Billboard Brasil - Abril de 2011

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ART RUPE, O AGITADOR DO SOUL por

Gail Michel

foto: Dimitrios Kambouris/WireImage/getty images

A noite de 14 de março no Waldorf Astoria, em Nova York, jogou luz em outro personagem importante da história do rock

LLOYD PRICE (no centro) recebeu a homenagem em nome de Art Rupe no Rock And Roll Hall of Fame

Você não pode escrever a história definitiva do rock'n'roll ou a evolução da música negra americana sem incluir Art Rupe e a Specialty Records. Rupe (nascido Arthur Goldberg) fundou a gravadora independente sediada em Los Angeles em 1946. Alguns hit iniciais produzidos por Rupe para Roy Milton e Percy Mayfield foram a fundação para um elenco que incluía grupos de gospel influentes como Pilgrim Travelers e Soul Stirrers. Foi ele também quem lançou um cantor de New Orleans chamado Lloyd Price, pioneiro na invasão do mainstream por aquilo que ficaria conhecido como rock’n’roll. Primeiro, com “Lawdy Miss Clawdy”, em 1952, depois, com “Personality” e vários outros hits. Lloyd fez um amigo se animar a enviar uma fita para aquele branquelo metido com “race records”. Esse amigo ficou famoso com o nome Little Richard. “Um cara e tanto, um inovador de verdade, muito desinibido no palco”, lembra Rupe, hoje com 93 anos. O produtor mora em Santa

Barbara, Califórnia, onde gerencia a Fundação Arthur N. Rupe, organização filantrópica cuja missão diz “soluções criativas para questões sociais”. “Nós metemos o nariz em muitas das questões sociais atuais, incluindo educação”, diz o pioneiro. Ele preferiu não ir à cerimônia de premiação do Rock And Roll Hall of Fame e mandou Lloyd Price em seu lugar para receber o Prêmio Ahmet Ertegun – honrando não-performers influentes. Falta de ego? Ele ri: “Foi assim que meus pais me ensinaram”... Confira outras pílulas de sabedoria de Mr. Rupe: • “Eu não acreditava em encher meu próprio ego. Eu acreditava em divulgar meus artistas e as músicas que eles cantavam. Eu ficava fora dos holofotes. Isso foi antes dos anos 60, quando os produtores começaram a ter publicidade. Eu não concordava com aquilo.” • “Sou a favor do progresso. Quando comecei neste ramo, foi com discos de plástico quebráveis de 78 rpm feitos com goma-laca. A revolução digital é

ART RUPE entra no seu escritório em Los Angeles, em 1948

inevitável e irá trazer os problemas que as grandes inovações trazem.” • “A única decisão de que me arrependo foi ter mandado Sam Cooke embora. Gravamos ‘You Send Me’ e ‘Summertime’ [lançada depois pela Keen Records] se tornou o hit número 1 de R&B/pop hit em 1957. E nós abrimos mão dessas masters...” • “Assumir riscos, ter espírito empreendedor e ter boa apreciação da música – eu colocaria Jerry Wexler no topo da lista. Eu o respeitava como um igual. Aliás, não me dê crédito por ser um homem de negócios. Eu me daria, numa escala de zero a dez, cinco ou seis. Por minhas habilidades como produtor, um nove.” •“Eu teria feito isso, mesmo que não fosse pago. Digo isso com sinceridade.”

“A música passou por mudanças mais complexas do que qualquer outra indústria do entretenimento, mas o modelo se manteve o mesmo dos cilindros de Edison até 2000. Agora, está tudo virado com contratos extremamente complexos – não existem dois iguais. Existem tantas fontes de renda, que é algo que nunca houve antes nesta indústria” “O negócio da música não é uma ciência. Sem a música, não há nada. Na independente, você toma decisões rápido – você faz uma oferta, sela o acordo e dois dias depois a papelada já está pronta. Quando o The Doors foi demitido da Columbia, eu podia sentir a angústia deles, por nunca terem tido uma chance. A chave com aquela banda era entender sua música e ser um representante do público que iria ouvila. Eu me comprometi com três álbuns logo de saída com eles porque foi o que pensei que iria ser necessário para que assinassem o contrato. Você precisa cuidar da música” “Tudo no final gira em torno de músicas, instrumentistas e artistas. Converse com qualquer cara da indústria fonográfica... Chris Blackwell, os irmãos A&M – que é como chamo Herb Alpert e Jerry Moss –, Ahmet e Nesuhi Ertegun... Toda vez que falávamos do negócio da música, também falávamos da música na qual realmente acreditávamos” “As gravadoras oferecerão música de alta qualidade. A qualidade baixou quando começaram a fazer música pra fones de ouvido – nos deram música sem nenhum alcance dinâmico. O lado ruim de compartilhamento de arquivos é que os ouvintes começaram a pensar que a qualidade não importava, desde que fosse de graça” “O melhor show a que já assisti foi The Who na Ilha de Wight [Inglaterra] tocando Tommy inteiro enquanto o sol nascia. Depois vêm Frank Sinatra no Universal Amphitheater, antes de o local ser coberto [com um telhado], e The Doors em Nova York, no Fillmore East. Ver o The Who às 5h30 da manhã foi o máximo pra mim” “Esta será uma das épocas mais criativas na história da música – por causa da parte digital. Quando o assunto é digital, pela primeira vez o público é mais esperto do que nós somos.” www.billboard.br.com 33


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