Bienal 50 anos (2001) - Livro

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As artes plásticas e a literatura modernas brasileiras têm seu marco inaugural, a Semana de 22. A arquitetura moderna tem o seu, o edifício do Ministério da Educação. O marco inaugural do design gráfico moderno brasileiro são os cartazes da Bienal. Isso não ocorreu por acaso. A Bienal representou a consolidação das tendências construtivas como principal referência para a arte brasileira na década de 1950. A legitimação do design gráfico moderno precisava do aval de uma instituição que gozasse de prestígio cultural suficiente para tal. A Bienal soube construir esse prestígio, e o design gráfico moderno caminhou sob seu abrigo. É significativo o fato de o prêmio máximo de escultura da primeira Bienal ter sido atribuído à obra Unidade Tripartida, de Max Bill, diretor da então mais prestigiosa escola de design do mundo, a célebre Escola de Ulm, legítima herdeira do legado da Bauhaus. No panorama do design gráfico moderno brasileiro ao longo da década de 1950, os cartazes da Bienal reinam soberanos. Se incluirmos nesse cenário os primeiros anos da década seguinte, destacam-se também os sinais de identificação de instituições públicas e empresas nacionais projetados por jovens designers, seja pelo apuro de desenho, seja por revelarem a precoce maturidade alcançada por seus autores, entre os quais sobressaem Alexandre Wollner, Aloísio Magalhães, João Carlos Cauduro, Ludovico Martino e Ruben Martins. No entanto, se os sinais projetados por eles ganharam merecido destaque no cenário do período, é preciso reafirmar que os primeiros passos para a legitimação dessa maneira particular de fazer design haviam sido dados na década anterior, sob a chancela da Bienal. A escola moderna de design vai frutificar nos anos seguintes, e gerações serão formadas sob sua influência. Somente a partir dos anos 1980 essa herança passará a ser questionada, quando então ganha corpo uma produção filiada a outras linhagens e realizada por outras gerações, fato que também se refletirá nos próprios cartazes da Bienal. Ao longo das 24 edições do evento, a definição do cartaz ocorreu ora por concurso aberto, ora por concurso restrito a alguns profissionais convidados, ora por encomenda direta a um profissional. O resultado é um conjunto de 24 cartazes que nos conta várias histórias simultâneas. Conta a história do próprio evento, de suas ênfases e seu perfil em cada momento. Conta a tumultuada história da arte durante a segunda metade do século XX, período no qual ela passou por profundas transformações. E conta também a história do design gráfico brasileiro, uma vez que joga o duplo jogo de refletir e ao mesmo tempo influenciar a produção dos designers ao longo dessas cinco décadas. Vamos a seguir examinar cada um dos cartazes de cada uma das Bienais, reproduzidos em seqüência cronológica, e acompanhar as histórias contadas por eles.

I BIENAL

1951

CARTAZ DE ANTÔNIO MALUF

Esta é a primeira peça de relevo do design gráfico moderno brasileiro. Não por acaso, é de autoria de um artista construtivo, dando início à relação de identificação quase total entre arte construtiva e design gráfico moderno. Ondas partem do núcleo formado pelo retângulo branco - o formato consagrado de um quadro - , gerando um movimento ótico de expansão contínua. Um núcleo em expansão: ícone preciso para a edição inaugural de um evento que ecoa até hoje na produção cultural brasileira.

II BIENAL

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DEZEMBRO 1951

1953

CARTAZ DE ANTÔNIO BANDEIRA

O abstracionismo é mantido como referência principal, mas este cartaz representa uma interrupção na seqüência de obras filiadas à vertente geométrica. Seu autor é figura destacada no panorama do abstracionismo informal brasileiro, e é natural que essa importância ganhasse visibilidade nos cartazes. O resultado deixa clara uma maneira de pensar a linguagem gráfica ainda muito próxima ao fazer do artista plástico: importa-se uma imagem do mundo da arte, adequando-a às técnicas de impressão, e acrescentando os textos informativos necessários.


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