Projeto Curatorial | 3ª Bienal da Bahia

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parece estar terminada.”2 O trecho acima integra o texto da proposta curatorial da 28a Bienal de São Paulo – Em Vivo Contato (2008), que procurou pensar a própria história das bienais e das bienais paulistas, considerando os limites do projeto lançado nos anos 1950; esse discurso serve como breve contextualização das intenções e desejos materializados às vésperas do período de modernização brasileira, que encontraria seu apogeu no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a construção de Brasília. Essa contextualização serve ainda para criar uma via de entendimento das Bienais da Bahia como um campo de contra-discurso: isto é, se a Bienal de São Paulo se coloca em sua origem como receptora de um “centro internacional de arte”, a experiência baiana pretendeu construir uma outra estratégia: se colocar como emissora, privilegiando a arte, os artistas e o pensamento brasileiros, se opondo ao discurso dominante de qualquer centro local ou internacional. Esse movimento significou uma tentativa de pensar, imaginar e problematizar o universal a partir de uma experiência e perspectiva baiana e regional (Norte-Nordeste): “O projeto brasileiro: adentrar o fora, integrar o marginal, preencher os vazios. Multiplicar os centros ou os polos de atração econômica e cultural. Após a redução crítica, canibal, antropofágica que leva de volta ao zero, ao nada, dar o salto marcusiano, prospectivo. O problema brasileiro não é o nada dos países saturados culturalmente ou a coisificação das sociedades afluentes, mas o tudo por fazer, resolver, transformar. A Bienal da Bahia é uma reflexão sobre o vazio brasileiro. É uma proposta de integração cultural (...). A segunda Bienal da Bahia será de maior significação, pois terá de se confirmar como a mais importante mostra coletiva de arte do Brasil depois da Bienal paulista, e tornar mais específica sua influência no contexto cultural brasileiro. Se a Bienal de São Paulo reflete mais a arte do cheio, a Bienal da Bahia tem a seu cargo a reflexão sobre o vazio. Mas à medida que o fora for sendo adentrado, os claros preenchidos, as duas bienais deixarão de ser dois polos opostos e contraditórios”3.

IV – 3a Bienal da Bahia

As circunstâncias políticas e culturais (nacionais e internacionais) nas duas décadas do surgimento desses projetos de bienais no Brasil – anos 1950 e 1960 – podem servir como uma das chaves de entendimento para essas duas narrativas, circunscrevendo suas potências e seus processos de esgotamento. 2 2008.

Mesquita, Ivo. Projeto curatorial. 28a Bienal de São Paulo “Em vivo contato”. Fundação Bienal, São Paulo,

3 Morais, Frederico. O vazio, a construção, o salto: Bienal da Bahia. Revista GAM/17. Catálogo da 2ª Bienal da Bahia. Guanabara, 1968. Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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