32ª Bienal de São Paulo (2016) - Guia

Page 1



I  ncerteza Viva 1



Fundação Bienal de São Paulo Francisco Matarazzo Sobrinho · 1898–1977 · presidente perpétuo

Conselho de Administração Tito Enrique da Silva Neto · presidente Alfredo Egydio Setubal · vice-presidente Membros vitalícios Adolpho Leirner Alex Periscinoto Álvaro Augusto Vidigal Beno Suchodolski Carlos Bratke Carlos Francisco Bandeira Lins Cesar Giobbi Jens Olesen Julio Landmann Marcos Arbaitman Pedro Aranha Corrêa do Lago Pedro Franco Piva Pedro Paulo de Sena Madureira Roberto Muylaert Rubens José Mattos Cunha Lima Membros Alberto Emmanuel Whitaker Alfredo Egydio Setubal Ana Helena Godoy de Almeida Pires Andrea Matarazzo · licenciado Antonio Bias Bueno Guillon Antonio Bonchristiano Antonio Henrique Cunha Bueno Beatriz Pimenta Camargo Cacilda Teixeira da Costa Carlos Alberto Frederico Carlos Augusto Calil Carlos Jereissati Filho Claudio Thomas Lobo Sonder

Danilo Santos de Miranda Eduardo Saron Elizabeth Machado Emanoel Alves de Araújo Evelyn Ioschpe Fábio Magalhães Fersen Lamas Lambranho Geyze Marchesi Diniz Heitor Martins Horácio Lafer Piva Jackson Schneider Jean-Marc Robert Nogueira Baptista Etlin João Carlos de Figueiredo Ferraz Joaquim de Arruda Falcão Neto José Olympio da Veiga Pereira Kelly Pinto de Amorim Lucio Gomes Machado Marcelo Araujo · licenciado Marcelo Eduardo Martins Marcelo Pereira Lopes de Medeiros Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa Marisa Moreira Salles Meyer Nigri · licenciado Miguel Wady Chaia Neide Helena de Moraes Paula Regina Depieri Paulo Sérgio Coutinho Galvão Ronaldo Cezar Coelho Sérgio Spinelli Silva Jr. Susana Leirner Steinbruch Tito Enrique da Silva Neto Tufi Duek

Conselho fiscal Carlos Alberto Frederico Carlos Francisco Bandeira Lins Claudio Thomas Lobo Sonder Pedro Aranha Corrêa do Lago



Fundação Bienal de São Paulo Diretoria Luis Terepins · presidente Andreas Ernst Mirow Flavia Buarque de Almeida João Livi Justo Werlang Lidia Goldenstein Renata Mei Hsu Guimarães Rodrigo Bresser Pereira Salo Kibrit Consultor Emilio Kalil


É por meio da arte que logramos romper a indiferença, estimular a reflexão e o espírito crítico. Com grande sensibilidade, os artistas nos oferecem interpretações da realidade que estimulam nosso desenvolvimento emocional e sensorial, desenhando caminhos para o nosso próprio entendimento e engrandecimento enquanto experiência civilizatória. Em sua 32ª edição, a Bienal de São Paulo propõe novos olhares sobre o mundo em transformação e as incertezas dela decorrentes. O público que visitar o pavilhão Ciccillo Matarazzo ao longo dos três meses de Bienal terá a oportunidade de se conectar com as nuances descobertas por artistas de 33 países. O intercâmbio de linguagem proposto pela Bienal de São Paulo reforça a diversidade de pensamento. É urgente refletir sobre a intolerância e os discursos de ódio. A dinâmica das “curtidas”, dos “emojis” e dos autorretratos impacta diretamente nos relacionamentos com o outro e com a própria forma de ler o mundo. Ao mesmo tempo em que estamos extremamente conectados, buscamos no universo analógico do livro impresso, do caderno de anotação, da própria tela de


pintura e de outros suportes físicos certa segurança e alento. O risco sobre a prancheta conecta minha trajetória pessoal com a história da Fundação Bienal de São Paulo. Quando estive à frente do Comitê Rio450, li e estudei muito a respeito da importância dos símbolos gráficos e de seu papel nas comemorações. Estive debruçado sobre a obra do designer e artista gráfico pernambucano Aloísio Magalhães, que idealizou a marca da comemoração do IV Centenário do Rio de Janeiro, que reunia quatro algarismos quatro rotacionados, formando um catavento. Seu traço preciso inspirou o concurso público para a seleção do símbolo dos 450 anos do Rio. A genialidade deste pernambucano, que foi Secretário Nacional de Cultura, está impressa em inúmeras outras marcas que fizeram e ainda fazem parte da vida de milhões de brasileiros, entre elas a da própria Fundação Bienal de São Paulo. A letra B estilizada que representa a Bienal habita a memória afetiva de todos os admiradores das artes plásticas e sintetiza o espírito vanguardista desta fundação, que, ao lado de tantas outras, compõe uma rede nacional de instituições fundamentais para o desenvolvimento da cultura e das artes no Brasil. Que todos os visitantes possam sair daqui com a certeza: a Bienal de São Paulo conta com total apoio do Ministério da Cultura, que, por meio da Lei Rouanet, patrocina esse imprescindível evento do calendário cultural brasileiro. Viva a Bienal de São Paulo para sempre! — Marcelo Calero Ministro de Estado da Cultura


Inaugurado em 1954 como parte das comemorações do IV Centenário de São Paulo, o Parque Ibirapuera foi projetado com a intenção de reunir natureza e cultura em um mesmo espaço público. A instalação da Bienal de São Paulo em um parque com essa proposta, o mais frequentado da cidade e recentemente eleito o melhor parque urbano do mundo é, sem dúvida, uma das características singulares do evento. Desde o início dos trabalhos para a 32ª Bienal – Incerteza viva, a equipe curatorial tem-se mostrado interessada em fortalecer a ligação da Bienal com o parque e seus frequentadores. Ao longo do ano de 2016, foram realizadas ações de aproximação com outras instituições sediadas no local, assim como ações voltadas para os funcionários e o público frequentador do parque, envolvendo inclusive a participação de artistas. Além disso, o curso ministrado aos mediadores que trabalham na exposição contemplou atividades de exploração do parque como forma de reconhecer seu potencial como parte do programa de visitas de escolas à Bienal. É importante enfatizar que a expografia da 32ª Bienal foi concebida tendo como inspiração um jardim, no qual o visitante é convidado a vivenciar diferentes tipos de experiência, ora de maior participação e envolvimento corporal, ora mais contemplativas, em contato com grande número de obras inéditas ou comissionadas especialmente para a exposição. Ademais, alguns projetos artísticos ocupam áreas externas ao Pavilhão da Bienal, em diálogo direto com o público do parque. Esse movimento da Bienal em direção ao meio no qual ela


se instala é acompanhado de uma consciência cada vez mais clara de sua história e de seu papel como instituição comprometida com o experimentalismo em diferentes níveis. Nos últimos anos, a estrutura institucional da Fundação Bienal tem-se orientado para uma gestão mais horizontal, com o envolvimento de todas as equipes nos fluxos de trabalho. Além disso, temos buscado nos fortalecer também como instituição de pesquisa. Em curso desde 2015, o Projeto Acervos vem desenvolvendo ações integradas para organizar, catalogar e disponibilizar as informações sobre a documentação e os eventos realizados pela Fundação Bienal, promovendo o acesso público de qualidade às coleções e consolidando assim o papel do Arquivo Bienal como centro de referência para pesquisa em arte contemporânea no Brasil e no mundo. A realização da 32ª Bienal conta com o apoio decisivo do Ministério da Cultura e do correalizador Itaú. O Programa de Itinerâncias da Bienal, por meio da já consolidada parceria cultural com o Sesc São Paulo e de sua ampliação ao Sesc Nacional, possibilitará, uma vez mais, a difusão do conteúdo trazido pela Bienal de São Paulo a outras cidades, em 2017. Em um momento histórico regido pela incerteza nos mais diversos campos, a Bienal acredita que a arte contemporânea pode contribuir de forma inovadora na abertura de possibilidades, estratégias e modelos de diálogo para encararmos um mundo em constante mudança. — Luis Terepins Presidente da Fundação Bienal de São Paulo



O Itaú Unibanco acredita que a cultura muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo. Por isso, investimos e apoiamos diferentes formas de manifestações artísticas. Para nós, o acesso a atividades e eventos culturais aproxima as pessoas da arte e complementa o processo educacional, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento crítico. Isso porque o repertório cultural que construímos ao longo da vida nos ajuda a entender quem somos, quais são nossos valores e o que queremos do mundo. Cidadãos mais críticos e conscientes questionam e se tornam agentes de transformação, capazes de influenciar e mudar a sociedade em que vivem. Por isso, patrocinamos a 32ª Bienal de São Paulo, evento que a cada edição se renova, recebe novas ideias e variações de expressões artísticas que ampliam o horizonte de quem participa e visita a exposição. Investir em cultura_ #issomudaomundo Itaú. Feito para você.


Para a CTEEP – Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista – as pessoas são o principal propulsor de transformações de uma sociedade e investir em sua formação cultural é nossa contribuição para uma humanidade mais consciente. A valorização do ser humano sempre foi o principal norteador de nossa política de patrocínios a projetos. Essa premissa fundamentou nosso apoio à 32ª Bienal de São Paulo e às suas ações educacionais, que estão alinhadas ao nosso compromisso com o desenvolvimento cultural e social do país. Assim como a energia elétrica – que percorre nossos 18 mil quilômetros de linhas de transmissão – é essencial para a vida das pessoas, acreditamos que ter acesso a ações que promovam o desenvolvimento cultural e intelectual também é vital para a população. O trabalho empreendido pela Fundação Bienal certamente cumpre esse papel e é um exemplo de empenho e comprometimento com o enriquecimento da cultura nacional. CTEEP. Sua energia nos inspira.


A Bloomberg Philanthropies atua em mais de 120 países ao redor do mundo para garantir maior longevidade e qualidade de vida a um grande número de pessoas. A organização concentra-se em cinco áreas-chave: artes, educação, meio ambiente, inovação governamental e saúde pública para gerar mudanças a longo prazo. A Bloomberg Philanthropies engloba todas as atividades de responsabilidade social de Michael R. Bloomberg, incluindo sua fundação e suas doações pessoais. Em 2015, a Bloomberg Philanthropies contribuiu com mais de meio bilhão de dólares para a realização de seus projetos. A Bloomberg foi fundada com uma missão principal: trazer transparência para o mercado de capitais por meio do acesso à informação. A Bloomberg tem hoje mais de 15 mil funcionários, em 192 localidades, em 73 países ao redor do mundo. A força da empresa – o fornecimento de dados, notícias e análises através de tecnologia inovadora, com rapidez e precisão – está no cerne do serviço Bloomberg Professional, que fornece informações financeiras em tempo real para mais de 325 mil assinantes no mundo. Para mais informações visite www.bloomberg.org, www.bloomberg.com/professional ou siga-nos pelo Facebook, Instagram, Snapchat: Bloombergdotorg e Twitter @BloombergDotOrg


Para o BNDES, além de ser o conjunto de expressões de um povo, a cultura é um importante ativo a ser empregado como vetor de desenvolvimento sustentável. Com base nessa visão, o Banco trabalha para o fortalecimento das empresas criativas e dos agentes criadores, fomentando o crescimento do mercado de bens e serviços culturais, com sustentabilidade econômica e ganhos sociais. O BNDES oferece ao setor cultural um diversificado conjunto de instrumentos de apoio financeiro – incluindo recursos não reembolsáveis, financiamentos e capital de risco – que viabilizam projetos nos segmentos de patrimônio histórico, produção audiovisual, editorial, fonográfica e de espetáculos ao vivo. Além disso, o Banco patrocina festivais de cinema, música e literatura, a edição de livros, exposições e outros projetos voltados para a difusão e descentralização da oferta de bens culturais. Em sua sede, no Rio de Janeiro, oferece, ainda, uma programação gratuita de espetáculos de música brasileira e exposições de artes visuais. É nesse contexto que o BNDES patrocina, mais uma vez, a Bienal de São Paulo, um dos mais importantes eventos de arte contemporânea da América Latina. Além de reunir obras significativas de artistas de vários países, a Bienal desenvolve um amplo programa educativo, contribuindo para a democratização do acesso à arte e à cultura. Essa é mais uma ação que mostra que cultura também é sinônimo de desenvolvimento, e, por isso, pode contar com o apoio do BNDES.


Viver o presente tal como ele é, enfrentando as dificuldades e inseguranças que se apresentam, é um desafio permanente. Em maior ou menor medida, cada um sente a urgência da busca por novas maneiras de relação com um mundo que parece nos escapar. Dessa forma, conhecer proposições artísticas que enxergam nas contingências não limites, mas possibilidades, pode ampliar as oportunidades de leitura e ação no mundo. A partir da percepção de tal potencialidade, o Sesc e a Fundação Bienal de São Paulo iniciaram, em 2010, uma relevante parceria, fruto da compatibilidade de suas missões para a difusão e o fomento à arte contemporânea. Apostando no desenvolvimento de novos projetos artísticos, a presente edição da Bienal de São Paulo consolida essa parceria através da coprodução de obras e da previsão de itinerância de trabalhos selecionados para equipamentos do Sesc no interior do estado, assim como do desenvolvimento de ações educativas. A ação compartilhada entre o Sesc e a Fundação Bienal de São Paulo reafirma a convicção de ambas instituições na formação sensível e no estímulo à autonomia das pessoas como vetores de colaboração entre os diversos, possibilitando a transformação dos indivíduos e, por que não, apontando para as possibilidades de transformação da sociedade. — Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo


Curadores Jochen Volz Gabi Ngcobo Júlia Rebouças Lars Bang Larsen Sofía Olascoaga

16


Ministério da Cultura, Bienal e Itaú apresentam

32ª bienal de são paulo

I  ncerteza Viva 7 set — 11 dez 2016

guia

17


Sumário 2 0 Incerteza Viva

2 6 Alia Farid 2 8 Alicia Barney 3 0 Ana Mazzei 3 2 Anawana Haloba 3 4 Antonio Malta Campos 3 6 Bárbara Wagner 3 8 Bené Fonteles 4 0 Carla Filipe 4 2 Carlos Motta 4 4 Carolina Caycedo 4 6 Cecilia Bengolea & Jeremy Deller 4 8 Charlotte Johannesson 5 0 Cristiano Lenhardt 5 2 Dalton Paula 5 4 Dineo Seshee Bopape 5 6 Donna Kukama

5 8 Ebony G. Patterson 6 0 Eduardo Navarro 6 2 Em’kal Eyongakpa 6 4 Erika Verzutti 6 6 Felipe Mujica 6 8 Francis Alÿs 7 0 Frans Krajcberg 7 2 Gabriel Abrantes 7 4 Gilvan Samico 7 6 Grada Kilomba 7 8 Güneş Terkol 8 0 Heather Phillipson 8 2 Henrik Olesen 8 4 Hito Steyerl 8 6 Iza Tarasewicz 8 8 Jonathas de Andrade 9 0 Jordan Belson


9 2 Jorge Menna Barreto 9 4 José Antonio Suárez Londoño 9 6 José Bento 9 8 Kathy Barry 1 0 0 Katia Sepúlveda 1 0 2 Koo Jeong A 1 0 4 Lais Myrrha 1 0 6 Leon Hirszman 1 0 8 Lourdes Castro 1 1 0 Luiz Roque 1 1 2 Luke Willis Thompson 1 1 4 Lyle Ashton Harris 1 1 6 Maria Thereza Alves 1 1 8 Mariana Castillo Deball 1 2 0 Maryam Jafri 1 2 2 Michael Linares 1 2 4 Michal Helfman 1 2 6 Misheck Masamvu 1 2 8 Mmakgabo Helen Sebidi 1 3 0 Naufus Ramírez-Figueroa 1 3 2 Nomeda & Gediminas Urbonas 1 3 4 Oficina de Imaginação Política 1 3 6 OPAVIVARÁ! 1 3 8 Öyvind Fahlström 1 9 0 Créditos 2 0 0 Agradecimentos

1 4 0 Park McArthur 1 4 2 Pia Lindman 1 4 4 Pierre Huyghe 1 4 6 Pilar Quinteros 1 4 8 Pope.L 1 5 0 Priscila Fernandes 1 5 2 Rachel Rose 1 5 4 Rayyane Tabet 1 5 6 Rikke Luther 1 5 8 Rita Ponce de León 1 6 0 Rosa Barba 1 6 2 Ruth Ewan 1 6 4 Sandra Kranich 1 6 6 Sonia Andrade 1 6 8 Susan Jacobs 1 7 0 Till Mycha 1 7 2 Tracey Rose 1 7 4 Ursula Biemann & Paulo Tavares 1 7 6 Víctor Grippo 1 7 8 Vídeo nas Aldeias 1 8 0 Vivian Caccuri 1 8 2 Wilma Martins 1 8 4 Wlademir Dias-Pino 1 8 6 Xabier Salaberria


Incerteza Viva A 32ª Bienal de São Paulo, intitulada INCERTEZA VIVA, se propõe a observar as noções de incerteza e as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para abarcá-la ou habitá-la. Enquanto a estabilidade é compreendida como uma cura para a angústia, a incerteza geralmente é evitada ou recusada. As artes, contudo, sempre jogaram com o desconhecido. Historicamente, a arte tem insistido em vocabulários que permitem a ficção e a alteridade, e reage à incapacidade dos meios existentes de descreverem o sistema do qual fazemos parte. A incerteza na arte aponta para a criação, levando em conta a ambiguidade e a contradição. A arte se alimenta do acaso, da improvisação e da especulação. Ela dá espaço ao erro, à dúvida e cria brechas mesmo para as apreensões mais profundas, sem evitá-las ou manipulá-las. A arte se funda na imaginação, e apenas através da imaginação seremos capazes de vislumbrar outras narrativas

20


para o nosso passado e novos caminhos para o futuro. INCERTEZA VIVA considera as incertezas como um sistema de orientação generativo e se constrói sobre a convicção de que, para enfrentar objetivamente as grandes questões do nosso tempo, como o aquecimento global e seu impacto em nossos habitats, a extinção de espécies e a perda da diversidade biológica e cultural, a crescente instabilidade econômica e política, a injustiça na distribuição dos recursos naturais da Terra, as migrações globais e a assustadora disseminação da xenofobia, é necessário desvincular a incerteza do medo. INCERTEZA VIVA está claramente conectada a noções endêmicas do corpo e da terra, com uma qualidade viral nos organismos e nos ecossistemas. Embora seja geralmente associada à crise, não é o seu equivalente. A incerteza é, sobretudo, uma condição psicológica e afetiva, ligada a processos de tomada de decisão individuais ou coletivos, descrevendo os níveis variáveis de compreensão e dúvida em uma dada situação. Discutir a incerteza também inclui processos de desaprendizado e exige um entendimento da natureza ilimitada do conhecimento. Descrever o desconhecido sempre implica interrogar aquilo que consideramos conhecido, uma abertura para aprender com sistemas de conhecimento indígenas e locais, e uma valorização dos códigos científicos e simbólicos como complementares, em vez de excludentes. A arte promove uma troca ativa entre pessoas, reconhecendo incertezas como sis-

21


temas de orientação generativos e construtivos. A arte se apropria de abordagens transdisciplinares que vêm da pesquisa e da educação. Mas como as inúmeras formas de raciocínio da arte podem ser aplicadas a outros campos da vida pública? Disposta a rastrear o pensamento cosmológico, as inteligências ambiental e coletiva, e as ecologias sistêmicas e naturais, INCERTEZA VIVA se constrói como um jardim, no qual temas e ideias se entrelaçam livremente em um todo integrado, estruturado em camadas, como uma tentativa de ecologia em si mesma. Não está organizada em capítulos, mas antes baseada em diálogos entre diferentes produções de 81 artistas de 33 países. A exposição olha para uma série de artistas históricos, que fornecem um conjunto de estratégias que talvez sejam agora mais relevantes do que nunca. A maioria dos projetos artísticos, no entanto, foi especialmente comissionada para a 32ª Bienal de São Paulo, não para ilustrar um arcabouço teórico ou temático, mas para desdobrar os princípios criativos da incerteza em diferentes direções. Diversas obras de arte abordam diretamente a natureza e os processos biológicos, botânicos ou alquímicos que podem nos ensinar sobre a diversificação e a multiplicidade. Alguns trabalhos incorporam ou investigam uma infinidade de narrativas e formas de conhecimento. Outros examinam criticamente estruturas políticas, econômicas e midiáticas de poder e de representação. E ainda, há os que acionam a imaginação

22


e experimentam caminhos alternativos para avançarmos. A 32ª Bienal entende a si mesma como permeável e acessível, ativamente participando da contínua construção do Parque Ibirapuera como espaço público, expandindo seu senso de comunidade; a exposição como extensão do parque dentro do pavilhão. E o jardim assim se torna um modelo, tanto metafórica como metodologicamente, promovendo uma diversidade de espaços, favorecendo experiências e ativações junto ao público. INCERTEZA VIVA é um processo coletivo que se iniciou no início de 2015 e envolveu professores, estudantes, artistas, ativistas, lideranças indígenas, educadores, cientistas e pensadores em São Paulo, no Brasil e além dele. Mas é também um processo coletivo prestes a começar. Assim como a arte naturalmente une o pensar e o fazer, a reflexão e a ação, é apenas através do encontro dos visitantes com as obras, com as muitas performances e com os programas públicos e educacionais da 32ª Bienal ao longo dos próximos meses, que a verdadeira riqueza de INCERTEZA VIVA emergirá. Hoje, é papel da Bienal ser uma plataforma que promova ativamente a diversidade, a liberdade e a experimentação, ao mesmo tempo exercendo o pensamento crítico e propondo outras realidades possíveis. — Jochen Volz, Gabi Ngcobo, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen e Sofía Olascoaga

23


24


25


1985, Kuwait. Vive no Kwait e em Porto Rico

A  lia Farid 26

Alia Farid trabalha num campo híbrido entre arte e arquitetura, estimulando o pensamento crítico sobre os espaços urbanos. Seus projetos se manifestam na forma de intervenções, vídeos e instalações. Para a 32ª Bienal, a artista desenvolveu um vídeo nas construções da Feira Internacional Rashid Karami em Trípoli, Líbano (1963). Este complexo arquitetônico foi desenhado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, assim como alguns prédios do Parque Ibirapuera em São Paulo (1953) – construídos para o IV Centenário da cidade. Ambos são projetos de grandes proporções voltados para o convívio e para o uso público. Contudo, a história de cada cidade acarretou desdobramentos distintos. Enquanto o parque é conhecido como um dos espaços culturais e de lazer mais importantes de São Paulo, a feira em Trípoli teve sua construção interrompida em 1975 por problemas financeiros e como consequência da Guerra Civil Libanesa, que perdurou até 1990. Em estado permanente de ruína, essas estruturas já abrigaram munição, milícias e refugiados, e são usadas para shows e como espaço de lazer. O filme Ma’arad Trablous [A exposição de Trípoli] (2016) trata da adaptação, tradução e uso de conceitos da arquitetura para regiões geográficas distintas e de como essas construções atuam em diferentes circunstâncias culturais, sociais e políticas.


Fotogramas de Ma’arad Trablous [A exposição de Trípoli] , 2016

27


1952, Cali, Colômbia. Vive em Bogotá, Colômbia

A  licia Barney 28

A obra de Alicia Barney levanta questões ligadas à ecologia, promovendo duras críticas ao modelo de desenvolvimento capitalista e sua relação com a natureza. Alguns de seus trabalhos conectam elementos da paisagem aos problemas ambientais, seja através da exibição de água poluída apanhada no rio Cauca, na Colômbia (Río Cauca, 1981-1982), ou do ar coletado em uma zona industrial e exposto em cubos de vidro (Yumbo, 1980). Certa de que aspectos da vida diária se integram à produção artística, Barney desenvolveu também instalações com objetos e materiais recolhidos em seu entorno (Diario objeto I e II, 1977 e 1978-1979, e Un día en la montaña [Um dia na montanha], que integra a série II). Por meio da ideia de artista-xamã, ela destaca o caráter mágico ou ritual de seu vínculo com esses objetos, retomando o gesto de povos indígenas pré-hispânicos. Em Valle de Alicia [Vale de Alicia] (2016), Barney intervém na paisagem do Parque Ibirapuera, construindo um instrumento feito de tubos, semelhante a um órgão, para ser tocado aleatoriamente pelo vento. Junto ao instrumento foram instaladas esculturas de cogumelos feitas de papel e resina, sobrepondo uma camada psicodélica àquela paisagem e concatenando a ação do acaso, o estímulo aos sentidos e alterações na percepção do cotidiano.


Estudo para Valle de Alicia [Vale de Alicia], 2016

29


1980, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo

A  na Mazzei 30

Em suas obras, Ana Mazzei parte da literatura e do teatro para materializar diversas situações de observação e de encenação na forma de instalações, esculturas, desenhos, fotografias e performances. Ao utilizar o imaginário de narrativas épicas ou mitológicas, suas instalações sugerem uma performance na qual não fica claro se o público observa ou se é observado. Os objetos e as esculturas de Mazzei são entendidos em relação ao corpo e questionam noções de orientação, posicionamento e organização que dirigem a maneira como nos relacionamos com o espaço. A artista evoca imagens recorrentes da história da pintura, muitas delas metáforas bíblicas, mas também simbolismos políticos e especulações científicas e filosóficas sobre o universo. Ao estudar a “posição de êxtase”, por exemplo, tão presente na história da arte ocidental, faz convergirem o gestual do sagrado e os sintomas atrelados aos primeiros estudos da psiquiatria, quando essa posição era associada a quadros de histeria. Com a obra Espetáculo (2016), Mazzei propõe um novo território de atuação, em que objetos são colocados em uma situação ambígua: como protagonistas de um teatro sem ação ou plateia de uma ativação que ocorre no corpo do visitante. Suas formas remetem a objetos de estudos astrológicos, ou à aparelhagem de uma ciência diferente da que conhecemos.


Vista da instalação Avistador de pássaros, 2014

31


1978, Livingstone, Zâmbia. Vive em Oslo, Noruega

A  nawana Haloba 32

A prática artística de Anawana Haloba é um contínuo processo de pesquisa sobre a posição de diferentes sociedades nos vários contextos políticos, sociais, econômicos e culturais, assim como sobre estruturas ideológicas pós-independência. Suas obras se vinculam e atravessam simbolicamente seus exercícios preparatórios para a escrita de poemas, dos quais a artista extrai obras performativas na forma de imagens em movimento, instalações e sons. Haloba cria situações nas quais a cultura material de um lugar qualquer pode ser explorada e reconsiderada dentro do esquema contemporâneo de rápidas transformações da subjetividade. Para a 32ª Bienal, Haloba apresenta Close-Up [Aproximação] (2016), uma instalação com elementos sonoros centrada em cubos de sal que, ao longo do tempo, passam por processos de liquefação e gotejamento. O trabalho faz referência direta aos fluidos corporais humanos, aos minerais encontrados na paisagem e à importância histórica do sal como moeda de troca. A dissolução e a formação de gotas de sal é um processo lento, programado e amplificado, que ao fim leva ao alívio, por um lado, e à extinção, por outro.


Detalhe da instalação This and Many More [Isso e muito mais], 2013

33


1961, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo

A  ntonio Malta Campos 34

Na trajetória de Antonio Malta Campos, iniciada em meados dos anos 1980, observa-se uma pesquisa plástica contínua em torno do desenho e da pintura, valendo-se de um amplo repertório visual que se estende desde os paradigmas artísticos modernistas até as linguagens da cultura de massa. Tanto em seus dípticos de grande dimensão, quanto no conjunto de pequenos exercícios gráficos – denominados “misturinhas” – ficam evidentes o apuro técnico do artista e sua insurgência contra o conforto visual das precisões geométricas e das distinções entre o abstrato e o figurativo. Para a 32ª Bienal, Malta apresenta dois conjuntos de pinturas, um criado entre 2015 e 2016 e outro, da série Misturinhas, feito entre 2000 e 2016. No primeiro conjunto, o artista, com assistência de Antonia Baudouin, faz colidir a tradição harmônica do formalismo pictórico com uma ironia gráfica, criando anamorfismos, contrastes cromáticos e alterações de escala. As Misturinhas, por sua vez, são centrais em sua pesquisa. Nelas, cores opostas em guache e lápis de cor; traços desinibidos do desenho com lápis, caneta ou tinta nanquim; recortes de impressos e adesivos são usados para a feitura dessas pequenas composições resistentes à classificação.


Mapa-múndi, 2015

Dimensão, 2016

35


1980, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Vive em Recife, Pernambuco, Brasil

B  árbara Wagner 36

O brega é música, dança, cena cultural e economia criativa na periferia do Recife. Em duas linhagens, funk e romântico, constitui uma cadeia de MCs, DJs, bailarinos, produtores, empresários e público. Seus hits – eróticos, irônicos, lamuriosos e, em alguns casos, ainda machistas – extrapolam os limites socioeconômicos dos bairros e participam da paisagem sonora de uma cidade convulsiva em suas diferenças. Com caráter documental, as fotografias da série Mestres de Cerimônias (2016) registram a realização de videoclipes do brega, potente elemento de propagação de uma imagética no limiar entre o precário e a ostentação. O brega torna-se voz e autoestima diante da dominação dos parâmetros de identidade e de gosto. A artista Bárbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstrói esse fenômeno no filme Estás vendo coisas (2016) e torna visíveis as singularidades, as errâncias e também algumas relações entre seus agentes. A boate Planeta Show abrigou o experimento de um retrato coletivo e filmado, que, nessa condição, desafia o caráter preciso da fotografia. O resultado não deixa de ser documental, mas é parcialmente ofuscado pela luz artificial de estúdio, camarim, palco e tela, com personagens que encenam a si mesmos.


Bรกrbara Wagner & Benjamin de Burca Fotogramas de Estรกs vendo coisas, 2016

37


1953, Bragança, Pará, Brasil. Vive em Brasília, Brasil

B  ené Fonteles 38

Marcada pela esfera ritualística, a criação de Bené Fonteles abarca instalações, esculturas e manifestos em profundo diálogo com questões ambientais, saberes populares e o desejo de fundir o “ser brasileiro” e o “ser universal”. Desde a década de 1970, Fonteles empreende projetos transdisciplinares que extrapolam as fronteiras da arte, autodenominando-se “artivista”. Ágora: OcaTaperaTerreiro (2016) reúne traços importantes de sua trajetória, como o sincretismo simbólico e a cocriação. Dentro do Pavilhão da Bienal, Fonteles propõe uma construção de teto de palha e paredes de taipa, materiais usados em habitações indígenas e caboclas. O título carrega o desejo de interligar vários tempos e conhecimentos, tendo o terreiro como referência a um espaço de celebrações e oferendas. A instalação abriga composições em que são usados materiais orgânicos, resquícios trazidos pelo mar, artefatos tradicionais e objetos coletados por Fonteles durante suas jornadas a diferentes regiões do país. Texturas, sons e cheiros compõem o ambiente, que abriga, em uma programação contínua, trocas entre o artista, músicos, xamãs, educadores e o público. O lugar e as práticas ali desenvolvidas são um convite para que todos atuem na transmutação da realidade e no reencantamento do mundo.


Documentação de performance ritual Antes arte do que tarde, 1977

39


1973, Aveiro, Portugal. Vive em Porto, Portugal

C  arla Filipe 40

A obra de Carla Filipe é composta a partir da apropriação de objetos e documentos, ou construída através da relação permeável entre objetos de arte, cultura popular e ativismo. Em sua pesquisa, a artista utiliza-se de materiais e elementos, como bandeiras, cartazes, jornais e artefatos ferroviários, assim como faz intervenções em lugares abandonados ou em desuso. Em Migração, exclusão e resistência (2016), Filipe partiu de uma pesquisa iniciada em 2006, que propunha a construção de hortas e jardins em ambientes urbanos, instaurando o uso coletivo do espaço privado ou a apropriação de espaços públicos destinados a outros fins. Ao articular modos distintos de vida, ela questiona a ideia de propriedade e amplia a noção de sobrevivência. Essa obra nos conta sobre vegetais comestíveis pouco conhecidos e sobre plantas que surgem em locais inesperados. Nessa proposta, Filipe cria condições para se pensar sobre forças espontâneas de resistência que funcionam como células autogeridas, e que representam reações aos ditames capitalistas da vida urbana, derivados de iniciativas de caráter hierárquico e privado.


Vista da instalação e performance Saloio, 2011

41


1978, Bogotá, Colômbia. Vive em Nova York, EUA

C  arlos Motta 42

Carlos Motta investiga as formas de representação de subjetividades e a construção de discursos visuais e culturais a partir delas, com ênfase especial em identidades e políticas atravessadas por sexualidade e gênero. Em suas obras a memória e a história não correspondem somente ao passado, mas são ferramentas críticas do presente, através das quais se questiona uma ideia opressiva de normalidade e, ao mesmo tempo, se abre espaço para outras práticas e subjetividades. Towards a Homoerotic Historiography [Rumo a uma historiografia homoerótica] (2013-2014) indaga sobre o papel da colonização nos processos de opressão da sexualidade de povos originários. Ao tratar das relações entre religião, lei, pecado e crime, esse trabalho visibiliza o modo com que práticas e discursos de violência incidiram nos corpos e nas subjetividades desses povos, apagando costumes e condutas que não correspondessem à moral cristã colonizadora. Na série de autorretratos Untitled Self-Portraits [Autorretratos sem título] (1998/2016), Motta explora a criação de personificações híbridas de gênero e raça. São personagens fictícios, que trazem o corpo como matéria sujeita a transformações, evidenciando a maleabilidade da identidade, as políticas da diferença e a ampliação dos horizontes da representação.


Figura da instalação Towards a Homoerotic Historiography #1 #6 [Rumo a uma historiografia homoerótica #1 #6], 2013

43


1978, Londres, Reino Unido. Vive em La Jagua, Colômbia, e Los Angeles, Califórnia, EUA

C  arolina Caycedo 44

Carolina Caycedo volta sua prática para a discussão de contextos impactados por grandes obras infraestruturais de caráter desenvolvimentista. Em sua pesquisa recente, analisa os danos ambientais e sociais atrelados à construção de barragens e ao controle dos cursos naturais da água. Por meio do envolvimento com grupos e comunidades afetadas por essas transformações, a artista investiga ideias de fluxo, assimilação, resistência, representação, controle, natureza e cultura. A Gente Rio – Be Dammed [A Gente Rio – Barrado seja] (2016) é um projeto que compreende pesquisas em arquivos, estudos de campo e atividades com comunidades ribeirinhas abaladas pela privatização das águas. A Gente Rio (2016), pesquisa produzida para a 32ª Bienal, trata da vida implicada nesses rios e em suas margens. A obra é composta por distintos elementos: montagens de fotografias de satélite das usinas hidrelétricas de Itaipu e de Belo Monte e do antes e depois do rompimento da represa de Bento Rodrigues (Mariana, MG), um vídeo feito por Caycedo nessas regiões, tarrafas coletadas durante seus estudos de campo inseridas nos vãos entre os andares do Pavilhão da Bienal, e desenhos que contam as narrativas dos rios Yuma (Colômbia), Yaqui (México), Elwha (EUA), Watu, conhecido como Rio Doce e Iguaçu (Brasil), como entidades vivas dotadas de histórias próprias.


Yaqui, Yuma, Elwha, 2016

45


1979, Buenos Aires, Argentina. Vive em Paris, França / 1966, Londres, Reino Unido. Vive em Londres

C  ecilia Bengolea & Jeremy Deller 46

A coreógrafa, dançarina e performer Cecilia Bengolea trabalha em parceria com o artista Jeremy Deller neste projeto que parte de fenômenos da cultura popular contemporânea, sobretudo da música e da dança, para pensar suas relações com a economia, as condições de trabalho e os sistemas políticos. Num complexo emaranhado de influências tradicionais e modernas e alinhados a contextos culturais e políticos específicos, Bengolea e Deller trazem à vista movimentos identitários de resistência e afirmação de gênero, sexualidade e comportamento. A dança popular associada a estilos musicais produziu diversas tendências dentro da cultura urbana das últimas décadas. Assim como o break, o voguing e o twerk, o estilo dancehall de dança e música coloca a linguagem corporal em evidência e mostra uma coreografia peculiar, combativa e, por vezes, sexualizada. É sobre esse gênero, muito popular na Jamaica, que os artistas desenvolveram o vídeo Bombom’s Dream [Sonho de Bombom] (2016).


Fotogramas de Bombom’s Dream [Sonho de Bombom], 2016

47


1943, Malmö, Suécia. Vive em Skanör, Suécia

Ch   arlotte Johannesson 48

Instruída em tecelagem, Charlotte Johannesson começou a fazer tapeçarias como arte nos anos 1970. Seus trabalhos satirizavam a política tradicional e muitas vezes consistiam em comentários feministas e engajados sobre acontecimentos globais. Como reação ao golpe militar do general Augusto Pinochet em 1973, por exemplo, ela produziu Chile Echoes in My Skull [O Chile ecoa no meu crânio] (1973/2016), no qual se põe na posição de testemunha atormentada e tece uma imagem de sangue derramando de veias abertas da América Latina. Em 1978, Johannesson trocou seu tear por um Apple II Plus, a primeira geração de computadores pessoais. Aprendendo a programar sozinha, ela adotou as mesmas medidas que usava no tear para o computador (239 pixels na horizontal e 191 pixels na vertical). Financiada pelo Departamento Nacional Sueco de Tecnologia e Desenvolvimento, ela fundou o Digital Theatre [teatro digital] com seu parceiro Sture Johannesson, em Malmö, na Suécia. Enquanto existiu, entre 1981 e 1985, o Digital Theatre foi uma tecno-utopia em miniatura e o primeiro laboratório de arte digital da Escandinávia. Charlotte Johannesson se dispôs a criar “micro-performances”: gráficos digitais em tela e impressos, e experimentos com computadores em tempo real.


No Future [Sem futuro], 1977

49


1975, Itaara, Rio Grande do Sul, Brasil. Vive em Recife, Pernambuco, Brasil

C  ristiano Lenhardt 50

Com matérias ordinárias e olhar atento, Cristiano Lenhardt constrói um “mundo bicho”. Bicho porque investe no rudimentar, simples e pobre, à revelia de uma ideia de erudição que, para a civilização branca ocidental, costuma depender da riqueza. Bicho porque é mantido em situação selvagem, deseducado, alheio aos hábitos estéticos, de poder e classe. Nos refugos de um Brasil tomado por monoculturas e ciclos de exploração, esse lugar inventado, meio real, meio imaginário, acumula uma energia vital de criação que sobrevive e é capaz de transgredir por pura delicadeza, e não pelo conflito. Em Trair a espécie (2014-2016), uma manada de seres inumanos se espalha pelo edifício. Mesmo que feitos de cará, deixam de ser alimento e ganham corpo físico e transcendência. Sobre o seu estado, só os dias podem dizer, já que tanto são vida em putrefação, quanto raiz que se sedimenta e cresce. Uma coluna (2016), por sua vez, nasce de uma performance na abertura da 32ª Bienal, quando dançarinos entrelaçam colunas da arquitetura como no folguedo popular do pau de fitas. A coreografia cria uma artesania de tramas que atravessa os três andares e resulta em uma espécie de coluna infinita, um mantra de continuidade para dentro e para fora, mesmo que, após a ação, se estabilize como escultura.


Esboรงo para Uma coluna, 2016

51


1982, Brasília, Distriro Federal, Brasil. Vive em Goiânia, Goiás, Brasil

D  alton Paula 52

Na obra de Dalton Paula, objetos são destituídos de suas funções originais para se tornarem suporte da pintura. Primeiro as enciclopédias, antigas detentoras de um conhecimento universalista, tiveram suas capas sobrepostas por representações de sujeitos e saberes comumente omitidos em seu conteúdo, como negros e indígenas. Agora esse procedimento se repete sobre um conjunto de alguidares, pratos cerâmicos que recebem a comida e também as oferendas em rituais de religiões afro-brasileiras. Com a pintura em seu interior, esses objetos confrontam os discursos hegemônicos da arte e da política, buscam novos personagens e reencenam passagens de nossa história. Piracanjuba, em Goiás, Cachoeira, no Recôncavo Baiano, e Havana, em Cuba, são cidades produtoras de tabaco. Essa atividade econômica remonta ao passado colonial e à migração de africanos escravizados nas Américas. Paula viajou aos três pontos dessa Rota do tabaco (2016) para pesquisar como essa herança se apresenta hoje. Encontrou desde a precariedade dos meios de trabalho nas fábricas de cigarrilhas até o uso dos charutos como ícone da revolução comunista. No vasto imaginário retratado, o fumo é um contexto omitido que revela o contraste entre corpos negros e roupas brancas, entre a invisibilidade da cultura afro-brasileira e os legados de cura – medicinal e espiritual – extraídos do tabaco.


Rota do tabaco, 2016

53


1981, Polokwane, África do Sul. Vive em Joanesburgo, África do Sul

Di   neo Seshee Bopape 54

Para a 32ª Bienal, Dineo Seshee Bopape apresenta a instalação site-specific :indeed it may very well be the ___________itself [:de fato isso pode bem ser __________ em si] (2016). A obra é composta por estruturas de terra comprimida – distribuídas irregularmente e com diferentes tamanhos – sobre as quais objetos com forte carga emocional são dispostos. Eles têm formas que lembram os jogos de tabuleiro chamados Morabaraba (Mancala) e Diketo, que são variações do que se conhece no Brasil como Trilha. Os objetos incluem moldes de úteros, folhas douradas, minerais, ervas medicinais, bem como peças de cerâmica moldadas com a forma de punho cerrado. O trabalho contempla ideias e desenhos que falam de contenção e deslocamento, de ocupação e hospedagem, além da questão política e histórico-social implícita na exclusão da terra.


Vista da instalação We Need the Memories of All Our Members [Nós precisamos das memórias de todos os nossos membros], 2015

55


1981, Mafikeng, África do Sul. Vive em Joanesburgo, África do Sul

D  onna Kukama 56

Donna Kukama usa a performance como meio de resistência às práticas artísticas estabelecidas, buscando, através dela, desconstruir métodos e inventar procedimentos. Além disso, desenvolve escritos, vídeos e instalações sonoras que usam a esfera pública para nela inserir vozes alheias ao campo da arte. Seus questionamentos dirigem-se frequentemente a acontecimentos atuais, na construção de narrativas e na maneira pela qual são encenados socialmente. É neste tipo de contexto que Kukama introduz seu corpo para criar imagens de contraencenações, que rebatem relatos hegemônicos. Na 32ª Bienal, a artista apresenta três capítulos que integram um processo extenso de criação de um livro. A ideia de livro, contudo, não se refere ao objeto que conhecemos, mas se desdobra em direção à performance, ao desenho, à escultura, ao vídeo, ao texto e à história oral. Este trabalho toma a forma de uma série de anúncios públicos acompanhados por projeções, produzidos em relação direta com os contextos políticos de cada um dos lugares onde esteve. Os capítulos que Kukama apresenta no Brasil são C: The Genealogy of Pain [C: A genealogia da dor], A: The Anatomy of History [A: A anatomia da história] e B: I, Too [B: Eu, também], que se darão em dias e espaços diferentes.


Documentação de performance What We Caught We Threw Away, What We Didn't Catch We Kept [O que nós pegamos jogamos fora, o que nós não pegamos mantivemos], 2015

57


1981, Kingston, Jamaica. Vive em Kingston e Lexington, Kentucky, EUA

Eb   ony G. Patterson 58

Ebony G. Patterson parte de referências da pintura para compor cenas e retratos que se relacionam com a cultura popular e o forte contexto de violência característico de diversas comunidades em Kingston, Jamaica. Transitando por técnicas variadas, a artista tem a fotografia como primeira etapa na elaboração de suas composições. Transforma as imagens em tapetes que, por meio de colagens, recebem camadas de tecidos e ornamentos. Os painéis de grande dimensão que daí derivam exploram o excesso de material, brilho e cor como forma de lançar luz sobre a necessidade de distinção por meio de bens de consumo e opulência, comportamento intimamente ligado a procedimentos de opressão social. A despeito da superfície colorida, as cenas retratam, de modo quase mimético, corpos estendidos no chão, assim como momentos casuais de convivência na rua. O conjunto de painéis apresentado na 32ª Bienal é uma tentativa de traçar paralelos entre os contextos socioculturais do Brasil e da Jamaica. Reagindo aos altos índices de assassinato de crianças e jovens negros nos dois países, Patterson retrata uma infância que é potência de criação e transformação, e que, ao mesmo tempo, padece diante de sistemas excludentes e violentos.


Detalhe de ...they were discovering things and finding ways to understand... (...when they grow up...) [...eles estavam descobrindo coisas e encontrando meios de entender... (...quando crescerem...)], 2016

59


1979, Buenos Aires, Argentina. Vive em Buenos Aires

E  duardo Navarro 60

Eduardo Navarro explora diferentes níveis de percepção e formas de alteração da realidade e do tempo. Ora seu trabalho se insere na delicada relação entre a arte e o espiritual, ora utiliza aparatos e informações provenientes do campo da ciência. Com isso, o artista conduz o público a estados mentais que exploram modos não racionais de comunicação, indo além da linguagem verbal. Navarro parece testar o potencial transformador da arte, criando situações em que comportamentos, maneiras de pensar e sistemas de crença são colocados à prova ou levados a exceder limites. Na 32ª Bienal, apresenta Sound Mirror [Espelho de som] (2016), um instrumento construído para conectar acusticamente uma palmeira do lado de fora do Pavilhão da Bienal e o espaço expositivo. A planta e o público são colocados em posição de equivalência, numa troca sonora que desafia os significados de comunicação e de escuta. A obra de Navarro aponta para uma tecnologia emocional capaz de nos fazer refletir sobre as conexões afetivas que a arte desencadeia por meio da relação permeável entre os seres vivos, o artista e o público, os atores e os objetos artísticos.


Estudo para Sound Mirror [Espelho de som], 2016

61


1981, Mamfe, Camarões. Vive na região Sudoeste do Camarões e em Amsterdã, Holanda

E  m’kal Eyongakpa 62

Em’kal Eyongakpa cria instalações, vídeos e performances que se baseiam em conceitos de rede e sistema presentes nos campos da biologia, da botânica e da tecnologia. Por meio de suas obras, o artista discute noções de equilíbrio e de interferência ao estabelecer a inter-relação entre elementos de distintas origens. Rustle 2.0 [Farfalho 2.0] (2016) consiste na criação de um ambiente que confronta elementos orgânicos com elementos considerados artificiais ou resultantes da ação do homem na natureza. As paredes cobertas por micélios proporcionam a ideia de redes interconectadas, em uma referência à internet; brônquios digitais se assemelham ao formato da África e da América Latina. O adendo “2.0” no título da obra refere-se à atualização de sistemas cibernéticos, colocando natureza e cultura como partes do mesmo todo e não como entidades separadas e autônomas. Eyongakpa sugere a ideia de algo orgânico na sobrevivência e na manutenção dos diversos sistemas – digitais, ecológicos, políticos – revelando uma estranha familiaridade entre eles.


Breathe II [Respirar II], 2013

63


1971, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo

E  rika Verzutti 64

Em suas esculturas, desenhos, fotografias, pinturas e instalações, Erika Verzutti oferece ao espectador um mundo que parece suspenso entre a fantasia e a realidade, a abstração e a figuração, o céu e a terra, construindo uma espécie de inventário arqueocosmológico. A artista trabalha a partir de objetos reais, dos quais produz moldes e réplicas que ela modifica, recorta, pinta e justapõe. Materiais e ferramentas de construção, frutas e legumes tropicais são presença constante em suas colagens escultóricas, cujos títulos por vezes aludem a elementos tradicionais da história da arte ocidental e brasileira. Verzutti também explora outras possibilidades construtivas, com base na aglomeração de materiais como isopor, papel e fibra de vidro, para dar forma a esculturas e pinturas de tamanho monumental. Assim são os três painéis comissionados para a 32ª Bienal: blocos flutuantes com um conjunto misterioso de inscrições e símbolos que, se por um lado, remetem a uma ideia de escrita primordial, sulcada nas pesadas paredes rochosas de uma caverna, por outro, nos lançam ao avesso dessa referência pré-histórica, como se representassem um céu noturno. Situadas entre pintura e escultura, essas obras dão nova escala a um conjunto de relevos outrora em bronze, agora moldados em papel machê.


Ouro branco, 2015

65


1974, Santiago, Chile. Vive em Nova York, EUA

F  elipe Mujica 66

Os projetos de Felipe Mujica se organizam a partir de duas formas principais de atuação: de um lado, sua pesquisa visual, que envolve a criação de instalações de painéis de tecido móveis e interativos; de outro, a organização colaborativa de exposições, publicações e gestão de espaços culturais. Permeia essa atuação a investigação sobre o passado recente da arte latino-americana, com interesse específico por experiências que aproximam educação e arte moderna. Aspecto fundamental de seu método de trabalho é a abertura da obra ao diálogo com outros artistas, com o público e com comunidades. No projeto Las universidades desconocidas [As universidades desconhecidas] (2016), Mujica trabalha em parceria tanto com os artistas brasileiros Alex Cassimiro e Valentina Soares, como com o grupo Bordadeiras do Jardim Conceição, formado por cerca de quarenta moradoras desse bairro na cidade de Osasco. A partir de desenhos realizados pelo artista, os grupos de colaboradores criaram e confeccionaram as cortinas que compõem a instalação. Produzidas com os mesmos materiais e técnicas distintas, as peças costuram saberes pessoais formados por diferentes repertórios e experiências, unidos agora como lados complementares de uma mesma realidade: o trabalho criativo coletivo.


Vista da instalação Untitled (El Quisco) [Sem título (El Quisco)], 2013

67


1959, Antuérpia, Bélgica. Vive na Cidade do México, México

F  rancis Alÿs 68

A obra de Francis Alÿs baseia-se em ações propostas ou praticadas pelo artista, que se desdobram em vídeos, fotografias, desenhos e pinturas. Frequentemente evocando uma sensação de absurdo ou insensatez, seus trabalhos pesquisam criticamente situações políticas, sociais e econômicas na vida contemporânea. A instalação concebida para a 32ª Bienal está organizada em três momentos e investiga a noção de catástrofe em uma série de desenhos com esquemas mentais, fenômenos e ideias intitulada In a Given Situation [Em uma dada situação] (2010-2016); pinturas de paisagem e um filme de desenhos animados, todos Untitled [Sem título] (2016). Esses elementos estão instalados em paredes de espelhos, que revelam o verso dos desenhos e pinturas, fixados com alguma inclinação. As imagens refletidas do público, do pavilhão e do parque tornam-se também parte integrante do projeto, o que nos convida a questionar qual é a nossa relação – e do ambiente institucional e urbano em que estamos inseridos – com as diferentes situações e noções de catástrofe discutidas por Alÿs.


Da série In a Given Situation [Em uma dada situação], 2016

69


1921, Kozienice, Polônia. Vive em Nova Viçosa, Bahia, Brasil

F  rans Krajcberg 70

Em sua vivência artística e ecológica, marcada pela decisão de constituir residência desde a década de 1970 em Nova Viçosa, Bahia, Frans Krajcberg encontra na diversidade e exuberância da flora a matéria-prima e a plasticidade que qualificam e compõem seu trabalho escultórico, assim como suas gravuras, pinturas, desenhos e fotografias. O uso da natureza como temática e material é um ato consistente com sua posição de defesa do meio ambiente. Dentre as inúmeras obras desenvolvidas ao longo de sua trajetória, três conjuntos de esculturas – apelidadas de Gordinhos, Bailarinas e Coqueiros – ganham destaque no espaço expositivo do pavilhão modernista da Bienal, tomando parte do térreo e criando um ambiente de transição entre o exterior do parque e o interior do edifício. Resquícios de madeira calcinada, troncos, cipós e raízes são transformados pela ação do artista por meio da talha, do recorte, da decomposição e da pintura. Desse labor, compõem-se essas peças autoportantes de escalas e dimensões variadas, espalhadas por entre os elementos racionais dessa arquitetura monumental.


Vista da instalação da série Sem título (Gordinhos), s.d.

71


1984, Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA. Vive em Lisboa, Portugal

G  abriel Abrantes 72

Gabriel Abrantes explora a linguagem cinematográfica em sua produção de filmes e vídeos – os roteiriza, dirige, produz e neles ocasionalmente atua. Aborda temas históricos, sociais e políticos ao discutir questões pós-coloniais, de gênero e identidade. Suas obras criam camadas de leituras improváveis ao alterar narrativas tradicionais e tocam o absurdo, o folclore, o humor e a política. Os humores artificiais (2016) foi rodado no Mato Grosso (Canarana e nas aldeias Yawalapiti e Kamayura dentro do Parque Indígena do Xingu) e em São Paulo. Misturando certa estética hollywoodiana com abordagens típicas do registro documental, o filme conta a jornada de uma indígena comediante que se une a um robô e conquista a fama na indústria cultural de massa brasileira. A obra, de natureza insólita, coloca em questão os hábitos humorísticos de diversos grupos indígenas em contraste com o progresso e a inteligência artificial.


Fotogramas de Os humores artificiais, 2016

73


1928, Recife, Pernambuco, Brasil – 2013,Recife

Gi   lvan Samico 74

Gilvan Samico apresenta em suas gravuras mitos e cosmologias repletos de simbologias. Suas composições têm a simetria e a verticalidade como valores que organizam narrativas sobre a natureza – sendo homens e mulheres parte desse ambiente – e instâncias sagradas que se relacionam com a vida terrena. Iniciou sua prática artística como autodidata no Recife, mas depois estudou sob tutela de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi. A impressão de suas gravuras era feita de forma minuciosa e manual. A produção de cada peça presente na 32ª Bienal levou um ano de trabalho do artista, entre 1975 e 2013. Influenciado pela arte popular nordestina, Samico tem como referência a literatura de cordel e o Movimento Armorial, sendo o encontro com o escritor Ariano Suassuna um importante ponto de inflexão em sua trajetória. Partindo de narrativas locais, Samico traça uma história visual que engloba cosmologias sobre a formação do mundo e o estudo de livros como a trilogia Memoria del Fuego, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, publicada entre 1982 e 1986. Assim, os títulos das obras funcionam como chaves de leitura que, junto às imagens, revelam camadas que pertencem e povoam o imaginário de tantas culturas.


A AscensĂŁo, 2004

75


1968, Lisboa, Portugal. Vive em Berlim, Alemanha

G  rada Kilomba 76

Grada Kilomba é uma escritora, teórica e artista que ativa e produz saber descolonial ao tecer relações entre gênero, raça, memória e trauma. Sua obra dispõe de formatos distintos, como publicações, leituras encenadas, performances e videoinstalações, criando um espaço híbrido entre conhecimento acadêmico e prática artística. É partindo do gesto duplo de descolonização do pensamento e de performatização do conhecimento que Kilomba salta do texto à performance e dá corpo, voz e imagem a seus escritos. Na 32ª Bienal, a artista mostra dois projetos diferentes. The Desire Project [O projeto desejo] (2015-2016) é uma videoinstalação dividida em três momentos: While I Walk, While I Speak e While I Write [enquanto ando, enquanto falo e enquanto escrevo], vídeos cujo principal elemento visual é a palavra e que indicam a aparição de um sujeito enunciador historicamente silenciado por narrativas coloniais. Já Illusions [Ilusões] (2016) é uma performance que usa a tradição africana de contar histórias em narrações e projeções de vídeo. A leitura evoca os mitos de Narciso e Eco como metáforas de um passado colonial e políticas de representação que só espelham a si mesmas.


Fotogramas de The Desire Project [O projeto desejo], 2015-2016

77


1981, Ankara, Turquia. Vive em Istambul, Turquia

G  üneş Terkol 78

Güneş Terkol desafia os imaginários relacionados ao feminino a partir de histórias pessoais ou coletivas compartilhadas por mulheres em oficinas que organiza para sua pesquisa e processo de trabalho. O bordado, prática culturalmente atribuída ao ambiente doméstico e ao labor da mulher, ganha camadas públicas e políticas em sua produção. Na 32ª Bienal, são apresentadas as séries Couldn’t Believe What She Heard [Não posso acreditar no que ela ouviu] (2015) e The Girl Was Not There [A menina não estava lá] (2016), essa última comissionada para a exposição. Na primeira, em uma montagem aberta, Terkol cria imagens nas quais elementos relacionados ao estereótipo do “universo feminino” – unhas esmaltadas, cabelos, sapatos – são contrastados com fragmentos de corpos cujo sexo não é possível identificar. Na segunda série, a artista resgata o caráter místico e idílico da natureza. A coloração se origina de materiais orgânicos, como cebola, folhas de tabaco, abacate e beterraba, e compõe paisagens ou cenas que mesclam elementos ornamentais, molduras vazias e figuras inventadas. O tecido utilizado subverte a aparente fragilidade das obras e sua transparência possibilita entrever as composições, multiplicando e desconstruindo os imaginários do feminino e da natureza.


Da série The Girl Was Not There [A menina não estava lá], 2016

79


1978, Londres, Reino Unido. Vive em Londres

H  eather Phillipson 80

A linguagem articulada por objetos físicos e digitais que habitam o imaginário da sociedade de consumo contemporânea é a principal matéria-prima das instalações e vídeos de Heather Phillipson. Imagens de publicidade on-line, brinquedos de pelúcia e “emojis” de aplicativos de conversa virtual aparecem nos espaços criados pela artista por meio de colagens, colisões, sobreposições e associações inesperadas. Suas instalações revelam uma investigação sobre como emoções, afetos e desejos são construídos e manipulados no interior desse conjunto heterogêneo de referências culturais. Phillipson atua também como escritora e poeta, sendo frequente em seus vídeos a presença do texto lido, sobreposto a trilhas sonoras construídas segundo a mesma lógica fragmentária. TRUE TO SIZE [Fiel ao tamanho] (2015-2016) consiste de vídeos, áudios e esculturas em escala humana. É uma suíte de cenas que tem como tema a devastação – clima extremo, higiene extrema, sexo virtual, comunicação excessiva, guerras, extinção iminente, sobrevida, enchentes e, em um sentido mais amplo, consumo e desejo. A escala dos objetos e imagens representados faz com que eles momentaneamente percam a banalidade com que são consumidos no cotidiano.


Vista da instalação TRUE TO SIZE [Fiel ao tamanho], 2016

81


1967, Esbjerg, Dinamarca. Vive em Berlim, Alemanha

H  enrik Olesen 82

Henrik Olesen transita por diversas mídias e materiais. Em suas obras, retrata criticamente a vida social, desconstrói fundamentos canônicos das narrativas oficiais, e reescreve a história sem os limites e tabus de dualismos culturais opressores. Nessa prática de resistência, na qual questiona o sujeito da sociedade patriarcal, heteronormativa e eurocêntrica – base da tradição política e cultural ocidental –, Olesen aponta para uma leitura distinta da história da arte, da literatura e das ciências. Ao discutir as sexualidades e os gêneros, as identidades e as etnias, desmistifica o corpo, evidenciando seu lugar na sociedade e promovendo sua reinvenção. As obras comissionadas pela 32ª Bienal são compostas por colagens nas quais o artista desconstrói o conhecimento universal acerca do lugar ou conceito de Inferno, assim como suas representações desde a literatura clássica – como no poema épico A divina comédia, de Dante Alighieri –, até os imaginários moderno e subcultural de escuridão e confusão.


4, 2016

83


1966, Munique, Alemanha. Vive em Berlim, Alemanha

H  ito Steyerl 84

Da escrita à produção de filmes e instalações, Hito Steyerl aborda questões sobre arte, filosofia e política. Realiza filmes-ensaios, gênero que reforça uma prática em que textos, conferências e a produção de imagens se situam na fronteira entre a atividade teórica e artística. Steyerl trata da arena de confronto entre arte e política em um mundo superpovoado de imagens. A videoinstalação Hell Yeah We Fuck Die (2016), comissionada para a 32ª Bienal, se assemelha a um módulo de treinamento de parkour – esporte dedicado à superação de obstáculos – e apresenta alguns vídeos sincronizados, cujas imagens foram coletadas de diversas fontes on-line. Neles, robôs são provocados e enxotados de diversas formas em ambientes de teste de qualidade de produto. Baseando-se nas cinco palavras mais populares em títulos de músicas na língua inglesa desta década (inferno, sim, nós, foda e morrer), Steyerl chama atenção para uma espécie de hino do nosso tempo, acompanhado por trilha sonora composta pelo DJ alemão Kassem Mosse a partir dessas palavras. As obras de Steyerl comentam a constante busca por rapidez e eficiência que conduz as práticas contemporâneas e revelam o senso absurdo da realidade, articulado pela tensão criada no confronto entre imagens e textos.


Vista da instalação Factory of the Sun [Fábrica do sol], 2015

85


1981, Kolonia Koplany, Polônia. Vive em Bialystok, Polônia, e Munique, Alemanha

I  za Tarasewicz 86

A prática de Iza Tarasewicz inclui escultura, performance e desenho, e explora os dualismos entre o permanente e o efêmero, o orgânico e o artificial, o comum e o extraordinário. Muitos de seus trabalhos se relacionam diretamente à escala do corpo, e seu movimento no espaço e no tempo. Na 32ª Bienal, Tarasewicz apresenta TURBA, TURBO (2015), uma escultura que consiste em uma estrutura inspirada tanto em uma estante modernista quanto no Grande Colisor de Hádrons do CERN, próximo à Genebra, na Suíça. Experimentos com materiais crus são dispostos sobre essa estrutura, como se a máquina gigantesca fosse acelerar suas partículas até a velocidade da luz, provocando estados de caos com o intuito de investigar a origem do universo. Ligando o infinitamente grande ao infinitesimalmente pequeno, TURBA, TURBO sugere uma associação do científico com o doméstico. Tarasewicz também desenvolveu o projeto de pesquisa Mbamba Mazurek, que retraça as influências do ritmo e da dança da mazurca em todo o mundo. Originária de uma área rural polonesa no século 16 chamada Masúvia, a mazurca é uma forma musical que se misturou com muitos estilos regionais, cujas características são encontradas no forró e no coco, por exemplo. Convidando performers a colaborar e compartilhar conhecimentos, o projeto explora relações circulares entre trabalho, ritmo e comunidade em práticas tradicionais globais.


Vista da instalação TURBA, TURBO, 2015

87


1982, Maceió, Alagoas, Brasil. Vive em Recife, Permambuco, Brasil

J  onathas de Andrade 88

Jonathas de Andrade trabalha com suportes variados, como instalação, fotografia e filme, em processos de pesquisa que têm profundo caráter colaborativo. Sua obra discute a falência de utopias, ideais e projetos de mundo, sobretudo no contexto latino-americano, especulando sobre sua modernidade tardia. Em seu trabalho, afetos que oscilam entre a nostalgia, o erotismo e a crítica histórica e política são agenciados para abordar temas como o universo do trabalho e do trabalhador, e a identidade do sujeito contemporâneo, quase sempre representado pelo corpo masculino. O filme O peixe (2016), apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal, acompanha pescadores pelas marés e pelos manguezais de Alagoas, que utilizam técnicas tradicionais de pesca, como rede e arpão, na espera pelo tempo necessário para capturar a presa. Cada pescador encena uma espécie de ritual: eles retêm os peixes entre seus braços até o momento da morte, uma espécie de abraço entre predador e presa, entre vida e morte, entre o trabalhador e o fruto do trabalho, no qual o olhar – do pescador, do peixe, da câmera e do espectador – desempenha papel crucial. Situada num território híbrido entre documentário e ficção, a obra dialoga com a tradição etnográfica do audiovisual.


Fotogramas de O peixe, 2016

89


1926, Chicago, Illinóis, EUA – 2011, São Francisco, Califórnia, EUA

J  ordan Belson 90

Depois de estudar pintura nos anos 1940, Jordan Belson se dedicou a experimentos musicais e visuais para expandir o conceito de arte não objetiva ou abstrata em filme, e, em 1947, finalizou o primeiro de seus 33 filmes. Chamados por alguns de cinema cósmico, os filmes de Belson exploram a relação dinâmica entre forma, movimento, cor e som. Belson usou impressões ópticas, técnicas básicas de animação quadro-a-quadro, espelhos, caleidoscópios e diversos outros equipamentos de baixa tecnologia. Suas obras gráficas menos conhecidas eram muitas vezes estudos para cenas de seus filmes, como as pinturas sobre rolos de seus primeiros trabalhos. O filme Samadhi (1967), apresentado na 32ª Bienal, é um trabalho fundamental na obra de Belson. O termo samadhi, segundo o budismo e a ioga, se refere a estados de concentração ou meditação profunda. Belson explora a relação entre percepção espiritual e teoria científica, valendo-se da filosofia e da religião orientais, mas também das teorias astronômicas de Johannes Kepler. Resultado de dois anos de trabalho, o filme – “um documentário da alma humana”, segundo o artista – é acompanhado de música ambiente composta por Belson. A maioria dos trabalhos gráficos é exibida ao público pela primeira vez.


Da sĂŠrie Brain Drawings EW.0109 [Desenhos cerebrais EW.0109], 1952

91


1970, Araçatuba, São Paulo, Brasil. Vive no Rio de Janeiro, Brasil

J  orge Menna Barreto 92

A agropecuária moderna é a atividade humana que mais impacta e transforma o planeta, ao comprometer a biodiversidade, compactar o solo, poluir rios e desmatar florestas. O projeto Restauro (2016) levanta questões acerca da construção dos hábitos alimentares e sua relação com o ambiente, a paisagem, o clima e a vida na terra. A obra opera como um restaurante, em parceria com Vitor Braz, cujo cardápio, elaborado com a nutricionista e chefe Neka Menna Barreto e a Escola Como Como de Ecogastronomia, em São Paulo, prioriza a diversidade do reino vegetal de origem agroflorestal. Esse espaço de alimentação propõe uma experiência de metabolização e digestão, tanto física quanto mental. Sua ambientação, realizada em parceria com O Grupo Inteiro, partiu da ideia de microclimas. Os áudios ligados à obra foram feitos por Marcelo Wasem, sobretudo em agroflorestas, onde é possível perceber um outro momento da vida dos alimentos que chegam até nós. Restauro propõe um despertar para os usos da terra e as consequências globais de nossas escolhas. Entendendo o nosso sistema digestivo como ferramenta escultórica, os comensais tornam-se participadores de uma escultura ambiental em curso, na qual o ato de se alimentar regenera e modela a paisagem em que vivemos.


Pesquisa para Restauro, 2016

93


1955, Medellín, Colômbia. Vive em Medellín

J  osé Antonio Suárez Londoño 94

A obra de José Antonio Suárez Londoño é constituída por um volumoso conjunto de desenhos e gravuras que privilegiam o detalhe e apresentam, em diminutas representações, elementos que se encontram na literatura, na música, na cultura visual ou nas experiências cotidianas do artista. Seu conjunto de cadernos se assemelha a uma documentação metódica daquilo que é observado ou testemunhado, possuindo um caráter de anotação e assumindo, por vezes, o papel de um diário de apontamentos visuais – como acontece na série Planas: del 1 de enero al 31 de diciembre del año 2005 [Estudos: de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2005], apresentada na 32ª Bienal. Em suas 365 páginas, encontram-se registros simbólicos compartilhados, detalhes de paisagens, corpos, barcos, animais, plantas, escritos e datas que povoam o papel como elementos descontínuos. Trata-se de pequenas partes que se relacionam sem encabeçar narrativas lineares ou relatos concatenados de experiências, aproximando o desenho do pensamento da colagem. Seu trabalho é uma espécie de memorial formado por muitas peças, como um rastro da passagem de Londoño pelo mundo, ou deambulações sobre a parte do vivido que pode ser transformada em imagens ou salva do esquecimento e da destruição.


Planas: del 1 de enero al 31 de diciembre del aĂąo 2005 [Estudos: de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2005], 2005

95


1962, Salvador, Bahia, Brasil. Vive em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

J  osé Bento 96

Desde a década de 1980, José Bento dedica-se a experimentações escultóricas com madeira em diversas escalas, além da produção de vídeos, instalações e fotografias. Recentemente tem atravessado a prática de ateliê com produções site-specific, como em Chão (2004/2016), trabalho que foi apresentado no Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte), em 2004, e que na 32ª Bienal ocupa uma área de 627 m2 do Pavilhão da Bienal. A obra recobre com tacos de madeira e rampas uma porção que se estende de uma face a outra do prédio. O material, oriundo de reformas e de demolições, sobrepõe-se a camadas de molas em algumas regiões, alterando sua superfície e simulando uma experiência de instabilidade ao caminhar. Cria-se, assim, uma espécie de topografia camuflada que sugere a ambiguidade que há na paisagem. A obra inédita Do pó ao pó (2016), por sua vez, é composta de caixinhas de fósforos expostas sobre estruturas de bancas de camelô com pés retráteis. Os conjuntos são esculpidos em madeiras de biomas brasileiros, como braúna, cedro, pau-brasil, o que inclui cada palito de fósforo contido nas caixas. O título, ao evocar a presença do fogo, propõe refletir sobre a relação que há entre o tempo e a matéria que constitui inícios e fins.


Vista da instalação Chão, 2004/2016

97


1969, Christchurch, Nova Zelândia. Vive em Auckland, Nova Zelândia

K  athy Barry 98

Ao acessarem planos alternativos como condição para a criação, os desenhos de Kathy Barry lidam com frequências energéticas, que poderiam ser consideradas portais oscilantes para subjetividades multidimensionais. A série de aquarelas 12 Energy Diagrams [12 diagramas de energia] (2015-2016) são registros de um processo que lida com o que está fora da estreita faixa da percepção humana. Essencialmente diagramáticos, eles funcionam como uma forma de coreografia anotada, correspondente à sequência de movimentos representados pela artista no vídeo homônimo 12 Minute Movement [Movimento de 12 minutos] (2016). A sequência, que parece uma dança, envolve movimentos físicos para canalizar e manipular a energia no processo de construção e de ativação de um campo energético, uma “Merkabah”. Segundo a tradição da mística judaica, a Merkabah gera um turbilhão, um vórtice de energia de alta frequência que permite à consciência humana acessar dimensões superiores, gerando dobras e bolsões no tempo e no espaço. Essa rotação, próxima à maneira sufi de criar vórtices de energia por meio de rodopios, também libera uma força que é significativa no processo de criação de mundos.


Da sĂŠrie 12 Energy Diagrams [12 diagramas de energia], 2015-2016

99


1978, Santiago, Chile. Vive em Colônia, Alemanha, e Tijuana, México

K  atia Sepúlveda 100

A obra de Katia Sepúlveda enuncia-se desde a teoria decolonial, com viés transfeminista e de feminismos mestiços, isto é, que transcendem o sujeito político mulher e a teoria feminista branca, colocando em questão gênero, raça, classe e práticas subjetivas. A artista trabalha com vídeos, performances, colagens, desenhos, fotografias e esculturas. Na 32ª Bienal, ela exibe dois projetos – Dispositivo doméstico (2007-2012 / 2016) e Feminismo mapuche (2016). O primeiro trabalho tem três partes: uma série de colagens feitas de revistas Playboy publicadas de 1953 a 2000, o vídeo The Horizontal Man [O homem horizontal] (2016) e uma instalação. Se as colagens mostram como se constitui a linguagem visual do desejo, o vídeo e a instalação estendem essa crítica e evidenciam como essa revista, como dispositivo, contribuiu para a criação de um imaginário que permeia aparatos do corpo no que tange ao design, à tecnologia, aos aparelhos domésticos, à arquitetura. O trabalho Feminismo mapuche, por sua vez, é um evento, um diálogo ao vivo entre duas ativistas do povo chileno mapuche, Margarita Calfio e Angélica Valderrama. Tendo como ponto de partida o feminismo comunitário boliviano, Sepúlveda indaga se haveria também um feminismo mapuche, somando ao termo “feminismo” outras lutas, outros espaços de enunciação e outras cosmopolíticas.


Da sĂŠrie Dispositivo domĂŠstico, 2007-2012

101


1967, Seul, Coreia do Sul. Vive em Berlim, Alemanha, e em todos os lugares

K  oo Jeong A 102

A instalação de Koo Jeong A, ARROGATION [Arrogação] (2016), é uma pista de skate projetada para uso público e que pode ser vista de dentro do Pavilhão da Bienal. Construída no Parque Ibirapuera, a pista, todas as noites, fosforesce e convida os skatistas a uma nova experiência de espaços. A artista desenvolveu anteriormente outras duas pistas, atraída por suas formas esculturais e pela capacidade catalisadora de promover interações humanas e aproximar contextos. Para pensar essas pistas luminosas, Jeong A pesquisou a variação de luz nos momentos de ocaso, entre o dia e a noite. A mudança de cor da pista se assemelha à transição de cores do céu, fornecendo uma dinâmica viva e mutável para a construção feita de concreto. A forma de ARROGATION deriva de um desenho feito pela artista em que dois círculos se sobrepõem, sugerindo uma espiral contínua. De maneira geral, as obras de Jeong A têm o intuito de provocar experiências que superam a racionalidade e a cognição para acionar o presente e o sensível. Sua prática inclui instalações, vídeos, esculturas e desenhos.


Projeto para ARROGATION [Arrogação], 2016

Vista da instalação EVERTRO, 2015

103


1974, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Vive em São Paulo, Brasil

L  ais Myrrha 104

Lais Myrrha investiga instrumentos e saberes que constroem nossa experiência no mundo a partir do lugar que nele ocupamos. Dicionários, mapas, bandeiras, hinos, jornais e telejornais são alguns dos elementos sobre os quais a artista interfere. Para ela, a arte é uma possibilidade de se lançar em zonas de instabilidade, em situações nas quais o familiar se torna estranho e a lógica convencional parece falhar. Myrrha explora em suas obras a noção de impermanência e a história contada do ponto de vista dos “vencidos”, assim como a precariedade dos conceitos de equivalência e equilíbrio. Um elemento importante de seu processo de criação é a escolha e o uso preciso dos materiais, o que revela uma atenção à suas capacidade de significar, de funcionar de modo simbólico e condensar narrativas. Em Dois pesos, duas medidas (2016), a artista constrói duas torres com as mesmas dimensões, compostas de materiais empilhados. De um lado, materiais empregados nas construções indígenas (cipó, toras de madeira, palha) e, de outro, aqueles usados nas edificações típicas brasileiras (tijolo, cimento, ferro, vidro, canos) – dois modos construtivos que corporificam modos de vida e dois projetos distintos de sociedade que, ainda que sejam potência de construção, já anunciam suas formas de ruína.


Da sĂŠrie Estados intermediĂĄrios, 2014 em curso

105


1937, Rio de Janeiro, Brasil – 1987, Rio de Janeiro

L  eon Hirszman 106

O cinema de Leon Hirszman tem a noção de trabalho como matéria-prima e eixo norteador. Assumindo que o sujeito transformador da história são os trabalhadores, Hirszman considerava sua tarefa como cineasta a organização dos registros das diversas formas de luta e resistência dessa classe social, de modo que se tornassem sua memória. Seus filmes trazem a marca de experiências históricas concretas, como as greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista na década de 1970. É esse o caso também de Cantos de trabalho, trilogia filmada entre 1974 e 1976, nas cidades de Chã Preta (AL), Itabuna (BA) e Feira de Santana (BA). Em cada um desses locais foram registrados trabalhadores rurais exercendo suas atividades: mutirão para amassar o barro, colheita e pisa de cacau, e colheita de cana, respectivamente. Enquanto trabalham, eles entoam cantos que atuam como marcadores rítmicos, ao mesmo tempo que firmam o lastro de sociabilidade envolvido no esforço físico coletivo. Filmados em uma linguagem que busca tempos e enquadramentos precisos para revelar o trabalho com todos os seus detalhes, os documentários são acompanhados de uma narração que enfatiza a importância do registro dessa prática cultural que, já naquela época, se encontrava em vias de desaparecer.


Fotogramas de Cantos de trabalho – Cana-de-açúcar, 1976

107


1930, Funchal, Portugal. Vive na Ilha da Madeira, Portugal

L  ourdes Castro 108

Desde a década de 1950, Lourdes Castro se dedica à criação de livros de artista, objetos, desenhos, serigrafias, vídeos e performances baseados na convivência com elementos de seu cotidiano, em especial paisagens e plantas que cultiva em sua casa-ateliê na Ilha da Madeira, Portugal. Paralelamente, o interesse por formas de desmaterialização do objeto artístico levou-a a pesquisar sombras, tema central de sua produção. Na série Sombras à volta de um centro (1980-1987), a artista pousa uma jarra com flores sobre o papel, debaixo de um foco de luz; a base da jarra é o centro das sombras que Castro contorna minuciosamente com lápis de cera, de cor ou nanquim. Esse procedimento simples dá origem a um herbário de rastros topográficos com cores que enfatizam áreas diferentes em cada peça. Outra estratégia adotada por ela é a coleta de materiais para constituir uma espécie de inventário em torno de um tema de seu interesse. Un Autre livre rouge [Um outro livro vermelho], iniciado em 1973, em parceria com Manuel Zimbro, consiste na reunião e catalogação de objetos extraídos de contextos culturais diversos, mas unidos pela característica da predominância da cor vermelha. O resultado nos põe em contato com o movimento errático no imaginário contemporâneo dessa cor carregada de simbolismos.


Detalhe de Un Autre livre rouge [Um outro livro vermelho], 1973-1974

109


1979, Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Vive em São Paulo, Brasil

L  uiz Roque 110

Enquanto o conservadorismo cresce e acirra preconceitos de raça, classe e gênero, o futuro se fortalece como lugar recorrente na obra de Luiz Roque. Não porque o artista queira se omitir sobre o presente ou exercer o progresso como forma de apagar o passado. Quando projeta a vida daqui a trinta ou sessenta anos, busca pelo que atravessa o tempo como esperança, promessa, possibilidade. No limite entre a catástrofe e a redenção – duas estruturas narrativas recorrentes na sua linguagem cinematográfica –, Roque constrói filmes que expressam a natureza inconclusa e cíclica das disputas sociais na história. Na 32ª Bienal, apresenta HEAVEN (2016), que se passa na segunda metade do século 21, quando a notícia de uma epidemia de origem desconhecida faz os órgãos de saúde levantarem a hipótese de transmissão de um vírus pela saliva de transexuais. A escolha precoce dos suspeitos repete a retórica preconceituosa e acusatória das campanhas contra a Aids na década de 1980. Os medos, portanto, persistem nessa visão do futuro, assim como uma eloquência exercida para fazer crer. A ficção científica fascina justamente por suas afirmações convictas.


Fotogramas de HEAVEN, 2016

111


1988, Auckland, Nova Zelândia. Vive em Auckland

L  uke Willis Thompson 112

Sucu Mate – Born Dead [Sucu Mate – Nascido morto] (2016) é o resultado de um longo processo de pesquisa sobre o antigo Cemitério Público de Balawa, um cemitério com um histórico de escravidão nas Ilhas Fiji, no Pacífico. Luke Willis Thompson pleiteou os direitos de custódia de uma pequena seleção de lápides dentro de uma área segregada racialmente. Em 2015, ele recebeu a aprovação oficial das instituições governamentais de Fiji para escavar materiais anônimos da seção de trabalhadores – ela mesma uma antiga plantação de cana-de-açúcar. As lápides de concreto puderam ser transportadas para fora do país de Fiji por um período de 24 meses para serem exibidas como objetos de arte, e são apresentadas aqui depois de serem mostradas em Auckland e Brisbane. O trabalho é, nesse sentido, um cemitério móvel, que questiona como as vidas humanas e corpos mortos são inscritos na ordem do poder. O projeto continuará com a repatriação das lápides para Fiji e sua reinstalação no mesmo terreno de onde foram retiradas. Desse modo, a obra simultaneamente emblematiza a continuidade histórica e a ação do deslocamento – duas operações culturais com relevância nacional, à medida que as ilhas Fiji enfrentam a mudança ecológica e a contínua submersão de suas terras baixas.


Pesquisa para Sucu Mate – Born Dead [Sucu Mate – Nascido morto], 2015

113


1965, Nova York, EUA. Vive em Nova York

L  yle Ashton Harris 114

A instalação multimídia de Lyle Ashton Harris, Uma vez, uma vez (2016), é composta por imagens de Ektachrome feitas entre 1986 e 1998, reproduções fotográficas dos diários do artista e trabalhos em vídeo realizados cotidianamente, selecionados do arquivo expansivo do artista. As composições resultantes servem não só como memoriais, mas também para evocar momentos vividos na convergência do pessoal e do político, em uma experiência dinâmica que retoma o tempo passado para impactar afetivamente o presente. Contendo testemunhos de um período de mudanças culturais sísmicas – a emergência do multiculturalismo, a segunda onda de ativismo da AIDS, e as interseções da cena da arte contemporânea com as comunidades LGBTQ e as resultantes da diáspora africana – a instalação documenta de maneira única a vida pessoal do artista, amigos, familiares e amantes, incluídos em uma paisagem social decisiva. Ao documentar momentos íntimos ao lado de fatos marcantes da história dos EUA (a Conferência de Cultura Negra Popular de 1991, a trégua entre as gangues Crips e Bloods em 1992, a exposição Black Male em 1994, e a conferência Black Nations / Queer Nations em 1995), a instalação constrói narrativas coletivas e privadas entrelaçadas por acontecimentos públicos e o domínio subjetivo, para discutir identidade, desejo, sexualidade e perda.


Gail and Alex, San Francisco, 1992, [Gail e Alex, São Francisco, 1992] da série Today I shall judge nothing that occurs: Ektachrome Archive [Hoje não julgarei nada que ocorrer: Arquivo ektachrome], 2015-2016

115


1961, São Paulo, Brasil. Vive em Berlim, Alemanha

M   aria Thereza Alves 116

A obra de Maria Thereza Alves envolve aspectos da vida atual ou vestígios encontrados no presente que apontam para ações movidas no passado. A fim de destacar a situação dos povos indígenas da América, a artista desenvolve trabalhos que abrangem questões sobre território, patrimônio cultural e história da colonização. Uma possível reversão de oportunidades perdidas (2016) promove uma discussão em torno de aspectos do conhecimento autóctone ignorados pelas instituições brasileiras e por seus pesquisadores não indígenas, devido a um imaginário ainda marcadamente colonial. A artista, junto a um grupo de estudantes universitários indígenas, impulsiona a proposição de tópicos não abordados em conferências de diversos campos de pesquisa, tais como saúde, engenharia, educação, ciência, arte, cultura e filosofia. A partir desses tópicos, que levam em consideração não só o conhecimento dos povos nativos, mas também suas demandas científicas, Alves produz cartazes para conferências fictícias, cujas datas sugerem a ideia de já terem sido realizadas. Por meio dos cartazes, sua ação busca confrontar a ausência desse debate e o silenciamento dos povos indígenas em uma sistemática exclusão de sua cultura e de seus saberes no ambiente acadêmico brasileiro e na vida pública.


Uma possĂ­vel reversĂŁo de oportunidades perdidas, 2016

117


1975, Cidade do México, México. Vive em Berlim, Alemanha, e na Cidade do México

M   ariana Castillo Deball 118

Mariana Castillo Deball trabalha no cruzamento entre campos como arqueologia, literatura e ciências, apropriando-se de metodologias e práticas comuns a estas áreas. Com frequência, atua em parceria com diferentes tipos de profissionais e instituições para o desenvolvimento de suas obras, promovendo convergências de natureza peculiar às artes visuais. Suas instalações, publicações e performances agenciam objetos e narrativas, desfazendo fronteiras categóricas e aproximando ciência e ficção. Para a 32ª Bienal, a artista trabalhou em parceria com o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e o Geopark Araripe, no Ceará, para construir a instalação Hipótese de uma árvore (2016), que consiste em uma estrutura de bambu em forma de espiral que remete a um esquema de representação evolutiva de espécies. A obra conta com dezenas de frotagens – técnica de transferência amplamente utilizada na paleontologia – feitas pela artista em papel japonês a partir de fósseis e materiais geológicos encontrados em sítios arqueológicos, coleções institucionais e fachadas de edifícios na cidade de São Paulo. Ao justapor em espiral os registros de elementos de diferentes naturezas e épocas, Deball coloca em perspectiva ideias de evolução, extinção e história.


Projeto para Hipรณtese de uma รกrvore, 2016

119


1972, Karachi, Paquistão. Vive em Nova York, EUA, e Copenhague, Dinamarca

M   aryam Jafri 120

Maryam Jafri trabalha com instalações, filmes, fotografias, textos e arquivos em projetos que utilizam o potencial crítico da arte para evidenciar ou investigar arqueologias do conhecimento, a política de imagens e a produção de espaços. Fundamentadas em pesquisas e em materiais documentais, suas obras abordam os modos de produção e de circulação de mercadorias na economia capitalista globalizada e a dimensão psicológica da cultura de consumo que esse tipo de economia provoca. Em Product Recall: An Index of Innovation [Recall de produtos: um índice da inovação] (2014-2015), Jafri investiga coleções privadas ligadas à indústria de alimentos e à publicidade. Seu interesse concentra-se em produtos que foram considerados inovadores nos Estados Unidos a partir dos anos 1970, mas que, por variadas razões, acabaram recolhidos do mercado. A esses objetos e suas imagens publicitárias a artista justapõe legendas de caráter informativo – estratégia museográfica de apresentação de artefatos e também adotada pela linguagem de apropriação da arte. A montagem limpa contrasta com o apelo visual comumente associado ao design e à publicidade desses produtos, o que faz com que tais estratégias de manipulação, produção de emoções e de desejos se neutralizem, possibilitando um distanciamento crítico.


Detalhe da instalação Product Recall: An Index of Innovation [Recall de produtos: um índex da inovação], 2014-2015

121


1979, Bayamón, Porto Rico. Vive em San Juan, Porto Rico

Mi   chael Linares 122

Michael Linares trabalha com instalação, vídeo, pintura e escultura. Sua obra volta-se, frequentemente, para a reflexão sobre o modo como um objeto pode vir a se tornar arte – ou deixar de ser arte. Linares investiga as narrativas artísticas mediante a prática da apropriação para resgatar propostas de outros artistas e reativá-las de forma crítica, utilizando, porém, o recurso do humor. Una historia aleatoria del palo [Uma história aleatória do pau] (2014) e Museu do Pau (2013-2016) fazem parte de uma extensa pesquisa do artista sobre como o mesmo objeto ou material ganha diferentes atribuições e acepções ao longo do tempo e em diversas culturas. Por meio de uma grande coleção de paus e de objetos derivados desse elemento rudimentar, incluindo um vídeo que retrata seus diferentes usos, Linares cria uma espécie de inventário que combina o gesto artístico a um sentido antropológico, interessado em interpretar a cultura em um contexto museológico específico. Linares age como o colecionador que retira as coisas de seu contexto e os insere na superfície aparentemente neutra do museu, no qual passam a se conectar com valores estéticos museológicos e se distanciam de sua qualidade utilitária.


Detalhe da instalação Museu do Pau, 2013-2016

123


1973, Tel Aviv, Israel. Vive em Tel Aviv

Mi   chal Helfman 124

Michal Helfman trabalha com escultura, desenho, instalação, performance, dança e filme. Para a 32ª Bienal, a artista apresenta a videoinstalação Running Out of History [Esgotando a história] (2015-2016), filme ficcional com roteiro baseado em entrevistas reais da artista com a ativista israelense Gal Lusky, que criou uma organização não governamental atuante em lugares nos quais a entrada de ajuda humanitária internacional é dificultada por seus regimes políticos. O filme traz uma narrativa sobre justiça, construção histórica, arte, política e práticas ativistas. As discussões giram em torno de temas como contrabando, semelhanças e diferenças entre ativistas e artistas, figuras que podem inspirar e influenciar a realidade. As conversas são moderadas por dois dados impressos em 3D, cada face contém uma palavra da frase “Não perdoaremos, não esqueceremos” – cunhada em Israel acerca do Holocausto, mas que também serviu para legitimar atos de violência praticados por autoridades estatais. Na impressora 3D, uma dançarina se movimenta de acordo com as direções da máquina. O filme é parte de uma instalação que inclui barreiras e dispositivos, como caixas de transporte e esculturas. Na antessala há uma escultura de chapa de metal com a imagem de uma balança, sugerindo um signo de ponderação, pesos e medidas ante a condição histórica e política tratada por Helfman.


Fotograma de Running Out of History [Esgotando a histรณria], 2015-2016

125


1980, Mutare, Zimbábue. Vive em Harare, Zimbábue

Mish   eck Masamvu 126

Misheck Masamvu é conhecido por suas pinturas provocadoras, que são consideradas reflexões e comentários sobre a paisagem sociopolítica pós-independência do Zimbábue e o lugar desse país no imaginário mundial. Embora tenha nascido no início do processo de independência do Império Britânico, as cenas de Masamvu visualizam um mundo caótico similar ao retratado no romance The House of Hunger (1978), do falecido escritor zimbabuense Dambudzo Marechera – o artista descreveu sua literatura como um “tratamento de choque literário”. O mesmo pode ser dito das pinturas de Masamvu: são declarações de um estado político estagnado e fraturado. Ainda que sedutoras em seu tratamento de cores e formas, podem ser lidas como uma forma de combate. A guerra aqui é tanto política como espiritual, feita para redimir a apatia humana diante do sofrimento e da dor, condições que levam à exaustão espiritual. Comissionadas pela 32ª Bienal, Midnight [Meia-noite] (2016) e Spiritual Host [Anfitrião espiritual] (2016) foram criadas em um contexto de transformação política no Zimbábue, onde protestos recentes contra o governo mostram um povo exigindo uma nova realidade.


Ngoma ndiyo ndiyo (Beating the Same Drum) [Ngoma ndiyo ndiyo (Batendo o mesmo tambor)], 2014

127


1943, Marapyane, África do Sul. Vive em Joanesburgo, África do Sul

M   makgabo Helen Sebidi 128

Nascida na vila de Marapyane, Mmakgabo Helen Sebidi aprendeu com a avó técnicas tradicionais de pintura em parede e cerâmica. Mudou-se para Joanesburgo adolescente e, entre as décadas de 1970 e 80, participou de cursos e ateliês em espaços que proporcionaram o contato com outros artistas e um ambiente politizado, o que impactaria a temática de seus trabalhos. Sebidi retrata experiências cotidianas e sabedorias ancestrais, assim como mostra o sofrimento infringido pelo contexto do apartheid, especialmente para mulheres negras. De seus professores e colegas artistas ela absorveu técnicas de colagem e elementos abstratos, gerando o emblemático díptico Tears of Africa [Lágrimas da África] (19871988), presente na 32ª Bienal. A obra, produzida em carvão, tinta e colagem, trata de conflitos continentais assim como da aspereza das relações humanas no cotidiano da cidade grande e suas decepções, agravadas pela degradação das estruturas familiares e pelo regime de segregação que vigorou oficialmente na África do Sul de 1948 a 1994. A novas obra, criada durante sua residência artística em Salvador, na Bahia, e presente na exposição, gera uma conversa entre o Brasil e o continente em que Sebidi nasceu e ativa um diálogo entre os dois trabalhos.


Detalhe de Tears of Africa [Lรกgrimas da ร frica], 1987-1988

129


1978, Cidade da Guatemala, Guatemala. Vive em Berlim, Alemanha, e na Cidade da Guatemala

N  aufus Ramírez-Figueroa 130

Ao prescindir de arquivos e documentos para a construção de sua obra, Naufus Ramírez-Figueroa procura confrontar narrativas históricas com sua memória ou testemunho, utilizando a gravura, o desenho, a instalação e a performance. Sua relação com o passado, principalmente da América Latina, se configura por meio de experiências vividas individual ou coletivamente, além de recorrentes referências aos mitos. Para a 32ª Bienal, Ramírez-Figueroa retoma a peça Corazón del espantapájaros [Coração do espantalho] (2015-2016), escrita em 1962 pelo dramaturgo guatemalteco Hugo Carrillo. A partir de um novo roteiro – inspirado no texto original e produzido pelo escritor também guatemalteco Wingston González – e em parceria com artesãos e figurinistas, Ramírez-Figueroa criou máscaras, vestuários e adereços com base nos elementos originais da obra: uma oligarca, um ditador, um soldado, um cardeal e um espantalho. Ao longo da exposição, atores reencenam, com esses objetos, trechos da peça no pavilhão e no Parque Ibirapuera. Com o projeto, o artista retoma não apenas a memória sobre a censura na Guatemala, mas o conteúdo da peça, vital para a história do teatro e da resistência política de esquerda exercida pelos artistas de seu país.


Esboço para figurino de Corazón del espantapájaros [Coração do espantalho], 2016

131


1968, Kaunas, Lituânia. Vive em Cambridge, Massachusetts, EUA / 1966, Vilnius, Lituânia. Vive em Cambridge, Masachusetts, USA

N  omeda & Gediminas Urbonas 132

Nomeda e Gediminas Urbonas desenvolvem uma pesquisa interdisciplinar na qual investigam o papel da imaginação – política, cultural, científica – como ferramenta para transformação social e discussão do espaço público. Em 2014, iniciaram o projeto Zooetics [Zooética] para explorar novas maneiras de conectar o conhecimento humano com o de outras formas de vida. É o que vemos em Psychotropic House: Zooetics Pavilion of Ballardian Technologies [Casa psicotrópica: Pavilhão zooético de tecnologias ballardianas] (2015-2016). A instalação inspira-se no livro de ficção científica Vermilion Sands (1971), do escritor inglês J. G. Ballard, que imagina um mundo no qual existiriam dispositivos tecnológicos vivos, como uma casa capaz de responder aos estados emocionais de seus habitantes. A obra apresentada na 32ª Bienal mostra uma concepção de futuro no qual casas e objetos, mais do que construídos, possam ser cultivados por seus habitantes e usuários e vice versa. Utilizando o micélio, parte do fungo responsável pela absorção de nutrientes, oxigênio e energia em uma relação simbiótica com outras culturas e materiais, os participantes podem criar seus próprios artefatos biotecnológicos (micomorfos), promovendo a interação desse fungo com, por exemplo, casca de café, bagaço de cana-de-açúcar, etc.


Vistas da instalação Psychotropic House: Zooetics Pavilion of Ballardian Technologies [Casa psicotrópica: Pavilhão zooético de tecnologias ballardianas], 2015-2016

133


Criada em 2016. Baseada em São Paulo, Brasil

Ofi   cina de imaginação política 134

Oficina de Imaginação Política é uma proposta de Amilcar Packer para a 32ª Bienal. Partindo das palavras que dão nome ao projeto – oficina, imaginação e política – e junto a um grupo de colaboradores composto por Diego Ribeiro, Jota Mombaça (Monstra Errátika), Rita Natálio, Thiago de Paula e Valentina Desideri, Packer programou sessões de trabalho, apresentações públicas e debates ao longo dos três meses de duração da exposição. A Oficina, instalada no pavilhão, reúne pesquisa, produção e aprendizado em um mesmo local, enfatizando o uso desse espaço como um lugar de convívio e elaboração coletiva de ferramentas para intervenção na esfera pública. Ao criar uma zona temporária e autônoma com os participantes, as ações concebidas pela Oficina visam ocupar espaços da cidade, do parque e das mídias, indo contra tentativas de captura e controle macropolíticos. Entendendo que há na imaginação uma potência de reinvenção de territórios conceituais e reformulação de perguntas, narrativas e práticas dentro do que compreendemos como política, e diante do atual contexto sociopolítico nacional e internacional, a Oficina busca resgatar a potência de transformar imagens em ação como ferramenta de resistência e atuação política, e como forma de requalificar a experiência com a arte.


Pesquisa para a Oficina de Imaginação Política, 2016

135


Criado em 2005, Brasil. Baseado no Rio de Janeiro, Brasil

O  PAVIVARÁ! 136

OPAVIVARÁ! é um coletivo artístico que faz uso de elementos do cotidiano para modificar a dinâmica dos espaços onde se insere. Eles intervêm em objetos e hábitos, alteram seu funcionamento e propõem outras engrenagens, cujo uso requer desaprender o que se pensava conhecido, de modo a reinserir o prazer e o afeto como valores políticos. A criação desses objetos ganha novo sentido quando são trazidos a público e habitados pelos participantes, deflagrando situações, encontros e vivências que visam gerar um curto-circuito nos valores e protocolos dos sistemas nos quais atuam, seja uma praça, seja um museu. Na 32ª Bienal, o coletivo apresenta o trabalho Transnômades (2016), um conjunto de dispositivos móveis de interação pública, que circula pela exposição, pelo parque e por pontos específicos da cidade, buscando um diálogo com as formas de expressão do comércio ambulante e dos carregadores. O OPAVIVARÁ! ressignifica os carrinhos movidos por tração humana e lhes confere usos ligados aos entretempos de trabalho dos próprios carregadores e carroceiros, transformando tais dispositivos em cama, cabana, biblioteca e carro de som. Trata-se de uma reflexão sobre a condição dos agentes nômades da cidade: sua situação vacilante entre lei e improviso, a gambiarra como prática de subsistência e seu estado permanente de migração.


Pesquisa para projeto TransnĂ´mades, 2016

137


1928, São Paulo, Brasil – 1976, Estocolmo, Suécia

Ö  yvind Fahlström 138

Öyvind Fahlström foi o primeiro a escrever uma defesa da poesia concreta. Seu ponto de partida foi a musique concrète de Pierre Schaeffer, e ele escreveu poemas para serem ouvidos como música e para tornarem a língua sueca mais complexa. Den svåra resan [A jornada difícil] (1954) foi recitada em 1972 por um coro de vozes em 18 partes, e é um exemplo de poesia concreta que toma a linguagem como material e a reduz a suas sílabas. Fahlström inventou a pintura variável em 1962 logo após se mudar para Nova York. Estes elementos pintados podiam ser anexados a um painel com ímãs, fios ou inseridos em cortes no painel. Teoricamente, esses elementos poderiam ser arranjados em qualquer configuração. Em 1965 ele expandiu a variabilidade para uma estrutura tridimensional, Sitting… Blocks [Sentando… Blocos] (1965-1966). Para Fahlström, caracteres-formas deveriam defender “algo novo e desconhecido, algo que aciona uma busca trabalhosa por palavras”. Packing the Hard Potatoes (Chile 1: Last Months of the Allende Regime. Words by Plath and Lorca) [Embalando as batatas duras (Chile 1: últimos meses do regime de Allende. Palavras de Plath e Lorca)] (1974) é uma variável situada entre as tradições surrealista e concretista. Seu tributo ao breve governo socialista de Salvador Allende no Chile integra imagens e poesia em formas derivadas de desenhos automáticos.


Vista da instalação Garden – A World Model [Jardim – Um modelo mundial], 1973

139


1984, Carolina do Norte, EUA. Vive em Nova York, EUA

P  ark McArthur 140

Ao expor discursos e estruturas que organizam os corpos e moldam subjetividades, Park McArthur materializa a política de circulação e mediação de corpos individuais e coletivos. As operações artísticas que ela realiza ocupam zonas limítrofes e tornam visíveis conflitos e negociações de poder que existem entre o público e o privado, entre um corpo e outro. Ao expor esse sistema, a artista tensiona discursos sobre acessibilidade, inclusão, proteção e cuidado. Para a 32ª Bienal, McArthur desenvolveu Sometimes You’re Both [Às vezes você é ambxs] (2016), que consiste em colunas de aço inox distribuídas entre o pavilhão e o parque e que contêm itens que intermedeiam o contato e as relações íntimas – luvas cirúrgicas estéreis e protetores de dedo. Com diferentes profundidades, as colunas regulam o acesso de acordo com as condições físicas do visitante. Os materiais contidos na instalação ficam à disposição do público e não são repostos. Ao final restará apenas a estrutura que os comporta, como um totem passível de usos espontâneos. As ideias de encontro e de separação são centrais nessa instalação, tanto na relação do corpo e de seus fluidos com o material industrial, antisséptico, como nas relações entre um corpo e outro, da instituição com o parque ou da obra com o público.


Vista da instalação Contact A [Contato A], 2015

141


1965, Espoo, Finlândia. Vive em Fagervik, Finlândia

P  ia Lindman 142

Em seus projetos, Pia Lindman utiliza-se de metodologias nativas e saberes tradicionais. Ao investigar modos alternativos de ação que superam padrões rígidos de conhecimento, ela busca repensar as convenções de comportamentos sobre como sentimos, moramos, estudamos ou nos curamos. Nose Ears Eyes [Nariz orelhas olhos] (2016) evidencia a relação ativa entre diferentes seres em um ambiente multissensorial. A obra é baseada na Kalevala finlandesa, uma tradição oral registrada pela primeira vez na idade média, mas reunida e organizada em um épico no século 19. A Kalevala reúne canções e mitos populares, cuja seção medicinal apresenta conhecimentos de práticas centenárias de comunidades rurais, inclusive diferentes técnicas de cura. Na 32ª Bienal, Lindman realiza nos visitantes um tratamento concentrado em articulações e ossos, propondo que a terapia seja uma colaboração entre corpos e mentes. O fluxo de energia também estará presente nas cores e formas dos desenhos com nanquim e pastel que surgem para a artista enquanto aplica o tratamento. O potencial de novas relações é expandido para o espaço graças à construção de cabana de barro e bambu que ramifica para uma árvore fora do pavilhão e para outros andares do edifício. Ao abrir caminhos para circulações reais e imaginárias, a artista desafia nossos sentidos e ideias de realidade para além do que é aceito ou esperado.


Projeto para Nose Ears Eyes [Nariz orelhas olhos], 2016

143


1962, Antony, França. Vive em Santiago, Chile e Nova York, EUA

P  ierre Huyghe 144

Os trabalhos de Pierre Huyghe desafiam as fronteiras entre ficção e realidade. Sua obra se materializa em meios como filme, situações ou exposições, operando, por vezes, como ecossistemas – jardins, aquários ou um museu com microclima programado. Huyghe inclui em sua prática elementos que desafiam a noção de objeto de arte. Tanto o público quanto outros organismos podem ser incorporados dentro de uma rede dinâmica a fim de criar um grande organismo vivo em constante evolução. De-Extinction [Des-extinção] (2016) é uma navegação dentro de uma pedra de âmbar, em um instante congelado no tempo, em que uma rede de relações vivas foi interrompida de forma repentina e inusitada. O filme foi feito com câmeras de controle de movimento que captam imagens microscópicas de uma amostra de âmbar – resina fóssil que mantém intactos vestígios de seres vivos por 30 milhões de anos. O que inicialmente pode se apresentar como um “cosmos” ganha outro aspecto quando o filme conduz ao que se encontra no interior da matéria translúcida, revelando formas imprecisas e texturas até focalizar um casal de insetos – da primeira espécie conhecida pela humanidade – imobilizados em um ato de possível reprodução. No espaço ao lado está De-Extinction (S.P. Evolution) [Des-extinção (S.P. Evolução)] (2016), em que insetos descendentes desta mesma espécie se auto-organizam em seu novo habitat.


Fotogramas de De-Extinction [Des-extinção], 2016

145


1988, Santiago, Chile. Vive em Santiago

P  ilar Quinteros 146

Pilar Quinteros parte de sua relação com o desenho para desenvolver ações que reconfiguram espaços públicos e paisagens por meio de intervenções nesses locais. A artista dirige sua atenção para lugares abandonados ou destruídos, a fim de promover a restauração, reconstrução, substituição ou intervir nos elementos arquitetônicos de edifícios públicos. Ela também dirige seu olhar para o escombro e a ruína, como elementos de conteúdo vivo, articulados ao tempo presente. No vídeo Smoke Signals [Sinais de fumaça] (2016), Quinteros resgata a história da expedição liderada por Percy Harrison Fawcett, em 1925, em busca de uma cidade perdida que ele chamou “Z”, supostamente situada no estado do Mato Grosso. A artista retoma um imaginário que encontra na América Latina o território fértil para descobertas de paraísos perdidos e civilizações ocultas, encenando uma busca por vestígios da cidade e forjando um encontro com suas ruínas. Quinteros questiona o relato de cunho histórico, a memória e a capacidade humana de inventar passados enfatizando o caráter frágil e ao mesmo tempo potente das narrativas de expedições como a de Fawcett ao apropriar-se de suas lacunas como possibilidades criativas.


Desenhos para Smoke Signals [Sinais de fumaรงa], 2016

147


1955, Newark, Nova Jersey, EUA. Vive em Chicago, Illinóis, EUA

P  ope.L 148

Utilizando suportes e formatos variados – performance, instalação, pintura, escultura, desenho – desde meados da década de 1970, Pope.L faz uso do humor e da irreverência como algumas de suas ferramentas críticas. A questão racial nos Estados Unidos, o reflexo das estruturas sociais sobre o espaço público e os privilégios de determinados grupos sociais estão entre seus temas centrais de pesquisa. Para a 32ª Bienal, ele desenvolveu um circuito pedonal para São Paulo na performance Baile (2016). Entre os dias 7 e 10 de setembro, um grupo de participantes caminha pela cidade atravessando regiões marcadas por profunda disparidade socioeconômica. A performance dialoga diretamente com Blink [Piscar] (2011), ação realizada em Nova Orleans, nos EUA, em referência ao furacão Katrina. Na ocasião, Pope.L reuniu voluntários para empurrar um caminhão em cuja traseira projetavam-se fotos da cidade, num alerta às necessidades de mobilização coletiva no pós-desastre.


Documentação da performance Pull! [Puxar!], 2013

149


1981, Coimbra, Portugal. Vive em Roterdã, Holanda

P  riscila Fernandes 150

Em sua produção, Priscila Fernandes reflete sobre o impacto dos contextos industrial e pós-industrial na vida dos indivíduos e em sua percepção sensorial. Em vídeos, publicações, desenhos, pinturas, performances e instalações sonoras, ela aborda as disputas sociais que estão no centro de decisões estéticas de diferentes movimentos modernos. Na 32ª Bienal, Fernandes apresenta três imagens fotográficas, um conjunto de mobiliário e um filme, que constituem a instalação GOZOLÂNDIA E OUTROS FUTUROS (2016). Realizadas por meio de um processo de técnica mista, as imagens são resultado da impressão de negativos expostos à luz, e nos quais a artista intervém por meio de pintura, perfurações e riscos. O mobiliário, um conjunto de cadeiras de praia, convida o público a um momento de pausa, embora de forma ambígua, pois, diante das obras, o visitante se encontra entre contemplação e análise, distração e atenção, descanso e trabalho. O filme, realizado inteiramente no Parque Ibirapuera, faz referência ao país da Cocanha, mito medieval sobre a existência de um lugar onde há comida abundante, clima ameno e onde o trabalho é desnecessário. A instalação articula relações entre a estética da abstração e a dicotomia trabalho/ócio, atualizando essa discussão para o contexto de hoje.


Ahahah, 2016

151


1986, Nova York, EUA. Vive em Nova York

R  achel Rose 152

Em seus vídeos e instalações, Rachel Rose constrói narrativas por meio de processos de edição, utilizando a livre e abundante circulação e associação de vídeos e imagens. A sobreposição de camadas, procedimento comum à pintura, é aplicada aqui a arquivos digitais, criando uma imagem híbrida com forte potencial sinestésico. A Minute Ago [Um minuto atrás] (2014) é uma reflexão sobre a experiência da catástrofe, que mescla um vídeo encontrado no YouTube de uma súbita tempestade de granizo em uma praia com relatos do arquiteto americano Philip Johnson em sua Casa de Vidro, que, por sua vez, são confrontados com a reprodução da pintura O funeral de Phocion (1648), do francês Nicolas Poussin, entre outros elementos. Também na 32ª Bienal, Everything and More [Tudo e mais um pouco] (2015) explora a sensação de total descolamento da Terra relatada por um astronauta. Rose expressa a ideia de infinito por meio de abstrações criadas com experimentos químicos de substâncias cotidianas, justapostas às imagens feitas em um centro de treinamento de astronautas. Os limites entre dentro/fora, frente/verso, peso/leveza são testados pela artista até que não se reconheçam mais suas distinções – como a presença do Parque Ibirapuera, cuja vista funde-se à instalação.


Fotogramas de A Minute Ago [Um minuto atrรกs], 2014

153


1983, Ashqout, Líbano. Vive em Beirute, Líbano

R  ayyane Tabet 154

Produzido para a 32ª Bienal, o projeto Sósia (2016 em curso), de Rayyane Tabet, tem como ponto de partida uma ficção do artista sobre a diáspora libanesa no Brasil e a narrativa que a envolve, culminando na esperança de um eventual retorno e resgate. O trabalho consiste na encomenda da tradução do português para o árabe do romance Um copo de cólera (escrito em 1970 e publicado em 1978), do escritor brasileiro Raduan Nassar, filho de imigrantes libaneses, e na publicação do livro em Beirute. A tradução foi feita por Mamede Jarouche, tradutor da primeira edição completa em português do livro As mil e uma noites, e será publicada pela editora libranesa Al-Kamel Verlag. O trabalho de Tabet pode ser visto como uma colaboração circular entre o artista, o autor, o tradutor e a editora; um encontro entre narrativas e pessoas. O próprio artista assume o papel de provocador, que leva adiante uma ideia com potencial de transformar a compreensão cultural de duas sociedades relacionadas, mas distintas. Na exposição, pode-se ouvir em diversos lugares uma gravação de Tabet lendo em árabe o famoso capítulo “O esporro”. A história de Nassar foi escrita no auge da ditadura militar no Brasil e fala de amor, desejo e raiva.


155


1970, Aalborg, Dinamarca. Vive em Copenhague, Dinamarca, e Berlim, Alemanha

Rikk   e Luther 156

Em Overspill: Universal Map [Transbordamento: Mapa universal] (2016), Rikke Luther explora a natureza orgânica e concreta do mundo e apresenta o resultado de uma pesquisa que mescla interesses diversos e faz referência ao colapso das utopias modernas. A instalação é composta por painéis de azulejos com desenhos em diagramas, relacionando paisagens naturais e catástrofes ambientais com os Bens Globais Comuns (oceano, atmosfera, espaço sideral e Antártida), cuja exploração é regulada por acordos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde a Segunda Guerra Mundial. Encontramse ainda na instalação amostras de petróleo e de lama tóxica recolhida em Mariana, Minas Gerais. Ao lado desses elementos que investigam nossas relações com os lugares que habitamos (casa, Estado, planeta), encontra-se uma cultura de mixomicetos, seres cuja classificação biológica é incerta. Dotados de um tipo peculiar de inteligência, são capazes de se auto-organizarem em redes e se alimentarem de metais pesados, podendo assim despoluir solos contaminados. Completa esse conjunto a escultura de um fóssil de prototaxites – possível ancestral dos fungos que habitou a Terra há cerca de 400 milhões de anos. Esses seres podem remeter a uma era na qual dominavam o mundo outras formas de inteligência.


Detalhe de diagrama para a instalação Overspill: Universal Map [Transbordamento: Mapa universal], 2016

157


1982, Lima, Peru. Vive na Cidade do México, México

Ri   ta Ponce de León 158

Rita Ponce de León cria instalações que envolvem o público, instigando os visitantes a experimentar diferentes atitudes corporais e modos de se relacionar com os sentidos e com o coletivo. Seus projetos reúnem desenhos, esculturas e propostas de diálogos que desencadeiam trocas entre os corpos, reinventando os espaços. En forma de nosotros [Na forma de nós mesmos] (2016) convida os visitantes a colocarem seus braços, pernas, pés, rosto e tronco em cavidades de uma estrutura coberta de barro. As posições indicadas foram criadas com base em exercícios de movimentos guiados pela bailarina Emile Sugai e, em seguida, os moldes dos espaços a serem preenchidos foram desenvolvidos a partir dos corpos de diferentes colaboradores, que fazem parte do programa educativo da 32ª Bienal. Assim, a artista cria uma paisagem comum para que nos coloquemos em posturas variadas que induzem a uma percepção do que carregamos, sustentamos e levamos adiante por meio de nosso corpo. O espaço escultórico abriga áudios que descrevem o que seriam jornadas vividas por sementes, como suas ligações com a terra e suas germinações, e desenhos que evocam a ideia de movimento no interior da imagem. Em uma tentativa de desorganizar estados de consciência e hábito automatizados, Ponce de León propõe que nossos pensamentos e sensações ressoem, sejam compartilhados e se transformem.


Da série Intercambios [Intercâmbios], 2015-2016

159


1972, Agrigento, Itália. Vive em Berlim, Alemanha

R  osa Barba 160

O filme é o meio e a matéria-prima dos trabalhos de Rosa Barba. Com sua câmera, a artista persegue os vestígios deixados pela ação do homem na paisagem, e tenta entender como eles se relacionam com a realidade – como se inscrevem no inconsciente e como se manifestam coletivamente numa sociedade. O filme Disseminate and Hold [Disseminar e reter] (2016) estabelece um diálogo com os conteúdos e os sentidos imaginários impregnados na construção conhecida como Minhocão, o elevado de concreto de 3,5 quilômetros construído na cidade de São Paulo em 1970, durante a ditadura militar. As instalações e obras site-specific da artista conjugam imagem, som e texto. Ela cria espaços que representam um estado mental de suspensão, situações liminares em que política e poesia não se separam. Os mecanismos de projeção, incluindo a própria película em celulose, tornam-se esculturas performativas, atores de seus trabalhos. A instalação White Museum (São Paulo) [Museu branco (São Paulo)] (2010/2016) é uma projeção de luz branca sobre a rampa de entrada do Pavilhão da Bienal, cujo enquadramento, comum à fotografia e ao cinema, torna-se uma presença física, um quadro aberto que proporciona a experiência imagética do espaço e a interferência dos passantes.


Vista da instalação White Museum (Hirsch Observatory) [Museu branco (observatório Hirsch)], 2010/2015

161


1980, Aberdeen, Reino Unido. Vive em Glasgow, Reino Unido

R  uth Ewan 162

O modo como ideias ganham corpo e transformam a realidade em contextos específicos é um dos focos de interesse de Ruth Ewan, cujos projetos são baseados em pesquisas de arquivo, colaboração com especialistas, catalogação e ressignificação de objetos e documentos históricos. Tais estratégias são utilizadas por Ewan para refletir política e criticamente, no presente, sobre o passado da modernidade europeia. Back to the Fields [Volta ao campo] (2015/2016) faz referência ao Calendário Republicano Francês, instituído entre 1793 e 1805, como uma forma de organizar o tempo a partir de princípios racionais, abandonando a influência religiosa do calendário gregoriano. O sistema de subdivisão do ano em dias, semanas e meses foi alterado para uma estrutura decimal e os nomes dos meses e dias modificados, remetendo a aspectos do clima e da agricultura de cada época do ano. O Calendário Republicano Francês é composto por doze meses de trinta dias. Cada mês é dividido em três semanas, cada semana possui dez dias. Os últimos cinco (ou seis) dias do calendário são dias festivos. A obra questiona a relação que mantemos com a temporalidade e a vida, quando a noção de tempo já não se refere a nenhuma experiência concreta com o mundo natural, tornando-se uma unidade de medida abstrata reguladora de nossas atividades.


Detalhe da instalação Back to the Fields [Volta ao campo], 2015

163


1971, Ludwigsburgo, Alemanha. Vive em Frankfurt, Alemanha

S  andra Kranich 164

Interessada por geometrias complexas e suas transformações no tempo e no espaço, Sandra Kranich utiliza fogos de artifício em suas esculturas, quadros e instalações desde o final dos anos 1990. A pirotecnia é um espetáculo momentâneo e altamente sensorial que divide claramente nossa percepção em antes, durante e depois. São eventos que duram poucos minutos e ficam gravados na memória do espectador, mas que nas exposições geralmente permanecem visíveis apenas como rastros e resquícios. Dentro do contexto de um museu ou galeria, a prática de Kranich critica a lógica baseada na estabilidade, e, em vez disso, se refere incansavelmente ao momento da transformação e do acaso. Seus trabalhos tornam difusas as fronteiras entre criação e destruição, construção e desconstrução. Para a 32ª Bienal, Kranich desenvolveu uma série de quadros de metal geométricos e coloridos intitulados R. Relief, 7, 8, 9, 10 [R. Relevo, 7, 8, 9, 10] (2016), e Times Wire [Fio dos tempos] (2010), obra formada por quadros tricotados, feitos de fios elétricos. Ambos são equipados com explosivos cuidadosamente conectados entre si para que sejam incendiados pela artista de forma coreografada. A queima dos fogos de artifício ocorre na abertura da exposição, confrontando o espectador com uma apresentação claramente marcada pela força transformadora da explosão.


Vistas da instalação Echo Return 1, 2 [Retorno do eco], 2014

165


1935, Rio de Janeiro, Brasil. Vive no Rio de Janeiro

S  onia Andrade 166

Com uma produção pioneira em vídeo nos anos 1970, Sonia Andrade agrega em sua trajetória a arte-correio, o desenho, a fotografia e a instalação. Sua obra acontece independentemente das regras do mercado ou do sistema da arte brasileira vigentes naquele período. Seus vídeos experimentais colocam o corpo no centro da ação, construída na relação direta com a televisão como meio. Sem espetacularização, seu corpo entra em confronto com a tela e com o aparelho, ora disposto no centro da imagem, ora introduzido em uma gaiola – uma metáfora para a imagem televisiva como aprisionamento. Andrade participa da 32ª Bienal com o trabalho Hydragrammas (19781993), um conjunto de cerca de cem objetos e suas respectivas reproduções, construídos com materiais coletados e que organizam o vocabulário de formas da arte e da vida cotidiana. Os objetos derivam de uma espécie de escrita na qual os caracteres são coisas encontradas no mundo, matéria de descarte para a qual a artista dá novo lugar e significado. Formado a partir do neologismo que une o nome de uma escrita e o de um monstro híbrido indomável (a Hidra de Lerna), Hydragrammas é o entrecruzamento de palavras e imagens, um alfabeto imagético.


Vista da instalação Hydragrammas, 1978-1993

167


1977, Sidney, Austrália. Vive em Melbourne, Austrália, e Londres, Reino Unido

S  usan Jacobs 168

A obra de Susan Jacobs evoca imaginários relativos à alquimia e à magia, tornando fenômenos físico-químicos em agentes de transformação dos materiais com os quais trabalha em suas esculturas, instalações e vídeos. Through the Mouth of the Mantle [Através da boca do manto] (2016) é uma instalação que parte de experimentos caseiros em que corpos inanimados parecem ganhar vida de forma mágica. Por meio do deslocamento desse mecanismo, a artista mostra que as relações entre espécies, sistemas e gestos são capazes de nos fazer reconhecer vida em formas consideradas mortas, desarticulando certezas fundamentais. Em um tipo de arena estruturada em blocos de areia comprimida, Jacobs reúne uma série de pequenos experimentos, vídeos, esculturas e objetos, dentre eles: uma pá em forma de cabeça de lula, sendo corroída por gálio; elemento químico que também está presente em uma xícara que, ao girar sobre uma plataforma de mármore, forma um espelho parabólico; vídeos que mostram tinta de lula movendo-se no convés de um barco; a cabeça desse molusco girando sobre um disco de mármore; e o experimento caseiro “black snake” [serpente de faraó]. Observá-los e entendê-los como parte de um todo é algo que desafia nossas noções acerca do que vemos, percebemos e sentimos.


Pesquisa para Through the Mouth of the Mantle [AtravĂŠs da boca do manto], 2016

169


1986, Lawrence, Kansas, EUA. Vive em Filadélfia, Pensilvânia, EUA / 1983, Sansepolcro, Itália. Vive em St-Erme, França, e Londres, Reino Unido

Till Mycha Helen Stuhr-Rommereim & Silvia Mollicchi 170

Till Mycha é uma dupla de escritoras e pesquisadoras interessadas nos recentes desenvolvimentos da psicodelia como método e modo de pensamento. Embora exista como agente independente, Till Mycha possui um contínuo envolvimento com a plataforma de publicação Fungiculture (www.fufufo. com). Para a 32ª Bienal, o Till Mycha apresenta The First Decade of June [A primeira década de junho] (2016), um texto com estrutura em torno de algumas cenas do épico Odisseia, de Homero (século 8 a.C.), mas se valendo de um imaginário muito mais amplo, que desfamiliariza o mito original e usa a forma épica para iniciar uma reflexão sobre a aventura. Embora narre um conjunto de encontros em espaços abstratos que apresentam ambientes, tarefas e entidades pensantes não familiares, o texto explora o que poderia constituir uma estética da aventura e como isso pode ser posto em funcionamento para produzir um novo imaginário coletivo. Operando sobre a Odisseia como narrativa fundadora da cultura helenística e europeia, o método psicodélico de Till Mycha permite aqui forjar outras perspectivas e visões através das quais novas relações com o mito e a cosmogonia possam vir a existir.


Panfleto impresso de Manifesto for a Psychedelic Method – A Set of Stories [Manifesto por um método psicodélico – Um conjunto de histórias], 2015

171


1974, Durban, África do Sul. Vive em Joanesburgo, África do Sul

Tracey Rose 172

Inspirada por A Dream Deferred [Um sonho adiado], um poema de Langston Hughes – poeta que escreveu no período do movimento norte-americano dos 1920 conhecido como Renascimento do Harlem –, a série de esculturas de Tracey Rose, intitulada A Dream Deferred (Mandela Balls) [Um sonho adiado (Bolas de Mandela)] (2013 em curso) é construída como um comentário à lenta desintegração de ideais defendidos na construção de uma nova África do Sul. Em seu poema, Hughes pergunta se um sonho adiado definha como uma uva ao sol. A imagem da uva passa é interpretada por Rose, que constrói bolas usando materiais pouco convencionais: papel de açougue, fita adesiva, filme de PVC, papel jornal, toalhas de papel, cola etc. As bolas carregam acúmulos de toda uma vida e geram incertezas arrastadas com esforço por um país ainda em construção. O trabalho faz referência aos testículos de Mandela: seu legado real e mitificado. Também alude ao ato da castração ou esmagamento dos testículos de homens africanos durante o período colonial. O trabalho ainda está em andamento e resultará em um total de 95 edições, idade de Mandela na ocasião de sua morte.


A Dream Deferred (Mandela Balls), 4 / 95 Genghis Khan Cack Handed Sperm [Um sonho adiado (Bolas de Mandela), 4 / 95 Esperma do pau manipulado do Genghis Khan], 2014

173


1955, Zurique, Suíça. Vive em Zurique / 1980, Campinas, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo, Brasil, e Quito, Equador

U  rsula Biemann & Paulo Tavares 174

Selva jurídica se baseia em pesquisas realizadas nas fronteiras da floresta tropical equatoriana, na transição entre as várzeas do Amazonas e a cordilheira dos Andes. Essa zona fronteiriça é uma das regiões de maior biodiversidade e mais ricas em recursos do planeta, e atualmente se encontra sob pressão da drástica expansão das atividades de extração mineral e petrolífera em grande escala. Guiando a obra, há uma série de casos jurídicos históricos que trazem a floresta e seus líderes indígenas, advogados e cientistas ao tribunal – incluindo um processo particularmente paradigmático, recentemente ganho pelo povo de Sarayaku, cujo caso argumentou pela centralidade da “Floresta Viva” na cosmologia, no modo de ser e na sobrevivência ecológica dessa comunidade. Nesses conflitos, a natureza aparece já não como cenário de disputas políticas, e sim como sujeito dotado de direito em seus próprios termos.


Pesquisa para Selva jurĂ­dica, 2014

175


1936, Junín, Argentina – 2002, Buenos Aires, Argentina

Víctor Grippo 176

As instalações de Víctor Grippo são compostas de objetos do cotidiano, como alimentos, mesas, ferramentas de trabalho, que são deslocados de suas funções habituais e dispostos de modo a gerar sistemas que seguem uma lógica própria. Na criação desses sistemas, o artista se baseia na ideia alquímica de analogia, projetando sentidos ocultos nas propriedades físicas dos elementos e das matérias. Em Analogía I, (2da. versión) (1970/1977), a mesa e a terra sugerem a ideia de um ciclo: a energia contida nas batatas sobre a mesa retorna à terra e se renova para se transformar, novamente, em energia e alimento. Em Naturalizar al hombre, humanizar a la naturaleza, ou Energía vegetal [Naturalizar o homem, humanizar a natureza, ou Energia vegetal] (1977), observa-se sobre uma mesa batatas e um conjunto de frascos de laboratório contendo líquidos coloridos, que representam distintas propriedades e estágios de transformação física da matéria. Nessas obras, a constatação da existência de energia nas batatas – e de que ela é liberada em seu processo de putrefação – permite imaginar a consciência humana como energia produzida e transformada coletivamente no tempo. Assim, mediante interpretações analógicas, ampliamos nossa consciência sobre o mundo e sobre o modo como podemos agir para modificá-lo.


Vista da instalação Naturalizar al hombre, humanizar a la naturaleza, ou Energía vegetal [Naturalizar o homem, humanizar a natureza, ou Energia vegetal], 1977

177


Criado em 1986. Baseado em Olinda, Pernambuco, Brasil

Vídeo nas Aldeias 178

Há três décadas o Vídeo nas Aldeias tem mobilizado debates centrais aos povos indígenas e à produção e difusão audiovisual. O projeto tem como um de seus objetivos a formação de realizadores indígenas, desestabilizando narrativas forjadas com base no olhar externo. Questões éticas e escolhas estéticas são entrelaçadas em seus projetos, que tratam de assuntos como rituais, mitos, manifestações culturais e políticas, e experiências de contato e conflito com os brancos. Fundado pelo indigenista Vincent Carelli, Vídeo nas Aldeias capta recursos e circula seus trabalhos, realiza exibições em comunidades indígenas, festivais de cinema, televisão, internet e elabora materiais didáticos. Para a 32ª Bienal, Ana Carvalho, Tita e Vincent Carelli criaram a instalação inédita O Brasil dos índios: um arquivo aberto (2016), que configura um espaço de imersão em imagens, gestos, cantos e línguas de vinte povos distintos, entre eles os Xavante, Guarani Kaiowá, Fulni-ô, Gavião, Krahô, Maxakali, Yanomami e Kayapó. Reunidos por sua força discursiva e imagética, os trechos constituem mais um ponto de resistência coletiva às tentativas de invisibilidade e apagamento de grupos indígenas e provocam uma ampla reflexão sobre alteridade e convenções de perspectivas culturais.


Fotograma de Ritual Kateoku; povo Enawenê-Nawê, 1995-1996

179


1986, São Paulo, Brasil. Vive no Rio de Janeiro, Brasil

Vivian Caccuri 180

Vivian Caccuri utiliza o som para entrecruzar experiências de percepção sensorial com questões de cunho histórico e social. Por meio de objetos, instalações e performances, seu trabalho cria situações em que o desordenamento da experiência cotidiana abre espaço para que se desnaturalizem também certos significados e narrativas aparentemente tão fixos quanto a estrutura perceptiva. Na 32ª Bienal, a artista apresenta TabomBass (2016), um sistema de som feito com alto-falantes empilhados, como ocorre em festas de rua. Diante deles, velas acesas dançam com o ar deslocado pelo ritmo de sons graves – linhas de baixo compostas por artistas da cidade Acra, em Gana, que colaboraram com Caccuri, depois de um período de pesquisa nesse país. Acra recebeu grupos de afro-brasileiros após a Revolta dos Malês, levante de escravos ocorrido em 1835 em Salvador. Hoje, seus descendentes são conhecidos como “tabom” – pois, por não conhecerem os idiomas locais, respondiam com a expressão “tá bom” ao que lhes era perguntado. Com esse pano de fundo histórico, Caccuri busca ampliar os vínculos e os sentidos para pensar o trajeto África-América, propondo encontros nos quais músicos e performers brasileiros improvisam a partir dos graves africanos e realizam, nesse atravessamento, uma produção híbrida.


Maquete para TabomBass, 2016

181


1934, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Vive no Rio de Janeiro, Brasil

Wilma Martins 182

Wilma Martins relaciona-se com seu entorno por meio de desenhos, gravuras e pinturas. Na série Cotidiano (1975-1984), seu processo de trabalho consiste em vários estágios, nos quais desenhos e pinturas vêm de e voltam para seus cadernos, como revisitações – ora os desenhos são esboços de pinturas posteriores, ora são registros de uma composição que já nasceu na tela. Os espaços domésticos, aparentemente ordinários, são habitados por animais silvestres e cobertos por matas e rios que “esparramam-se” ou surgem por frestas do dia a dia, como uma pia repleta de louça e as dobras de um cobertor. Jogando com escalas e cores, a artista torna visível a coexistência de universos supostamente incompatíveis. Em sua obra, o que poderia estar à espreita no inconsciente emerge para atravessar inesperadamente a rotina e ocupá-la com uma atmosfera insólita. Morando no Rio de Janeiro desde a década de 1960, Martins contempla vistas a partir de sua casa, hábito que cultiva para criar as telas das paisagens. Em Santa Teresa com elefantes (1984) e Rio de Janeiro com cristais (1986), são retratadas novas possibilidades de revelação ou perturbação em meio à vegetação exuberante e às construções urbanas de lugares supostamente triviais.


Da sĂŠrie Cotidiano, 1982

183


1927, Rio de Janeiro, Brasil. Vive no Rio de Janeiro

Wlademir Dias-Pino 184

Wlademir Dias-Pino é artista, poeta, desenhador gráfico, vitrinista. Na década de 1940, fez suas primeiras incursões na poesia, e ao longo das décadas de 1950 e 60 participou da fundação dos movimentos Poema / Processo e Intensivismo. Ao propor uma leitura do mundo a partir das imagens, sua prática desafia a relação entre imagem e linguagem. Na 32ª Bienal, o artista apresenta um recorte da Enciclopédia Visual Brasileira (1970-2016), uma espécie de inventário de imagens que contém 1001 volumes divididos em 28 séries. As imagens são compostas a partir de conteúdos apropriados de várias origens e épocas. Dias-Pino trabalha essa iconografia por meio de colagem, recorte, xerox, sobreposição e manipulação digital. O resultado são figuras com tratamento industrial, constituídas de múltiplas camadas: um repositório de conteúdos visuais formados por um amálgama de imagens entre formas e cores empregadas pelo artista. Outdoors (2015-2016), por sua vez, é constituído por uma série de placas com abstrações geométricas produzidas a partir de paisagens, entre elementos arquitetônicos e hábitos sociais. As placas estão dispostas em diversos pontos do Parque Ibirapuera.


Da série Enciclopédia Visual Brasileira, 1970-2016

185


1969, Donostia-San Sebastián, Espanha. Vive em Donostia-San Sebastián e Barcelona, Espanha

Xabier Salaberria 186

Xabier Salaberria trabalha com escultura, arquitetura e design industrial, recombinando suas sintaxes. Ele explora processos de formalização, assim como o potencial desses meios para além da arte, devido a seus contextos materiais, ideológicos e institucionais inconstantes. Oscilando entre ser signo e matéria, arte e outra coisa diferente de arte, seus trabalhos se abrem à contemplação como objetos ou situações deslocados ou mesmo intransigentes. Uma espécie de ponto de fuga daquilo que normalmente são e das normas que adotam, seus trabalhos questionam seu tempo e seu lugar na história. No Pavilhão Ciccillo Matarazzo, que desde 1957 recebe a Bienal de São Paulo, o artista explora relações entre a arquitetura do edifício e a realidade do seu entorno, assim como mobiliza elementos locais da cidade de São Paulo e da história da própria Bienal. A instalação Restos materiales, obstáculos y herramientas [Restos materiais, obstáculos e ferramentas] (2016) trata daquilo que Salaberria define como a “materialidade abstrata” dos objetos, alguns mais reconhecíveis que outros, que condicionam e alteram a circulação das pessoas no espaço, provocando conexões inesperadas entre os visitantes, os objetos e o lugar. Imagens e elementos de diferentes naturezas buscam ampliar o contexto expositivo, prolongando os limites da sala de exposição em direção à cidade e à rua.


4ª Bienal de São Paulo em 1957, inundação no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, imagem de pesquisa para Restos materiales, obstáculos y herramientas [Restos materiais, obstáculos e ferramentas], 2016

187


188


189


créditos de imagem 27

29

31

33

Alia Farid Ma’arad Trablous Cortesia: Galerie Imane Fares, Paris Imagem: Alia Farid Alicia Barney Valle de Alicia Coleção: Yamile Velosa / Maria Belén Saes de Ibarra / Departamento Cultural Universidad Nacional de Colômbia Imagem: Alicia Barney Ana Mazzei Avistador de pássaros Coleção da artista Cortesia: Galeria Jaqueline Martins, São Paulo Imagem: Eduardo Ortega Anawana Haloba This and Many More Cortesia: da artista e Sharjah Art Foundation, Al Mareija. Imagem: Anawana Haloba

Antonio Malta Campos 35 Dimensão Coleção do artista Cortesia: do artista Imagem: Antonio Malta Campos Mapa-múndi Coleção do artista Cortesia: do artista Imagem: Antonio Malta Campos

37

Bárbara Wagner Estás vendo coisas Cortesia: Solo Shows, São Paulo Imagem: Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

190

39

Bené Fonteles Antes arte do que tarde Imagem: Milton Mendes

Carla Filipe 41 Saloio Coleção da artista Cortesia: da artista e Galeria Murias Centeno, Lisboa Imagem: Pedro Magalhães e Susana Pomba

43

45

47

49

51

53

Carlos Motta Towards a Homoerotic Historiography #1 #6 Cortesia: do artista e P.P.O.W., Nova York Imagem: Carlos Motta Carolina Caycedo Yuma, Elwha, Yaqui Cortesia: Instituto de Visión, Bogotá Imagem: Carolina Caycedo Cecilia Bengolea & Jeremy Deller Bombom’s Dream Imagem: Cecilia Bengolea & Jeremy Deller Charlotte Johannesson No Future Cortesia: da artista Imagem: Charlotte Johannesson Cristiano Lenhardt Uma coluna Cortesia: do artista Imagem: Cristiano Lenhardt Dalton Paula Rota do tabaco Cortesia: Sé Galeria, São Paulo Imagem: Paulo Rezende


55

57

59

61

63

65

67

69

71

Dineo Seshee Bopape We Need the Memories of All Our Members Cortesia: da artista Imagem: Hordalend Kunstsenter

73

Donna Kukama What We Caught We Threw Away, What We Didn’t Catch We Kept Cortesia: da artista Imagem: Christine Clinckx Ebony G. Patterson ...they were discovering things and finding ways to understand... (...when they grow up...) Cortesia: da artista e Monique Meloche Gallery, Chicago Imagem: Ebony G. Patterson Eduardo Navarro Sound Mirror Cortesia: do artista Imagem: Eduardo Navarro

75

77

Em’kal Eyongakpa Breathe II Cortesia: do artista Imagem: Em’kal Eyongakpa

79

Erika Verzutti Ouro branco Cortesia: Galeria Fortes Vilaça, São Paulo Imagem: Ding Musa

81

Felipe Mujica Untitled (El Quisco) Cortesia: do artista Imagem: Felipe Mujica Francis Alÿs In a Given Situation Cortesia: do artista Imagem: Francis Alÿs Frans Krajcberg Sem título (Gordinhos) Imagem: Frans Krajcberg

Gabriel Abrantes Os humores artificiais Coleção: Fundação de Serralves, Porto e Colección Intelcom de Arte Contemporáneo, Madri Cortesia: do artista Imagem: Gabriel Abrantes Gilvan Samico A Ascensão Coleção: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife Cortesia: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife Imagem: Gilvan Samico Grada Kilomba The Desire Project Imagem: Grada Kilomba Güneş Terkol The Girl Was Not There Cortesia: da artista Imagem: Ozan Eras Heather Phillipson TRUE TO SIZE Arts Council Collection, Londres Cortesia: da artista e Arts Council Collection, Londres Imagem: Heather Phillipson / Arts Council Collection, Londres

Henrik Olesen 83 4 Cortesia: do artista e Galerie Buchholz, Berlim/Colônia/Nova York Imagem: Galerie Buchholz

85

Hito Steyerl Factory of the Sun Cortesia: da artista e Andrew Kreps Gallery, Nova York Imagem: Manuel Reinartz

191


87

89

91

Iza Tarasewicz TURBA, TURBO Coleção: Zachęta Narodowa Galeria Sztuki, Varsóvia Cortesia: da artista e Zachęta Narodowa Galeria Sztuki, Varsóvia Imagem: Maciej Landsberg Jonathas de Andrade O peixe Imagem: Jonathas Andrade Jordan Belson Brain Drawings EW.0109 Coleção: Catherine Heinrich Cortesia: Catherine Heinrich Imagem: Jordan Belson

Jorge Menna Barreto 93 Restauro Imagem: Joélson Bugila

95

José Antonio Suárez Londoño Planas: del 1 de enero al 31 de diciembre del año 2005 Cortesia: do artista e Galería Casa Riegner, Bogotá Imagem: Miguel Suárez

José Bento 97 Chão Imagem: Eduardo Eckenfels e Eduardo Ortega

99

101

Kathy Barry 12 Energy Diagrams Cortesia: da artista Imagem: Kathy Barry Katia Sepúlveda Dispositivo doméstico Cortesia: da artista Imagem: Katia Sepúlveda

192

Koo Jeong A 103 ARROGATION Cortesia: da artista Imagem: Koo Jeong A EVERTRO Cortesia: da artista Imagem: Koo Jeong A Lais Myrrha 105 Estados intermediários Cortesia: da artista Imagem: Lais Myrrha Leon Hirszman 107 Cantos de trabalho – Cana-de-açúcar Cortesia: Família Leon Hirszman Imagem: Leon Hirszman Cantos de trabalho – Mutirão Cortesia: Família Leon Hirszman Imagem: Leon Hirszman Lourdes Castro & Manuel Zimbro 109 Un Autre livre rouge Coleção de Lourdes Castro Cortesia: Lourdes Castro Imagem: Carlos Azevedo Luiz Roque 111 HEAVEN Cortesia: do artista Imagem: Joana Luz

113

115

Luke Willis Thompson Sucu Mate – Born Dead Cortesia: do artista; Hopkinson Mossman, Auckland; Nagel Draxler, Colônia Imagem: Luke Willis Thompson Lyle Ashton Harris Today I shall judge nothing that occurs: Ektachrome Archive: Gail and Alex, San Francisco, 1992 Cortesia: do artista; David Castillo Gallery, Miami; MM Gallery, Bruxelas Imagem: Lyle Ashton Harris Studio


117

119

121

Maria Thereza Alves Uma possível reversão de oportunidades perdidas Imagem: Kai-Morten Vollmer Mariana Castillo Deball Hipótese de uma árvore Imagem: Mariana Castillo Deball Maryam Jafri Product Recall: An Index of Innovation Cortesia: Galleria LaVeronica, Modica Imagem: Phillip Hänger

Nomeda & Gediminas Urbonas 133 Psychotropic House: Zooetics Pavilion of Ballardian Technologies Cortesia: dos artistas Imagem: Nomeda Urbonas / Urbonas Studio Oficina de Imaginação Política 135 Imagem: Oficina de Imaginação Política OPAVIVARÁ! 137 Transnômades Cortesia: dos artistas Imagem: OPAVIVARÁ!

Michael Linares 123 Museu do Pau Cortesia: do artista e Galería Agustina Ferreyra, San Juan Imagem: José López Serra

Öyvind Fahlström 139 Garden – A World Model Coleção Sharon Avery-Fahlström Cortesia: The Öyvind Fahlström Foundation Imagem: Tony Coll © 2016 Sharon Avery-Fahlström

Michal Helfman 125 Running Out of History Cortesia: da artista e Sommer Contemporary Art, Tel Aviv Imagem: Asi Oren

141

Park McArthur Contact A Coleção Eleanor e Bobby Cayre Cortesia: da artista; ESSEX STREET, Nova York; Lars Friedrich, Berlim Imagem: Mark Blower

Misheck Masamvu 127 Ngoma ndiyo ndiyo (Beating the Same Drum) Cortesia: do artista e Black Projects, Cidade do Cabo Imagem: Blank Projects

Pia Lindman 143 Nose Ears Eyes Imagem: Pia Lindman

Mmakgab0 Helen Sebidi 129 Tears of Africa Coleção da artista Cortesia: da artista Imagem: Mmakgabo Helen Sebidi

Pierre Huyghe 145 De-Extinction Cortesia: do artista e Hauser & Wirth, Londres Imagem: Pierre Huyghe

131

Naufus Ramírez-Figueroa Corazón del Espantapájaros Cortesia: do artista Imagem: Naufus Ramírez-Figueroa

Pilar Quinteros 147 Smoke Signals Cortesia: da artista magem: Pilar Quinteros

193


Pope.L 149 Pull! Cortesia: do artista Imagem: Pope.L

Sonia Andrade 167 Hydragrammas Cortesia: da artista Imagem: Vicente de Mello

Priscila Fernandes 151 Ahahah Cortesia: da artista Imagem: Priscila Fernandes

Susan Jacobs 169 Through the Mouth of the Mantle Cortesia: da artista Imagem: Susan Jacobs

Rachel Rose 153 A Minute Ago Cortesia: Gavin Brown’s Enterprise, Nova Yok; Pilar Corrias Gallery, Londres Imagem: Rachel Rose Rayyane Tabet 155 Nota sobre Sósia

171

Till Mycha (Helen Stuhr-Rommereim & Silvia Mollicchi) Manifesto for a Psychedelic Method – A Set of Stories Cortesia: das artistas Imagem: Till Mycha

Rikke Luther 157 Overspill: Universal Map Cortesia: da artista Imagem: Rikke Luther

Tracey Rose 173 A Dream Deferred (Mandela Balls), 4 / 95 Genghis Khan Cack Handed Sperm Cortesia: da artista e Dan Gunn, Berlim Imagem: Tracey Rose

Rita Ponce de León 159 Intercambios Cortesia: da artista e 80M2 Galería Livia Benavides, Lima Imagem: Rafael Nolte

Ursula Biemann & Paulo Tavares 175 Selva jurídica Cortesia: dos artistas Imagem: Ursula Biemann e Paulo Tavares

Rosa Barba White Museum (Hirsch Observatory) Cortesia: da artista Imagem: Rosa Barba

Víctor Grippo 177 Naturalizar al hombre, humanizar a la naturaleza, ou Energía vegetal Imagem: Rômulo Fialdini

161

Ruth Ewan 163 Back to the Fields Cortesia: Camden Arts Centre, Londres Imagem: Marcus J Leigh Sandra Kranich 165 Echo Return 1,2 Cortesia: da artista e PPC, Philipp Pflug Contemporary, Frankfurt Imagem: Wolfgang Günzel

194

Vídeo nas Aldeias 179 Ritual Kateoku; povo Enawenê-nawê Coleção: Acervo Vídeo nas Aldeias, Olinda Cortesia: Vídeo nas Aldeias, Olinda Imagem: Vincent Carelli / Vídeo nas Aldeias Vivian Caccuri 181 TabomBass Imagem: Vivian Caccuri


Wilma Martins 183 Série Cotidiano Cortesia: da artista Imagem: Wilma Martins Wlademir Dias-Pino 185 Enciclopédia Visual Brasileira Cortesia: do artista Imagem: Wlademir Dias-Pino Xabier Salaberria 187 4ª Bienal de São Paulo em 1957, inundação no Pavilhão Ciccillo Matarazzo Imagem: Extraído do livro “As Bienais de São Paulo, de 1951 a 1987” de Leonor Amarante. São Paulo: Editora Projeto, 1989, p.70

195


32ª Bienal de São Paulo Fundação Bienal de São Paulo – equipe permanente Superintendência Luciana Guimarães Coordenadoria geral de projetos Dora Silveira Corrêa · coordenadora Comunicação Felipe Taboada · gerente Adriano Campos Ana Elisa de Carvalho Price Diana Dobránszky Eduardo Lirani Gabriela Longman Julia Bolliger Murari Pedro Ivo Trasferetti von Ah Victor Bergmann

Arquivo Bienal Ana Luiza de Oliveira Mattos · gerente Ana Paula Andrade Marques Fernanda Curi Giselle Rocha Melânie Vargas de Araujo

Projetos Especiais Eduardo Sena

Pesquisa e conteúdo Thiago Gil

Relações institucionais e captação Emilia Ramos · gerente Flávia Abbud Gláucia Ribeiro Marina Dias Teixeira Raquel Silva

Produção Felipe Isola · gerente de planejamento e logística Joaquim Millan · gerente de produção de obras e expografia Adelaide D’Esposito Gabriela Lopes Graziela Carbonari Sylvia Monasterios Veridiana Simons Vivian Bernfeld Viviane Teixeira Waleria Dias

Secretaria geral Maria Rita Marinho Carlos Roberto Rodrigues Rosa Josefa Gomes

Editorial Cristina Fino

Programa educativo Laura Barboza · gerente Bianca Casemiro Claudia Vendramini Helenira Paulino Mariana Serri Regiane Ishii

196

Coordenadoria administrativa e financeira Paulo Rodrigues · coordenador Assessoria jurídica Ana Carolina Marossi Batista Finanças Amarildo Firmino Gomes · gerente Fábio Kato Gestão predial e manutenção Valdomiro Rodrigues da Silva · gerente Angélica de Oliveira Divino Larissa Di Ciero Ferradas Vinícius Robson da Silva Araújo Wagner Pereira de Andrade Projetos incentivados Eva Laurenti Danilo Alexandre Machado de Souza Rone Amabile Recursos humanos Albert Cabral dos Santos Tecnologia da informação Leandro Takegami · gerente Jefferson Pedro Serviços terceirizados Bombeiros Empresa Atual Serviços Especializados Limpeza Empresa Tejofran Saneamento e Serviços Portaria Empresa Plansevig Tercerização de Serviços Eireli


32ª Bienal de São Paulo Fundação Bienal de São Paulo – equipe projeto

Curadoria Curador Jochen Volz Cocuradores Gabi Ngcobo Júlia Rebouças Lars Bang Larsen Sofía Olascoaga Assistentes Catarina Duncan Isabella Rjeille Sofia Ralston Arquitetura Alvaro Razuk Equipe Daniel Winnik Isa Gebara Juliana Prado Godoy Paula Franchi Ricardo Amado Silvana Silva Colaboradores comunicação Assessoria de imprensa nacional Pool de Comunicação

Publicidade CP+B Registro e conteúdo audiovisual Carolina Barres, Fernanda Bernardino, F For Felix Registro fotográfico Leo Eloy, Ilana Bar, Tiago Baccarin Colaboradores coordenadoria de projetos Editorial Rafael Falasco Produção Dorinha Santos Tarsila Riso Clarissa Ximenes Felipe Melo Franco Audiovisual MAXI Áudio, Luz, Imagem Cenotécnica Metro Cenografia

Assessoria de imprensa internacional Rhiannon Pickles PR

Conservação Ana Carolina Laraya Glueck Bernadette Baptista Ferreira Cristina Lara Corrêa Tatiana Santori

Campo Sonoro (audioguia) Matheus Leston

Iluminação Samuel Betts

Design Roman Iar Atamanczuk

Montagem Gala Elastica Seguro Axa-Art Programa Educativo Mediação Maria Eugênia Salcedo · consultora Supervisores Anita Limulja Juliana da Silva Sardinha Pinto Paula Nogueira Ramos Silvio Ariente Valéria Peixoto de Alencar Mediadores Affonso Prado Valladares Abrahão Alexandre Queiroz Alonzo Fernandez Zarzosa Ana Carolina Porto da Silva Ana Lívia Rodrigues de Castro Ananda Andrade do Nascimento Santos André Luiz de Jesus Leitão Ariel Ferreira Costa Barbara Martins Sampaio da Conceição Bianca Leite Ferreira Bruno Coltro Ferrari Bruno Elias Gomes de Oliveira Bruno Vital Alcantara dos Santos Carina Nascimento Bessa Carlos Eduardo Gonçalves

197


da Silva Carmen Cardoso Garcia Carolina Rocha Pradella Cláudia Ferreira Daiana Ferreira de Lima Danielle Sallatti Danielle Sleiman Danilo Pêra Pereira Diane Ferreira Diran Carlos de Castro Santos Divina Prado Eduardo Palhano de Barros Eloisa Torrão Modestino Erica da Costa Santos Felipe Rocha Bittencourt Flávia de Paiva Coelho Flávio Aquistapace Martins Ian da Rocha Cichetto Janaina Maria Machado Jorge Henrique Brazílio dos Santos José Adilson Rodriguês dos Santos Jr Julia Cavazzini Cunha Juliana Biscalquin Karina da Silva Costa Karina Gonçalves de Adorno Leonardo Masaro Letícia Ribeiro de Escobar Ferraz Lia Cazumi Yokoyama Emi Ligia Marthos Lívia Costa Monteiro Luara Alves de Carvalho Lucas Francisco Delfino Garcia da Silva Lucas Itacarambi Lucia Abreu Machado Luciana Moreira Buitron Lucimara Amorim Santos Ludmila Costa Cayres Luiz Augusto Citrangulo Assis Manoela Meyer S de Freitas Manuela Henrique

198

Nogueira Marcia Falsetti Viviani Silveira Marco Antonio Alonso Ferreira Jr María del Rocío Lobo Machín Maria Fernanda B Rosalem Maria Filippa C. Jorge Marília Souza Dessordi Marina Baffini Marina Colhado Cabral Mateus Souza Lobo Guzzo Nei Franclin Pereira Pacheco Nina Clarice Montoto Paula Vaz Guimarães de Araújo Pedro Félix Ermel Pedro Wakamatsu Ogata Renato Ferreira Lopes Roberta Maringelli Campi Rogério Luiz Pereira Rômulo dos Santos Paulino Thiago da Silva Pinheiro Thiago Franco Tiago Rodrigo Marin Tiago Souza Martins Vinícius Fernandes Silva Agendamento Diverte Logística Cultural

Difusão Elaine Fontana · consultora Valquíria Prates · consultora material educativo Articuladores Ana Luísa Nossar Célia Barros Celina Gusmão Gabriela Leirias Maurício Perussi

Curadores convidados (Wlademir Dias-Pino) Leandro Nerefuh e Tobi Maier Cocuradora (Öyvind Fahlström) Sharon Avery-Fahlström Colaboradores coordenadoria administrativa e financeira Ambulância Premium Serviços Médicos Administração Lays de Souza Santos Silvia Andrade Simões Branco Bombeiros Local Serviços Especializados Compras Daniel Pereira Nazareth Leandro Cândido de Oliveira Jurídico Olivieri Sociedade de Advogados Limpeza MF Serviços de Limpeza e Conservação Segurança Empresa Atual Serviços Especializado


Créditos da publicação Organizadores Jochen Volz Júlia Rebouças Assistente de curadoria para publicações Isabella Rjeille Coordenação editorial Diana Dobránszky Projeto gráfico e diagramação Adriano Campos Ana Elisa de Carvalho Price Roman Iar Atamanczuk Assistente de edição Rafael Falasco

Autores Ana Maria Maia Catarina Duncan Cristina Fino Diana Dobránszky Diego Matos Gabi Ngcobo Gabriela Longman Hortência Nunes Abreu Isabella Rjeille Jochen Volz Júlia Rebouças Lars Bang Larsen Marilia Loureiro Regiane Ishii Thiago Gil Tradução Adriana Francisco Alexandre Barbosa de Souza Mariana Mendes Matthew Rinaldi

Preparação e revisão Anthony Doyle Gareth Peard Jeffery Hessney John Ellis-Guardiola Lívia Azevedo Lima Mariana Mendes Matthew Rinaldi Sandra Brazil Gerenciamento de imagens Pedro Ivo Trasferetti von Ah Produção gráfica Signorini Produção Gráfica Eduardo Lirani Imagem da capa Equipe Bienal

199


Agradecimentos Indivíduos Acácio Piedade, Adriano Pedrosa, Agustín Pérez Rubio, Ailton Krenak, Alberto Tsuyoshi Ikeda, Alejandro Cevallos, Alexandre Sacchi Di Pietro, Alexandre Sampaio, Alexandre Viana, Alexia Tala, Alexie Glass-Kantor, Allan Alves, Cel. Alvaro Camilo, Alvaro Puntoni, Alvaro Tukano, Amer Huneidi, Ana Garzón Sabogal, Ana Laíde Barbosa, Ana Maria Maia, Andre Bergamin, André Mesquita, Andrea Pacheco, Annick Kleizen, Annika Leimann, Antonio Paucar, Arnaldo Antunes, Áurea Carolina, Barbara Saavedra, Ben Vickers, Benjamin Seroussi, Burkhard Riemschneider, Caio Bourg de Mello, Camila Marambio, Camila Rocha, Carlos MouraCarvalho, Carolina Dal Ben Padua, Carolyn Alexander, Catalina Casas, Catherine Münger, Célida Peregrino, Cesar Gyrão, Charles Green, Chen Tamir, Christopher Cozier, Cildo Meireles, Claudinéia Baroni, Craig Higginson, Cuauhtémoc Medina, Daniel Birnbaum, Daniela Berger, Daniela Castro, Deborah Anzinger, Diego Matos, Dimitrina Sevova, Dominique GonzalezFoerster, Dorota Kwinta, Dulcídio Caldeira, Edison de Souza, Eduardo de Jesus, Eliana Otta, Elke aus dem Moore, Emiliano Valdés, Enock Pessoa, Eungie Joo, Fábio Bolota, Fabio de Alencar Iorio, Fabio Pugliese, Fabio Zuker, Família Geld, Fátima Faria Gomes, Felipe Chaimovich, Felipe Villada, Felippe Crescenti, Fernanda Brenner, Fernanda Nogueira, Filipa Oliveira, Flávio Motta, Florencia Loewenthal, Frederico Morais, Fredrik Liew, Fulvio Giannella Junior, Gabriel Lemos, George Awde, George Rotatori, Gladys Faiffer, Glaucia Barros Xavier, Grimaldo Rengifo, Guilherme Boulos, Guiliana Furci, Gustavo Esteva, Hans Ulrich Obrist, Heraldo Guiaro, Heron Werner Jr., Hilton Haw, Ibis Hernandez, Inês Grosso, Iracema Schoenlein Crusius, Isabel Diegues, Ivo Mesquita, Jacinta Arthur, Jair Batista da Silva, James Rondeau, Jared McCormick, Jimena Lara, Joana Fins Faria, João Campos, João Ribas, Joca Reiners Teron, Joe Osae-Addo, Jorge Baradit, Jorge Fernandez, José Roberto Sadek, Juan Pablo Vergara Undurraga, Juan Varela, Julia Peyton-Jones, Juliana Manso Sayão, Julie Lomax, Jürgen Bock, Karen Cunha, Katharina von Ruckteschell-Katte, Kiki Mazzucchelli, Kwasi Ohene Ayeh, Laise de Holanda Cavalcanti Andrade, Larissa Silva Freire, Lena Malm, Libia Posada, Ligia Nobre, Lisette Lagnado, Ludmila Brandão, Luisa Elvira Belaunde, Luiz Eduardo Anelli, Luiz Marchetti, Macarena Areco Morales, Mamede Jarouche, Mantse Aryeequaye, Manuel Silveira Corrêa , Marcello Nietsche, Marcio Harum, Marcos Moraes, Margarita González, Maria Angelica Melendi, Maria Cristina Donadelli Pinto, Maria del Carmen, Maria do Carmo Pontes, Maria Lafayette Aureliano Hirszman, Mario Friedlander, Martin Bach, Mauricio de la Puente, Mavis Tetteh-Ocloo, Melissa Rocha, Merve Caglar, Michelle Marxuach, Miguel Lopez, Moacir dos Anjos, Mohammed Hafiz, Morgana Rissinger, Nadia Somekh, Naine Terena, Nana Oforiatta-Ayim, Nancy La Rosa Saba, Nat Amartefeio, Nathalie Morhange, Óscar Gonzalez, Övül Ö. Durmusoglu, Pablo Lafuente, Paula Zasnicoff, Paulina del Valle Vera, Paulo Bogorni, Paulo Pires do Vale, Pedro de Niemeyer Cesarino, Pedro Montes, Raduan Nassar , Rafael Ortega, Ralph Rugoff, Rana Sadik, Raúl Matta, Rebecca Coates, Regina Pouchain, Renato Corch, Ricardo Ohtake, Richard Fletcher, Rivane Neuenschwander, Rodolfo Walder Viana, Rodrigo Bueno, Rodrigo Moura, Rodrigo Nunes, Rodrigo Pimentel Pinto Ravena, Rodrigo Tavares, Samer Younis, Senam Okudzeto , Serge Attukwei Clottey, Sergio Ide, Sergio Parra, Shrook Al Ghanim, Silvan Kaelin, Silvia Ambrogi, Sinethemba Twalo, Smiljan Radic, Solange Farkas, Stefan Benchoam, Suely Rolnik, Suzanne Cotter, Tali Cherizli, Tatiana Oliveira, Tatiane Kaiowa, Testinha, Tete Espíndola, Thiago de Paula Souza, Thyago Nogueira, Tim Neuger, Tiyoko Tomikawa, Tonico Benites Guarani, Valeria Galarza, Valéria Rossi Domingos, Veerle Poupeye, Virginija Januskeviciute, Vivian Ziherl, Waman Wasi, Wilson Díaz, Yale Reinhard, Yann Chateigne, Yavuz Parlar, Yessica Hernandez, Ziad Mikati, Zohra Opoku, Zoraida Maria Lobato Viotti.

200


Instituições Acción Cultural Española, AC/E, Administração do Parque Ibirapuera, Al-Kamel Verlag, Alta Excelência Diagnóstica, ANO, Arquivo Multimeios - Centro Cultural São Paulo, Artis Grant Program, Arts Council Korea (ARKO), Artspace - Auckland, Associação Quilombola de Piracanjuba, Auditório Ibirapuera, Australia Council, Australia Council for the Arts, Bisagra, Blank Projects, Bug Agentes Biológicos, Bull Produtora Digital, Câmara Municipal do Porto, CECI Jaraguá, Cemitério da Consolação, Centro Cultural Dannemann, Centro de Ciências Biológicas - UFPE, Cinemateca Brasileira, Clube de Atletismo BM&F BOVESPA, Coleção Moraes-Barbosa, Companhia das Letras, Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), Conpresp, Conselho Gestor do Parque Ibirapuera, Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), Consulado Geral do México em São Paulo, Contemporary Art Centre (CAC), Cooperativa de Catadores da Baixada do Glicério, CP+B, Creative New Zealand , Dan Gunn Gallery, Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), Educativo do MAM-SP, Escola Municipal de Astronomia e Astrofísica - UMAPAZ, Etxepare, Everard Read Gallery - JHB, Faculdade de Artes Plásticas - FAAP, Faculdade de Comunicação - FAAP, Fazenda da Toca, Fortaleza de San Carlos de La Cabaña, Frame Visual Art Finland, Fundação Armando Alvares Penteado, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundación Funghi, Galeria Fortes Vilaça, Galeria Pilar, Galeria Sé, Galerie Imane Farès, Gallery 1957, GCM - Parque Ibirapuera, Goethe-Institut Salvador-Bahia, Grupo Ecolyzer, IASPIS, Institute of Modern Art - Brisbane, Instituto Biológico de São Paulo, Instituto de Botânica de São Paulo, Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Identidade Brasil, Instituto Nacional de Bellas Artes de México, Instituto Tomie Othake, Itaú Cultural, Kempinski Hotel, KONE, Lugar a Dudas, Más Arte Más Acción, Melbourne University, Ministério da Cultura, Ministério da Cultura da República Argentina, Museo de la Memoria Santiago de Chile, Museo de la Solidaridad Salvador Allende, Museo Universitario Arte Contemporáneo MUAC-UNAM, Museu Afro Brasil, Museu da Cidade de São Paulo, Museu da Imigração do Estado de São Paulo / Governo do Estado de São Paulo, Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - USP, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Valdemar Lefèvre (MUGEO) , Nubuke Foundation, Obrera Centro, ONG Social Skate, Peter Kilchmann Galerie, Polícia Militar do Estado de São Paulo, Pratec, Prefeitura de Lisboa, Pro-Helvetia, Procolombia, Programa de Aventura Ambiental - UMAPAZ, Rhiannon Pickles PR, SAHA, São Paulo Transporte S.A. - SPTrans, Scape Public Art, Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Secretaria Estadual de Logística e Transportes, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Transportes, Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Serviço Funerário do Município de São Paulo, Sesc São Paulo, Sesc - Serviço Social do Comércio Administração Regional no Estado de São Paulo, Sol Henaro, SP-Trans, Subprefeitura Sé, The Henry Moore Foundation, The Office for Contemporary Art Norway (OCA), Trelleborg Wheel Systems, Universidad de las Artes - ISA, Cuba, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Acre , Universidade Federal do Reconcavo Bahiano , Wits School of Arts – JHB.

201


Correalização

Patrocínio master


PatrocĂ­nio

Parceria cultural


Apoio

Apoio mídia

Apoio comunicação


Apoio internacional

Embajada de Colombia en Brasil

Apoio institucional Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Programa de ação Cultural 2016

Realização ministério da cultura


© Copyright da publicação: Fundação Bienal de São Paulo. Todos os direitos reservados. As imagens e os textos reproduzidos nesta publicação foram cedidos por artistas, fotógrafos, escritores ou representantes legais e são protegidos por leis e contratos de direitos autorais. Todo e qualquer uso é proibido e condicionado à expressa autorização da Bienal de São Paulo, dos artistas e dos fotógrafos. Todos os esforços foram feitos para localizar os detentores de direitos das obras reproduzidas, mas nem sempre isso foi possível. Corrigiremos prontamente quaisquer omissões, caso nos sejam comunicadas. Esse guia foi publicado por ocasião da mostra 32ª Bienal de São Paulo – INCERTEZA VIVA, realizada entre 7 de setembro e 11 de dezembro de 2016, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, São Paulo. www.bienal.org.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - (CIP) 32ª Bienal de São Paulo : Incerteza Viva : Guia / Organizado por Jochen Volz e Júlia Rebouças. -- São Paulo : Fundação Bienal de São Paulo, 2016. Curadores: Jochen Volz, Gabi Ngcobo, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen, Sofía Olascoaga. ISBN: 978-85-85298-55-5 1. Arte - Exposições – Guias. I. Volz, Jochen. II. Ngcobo, Gabi. III. Rebouças, Júlia. IV. Larsen, Lars Bang. V. Olascoaga, Sofía. CDD-700.74 Índice para catálogo sistemático: 1. Arte : Exposições : Guias 700.74

Fontes: S abon (Linotype), e Knockout (Hoefler & Co.) Papéis: Cartão Super 6 Plus 240 g/m² e Off Set 75 g/m² Pré-impressão e impressão: Ipsis Tiragem: 5.500


207


208



3  2ª bienal de são paulo

Ministério da Cultura, Bienal e Itaú apresentam

i  sbn 978-85-85298-55-5


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.