Eurobike magazine #9

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razão

#9 09 2009

emoção prazer

devaneio



Sa ia GUTO CARVALHO

po ra í


Explore o

m n u o d


GUTO CARVALHO



GUTO CARVALHO

Estamos com você!


expediente Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias Audi, BMW, Land Rover, Porsche, Toyota e Volvo. Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600, CEP 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobike.com.br www.eurobikemagazine.com.br contato@eurobikemagazine.com.br Ombudsman Patricia Braga www.eurobike.com.br/ouvidoria (11) 3627-3020

Editorial: Heloisa C. M. Vasconcellos, Eduardo R. da C. Rocha Direção de arte: Eduardo R. da C. Rocha Coordenação e produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Patricia Miller Comercial: Alexandra E. Henriquez Preparação e revisão: Rosemary Lima Produção: blue media

Foto da capa: Giacomo Favretto

colaboradores

Carol Ribeiro, Érico Hiller, Giacomo Favretto, Guto Carvalho, Kriz Knack, Marisa Cauduro, Octavio Campos Salles, Percy Faro Simone Fonseca e Victor Rebouças

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares Impressão: Pancrom Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista. 6 . Eurobike magazine

www.bluemediagroup.com.br


carta do editor

Caro leitor, Para aprimorar ainda mais os serviços oferecidos aos nossos clientes, e porque valorizamos acima de tudo o relacionamento, o Grupo Eurobike acaba de instituir a função de ombudsman para sua rede de concessionárias, uma inovação nesse setor. Patricia Braga acaba de assumir a função e está à sua disposição para ouvir, informar, propor soluções ou simplesmente conhecer melhor as necessidades do consumidor. Você pode reclamar, mas também pode elogiar. Está aberto o canal direto de comunicação. Dando continuidade ao projeto de expansão do Grupo para disponibilizar uma rede cada vez mais ampla, inauguramos mais uma concessionária Audi, agora em Porto Alegre. Venha nos visitar e conhecer os últimos lançamentos! E porque nós acreditamos que, sem abrir mão das nossas paixões, é possível desenhar um futuro mais sustentável, com práticas industriais responsáveis, apresentamos neste número o perfil do empresário Thai Quang Nghia. Ele construiu sua Goóc, indústria de produtos feitos a partir de pneus reciclados, com base nesse princípio. Ele tinha razão, deu certíssimo. Para a emoção, convidamos o fotógrafo Giacomo Favretto para interpretar a moto BMW K1300R. Ele foi buscar o cineasta Luc Besson e sua personagem Leeloo... Um prazer foi avistar os pássaros em plena Mata Atlântica primária, em São Miguel Arcanjo, SP. Octavio Campos Salles é um dos fotógrafos que mais entende desses bichinhos, vejam o que ele conseguiu trazer à nossa vista! Para devanear na Serra da Graciosa a bordo de um Audi Q5, Guto Carvalho e Carol Ribeiro. Ele cineasta, fotógrafo e escritor; ela fotógrafa, escritora e roteirista. Até agora não sabemos quem fez o quê. Mas não importa a mínima. Boa leitura. Um grande abraço, Henry Visconde Diretor Presidente magazine@eurobike.com.br

Eurobike magazine . 7


#9 09 2009 12. razão 14. Como reciclar as

próprias certezas

22. Entre céu e mar

8 . Eurobike magazine

26. emoção 28. BMW K 1300 R 40. Clássicos do passado, presente e futuro


42. prazer 44. Vamos passarinhar?

56. devaneio 58. Nas curvas suaves da 78. Acess贸rios Graciosa

indispens谩veis

Eurobike magazine . 9




MARISA CAUDURO

12 . Eurobike magazine


razão

Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente Meta do milênio nº 7

Eurobike magazine . 13


raz達o

14 . Eurobike magazine


Como reciclar as próprias certezas Por que um náufrago vietnamita, resgatado por um navio da Petrobras, aporta no Brasil e cria uma marca de sucesso internacional POR VICTOR REBOUÇAS | FOTOS MARISA CAUDURO

Diante de uma das mais sérias e estrondosas

transformar em um verdadeiro cult da indus-

crises na economia mundial, na qual todas

trialização dos novos tempos.

as estruturas financeiras foram fortemente

Há quem afirme que a imensa maioria dos

afetadas, a ideia da reciclagem total, como

bens de consumo deverá ser produzida a

nova fonte de recursos, surge soberana.

partir do reuso de materiais.

E isso se apresenta como possibilidade real de um futuro com qualidade de vida crescen-

E já é possível avaliar o potencial que esse

te, pois já não se pode imaginar o meio am-

novo modelo de negócios representa, obser-

biente como fornecedor eterno de insumos.

vando os resultados nos indicadores de diversos mercados.

Esse conceito de reciclagem, revigorado pela crise, vem com força suficiente para se

Eurobike magazine . 15


razão

constituem o padrão e são considera-

A ideia de “reciclar geral” é velha com-

das referências pró-sustentabilidade.

panheira desse empreendedor, que faz questão de ressaltar que não se consi-

Mas e os profissionais com capacitação

dera um industrial, e sim um comunica-

Os maiores protagonistas dessa revo-

para assumir este momento da história,

dor com boas ideias.

lução são empresas que começaram

e que serão considerados os novos

seus ritos de transformação no início

heróis da evolução industrial, capazes

Quando perguntado sobre o que o

dos anos 1980, com a aplicação de

de atuar para garantir ao mesmo tempo

homem Thai reciclaria no empresário

metodologias inspiradas nos vários

desenvolvimento social, proteção am-

Thai, foi enfático ao afirmar que precisa

sistemas de gestão da qualidade, con-

biental e atrair o melhor retorno para os

melhorar suas próprias atitudes verbais

trolados por auditorias ambientais cada

investimentos, estão prontos?

em seus relacionamentos de forma geral, pois mesmo se considerando um

vez mais técnicas e transparentes, e que adotaram práticas que variam das certi-

Na busca por respostas e outros indica-

homem bom e ético, machuca os mais

ficações ISO (International Organization

dores, decidimos pesquisar, entrevistar,

sensíveis com sua forma contundente e

for Standardization) até a aplicação da

ouvir, questionar e refletir para poder in-

objetiva de se expressar.

Produção Mais Limpa, ou P+L, que re-

formar. Fomos surpreendidos!

E disse isso de forma doce. Afirmou também que recicla até mesmo

observa o destino de tudo o que entra e o que sai nos processos industriais, e

À nossa frente estava um vietnamita

relações e que havia recontratado um

busca minimizar os impactos ambientais

com pouco mais de cinquenta anos,

ex-funcionário que o havia agredido no

corrigindo ações, substituindo matérias-

sorriso suave no rosto e sangue nos

passado, mas ao saber que o profis-

-primas, pesquisando e assumindo a

olhos, daqueles que inspiram confiança

sional continuava desempregado, au-

responsabilidade desde a origem de

quando falam, com ideias de extrema

torizou sua reinclusão.

seus insumos até o descarte.

vanguarda e uma disposição surpreen-

Quando questionado sobre qual seria

dente de reciclar tudo, inclusive ele

o maior desafio para o futuro da Goóc,

próprio, hoje e no futuro.

pudemos descobrir algo tão extrava-

Hoje é possível identificar, nos am-

gante quanto ousado.

bientes corporativos, empresas que se encontram em três fases distintas.

Seu nome é difícil de ler, escrever e

Ele afirmou que vai colocar todas as

Existem aquelas que estão em busca

falar.

fichas para produzir 200 milhões de

da adaptação às novas regras, im-

Thai Quang Nghiã é fundador da Goóc

sandálias recicláveis até 2014, ano da

plantando novos sistemas produtivos,

Eco Sandals, empresa que utiliza borra-

Copa do Mundo no Brasil.

de qualidade e de controle ambiental,

cha de pneus e tecidos de lonas descar-

políticas de compra de insumos, es-

tadas para fabricar sandálias, chinelos,

Menino de família abastada no Vietnã

toque, produção, comercialização e res-

botas e mochilas, além de acessórios

do Sul, ele se viu de repente transfor-

ponsabilidades pós-venda, buscando

variados.

mado em perseguido político pelo parti-

modernizar suas bases e assim serem

Na Goóc, no caso das sandálias, ele

do comunista que assumira o poder e

incluídas no rol das empresas respon-

determinou que os insumos provêm

que acabou matando seu pai, um em-

sáveis.

da borracha de pneus usados, e seus

presário de sucesso.

Outras já estão adaptadas, terminaram

produtos devem respeitar as exigências

Da primeira grande reciclagem vivida, na

a tarefa de inclusão das novas tecno-

do design, perseguir e criar sua própria

qual perdeu seus direitos de escolha e

logias, mantêm suas auditorias setoriais

moda e continuar recicláveis.

seu livre arbítrio, resolveu provocar uma segunda transformação. Aconselhado

e seguem alinhadas com as legislações sociais e ambientais em busca de obje-

E suas razões são inquestionáveis: o

pela família a fugir para não morrer, por

tivos mais ousados, como oferecer uma

Brasil consome anualmente e abandona

ser “boca dura”, se lançou numa janga-

comercialização ética e assim promover

no meio ambiente milhões de pneus de

da em pleno oceano Índico, acreditando

acesso ao consumo consciente.

borracha vulcanizada e outros milhões

que, à deriva, teria mais chances de rea-

E há ainda as empresas last generation,

de pares de sandálias produzidas com

lizar os sonhos que haviam sido inter-

que, nascidas sob as melhores bases

materiais sintéticos, PVC, altamente im-

rompidos de forma tão cruel.

de gestão administrativa e tecnológicas,

pactantes.

Foi resgatado em 1978 por um navio

16 . Eurobike magazine


Eurobike magazine . 17


razão da Petrobras, vindo parar no Rio de Janeiro, quando perdeu o status de náufrago para o de refugiado político. Ele tinha vinte anos, e ainda havia muitas conquistas por vir, pois não tinha dinheiro nem família, e muito menos o idioma para se comunicar! No centro do Rio de Janeiro, apenas observando, aprendeu a manejar máquinas de xerox e começou a entender o português lendo as palavras enquanto as copiava. E hoje, embora carregado de sotaque, fala com domínio conceitual absoluto. Daí para decidir por uma faculdade foi um pulo. Veio para São Paulo e enfrentou com sucesso o vestibular para cursar Matemática na USP. Começou a estudar, fazer bicos para ganhar algum dinheiro, passou a emprestá-lo para amigos vietnamitas que precisavam de ajuda e, por causa de um calote, teve de aceitar bolsas como pagamento. Assim estava aberto o caminho para o corajoso empreendedor que reconheceu seus dotes comerciais – herança de pai e mãe, negociantes de arroz – e, em 1986, abriu uma fábrica para produzir seus próprios produtos.

A ideia de “reciclar geral” é velha companheira desse empreendedor, que faz questão de ressaltar que não se considera um industrial, e sim um comunicador com boas ideias.

18 . Eurobike magazine


Nascia assim a Goóc, que entre empregos

brasileiro de certa forma tem acesso a mui-

expressas pelo entrevistado, mas estava por

diretos e indiretos, hoje conta com um exér-

tas garantias, o que permite que se possa

vir a explicação mais razoável que verdadei-

cito em torno de 900 pessoas.

estudar, trabalhar e divertir-se com mais fa-

ramente orienta as visões do senhor Thai

cilidade, e com isso perde-se o foco.

para um sucesso muito real.

Com a voz emocionada – o que não amea-

Quando perguntamos o inverso, ou o que

çou o equilíbrio do nosso encontro na área

poderia ser levado daqui para melhorar o

Assim, afirmou:

VIP do stand de vendas da Goóc, na última

Vietnã, foi taxativo: a tranquilidade, ou seja,

“A raça humana não está vendo muita coisa,

Francal –, o comunicador Thai contou que

a “cuca fresca” dos brasileiros.

e no caso do Brasil, todo o lixo que pro-

seu trabalho está alinhado energeticamente

E justificou puxando a história de dominação

duz sem planos de recuperação pode virar

com a origem de seu nome. Uma homena-

de seu país durante séculos pelos chineses,

produtos de ótima qualidade.

gem de sua mãe ao batizá-lo, conforme

pelo comunismo e por último pelos america-

No ano passado consumimos 40 milhões

tradição vietnamita, atribuindo-lhe desejos

nos.

de pneus, por necessidade primária, e ainda

auspiciosos de gratidão.

Com a liberdade conquistada, disse, o povo

nos servimos de 400 milhões de sandálias

Por isso, disse, tudo o que faz é em agrade-

vietnamita assumiu as oportunidades dos

de baixíssima resistência, por necessidade

cimento às pessoas envolvidas, assim como

novos tempos com muita determinação, por

secundária, pois somos um país tropical. En-

à vida, que afirma ser maravilhosa quanto

isso quando querem mudar uma situação,

tão por que não usamos essa realidade para

mais simples for.

vão pra cima e se empenham e se esforçam

atingir um objetivo maior, que é transformar

até acontecer!

os resíduos poluidores do meio ambiente,

Estava diante de mim um homem vestido

causados pela nossa necessidade primária

com calça preta, camisa branca da empresa

Sobre o que ele estaria vendo no horizonte

(pneus), para atender melhor, com incom-

e nos pés, suas sandálias, apresentação

que pouca gente está enxergando, o em-

parável resistência, aderência, durabilidade

singela para um empresário poliglota, que

presário Thai Quang Nghiã fez uma verda-

e garantias ambientais a nossa necessidade

viaja intensamente pelo mundo, já produ-

deira apologia ao simples.

secundária, que é poder chegar em casa,

ziu dez milhões de pares de sandálias, tem

Percorreu quase todos os aspectos estrutu-

tirar os sapatos e colocar uma confortável

uma das maiores redes de distribuição em

rais de uma economia de forma sublime e

sandália?”

todo o território nacional, e ainda faz expor-

até poética, aliás, profética! E disse:

tações para diversos países. E que pode se

O senhor Thai ainda discorreu de forma lógica

dar ao luxo de ter o rei Pelé como garoto-

“É preciso ter sonhos... sentar e aprender a

e objetiva sobre todas as qualidades que são

-propaganda para atingir a meta do Projeto

contar a respiração... Isso é espiritual porque

inerentes ao DNA da borracha vulcanizada e

2014 e colocar nos pés de 200 milhões de

nos coloca diante de Deus, não de um Deus

que podem imediatamente ser transferidas

pessoas, pelo menos, um par de sandálias

vingador, intocável, que persegue e julga

para as pessoas.

recicláveis Goóc. Ao mesmo tempo vai tirar

nossas ações, mas sim como uma força in-

E, o melhor, limpando o ambiente e reem-

das ruas milhões de pneus usados, reem-

terior que se manifesta de forma majestosa

pregando milhares de pessoas.

pregando parte dos 10 mil profissionais da

e nos ensina o que é de verdade o caminho

vulcanização, hoje inativos, o que vai ajudar

sagrado.” E continuou:

a reativar um parque industrial que tem 70%

“É isso mesmo que eu penso, minha missão

de seu ativo em estado de decomposição, e

é reciclar essas coisas que não prestam e

que pode rapidamente recolocar o Brasil em

poder recolocar o valor e a tradição de volta

uma posição de destaque nesse setor.

nelas. E fazer isso pra mim é sagrado, porque

Mas restava a dúvida se seria realmente pos-

faz mudar a opinião de quem afirmava que

sível um homem guardar tanta identidade

tal coisa não vale nada, o que é um imenso

com o simples e surgir como modelo de

engano, pois tudo o que está aqui, entre nós,

modernidade empresarial.

pode ser revalorizado.”

Sobre o que ele traria do Vietnã para me-

De certa forma, o estado de leveza e bem-

lhorar o Brasil, prontamente ouvimos a pa-

-estar que pude sentir naquele instante era

lavra garra!

em razão das concordâncias intensas que

Para Thai, embora seja muito afetivo, o povo

surgiam diante dos sentimentos e reflexões

“A raça humana não está vendo muita coisa, e no caso do Brasil, todo o lixo que produz sem planos de recuperação pode virar produtos de ótima qualidade.”

Eurobike magazine . 19


razão

nação em reciclar tudo, o tempo todo, a fim

O senhor Thai terminou sua contínua ex-

de que outros sonhos virem realidade e que

posição de ideias com mais uma reflexão,

mais pessoas sejam beneficiadas com isso.

afirmando ser impossível falar em sustentabilidade sem estar absolutamente engajado

Sua metralhadora de ideias estava em alta

Ele garantiu que não tem fantasias mate-

na recuperação dos valores tradicionais de

intensidade e velocidade máxima quando,

riais, não corre atrás de luxo, não tem casa

uma determinada cultura.

de súbito, se levantou e trouxe mais uma

de praia nem outros sinalizadores de fortuna,

pérola:

mas que, tão logo realize o Projeto 2014,

“Sustentabilidade é antes de tudo uma pes-

“Ah! Lembrei mais uma característica da cul-

deixará esse legado para seus três filhos, fru-

soa forte, posicionada de forma consciente

tura vietnamita que pode agregar muito valor

tos de dois casamentos, e partirá atrás de

sobre seus valores, capaz de proteger esse

aqui no Brasil... Porque lá, depois da guerra,

realizar mais uma proeza.

patrimônio, pois não adianta falar sobre sus-

precisamos aprender a usar poucos recursos

Quer voltar para o Vietnã – pois diz ter tra-

tentabilidade se não se sabe defender o que

para produzir grandes resultados, e o Brasil

balhado bastante para o Brasil, país que o

é essencial e mais importante em sua base

esbanja recursos sem necessidade. Os pau-

acolheu – e lá poder dar aulas para crianças

cultural...”

listanos em dez anos aumentaram em 300%

e ajudá-las a recodificar as bases da tradição

a produção de lixo, e a população cresceu

cultural de seu país, composta por milhares

E fechou a entrevista recitando um daqueles

entre 7% a 10% apenas! Então essa é a re-

de verbetes, cânticos, que segundo pude-

cânticos vietnamitas cuja tradução explica

ceita do crescimento sustentado: caminhar

mos entender, funcionam como mantras que

por que esse cidadão acredita tanto em re-

revendo nossas necessidades de consumo,

refletem estados de espírito positivo para as

ciclar valores.

adotando uma vida mais simples diante do

pessoas. “Corrija você, cuide de sua família, governe o

desespero de consumir e ampliar nossa ambição de transformar e produzir um planeta

Para realizar o projeto de recuperar os valores

melhor para se viver.”

culturais vietnamitas, planeja fazer mais uma faculdade aqui no Brasil, e tão logo complete

Na sequência da entrevista, descobrimos que

o curso de Antropologia, quer se dedicar de

o empresário comunicador Thai tem muitos

corpo e alma a isso.

outros planos, que significam a sua determi-

20 . Eurobike magazine

seu país e dê paz para todo o mundo.” Que tal começar a sua reciclagem?


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Já não é preciso deixar o motorista em casa. Sente-o confortavelmente na parte de trás. Novo Porsche Panamera. Dois confortáveis assentos individuais na parte posterior, com um enorme espaço para passageiros altos e bagageiro para quatro malas grandes. Espaço demais para um carro esportivo? Além disso, o Sistema de Injeção Direta (DFI), o Câmbio Porsche de Dupla Embreagem (PDK) com 7 velocidades (opcional) e a função automática de arranque/parada otimizam, de forma significativa, o consumo de combustível e o rendimento do motor.

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raz達o

22 . Eurobike magazine


Entre céu e mar Eurobike BMW exibe para o público, na Rolex Ilhabela Sailing Week, dois modelos cheios de novidades: o X6 e o 120i Cabrio, que já andam despertando paixões pelas ruas FOTOS KRIZ KNACK

Eurobike magazine . 23


razão

O 120i Cabrio traz a nova tecnologia Sun Reflex, que ameniza os efeitos do Apesar da chuva atípica, que veio ge-

calor do sol no banco de couro, muito

nerosa nos últimos meses, muita gente

apropriado para nosso verão tropical, e

teve o prazer de conhecer, durante a

baixo consumo de combustível. Conse-

36ª Semana de Vela em Ilhabela, os

quentemente, menores níveis de emis-

novos X6 e 120i Cabrio que a Eurobike

são de CO2. Traz ainda outra inovação

BMW levou para a Marina Porto Ilha-

interessante: é possível acionar o fecha-

bela. Não há tempo ruim que ofusque

mento da capota com velocidade de até

o brilho desses ícones, e os aficionados

40 km/h, uma evolução para a categoria

puderam ver de perto, entrar, ficar à

de conversíveis.

vontade... Modelo recente da BMW, o X6 é o primeiro crossover da marca, agora sob a denominação Sports Activity Coupé (SAC), motor V8 biturbo de 4,4 litros com injeção direta – o motor mais eficiente da categoria, com 408 cv de potência, tração 4x4 em todas as versões e Dynamic Performance Control, sistema que “corrige a rota” ao distribuir o torque nas rodas traseiras. Um pouco mais baixo que o X5, porém mais comprido e largo.

24 . Eurobike magazine


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GIACOMO FAVRETTO

26 . Eurobike magazine


emoção

O futuro é agora

Eurobike magazine . 27


emoção

K 1300 R por

Giacomo Favretto

Quando chegamos com esta BMW no estúdio do Giacomo, imediatamente ele foi buscar na memória cinematográfica o filme de Luc Besson, O quinto elemento, com Bruce Willis, Milla Jovovich e figurinos de Jean Paul Gaultier. Cool, futurista – assim é a K 1300 R

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emoção

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Naked. E precisa de mais alguma coisa?

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emoção

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Intrigante

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Unstoppable. 173 cv de potência e 140 Nm de torque a 8.250 rpm

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emoção

Feita para Leeloo!

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Eurobike magazine . 37


emoção

oferecem uma excelente condução. Uma posição de condução descontraída, um ângulo de joelho suave e uma confortável

A BMW K1300R

inclinação do guidão que proporciona total controle do veículo. No modelo K 1300 GT, com apenas alguns ajustes, após converter os longos corredores de asfalto da cidade grande em companheiros de viagem perfeitos, assim que chegar em casa é possível regular a posição do guidão para ter uma moto ideal

POR PERCY FARO

para ir ao trabalho no dia a dia. A nova linha K de motos BMW com

Quem anda frequentemente de motocicleta,

motores de 1.300 cc que já chegou ao

especialmente

Brasil tem agradado – e muito – aos mais

potência,

exigentes motociclistas. A BMW K 1300

importância de trocar as marchas sem

R, especialmente, ultrapassa os limites

acionar o manete da embreagem e muito

do imaginário daqueles que respiram e

menos aliviar o acelerador. Antes do fator

vivem duas rodas. O modelo transforma

conforto, neste caso, a questão diz respeito

em realidade o que para muitos parecia

diretamente à segurança do motociclista,

impossível, ao reunir avançada tecnologia

na medida em que não precisará tirar os

e um conjunto visualmente espartano,

dedos da manopla. Também neste aspecto

aparentemente despojado de sofisticação.

a BMW deu um passo à frente ao criar o

Aparentemente!

Gearshift Assistant (Assistente de Mudança

tem

em

modelos

plena

de

maior

consciência

da

de Marcha). O sistema que equipa os

Equipamentos de série:

Aliás, não existe nenhum exagero nos apelos

integrantes da nova família K 1300 permite

de vendas e peças de marketing do fabricante

ao piloto subir a marcha sem acionar a

• Escapamento de aço inox

quando a marca alemã afirma que uma

embreagem e sem desacelerar, o que, em

• Gerenciamento eletrônico do motor (BMS-K)

moto sem carenagens representa a doutrina

outras palavras, significa não interromper a

• Controle de detonação

do puro motociclismo. Como costumam

potência nem a tração.

• Ajuste hidráulico de pré-carga da mola traseira (versão sem ESA)

dizer os fãs das chamadas motos naked – modelos que apresentam um design limpo,

A nova linha de motos BMW, com motores

• Descanso lateral com inibidor de partida

com acabamento simples –, 100% de vento

de 1300 cc, K 1300 S (esportiva), K 1300 R

• Ajuste contínuo de retorno do amortecedor traseiro

no rosto oferece 100% de sensações de

(naked) e K 1300 GT (touring) foi apresentada

• Farol permanente

condução. Assim, se para os tradicionalistas

no Salão de Colônia, na Alemanha, em

• Tomada para diagnóstico

a autenticidade é inalterada, para os puristas

outubro do ano passado. Além de aumento

• Imobilizador eletrônico (EWS)

fica uma visão clara da tecnologia. Até porque

da capacidade cúbica do motor, de 1.157

não se pode esquecer de que o piloto está

cm³ para 1.293 cm³, os modelos ganharam

sobre uma autêntica unstoppable (rápida),

melhorias

que desenvolve nada mais nada menos que

e ciclística, que se traduziram em mais

173 cv de potência e 140 Nm de torque a

desempenho, conforto, segurança e alta

8.250 rpm. Como bem diz a BMW, é pura

tecnologia. O câmbio e a transmissão final

explosão sobre duas rodas.

por eixocardã, outra identificação mundial

também

na

parte

mecânica

das motos BMW, igualmente incorporaram Na Europa, além de disponibilizar um imenso

inovações que resultaram em acionamento

portfolio

mais suave e silencioso.

para

personalização,

a

BMW

Motorrad ressalta que as motos urbanas não se limitam a ter bom aspecto. Elas também

38 . Eurobike magazine

• Tela de informações (relógio digital, indicador de marcha, nível de combustível, temperatura do motor e autonomia residual) • Sistema eletrônico Can-Bus • Tomada auxiliar de 12 V • Luzes de emergência (pisca-alerta) • Kit de ferramentas • Ignição, trava de guidão, tampa do tanque de combustível e trava de assento bipartido integradas • Manetes de freio e embreagem ajustáveis


Trocar este anuncio


emoção

Clássicos do passado, presente e futuro Eurobike participa do 1º encontro de carros clássicos da Alta Mogiana, que reuniu objetos do desejo POR EDUARDO ROCHA | FOTOS ÉRICO HILLER

O Clube Faixa Branca de Veículos Antigos de Ribeirão Preto e o Clube do Automóvel Antigo de Franca promoveram, entre os dias 9 e 12 de julho, uma grande exposição de carros clássicos, no Clube de Campo da Sociedade Recreativa de Esportes, em Ribeirão Preto. O público numeroso, que passeou pelas alamedas da Recreativa, se encantou com a grande variedade de clássicos da indústria automobilística nacional e internacional do século passado. Mas também pode apreciar o que há de mais moderno e sofisticado apresentado no stand do Grupo Eurobike, que trouxe modelos das marcas Audi, BMW, Land Rover, Porsche, Toyota e Volvo, assim como motos BMW e até mesmo o BMW M3 GTR, que compete na categoria Endurance, que atraiu muitas pessoas com o impressionante rugido de

Personalidades também não faltaram, como

seus mais de 400 cv.

o ator Carlos Miranda, o Vigilante Rodoviário e seu Simca Chambord.

Carros raros como BMW-Isetta, Morris Mini, Rolls Royce, Karmann-Ghia e DKW exibiram

O evento mostrou que tem muito potencial

suas linhas arrojadas e proporcionaram aos

e, portanto, deve crescer bastante nas próxi-

visitantes uma retrospectiva do design auto-

mas edições.

motivo ao longo de épocas.

40 . Eurobike magazine


À esquerda: carro funerário, estande da Eurobike, BMW 520i e Rolls Royce Silver Shadow Nesta página, no alto: Carlos Miranda e seu Simca Chambord e BMW Isetta Acima: Porsches Cayenne Transsiberia, Cayman e Land Rover Defender Ao lado, mais um clássico britânico: o Morris Mini

Eurobike magazine . 41


OCTAVIO CAMPOS SALLES

42 . Eurobike magazine


prazer

eu passarinho, tu passarinhas, ele passarinha. passarinhar ĂŠ olhar para cores e cantos que voam em eterno encantar

Eurobike magazine . 43


prazer

Vamos

passarinhar? O Brasil está se tornando um dos melhores destinos para a prática do birdwatching, esporte de observação de aves que atrai cada vez mais turistas europeus e americanos para nossas terras POR SIMONE FONSECA | FOTOS OCTAVIO CAMPOS SALLES

44 . Eurobike magazine


Eurobike magazine . 45


prazer

aos pássaros e, a partir de 1930, foram

quatro anos em São Paulo e vem reu-

organizados os primeiros grupos de

nindo cada vez mais pessoas. Paralela-

birdwatchers. No Brasil, o grande in-

mente ao evento, foi criado um concurso

centivador dessa prática foi o naturalista

de fotografias de aves, que, na última

Os nomes populares são os mais curio-

alemão Helmut Sick, que viveu por aqui

edição, computou mais de 8 mil

sos: chupa-dente-de-capuz, bacurau--

entre os anos 1931 e 1990, e escreveu o

inscrições.

rabo-de-seda, choquinha-de-garganta-

livro Ornitologia Brasileira (Editora Nova

-pintada,

Fronteira), referência definitiva para os

Nosso território é formidável para quem

apaixonados e estudiosos de aves.

quer passarinhar. Somos um dos paí-

trinca-ferro,

maria-faceira,

pica-pau-de-cabeça-amarela,

trinta-

ses mais ricos em biodiversidade no

-reis-anão, pula-pula-ribeirinho, beneolho-de-fogo-

Atualmente, milhões de pessoas viajam

mundo, com 1.822 espécies de aves

do-sul, tiê-de-topete, caburé, socó-boi,

o mundo todo para observar pássaros,

catalogadas, número superado apenas

tuiuiú, coscoroba, curicaca, entre mi-

e nesse vaivém movimentam bilhões de

pela Colômbia – com 1.865 –, e que

lhares de outros. As cores percorrem

dólares. Estima-se que, apenas nos Es-

representa quase 20% das 9.700 es-

A prática do birdwatching teve início

tados Unidos, existam mais de 50 mi-

pécies registradas até hoje em todo o

com a aristocracia inglesa, no século

lhões de birdwatchers.

planeta. Também somos campeões em

XVIII, que costumava sair a passeio por

No Brasil, a prática ainda é incipiente,

espécies endêmicas – 232 –, ou seja,

suas vastas propriedades para observar

mas vem crescendo a cada ano, atrain-

temos aves que só podem ser observa-

os pássaros. Ao final daquele século,

do mais e mais europeus, norte-ameri-

das aqui. Uma preciosidade para olhos

a atividade ganhou mais força com a

canos, australianos e japoneses.

estrangeiros.

portamento das aves locais. No século

Uma prova de nosso crescente inte-

A fotografia é o troféu

XIX, duas sociedades – Audubon So-

resse pela atividade foi a criação do

ciety e Royal Society for the Protection

Avistar, Encontro Brasileiro de Ob-

Nos primeiros tempos de birdwatching,

of Birds – foram criadas para proteção

servação de Aves, que acontece há

os ingleses costumavam dizer que o es-

dito-de-testa-amarela,

uma extensa paleta – desde as mais discretas até as mais berrantes. Os cantos alternam as notas mais agudas e as mais graves, algumas desafinadas, outras melódicas como uma canção. Os hábitos também são muito variados. Existem as reclusas, as espevitadas, as seguidoras profissionais de formigas, as noturnas, as que vivem de pular ribeirinhos, as que andam em bandos, as que dançam para atrair os parceiros, as que imitam o canto de outras aves, as que conversam com seres humanos e as que voam centenas de milhares de quilômetros em busca de alimento. Observar aves é se aprofundar em uma linguagem repleta de símbolos e significados próprios. E, segundo os especialistas, quanto mais se conhece o assunto, mais se percebe que há um universo inteiro a ser desvendado.

publicação de um livro sobre o com-

46. Eurobike magazine


pírito da atividade era o mesmo que o de uma

esportiva. Desse contato com a natureza na-

espécie em seu próprio habitat e lhe rendeu

caçada, só que sem a captura do animal.

sceu a vontade de registrar as cenas que via.

o prêmio de Melhor Registro no 1º Concurso

Na época, o grande trunfo, além do próprio

Dos peixes passou aos pássaros e começou

Avistar Itaú BBA, em 2007.

avistamento, eram as ilustrações científicas

a se dedicar à fotografia de aves, no início

das aves. Hoje, os troféus são as fotografias.

como passatempo, e agora como parte de

Octavio fotografou esta matéria e foi tam-

Quanto mais arisca for a ave, mais valiosa é

seu repertório como fotógrafo profissional.

bém o guia da nossa primeira expedição

sua imagem.

Já viajou praticamente por todo o Brasil, ten-

de observação de aves. Nosso destino?

do visitado lugares nos quais pouquíssimas

Parque do Zizo, em São Miguel Arcanjo,

Octavio Campos Salles nasceu em São Pau-

pessoas já estiveram, entre eles a Serra do

a 200 quilômetros de São Paulo. Para lá

lo e passou grande parte de sua vida acom-

Aracá, onde fotografou o raro formigueiro-

fomos munidos de um poderoso binóculo

panhando a família em viagens de pesca

do-caura. É a única foto conhecida dessa

Swarovski, o Stradivarius dos binóculos,

Eurobike magazine . 47


prazer

costumes das aves da Mata Atlântica, per-

benedito-de-testa-amarela.

neiras de couro para nos proteger de possíveis ataques de cobra e o playback com

Os nomes são um capítulo à parte, as-

os cantos das aves armazenados. Ele ex-

sim como as imagens proporcionadas pelo

avaliado em cerca de 10 mil reais, uma

plica que esse equipamento é utilizado para

binóculo Swarovski, que se assemelham a

câmera fotográfica com lente 600 milíme-

chamar a atenção de algumas espécies.

cenas de um filme em 3D, com incrível niti-

tros, um iPod com centenas de cantos de

Basta reproduzir o canto de alguma ave es-

dez e realce espetacular das cores, luzes e

aves armazenados e uma caixa de som.

pecífica e as outras acabam sendo atraídas.

sombras. Depois de mais de duas horas em

No entanto, é um equipamento que deve ser

plena comunhão com a natureza, voltamos

usado com muita parcimônia, para não es-

para a sede. Hora do almoço, preparado

tressar os bichinhos. Com tudo em cima, lá

pelo Jorge.

Olhar, ouvir, silenciar Chegamos no Parque do Zizo às 10 horas

fomos nós em direção a uma das trilhas. Ao redor do fogão a lenha, enquanto sa-

da manhã de uma segunda-feira chuvosa. A estrada de 30 quilômetros que separa

Silêncio é uma das premissas básicas na

boreávamos uma deliciosa lasanha, ouvimos

São Miguel Arcanjo do parque é boa, salvo

prática do passarinhar. Se falar muito alto

as histórias do parque. A área pertence à

os últimos 3 quilômetros, onde só se chega

ou fizer movimentos bruscos, as aves se as-

família Balboni, Chico e seus irmãos, que de-

com veículos 4 x 4, com marcha reduzida e

sustam e “avoam”, como dizem os mateiros.

cidiram transformá-la em Reserva Particular

com a habilidade de um bom piloto.

De modo geral, as regras são andar devagar,

do Patrimônio Natural e estimular projetos

Foi nosso caso.

apurar o olhar e afiar os ouvidos. Saber se

de pesquisa científica, educação ambiental,

locomover pela mata é um dom que se treina

ecoturismo e observação de aves. Recebem

aos poucos.

muitas crianças da região, brasileiros de

O parque é uma área particular de 400 hec-

vários estados e estrangeiros. O nome Zizo

tares de Mata Atlântica primária, na Serra de Paranapiacaba, ao lado do Parque Estadual

A primeira espécie que vimos foi um casal de

foi apelido do irmão – Luiz Fogaça Balboni

Carlos Botelho e de Intervales. Ao todo, es-

surucuá-de-barriga-amarela.

Rapidamente

–, morto em 1969 pela ditadura militar. O

sas três reservas formam um grande contí-

voaram como se pressentissem nossos ol-

dinheiro que a família recebeu de indeniza-

nuo de florestas, que guarda alguns tesouros

hares. Andamos mais um pouco e vislumbra-

ção do Governo Federal ajudou a construir

preciosos da nossa biodiversidade, como a

mos uma juruva-verde, ave que se camuflava

a sede.

onça-pintada e o mono-carvoeiro, o maior

nas árvores. Depois um caburé--miudinho,

primata das Américas.

uma das menores corujas do mundo, com

Depois

apenas 13 centímetros, um tiê--preto e um

olhando para o pica-pau-de-cabeça-amare-

No Parque do Zizo não há luz elétrica, as acomodações são bem simples, mas a recepção de Chico e Jorge, respectivamente o administrador e o faz-tudo do parque, é muito acolhedora. E o cenário é absolutamente exuberante. A sede é rodeada por mata virgem, formada por incontáveis tons de verde embalados pelos cantos dos pássaros e pela música do vento que faz as folhas dançarem. A impressão é a de que estamos em meio a uma tela de Johann Moritz Rugendas, pintor e desenhista alemão que retratou o Brasil entre 1822 e 1825. Voltamos no tempo. Octavio

deu

as

primeiras

orientações.

Roupas escuras para não afugentar as aves, binóculo, guia de campo com ilustrações e

48 . Eurobike magazine

do

cafezinho,

ficamos

por

ali


la, também conhecido como joão-velho, e a saíra-sete-cores, espécie de pardal da Mata Atlântica, uma ave bem exibida, que não se importa de ficar perto das pessoas. As horas voam nessa aparente calma e, quando demos conta, era noite. Escurece cedo na mata. Tomamos um banho com aquecimento a gás bem quente e fomos dormir. No dia seguinte, a aventura continuaria. Dormir em ambiente silencioso é uma das experiências mais gratificantes, principalmente para quem vive na cidade grande e já está acostumado a um zunido constante de carros e gentes. Ali no Parque do Zizo, fui embalada por um dos melhores sonos da minha vida. Assistindo à natureza Na terça-feira, fizemos uma longa trilha que ia em direção a uma das cachoeiras do rio Ouro Fino, que rodeia o parque. A meta era nos embrenhar mais na mata para buscar outras espécies de aves. Logo no começo, fomos brindados pela aparição da bela coruja murucututu-de-barriga-amarela. Um presente para mim, que sou fã dessa ave de rapina.

Fêmea do pica-pau-de-cabeça-amarela, também conhecida como joão-velho

Eurobike magazine . 49


prazer

Acima, saíra-sete-cores, considerada o pardal da Mata Atlântica. Na página ao lado, macho do olho-de-fogo-do-sul e o ‘passeio’ das formigas-de-correição

Durante o passeio, Octavio foi nos contando

servam e continuam dançando, para quem

baixinho sobre os hábitos de cada espécie.

sabe um dia se tornarem o macho domi-

Aprendemos que existem as que pratica-

nante. É provável que alguns deles nunca

mente só comem os frutos do palmito e, por

cheguem a copular durante toda a vida. So-

isso, estão ameaçadas de extinção, junta-

mente a fêmea faz o ninho, encuba os ovos

mente com seu alimento principal. Soube-

e cuida dos filhotes.

mos que os tangarás machos passam 90%

50 . Eurobike magazine

de sua vida dançando para atrair as fêmeas.

Também ficamos sabendo das aves seguido-

E esse ritual é feito em conjunto com outros

ras de formigas. Chamadas de “seguidoras

machos. Funciona assim: vários machos se

profissionais”, elas passam a vida atrás das

reúnem sempre no mesmo local, uma es-

formigas-de-correição, espécie seminômade,

pécie de palco, onde dançam juntos, com

sem ninho fixo, que sai pelo solo da floresta

passos rápidos e predeterminados. De vez

às centenas de milhares capturando todo e

em quando, as fêmeas se aproximam para

qualquer ser vivo que estiver pelo caminho.

escolher aquele com quem querem se acasa-

As principais presas são insetos e, em menor

lar. Geralmente, só um macho acasala com

quantidade, répteis, anfíbios e filhotes de

as fêmeas, enquanto os outros apenas ob-

aves. Ao pressentir o exército de formigas


chegando, muitos desses insetos fogem de

fotografamos bromélias, cipós altíssimos,

seus esconderijos diurnos, tornando-se pre-

enroscados como tranças de cabelos, flores

sa fácil para as aves, como o arapaçu-liso e o

em pencas, árvores antigas. A Mata Atlântica

olho-de-fogo-do-sul. É um fenômeno conhe-

é tão bela e tão única. Chegamos à cozinha

cido por qualquer birdwatcher nos trópicos,

do Jorge, plenos, felizes e revigorados.

mas não tão comum de ser visto. Por isso, quando nos deparamos com elas andando

Agora era almoçar e preparar a volta a São

em longas filas india-nas, ficamos bem orgul-

Paulo. Na memória, as vozes da mata, a

hosos de presenciar a rara aparição.

dança dos tangarás, os olhos imensos da coruja. E enquanto estava na estrada pensei

Assistir à vida da floresta é de uma riqueza

que passarinhar é mesmo um verbo bom de

incomensurável. Todos os sentidos ficam

se praticar. Uma prática sustentável que nos

aguçados, e a entrega à natureza é total. De-

ensina que é possível assistir e interagir com

pois de duas horas de caminhada forte, che-

a natureza em total e absoluta harmonia.

gamos à Cachoeira do Ouro Fino. Pena que estava frio e chuvoso, o clima não convidava a um banho. No caminho de volta à sede,

Eurobike magazine . 51


prazer

Tangará: o macho dança para atrair as fêmeas

Para saber mais

das aves na copa das árvores e nos estratos inferiores da floresta, às margens de um lago

• O Pantanal Mato-grossense é um dos lu-

ou à beira da mata.

gares mais procurados para a prática do passarinhar. Lá existem mais de 650 espé-

Observação de percurso, em que o obser-

cies catalogadas.

vador faz suas investigações percorrendo cuidadosamente uma trilha, uma picada, um

• Existem duas maneiras de passarinhar:

campo, a pé, em um automóvel ou navegando em canoa.

Observação parada, de escuta, em que o

52 . Eurobike magazine

observador fica parado em determinado lo-

• Proteger as aves é proteger um patrimônio

cal, ouvindo e assistindo à movimentação

da humanidade. Belas e inspiradoras, elas



prazer

A Mata Atlântica é um dos melhores lugares do Brasil para passarinhar

ajudam a indicar a qualidade de nosso meio

• Bird Life International:

ambiente.

www.birdlife.org

De maneira geral, os lugares em que há mui-

• Parque do Zizo:

tas aves são ricos também

www.parquedozizo.com.br

em outras formas de vida e apresentam ar,

• Site com cantos de milhares de aves:

água e solo saudáveis.

www.xeno-canto.org • Avistar – Encontro Brasileiro de Observa-

• Octavio Campos Salles, fotógrafo e guia de birdwatching no Parque do Zizo e outros locais: www.octaviosalles.com.br • CBRO – Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos: www.cbro.org.br

54 . Eurobike magazine

ção de Aves: www.avistarbrasil.com.br



CAROL RIBEIRO 56 . Eurobike magazine


devaneio

nuvens baixas – o verde da colina Ê mais denso

Eurobike magazine . 57


devaneio

58 . Eurobike magazine


Nas curvas suaves A memória de um traçado antigo e remoto POR GUTO CARVALHO E CAROL RIBEIRO

É noite de névoa que se concentra, de chuva

No posto da polícia rodoviária, fazemos um

que arrepia. Trezentos e sessenta quilômetros

pit stop para confirmar.

ao sul de São Paulo escurece mais cedo ainda

Na noite fria, a luz amarelada difusa das

que alguns minutos. E é nessa hora, quando

lâmpadas incandescentes contrasta com o

os sinos dobram, que a densa neblina sobe

tom azulado dos faróis. Chuva fina. Soldado

do mar para encerrar a paisagem e o dia. Os

Muller se aquece com uma cuia de mate.

faróis seguem iluminando o asfalto molhado e as placas indicativas – estamos na Estrada

– Boa noite! Tudo bem? Por favor, gostaria

da Graciosa – e lentamente o Audi Q5 traça

de saber quais as condições da estrada…

cada uma das curvas suaves deste nosso

– Ah! A Graciosa? Vai sem problema,

percurso.

mas tenha cuidado! Na estrada de pedra

Deixamos a Regis Bittencourt próximos

nada de muito freio, reduza na marcha!

da divisa SP-PR, a placa indica: Serra da Graciosa, Morretes, Antonina, Paranaguá...

Agradeço e retomo a partida. Um carro

Eurobike magazine . 59


devaneio

nos pneus macios, o cenário novo que se descortina. O trajeto é tranquilo e confortável, ser passageiro é um estado de espírito.

surge no sentido contrário, logo outro.

Cruzamos o rio e logo chegamos a São

Aparentemente somos os únicos a descer

João da Graciosa, povoado ao pé da serra.

esta noite.

Seguimos mais alguns quilômetros até Porto de Cima para dormir no Santuário

Não importa mesmo qual o ponto de partida,

Nhundiaquara, um espaçoso lodge na beira

o que indica o caminho é o nosso destino,

do rio de mesmo nome. Os quartos têm

do Pará ao Paraná. No escuro não existe

varanda aberta para uma floresta repleta de

abismo. Mesmo nas noites mais estreladas,

palmitos onde as gralhas azuis e saíras se

quando o longe se aproxima, o melhor plano

revezam em busca das bananas colocadas

é a saída. Obedecer à força da gravidade e

nos comedouros.

chegar ao mar para ouvir melhor o canto da sereia. Bananeira de inverno por quem choras nesta noite escura?

O amanhecer é uma janela que se abre para o dia, brumas que se libertam. Ao acordar, o topo do morro se reflete no lago e desaparece em seguida, para nunca mais. A fé e as nuvens removem montanhas. Aquecer a

Estou cercado de abismos que a cerração

alma com café farto e fraco, encher o ouvido

não permite enxergar. A chuva engrossa,

de passarinhos.

os limpadores fazem bem o seu serviço. A estrada segue morro abaixo – quarteto

O Marumbi é um capítulo à parte, um conjunto

Kronos – música contemporânea se confunde

de montanhas cujos picos alcançam 1.500 m

com o tamborilar ritmado dos pneus contra

de altitude. Maciço de granito, desafia há

os paralelepípedos da velha estrada.

muitos anos uma legião de montanhistas, criando

a

cultura

marumbinista.

Sua

Estrada de serra, a Graciosa faz jus a seu

conquista ocorreu no ano 1879, época em

nome, as curvas são bem traçadas, a

que a ferrovia foi construída. Para os simples

declividade é suave, o pavimento poliédrico

mortais existe uma trilha relativamente leve

em bom estado. Não use o freio – diria o

que parte da Estação Marumbi e chega ao

soldado Muller. Sigo à risca, uso o controle

topo, onde a vista é estonteante.

de descida (HDA) e esqueço o problema. A velocidade fica estável, não toco o pedal...

Chovia, em vez de subir a grande montanha,

Me concentro no traçado, no olhar e na

nossa opção foi descer até Morretes. No

direção. Agradável.

caminho, passamos por Porto de Cima, vila ao sopé do Marumbi, floresceu no século

Estrada parque, a cada 1.000 metros

XVII quando era parada obrigatória antes de

surgem refúgios para descanso: Bela Vista,

subir a serra. Hoje a igreja de São Cristóvão

Ferradura, Grota Funda, Cachoeira, todos

é lembrança dessa época.

os nomes remetem à grande aventura de cruzar a Serra do Mar. “Refúgio do rio Mãe

Festa de padroeiro, santos e igrejas – no barro

Catira”. Suavemente, assim como começou,

dos tijolos há histórias que não se esquece.

a Graciosa termina. Fica a vontade de voltar

Na chuva, a paisagem aparece lavada,

durante o dia.

revelada. Fotografar é um ato silencioso. Parar o tempo, o trem, o movimento. Parar

É a paisagem que se desloca, ou o foco que

a chuva a qualquer momento. Gotas na

se perde na neblina, o trepidar das pedras

paisagem. Gotas de passagem.

60 . Eurobike magazine


Eurobike magazine . 61


devaneio

Na esquina da estrada com a vila há uma

importância na região, conforme atesta

venda, a casa dos licores. Ali, Marcos Kaniak,

o estatuto da Irmandade do Século XVII,

descendente de poloneses, se dedica a

formada por

recuperar receitas de antigamente e preparar

“pretos,

licores com frutas da região. Marcos não é

pessoas livres que por suas devoções

apenas um fazedor de licores. Todos os dias

quiserem pertencer a ella sem distinção de

abre suas portas e se dedica a equilibrar

sexo ou idade, com tanto que professem

pedras – menires improváveis se sustentam

a religião Catholica Romana, tendo por fim

em delicado

destejar annualmente ao Glorioso S. Benedito

equilíbrio. Esferas, cones e

outras formas indescritíveis são empilhadas

escravos

e

administradores

e

no dia 25 de Dezembro.”

em frente à sua loja. Louco de pedra precisão e equilíbrio o vento leva

Grandes palmeiras! Ao chegar em uma cidadezinha, sempre olho para suas árvores, assim dá para saber o tempo de colonização e a idade do povoado. Morretes é cidade

Na vila, soubemos de Sarica, ilustradora

antiga... Ficou espremida entre a curva do

naturalista que escolheu a dedo o local para

rio, a estrada de ferro e a Graciosa.

morar. Aqui a natureza é exuberante, com papagaios, bromélias e pererecas que saltam

É engraçado voltar a uma cidade muitos

da mata para sua obra. Exercita as imagens

anos depois, é como se o tempo andasse de

em lápis de cor e tem uma escolinha de arte

marcha a ré, como pagar um bilhete de ida e

para as crianças da região.

volta. Vem à minha memória o hotel, o rio, as pedras, e num breve reconhecimento ainda

Na próxima esquina, dona Siroba tem

ouço o apito do trem e as rodas passando

uma simpática pousada e restaurante. que

sobre os trilhos das infinitas pontes. Ouço

serve o barreado, prato típico da região,

o apito, o apito e o despejar da água do

que deixamos para depois, e seguimos até

rio embaixo de chuva. Ponte velha, ponte

Morretes. De cara, a igreja de São Benedito.

nova, ponte pênsil. O presente é ponte entre

Sinal de que os negros forros tiveram sua

passado e futuro.

62 . Eurobike magazine


Morretes tem um forte apelo turístico. Um casario bem conservado e já adaptado, uma séria candidata a “Paraty dos Mares do Sul”. Oferece cultura, arte e artesanato. Atrai

Página ao lado, acima: o Portal da Graciosa e as pedras equlibradas de Marcos Kaniak. Acima, as barrancas do rio Nhundiaquara em Morretes. À esquerda: interior do antiquário

artistas de todo o mundo, como o argentino Daniel, malabarista anfitrião do restaurante Empório do Largo, uma excelente opção com direito a terraço para o rio. Almoçamos e em seguida visitamos a exposição de gravuras de paisagens no museu da cidade. Logo em frente fazemos uma pausa para um delicioso chocolate no antiquário N. Sª do Porto. A cidade é servida por uma das últimas linhas regulares de trem de passageiros no Brasil. Acompanhamos a chegada da litorina, um trem todo em inox, com vagões ricamente decorados, faz o trajeto Curitiba-Morretes. Usado como transporte por turistas internacionais que podem ter uma Eurobike magazine . 63


devaneio

A velha estação de Antonina

visão privilegiada da Serra do Mar, enquanto

como base para esportes de aventura,

a composição se esgueira entre precipícios.

como cicloturismo, montanhismo, rafting e boiacross, grande sucesso no verão. A região

Existe a opção diária de usar o trem de

é também ponto de fotógrafos de natureza.

passageiros, algumas pessoas descem a serra de bicicleta e retornam de trem. Na

De Morretes para Antonina existem dois

estação, barracas vendem cocadas caseiras,

caminhos, um vai, outro volta. Um mais curto,

frescas e crocantes, junto a uma boa prosa,

outro mais longo. Um mais antigo, outro

receitas de vida.

mais novo. Estamos cercados por imensas montanhas que só existem nos dias de sol,

64 . Eurobike magazine

Morretes resiste bem, mesmo em dias

como nos cenários de filmes de Hollywood.

de chuva. Nos dias ensolarados serve

Montanhas ao longe que abraçam a cidade,


ao amanhecer tudo se incendeia antes

abertura do Festival de Inverno – 19ª edição.

da névoa novamente desintegrá-las. A

Engraçado ver, no Brasil, na praia, pessoas

chuva dá uma trégua. A paisagem colorida

trajando o guarda-roupa completo de inverno

transparece.

neste dia frio e úmido.

Chegar a Antonina

O velho casario com algumas construções

Baía de Antonina ao amanhecer

bem mais conservadas que outras, algumas Antes de mais nada, a estação… Ainda

só a fachada. Da igreja, no alto do morro,

antes das ruas da cidade, lá está, em ocre,

vejo a água parada e salgada do mar.

a velha estação de Antonina. O nome é

Onde desemboca o rio, o cheiro forte da

homenagem ao príncipe Dom Antônio, que

vida, maresia que aparece. A maré é alta, a

adorava passear por lá. Chegamos no dia de

lua está cheia, sensação de baía rasa pela Eurobike magazine . 65


devaneio

66 . Eurobike magazine


frente. Quem explica tanto mar ir e vir todos

mandioca, de onde vem o nome barreado.

os dias? Ondas jamais.

Fazem isso para aumentar a temperatura de

O casario antigo é bem conservado em Antonina

cozimento, à guisa de panela de pressão. O comprimento do trapiche, via de regra, é um bom indicador da fundura da baía. A baía

De sobremesa, bananas, numa receita

de Antonina, no cais da cidade, segue ao

brilhante, ao molho de laranjas. Dona Anny

lado do mangue. Praias rasas de lama preta,

dá a dica: “bananas no ponto, cozidas por

morada de milhares de animais, moluscos,

exatos 3 minutos na calda quente, agridoce,

artrópodes e outras bases da cadeia

depois descansa, como todo doce gosta”.

alimentar. Garças, gaivotas, socós fazem

Regalo ao paladar, fácil de fazer, difícil não

a festa. Contra o céu, espelhado no mar, o

apreciar.

pescador vai de tarrafa, em pé, em cima da canoa. Só quem tentou sabe como é difícil.

Tarde de sol, a cidadezinha brilha com suas cores alegres. Antonina é conhecida pelo

Onze horas da manhã, tempo de procurar

amor às artes e à cultura, mas é também

um aperitivo – casquinha de siri no Mercado

destino de esporte de aventura, como o rafting

Municipal. Tudo de bom! De frente para a

nos rios da serra, e vela, na baía. De lá parte

baía, no Cantinho de Antonina, para logo

também o caminho para Guaraqueçaba, 60

mais almoçarmos no Buganvil. Ali se come

km não pavimentados.

um bom barreado, preparado com carne – traseiro de boi – cozida em fogão à lenha,

De tarde, devaneios, encontrar a avenida

durante pelo menos vinte horas. A tampa da

Ermelino Matarazzo, ponta de lança do

panela é vedada com massa de farinha de

antigo império industrial paulista, fincado no

Eurobike magazine . 67


devaneio litoral paranaense, o porto Matarazzo fica no final do ramal Antonina da linha de trem. Está desativado, mas restam alguns conjuntos de edifícios quase em ruínas. Dormimos de frente para o mar, no Campo Capela Hotel, uma boa opção. A escolha de um apartamento de frente para a baía garante uma bela vista. Para chegar a qualquer lugar é preciso ir, seguir adiante, seguir em frente, rumo ao mar aberto, destino certo de quem enfrenta a vida de peito aberto, destino de quem precisa navegar. Paranaguamos. Paranaguá,

cidade

portuária

histórica,

segundo porto em volume do Brasil, escoa boa parte da soja produzida no Centro-Sul e Paraguai. Uma longa avenida nos leva diretamente à rua do cais, onde floresceu uma economia baseada na exportação de erva-mate e madeira. Ainda por lá o cais, o mercado e o casario colonial, não muito preservado. Existe uma cultura naval bastante arraigada na baía. Moradores das ilhas distantes dependem totalmente do transporte fluvial no dia a dia. Vamos direto ao Yacht Club, onde Rodney, o capitão, nos aguarda para um charter de dois dias pela baía. Toda viagem é continuidade, uma começa quando a outra termina. Às vezes, se misturam na mesma. Seguir as correntes, as marés, as ventanias. Qualquer percurso se desdobra em vários, não importa, o rio

sonar, piloto automático, rotas determinadas

graneleiros e porta-containers. Aproamos

sempre vai dar no mar. Caminhos tortuosos

e muitos anos de experiência do capitão.

para Guaraqueçaba e seguimos a rota dos

da água a esculpir pedras. Para baixo todo

Por aqui, muitas opções, a conhecida ilha

canais, a baía é rasa e a quilha pode encalhar.

santo ajuda, santa força de atração. Veleiro é

do Mel, ilha do Superagui, ilha das Peças e

Contornamos a misteriosa vila do século

casa que o vento leva e que a onda tráz.

muitas mais.

passado colonizada por suíços e italianos e,

O Brasília 36 é um veleiro moderno, com

Partimos pela manhã. Saímos pelo rio Itiberê,

chegamos. A cidadezinha é bem modesta,

grande eletrônica embarcada, ecobatímetro,

passamos ao largo de grandes navios

ponto de partida para incríveis passeios na

após algumas horas de navegação tranquila,

68 . Eurobike magazine


região conhecida como Lagamar, ou para a

diferenciem nem verde, quanto mais roxo.

Reserva de Salto Morato e do Sebuí, essa

Para dizer que não vi cara-roxa naquele

acessível somente por barco.

entardecer, apenas o balé que centenas de aves faziam, de quando em vez, a fim de se

Baía rasa, pesca boa, robalos e camarões,

acomodar melhor.

ostras e siris. Aves, garças e socós nas praias

Pela manhã, seguimos no canal do varadouro

do mangue e os guarás que deram o nome à

que chega até Cananeia. Paramos numa

cidade, quem sabe um dia ainda voltem?

comunidade, na metade do caminho, para

De lá para a baía dos Pinheiros, para dormir

comer ostras frescas, retiradas na hora do

na ilha dos Papagaios, uma incrível pousada

estaleiro. Orientados por Rodney, compramos

do raro papagaio-da-cara-roxa, espécie

folhas de cataia, um aditivo regional para a

endêmica da região. Ao final da tarde,

cachaça. As folhas secas curtidas na garrafa

milhares de aves chegam para dormir. Um

deixam a velha e boa pinga com um sabor

som incrível.

especial e uma cor amarelada.

As aves têm suas artimanhas e a dos

De volta a Paranaguá, o último dia da festa

papagaios é chegar assim que a luz baixa, o

da tainha. A comunidade comemora a fartura

suficiente para que as lentes da câmera não

do peixe, servido às dúzias, às centenas:

A tradição ainda presente em Paranaguá: cambira de tainha

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devaneio

Acima das brumas, o Marumbi

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tainha assada na brasa ou defumada, reconhecida cambira, nome do cipó onde se penduravam os peixes sobre o fogão a lenha, antigamente. Cidades portuárias, interfaces que são, têm um desenho peculiar, funcional. Sempre uma grande avenida, um grande eixo paralelo ao cais. E lá vamos nós, deixar Paranaguá para trás, por uma longa e velha avenida, centro de casas de telhado verde, um que outro edifício público. Pilhas de containers me fascinam: Maersk, Hanjin, Mitsuy OSK, Hamburg Sud, nomes com sabor: FOB. Paranaguá tem filas de containers, carretas e mais carretas pela estrada. A pista dupla permite finalmente andar um pouco, sinto o efeito aerodinâmico. As curvas abertas da autopista apontam para a Serra do Mar. Desenvolvo... Mas, à direita, entre as brumas de inverno, tão gigante quanto invisível, o Marumbi espreita. Dou seta. Por que seguir pela estrada larga se posso ir pela Graciosa? Oportunidade. A Graciosa é uma estrada feminina, por lá nem caminhões nem containers, apenas um ônibus por dia que sai de Morretes na hora marcada e algumas vans com os turistas que desceram de trem. Cargas e passageiros. É surpreendente a quantidade, a todo momento, rumo aos navios. O trem parece que percebe e se precipita. Ao cruzar, ouvimos o apito, e no fim dos trilhos, o trem brilha, com seu farol amarelado no meio da mata. Sem sustos. Os sinais do cruzamento

finalmente

acendem

como

enfeites natalinos em ritmo carnavalesco, até serem ofuscados pelo ronco diesel-elétrico da composição. No retrovisor, milhares de toneladas de soja, farelo e grãos, um trem inteiro

ficando

pequenininho.

Seguimos

nosso destino. Morretes no mapa é uma encruzilhada que

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devaneio

Na subida da serra, pontes metรกlicas e bananas

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abraça a curva do rio. É um ponto nevrálgico

do trecho. Granito Marumbi, montanha

Sempre guardo comigo os dias da chegada

terrestre, em meio à baía de Paranaguá.

cortada e moldada em estrada graciosa.

e os da partida, guardo em meu diário alguns

Cruzamos, olhando pela última vez a

Cada refúgio uma surpresa – estrada

arco-íris, chuvas diversas, ocasos e acasos.

cidadezinha. Adeus palmeiras altas. Uma reta

parque é assim. Banheiros até que limpos,

Guardo os rios, os lagos e as imagens neles

e estamos em Porto de Cima, ponte de ferro

espaço para piquenique, mesas e um

refletidas. Guardo as lembranças das nuvens.

e São João da Graciosa, última parada para

inevitável quiosque com pastel, milho verde e

Meu diário é infinito.

artesanatos do litoral. Pinga de banana, bala

quitutes de banana.

de banana, licor de banana e bem poucos bananais.

Lá de cima dá pra ver o mar, sentir o vento tocar o rosto, ver o lado de cá da montanha. Antes

Agora é encarar a Graciosa de frente num dia

de voltar para casa, a despedida é preciosa,

ensolarado, teto aberto sem chuva. Escuto

a parada, o contemplar da imensidão – olhar

o tamborilar dos pneus nos paralelepípedos

para trás amplia o movimento do pescoço. Eurobike magazine . 73


devaneio Graciosa Estrada da Graciosa Liga Curitiba ao litoral paranaense pela Serra do Mar. Segue o traçado da centenária estrada dos tropeiros, que por sua vez seguiu o caminho dos índios. É uma estrada parque, com 6 recantos para parar e contemplar a paisagem. Começa na saída 59 da Régis Bittencourt, PR (a 37 km de Curitiba). Pavimentada com paralelepípedos, não dispõe de abastecimento. Trecho de serra: 10 km, total até Morretes: 38 km.

Estância Maktub Caminho do Itupava, km 1,7. Bairro: Porto de Cima. (41) 3462-1374. www.estanciamaktub.com.br Artesanato Artes da Terra. Largo Lamenha Lins, 78. (41) 3462-2976. Encantos da Terra. Rua Almirante Frederico de Oliveira, 57. (41) 3462-1674. Chocolates Antiquário Nossa Senhora do Porto. Largo Lamenha Lins, 46. (41) 3462-1024.

Traçado original da Estrada da Graciosa: a partir do km 5, pode-se pegar uma trilha com o pavimento original até as ruínas da Casa de Pedra. Recanto Engenheiro Lacerda, km 8: permite uma linda vista de toda a baía de Paranaguá. Outros recantos da Graciosa: Rio Cascata, Grota Funda, Bela Vista, Curva da Ferradura e Parque Mãe Catira. Morretes Onde ficar Eco Park Santuário Nhundiaquara. Estrada das Prainhas, km 2. Bairro: Porto de Cima. (41) 3462-1938; (41) 3323-3725. www.nhundiaquara.com.br

Onde comer Restaurante Empório do Largo. Largo Dr. José Pereira, 152 – Centro. (41) 3462-1190. www.emporiodolargo.com.br Alta temporada: diariamente. Fora da temporada: quinta-feira a domingo. Galeria de arte Galeria de Arte Mirtillo Trombini Alameda João de Almeida, 20 – Centro. (41) 3462-1325.

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devaneio

Paranaguá

Como chegar

Museu

Charters pela baía de Paranaguá: Guaraqueçaba, Superagui, Lagamar, Ilha do Mel.

Casa Rocha Pombo. Largo Dr. Rômulo Pereira, 43 – Centro. (41) 3462-3620.

Veleiro Darumah: www.darumah.com. Rodney Miyakawa. (41) 3335-7862; (41) 9973-8325. Yatch Club de Paranaguá.

Atrações turísticas

Onde ficar

De carro: pegar a BR 116 (Curitiba-São Paulo) até a Estrada da Graciosa (km 60), com trechos de paralelepípedos, acessar a PR 408 (Morretes- Antonina), que é asfaltada. Entrar na PR 440 (Antonina-Cacatu). E, um pouco à frente, acessar a PR 405 (Cacatu-Guaraqueçaba). São 79 km de estrada de chão. Uma placa sinaliza a entrada de Salto Morato.

Calango Expedições. Praça Rocha Pombo, s/n. Bairro: Estação Ferroviária. (41) 3462-2600; (41) 3462-2600.

Camboa Resort Hotel. Rua João Estevão, s/n. Central de reservas em Curitiba: (41) 3323 5546.

Serra Verde Express Trem: diariamente até Morretes. Somente aos domingos até Paranaguá. Litorina Convencional/ Luxo: saídas de quinta-feira a domingo até Morretes com no mínimo 10 passageiros. (41) 3888-3488. www.serraverdeexpress.com.br. Avenida Presidente Affonso Camargo, 330. Estação Ferroviária Curitiba, PR. Plantão das 18h30 às 6h. (41) 3077-4280.

Passeios Rua do Cais, Mercado Municipal, Escola Normal, Estação Ferroviária. Antonina Onde ficar Hotel Capela Camboa. Rua VallePorto, 208 – Centro Histórico. (41) 3432-3267. Fax: (41) 3432-0140. www.hotelcamboa.com.br Onde comer Restaurante Buganvil. Rua Valleporto, 10 – Centro. (41) 3432-1434. Restaurante e Petiscaria Cantinho de Antonina. Rua Conselheiro Antonio Prado, s/n, Mercado Municipal. Horário de atendimento: terça-feira a domingo, das 9h às 22h. (41) 3432-3445. Passeios Pico Paraná: ponto culminante da região Sul, com 1.962 metros. Acesso pela PR 340 – Estrada do Cacatu, Bairro Alto. Reserva Salto Morato Com 2.340 hectares, Salto Morato protege a biodiversidade de uma parcela significativa da Mata Atlântica e nascentes de rios que formam saltos e corredeiras de alta velocidade. O destaque é o Salto Morato, queda d’água de 100 metros, envolta por densa vegetação. A água transparente forma um aquário natural.

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Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. (41) 3340-2636. Fax: (41) 3340-2635. www.fundacaoboticario.org.br Reserva Natural Salto Morato. E-mail: morato@ fundacaoboticario.org.br. Reserva Sebuí A Reserva Ecológica do Sebuí é uma RPPN que oferece ecoturismo, passeios de barco, trilhas etc., situada no lado continental da pequena baía dos Pinheiros, entre Guaraqueçaba e Superagui. Acesso somente por barco. A partir de Paranaguá, o trajeto leva 90 minutos de navegação com barco de alumínio motorizado (25 HP). Ou alternativamente por Guaraqueçaba, levando 50 minutos de navegação desde a cidade. Recebe pequenos grupos (mínimo de 4 pessoas) para pacotes que incluem: trekking, banho de cachoeira, canoagem, passeio de barco, trilha noturna, trilha interpretativa. Inclui todas as refeições: café da manhá, almoço, café da tarde e jantar; e pernoite no refúgio rústico na floresta. Cormorano Ecoturismo e Aventura. (41) 8403-8056 (Enzo); (41) 8403-8068 (Ivone). www.cormorano.com.br


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