30ª Bienal de São Paulo (2012) - Livro/catálogo

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imagino que minhas ponderações possam estar nos conduzindo a um ponto cego – não somente pela forma divagante (e aparentemente displicente) com que elas estão sendo

Distinção de iminência

relacionadas aqui, mas, sobretudo, pela tentativa (desde o início fadada ao fracasso) de abordar tangencialmente os limites da linguagem através da justaposição de ideias que assumem, justamente, uma conformação textual. Poderia tentar justificar tal empresa dizendo que a noção de linguagem de que trato aqui não deveria ser entendida apenas no âmbito dos acordos, das separações ou categorizações — mas, principalmente, como a adjacência que une e separa, simultaneamente, as margens da enunciação –; poderia, também, tentar pontuar que a distinção de iminência que tento elencar, igualmente, não deve ser confundida com a linguagem; e que nosso ideário estaria, como já dito, mais para a antessala da linguagem – seria não mais do que uma sensação em tensionamento, o espaço vago da linguagem que toma os sentidos, arrasta a percepção e impele à elaboração de alguma forma irresoluta de expressão. De novo, não parece haver ao que se oferecer embargo evidente; todavia, sem tentar descarregar uma culpa autoimputada pelo modo desviante com que venho conduzindo esta redação, devo insistir que, em realidade, sempre estive ciente de que viria a concentrar minha atenção em questões-limite, amiúde ininteligíveis e imprevisíveis, que excederiam os limites de minha filosofia diletante e, nada obstante, resvalariam para o terreno pantanoso da logomaquia – ou seja, sem motivo possível para invocar como subterfúgio, devo admitir que, de fato, o que pretendo aqui é mesmo um teorema disparatado: que é situar a noção da distinção de iminência fora do campo de força da linguagem e dentro do terreno de nesciência da experiência criativa (em uma região instável em que, segundo posso palmear, o pensamento, ainda sem forma – ou com a forma em constante elaboração – não pode ser acessado pelo caminho das conceitualizações). Apartado, parado, adiado: estar suspenso da boca, dos lábios ou das palavras de alguém e, concomitantemente, escutar ávida e atentamente o que esse alguém diz. Sem cartas de orientação, o pensamento em distinção de iminência teria o condão de associar não mais do que fragmentos de ideias, códigos e conceitos, e os reelaborar em favor de nos fazer andar por novos caminhos, de nos proporcionar novos encontros, de nos expor às contínuas transformações de uma deriva reflexiva não linear e apartada de qualquer jurisdição burocrática ou disciplinar. Tendo isso em conta – e levando também em consideração minha crença de que pode existir, efetivamente, um interesse epistemológico pela conformação de algum conceito abstrato que, longe de ser abdicação do intelecto, pudesse estabelecer tipologias operatórias que colocariam em jogo metáforas e analogias capazes de se tornarem vetores de conhecimento a estabelecer maneiras de fazer sobressair os fenômenos e as manifestações da deriva do pensamento –, é importante relevar que, menos que nomear um conceito hipotético, a noção da distinção de iminência tem por função, simplesmente, indicar a possibilidade de inauguração de uma prática de reflexão existencial de caráter estritamente especulativo, abstrato e voltado à nução daquilo que sempre será subjetivo e impalpável no âmbito do pensamento. Assim, ainda que se afigure por demais evidente que nosso ideário é falho – sumamente patético em seu esforço para trazer à tona o incomunicável através de elucubrações proloquiais – e, pior, que também se


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