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PATRIMÔNIO: a Reabilitação do chalé 522 da Avenida Nazaré

USO DA TECNOLOGIA BIM PARA A DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO: a Reabilitação do chalé 522 da Avenida Nazaré

Bianca Barbosa do Nascimento Cybelle Miranda

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1. A DOCUMENTAÇÃO COMO MECANISMO DE RECONHECIMENTO DA ARQUITETURA

A tipologia de uma edificação pode demonstrar a cultura e as tecnologias coexistentes no período em que foi erguida. Daí a importância em documentar e reabilitar edifícios que sirvam de testemunho aos modos de construir a arquitetura de uma cidade. A reabilitação pode ser considerada como um mecanismo que pode reverter esse cenário, através da resolução de anomalias construtivas, funcionais, higiênicas e de segurança, trazendo benefícios para os centros urbanos, tais como o aproveitando da estrutura existente no entorno e referência a memória da população. O objeto de estudo do trabalho de conclusão de curso que inspirou este capítulo é um imóvel com tipologia de chalé, localizado na Av. Nazaré, nº 522, em Belém/PA, que se encontra em um estado avançado de deterioração, condição que permanece desde 2010 até o ano da elaboração deste livro.

Figura 1: Chalé 522, situação atual

Fonte: Bianca Barbosa (2017).

O processo de documentação embasou o anteprojeto de reabilitação para o Chalé 522 com vistas a abrigar as atividades de extensão promovidas pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal do Pará, utilizando a tecnologia BIM, a fim de potencializar a criação de soluções tipológicas e construtivas e contribuindo para o conhecimento científico dessa tipologia como integrante da história da arquitetura no Pará.

Nas primeiras décadas do século XX, mais precisamente a partir de 1920 até 1940, as tipologias conhecidas como chalés começaram a se difundir amplamente pelos bairros centrais de Belém. Essa tipologia era utilizada tanto por arquitetos reconhecidos como José Sidrim, como em residências sem autoria definida, tendo por vantagens a facilidade proporcionada pelas soluções construtivas adotadas, além dos custos baixos para construção, uma grande variação de tamanhos e de soluções para a cobertura (CAL, 1989).

A tipologia de chalé mais utilizada em Belém remetia às construções rurais europeias, onde a casa era isolada no lote, possuía jogos de telhado que proporcionavam soluções volumétricas bastante interessantes para a época, possuíam sótão, com óculos ou pequenas janelas que ajudavam na ventilação, além da presença de sacadas. Essas casas deixaram um legado arquitetônico muito significativo para a cidade, no entanto, muitos exemplares encontram-se bastante descaracterizados e, alguns casos, extremamente deteriorados.

Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa em questão consistem na:

• Elaboração de referencial teórico sobre a arquitetura eclética, explorando aspectos ligados à forma, a estética e a tipologia arquitetônica dessas edificações, bem como sobre os processos de reabilitação em edificações históricas e sobre o emprego de tecnologia BIM em projetos de arquitetura; • Levantamento de dados sobre a edificação a ser reabilitada e de alguns exemplos de chalés presentes na cidade de Belém que possuam elementos arquitetônicos e tipologias semelhantes; • Análise de dados coletados sobre os chalés, levando em consideração o referencial teórico elaborado; • Concepção do anteprojeto de reabilitação do chalé da

Av. Nazaré, levando em conta as pesquisas realizadas sobre a linguagem arquitetônica desta edificação e sobre reabilitação.

2. O TIPO CHALÉ E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO DE NAZARÉ

O bairro de Nazaré surge a partir da Estrada de Nazaré, caminho onde se implantaram no início do século XIX as rocinhas, casas de campo da burguesia belemense1, as quais foram paulatinamente substituídas por residências de partido neoclássico, muitas delas em formato de vila (moradia em banda, para os portugueses), bem como casas burguesas soltas no lote, em estilo neoclássico e eclético. O predomínio da arquitetura residencial burguesa no bairro, além da arborização com mangueiras das principais artérias, confere a este uma distinção em relação aos demais sítios de Belém.

O bairro foi gradativamente ocupado pela elite belenense por estar localizado em um “espaço geográfico privilegiado, pois corresponde a um sítio alto e seco em relação ao topo do terreno onde se situa Belém, que é em grande parte baixo e alagadiço” (AZEVEDO, 2015, p. 57). Em 1920, a população do bairro era predominantemente da elite local e as construções que serviam como residências destes eram “na maioria composta por edificações confortáveis e com fino acabamento, sendo algumas conhecidas sob a denominação de palacetes” (AZEVEDO, 2015, p. 63).

Com o tempo, o bairro passou por várias intervenções urbanas e arquitetônicas em busca da modernidade e do progresso. Sobre a evolução urbana do bairro de Nazaré, Felipe Moreira Azevedo afirma que:

Com o agravamento do processo de descaracterização, hoje se vê um hibridismo quanto à arquitetura no bairro de Nazaré, haja vista que determinados prédios são preservados,

1 Segundo SOARES, Roberto de La Rocque. Vivendas Rurais do Pará Rocinhas e outras (do século XIX ao XX). Belém: Fundação Cultural do Município de Belém, 1996, foram listadas 42 rocinhas na Avenida Nazaré, antiga Estrada de Nazaré, maior número de exemplares encontrados nas pesquisas documentais.

principalmente pelo seu valor histórico, porém outros são demolidos para a construção, em sua maioria, de novas edificações residenciais multifamiliares (AZEVEDO, 2015, p. 69).

Segundo Miranda e Carvalho (2009), o chalé, embora fosse baseado em modelos importados da Europa, reformulou o modo de morar da população belemense, substituindo as plantas coloniais por partidos compostos “por uma série de compartimentos na residência como a sala de música, de jantar, de jogos, além de separar os dormitórios no piso superior. A liberação dos limites do lote, volumetria arrojada e adaptabilidade climática contribuíram às tendências modernas futuras” (p. 3).

Muitas dessas construções pré-fabricadas possuíam características tipológicas de residências rurais presentes em regiões europeias, que continham um caráter romântico e pitoresco, e eram conhecidas como chalé. Segundo Albernaz e Lima (1998), o chalé é uma tipologia de casa que:

Tem como principais características o uso de madeira como elemento estrutural e decorativo, a utilização da ornamentação rendilhada, particularmente o LAMBREQUIM, o empego de telhado de duas águas com amplos beirais e a implantação em centro de terreno com empena voltada para a via pública [...]. Sua presença é marcante nas cidades que tiveram entre seus povoadores imigrantes alemães ou suíços [...]. No Rio de Janeiro, antigo tipo de edificação popular que utilizava a madeira como elemento de vedação. Foi muito frequente na cidade em fins de século XIX [...]. Principalmente no interior do Rio Grande do Sul, casa de madeira rural ou campestre. Em todos os sentidos é usada às vezes a grafia francesa chalet (ALBERNAZ; LIMA, 1998, p. 141).

O chalé pode ser considerado como uma tipologia que remete aos ideais de vida campestre, que eram disseminados durante a corrente

romântica no século XIX (CAMPOS, 2008 apud GLERIA, 2013). Quanto às características pitorescas, Peter Collins (apud GLERIA, 2013) considera que esse tipo de edificação possuía um caráter pitoresco em decorrência da forte relação de complementação entre a fachada com a paisagem natural em que ela estava inserida, remetendo a um sentido mais pictórico da composição obtida entre arquitetura e paisagem, referindo-se principalmente às construções rurais da Inglaterra. A composição arquitetônica dessas residências não resultava somente do arranjo espacial interno, era fundamental que a estética dessas casas estivesse em harmonia com o entorno.

O autor também reconhece que o caráter pitoresco proporcionou à tipologia arquitetônica em questão, uma liberdade maior em relação à concepção projetual ao incorporar a assimetria tanto para a composição das fachadas, quanto para a distribuição dos ambientes em planta. Esse fator atribuiu ao projeto elementos como complexidade, irregularidade e originalidade, bem como a integração deste com o cenário paisagístico no qual a edificação estava inserida, já que a própria paisagem não se comporta de maneira homogênea. Com relação à concepção do partido, foram empregados conceitos de racionalidade, funcionalidade, conforto, privacidade e intimidade, prefigurando modos de morar modernos.

O partido arquitetônico dos chalés brasileiros contém muitos elementos que referenciam aos chalés europeus, porém este tipo for adaptado às preferências da sociedade local em detrimento a alguns materiais e ornamentos. Reis Filho (1978) comenta que, apesar da opção pelo uso da madeira como vedação nos chalés alpinos, no Brasil as vedações eram feitas com paredes estruturais de tijolo aparente, por conta do preconceito contra a madeira, que naquele período não era considerada como um material nobre a ser usado nas residências de uma sociedade mais abastada. Outros elementos, como a própria madeira em ornamentos e arremates de elementos, revestimento cerâmico

(ladrilhos e azulejos), gradis, colunas e alpendres foram acrescentados como forma de tornar a obra mais original e de contextualizar com o modo de produzir, as técnicas construtivas e o repertório arquitetônico conhecidos e utilizados naquela época.

Segundo Reis Filho (1978), as paredes eram construídas em alvenaria de tijolo e cal, com espessura aproximada de 60 centímetros. Os azulejos podiam ser encontrados nas paredes externas, enquanto nas áreas molhadas, o uso de revestimento cerâmico, seja azulejo ou ladrilho hidráulico, era bastante comum. A madeira era utilizada nos pisos e nos forros: enquanto a madeira do forro, por vezes possuía o encaixe “macho e fêmea” como forma de garantir um bom encaixe da estrutura, o piso poderia ser em parquet com desenhos de variados tipos de madeiras de tons diferentes. Quanto à cobertura, a estrutura era geralmente em madeira, com a forma de tesouras. As telhas poderiam ser tipo capa canal, entretanto, pela inclinação dos telhados, era mais comum o uso de “telhas de barro ou lâminas de ardósia, importadas de Marselha [...] para evidenciar o abandono das soluções plásticas tradicionais” (REIS FILHO, 1978, p. 160).

Quanto à disposição dos ambientes na planta, Carmen Cal (1989) afirma que a configuração se dava através da divisão em saletas. Geralmente, os ambientes sociais como sala de estar e cozinha permaneciam no térreo, enquanto ambientes mais íntimos como os quartos, localizavam-se no 1º pavimento. Esse tipo de divisão não condizia muito à sociedade da época, que teve que se adaptar a esse tipo de moradia. Em alguns casos, a escada era mal planejada, por ser íngreme demais ou por estar mal posicionada na planta. Apesar disso, havia uma preocupação quanto ao conforto da casa, seja pela utilização de portas internas com bandeiras vazadas ou pelo pé direito alto.

As edificações com tipo chalé foram utilizadas até o início da década de 50 do século XX, quando aos poucos foi sendo substituída

pelas casas tipo bangalô. Essas casas deixaram um legado arquitetônico muito significativo para a cidade, que merece ser analisado e estudado mais a fundo para entender melhor a evolução da forma de morar da sociedade belenense.

3. DOCUMENTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE REABILITAÇÃO DE EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS

Visando a proteção do patrimônio, seja em escala arquitetônica ou urbanística, a Carta de Lisboa foi criada durante o 1º Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana - Lisboa, ocorrido em outubro de 1995. Essa carta visa o estabelecimento de princípios norteadores para as intervenções e suas aplicações no patrimônio edificado. Entre as definições e conceitos estipulados pela carta, a reabilitação de uma edificação pode ser considerada como um mecanismo para “a recuperação e beneficiação de uma construção, resolvendo as anomalias construtivas, funcionais, higiénicas e de segurança acumuladas ao longo dos anos” (CARTA DE LISBOA, 1995), para melhorar o desempenho da edificação, alcançando os níveis de exigência impostos pela modernidade.

Para escolher o procedimento de intervenção mais adequado para a edificação é necessário que haja um entendimento entre o tipo de uso, o desempenho da edificação e a ação do tempo. O esquema criado por Halberg (apud OLIVEIRA, 2013, p. 36), serve para entender quais tipos de medidas são mais adequadas para o estado de degradação que o edifício possui, bem como sobre as ações realizadas (ou não) ao longo do ciclo de vida útil da edificação.

Paralelamente às realidades europeia e norte americana, a reabilitação de edificações ainda é um processo de conservação pouco utilizado no Brasil. As ações já realizadas são pontuais (a maior parte voltada para habitações de interesse social e edificações institucionais)

e geralmente são incentivadas por órgãos públicos. Segundo o Projeto REABILITA o processo de reabilitação de uma edificação não possui leis específicas que incentivem essa forma de conservação no país e a viabilização desse processo se dá por políticas públicas e linhas de financiamento disponibilizadas pelo governo. A falta de qualificação da mão de obra, o desconhecimento de como gerir um processo de reabilitação aliado à especulação imobiliária nas áreas centrais, podem ser identificados como algumas das dificuldades para a realização de reabilitações em edificações antigas dos centros urbanos brasileiros (OLIVEIRA, 2013).

A reabilitação de edifícios ganha importância pela análise conjunta de uma série de variáveis. De um lado, ao defender e conservar o patrimônio construído e, por outro dotá-lo de capacidade de resposta à contemporaneidade, integrando valores sociais, ambientais e de sustentabilidade. Essa preocupação com a sustentabilidade está cada vez mais presente na realização de intervenções de reabilitação de edifícios ou mesmo urbanas (DELGADO, 2008).

A reabilitação também pode ser considerada um instrumento capaz de trazer diversos benefícios para a cidade, principalmente para os centros históricos, pois ao recompor as edificações degradadas nas áreas mais centrais, aproveitando a estrutura já existente no entorno, os resultados podem implicar na melhoria da paisagem urbana e na preservação do patrimônio edificado da cidade. Além disso, ao realizar a reabilitação, os edifícios mais antigos serão capazes de suprir os interesses por uma demanda de uso que poderia ser destinada à construção de um prédio contemporâneo (OLIVEIRA, 2013).

Para que o processo de reabilitação inicie, é necessário buscar informações arquitetônicas e construtivas das edificações que se queiram reabilitar, a fim de analisar as condições da construção para averiguar o nível de intervenção a ser realizada. Esse levantamento prévio pode ajudar na conservação de elementos importantes da edificação, além

de estipular formas de intervenções mais sustentáveis e coerentes com a estrutura preexistente.

Maria Joana Delgado afirma que

A caracterização arquitectónica e construtiva de um edifício ou de um conjunto mais alargado pode ser feita de diversas formas mas passa sempre pelo registro dos seus aspectos mais relevantes. Para tal é necessário recorrer a levantamentos arquitectónicos e estruturais que permitam proceder a uma caracterização tipológica e morfológica, reconhecer o tipo de construção, a época da construção, etc. Complementarmente poderão realizar-se inspecções (mais ou menos intrusivas), com recurso aos meios entendidos como adequados (fotografia, medições, etc.) e eventualmente sondagens. Estas permitem verificar o estado de conservação do edifício, nomeadamente dos seus elementos primários, e com isso determinar tudo aquilo que deverá ser substituído, reforçado e acautelado impedindo a progressão da degradação. (DELGADO, 2008, p. 14)

A sustentabilidade pode ser considerada como parte dos atrativos da reabilitação. Morettini (apud OLIVEIRA, 2013) afirma que é necessário que os conhecimentos sobre sustentabilidade e as tecnologias sustentáveis sejam empregados nas reabilitações para que possam trazer benefícios para os usuários das edificações que passaram por esse tipo de intervenção. A compatibilidade com a construção preexistente, a gestão dos resíduos gerados durante a obra, além da otimização do desempenho energético e do uso de água são fatores indispensáveis quando se pensa em uma reabilitação sustentável (OLIVEIRA, 2013).

A construção civil é um setor da indústria com grande potencial de poluição, de modo que, ao utilizar a construção sustentável em novas edificações, incorporando diretrizes que estimulam o desenvolvimento sustentável nos projetos, o projetista acaba ganhando alternativas favoráveis aos custos da obra e na economia de materiais. Ao optar pela reabilitação com diretrizes sustentáveis, ao invés de uma

construção nova, além da economia de materiais, há uma diminuição na produção de rejeitos de obras, diminuindo o impacto ambiental causado pela construção (CÓIAS, 2007).

Entretanto, deve-se levar em consideração que a reabilitação é um processo mais complexo e específico, que exige um estudo maior da edificação a ser reabilitada, para que as intervenções a serem realizadas sejam compatíveis e adequados em relação a preexistência da edificação. O registro iconográfico é uma das ferramentas mais importantes para a preservação da memória. Na arquitetura, esse registro, quando bem feito, é essencial para toda e qualquer ação que se pretenda executar com precisão. Quando se trata de edificações históricas e/ ou de interesse cultural, a representação cadastral se torna a base para o planejamento de intervenções, para a análise histórico-crítica da edificação e um retrato das suas transformações ocorridas ao longo do tempo (OLIVEIRA, 2008).

O cadastro arquitetônico é uma ferramenta utilizada desde a Grécia Antiga e os procedimentos utilizados abrangem o desenho arquitetônico, tratados arquitetônicos que se propõem a armazenar informações em texto e ilustrações sobre o objeto arquitetônico a ser levantado, passando pela contribuição da engenharia militar através de levantamentos precisos e chegando até à construção de maquetes físicas (OLIVEIRA, 2008).

Os equipamentos e as técnicas utilizadas para o levantamento passaram por várias evoluções, de modo a atender as necessidades e as condições oferecidas em campo. Atualmente, instrumentos como lapiseiras, pranchetas, trenas e prumos, ainda são indispensáveis para a realização do cadastro (OLIVEIRA, 2008). Contudo, outras ferramentas foram desenvolvidas para facilitar o processo de cadastramento arquitetônico e urbanístico e fornecer informações mais precisas, que são voltadas principalmente para o levantamento de áreas extensas, de grandes edificações e para áreas de difícil acesso.

A triangulação, as coordenadas cartesianas e polares ou as poligonais são métodos ainda muito utilizados para a obtenção de medidas em edificações históricas. Contudo, nem todas essas edificações oferecem condições favoráveis para a execução desses métodos. A dificuldade de acesso a um determinado cômodo de uma edificação ou até a precariedade do sistema estrutural apresentado pelo edifício, podem oferecer riscos à equipe responsável pelo cadastro, como é o caso do Chalé em estudo.

Tais adversidades podem ser contornadas com a ajuda de ferramentas capazes de obter dados precisos, sem que a equipe responsável pelo levantamento precise se expor a riscos físicos. Segundo Luis Mateus (2011), esses métodos podem ser considerados indiretos, pois, ao contrário dos métodos diretos (no qual cada ponto registrado no qual se adquire a informação foi cuidadosamente escolhido), a informação coletada é obtida de zonas mais ou menos amplas, onde é possível registrar uma quantidade de pontos muito maior em relação aos métodos diretos. Como exemplos dos métodos indiretos estão a fotogrametria e o 3D Laser Scanning.

Segundo a International Society for Photogrammetry and Remote Sensing (apud PALERMO; LEITE, 2013), a fotogrametria é considerada como “a arte, ciência e tecnologia de obtenção de informações confiáveis sobre a superfície da Terra e outros objetos físicos através de medições, análises e representações feitas a partir de fotografias” (PALERMO; LEITE, 2013, p. 25). Com o desenvolvimento computacional, a fotogrametria passou por evoluções que otimizaram o processamento das informações. Atualmente a fotogrametria pode ser realizada com informações de fotografias ou imagens digitais, seja por câmeras digitais ou pela digitalização de filmes analógicos. Quanto ao uso no levantamento cadastral, é possível utilizar a fotogrametria aérea e/ou a terrestre (OLIVEIRA, 2008).

Para a execução do levantamento fotogramétrico aéreo é necessário o apoio de um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), onde câmeras métricas especiais são acopladas e, a partir do percurso realizado por esses veículos, são geradas as tomadas fotográficas inclinadas, verticais e quase verticais2. Esse método de levantamento cadastral vem sendo usado principalmente por profissionais da área do Planejamento Urbano e Regional em decorrência da abrangência de áreas, possibilitada por esse tipo de levantamento. No âmbito patrimonial, a fotogrametria aérea tem sido usada para o estudo dos centros históricos das cidades.

A fotogrametria terrestre pode ser realizada com o uso de uma câmera métrica ou com uma câmera fotográfica que possua uma boa resolução. Após a realização das fotografias necessárias, as imagens obtidas podem passar por um processo de retificação digital, onde as mesmas são processadas em softwares de edição e estes deformam a perspectiva para encontrar a verdadeira proporção do objeto a ser levantado. Para isso, é necessário o conhecimento de pelo menos uma das medidas do objeto, para que esta se torne um parâmetro no processo de retificação. A restituição também se caracteriza como um processo de manipulação da imagem semelhante à retificação, sua diferença, no entanto, consiste no tamanho da imagem obtida no término do processo, que deve ser do mesmo tamanho do objeto levantado, demonstrando sua forma real em duas dimensões (OLIVEIRA, 2008).

O 3D Laser Scanning é uma técnica com alto grau de precisão, que consiste em executar varreduras a laser no objeto a ser mensurado, traduzindo a informação coletada em uma nuvem de pontos que representa o volume apresentado pelo objeto. Essa técnica é recomendada em caso de levantamentos muito complexos, como o levantamento de conjuntos arquitetônicos e o levantamento de fachadas de grande extensão ou que apresente muitos detalhes. Essa técnica

2 Ver uso desta técnica no Capítulo 10.

também pode ser combinada com a fotogrametria para potencializar os resultados obtidos na coleta de informação (OLIVEIRA, 2008).

Em associação a tais técnicas, a criação de softwares voltados para o desenho de arquitetura pode ser considerada como um dos grandes acontecimentos no âmbito de representação da arquitetura. A metodologia e a tecnologia proposta pelo Building Information Modelling, ou tecnologia BIM, como é conhecida no Brasil, é um grande avanço em termos tecnológicos para a construção e intervenção em exemplares arquitetônicos.

Através da tecnologia BIM, é possível representar com mais precisão os registros construtivos, intervenções e adaptações realizadas na edificação. Essa tecnologia pode ser caracterizada como um instrumento que permite a descrição dos aspectos geométricos e construtivos, além da criação de cenários alternativos para ajudar na gestão, através da construção da maquete virtual. Essa metodologia de trabalho incorporada ao BIM também é capaz de caracterizar os objetos ao máximo, ajudando no armazenamento das informações e na criação de uma base de dados que abrange todo o ciclo da vida de uma edificação (PEREIRA, 2015)

A tecnologia BIM permite a otimização dos desenhos, facilita a análise e simulações de determinadas informações, atribui uma maior precisão aos detalhes construtivos, permite a viabilidade de uma construção de forma mais sustentável, reduzindo custos através da quantificação dos materiais que serão utilizados no projeto. Outra vantagem é a de proporcionar a interdisciplinaridade do projeto, por meio da colaboração de outros profissionais que disponham desta tecnologia (PEREIRA, 2015).

Contudo, o emprego do BIM não é comum em edificações preexistentes, apesar da sua aplicação ser possível em edificações maiores e mais complexas em termos construtivos. Quando é utilizado, a tecnologia pode ficar restrita ao monitoramento da performance

da edificação ou pode ser usada na criação de percursos virtuais. A informação incompleta ou fragmentada, ou até mesmo obsoleta da edificação preexistente, aliada as dificuldades no acesso ao BIM e a uma mão-de-obra que tenha conhecimentos sobre o funcionamento da tecnologia são fatores que acabam desestimulando seu uso. De acordo com João Maria Pereira,

Apesar da estimativa digital de custos e da gestão de dados, as funcionalidades BIM em desconstrução, as análises de vulnerabilidade e colapso, a gestão de emergências, a localização ou documentação dos riscos ou materiais contaminantes ou o planeamento do cenário de risco ainda são raros na literatura deste tipo de artigos. Por outro lado, outras potenciais funcionalidades da BIM não são cobertas ainda, como o planeamento de execução de demolições ou do desenvolvimento em obra, a gestão da reciclagem de materiais, as logísticas das redes de reciclagem, a monitorização dos componentes de risco ou o reportório automático às autoridades. (PEREIRA, 2015, p. 26).

A tecnologia BIM foi associada ao software Autodesk Revit 2016 como ferramenta usada no desenvolvimento de todas as etapas de modelagem, desde os estudos de forma, passando pela modelagem do chalé antes do incêndio com base nos arquivos em CAD existentes, até a concepção das pranchas e da maquete eletrônica. A escolha pelo uso do Revit para auxiliar no desenvolvimento do projeto se deu pela familiaridade com a interface do software, além da disponibilidade no acesso ao programa, já que a empresa responsável pela sua produção (Autodesk) disponibiliza versões gratuitas do software para estudantes de graduação de áreas criativas.

4. O CHALÉ DA AVENIDA NAZARÉ: CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO

De acordo com o zoneamento proposto pelo Plano diretor da cidade de Belém (2008), o bairro de Nazaré se encontra em zonas diferentes. A maior parte do bairro está localizada dentro da Zona de Ambiente Urbano 6 (ZAU 6), e uma pequena fração da Zona de Ambiente Urbano 7 (ZAU 7). O quarteirão onde a edificação se encontra está dentro da ZAU 7, bem próximo ao limite entre esta zona com a ZAU 6 (Figura 20). A quadra está localizada no Setor II da ZAU 7, que se caracteriza como uma zona de transição entre o centro histórico e as demais áreas da cidade, com uma predominância de imóveis de uso misto, apresentando uma diversidade arquitetônica. Ela também é caracterizada pelo crescente processo de verticalização da ocupação do uso do solo, bem como da degradação de imóveis históricos presentes na área (BELÉM, 2008).

Figura 2: Localização do quarteirão do objeto de estudo dentro da ZAU 7.

Fonte: Anexo V – Zoneamento (BELÉM, 2008) alterado por Bianca Barbosa do Nascimento (2016).

As informações colhidas para o levantamento documental e cadastral foram obtidas nos laudos realizados pelo Sistema de

Gerenciamento dos Imóveis de Uso Especial da União e pelo Primeiro Comando Aéreo Regional (I COMAR), que foram cedidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e através do Cadastro Técnico Multifinalitário (CTM) disponibilizado pela Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (CODEM). Quanto ao levantamento fotográfico, as imagens mais antigas foram disponibilizadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado do Pará (DPHAC-SECULT), datadas entre os anos de 2006 e 2010, e as imagens mais recentes foram registradas durante visitas in loco nos anos de 2014 e 2016.

A edificação está localizada em um lote com uma área de aproximadamente 1.297,20 m², medindo 10,70 m de frente, 96,30 m pela lateral esquerda, uma linha quebrada de três secções na lateral direita, medindo 75,80 m, 9,90 m e 20,50 m respectivamente, e 21,20 m no travessão de fundos. A área construída é composta por uma edificação do tipo chalé com aproximadamente 252,23 m² de área construída, distribuídos em dois pavimentos, e uma edícula de 34,64 m².

Figura 3: Perspectiva esquemática da implantação do chalé e sua edícula no lote

Fonte: Bianca Barbosa do Nascimento (2017).

Após o processamento das informações obtidas e do desenho da planta em AutoCAD, foi realizado em março de 2014 um levantamento fotográfico que possibilitou a verificação das informações obtidas. Esse levantamento foi executado através da visualização do chalé a partir de um edifício comercial vizinho à edificação, pois não haviam condições adequadas que permitissem o acesso em decorrência da quantidade de entulhos impedindo a entrada. A partir do levantamento fotográfico foi possível confirmar que a edificação tem características da arquitetura residencial com tipologia remetendo a um chalé europeu, com paredes de vedação e estruturas em alvenaria e a estrutura de piso do 1º pavimento e de telhado construídos em madeira. A cobertura atual tanto da edificação principal, quanto da edícula, é feita com telhas de fibrocimento.

A residência apresenta recuo e afastamentos em quase todas as fachadas, com exceção da fachada oeste onde parte da edificação se encontra rente ao muro. O edifício principal apresenta perda significativa do revestimento de cobertura, sendo que em alguns trechos é possível observar apenas a presença de parte da estrutura de sustentação que se encontra bastante comprometida, em razão da perda das estruturas de madeira e ausência significativa de telhamento. Tal fator ocasiona infiltração de umidade nas paredes, o que pode vir a comprometê-las, uma vez que as mesmas apresentam função estrutural.

Há escoras ao longo da construção para evitar qualquer tipo de risco de desmoronamento das paredes, em especial nas empenas frontal e lateral, as quais apresentam perda de estruturas de madeiramento do telhado, podendo ocasionar a instabilidade dos elementos de vedação. Foi possível perceber também que a divisão de ambientes existentes se assemelha bastante a divisão original, segundo levantamento realizado pelo I COMAR.

A partir da verificação do estado atual de conservação da edificação, que demonstrou o significativo nível de deterioração em que

ela se encontra, houve a necessidade de buscar referências para a identificação dos elementos arquitetônicos presentes no chalé. Para isso, foram utilizados os conhecimentos previamente obtidos a partir da bibliografia consultada sobre este tipo, os registros fotográficos feitos do chalé entre os anos de 2005 a 2011 cedidos pelo DPHAC, e o levantamento fotográfico, realizado em agosto de 2016, do Restaurante Calamares, localizado na Av. Generalíssimo Deodoro, n.º 1133, também no bairro de Nazaré.

Figura 4: Restaurante Calamares

Fonte: Cybelle Miranda (2021).

A escolha do Restaurante se deu por conta das semelhanças tipológicas entre a edificação e o objeto de estudo, por serem construções datadas da mesma época e pelo bom estado de conservação que o restaurante apresenta nos dias atuais. Esses fatores possibilitarão a verificação de elementos estruturais e estéticos presentes no chalé da Av. Nazaré que não puderem ser identificados nos registros do DPHAC.

Essas informações preliminares foram de grande importância para a caracterização tipológica do chalé. Para Giulio Carlo Argan “as tipologias arquitetônicas são diferenciadas segundo três grandes categorias, a primeira das quais compreende configurações inteiras de edifícios, a segunda, os grandes elementos construtivos, a terceira, os elementos decorativos” (ARGAN, 2004, p. 67). Com isso, as informações adquiridas sobre o chalé serão divididas entre as três categorias citadas anteriormente, de forma a viabilizar a análise desses dados que servirão para entender o processo construtivo da edificação, criando um embasamento mais concreto em relação às intervenções a serem realizadas no imóvel.

4.1 ANÁLISE ESPACIAL

A partir dos desenhos obtidos nos laudos técnicos realizados no chalé, foi possível reproduzir o desenho das plantas que possibilitou a construção de uma maquete virtual da construção. No pavimento térreo, alguns ambientes na parte posterior da planta apresentam características construtivas que se diferenciam do restante da construção. Há diminuição da espessura da parede, em relação ao restante do edifício, aliado ao tipo de esquadria e os revestimentos presentes nesses ambientes, que é diferenciado em relação aos demais, somada a própria distribuição desses ambientes.

A princípio, percebe-se que a distribuição espacial do chalé é racionalizada, sendo a circulação realizada pelo interior dos cômodos; o setor social é alocado no térreo, e o íntimo no primeiro pavimento.

Diferentemente dos ambientes do volume principal, a circulação no setor de serviço é distribuída através de um corredor que conecta os ambientes. A lógica construtiva utilizada no período, tal qual se pode perceber nas casas dobradas Andrade Ramos (Ver capítulo 3), era de manter no volume principal os setores nobres, e relega a um volume térreo os serviços.

Figura 5: Plantas do Chalé - térreo e pavimento superior

Fonte: Bianca Barbosa do Nascimento (2017).

Quanto à abertura de vãos, os ambientes possuem esquadrias distribuídas ao longo de todas as fachadas, com a predominância das encontradas nas fachadas norte e leste, onde os afastamentos permitem entrada de luz e ventilação. Na fachada norte que é a fachada principal do chalé, há a predominância do uso de esquadrias

do tipo porta janela, maximizando a entrada de luz e ventilação para os ambientes. Uma das divergências entre os levantamentos feitos pelos órgãos é a presença de aberturas na fachada norte do chalé, que estão documentadas apenas no levantamento fotográfico feito pelo DPHAC em 2010. Pela falta de informações sobre os vãos e a impossibilidade de verificar as medidas in loco, essas aberturas não constam nas pranchas técnicas do diagnóstico.

Na fachada leste, há utilização de janelas comuns com peitoril de aproximadamente 1,10 m; na fachada sul, encontram-se o balancim da sala de banho e uma esquadria fixa ao longo da caixa da escada com o propósito de otimizar a iluminação do espaço. Esse tipo de esquadria é encontrado na caixa de escada do Restaurante Calamares.

Figura 6: Maquete eletrônica representando a fachada norte do Chalé

Fonte: Elaborado por Bianca Barbosa (2017).

A edícula abriga a garagem e alguns ambientes de serviço. A circulação é bastante simplificada. Não há nenhum tipo de diferencial arquitetônico que a destaque e, assim como os ambientes adjacentes ao chalé, a edícula também apresenta as mesmas características construtivas (espessura da parede e tipo de esquadria).

Figura 7: Planta Baixa da Edícula do Chalé

Fonte: Bianca Barbosa do Nascimento (2017).

4.2 ANÁLISE ESTRUTURAL

De acordo com as informações obtidas no levantamento, o chalé é construído em alvenaria estrutural e suas paredes internas e externas possuem 25 cm de espessura. As paredes externas possuem um embasamento que é destacado pela textura em chapisco. Quanto ao revestimento das paredes, acredita-se que sejam rebocadas e que o acabamento seja finalizado com pintura. As paredes dos ambientes de serviço adjacentes ao chalé e da edícula possuem 15 cm de espessura. Com exceção da garagem, as paredes dos ambientes de

serviço possuem revestimento cerâmico de aproximadamente 1,50m e acabamento com pintura.

Quanto ao piso, não há registros muito precisos sobre o material constituinte devido à quantidade de entulhos e lixo que o recobrem, então ao fazer uma análise comparativa com o Restaurante Calamares, onde boa parte dos pisos ainda estão conservados, observou-se a utilização de pisos de madeira nas áreas comuns e íntimas. Os pisos de madeira localizados no térreo, geralmente são de taco em desenho tipo parquet, enquanto os pisos do 1º pavimento são de tábua corrida em decorrência do assoalho no qual serão dispostas. Segundo Sylvio de Vasconcellos (1979), o piso de tábuas corridas são assentados em barrotes que estão sobre os baldrames, no caso da instalação em pisos térreos. Essas tábuas, com espessura entre 10 e 15 cm, são pregadas em meias madeiras que estão entre os barrotes. A junção entre esses elementos pode ser de três tipos: os de junta seca, onde não há encaixe entre as peças; os de meio fio, onde o encaixe de uma peça repousa sobre o encaixe da outra peça; e os de macho e fêmea, onde o encaixe de uma peça se conecta com o encaixe da outra peça.

Nas áreas molhadas, supõe-se que o revestimento utilizado era o ladrilho hidráulico, assim como no Restaurante Calamares, por ser a opção mais comum e viável oferecida durante o período de construção dessas edificações.

Em relação ao forro, os resquícios ainda presentes no chalé sugerem que o material deste seja em madeira. A estrutura de sustentação do forro, bem como a estrutura de sustentação da cobertura são constituídas por peças de madeira. A instalação dos forros de madeira é semelhante a instalação do piso de tábua corrida descrita por Vasconcellos (1979).

A estrutura do telhado do chalé é composta por tesouras de madeira e pela trama composta pela terça, caibro e ripa. Quanto à vedação da cobertura, acredita-se que inicialmente eram usadas

telhas francesas e que houve uma intervenção que as substituiu por telhas de fibrocimento. Essa hipótese é reforçada por alguns indícios, como a inclinação que a estrutura apresenta, bem como a cobertura de outras edificações do tipo chalé, como o Restaurante Calamares, que ainda conserva a cobertura com telhas francesas, além do fato de que a produção de telhas de fibrocimento é um acontecimento mais recente do que a provável data de construção do objeto de estudo.

Quanto à presença de escadas, o chalé possui uma escada externa e outra interna. A escada externa é adossada à fachada, com degraus em marmorite avermelhado. A escada interna é feita de madeira, tem o formato de L, porém não possui patamares e seu guarda corpo possui detalhes geométricos.

Figura 9: Detalhe do corrimão da escada interna

Fonte: Acervo DPHAC (2011).

4.3 ANÁLISE DA ORNAMENTAÇÃO

O chalé não possui uma ornamentação demasiadamente rebuscada. A fachada principal apresenta no hall de entrada colunas e pilastras trapezoidais com a base retangular. No guarda corpo do térreo, onde as esquadrias do tipo porta janela estão localizadas, há presença de elementos triangulares vazados na alvenaria. Esses elementos são executados em marmorite, um material usado em edificações daquele período em decorrência da sua textura diferenciada. Já o guarda corpo da sacada do 1º pavimento é constituído por um conjunto de balaústres, sendo que, abaixo do piso desta, existem quatro mísulas, ou segundo Vasconcellos (1979) cães de cantaria, distribuídas ao logo do comprimento da sacada.

Figura 10: Análise de ornamentação da fachada

Fonte: DPHAC, 2006 adaptado por Bianca Barbosa do Nascimento (2017).

Assim como no pavimento térreo, as esquadrias que dão acesso à sacada também são portas janelas de madeira com vidro e venezianas. A empena visível na fachada principal apresenta ornamentos executados em massa, formando um conjunto composto por três elementos triangulares ao redor de uma forma quadrada que simula a abertura de ventilação existente em edificações com sótão. A fachada também possui, ao longo do térreo e do 1º pavimento, ornamentos de argamassa que remetem a pilastras.

Quanto a varanda, a falta de uma ornamentação no pilar e a pouca inclinação da cobertura desta levam a suposição de que a casa sofreu uma intervenção que transformou a sacada em varanda. As únicas ornamentações perceptíveis estão presentes na base do guarda corpo e na moldura que contorna a esquadria que dá acesso a esse espaço. Quanto ao muro, este possui uma altura mediana, e tem uma base de alvenaria com pilares distribuídos ao longo do comprimento do muro. O gradil que compõe o portão de acesso à casa, o portão da entrada para garagem e gradis fixados entre os pilares, possuem desenhos geométricos formados por retângulos e círculos circunscritos em quadrados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento dessa proposta em ferramentas com tecnologia BIM poderia beneficiar os vários setores interessados. O planejamento da obra seria mais rápido e o orçamento mais enxuto, as perdas de materiais seriam menores e o gerenciamento do imóvel pós-intervenção seria mais abrangente, culminando em uma durabilidade maior da vida útil da edificação.

Somado a isso, o modelo gerado para este fim seria de grande importância para os estudos referentes à própria edificação e a sua tipologia e poderiam contribuir tanto para estudos arqueológicos com

ênfase nessa tipologia, chegando às diversas análises voltadas para o processo de reabilitação de edificações antigas.

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