23ª Bienal de São Paulo (1996) - Catálogo / Catalogue

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CU~ADO~ CU~AíO~ rA~lO ~ICO

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XA-80, 1995 Técnica mista s/tela(látex e pigmentos)IMixed media on canvas{/atex and pigments)

250x200 cm

Coleção do artistalArtist's collection

Podemos reconhecer neste século, com segurança, atitudes decididamente radicais e combativas contra o poder da matéria artística convencional e sua presença inefável. Mas não sei até que ponto, ou por que neste único sentido, se pode argumentar a excepcionalidade da mencionada desmaterialização. Éevidente, agora mais do que nunca, que a história da arte neste século tem sido a historia de uma imensa vontade coletiva de alcançar e ultrapassar os limites - do que seja e como seja - de viver numa situação permanente de precariedade e tensão inquietantes e ficar rondando os territórios daqueles que estão fora de tudo quanto é norma, convenção ou status quo. Creio que é sob esta condição essencial do nosso tempo que o processo de desmaterialização na arte pode ser considerado como significativo, uma transgressão a mais, assim como foram os processos de desconstrução e decodificação icônica, depredação simbólica, desaprendizagem, desautorização crítica, por exemplo. Em todos estes conceitos e ações prevalece um ponto de referência fundamental, sobre quaisquer outras causas e consequências reconhecíveis. Trata-se do artista, dotado não só de argumentos estéticos, psicológicos, sociológicos ou técnicos, como poderíamos interpretar a história da arte até o Romantismo, também possuidor de sólidas e· profundas concepções antropológicas, científicas, éticas e ideológicas. São eles, os artistas, os que têm representado com maior eficiência o universo descontínuo e indeterminado, os que sofreram em suas próprias convicções a história como catástrofe permanente, os que tiveram de sucumbir por necessidade às mais vergonhosas contradições (entre a sutil virtualidade de suas idéias e a grosseira densidade dos interesses do mercado, por exemplo). Qualquer outra leitura que se fizesse atribuindo o anonimato ao que foram vontades com nome e sobrenome poderia pecar por ser genérica e superficial, embora tivesse a melhor intenção de definir aproximadamente um território de pensamento e experiência tão complexo como é a arte do nosso século. Por isso centrei prioritariamente meu compromisso na eleição do artista que expressou essa vontade, essa atitude vital, no contexto da arte espanhola. Por muitos motivos Ferrán GarcíaSevilla representa - como poucos - este ser e sentir o mundo e evidencia em seu trabalho a confusão e a ansiedade a que se viram submetidos os artistas nestes tempos de descrença e indiferença generalizados. Oartista não crê nem estabelece certezas (na realidade, estas não existem ou são meros simulacros); sua principal virtude é suspeitar de tudo, inclusive da sua própria obra e da sua maneira de pensar, sentir e experimentar.


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