevenuto é outro personagem abordado, tendo recorrido à Maria do Carmo para questões de estudo e trabalho.

O quarto nome consultado foi João Pitaluga, que teria sido equivocadamente confundido com um marginal, aprisionado e agredido, e com sua fé conseguiu ser libertado. Um pedido de conquistar o curso superior corresponde a outro relato de fé, revelado por Diogo Belmonte. Histórias de dedicação e retribuição às bênçãos da santa estão na narrativa sobre José Saraiva, que reúne amigos para manter e reparar danos no local.

Este livro também contém a história da família Rathes, contada a partir do casal Rozane e Pedro, com graças relacionadas à saúde. E a de Iloni Lixinski, que superou o vício em cigarro com o amparo da fé. Outro caso prospectado e revelado é a de Neli Barbosa, que pediu pela gravidez e, ao ganhar o bebê, batizou com o nome de Maria do Carmo, em gratidão.

Maria do Horto Fraga é outra história tratada nesta obra, que mostra o testemunho de fé relacionado à cura de uma das filhas.

Os irmãos Emanuelli igualmente estão nos relatos, com forte vinculação entre Maria do Carmo e o esporte, por meio do time de futebol que leva seu nome. Maria de Jesus, uma benzedeira

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tradicional na região, é mais uma personagem presente, e teve pedido para a saúde do compadre atendido pela entidade.

Por fim, Paulinho Ponsi, um dos mais famosos Rei Momos da cidade, tem sua trajetória narrada e conta sobre graças atendidas na área de saúde e estudos. O morador do bairro Pedro Emílio Rocha, vizinho do santuário, igualmente apresenta sua vivência e crença, tendo sido atendido para assuntos diversos, bem como saúde. E Neco, José Ramos , morador das proximidades, é outro fiel que desde pequeno recorre ao amparo da santa, tendo sido atendido no pedido de residir perto do santuário.

Com isso, Histórias de fé: a devoção por Maria do Carmo pretende ser uma contribuição aos estudos sobre cultura popular e religiosidade, na São Borja contemporânea. Enseja investigações futuras que venham a se somar em busca de novas respostas para os questionamentos sobre a vivência da fé na cidade.

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Vamos voltar ao tempo. Especificamente ao dia 27 de

MARIA DO CARMO, A SANTA PROFANA 24

agosto de 1890. O dia em que Maria do Carmo Fagundes teria sido assassinada.

Esse retorno é possível a partir do que conceituados pesquisadores já prospectaram e produziram sobre o assunto. O que aconteceu antes – suas origens, nascimento, e até mesmo a certeza sobre seu ofício – são cogitações.

Contribuições escritas, como as de Apparício Silva Rillo e Fernando O’Donnell, levaram à reconstituição sobre o crime.

Conta-se que, nesse dia, Maria do Carmo se arrumou para uma festa, com a vaidade de sempre. Era uma moça muito bonita, que gostava de aproveitar a vida e não tinha compromisso sério com nenhum homem. Ao final da tal festa, um ímpeto movido por ciúmes teria levado um suposto companheiro ao extremo: tirar sua vida, em um banhado afastado do Centro da cidade.

Degolada com arma branca e esquartejada, suas partes teriam sido espalhadas no local. Três dias após o ocorrido, pessoas dos arredores viram cães devorando seus restos.

Anos se passaram, e o que se sabe sobre Maria do Carmo Fagundes parte de uma certidão de óbito encontrada, em 1976, pelo então oficial de registro civil Reinaldo Welfer – único documento existente em seu nome. Informações foram se somando, a partir de minuciosos trabalhos de resgate oral com populares, a maioria moradores do bairro que leva seu nome. Muitos desses relatos, sob a forma de testemunhos de fé, contribuíram para que ela ganhasse fama de milagreira.

O banhado virou santuário, ganhando uma cruz entre pe25

dras para marcar o local. Aos poucos, mesmo antes de haver

gare, 59 anos. “Meus pais eram moradores daqui, e eu cresci e

rua ali aberta, diversos foram ali fazer pedidos – de todo o tipo, excetuando-se os relacionados ao amor, por ela não ter tido sorte nesse quesito.

Moradores do bairro – que ganhou o nome de Maria do Carmo em 1996 – atestam que o local é sempre visitado e frequentado por pessoas de fora do Brasil, do município e do estado. Muitos consideram que, nos dias atuais, há quem se prive de ir até lá por conta da sensação de insegurança, por ser um local afastado. Mas sempre tem alguém cumprindo promessas, levando alguma oferenda ou cuidando da pintura e da limpeza do túmulo e do terreno.

Uma placa de sinalização e uma roleta foram instaladas, em 1984, na administração de Arneldo Matter, para marcar a abertura da via pública de acesso ao local. De lá para cá, embora a fé e o turismo tenham sido potencializados, esses indicativos não foram preservados, e hoje ali estão em más condições – a roleta não funciona, e ainda por cima dificulta o acesso de pessoas cadeirantes.

Já os restos de Maria do Carmo não se encontram enterrados ali, discorre que foi sepultado no cemitério Jardim da Paz no ano do ocorrido, e hoje em dia perdeu-se entre os outros túmulos.

No local que ocorrem as manifestações de fé, encontramos atualmente apenas uma sepultura construída no ano de 1964 simbolicamente em sua homenagem pelo ex-prefeito Serafim Dorneles Vargas.

Um dos moradores antigos do bairro é o Caetano Daleno-

vivo até hoje no bairro”, relata. Proprietário da Loja Tupi, trabalha confeccionando lápides para túmulos, e já fez algumas sob encomenda dos devotos da Maria do Carmo. “O que eu mais observei é que, em todos esses anos, as iniciais das plaquinhas de agradecimento são quase todas femininas”, comenta.

Outro fato que chama a atenção de Caetano são as curiosidades que estão em torno do túmulo, revelando um fato ocorrido há aproximadamente 40 anos. “Lá onde está Maria do Carmo foram colocados mais uns túmulos de criança. Um daqueles jazigos eu conheço a história”, avisa. “Existia no bairro uma família muito humilde, o Severiano e a Luzia, proprietários de um pequeno comércio de bananas. Luzia deu à luz a uma menina que nasceu prematura, vindo a falecer em seguida. Sem condições de arcar com um sepultamento no cemitério, fizeram um caixão com uma pequena caixa de madeira, e logo enterram a criança junto à sepultura de alusiva à Maria do Carmo. “Acabaram se mudando e nunca mais ninguém soube deles”, afirma Caetano.

Os outros dois túmulos pequenos que ali podem ser vistos, ninguém sabe dizer de quem são ou quem os colocou lá. Também há rumores, entre os moradores, de que o local é procurado por suicidas, embora não se tenha confirmação de mortes que tenham ali ocorrido. Relatos orais referem, ao menos, três ocorrências: uma mulher que ateou fogo no próprio corpo, um homem que se envenenou e outro que se deu um tiro.

Histórias de tragédias e bênçãos são concentradas naquele terreno repleto de mistérios, localizado à Rua Arthur Oscar, pró-

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ximo ao Condomínio Residencial Maria Cristina. A fama de milagreira ainda repercute, dentro e fora de São Borja. Prova disso são os inúmeros bilhetes, plaquinhas e até mesmo escritos feitos a batom que reverenciam as supostas graças alcançadas e reforçam a mística em torno dessa entidade popular.

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A região onde está localizado o bairro Maria do Car-

O BAIRRO QUE LEVA SEU NOME 30

mo originalmente era uma área ocupada por vegetação, com vários pontos caracterizados como banhados. Os primeiros moradores construíram suas casas, simples, abrindo caminhos entre o verde. Todos se conheciam e se ajudavam.

No ano de 1996, o então prefeito, Luiz Carlos Heinze, concedeu ao local o nome de “Bairro Maria do Carmo”, em homenagem à moça que ali morreu e passou a ser cultuada como santa pelos populares. O bairro tem seu início próximo ao Centro da cidade, na Rua Bento Martins, e se estende até a Rua General Osório com a Rua Ernesto Dornelles.

A construção do santuário em homenagem a Maria do Carmo foi feita durante a gestão de Serafim Dornelles Vargas, bem como a configuração turístico-histórica da Fonte de São João Batista, remanescente da época missioneira, localizada na Rua Bompland. Ambos os lugares são considerados espaços para o exercício espiritual: Maria do Carmo, durante todo o ano; e a referida fonte – com a tradicional procissão e ritual nas águas –, no dia do santo, no mês de junho.

Além da fé, a cultura também está evidenciada no bairro Maria do Carmo, onde se situam as residências de grandes nomes ligados ao setor, como Apparício Silva Rillo e José Lewis Bicca, fundadores do Grupo Amador de Arte Os Angüeras, cuja sede – e o museu ergológico associado à entida31

de, o Museu da Estância – igualmente se localiza no bairro.

fiéis. Boa parte do cultivo dessa crença se deve à trans-

O renomado artista plástico Rossini Rodrigues também está relacionado ao local, através de seu atelier à Rua Eddie Freire Nunes, onde empreende suas obras em argila.

Outros nomes de destaque que residiram no Maria do Carmo: o botânico francês Aimé Bompland, que deixou como legado pesquisas, relatos e exemplares vegetais ainda hoje enraizados na região; o sacerdote e historiador francês Cônego João Pedro Gay; o historiador Moacir Sempé; e o ex-prefeito de São Borja Juca Alvarez, entre outras pessoas conhecidas.

Com a proliferação da fama de milagreira, Maria do Carmo começou a atrair para o bairro pessoas de diversas localidades, contribuindo para o desenvolvimento da região. Escola de samba e time de futebol, bem como armazém e farmácia, ganharam o nome dela. Os moradores entrevistados para a presente pesquisa afirmam que se trata de um bairro prazeroso para se viver, onde os vizinhos se ajudam. Muitos deles ali cresceram e guardam reminiscências afetivas bem importantes sobre a sociabilidade local.

O bairro segue crescendo, em número de moradores, sobretudo a partir da construção do condomínio vertical Maria Cristina, criado a partir do Programa Minha Casa, Minha Vida – que levou centenas de pessoas a residirem no local.

O culto a Maria do Carmo permanece e agrega novos

missão oral, ainda hoje constatada, sobre as graças atribuídas à santa popular. Os moradores do bairro costumeiramente fazem menção à história de Maria do Carmo e propagam, através da oralidade, as graças alcançadas, a ela atribuídas.

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A PROCURA DE SAÚDE PELA FÉ 34

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A dona de casa Nara Denise Rosa do Nascimento escutava as pessoas ao seu redor falarem que Maria do Carmo era milagrosa e que atendia pedidos, em especial de mulheres. Ela conheceu sua fama, há 30 anos, através de uma prima que frequentava o túmulo para pedir e cumprir promessas. Sua curiosidade a fez gostar da história e se tornar devota de “do Carmo”, mas a consolidação de sua fé veio quando, em meio a um momento de grande aflição, resolveu fazer a primeira promessa.

Tudo começou quando Nara teve sua primeira filha, Caroline, que nasceu com um problema de saúde. Na época, 23 anos atrás, os médicos não souberam identificar ao certo do que se tratava.

A partir dos 2 anos de idade passou a tomar medicamentos, porém, com eles vieram os efeitos colaterais. Carol apresentava fortes dores de cabeça, cada vez mais intensas. Passou por exames, mas os resultados não conseguiam ser conclusivos.

Foram quatro anos de angústia, ao ver a filha sofrendo e não encontrar formas de ajuda-la. Não segurando as lágrimas, Nara relata esse período como se estivesse revivendo aquele episódio. “Me lembrei que eu podia pedir ajuda para ela”, conta, referindo-se aos poderes atribuídos à Maria do Carmo. “Aí eu fiz a promessa de que, se a Caroline melhorasse, eu iria cortar o cabelo dela e levar a trança, porque a Carol tinha um cabelão comprido”, revela.

Seis meses depois, Caroline submeteu-se a um eletroencefalograma, e com o resultado veio a notícia: suas funções cerebrais estavam normalizadas; não havia mais indícios dos problemas que, durante seis anos, a atormentavam. “Ela realmente é mui-

to milagrosa”, considera Nara. Feliz e agradecida, levou a trança

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dos cabelos de sua menina, como prometido. Desde então sua devoção a Maria do Carmo se consolidou, e Caroline cresceu escutando as histórias da santa popular são-borjense. “Eu sempre contei a ela sobre o que aconteceu”, comenta.

Caroline não se tornou devota, mas a mãe sempre foi grata a Maria do Carmo. “Sempre que posso vou aqui de casa, no bairro do Passo, até o túmulo dela fazer uma visita, levar flores, velas, batom, bebidas e cigarros”, declara Nara.

Em outras vezes Nara também recorreu à ajuda da santa, como para tirar sua carteira de motorista. “Eu não acreditava que ia conseguir, tinha muito medo”, admite. “No dia das provas, fiz tudo certinho, nem sei como consegui, porque estava muito nervosa”, menciona, hoje rindo de tão feliz pela conquista.

Sua devoção por Maria do Carmo é um vínculo espiritual apoiado pelo marido, Jurandir Siqueira, 45 anos, a filha Caroline e o filho Jordano, de 12 anos. Eles são católicos, embora não sejam frequentadores assíduos. A família tem Deus acima de tudo e respeita as outras religiões. “Não tenho preconceito religioso”, complementa Nara.

ORAÇÕES PARA OS OUTROS

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Terezinha Cesarina Braga, 54 anos, sempre morou no bairro

Carmo. “Eles são muito devotos”, declara. “Cultivam o respeito e

Maria do Carmo. Lembra que, quando pequena, ouvia – ao lado de seus sete irmãos – a mãe falar sobre a santa popular do bairro. Por ser muito devota, levava os filhos até o túmulo, para que conhecessem aquele local que ela considerava sagrado. “Sentávamos em volta dela para ouvir as histórias. Tínhamos a curiosidade de saber”, rememora Terezinha.

Na época, o bairro contava com poucos moradores. Ao redor da casa da família de Terezinha, tudo era mato e banhado.

A criançada – parentes e vizinhos – brincavam com liberdade.

“Nós jogávamos futebol, caçávamos vagalumes de noite”, cita. A sabedoria dos mais velhos era respeitada pelos pequenos, assim como o exercício da espiritualidade. “Cresci vendo a mãe pedir para que Maria do Carmo cuidasse da nossa casa e concedesse bênçãos”, recorda.

Em suas lembranças, Terezinha revive os passeios ao santuário. “Íamos lá até como lazer, para brincar. Tínhamos o local como um ponto de encontro”, comenta. Comparando com as condições atuais, Terezinha entende que, hoje em dia, por vezes é perigoso frequentar o lugar. “Há jovens que não respeitam, e a criminalidade aumentou muito. Não nos sentimos mais seguros ali”.

No decorrer de sua vida, Terezinha por diversas vezes pediu a intercessão da santa popular. Passou por dois casamentos e teve um casal de filhos – Tâmara, 33 anos, e Jessé, de 21. “Praticamente criei eles sozinha”, confessa. Seus conhecimentos e crenças ela se preocupou em transmitir aos filhos, como a fé em Maria do

recorrem a ela em busca de realizações”, acrescenta.

Ela e a primogênita já buscaram auxílio junto à entidade para Miguel, neto que hoje tem 13 anos. “Quando ele estava com 11, tinha febres altíssimas, que preocupavam toda a família. Passou por exames, todos sem resultado, e foi encaminhado para o Hospital de Santa Maria”, lembra. Terezinha conta que, quando o neto estava internado, elas se deslocaram ao santuário de Maria do Carmo para pedir ajuda. “Nós pedimos com muita fé e fomos atendidas. Os dias se passaram e Miguel só melhorou. A febre passou, sem que os médicos soubessem o que realmente ele tinha”, relata. Sem demora, a avó e a mãe do menino levaram várias velas em agradecimento a Maria do Carmo.

Terezinha mantém sua fé na entidade, e recorre a ela para que interceda em prol de amigos e familiares. Acredita que não basta ir no santuário e pedir bênçãos para si própria. “Estou sempre pensando a favor dos outros. Se tu me disseres que está com um problema, eu vou acender umas velinhas para ela interceder por ti”, assegura. Ela considera que, independente de religião especifica, é sempre bom ter fé em algo que faça bem. “Sou testemunha de que, com fé, somos atendidos”, conclui.

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GRAÇAS DE ESTUDO E TRABALHO

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Morador do bairro Maria do Carmo desde que nasceu, Cló-

concurso. “Recorri à justiça e pedi para ela interceder naquele

vis Benevenuto, 48 anos, além de educador é um obstinado pesquisador sobre temas de São Borja. A história de Maria do Carmo está entre seus principais estudos, e a devoção à entidade ele exercita desde a adolescência.

Benevenuto cresceu ouvindo, no antigo bar do seu Pizzuti, que ficava ao lado de sua residência, os relatos dos frequentadores sobre a santa, sobre o time de futebol e a escola de samba batizados com o nome de Maria do Carmo. “Minha ligação é tanta, que, nos festivais de música, eu me emocionava ao escutar as letras em homenagem a do Carmo”, confidencia. “Nos meus arquivos tenho todas as letras do festival de músicas, incluindo as que envolvem Maria do Carmo”, comenta, entusiasmado ao revelar o cuidado que têm com os documentos que ajudam a contar boa parte da história da cidade. “No carnaval, na nossa junção em família, uma das primeiras músicas que cantamos é ‘Dia-a- dia’, composta para uma das edições do festival”, frisa. “Maria do Carmo tem sambão; Maria negra já sabia de batucada e candomblé”, entoa, com gosto. E destaca: “Todas as músicas que falam em Maria do Carmo são excelentes”.

No passado, o jovem Clóvis, quando não atingia suas metas na escola, recorria a Maria do Carmo, pedindo ajuda para melhorar as notas. “Ia lá e fazia uma promessa. Depois pagava com cachaça e com velas”, conta. Outras graças ele atribui a ela, todas relacionadas a estudo ou trabalho. Uma das mais significativas teria sido sua intercessão para assegurar-lhe o direito de posse em um cargo público para o qual havia sido aprovado em

momento”, recorda. “Se o pedido for com fé, ela atende”, afirma.

A admiração por Maria do Carmo se expande a outras instâncias de sua vivência no bairro. Nos finais de semana, sai a passear por ali, com os filhos, compartilhando o que conheceu, o que descobriu, o que lhe falaram. “Conto a história do morador mais antigo, mostro os locais e digo o que tinha antes ali, vou situando eles”, resume. A dedicação a homenagens a Maria do Carmo, por parte de quem reside na região, também é mencionada por Benevenuto. “Sempre há moradores limpando, capinando. O pessoal aqui é bem devoto”, considera. “Por mais de uma vez passei por ali e o túmulo estava pintado de uma cor. Na mesma tarde, já tinham colocado outra”, comenta, reforçando o protagonismo dos fiéis quando o assunto é tentar agradar a santa.

O pesquisador considera que há pessoas ainda receosas em assumir a devoção a Maria do Carmo. “Mas ela intervém por todos que a procuram”, crê. Para o futuro, ele planeja reunir documentos, relatos, informações e curiosidades em uma obra sobre a santa profana.

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FÉ E LIBERDADE

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Quando criança, João Pedro Moreira Pitaluga escutava, com seus irmãos, histórias sobre Maria do Carmo e o bairro homônimo, onde a família passou a morar na década de 1960.

Passagens que sua a avó e os parentes mais antigos descreviam com o conhecimento de quem, há tempos, ali residia.

“Não tinha muitas casas na redondeza. Os vizinhos todos se conheciam”, recorda.

Pitaluga, hoje com 58 anos, cresceu junto com o bairro, ouvindo e reproduzindo o que aprendera. Acompanhou o surgimento das primeiras pesquisas e obras que abordavam o crime ocorrido com Maria do Carmo no ano de 1890. Narrativas que ainda repercutem e dão margem a diversas interpretações, sendo elas recontadas às novas gerações. Até hoje é interessado em tudo o que diga respeito ao bairro – e à sua mais célebre personagem.

Buscando em sua memória,revive o tempo em que tinha 20 e poucos anos, em que ia com frequência ao túmulo para capinar e varrer o local. “Era só uma caixinha que tinha ali”, lembra. “Depois é que foi um prefeito fazer o mausoléu e virou ponto turístico”, esclarece. Sua preocupação em manter o lugar arrumado não era à toa. “Sempre que fazia uma oração para ela, era atendido”, comenta. “Acendia uma vela para agradecer”, acrescenta. Pitaluga relata que em suas visitas observava muitos devotos de fora do município, inclusive argentinos.

Nos dias atuais, a manutenção é feita por moradores da região e alguns devotos que pintam e organizam ao cumprir 48

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promessas. Em homenagem à Maria do Carmo, o bairro e

quartéis, até chegar à residência, no bairro Maria do Carmo.

o time de futebol ali formado no ano de 1974 levaram seu nome. Time, aliás, conhecido de perto por Pitaluga e seu finado pai. “Nós temos ela como padroeira do time, e ela tem muita importância aqui para nós”, declara,feliz por ser parte dessa história.

O primeiro milagre que ele atesta ter recebido ocorreu em meio à aflição de se sentir entre a vida e a morte. Tinha 23 anos quando fora com um cunhado ao Cais do Porto e, no retorno para a casa, a pé, juntaram de uma lixeira uma cadeira velha. “De repente apareceram três homens gritando ‘ladrões’, e saíram atrás de nós”, recorda. Mesmo os rapazes garantindo que haviam pego do lixo, o trio foi implacável em sua sede de justiça, descontando neles a ira por furtos que aconteciam frequentemente na redondeza.

“Meu cunhado conseguiu escapar. Eu fui arrastado para um galpão, onde fiquei por mais de seis horas preso por correntes e cadeados”, descreve.

No cativeiro, Pitaluga foi espancado até que se lembrou dos milagres atribuídos à Maria do Carmo. “Comecei a pensar e pedir por ela, para que me ajudasse a fugir dali. Ela sabia que era uma pessoa do bem”, confidencia. Foi então que, intuitivamente, na hora em que os homens se afastaram, ele passou saliva nas correntes e, por incrível que pareça, conseguiu retirá-las de seus pulsos e fugir. “Eles foram atrás, nem sei como consegui correr tanto”, analisa. Pitaluga percorreu um trajeto das proximidades do jóquei clube, por trás dos

“Esse milagre me foi dado. Ela sabia que eu não era um ladrão e que não tinha o porquê de estar ali”.

Sua fé na entidade o mantém ligado ao local de reverência, que visita para pedir proteção a seus familiares, amigos e vizinhos. Define Maria do Carmo como “uma santinha que cuida das pessoas e dá força, pois sempre tem alguém procurando ela”. Feliz pelas graças obtidas, declara: “tenho muito respeito por ela”.

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A CONQUISTA DO DIPLOMA

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Natural de São Borja DiogoAbelar Belmonte, 24 anos,

Ele passou a frequentar o túmulo a cada dois meses. Recor-

mora na Vila Jaguari, junto com sua família. Seus pais, Mara e Luiz, ensinaram valores religiosos a ele e a seu irmão mais velho, Tiago. Frequentou a Igreja Católica até os 14 anos, quando passou a se interessar por outros caminhos de fé, buscando compreende-los por meio de pesquisas. Escolheu seguir a doutrina espírita, mantendo sua fé em uma força superiore a empatia com diversas crenças – dentre as quais, a devoção à Maria do Carmo.

Diogo esteve, pela primeira vez, no túmulo de Maria do Carmo por ocasião de um passeio pelos pontos turísticos de São Borja, proporcionado pela escola onde estudava. “Naquele momento eu, criança, não entendia o significado de tudo aquilo”, relata. Anos depois dessa visita, despertou interesse em conhecer melhor a história dessa entidade popular. “Sempre observava, com bastante carinho, a devoção das pessoas

re à Maria do Carmo“especificamente para clarear as ideias e acender uma vela amarela para liberar sua criatividade para escrever”. Costuma levar também cigarros e bebidas.

Diogo gosta de pensar em Maria do Carmo como uma pessoa de bom coraçãoe que, no plano astral, costuma atender os que creem no seu poder. “Tenho dela a imagem de uma mulher avassaladora, de personalidade forte, que ajudava os mais necessitados e que, hoje em dia,continua auxiliando, de outro plano”, comenta. “Uma mulher de força e guerreira, que luta e derruba as barreiras”, finaliza.

que iam até o memorial dela realizar suas preces e fazer suas oferendas”, conta.

A devoção propriamente dita ele desenvolveu há cerca de um ano. “Em 2017 a procurei para pedir ajuda para os estudos”, confessa. “Pedi que ela me desse sabedoria e concentração para o trabalho de conclusão de curso”, detalha.“Pedi com bastante fé. Fazia visitas regulares ao memorial dela”, acrescenta. Diogo atesta que foi atendido. Pagou a promessa no dia em que colou grau como bacharel em Relações Públicas, pela Universidade Federal do Pampa. “Sou grato por ela até hoje”.

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O ZELO PELO SANTUÁRIO

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Desde quando morava no bairro do Passo, José Antônio Sa-

“Eu sempre incentivo os mais jovens para ir ali limpar tudo por

raiva ouvia falar da fama de milagreira de Maria do Carmo.

Não frequentava o lugar para fazer; na realidade, ia até o túmulo para acompanhar familiares devotos. Depois de anos, mudou-se para o bairro Maria do Carmo, onde criou apego à história e passou a frequentar assiduamente o local, vindo a tornar-se devoto.

Saraiva – mais conhecido como “Neco” –, hoje aos 46 anos, trabalha como autônomo na área da jardinagem há aproximadamente cinco. Sua admiração pela santa popular o levou a zelar constantemente pelo santuário. Sempre que pode, usa seus conhecimentos e técnicas para manter o local limpo e garantir o cultivo de flores na entrada. “Já fui confundido, várias vezes, com empregado da prefeitura”, comenta. Essa dedicação para deixar o lugar bonito ele garante que é movida por respeito e fé em Maria do Carmo.

Diversas foram as vezes em que Neco se deslocou ao túmulo não apenas para manutenção, como também para executar reparos. Em novembro de 2017, após uma tormenta que atingiu São Borja, parte do jazigo de Maria do Carmo desabou.

Ele prontamente mobilizou amigos e vizinhos para reconstruir e organizar o ambiente. “Era perto do Dia de Finados, e era preciso deixar tudo em ordem para receber os devotos”, relata. “Juntei uma turma e fui lá reerguer o túmulo”, afirma.

Segundo ele, alguns moradores colaboraram financeiramente para a compra dos materiais. Todos os envolvidos reforçaram a admiração pela santa popular, conferindo pleno êxito à ação.

conta, organizar as bagunças”.

No dia-a-dia, Neco é sincrético em seu exercício de fé. Revela que encontra acolhimento tanto nas premissas e práticascatólicas quanto nas umbandistas. “É sempre bom se apegar a algum santo, independente de religião ou doutrina”, considera.

“Eu confio em Maria do Carmo, todos os domingos vou ali, só não vou se estiver chovendo”, salienta. Entre os pedidos que conduz em suas preces estão os relacionados a trabalho. “Graças a Deus e a ela isso nunca me falta. Estou sempre fazendo um serviço aqui, outro ali”, cita. Para agradecer, acende uma vela e gosta de orar para ela,independentemente do local em que esteja.

Quanto à sua preocupação pelo estado do santuário, afirma: “tenho grande vontade de fazer coisas ali, mas me faltam condições”. Enquanto espera por dias melhores, não abre mão de fortalecer sua fé a cada manhã. “Todos os dias preparo meu mate e peço uma benção a Maria do Carmo”, confidencia.

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DEVOÇÃO EM FAMÍLIA 60e Pedro Rathes Rafael, Rozane

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A fé em Deus sempre foi o esteio do casal Rozane Rathes, 57 anos

Em maio de 2012, a família novamente passou por uma prova-

e Pedro, de 59 – juntos há 39 anos –, e seus filhos. “Lá em casa temos muita fé porque já passamos por muitas tempestades”, explica, abrindo o coração. A devoção a Maria do Carmo é fruto do relato e incentivo de antepassados. “Entre nós existe o hábito de visitar o túmulo e, no Dia de Finados, depois de passarmos pelos cemitérios da cidade, irmos ao local para agradecer, levar flores e velas a ela”, conta.

O ritual que virou tradição na família Rathes – conhecida pela atuação no ramo de salão de beleza e barbearia há mais de duas décadas – foi transmitido aos três filhos. A força da crença na santa profana já ajudou, e muito, na superação de momentos de extrema dor, como a perda do primogênito, Charles, aos 11 anos, em 1999.

O casal e os filhos Tiago e Rafael – hoje, respectivamente, com 37 e 24 anos – conseguem dimensionar o quanto a prática da espiritualidade lhes confortou não apenas nessa situação, como diante de acontecimentos que também exigiriam muita superação.

Embora todos sejam devotos a Maria do Carmo, Rozane é a mais praticante. “Ela gosta de fazer promessas e não descansa enquanto não cumpre”, relata o marido. A maioria dos pedidos foram ligados à saúde. “Em 2009, Pedro descobriu a existência de um câncer maligno”, conta Rozane. Os laudos médicos não deixavam esperança para tratamento ou reversão: teria de tirar um rim. “Então fiz promessa para a Maria do Carmo, pedindo para ela interceder, que ele já estava há seis meses padecendo”, confessa. Pedro fez quimio e radioterapia, encarou a cirurgia e aos poucos foi melhorando. Os dois atribuem a recuperação a Deus e a Maria do Carmo. “Era um câncer maligno e no final tudo ficou bem”, justifica Rozane.

ção do destino. O caçula da casa sofreu um acidente automobilístico, na cidade de Itaqui/RS, e entrou em coma. Rozane e Pedro, ao chegarem no hospital da cidade, foram informados de que não havia estrutura para cuidar do caso. Transferido para São Borja, o prognóstico médico não era nada otimista. “Eles diziam que ele não tinha chance de se salvar”, recorda Rozane. Foram 14 dias sem melhoras. “Eu e o Pedro, depois de uma visita na CTI, decidimos que era melhor tirar ele de lá”, comenta. Rafael acabou conduzido para o hospital de Cruz Alta/RS. Dias antes, Pedro sonhara que estava sentado junto ao túmulo de Maria do Carmo, conversando com ela. No diálogo, ela revelou que salvaria Rafael, mas que ela estava com muita sede e que gostaria muito de tomar água. “Mas que tinha que ser água do Rio Uruguai”, lembra. “Então eu prometi: se ele se curasse, quando a gente voltasse, a primeira coisa que eu ia fazer era lhe levar a água”, relata Pedro.

Em Cruz Alta, foram mais 22 dias em coma. Quando acordou, não estava totalmente recuperado. “Mas nunca perdemos a fé”, garante Rozane. Quando finalmente ele recebeu alta, chegando a São Borja passaram no hospital para mostrar aos médicos o milagre que tinha acontecido. “Rafael estava curado e andando de novo”, resume.

A promessa foi cumprida em seguida. “Me desloquei com duas garrafas pet, descalço, do hospital até o porto”, conta. “Ao chegar lá, enchi com a água do Uruguai e fui levar no túmulo”, descreve, até hoje compartilhando a alegria pela benção recebida. “Foi um milagre que aconteceu com a gente. Uma benção de Deus e dos santos que nos rodeiam, através da Maria do Carmo”, considera.

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VENCENDO O VÍCIO

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Iloni Lixinski Carvalho, 52 anos, trabalha como domésti-

quando, recentemente, visitou o túmulo durante um passeio

ca há muito tempo com uma mesma família. Certa vez, em 1995, acompanhando os patrões em um passeio pela cidade, teve seu primeiro contato com Maria do Carmo. “Nós saímos para andar pela cidade de carro, aí fomos lá”, recorda.

A curiosidade em conhecer o túmulo de Maria do Carmo vinha de longe. Escutava conhecidos falando sobre a forma como foi assassinada. Também ouvia relatos de que ela era milagreira e reservava um tratamento diferenciado às devotas do sexo feminino. Quando estava a caminho do local, falou para si mesma: “Vai ser a Maria do Carmo que vai me ajudar!”.

O vício no cigarro estava lhe tirando a saúde e o dinheiro.

“Eu fumava desde jovem. Cheguei a fumar várias carteiras por dia”, comenta. Não foram poucas as vezes em que tentou parar. “Não durava nem dois dias”, conta a Iloni, casada há 28 anos e mãe de duas filhas.

A ida ao mausoléu reacendeu sua esperança. “Eu cheguei lá e sobre o túmulo tinha uma fileira de cigarros queimando.

Aí pensei que faria qualquer coisa para largar e que ela podia ficar com toda a minha vontade de fumar”, confidencia.

Ao chegar em casa, seu pensamento continuava na visita que fizera. Iloni mentalizava que queria muito largar seu vício. Depois de uma semana, parou totalmente de fumar.

Atribui essa conquista a Maria do Carmo. “Faz 23 anos que não fumo. Sempre falo que foi ela quem me ajudou”, enfatiza.

Depois disso, voltou ao local algumas vezes para agradecer. E

com sua turma de Gestão em Turismo do Instituto Federal Farroupilha, revelou para os colegas a história. “Só tenho a agradecer”, considera.

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UM NOME POR UMA GRAÇA

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Na adolescência, Neli Barbosa Teixeira, trocou a cidade

“Pude ficar grávida de novo, então veio a Marisele – o nome

natal, Santiago, por São Borja. Veio, com a família, por oportunidade de emprego do pai. Aqui conheceu Oscar Teixeira Neto, com quem casou.

Com o matrimônio brotou o sonho de o casal ter um filho. Neli até chegou a engravidar, mas o bebê veio a falecer ainda em seu ventre. Logo foi surpreendida por problemas de saúde que os distanciavam cada vez mais do objetivo de aumentar a família. Três anos se passaram entre tratamentos e tentativas de uma nova concepção.

Conversando com algumas amigas sobre a dificuldade que vinha enfrentando, elas a incentivaram a pedir ajuda a Maria do Carmo. Mesmo sem conhecer o local e a entidade, procurou inteirar-se sobre sua história e os milagres a ela atribuídos. Até que, um dia, decidiu ir ao túmulo e fazer uma promessa. “Prometi que, se ficasse grávida e viesse uma menina,

foi a Maria que escolheu para irmã”, acrescenta. Com o passar dos anos, uma amiga de sua caçula estava passando pelos mesmos problemas e ela narrou sua história e incentivou a moça a recorrer a Maria do Carmo.“Ela foi lá e também conseguiu”, atesta.

Neli, hoje com 60 anos, garante: “não fui mais para pedir; fui só para agradecer”. Frequentadora assídua da Igreja Católica, declara que está sempre fazendo orações para ela e que, sempre que pode, visita o santuário para levar flores.

iria colocar seu nome nela, como forma de homenagem”, revela. Depois de três meses a notícia da gravidez chegou. O marido soube da promessa mais tarde, mas também se sentiu muito honrado em receber a graça. Com o ultrassom veio a confirmação: estava a caminho Maria do Carmo.

Maria cresceu saudável e convivendo com a fé que a mãe lhe incentivou a desenvolver. “Desde que começou a caminhar, eu levava ela no santuário, tinha também prometido isso a Maria do Carmo”, conta. Neli atribui a gravidez e a melhora da saúde a ela. Durante a gestação descobriu um cisto no ovário que, após o nascimento da filha desapareceu.

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CRENÇA QUE SE MANTÉM

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Aos 71 anos de idade, Maria do Horto Gonçalves da Rosa, reside no bairro Itacherê. Durante anos trabalhou como mo-

e aconselharam que fossemos morar em Santa Maria”, lembra.

A escolha da cidade justificava-se pelo acesso aos serviços de

dista. Após a aposentadoria, passou a fazer bonecas com trajes de formandas, por hobby. Mas, para além das agulhas e linhas, mantém um hábito estimulado, já na vida adulta, por uma cliente e amiga: escrever poesia. Também reserva um tempo de sua rotina para o exercício da fé. É especialmente devota de Barbara Maix e de Maria do Carmo.

A fé em Maria do Carmo surgiu depois que ela casou com o primeiro esposo, aos 16 anos. Logo nasceu a primogênita, Linda Maria. Seu primeiro contato com a santa popular veio através do sogro, devoto fervoroso que fazia questão de compartilhar o que sabia sobre a entidade. “Eu sempre fui muito feminista, e considerava a Maria do Carmo uma lenda”, conta.

De imediato, Maria do Horto passou a fazer companhia a seu sogro nas visitas ao túmulo. “Ia apenas para agradecer”, relata.

Nos percursos da vida, Maria do Horto acabou se separando, após sete anos de união. Voltou a morar com os pais, no interior do município, onde acabou conhecendo um novo amor. “Casei de novo e tive três meninas – Viviane, Milena e Sabrina”, conta. “Quando eu estava grávida da Milena, meus pais se mudaram para a Rua Bompland, na cidade. E ia sempre lá no túmulo da Maria do Carmo pedir um parto bom e agradecer”, declara.

Anos mais tarde novamente separou-se. Logo surgiram problemas de saúde em sua filha Milena, que na época tinha 15 anos. “Os médicos associavam a depressão dela com o divórcio,

saúde e estudo. “Antes da mudança, pedi, com muita fé, para Maria do Carmo interceder pela minha filha”, recorda. Não demorou para vir o resultado. “Todo mundo vai lá e recebe as graças, e eurecebi várias já”, atesta. “Prometi umas flores e levei. A agora vou só para agradecer”, conta. Adepta da religião católica, tem como hábito ir à igreja, o que considera que não conflita com sua crença na entidade popular. “Hoje faço os pedidos a Maria do Carmo de casa, mesmo”, comenta. “A fé é algo importante de se manter. Hoje as pessoas estão sem fé, apenas querem mais e mais”, avalia.

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FUTEBOL ABENÇOADO Beto, Roni e Rene 76 Emanuelli

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Em meados de 1973, o assunto predominante entre diversos moradores do bairro Maria do Carmo era a possibilidade de criar um time de futebol. O local para treino já havia – um terreno baldio de cerca de uma quadra de extensão. “Aqui nessa esquina não existia nada”, lembra Beto Emanuelli. “Todos os finais de tarde se reuniam de 30 a 40 guris do bairro para jogar uma partida de futebol”, acrescenta.

Beto recorda que a ideia iniciou com moradores antigos. “Eles apostaram e disseram que iriam ajudar”, ressalta.

Criado no dia 19 de fevereiro de 1974, o time Esporte Clube Maria do Carmo foi logo participando do campeonato varzeano que acontecia na cidade – atualmente conhecido por Campeonato Municipal.

No ano de 1975, o time foi campeão municipal, para a alegria de todo o bairro. “Tínhamos um ritual: antes de todas as partidas, íamos até o tumulo da Maria do Carmo para pedir uma partida abençoada; na volta, íamos novamente lá para agradecer”, revela Beto.

Com esse rito consolidado, o E. C. Maria do Carmopraticamente adotou a santa popular como protetora. “Ela é nossa padroeira”, afirma. “Com essa fé, conseguimos garantir colocações nas decisões finais. Em 74, 75, 76 lá estávamos nós. E no ano de 76 ainda representamos São Borja no campeonato estadual”, argumenta.

O time seguiu participando das disputas até o ano de 1978, quando parou suas atividades. Após essa pausa, Beto e os irmãos Roni e Rene Emanuelli assumiram o time novamente, em 78

1992. Desde que retomaram as atividades, eles estão à frente da diretoria do E. C. Maria do Carmo.

Segundo Beto, o ritual em homenagem a Maria do Carmo foi rotina até o ano de 2002. Com a incorporação de atletas de outros locais da cidade, o time deixou de ser apenas do bairro.

“Alguns jogadores permaneceram cultivando a fé e o ritual que tinha o time desde o início”, comenta.

Os irmãos Emanuelli – que são devotos desde que a família chegou ao bairro, em 1968 – sempre tiveram muito respeito pela entidade. Atualmente não conservam o hábito de frequentar o túmulo, mas mantêm a fé. Beto considera que, com o fato de o bairro ter crescido muito, são poucos os moradores que ainda cultivam a história de Maria do Carmo. “Hoje em dia, acho que pessoas de outros lugares frequentam mais que os próprios moradores”, cogita.

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MARIA, BENZEDEIRA DEVOTA

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Com as mãos marcadas pelo tempo, aos 87 anos de vida,

legiado – uma estante na entrada de casa. “Tenho muita fé em

Maria de Jesus do Nascimento faz o sinal da cruz. Concentra-se em seu exercício de fé e, com a autorização de seus guias espirituais, espanta para longe o mal que aflige a quem lhe procura. É conhecida no bairro por “Dona Maria, benzedeira”. Conta que entrou na Umbanda quando estava doente, e na religião se curou. Desde então começou a atender as pessoas.

Devota de Maria do Carmo, recorre ao santuário de vez em quando. “Não sou de estar indo lá, vou quando eu preciso”, explica. Conheceu as histórias e a fama de milagreira da santa popular quando passou a residir no bairro, sessenta anos atrás. “Quando eu cheguei aqui eram poucas casas, mais campos”, recorda.

Dos pedidos que fez à entidade, o mais marcante foi um feito em nome de seu compadre. “Ele estava desenganado no hospital”, lembra Maria, contando que se deslocou ao túmulo e pediu para que Maria do Carmo a ajudasse a salvá-lo, oferecendo em troca uma coroa. Cerca de um mês depois, o pedido foi atendido. “Ela atendeu e eu levei para ela o prometido”, relata.

Hoje em dia, quando Maria recorre ao santuário, gosta de levar velas e flores para expressar sua confiança na santa popular. “Nunca duvidei de seus poderes. Acredito que tem que gostar e confiar nela para dar certo”, considera. Algumas de suas promessas foram para assuntos de negócios. “Ela é muito boa também nisso”, confirma.

Em meio às recordações, apresenta as imagens de guias e santos nos quais tem apego, todos dispostos em um local privi-

Deus. A pessoa, para pedir, tem que ter muita fé”, considera.

Trabalhando como doméstica, nas horas vagas se dedica à religião. Recebe em sua casa pessoas de várias partes da cidade, que chegam em busca de saúde, amor e prosperidade.

“Não ignoro as outras religiões. Criei meus filhos levando na igreja católica, para que depois de adultos escolhessem o caminho que quisessem seguir”, comenta. “Onde tem Deus, tem tudo”, complementa. “Mas é importante que as pessoas gostem mais uns dos outros,que tenham mais fé e deem o ombro aos necessitados”, ensina.

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RESIGNAÇÃO E ALEGRIA

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“Há 38 anos, eu estava na escola de samba, e logo dois diretores, o Clemar Dias e o Dango, me perguntaram: Paulinho, o que achas de ser o rei Momo da escola?”, rememora Paulinho Ponsi. “Na hora eu pensei: por que não alegrar as pessoas? E aceitei o convite”, conta. Assumiu o reinado da Unidos da Maria do Carmo por três anos, e depois virou rei Momo do Município, durante dezesseis anos consecutivos.

“Nos bailes que ocorriam no Recreativo, eu estava em todos.

Ia junto com as rainhas, e também íamos a outros bailes que aconteciam na cidade”, recorda.

Paulinho revela que, desde a infância, sempre gostou de fazer o próximo feliz. Alegria é seu lema. Durante anos levou diversão aos carnavais. Hoje, aos 56 anos, deixa o pensamento ir longe, traduzindo as emoções em um olhar de saudade.

“Era tão bom ver todos esperando pela corte”, comenta.

Houve uma situação, no início de seu posto como rei Momo de São Borja, em que sua popularidade foi posta à prova. Algumas pessoas teriam colocado em dúvida a validade de sua representação, já que havia sido indicado, e não eleito para o cargo. Foi, assim, aberto concurso, em que ele e outros disputaram o título. “Nunca esqueci aquele dia. Quando subi no palco, todos gritavam ‘Paulinho, Paulinho!’”, relata. “Aquela sensação vai ficar para sempre. Foi uma grande honra para mim ser tão bem recebido pela comunidade”, afirma. “Ganhei o concurso”, complementa.

Para essa conquista, ele garante que não fez promessa. Mas, ao longo da vida, muito recorreu à fé em Maria do Carmo.

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Devoção que alimenta desde pequeno. “Minha finada avó era

nho muita coisa boa para passar para os outros”, entende.

devota. Minha mãe também sempre foi, e ainda é”, salienta.

Ele e seus cinco irmãos delas receberam os conhecimentos e histórias envolvendo Maria do Carmo.

As primeiras vezes em que ele recorreu à santa foi para os estudos. “Eu pedia para me ajudar a passar de ano, e dava certo”, assegura. Naqueles tempos, Paulinho já se dividia entre várias atividades para batalhar pela família. Cedo começou a trabalhar no turno inverso da escola, como ajudante na montagem de móveis. “Sobrava pouco tempo paraos estudos”, justifica.

Outro pedido que ele cita foi pela saúde de uma das irmãs, após o falecimento da avó.“Ela ficou totalmente abalada e teve graves problemas”, comenta. “Fui lá e pedi para que ela salvasse minha irmã, que ajudasse nesse momento tão triste para nós”, confessa. “Então ela foi melhorando e hoje está bem”, afirma.

Sua fé sempre foi muito forte, tendo mantido a esperança em ficar bem após os cinco acidentes pelos quais passou.

“Em todos fui abençoado por Deus e por Maria do Carmo”, considera. “Teve um que fiquei 15 dias no hospital”, revela.

Em outro, que ocorreu no trabalho, precisou amputar uma perna. Anos depois, já diabético, perdeu a outra.“Acredito que recebi um aviso, para que eu parasse um pouco e tivesse tempo para mim, pois eu só trabalhava”, reflete.

Paulinho passou a encarar a vida com ainda mais otimismo. “Eu não me sinto infeliz, ao contrário: acredito que te-

Espera, em breve, voltar a andar, com o auxílio de próteses. “Estou passando por fisioterapia para me preparar para isso”, comemora.

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PRECES POR MARIA DO CARMO

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“No dia 14 de novembro de 1989 eu me mudei para o bairro

Por morar com sua família próxima ao santuário, frequen-

Maria do Carmo”, comenta Pedro Emílio Rocha, 72 anos, recordando que, na época, na Rua Soldado Mancias Alves existia apenas uma estrada de chão, que terminava no portão de sua residência. De lá seguia uma pequena trilha que levava ao túmulo de Maria do Carmo. “Aqui tinha a casa bem na esquina e, de resto, só mato”, lembra. “A trilha que tinha até o túmulo já era bem movimentada”, conta.

Pedro Emílio, que é cantor e compositor e, atualmente, trabalha em uma emissora de rádio, conheceu as histórias envolvendo a santa popular através de estudos próprios. Leu os escritos sobre a vida de Maria do Carmo e também escutou alguns dos moradores antigos contarem sobre o que antepassados sabiam a respeito. Descobriu alguns vínculos familiares de Maria do Carmo na cidade de Alegrete; entretanto, por não conseguir deslocar-se a essa cidade, acabou por não concluir as buscas.

Durante o tempo em que foi diretor do Museu Getúlio Vargas, comenta que se colocava à disposição de turistas para levá-los ao túmulo de Maria do Carmo. Sentia que deveria impulsioná-los a conhecer o local, também por se tratar de ponto turístico da cidade. “Ainda hoje falta incentivo para atrair as pessoas para lá. Temos que mostrar os valores históricos que ela representa para a cidade”, considera.

Católico praticante e ex-seminarista, acredita que Maria do Carmo serve como intermediária entre os homens e Deus.

“Creio, que de fato, ela tenha um poder, e estabelece uma corrente do povo com o Pai Maior”, afirma.

temente presencia devotos fazendo pedidos e levando oferendas. Já viu situações das mais diversas. “Uma vez minha esposa escutou gritos, viu uma mulher pegando fogo, e foi correndo socorrer”, relata.

Pedro Emílio conta que, das vezes em que pediu a intercessão de Maria do Carmo, foi por motivo de saúde da família.

Confessa que, diversas vezes, mentalizou pedidos pessoais e recebeu as graças. Costuma todos os dias rezar o terço e pede por familiares que já se foram – e pela própria Maria do Carmo.

“Sempre coloco ela no terço, e converso com Deus, pois acredito que a dor que ela passou na Terra a transformou”, analisa.

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UM LAR PERTO DELA

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José Ramos reside no bairro Maria do Carmo desde os cin-

dida a graça solicitada, Neco mantém sua reverência levando

co anos de idade. Entre os vizinhos é conhecido pelo apelido, Neco. Por circunstâncias do destino, a mãe não pode lhe criar, e amigas dela se dispuseram a cuidar dele. Muito novo e sem compreender as razões dessa situação, passou a consolar-se indo ao túmulo da santa popular do bairro, onde sempre teve uma sensação de paz e acolhimento. “Sempre morei por perto, então às vezes fugia e ia para lá”, confessa.

Com o passar dos anos, o hábito de Neco recorrer a Maria do Carmo se consolidou. Cada vez mais procurava o santuário, e também gostava de participar de todos os feitos em relação a ela. Conta que, na década de 70, com a fundação do time de futebol criado em homenagem à entidade, passou a realizar os rituais religiosos junto aos demais atletas do time, vindo sempre ao local antes e após as partidas para fazer orações. “Desde guri acompanhei o time”, recorda. Após um tempo parado, o Esporte Clube Maria do Carmo foi reativado por um grupo de amigos, e sua esposa, Rosa Maria, auxiliou durante um bom período nas questões administrativas.

Em suas visitas ao local, Neco gosta de tratar e organizar o ambiente. Confessa que se preocupa em manter tudo limpo para receber os fiéis com suas oferendas, e por isso aparece com frequência por lá. “Cresci aqui, moro aqui perto, e sempre dou uma cruzada, visito, converso com ela”, comenta.

Quanto aos seus pedidos, confidencia que a maioria é relacionada a saúde, trabalho e demandas do cotidiano. Um deles o marcou profundamente: “Pedi para morar perto dela”. Aten-

vela, cigarro e cachaça, ainda hoje. E admite que se sente em casa quando está no túmulo da Maria do Carmo. “Sinto um tipo de acolhimento de mãe”, comenta. “Eu, que já passei por muita coisa difícil nessa vida, posso dizer que hoje tenho muito mais para agradecer do que para pedir”, conclui.

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ANÁLISE E CONCLUSÕES

Esta pesquisa foi motivada pela curiosidade pessoal somada ao desejo de contribuir para a produção de memória da fé popular em São Borja. Identificar o perfil da devoção a Maria do Carmo na atualidade, por intermédio de histórias de vida de fiéis, foi o objetivo alcançado através de um resgate estimulado pela oralidade. O contato com 19 pessoas da comunidade – treze das quais localizadas a partir de indicações entre vizinhos, e seis por meio de manifestação em postagens nas redes sociais – revelou uma narrativa repleta de detalhes e norteadora dessa espécie de radiografia pretendida. Esses números correspondem a: 32% de 98

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fontes identificadas a partir das redes sociais; e 68% do contato com moradores do bairro Maria do Carmo, conforme apresentado na imagem a seguir.

Pessoas identificadas através das redes sociais e de prospecção no Bairro Maria do Carmo.

que permitiram ter sua história apresentada ao público.

O trabalho incluiu diversos deslocamentos ao bairro Maria do Carmo, especialmente, ao santuário dela, localizado à Rua Arthur Oscar, e diversas quadras dos arredores. Foram abordados pessoalmente 40 moradores, sendo que todos prontamente conheciam histórias sobre o ocorrido no bairro em 1890. Após serem ouvidos, onze foram selecionados para a pesquisa, de acordo com o critério de disponibilidade; e da busca nas redes sociais, dos 50 identificados, quatro se colocaram à disposição. O principal motivo para não desejarem participar da pesquisa foi o fato de não quererem revelar a identidade. Assim, do universo identificado, 17% das pessoas se colocaram à disposição para a pesquisa, e os 83% restantes não concordaram em participar.

Já quanto à forma de identificação das possíveis fontes, 56% foram através das redes sociais (Facebook) e 44% do contato presencial em percursos pelo bairro Maria do Carmo.

Para a investigação empreendida, aliamos pesquisa teórica e documental à pesquisa de campo. Consultamos obras sobre a fé em entidades populares e buscamos dados presentes em obras anteriormente realizadas sobre a santa em questão. Contatos com pesquisadores e a certidão de óbito de Maria do Carmo contribuíram para a contextualização e o entendimento do tema.

Prospectamos, ainda, em jornais da época de sua morte, possíveis registros sobre o ocorrido, mas nada encontramos.

A procura por pessoas devotas de Maria do Carmo se deu em duas fases: através de postagens no Facebook datadas de seis de outubro de 2017 e de quatro de março de 2018; e com o resultado da investigação em campo, no bairro que leva seu nome e concentra as manifestações de fé envolvendo a santa popular sãoborjense. Ao todo, de 90 possíveis fontes, foram selecionadas 19, integrantes de 15 histórias, esse número final correspondente às

Fontes identificadas e disponíveis.

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Pessoas prospectadas através do Facebook e de percursos no bairro.

Religião declarada pelos devotos de Maria do Carmo consultados.

Após a coleta de dados, envolvendo a captação dos relatos através da História Oral, as reportagens foram construídas em formato de perfil humanizado, tendo o foco centralizado na devoção das pessoas e em sua experiência de fé em Maria do Carmo. Com o presente estudo foi possível identificar quinze devotos da religião católica, dois umbandistas e dois espíritas. Portanto, os católicos consultados são os que mais conciliam sua crença e formação religiosa com o exercício de fé popular.

Pessoas de todas as idades revelam a fé em Maria do Carmo, mas a maior parte dos perfilados – 17 pessoas – tem mais de 40 anos; dois estão entre 20 e 40 anos (11%); 13 pessoas estão entre 40 e 60 anos (68%); e quatro pessoas entre 60 e 90 (21%).

Faixa etária dos devotos.

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Ainda foi possível constatar que, dos consultados, 12 são homens (63%) e 7 são mulheres (37%). Oito exercem atividade laboral autônoma (42%), dois são servidores públicos (11%), cinco são aposentados/pensionistas (26%), dois desempregados (11%) e dois trabalham com serviços gerais (11%). Do total de fontes, 12 são casados (67%), dois divorciados (10%) e os outros cinco são solteiros (24%).

Os que confessaram transmitir a crença em Maria do Carmo às novas gerações foram 14 – Rosane e Pedro Rathes, Terezinha Braga, Nara do Nascimento, Clóvis Benevenuto, Diogo Belmonte, José Saraiva, Neli Teixeira, Pedro Emílio, José Rosa, João Pedro Pitaluga, Beto, Roni e Rene Emanuelli, correspondendo a 74% do total, e 26% correspondem aos cinco que não passam a devoção.

Situação ocupacional/laboral dos devotos.

Divisão por sexo dos entrevistados.

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Estado civil dos entrevistados.

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Quanto à divisão da natureza dos pedidos por sexo: as mulheres encaminharam dez pedidos relacionados à saúde (71%) e quatro à situação financeira (29%).

Propagação da fé em Maria do Carmo.

A maioria dos pedidos feitos a Maria do Carmo está relacionada à saúde (10 pedidos, correspondendo a 63% do total), mas também são encaminhadas promessas por estudo, trabalho e situação financeira (6 pedidos, ou seja, 31% do total).

Pedidos realizados por mulheres.

Natureza dos pedidos.

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Já o público masculino afirma ter encaminhado seis pedidos relacionados a estudo, trabalho e finanças (27%), e quatro ligados à saúde (18%).

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Pedidos realizados por homens.

Além dessas constatações obtidas com o trabalho de pesquisa, a presente investigação concluiu que alguns devotos procuram a sepultura para obter acolhimento espiritual e renovar-se. Já outros destacam o santuário como um ponto de encontro entre moradores, para conversas e interação social.

Pelos relatos dos entrevistados, a vivência de fé em Maria do Carmo na atualidade inclui devotos do município de São Borja e de outras localidades, até mesmo do país vizinho, Argentina. Mas a grande concentração de fiéis está no bairro que leva seu nome. Alguns desses moradores ainda hoje têm receio em se assumirem sua devoção perante a sociedade, e os motivos alegados são variáveis: por frequentarem determinada religião ou doutrina e temerem que os julguem pela crença em uma entidade popular; ou por serem pessoas bem conhecidas na sociedade e terem receio de serem rotuladas pela fé tida por muitos como alternativa.

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Com o presente estudo foram identificados relatos de graças atribuídas a Maria do Carmo, algumas recentes e outras que teriam ocorrido há alguns anos. O testemunho de fé de todos os entrevistados reforça a mística em torno da entidade popular e expõe o que podemos considerar um perfil dos devotos. Portanto, nosso objetivo inicial foi alcançado e o resultado que agora apresentamos ao leitor é fruto de nossa persistência, da boa vontade das fontes e da qualidade das informações transmitidas. Tudo isso no sentido de contribuir à memória da cidade, especificamente à ligada às crenças populares e, em especial, à fé em Maria do Carmo.

A partir do que pesquisamos e observamos se pode dizer que o santuário construído em sua homenagem recebe um bom número de visitantes, embora não se possa precisar. Uma roleta instalada no local no ano de 1984 há muito deixou de contabilizar as presenças. Um dos entrevistados que reside mais próximo do local comenta que até 2005 o mausoléu foi muito procurado, mas que a insegurança oriunda do aumento da criminalidade na cidade contribuiu para uma queda nas visitas. Muitos de fora do bairro não se sentem seguros em frequentar o túmulo, pois é afastado da cidade, e em torno possui um matagal, que prejudica a visibilidade.

A citada roleta que se tem que passar para ter acesso ao jazigo encontra-se desativada, mas a estrutura permanece lá e se tornou um empecilho para o acesso de pessoas com deficiência. Sua instalação foi feita quando do investimento na sinalização turística do local, como também ocorreu com a colocação de placas descritivas daquele ambiente. A maior delas, feita de lata, e que identifica que se trata de ponto de turismo e sintetiza a história, está em condições razoáveis (apresenta marca de tiro e pichação); a outra, na entrada, à esquerda, junto ao chão, é de bronze e instalada em uma pedra, sendo que nela contém a informação sobre o nome e data 109

de falecimento de Maria do Carmo.

Esses percursos orais, pelo passado e o presente da comunidade, pelos relatos sinceros e emocionados dos fiéis, viabilizaram que chegássemos a essas páginas finais do presente livro-reportagem. A disponibilidade desses personagens e a confiança em nós depositada foram essenciais para que nossa produção, a partir de agora, passasse a se somar a anteriores e posteriores pesquisas sobre essa entidade religiosa que faz parte da cultura e da história de São Borja.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela vida, por me conceder saúde e força para conquistar essa vitória, que servirá de aprendizado de extrema relevância ao longo de minha vida.

A Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, pela oportunidade de fazer a tão sonhada graduação em Jornalismo.

Agradeço a todo o corpo docente do Curso, em especial aos professores Adriana Duval, Miro Bacin, Lívia Saggin, Leandro Comassetto e Geder Parzianello, por me proporcionarem o conhecimento e se dedicarem a me ensinar durante esse 110

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processo de formação profissional. Um agradecimento em es-

Emanuelli, Rozane, Pedro e Rafael Rathes, Maria do Horto Gon-

pecial ao Professor Wesley Grijó (in memorian), que tive a honra de conhecer e receber seus conhecimentos na sua passagem pela universidade.

A minha orientadora, Adriana Duval, agradeço pela confiança, correções, incentivo e dedicação em me guiar pelo caminho certo na construção deste trabalho final. E também por abrir as portas de sua casa e acreditar no meu potencial para que se concluísse esta etapa da graduação.

Ao colega Matheus Bernardes, que auxiliou na parte gráfica para que o trabalho final fosse concluído com elegância êxito.

Aos meus pais, Maria Alice e Valdemar Pellenz, agradeço pelo apoio incondicional e pelo incentivo nas horas difíceis de cansaço e desânimo. Também agradeço ao meu amor, Diego Leal, por me apoiar e incentivar nas horas em que o aborrecimento se fazia presente.

A meu irmão, Sebastian, a meus tios Marta, Neda, Vera, Lauro, Luis, Fernando, Roberto e Alcir, e aos primos pelo apoio, paciência e compreensão nas horas de ausência. Sem esquecer do Frederico, meu mascote, um gato quase-gente.

Meus agradecimentos aos amigos Luis Felipe Nascimento, Mayara Rodrigues, Andressa Walter, Rosana Ruviaro, Larissa Silva, Gabriel Lentz, Matheus Bernardes, companheiros de trabalho e irmãos na amizade que fizemos dentro da universidade e que vão continuar presentes em minha vida, com certeza.

Por fim, dedico esta obra a todos os envolvidos, Clóvis Benevenuto, Caetano Delanogare, Diogo Belmonte, Beto, Roni e Rene

çalves, Iloni Lixinski, João Pedro Pitaluga, José Antônio Saraiva, Maria de Jesus, Nara do Nascimento, José Ramos, Neli Barbosa, Paulinho Ponsi, Pedro Emilio Rocha e Terezinha Braga. Agradeço por terem me confidenciado suas histórias e permitido que eu as transcrevesse para que outras pessoas pudessem conhecer um pouco de sua história de fé. À Maria do Carmo, entidade a quem manifesto respeito e gratidão pela energia espiritual que representa e pelo atendimento do pedido de eu poder concluir este trabalho sobre ela.

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NASCIMENTO, Nara do. Entrevista à autora em 30/01/2018.

PITALUGA, João Pedro. Entrevista à autora em 07/03/2018.

PONSI, Paulinho. Entrevista à autora em 19/03/2018.

RAMOS, José. Entrevista à autora em 13/12/2017.

RATHES, Rozane, Pedro e Rafael. Entrevista à autora em 30/01/2018.

ROCHA, Pedro Emilio. Entrevista à autora em 27/04/2018.

CRÉDITO DAS IMAGENS Abaixo os autores das fotografias e seus respctivos trabalhos.

BARBARA MORAES Fotos de abertura A Procura de saúde pela fé Orações para os outros Graças de estudo e trabalho Fé e liberdade O zelo pelo santuário Devoção em família Vencendo o vício Um nome por uma graça Futebol abençoado Maria, benzedeira devota Resignação e alegria Preces por Maria do Carmo MIRO BACIN Crença que se mantém Um lar perto dela FOTO MÁRCIA A conquista do diploma

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