Biosfera Newsletter - Setembro a Dezembro 2024 - PT

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EXPEDIÇÃO A SANTA LUZIA

ASSOCIAÇÃO PARA A DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Design Gráfico Christian Morais

Textos Tommy Melo; Nadina Rodrigues; Alberto Queiruga; Jessica Matos; Odair Cardoso; Zuleica Duarte; Stiven Pires; Isabel Fortes; Hércules Sousa

Revisão Christian Morais e Nathalie Melo

Coordenação Odair Cardoso

Fotografias Biosfera; Christian Morais/Biosfera; Jessica Matos/Biosfera; Alberto Queiruga/Biosfera; Isabel Fortes/ Biosfera; Nathalie/Biosfera; Zuleica Duarte/Biosfera; Tommy Melo/Biosfera; Odair Cardoso/Biosfera; Nadina Rodrigues/ Biosfera; Madelene Reis; IUCN

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biosferacv BiosferaCaboVerde

(+238) 231 79 29

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Rua 5, Sul do Cemitério São Vicente, Cabo Verde

SETEMBRO A DEZEMBRO

1º caboverdiano a fazer travessia interilhas a nado

«Ao cruzar pela primeira vez o canal numa embarcação artesanal, tinha na altura 12 anos. Fiquei deveras impressionado com o azul profundo das águas, a força das ondas e das correntes que às vezes faziam a embarcação parecer que havia sido agarrada pelas mãos de um gigante invisível e não avançava nem um milímetro. Na imaginação via as várias criaturas que deveriam circular por aquelas profundezas, daí surgiu do meu íntimo uma vontade, de conseguir vencer esse medo e de me fundir um dia com aquele mundo fantástico. Passados mais de 30 anos, resolvi que estava no equilíbrio perfeito entre a minha forma física e mental, e após treinar apenas 1 mês, lançei-me no cumprimento desse desejo antigo.

Às 10h12 da manhã do dia 24 de Novembro de 2024 eu me lancei ao mar e durante todo caminho não senti em nenhum momento qualquer medo, apenas um sentimento de integração ao meio e um esforço saudável de todos os meus músculos. Minha mente estava focada nos movimentos e minha imaginação dançava por entre as ondas tentando idealizar a criança de 12 anos que a mais de 30 anos cruzava pela primeira vez aquelas águas todo assustado.

12.580 metros e exatamente 5 horas e 6 minutos após ter desprendido os meus pés das areias da praia de Ponta Branca em Santa Luzia, eles voltaram a tocar areias brancas, desta vez da praia de Boca de Lapa, na ilha de São Vicente...4 kilos a menos, mas o coração estava sorrindo, e o mar sorria de volta para mim.»

2 EXPEDIÇÃO A SANTA LUZIA

5 BIOSFERA VENCE CONCURSO DE CINEMA

6 CONSERVAÇÃO GANHA UMA NOVA FERRAMENTA

7 UM IMPACTO COLETIVO

8 DE RESÍDUO A RECURSO

9 UM SELO DE SUSTENTABILIDADE

10 REFORÇO ORGANIZACIONAL DA REDE TAOLA+

11 CONEXÕES ALÉM-FRONTEIRAS

12 UM MARCO IMPORTANTE

14 PROTEGENDO AS TARTARUGAS

15 URDI DÁ VEZ E VOZ À BIODIVERSIDADE DE CABO VERDE

EXPEDIÇÃO A SANTA LUZIA

Nos últimos três anos, a Biosfera, com o apoio financeiro do PPI, implementou este importante projeto na Reserva de Santa Luzia

O projeto «Gestão Sustentável e Monitorização das Espécies Ameaçadas e Ecossistemas Vulneráveis na Reserva de Santa Luzia», foi concluído, juntamente com a implementação de suas diversas atividades.

Agora, apresentamos os resultados finais e as preocupações para o futuro. Um dos principais componentes foi o estudo, proteção, conservação e monitorização de várias espécies, tanto endémicas como ameaçadas, presentes na ilha, como a tartaruga-comum, a Calhandra-do-Raso e três espécies de répteis terrestres, com foco no Hemidactylus bouvieri, uma osga endémica da reserva que está criticamente ameaçada.

Em relação às tartarugas marinhas, os resultados mostram uma população estável, com sinais de crescimento, conforme os dados de nidificação: 1695 (2022), 5434 (2023) e 6089 (2024). Além da monitorização, foram realizados estudos sobre o impacto dos resíduos marinhos na taxa de sobrevivência dos filhotes e o impacto das alterações climáticas nas temperaturas dos ninhos.

A monitorização da Calhandra-do-Raso, após sua introdução na ilha de Santa Luzia, forneceu dados promissores sobre o estado da espécie endémica criticamente ameaçada, além de sua expansão para diferentes áreas da ilha. Os censos realizados ao longo dos três anos mostraram um aumento da população, superando amplamente o objetivo inicial do projeto de 200 indivíduos.

O estudo dos répteis terrestres revelou um dos resultados mais interessantes: a redescoberta do Hemidactylus

bouvieri, uma espécie anteriormente considerada quase extinta. Foram identificadas três populações, com um total de 10 indivíduos. Nos transectos de estudo, contaram-se 2199 indivíduos de Chionina stangeri e 3736 de Tarentola raziana, resultando em estimativas populacionais de 91.126 e 109.145 indivíduos, respetivamente.

O segundo bloco de atividades foi focado na restauração ecológica da costa de Achados, com campanhas de limpeza em grande escala e os primeiros passos do nosso projeto piloto de transformação de plásticos. A cada ano, coordenou-se uma grande campanha de limpeza com cerca de 300 voluntários, removendo mais de 180 toneladas de detritos marinhos das áreas de nidificação. Além disso, foram realizados estudos detalhados sobre a origem, tipos, quantidades e taxa de retorno dos resíduos marinhos à costa de Achados. Em relação à transformação de plásticos, adquiriram-se os equipamentos necessários para o processo. O contentor doado pela MAERSK foi remodelado para abrigar a unidade de transformação, e moldes para diversos produtos foram adquiridos e apresentados em mercados locais/ nacionais. No total, foram recolhidos e processados 1200 kg de plástico, dos quais mais de 320 kg foram transformados. O bloco final do projeto teve como foco a sensibilização e o envolvimento da sociedade civil e das autoridades nas questões de conservação ambiental. Foi desenvolvido um programa de ciência cidadã, com mais de 75 estudantes e voluntários que participaram ativamente na conservação e estudo das espécies-alvo. Mais de 300 pessoas participaram das campanhas de limpeza, e várias ferramentas de comunicação e sensibilização foram implementadas, alcançando mais de 600 recrutas e outros grupos sociais. Embora o projeto tenha terminado, sabemos que essas atividades precisarão

“Redescoberta da osga Hemidactylus bouvieri, 2199 indivíduos de Chionina stangeri e 3736 de Tarentola raziana.”

continuar a ser implementadas e financiadas nos próximos anos para reforçar ainda mais os resultados alcançados e lidar com as suas fragilidades. A monitorização das ameaças às populações de tartarugas marinhas e do Calhandra-do-Raso, o estudo da biologia e ecologia das espécies de répteis terrestres, a pesquisa sobre populações de Hemidactylus bouvieri, soluções para o problema dos resíduos marinhos em Santa Luzia, a promoção da reciclagem e redução de plásticos, o fortalecimento da unidade de transformação de plásticos e o contínuo envolvimento das autoridades e da sociedade civil na conservação ambiental são questões essenciais para a sustentabilidade da maior reserva natural do país.

#5ê

BIOSFERA VENCE CONCURSO DE CINEMA

A Biosfera foi a vencedora da primeira edição do concurso “Festival Internacional de Filmes para a Ação Climática do Atlântico” (FIAC) com o documentário “Oásis Submerso”, uma produção que visa chamar a atenção dos decisores e do público nacional sobre a importância dos oceanos e a necessidade da preservação dos nossos recursos pesqueiros.

Além do primeiro lugar no concurso da FIAC, o nosso “Brincando Com Aves Marinhas” ficou em terceiro lugar e ainda recebemos duas menções honrosas para as animações de poluição marinha - “Como é que o lixo vai parar ao mar” e “A importância do Oceano”. Este festival foi uma iniciativa da Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde e teve como objetivo promover a conscientização sobre questões climáticas, utilizando os filmes como ferramentas educativas e dinâmicas.

Para nós – Biosfera – estes prémios simbolizam um reconhecimento do nosso trabalho, não só na área da conservação, mas, também, na área de Comunicação e do nosso trabalho junto das escolas, sobretudo junto das crianças na qual temos vindo ao longo dos anos à procura de novas formas e ferramentas para sensibilizar e chamar a atenção de todos para a importância das ações de conservação e preservação ambiental em Cabo Verde. É motivo de enorme satisfação vermos os nossos conteúdos visuais serem conhecidos como ferramentas de educação ambiental nas escolas e que contribuem para uma mudança de atitudes e caminhos a bem da preservação da extraordinária riqueza da biodiversidade no nosso país.

Um reconhecimento do nosso trabalho, não só na área da Conservação, mas também na área de Comunicação.

Ver documentário

#24ê

CONSERVAÇÃO GANHA UMA NOVA FERRAMENTA

O Projeto #IlhasMais tem como objetivo principal a elaboração do primeiro «Atlas das Aves Nidificantes de Cabo Verde». Este atlas mapeará a distribuição e abundância das espécies nidificantes no arquipélago, fornecendo dados essenciais para a preservação dos habitats e áreas críticas, além de subsidiar a atualização da Lista Vermelha das Aves de Cabo Verde.

A iniciativa visa capacitar as ONGs de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe com competências técnicas e organizativas, promovendo a gestão sustentável da biodiversidade. Antes do início dos trabalhos de campo, foi realizado, no mês de junho, um workshop de capacitação para alinhar as metodologias, dividir responsabilidades e validar os métodos com as equipas envolvidas no projeto.

A partir do mês de setembro iniciaram-se as saídas de campo para recolha de dados, programadas de

acordo com as épocas de reprodução das aves marinhas e terrestres: a época chuvosa (setembro a dezembro de 2024) e a época seca (a partir de março de 2025).

As atividades no campo incluíram censos diurnos e dirigidos, escutas noturnas para identificação das espécies e evidências de nidificação com base em códigos pré-definidos em quadrículas de 5km2 para cada ilha ou ilhéu. Apesar dos desafios, especialmente nas ilhas montanhosas, o trabalho abrangeu todas as ilhas e contou com a colaboração de vários voluntários e também das ONGs: Terrimar, Projeto Biodiversidade, BiosCV, Fundação Maio Biodiversidade, Lantuna e Projeto Vitó. Este esforço coletivo é essencial para garantir a qualidade e a abrangência dos dados coletados, fortalecendo a conservação das aves nidificantes de Cabo Verde.

Uma ferramenta importante para a conservação de espécies de aves nidificantes de Cabo Verde.

UM IMPACTO COLETIVO

Dedicamos mais um ano à missão de restaurar os ecossistemas costeiros por meio de campanhas de limpeza. Essas ações não apenas proporcionaram um ambiente mais seguro para a desova das tartarugas marinhas, mas também representaram uma iniciativa coletiva de motivação e amor à natureza, promovendo a redução da poluição marinha, especialmente a poluição por plástico.

Durante o ano, foram realizadas uma série de 9 campanhas de limpeza, juntando mais de 360 voluntários que uniram forças, alcançando o impressionante resultado de 3,2 toneladas de lixo, removido das áreas costeiras da ilha, contribuíndo significativamente para recuperação desses ecossistemas. A maioria dos resíduos coletados são resíduos da indústria da pesca que prejudicam os ecossistemas marinho de diversas formas antes de darem a costa. Além dos resíduos visíveis, como os resíduos de indústria da pesca, um grande desafio

é a presença de microplásticos nos ecossistemas costeiros. Estes fragmentos provenientes da decomposição de materiais plásticos são facilmente ingeridos por diversas espécies marinhas causando bloqueios digestivos, intoxicações e até a transferência de substâncias químicas tóxicas ao longo da cadeia alimentar, impactando não apenas os animais, mas também os seres humanos que dependem desses ecossistemas. Portanto, a remoção do lixo maior das praias também contribui para minimizar a formação futura de microplásticos.

A participação das empresas locais, aliada à dedicação de seus colaboradores, tornou-se necessária para o alcance dos resultados dessas campanhas de limpeza.

Mais de 360 voluntários uniram forças, alcançando o impressionante resultado de 3,2 toneladas de lixo, removido das áreas costeiras.

DE RESÍDUO A RECURSO

O descarte inadequado de material de pesca, como redes, linha e anzóis, representa um grave problema ambiental, impactando os ecossistemas marinhos em várias frentes. Estes resíduos para além de contribuirem significativamente pela quantidade de macro e microplástico presentes nos oceanos têm um potencial de continuar “pescando” mesmo após serem descartados, causando a morte de inúmeras espécies marinhas.

Em Cabo Verde, a partir de estudos de caracterização de resíduos realizados pela Biosfera em São Vicente e em Santa Luzia, sabemos que mais de metade de todo o lixo que chega às nossas praias é proveniente da indústria da pesca, por exemplo: redes, cordas, linhas, bóias, armadilhas e 1/2 corresponde a itens de plástico.

Consciente dessa problemática, a Biosfera, em colaboração com associações locais como Simili, Ecobilongo e São Pedro Tour,

promoveu uma formação de transformação de redes de pesca na comunidade piscatória de São Pedro, estimulando o senso criativo com práticas sustentáveis. Durante a formação os formandos (entre homens e mulheres) estiveram a aprender técnicas para criar bolsas reutilizáveis e outros souvenirs a partir de resíduos de redes de pesca.

A reutilização de redes de pesca, abandonadas, promove uma economia circular que para além de reduzir danos ambientais, gera uma renda extra para as famílias desta comunidade, assim materiais antes vistos como lixo tornam-se recursos valiosos promovendo uma mudança de cultura.

Em breve vão poder encontrar estes produtos autênticos na comunidade de São Pedro.

Reutilização de redes de pesca, que chegam às nossas praias como lixo, para criar bolsas reutilizáveis e outros souvenirs.

#5ê

UM SELO DE SUSTENTABILIDADE

O projeto “Sustentável do Mar ao Prato” é uma iniciativa lançada pela Biosfera em 2019, que visa valorizar o pescador artesanal e o pescado capturado de forma responsável, respeitando as normas estabelecidas pela legislação nacional, através da atribuição do selo de pesca sustentável e a integração desse pescado no mercado local e nas ementas dos restaurantes.

Atualmente, além da sua implementação em São Vicente pela Biosfera, esta iniciativa está a ser implementada nas ilhas do Sal e do Fogo pela Associação Projeto Biodiversidade e Projeto Vitó, respetivamente.

Foi elaborado um guia, em parceria com a BeSafe Group, que contém não só os critérios necessários que os restaurantes devem seguir para receberem o selo de sustentabilidade, mas também servirá de orientação

para as ONGs que fazem parte do projeto detalhando todos os passos necessários a serem seguidos.

No mês de outubro, a Biosfera reuniu-se com os representantes de diferentes restaurantes em São Vicente com o intuito de apresentar este guia e perceber a sua posição com relação a esta iniciativa de atribuição do selo de sustentabilidade. Podemos dizer que a iniciativa foi muito bem recebida e que os restaurantes presentes concordaram todos em fazerem parte do esquema e aderirem ao projeto.

Por fim, vale realçar que este é um selo de sustentabilidade apenas para a garoupa, que é uma espécie que temos vindo a trabalhar nos últimos anos e apresenta medidas de gestão na legislação nacional, mas não descartamos, num futuro próximo, incluir outras espécies neste selo.

O selo visa valorizar o pescador artesanal e o pescado capturado de forma responsável e a integração desse pescado no mercado local e nas ementas dos restaurantes.

REFORÇO ORGANIZACIONAL DA REDE TAOLA+

Ao longo dos últimos anos a conservação ambiental em Cabo Verde tem-se dotado de instrumentos e ferramentas que permite criar sinergias entre a sociedade civil, as comunidades e a estrutura governamental do país. Para reforçar essas sinergias investiu-se na criação de uma rede de conservação ambiental em Cabo Verde “TAOLA+” que atualmente é composta por 14 ONGs ambientais de Cabo Verde.

No âmbito do projeto “Reforço das Organizações de Cidadãos para a Proteção da Natureza em Ambientes Insulares”, financiado pelo Instituto Camões, em coordenação com a Sociedade Portuguesa de Estudos das Aves (SPEA), assinou-se um protocolo com a rede TAOLA+ que visa reforçar a capacidade institucional e organizacional da rede, criando ferramentas de gestão como um plano estratégico, manual de procedimentos e desenvolver intercâmbio entre membros da rede.

Para avançar com o processo do reforço de capacidade da TAOLA+, em novembro na ilha do Sal, reuniuse durante 3 dias 12 organizações ambientais, membros da rede para discutir e definir os principais eixos e objetivos estratégicos da rede que vão orientar as próximas ações de conservação ambiental em Cabo Verde.

O plano estratégico da TAOLA+ é uma ferramenta que vai contribuir para um ambiente sadio e resiliente das comunidades cabo-verdianas e será apresentada para os membros e parceiros, no primeiro semestre de 2025.

Resta-se agradecer aos membros e aos parceiros que têm suportado o processo de reforço organizacional e institucional da Rede como por exemplo: Instituto Camões, PRCM, PPI e CEPF.

A rede TAOLA+ é composta por 14 ONGs ambientais de Cabo Verde que trabalham num plano estratégico que vai contribuir para um ambiente sadio e resiliente das comunidades caboverdianas.

CONEXÕES ALÉM-FRONTEIRAS

O ano de 2024 foi marcado pela presença da Biosfera na diáspora! A nossa ONG representou Cabo Verde no seminário intitulado: «Diálogos das Juventudes Lusófonas pelo Meio Ambiente e Justiça Climática» a convite do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil e da Redeluso, na capital federal do Brasil, nos dias 21 a 25 de novembro. O seminário teve como objetivos principais: promover ação formativa e o fortalecimento das juventudes; reconstrução do Plano Nacional de Juventudes e Meio Ambiente (PNJMA); elaborar carta da juventude brasileira pela Justiça Climática a ser entregue na COP30.

Guiné-Bissau foi outro destino. Com foco em atividades que visam dar continuidade ao suporte organizacional e reforço de capacidade interna da associação Nindjon, sediada na ilha de Bubaque, a nossa Diretora, Nadina Rodrigues Matias, esteve presente, de 23 de

novembro a 1 de dezembro para apoiar esta associação guineense na divulgação do trabalho do projeto de poluição marinha e engajamento comunitário desenvolvido nas ilhas Bijagós. Em conjunto com a direção da Nindjon reunimos com o Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP), Instituto Camões, União Europeia e Organização Desenvolvimento das Zonas Húmidas (ODZH), com objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido e criar parcerias financeiras e técnicas para a ONG Nindjon. No final, visitamos as ilhas de Bubaque e Rubane, conhecendo a equipa e o trabalho desenvolvido pela associação onde percebemos o forte potencial da Associação Nindjon no engajamento comunitário nas ilhas de Bijagós.

Brasil e Guiné-Bissau foram dois importantes destinos na diáspora para Biosfera onde esteve na pauta a Educação Ambiental e a Poluição Marinha.

UM MARCO IMPORTANTE

Este ano, o programa de Conservação de Tubarões e Raias continuou os esforços através do apoio da RAMPAO na Reserva Marinha de Santa Luzia.

O projeto visou melhorar e compreender a biologia, ecologia e estado de conservação dos tubarões e raias, especialmente as espécies Viola barba-negra (Glaucostegus cemiculus) e o tubarão Doninha do Atlântico (Paragaleus pectoralis), que ocorrem em Cabo Verde e especialmente na Reserva Marinha de Santa Luzia.

As principais atividades incluíram a marcação passiva externa e o sistema Baited Remote Underwater Video System (BRUV), permitindo melhorar o conhecimento biológico e ecológico dos elasmobrânquios presentes na Reserva Marinha de Santa Luzia, bem como investigar o uso do habitat e a importância de Santa Luzia como berçário.

Mais que melhorar e compreender a biologia, ecologia e estado de conservação dos tubarões e raias em Cabo Verde, o projeto conta com um impacto internacional dos relatórios da IUCN.

A IUCN, juntamente com 353 autores de 115 países, desenvolveu depois de 20 anos o relatório Global sobre o estado de conservação dos Tubarões, Raias e Quimeras. E pela primeira vez Cabo Verde teve um capítulo neste relatório.

Isto é particularmente importante para as espécies endémicas e ameaçadas, como a endémica Raia de Cabo Verde, o ameaçado Tubarão Doninha do Atlântico (uma espécie endémica da África Ocidental), ou o criticamente ameaçado, Viola barba-negra, espécies estas que são principais alvos de pesquisa da Biosfera. Para estas espécies, a investigação sobre todos os aspetos deve ser intensificada, incluindo a biologia básica e os habitats importantes.

Este relatório torna-se o 1º documento onde se destaca a importância dos tubarões e raias, para Cabo Verde, a sua importância de proteção e conservação, bem como demostra o atual quadro de governação, políticas de proteção atuais e como esta sendo aplicado, sugerindo além disso novas políticas de governação, proteção baseadas no conhecimento, investigação e ciência.

PROTEGENDO AS TARTARUGAS

A Biosfera montou, pela segunda vez, em dois anos, o viveiro na praia de Salamansa, ilha de São Vicente, para realocar ninhos de tartarugas marinhas desprotegidas. Foram realocados 80 ninhos, de julho a setembro e um total de 5763 ovos com uma média de 73 ovos por ninho. Libertamos mais de 4000 tartaruguinhas incluindo as do Viveiro e outras encontradas desorientadas nas praias. Em média, os ninhos apresentaram uma taxa de sucesso de eclosão de 71,76%.

Além de proteger os ninhos das possíveis ameaças no habitat natural, o viveiro também tem a finalidade de Educação Ambiental. Participaram, nas escavações, muitas pessoas, nacionais e internacionais.

Os trabalhos de proteção e monitorização de tartarugas marinhas em São Vicente e Santa Luzia

decorreu muito bem, graças ao grande envolvimento dos voluntários e parceiros

Em ambas as ilhas fizemos um estudo de variação de temperatura. Na ilha de São Vicente colocamos 8 Temperature loggers, 4 em sombra e 4 ao sol, para registar as variações de temperatura. Em Santa Luzia colocamos 14 Temperature loggers ambas ao sol, com a variação da temperatura principalmente entre 21 e 41 dias (acima de 30º). Possivelmente nasceram maioritariamente tartaruguinhas fêmeas, uma vez que é a temperatura da areia que determina o sexo das tartarugas marinhas.

De uma forma geral o balanço da temporada foi positivo, porém temos que realçar o elevado número de ataques de cães a tartarugas marinhas este ano.

Uma temporada marcada com bons resultados a nível de monitorização das tartarugas marinhas porém, devemos realçar o grande número dos ataques de cães nas praias.

URDI DÁ VEZ E VOZ À BIODIVERSIDADE DE CABO VERDE

Na sua 9ª edição, a feira de artesanato URDI, que acontece em São Vicente, reuniu mais uma vez artesãos de vários pontos do país. Com o lema «Reinterpretação da Matéria», o evento destacou a criatividade e a sustentabilidade, valorizando o uso de materiais reciclados e a transformação de recursos em peças de arte únicas.

A Biosfera foi convidada a participar na feira, uma oportunidade para apresentar os resultados do nosso trabalho de reciclagem e transformação de plástico em novos utensílios como cadeiras, chaveiras, mesas, copos e diversos outros objetos. Assim o nosso stand foi dedicado a apresentar peças feitas a partir do plástico reciclado, mostrando o potencial do reaproveitamento de resíduos e como materiais descartados podem ser convertidos em itens úteis do nosso dia a dia. Além disso, e durante a feira, a nossa equipa procedeu a sensibilização dos visitantes sobre a importância da preservação dos

oceanos, a necessidade do uso correto do plástico, a importância de fazermos a reciclagem e, não menos importante, abordamos os impactos que os resíduos de plásticos causam nos ecossistemas marinhos e para as espécies.

Também foram apresentadas os sacos reutilizáveis da iniciativa Sako Dayo, uma marca de alternativas reutilizáveis, que visa combater o uso de produtos de uma única utilização (descartáveis) e contribuir de forma positiva para o combate à poluição causada por plástico em Cabo Verde. Baseado em princípios de economia circular, Sako Dayo tem como missão dar uma nova vida a resíduos que de outra forma iriam parar ao lixo, assim como promover a adoção de hábitos e comportamentos mais sustentáveis por parte dos cidadãos.

Esta feira de artesanato foi uma oportunidade para apresentar os resultados do nosso trabalho de reciclagem e transformação de plástico em novos utensílios e a promoção de hábitos e comportamentos mais sustentáveis por parte dos cidadãos.

Novos materiais audiovisuais para reforçar as ações de sensibilização

A Biosfera, no âmbito do seu plano de educação ambiental, desenvolveu quatro vídeos de animação com o objetivo de sensibilizar as crianças sobre a problemática da poluição nos oceanos. Este projeto contou com o apoio do 11th Hour Racing Team e da Embaixada de França em Cabo Verde.

Nesses vídeos, apresentamos a mascote Tico, um boneco criado a partir de diferentes tipos de lixo descartado no mar. Por meio de suas aventuras, ilustramos os graves problemas que o lixo marinho causa nos ecossistemas, tanto marinhos quanto terrestres.

Dando continuidade a essa estratégia, e no contexto do nosso programa de proteção das tartarugas marinhas, desenvolvemos duas animações adicionais, que destacam o ciclo de vida das tartarugas, as ameaças que enfrentam até a idade adulta e os riscos que correm ao nidificar nas nossas praias. Com estas animações, queremos transmitir aos mais novos a importância de adotar comportamentos responsáveis, valorizando os ecossistemas marinhos e preservando as espécies. A mudança que desejamos começa com cada um de nós.

Ver vídeos poluição marinha

Ver vídeos tartarugas marinhas

com apoio de:

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