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como subsídio para reabilitação

AS PLACAS DO FORRO DE ESTUQUE DA ANTIGA CAPELA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ: elaboração de protótipos como subsídio para reabilitação

Bianca Barbosa do Nascimento Larissa Silva Leal Ronaldo Nonato Ferreira Marques de Carvalho

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1.INTRODUÇÃO

O artigo em questão faz parte da pesquisa Forros na Arquitetura Hospitalar em Belém e Portugal: o Estuque Decorativo Eclético, que realiza estudos sobre o uso do estuque como técnica decorativa de forros em instituições da saúde em Belém, a fim de elaborar alternativas contemporâneas para a reabilitação do forro estucado da Capela da Santa Casa de Misericórdia.

A Capela se insere no Complexo hospitalar da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, inaugurado em 1900, o qual se encontra atualmente em processo de tombamento junto ao Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC) do Governo de Estado do Pará. Dado o caráter histórico e artístico do forro, este deve ser reabilitado, segundo a Carta de Veneza (1964) utilizando técnicas modernas que tenham sido comprovadas cientificamente, no caso de as técnicas tradicionais terem se mostrado inadequadas. Este é o caso do forro da capela que, devido a fragilidade da argamassa

quando em contato com umidade e o elevado peso próprio do material, desprendeu-se das estruturas de fixação.

2. CAPELA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ: ARQUITETURA E ESTADO DE CONSERVAÇÃO

A construção da capela da Santa Casa de Misericórdia do Pará, localizada no conjunto arquitetônico da atual Santa Casa de Misericórdia, no bairro do Umarizal, em Belém-PA, foi realizada entre os anos de 1901 e 1910 (Figura 1). A arquitetura do hospital obedece ao modelo pavilhonar, caracterizando-se esteticamente pelo Ecletismo, com emprego de elementos clássicos.

Figura 1: Fachada da Capela da SCMPA voltada para a área externa.

Fonte: Bianca Barbosa (2016).

Arquitetonicamente, a capela tem forma retangular e ocupa um pavimento, sendo ornamentada com formas clássicas, destacando-se as esquadrias em arco pleno. A cobertura é composta por duas águas e encoberta por platibanda. O acesso à capela ocorre por uma

circulação interna ao hospital, sendo o vão emoldurado por ricos elementos florais em estuque (SUDANI, 2014).

Os elementos integrados ao templo são três retábulos, um central e dois laterais, que emolduram os nichos onde se localizavam as imagens religiosas. O forro da sacristia é executado em lambri de madeira, sendo que o forro em estuque se estende por toda nave até o altar mor (SUDANI, 2014).

Figura 2: Porta do acesso principal e nave da Capela da SCMPA.

Fonte: Bianca Barbosa (2016).

A capela está desativada há aproximadamente 30 anos, sendo acentuado seu estado de degradação, cujo elemento mais afetado

é o forro em estuque. A elevada umidade decorrente do alto índice pluviométrico amazônico ocasionou infiltrações no telhado, o que contribuiu para o apodrecimento da estrutura de sustentação do forro (em madeira) e o descolamento das peças decoradas. A presença de insetos xilófagos e o peso próprio da ornamentação são fatores adicionais à decomposição do forro. Partes significativas do forro se encontram danificadas e a estrutura encontra-se aparente e visivelmente inapropriada ao reaproveitamento.

Figura 3: Deterioração dos fasquiados e elementos presentes no forro da Capela da SCMPA

Fonte: Bianca Barbosa (2016).

3. OS FORROS ESTUCADOS E SUA REABILITAÇÃO

Segundo Caldas (2014), o estuque histórico é composto basicamente de cal, água e areia, com a adição de elementos como argila, pó de mármore e, em alguns casos, a presença de aditivos como sangue animal, urina, chifres moídos, açúcar, sal, dentre outros elementos que ajudavam a liga a ter mais resistência, elasticidade e durabilidade. A partir do século XVII, uma pasta composta por gesso, pó de mármore e cal começou a ser utilizada nas ornamentações em estuque, de modo a propiciar a plasticidade do gesso e a aceleração das sobreposições das fases (FIGUEIREDO, 2008).

No Brasil, o estuque começou a ser difundido a partir da segunda metade do século XIX, durante o Ecletismo, como elemento decorativo de rebocos de alvenaria, forros, sancas, na composição de cimalhas e sobrevergas, e na decoração interna, através da reprodução de capitéis de colunas, frisos, molduras e elementos de ornamentação fitomórfica.

Quanto a técnica para a execução dos forros estucados, a argamassa de estuque era estruturada em barrotes de madeira ou em telas importadas do tipo Deployée. Para a aplicação da pasta, era importante que a madeira da estrutura que recebesse a aplicação estivesse sempre umedecida, para garantir uma boa ligação entre a estrutura portante e o estuque. Tal procedimento serviria para impedir a absorção da água do estuque pela estrutura, prevenindo rachaduras e/ou em perdas das ligações da argamassa (CALDAS, 2014).

O aumento da consciência sobre a conservação desse tipo de material se deu principalmente a partir do século XX, devido ao desenvolvimento nos setores de reabilitação e de conservação e restauro, que tornou visível o patrimônio como a ligação com o passado coletivo e com os valores de identidade.

A reabilitação pode ser considerada um processo de melhoria das condições de usabilidade do edifício, otimizando as instalações, reestruturando desde elementos decorativos a aspectos estruturais, com o objetivo de alongar a vida útil do edifício. Além disso, a reabilitação possui graus diferentes de intervenções, que vão desde a manutenção de um determinado revestimento, passando pela substituição parcial de um elemento por outro semelhante, até a remoção total e substituição de um elemento ou revestimento (PEREIRA, 2010).

Para mais, é necessário assegurar a reversibilidade dessas intervenções e dar preferência aos materiais e soluções tecnológicas comprovados, em detrimento de técnicas e produtos sofisticados. Assim como é de grande importância ser efetivamente sustentável nas escolhas dos materiais, técnicas e soluções construtivas para contribuir com o melhoramento do desempenho da construção, não permitindo que os atributos arquitetônicos, funcionais e construtivos sejam inferiores aos preexistentes.

A documentação clara da realidade preexistente e todas as alterações que serão introduzidas é necessária e promove a máxima coerência construtiva, prevendo a melhor e maior utilização dos elementos e partes da construção existente. Dessa forma, as intervenções não irão alterar ou destruir as evidências culturais, históricas ou artísticas detectadas no decorrer da obra.

Para qualquer tipo de intervenção que se proponha fazer em um edifício, é necessário que haja compatibilidade entre os materiais e sistemas construtivos atuais e os que foram empregados na construção original. Além disso, essas intervenções devem objetivar a proteção e preservação da identidade do patrimônio arquitetônico presente na capela, através da reabilitação das suas particularidades com valor significativo.

4. MÉTODOS, MATERIAIS E TÉCNICAS

A pesquisa em questão é de base experimental, combinada com estudos bibliográficos acerca dos processos de reabilitação dos forros históricos e materiais compatíveis com argamassas de estuque antigo. Após a análise da placa do forro coletada na Capela, foram estudadas as possíveis composições a ser utilizadas na reabilitação do forro em estuque, adotando materiais antigos e contemporâneos para compor as novas argamassas.

A fase experimental compôs-se de: definição dos traços das argamassas alternativas e ensaios de absorção e flexão; desenho de formas esquemáticas para as placas, confecção das argamassas selecionadas; ensaios das placas em escala reduzida e análise dos resultados dos ensaios.

Segundo Sudani (2014), o forro predominante na Capela da SCMPA é estucado e recebe um acabamento de tinta na cor rosa. A partir das observações in loco, nota-se que o forro é sustentado por um fasquiado de madeira (Figura 3), em uma malha feita “com finas ripas de madeira espaçadas entre si” (MACDONALD, 2004), no qual a argamassa está fixada nos espaços entre os fasquiados. Essa estrutura de sustentação é geralmente fixada em barrotes de madeira, presentes na estrutura da cobertura. A ornamentação do forro é composta por uma moldura frisada com um florão ao centro, ambos na cor branca (Figura 3). Esta combinação de elementos se repete de forma modular ao longo do forro.

A amostra utilizada na análise de DR-X foi coletada em 2013 dentre as placas desprendidas do forro, que se encontravam amontoadas no piso da capela. O fragmento coletado encontrava-se danificado devido à queda da altura de cerca de 5 metros desde o forro, com elementos faltantes, porém em condições adequadas para os estudos e análises necessárias para pesquisa. Em agosto de 2016 foram realizadas

as análises, quando houve a retirada de uma pequena parte da amostra para a execução da análise por DRX (Figura 4).

Figura 4: Localização das amostras obtidas no fragmento do forro para a análise por DRX

Fonte: Bianca Barbosa (2016).

Procedeu-se a raspagem das camadas do fragmento em uma peneira #200, sendo obtidas nove amostras de materiais. Estas foram encaminhadas ao Laboratório de Eco Compósitos, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA), para caracterização por DRX.

No âmbito dos materiais eleitos para compor a argamassa proposta, Rodrigues (2013) explica que a cal deriva de formação sedimentar e metamórfica, advinda de rochas carbonáticas originadas pela decomposição de conchas somadas a outros elementos. A cal utilizada em argamassas necessita da adição de areia silicosa ou calcária para evitar a retração na secagem, servindo como lubrificante que une e diminui o atrito entre os grãos de areia (PEREIRA, 2010; MELO, 2009).

Os resíduos de argila sílico-aluminosas empregados por Marques de Carvalho (2014) são constituídos de cerâmica vermelha e restos da construção civil. Através de um processo de britagem, moagem e peneiramento, esses materiais chegam à granulometria ideal para uso, utilizados como agregados em argamassas mistas e aglomerantes em argamassas com cal pozolânica.

O pó de serragem é resíduo da indústria moveleira, e pode ser incluído na produção de argamassas a fim de conferir maior resistência à tração e ao impacto (DANTAS, 2004). O compósito pode agregar dois ou mais materiais, porém é fundamental ter sua parte reforçada com fibras que proporcionam resistência à parte ligante, além de melhorar o isolamento térmico e acústico (MATOSKI, 2005).

O concreto celular, por sua vez, está classificado dentro dos concretos leves de alto desempenho, pois se diferenciam dos convencionais “pela redução da massa específica e alterações das propriedades térmicas e acústicas” (MELO, 2009, p. 15). A massa específica é diminuída conforme a quantidade de incorporadores de ar se injeta na massa, Melo classifica o concreto celular “em dois grandes grupos, aerados com agente espumígeno (espuma pré-formada) e os aerados quimicamente (também chamados de gasosos), onde as diferenças encontram-se no processo de formação dos poros e formas” (2009, p.

16). Ademais, a mistura do concreto celular é bem comum, contendo cimento, areia, cal e materiais silicosos, além do pó de alumínio.

5. RESULTADOS

5.1 CARACTERIZAÇÃO POR DR-X

Após o DR-X, dividiu-se as amostras em três grupos: o primeiro grupo, formado pelas amostras de n.º 04, 08 e 09, permite deduzir que sejam compostas por vestígios de tintas presentes tanto no ornamento em si, quanto no forro, e indicam a presença de cimento, que pode ser atribuído a uma reparação executada posteriormente à construção do forro.

O segundo grupo, formado pelas amostras de números 03, 06 e 07, apresentam caraterísticas provenientes de dois ou mais materiais. A amostra n.º 03, por exemplo, se encontra entre os estratos do ornamento e da camada de argamassa onde este está fixado; possui coloração diferenciada que se presume ser resultante da interação entre este material e a camada de tinta presente na superfície do forro.

Já o terceiro grupo, formado pelas amostras de n.º 01, 02 e 05, caracteriza-se por conter amostras do ornamento (n.º 05), da argamassa de acabamento (n.º 02) e da argamassa de assentamento (n.º 01) (Figura 4).

Figura 5: Desenho esquemático do perfil do forro da Capela da SCMPA realizado com o auxílio do CorelDRAW

Fonte: Bianca Barbosa (2017).

A amostra n.º 01 foi retirada da argamassa que faz a ligação da estrutura, composta pelos fasquiados e os barrotes, com o acabamento e os ornamentos. Essa argamassa, que possui uma coloração mais escurecida, apresentou durante a raspagem fragmentos de diferentes materiais, sendo identificados visualmente pedaços de conchas marinhas. Na caracterização (Figura 6), os padrões encontrados foram a Gipsita (Ca S O4 !2), o Quartzo (Si O2) e Carlinite (Tl2 S), sendo o primeiro componente do gesso e o segundo, componente da areia.

A terceira substância, sulfato de tálio, é um dos compostos químicos presentes em pesticidas, porém devido à sua toxidade, atualmente está proibido para este fim. Supõem-se que o sulfato de tálio esteja presente nessa amostra devido a sua aplicação, diretamente na imunização do fasquiado ou indiretamente, na dedetização da capela.

A amostra n.º 02 se localiza acima de toda a camada da amostra n.º 01. Ela apresenta uma coloração esbranquiçada e aparenta ser uma argamassa mais porosa e com granulometria maior em relação às demais. A caracterização aponta que sua composição é feita por Calcita (Ca (C O3)), Gipsita (CaSO4. 2H2O) e Quartzo (Si O2), o que indica que tal argamassa é composta por gesso, areia e cal.

A amostra n.º 05 corresponde ao material do ornamento presente no forro, mais precisamente do florão, de onde a amostra foi coletada. A caracterização indica que o ornamento é composto predominantemente por Gipsita (CaSO4. 2H2O), que é o principal componente químico do gesso. A granulometria fina da amostra, que possui a coloração branca, também reforça a ideia de que o ornamento é feito com uma argamassa de gesso.

Figura 6: Difratograma das amostras n.º 01 e 02

Fonte: Laboratório de Eco-compósitos (2016).

5.2 TRAÇOS

Nesta etapa, procurou-se manter o equilíbrio da proporção dos materiais em cada traço de argamassa a ser confeccionado. Deste modo, chegou-se em três traços de argamassas, diferenciando-os pela porcentagem ou pelo tipo dos materiais:

• Traço 01: com 30% de Cal, 40% de Resíduos de argilas aluminosas/sílica (Rejeitos) e 30% de Pó de serragem;

• Traço 02: com 30% de Cal, 30% de Resíduos de argilas aluminosas/sílica (Rejeitos) e 40% de Pó de serragem;

• Traço 03 (Concreto Celular): contendo 20% de Cal, 79,5% de Resíduos de argilas aluminosas/sílica (Rejeitos), 0,5% de pó de alumínio.

Assim, foram propostos corpos de prova com traços diferentes, a fim de analisar e testar essas argamassas, submetidas aos ensaios de flexão e absorção. Foram confeccionados 18 corpos de prova, sendo necessários três corpos para cada ensaio, multiplicados pelos três tipos de traços de argamassas.

Para se calcular a quantidade de material utilizado em cada corpo de prova, cada traço e o total necessário de material, calculou-se o volume dos corpos de prova, a partir das dimensões da forma onde eles foram confeccionados. A forma possui medidas internas de 10cm x 4,80cm x 2,25cm, com volume de 108 cm³; assim, utilizando-se as proporções acima e o volume dos corpos de prova, chegou-se aos volumes de todos os materiais.

Após essa etapa, multiplicou-se o volume pelo peso específico de cada material, resultando na massa em gramas a ser usada em cada corpo de prova. Para cada traço foram feitos seis corpos de prova e se multiplicou esse total em gramas por seis, em que se chegou à quantidade total necessária para se produzir os corpos de prova.

5.3 CONFECÇÃO DOS CORPOS DE PROVA

Os dezoito corpos de prova foram produzidos no LAMEMO/ UFPA utilizando formas em madeira com as mesmas dimensões da forma em aço, esta disponível no Laboratório de Engenharia Química da UFPA.

Para a confecção dos corpos de prova, foram peneirados o pó de serragem, obtido em uma carpintaria em Belém do Pará e os resíduos sílico-aluminosos, excedentes da pesquisa de doutoramento (MARQUES DE CARVALHO, 2014), os quais haviam passado por moagem. A peneiragem do pó de serragem foi realizada em uma peneira 2mm; durante a peneiragem, constatou-se que a serragem utilizada é formada por madeira vermelha, com predominância de

madeira branca (Cedro e Angelim). O mesmo processo foi realizado com os rejeitos sílico-aluminosos, com peneira #100.

Posteriormente, os materiais utilizados em cada traço foram pesados de acordo com as quantidades de massa para seis corpos de prova. A primeira argamassa produzida foi a referente ao traço 1, com cal, rejeitos e pó de serragem. Após a pesagem, os materiais foram colocados em um recipiente de vidro com peso de 826g, onde foi feita a mistura da argamassa com água. Eles totalizaram um peso de 868g sem água, após a mistura de água na argamassa verificou-se que o peso subiu para 1,7kg. Em seguida, foi feito o preenchimento das formas para os corpos de prova.

Para o traço 2, foram repetidos os mesmos procedimentos, pois os materiais eram os mesmos, apenas em proporções diferentes do traço 1. Verificou-se que o peso dos materiais misturados e sem água era de 848g, já com a mistura da água era de 1,9kg, ou seja, foi utilizada uma maior quantidade de água. Para a argamassa em concreto celular, foram usados a cal, os rejeitos e pó de alumínio. Misturados e sem adição de água, esses materiais totalizaram 946 g, já com a água o peso subiu para 1,4kg.

Figura 7: Formas preenchidas com as argamassas. Da esquerda para a direita: traços 01 (argamassa amarelada), 02 (argamassa mais escura) e Concreto Celular (argamassa rosada).

Fonte: Larissa Leal (2017).

Além dos seis corpos de prova necessários para os testes, foram confeccionados mais dois de cada traço por segurança. Vale ressaltar que é fácil observar a diferença das cores das argamassas, de acordo com a predominância de cada material.

A argamassa do traço 1, (à esquerda na Figura 7) contém uma coloração mais amarelada devido à utilização da serragem em sua composição, sendo um pouco mais clara que a argamassa do traço 2, cuja tonalidade mais escura se dá em razão da maior quantidade de serragem utilizada. O concreto celular, por sua vez, apresenta uma tonalidade mais rosada, da cor dos resíduos silico-aluminosos, material que predomina em quase 80% da argamassa.

5.4 ENSAIOS

Nas argamassas, as primeiras 24 horas foram fundamentais para o processo de pega e seguiu-se o período da cura, totalizando 14 dias.

5.4.1 ENSAIO DE FLEXÃO

Os ensaios de flexão foram realizados em um equipamento de medição de resistência à flexão de materiais cerâmicos, no Laboratório de Engenharia Química da UFPA. Nesse equipamento, foi utilizado um balde de 400g, o qual foi cheio aos poucos com água, produzindo esforços no corpo, até o rompimento dele. Foram utilizados três corpos de prova para cada traço. Nos traços 1 e 2, os três corpos de cada traço romperam com o peso do equipamento, 1,1kg (no ponto de corte do equipamento).

O primeiro corpo de prova testado referente ao traço de Concreto Celular suportou o peso do equipamento, de 1,1kg e mais 7,1kg, referente ao peso do balde plástico com água, totalizando 8,2kg. Já o segundo corpo de prova rompeu com um peso de 4,2kg mais

1,1kg do equipamento, totalizando 5,3kg. O terceiro corpo de prova suportou um peso 8,2kg e mais o peso do equipamento de 1,1kg, totalizando 9,3kg.

Figura 8: Equipamento de medição, durante os ensaios.

Foto: Larissa Leal (2017).

5.4.2 ENSAIO DE ABSORÇÃO

Após o período da cura, foram feitos os ensaios de absorção dos corpos de prova. Estes corpos foram pesados um a um e depois submersos em água, sob temperatura média de 30°, durante 24 horas. Os pesos dos corpos de prova antes e depois da imersão foram:

Quadro 1: Traços 1, 2 e 3 – peso antes e depois da imersão

Fonte: Larissa Leal (2017)

Figura 9: Pesagem dos corpos após imersão

Fonte: Larissa Leal (2017).

5.5 A ARGAMASSA PARA MOLDAGEM E A FORMA DA PLACA

A moldagem da placa foi feita com as argamassas correspondentes ao traço 2 e traço 3, pois os resultados das análises de ambas as argamassas foram satisfatórios. Após os ensaios de flexão e absorção com as placas foi escolhido um traço de argamassa.

A placa original do forro é ornamentada em estuque de relevo, com adornos florais sob a temática fitomorfa, segundo Sudani (2014). Para a reprodução da moldagem dessas placas, os ornamentos foram desconsiderados. Como a amostra da placa original está fragmentada e incompleta, não foi possível precisar o peso e consequentemente o volume, mas de acordo com análises de proporções, foram

estabelecidas as seguintes medidas em centímetros para a moldagem da placa, ainda para testes:

Figura 10: Molde da placa em tamanho real e reduzido

Fonte: Larissa Leal (2017).

A forma da nova placa pode ser descrita como um prisma retangular e uma pirâmide com sua base centralizada no prisma, como podem ser observados acima, com dimensões de 45 cm x 45 cm e uma altura total de 9 cm. Para as placas de teste, o volume foi reduzido para 25%, a fim de facilitar a confecção e testes das placas, além de consumir um volume menor de material.

As formas foram confeccionadas em madeira e tiveram um emassamento para deixar a superfície mais lisa, que irá influenciar tanto na desforma quanto no resultado dos ensaios.

5.6 MOLDAGEM DA PLACA

A quantidade de materiais necessários para a moldagem das placas foi calculada de acordo com o volume delas, repetindo-se o processo

realizado com os corpos de prova. De acordo com os resultados dos corpos de prova, foram alteradas proporções de alguns materiais: nos dois tipos de argamassas produzidos, foram adicionados 5% de cimento e a quantidade de pó de alumínio foi triplicada, em relação às porcentagens iniciais.

• Traço 02: com 27,5% de Cal, 27,5% de Resíduos sílico-aluminosos (Rejeitos), 40% de Pó de serragem e 5% de Cimento;

• Concreto Celular: contendo 23% de Cal, 70% de Resíduos sílico-aluminosos (Rejeitos), 1,6% de pó de alumínio e 5,4% de Cimento.

Figura 11: Placas fundidas

Fonte: Larissa Leal (2017).

5.7 ENSAIOS

Primeiramente, a desforma das placas foi realizada com o uso de um aparelho que emite calor direcionando o jato para o fundo das formas, a fim de propiciar o descolamento das placas. Durante a

desforma, algumas placas fragmentaram em algumas partes, porém não comprometeram os ensaios de flexão e absorção. Os mesmos processos de ensaios que foram realizados no experimento com os corpos de prova, foram reproduzidos com as placas, obtendo-se, contudo, resultados diferentes.

Nos ensaios de flexão, as placas do traço 2, cujo peso é de 780g, resistiram em média a 900 g e o rompimento das placas foi imediato. Já as placas do traço 3, que pesaram em média 1kg, resistiram a uma carga de 23kg. Para o ensaio de absorção, os corpos imergidos foram coletados de fragmentos das placas após o ensaio de flexão. Estes foram inicialmente pesados, e posteriormente submersos em água durante 24 horas, à uma temperatura média de 30°C. Após pesagem, obteve-se os seguintes resultados:

Quadro 02: Traços 2 e 3 - peso antes e depois da imersão dos fragmentos das placas

Fonte: Larissa Leal (2017).

6. DISCUSSÃO

Após as análises dos corpos de prova submetidos ao ensaio de absorção, no traço 1, o corpo 1 aumentou 55 g ou 71% do seu peso inicial, o corpo de prova 2 sofreu um aumento em seu peso de 62g ou 77% do seu peso inicial e o corpo de prova 3 aumentou seu peso em 60g ou 81% do seu peso inicial. O traço 2, obteve os seguintes resultados: o corpo 1 aumentou 49g em relação ao seu peso inicial ou 75%, o corpo 2 apresentou um aumento de 84,8% em relação ao

seu peso inicial, aumentando assim 56g, o corpo 3 teve um aumento de 52g ou 74% no seu peso em relação ao peso inicial.

Sobre o traço 3, obtivera-se os seguintes dados: o corpo 1 aumentou o peso em 76g ou 67% em relação ao seu peso inicial, o corpo 2 teve um aumento de 42g ou 33% em relação ao seu peso inicial. Já o corpo tendo um aumento de apenas 10g ou 7% em relação ao seu peso inicial.

Todos os traços apresentaram características favoráveis à utilização da argamassa para a reprodução das placas. Porém, algumas observações foram fundamentais para a escolha da argamassa que será utilizada:

• Foi observada a diferença de coloração dos traços 1 e 2, que são bem mais escuros que o traço 3, que é rosado. Entretanto, qualquer traço que for escolhido necessitará de acabamento;

• Os corpos de prova dos traços 1 e 2 permaneceram com sua forma intacta, diferentemente dos corpos de prova do traço 3, que liberaram mais matéria durante a imersão, em relação aos outros traços;

• Sobre a perda de água após o ensaio de absorção, o traço 2 apresentou perda de água mais rápida que os outros traços.

O traço 2 também adquiriu mais dureza após a absorção;

• Com a pesagem dos corpos, após a cura total e durante os ensaios de absorção percebeu-se que o traço 3 ficou mais pesado que os outros dois traços;

• Nos ensaios de flexão, a argamassa mais favorável e que resistiu a uma carga maior foi à correspondente ao traço 3, sendo que a correspondente ao traço 1 foi a que rompeu mais rapidamente com pouca carga e os corpos de prova do traço 2 romperam com uma carga um pouco maior.

Após a análise dos ensaios, chegou-se à conclusão de que a adição de 5,4% de cimento nas argamassas traria uma dureza maior a elas. Como os corpos de prova correspondentes ao traço 3 estavam mais pesados, outra conclusão foi de que não houvera a criação suficiente de bolhas de ar dentro da argamassa, triplicando-se assim a quantidade de Pó de alumínio no traço 3. No que diz respeito à flexão, os traços 1 e 2 resistem pelo menos ao peso próprio e o traço 3 é bem favorável para suportar grandes quantidades de peso.

Portanto, a partir do desempenho dos ensaios realizados, optou-se pelos traços 2 e 3 para confecção das placas, acrescidos de 5,4% de cimento e a quantidade do pó de alumínio foi triplicada, em relação à porcentagem inicial.

Na placa referente ao traço 2, a adição de cimento não foi eficaz, pois ainda assim sua resistência à flexão foi muito baixa, pois a placa não foi capaz de suportar seu próprio peso. No traço 3, o aumento da quantidade de Pó de alumínio foi satisfatório, pois houve maior criação de bolhas de ar no interior da argamassa, havendo, portanto, uma expansão de cerca de 30%. A adição de cimento na placa resultou em uma resistência mais elevada à flexão, sendo que as placas, em média, suportaram 23kg. Assim, o traço 3 demonstrou melhor desempenho, tendo sido a opção a ser utilizada na futura intervenção de recomposição do forro em estuque.

O objetivo principal da pesquisa foi conceber uma argamassa mais leve e que substituísse a argamassa à base de gesso utilizada no forro de estuque da Capela da Santa Casa. Procedeu-se o comparativo entre o peso próprio das duas placas: a original, contendo a base e os elementos ornamentais, e a nova placa proposta com a argamassa correspondente ao concreto celular.

O peso próprio das placas foi calculado a partir do fragmento da placa original, comparando-o com a nova placa, levando em consideração a proporcionalidade volumétrica de cada uma. A partir de

cálculo matemático, chegou-se a determinação de que o peso por cm³ da placa proposta é de 1g/cm³, enquanto na original o valor é de 1,3g/cm³.

Quanto a absorção, a placa proposta obteve o índice de 36%, enquanto a placa original obteve o índice de 32%. É bom frisar que a placa original é centenária e, portanto, com um longo período de cura, enquanto a nova placa foi ensaiada com 14 dias de cura.

Figura 12: Fragmento da placa original e a placa proposta

Fonte: Ronaldo Marques de Carvalho (2017)

Apesar da placa confeccionada com a argamassa proposta responder aos objetivos almejados neste estudo, a confecção de um protótipo substitutivo das placas originais em estuque demanda aprofundamento das pesquisas, quanto à forma de reprodução dos motivos ornamentais, além de novas formas de sustentação das placas no teto. Contudo, os resultados alcançados foram promissores, no sentido da utilização sustentável de rejeitos de construção civil, além de outros rejeitos da indústria moveleira e da indústria mineral.

REFERÊNCIAS

CALDAS, Wallace. Restauração de elementos em estuque. Ópera prima arquitetura e restauro Ltda. s.d. Disponível em: <http://marciabraga.arq.br/voi/images/stories/pdf/estuque.pdf>. Acesso em: 29 de outubro de 2014.

CARTA DE VENEZA. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza%201964.pdf. Acesso em 28 nov. 2017.

FIGUEIREDO, Miguel. História do estuque. In: I ENCONTRO SOBRE ESTUQUES PORTUGUESES, Livro de Actas [...]. Porto: Museu do estuque, 2008. p. 9-18. Disponível em: <http://www. casaruibarbosa.gov.br/arquivos/file/LivroActas_final%20(2).pdf>. Acesso em: 30 de outubro de 2014.

MACDONALD, Mary Lee. Reparação do estuque liso histórico: Paredes e tetos. National park service. Preservation Briefs: Technical preservation services. Tradução: Antônio de Borja Araújo. Abril, 2004. Disponível em: <https://5cidade.files.wordpress.com/2008/04/ reparacao-do-estuque-liso-historico.pdf>. Acesso em: 02 de fevereiro de 2015.

MARQUES DE CARVALHO, Ronaldo Nonato Ferreira. Reci-

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