Contos de todo o mundo

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A Moura Torta Conto Espanhol Havia um rei que tinha um filho, e quando este chegou à idade de casar, disse a seus pais: Quero me casar com a mulher mais formosa do mundo. Assim, vou percorrer o mundo até encontrá-la. Saiu do palácio e caminhou até chegar a uma fonte, onde parou para tomar água. Ao inclinar-se para beber, viu que se refletiam três laranjas. Ergueu os olhos e viu que de uma frondosa laranjeira pendiam três grandes e belas laranjas. - Que saborosas devem ser, disse o príncipe, e dizendo isso, subiu na árvore e cortou as três preciosas laranjas. Partiu a primeira e, como por encanto, saiu dela uma jovem muito linda que, ao ver o príncipe, lhe disse - Dá-me pão. - Não posso, disse ele, porque não tenho. - Então volto para minha laranja, disse a jovem, e desaparecendo, deixou a laranja intacta. Partiu o príncipe a segunda laranja e da fruta saiu outra jovem, muito mais bela que a primeira. - Dá-me pão, disse ao príncipe. - Não posso, pois não tenho, disse ele. - Então volto para minha laranja. A laranja fechou-se e ficou como antes. O príncipe ficou pensativo e, decidiu conseguir pão, a fim de dar à ultima jovem da laranja. Assim pensava o jovem, quando coincidiu de passar por ali um cigano em seu coche. - Amigo, gritou o príncipe - dou-te uma moeda de ouro por um pedaço de pão. Rapidamente o cigano desceu da carruagem e correu a levar o pão ao príncipe. O príncipe ficou muito contente e satisfeito. Partiu a terceira laranja e, como havia imaginado, do coração da fruta saltou uma jovem muito mais formosa que as anteriores. - Dê-me pão, ela disse. O príncipe alegremente deu o pão à jovem, que em seguida falou: - Agora pertenço-te, podes fazer de mim o que quiseres. - Contigo me caso, disse-lhe o príncipe. Como a jovem estava nua, o príncipe queria antes vesti-la para levá-la ao palácio. Deu uma olhada na roupa do cigano que ainda permanecia ali, porém notou que estavam muito sujas. O príncipe então disse à jovem: - Espera aqui com este cigano até que eu volte com uma roupa. O cigano tinha uma filha que viajava com ele no coche, porém tinha dormido durante todo o tempo em que a história das laranjas ocorria. Ao despertar, no momento em que o príncipe subia no cavalo, caiu de amores por ele. Desceu logo do coche e foi perguntar ao seu pai o que estava acontecendo. Ele lhe contou o ocorrido. A cigana, vendo a jovem, disse-lhe: - Deixa-me pentear-te para que fiques mais bonita para o regresso do príncipe. A jovem consentiu, e enquanto a cigana penteava sua formosa cabeleira, sentiu que lhe cravavam um alfinete na cabeça. No momento a dama da laranja transformou-se numa pomba. A cigana então tirou a roupa e colocou- se no lugar onde estava a jovem. O príncipe voltou e quando viu a cigana, disse: - Senhora! Como escureceste! A cigana respondeu: - É que demoraste e acabou me queimando o sol.


O príncipe, acreditando ser a mesma jovem da laranja, levou a cigana ao palácio e casou-se com ela. Um dia chegou uma pombinha ao jardim do rei e disse ao jardineiro: Jardineirinho do rei, como está o príncipe com sua mulher? - Umas vezes canta, porém mais vezes chora - disse o jardineiro. Todos os dias chegava a pombinha e fazia a mesma pergunta ao jardineiro, até que este contou ao príncipe. O príncipe deu ordem ao jardineiro para que prendesse a pombinha. O jardineiro untou de visgo a árvore onde diariamente pousava a pombinha e, quando esta chegou para sua visita diária, ao querer voar, ficou presa à árvore, podendo apanhá-la, o jardineiro e levou-a ao príncipe. O príncipe enamorou-se da pombinha. Colheu-a com carinho e ao acariciar-lhe a cabeça, encontrou o alfinete que tinha sido cravado e retirou-o. Imediatamente a pombinha se transformou na bela dama da laranja. A formosa jovem contou sua aventura ao príncipe e, entrando os dois no palácio, comunicaram o ocorrido ao rei. O rei, indignado, deu ordens para que imediatamente matassem a cigana, e o príncipe e a dama da laranja casaram-se e foram felizes para sempre.


A história da caveira Conto Celta Era uma vez um granjeiro que tinha apenas um filho. Este filho morreu e o pai não quis ir ao enterro porque antes houve uma briga entre eles. Passado um tempo, morreu um vizinho e ele foi ao seu enterro. Depois da cerimónia e ainda estando o granjeiro no cemitério, olhando distraído ao redor, viu uma caveira. Juntou-a e disse, pensativo: - Gostaria de saber alguma coisa sobre ti... E a caveira falou: - Amanhã irei passar a noite contigo, se vieres passar outra noite comigo. -Assim farei - disse o granjeiro. No caminho de volta, encontrou um sacerdote e comentou o que tinha ocorrido. O sacerdote disse-lhe que deveria ter sonhado, posto que as caveiras não falam. O granjeiro

contou-lhe que na noite seguinte seria visitado pela caveira, e o sacerdote

concordou em ir. Assim, na noite seguinte, estavam o granjeiro e o sacerdote conversando quando, em seguida, chamaram à porta e apareceu a caveira. Ela subiu à mesa e comeu tudo que nela havia. Depois, saiu e desapareceu. - Por que não falaste nada? inquiriu o granjeiro ao sacerdote. -Por que TU não falaste? respondeu o outro. Na noite seguinte, como dia combinado com a caveira, o granjeiro foi até o cemitério e, não vendo nada, desceu os três degraus que estavam junto à Igreja. De pronto se encontrou no meio de um campo, cheio de homens que lutavam entre si. Ao ver o granjeiro, perguntaram-lhe se procurava o crânio. Ao assentir, eles disseram: - Acaba de ir para o campo ao lado. No outro campo viu homens e mulheres que lutavam entre si. - Estás a procurar um crânio? perguntaram. Pois bem, acaba de ir ao campo do lado.


O granjeiro foi ao campo do lado e viu uma grande casa. Ao entrar viu que era a habitação de uma dama e uma criada. A dama caminhava de um lado a outro da casa, e cada vez que chegava perto do fogo para se aquecer, a criada a empurrava. Também lhe perguntaram se buscava um crânio e que se era isso, que saíra pela porta esquerda da casa e por ali saiu o granjeiro. Ao entrar na casa contígua, encontrou a caveira e esta lhe perguntou se queria cear, com o que assentiu o granjeiro. A caveira conduziu- o à cozinha onde estavam três mulheres. A caveira pediu a uma delas que servisse a ceia, e esta serviu pão preto e uma jarra d’água, que ele não conseguiu comer. Em seguida pediu à segunda mulher que fizesse o mesmo, e ela serviu pior ao granjeiro do que a primeira. Por fim, a caveira pediu à terceira mulher, e esta serviu uma deliciosa refeição, com uma profusão de pratos e excelentes vinhos. Depois de comer, perguntou ao crânio o que tinha sido aquilo. - Os homens que viste no primeiro campo se dedicavam a lutar entre si enquanto estavam vivos, porque tinham terras próximas e se acostumavam a mover as estacas e agora precisam lutar entre si para sempre. Os homens e mulheres que viste eram casais casados que viviam a brigar e agora devem seguir eternamente em brigas. A senhora que viste na casa e que a criada não deixava aquecer fez o mesmo com a criada, que um dia chegou molhada e com frio, e agora a criada faz o mesmo com ela, até o dia do Juízo Final. As três mulheres na cozinha foram minhas três esposas. Quando pedia à primeira que me preparasse a ceia, me oferecia pão preto e água, a segunda ainda coisa pior, mas a terceira me servia o banquete que ceaste. A caveira então olhou lugubremente o lavrador e disse: -E quanto a ti, foste trazido a este lugar por não querer ir ao funeral do teu filho, apesar de teres ido ao de um vizinho. Assim, sugiro que, se te queres salvar, vai onde enterraram teu filho e pede-lhe perdão e, caso o obtenhas, fica a saber que desde o dia que saíste de casa até chegar aqui se passaram 700 anos. O lavrador ficou petrificado e, como despertando de um sonho, se viu caminhando pelos campos, por lugares que antes ele havia passado mas que haviam mudado de forma pelo tempo transcorrido. Por fim chegou ao cemitério e conseguiu localizar a tumba do filho. Ali se ajoelhou e pediu perdão. O perdão a seu filho. Por fim surgiu uma mão da tumba, que tomou a sua e ambos, pai e filho, subiram juntos ao céu.


A

Divindade

dos

Homens Conto oriental

Houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino. Resolveu então escondê-lo num lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-lo. O grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou um conselho dos deuses menores, para juntos resolverem o problema. - Enterremos a divindade do homem na terra, foi a primeira ideia dos deuses. - Não, isso não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la. Então os deuses disseram: - Joguemos a divindade no fundo dos oceanos. Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem um dia iria explorar as profundezas dos mares e a recuperaria. Então os deuses concluíram: - Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia. Brahma então se pronunciou: - Eis o que vamos fazer com a divindade do homem: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois será o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la. Desde esse tempo, conclui a lenda, o homem deu a volta à terra, explorou escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo que se encontra nele mesmo.


A

Falsa

Ingratidão

da

Serpente Conto Coreano

Há muito, muito tempo, houve uma grande inundação, tal como nunca havia sido vista. O rio Dedong transbordou e levou muitas casas na correnteza. Os campos transformaram- se em vastos lagos, os habitantes e seus animais pereceram. Um senhor de idade em Pyongyang vinha remando o seu pequeno barco. No caminho, encontrou um carneiro exausto, tentando nadar e conseguiu salvá-lo. Também encontrou uma serpente boiando, e trouxe-a para o interior de seu barco. Um pouco mais à frente, havia um menino nadando, que também foi trazido para o seu barco. Quando chegou em terra firme, soltou o carneiro e a serpente. O menino havia perdido pai e mãe na inundação, e o homem decidiu adotar o menino. Um certo dia, o carneiro retornou e começou a puxar a manga da camisa do homem, tentando levá-lo a algum lugar. O homem seguiu o carneiro. Depois de algum tempo de caminhada, chegaram a uma rocha e o carneiro batia as batas contra ela. O homem imaginou que algo estivesse sob a rocha e começou a cavar. Ali estava enterrado um jarro repleto de ouro e prata. Então levou o jarro consigo, agora ele era um homem rico! O seu filho adotivo cresceu e se tornou um homem arrogante, e começou a gastar dinheiro com extravagância. Embora o tentasse advertir e educar, o menino, respondia com grosserias e agressividade. O jovem decidiu que deveria morar sozinho, mas o pai tentou impedi-lo. O jovem irou-se contra o pai adotivo e foi às autoridades locais acusando-o de roubo, dizendo: - Meu pai adotivo roubou uma fortuna e inventou uma história de que um carneiro lhe deu tal dinheiro. Ninguém acreditaria em tal absurdo! O oficial foi à casa do homem e ouvindo a história de que o carneiro lhe tinha mostrado um tesouro enterrado, levou o homem preso. Aquele homem sabia que um dia teria de ser solto, pois ele não tinha cometido crime algum, então passava os dias esperando que algo acontecesse. Uma certa noite, a serpente que ele havia salvo da enchente foi à cela, picou o homem no braço e foi embora. O braço do homem inchou rapidamente sob o efeito do veneno e a dor se tornou insuportável. E ele dizia a si mesmo: - Aquela serpente me pagou o bem que lhe fiz com o mal! Serpente ingrata!


Porém, pouco tempo depois, a serpente voltou à cela do homem carregando um recipiente. Ela aplicou o conteúdo no braço do homem e o inchaço se foi e a dor também passou. O homem estava curado! E mais uma vez a serpente desapareceu. Pela manhã, o homem escutou uma grande comoção no lado de fora da cela. Ele ouviu que a esposa do oficial havia sido picada por uma serpente durante a noite e parecia estar morrendo pelo efeito do veneno. Então ele chamou o oficial e disse que tinha a cura para sua esposa. Ele foi levado até a casa do oficial e aplicou a loção no local da picada, e instantaneamente foi curada. Por gratidão, o oficial deu a liberdade ao homem. O filho adotivo foi preso por suas mentiras e por sua ingratidão. E assim, como o dócil carneiro, a misteriosa serpente encontrou uma forma de pagar o bem que aquele homem havia lhe feito com um gesto de grande gratidão.


O

Anjo

que

se

Tornou

um

Boi Conto do Vietnam

Quando o planeta Terra foi criado, a terra era vazia. Não havia, plantas, árvores, ou vegetação alguma. O homem tinha uma vida muito dura e, mesmo assim, não era capaz de produzir o suficiente para a sua própria alimentação. Às vezes, comia a cada três dias, às vezes, a cada cinco ou seis dias. Estava sempre faminto, embora trabalhasse dia e noite. A verdade é que o homem era digno de piedade. O Imperador Celeste sentia muito pela dificuldade do homem, e além de desejar prover alimento, também desejava tornar o planeta mais bonito. Então, pensou por algum tempo e fez seu plano. Ele reuniu todos os seus anjos no palácio, e disse: -

Quem, de entre todos vocês, me quer ajudar a levar alegria aos homens da Terra, que estão

vivendo em terrível dificuldade? Um dos anjos, chamado Kim Quang, rapidamente se fez voluntário e, com grande interesse, ofereceu concretizar o plano do Imperador Celeste. Assim, O Imperador Celeste entregou a Kim Quang duas cestas pesadas, presas a ambos os lados de uma vara de bambu. Uma das cestas estava cheia de grãos de arroz e a outra de grama. O Imperador instruiu Kim Quang a plantar primeiramente todos os grãos de arroz na terra, e o espaço que houvesse ficado vazio, deveria ser cultivado com a grama da outra cesta. -

Se fizeres exatamente o que te disse, eu te recompensarei. Mas, se desobedeceres à minha

ordem, eu certamente te punirei. Kim Quang rapidamente concordou com as condições e seguiu em direção à Terra. Chegando lá, ele plantou toda a grama, que cresceu bela e rapidamente pela superfície da Terra. Quando o anjo distraído se deu conta da ordem que havia recebido, já era tarde demais para reparar o dano, pois havia sobrado uma pequena área de campo para plantar os grãos de arroz. Descobrindo o que havia acontecido na Terra, o Imperador Celeste irou-se com a incompetência de seu anjo. Então, com seus poderes mágicos, transformou Kim Quang em um búfalo, para que pudesse reparar o solo para o plantio. Ele prometeu ao búfalo que quando ele tivesse removido toda a grama do solo para que este fosse cultivado com alimento, ele poderia voltar aos Céus e tornar-se um anjo novamente.


Mas, aquele dia nunca chegou…


O

Macaco

re t r i b u i

uma

bondade Conto Japonês

Há muito tempo, numa vila de pescadores na ilha Kyushu ao sul do Japão, vivia contente um pescador muito esforçado e trabalhador com sua esposa e seu filho, que ainda era um bebé. Um certo dia, quando a maré estava baixa, sua esposa colocou o bebé nas costas e saiu com suas vizinhas para recolher as conchas da praia. O tempo estava ótimo naquele dia, então a praia estava repleta de pessoas, todas em busca das conchas perfeitas. Para facilitar seu trabalho, a esposa do pescador tirou o bebé das costas, deitou-o sobre um cobertor numa grande rocha e pediu ao filho de sua vizinha que o vigiasse. Agora que estava livre do peso do filho, voltou ao trabalho. Enquanto recolhia as conchas, ela percebeu que um macaco brincava na praia há alguma distância de onde estavam. Parecia ter vindo de alguma montanha da proximidade. Então disse a uma de suas vizinhas: -

Olhe aquele macaco ali. O que será que ele está fazendo? Vamos ver mais de perto! Quando chegaram perto o suficiente, perceberam que uma grande concha se tinha fechado numa

das patas dele e ele lutava para se livrar dela. E a esposa do pescador disse: -

Ah! Agora entendi o que está acontecendo. Ele deve ter tentado tirar a carne de dentro da concha

e esta se fechou em sua pata. A cena era surpreendente, pois quanto mais o macaco tentava tirar a pata dali, mais a concha se tentava enterrar na areia. Algumas pessoas aproximaram-se com pedras, decididas a matar o macaco, pois desprezavam tal animal, já que os macacos estragavam plantações e assustavam os animais das fazendas. Mas a esposa do pescador foi tocada pelo sofrimento do pobre animal e pediu que o deixassem em paz. Enquanto isso, a maré subia e ondas enormes começaram a estourar na praia, e muitas pessoas que recolhiam conchas foram embora para suas casas. Mas, a bondosa esposa do pescador ajudou o macaco até que se livrasse da concha, e sentida também pela concha, enterrou-a fundo na areia húmida. E disse ao macaco: - Vou pedir que não roubes mais as nossas fazendas. Parecia que o animal havia entendido seu pedido, e mesmo assim, num segundo, ele pulou até a rocha onde estava o bebé da esposa do pescador, pegou-o com cobertor e tudo e correu em direção às montanhas. A mulher ficou chocada com tamanho gesto de ingratidão. Enfurecida, ela gritava:


O macaco me retribuiu a bondade com maldade! E corria atrás dele. Os vizinhos que ainda estavam ali começaram a criticá-la por ter poupado a vida do macaco. Mesmo com o bebé em seus braços, o macaco corria tão rápido que ninguém conseguia alcançá-lo. Apesar dos prantos daquela mulher para que ele devolvesse o bebé, o macaco subiu numa árvore muito alta e chegou ao galho do topo. As pessoas cercaram a base da árvore, mas não havia nada que pudessem fazer. Um dos pescadores saiu em busca do pai da criança.Enquanto isso, o macaco segurava o bebé com seu braço direito e com o esquerdo segurava-se no galho e balançava para cima e para baixo. O bebé, sentindo-se incomodado, começou a chorar e a gritar. Sua mãe, lá embaixo, sentia que seu coração fosse parar de tanto desespero. Neste momento, uma águia imensa começou a rondar o céu em volta da montanha. A preocupação daquelas pessoas agora era que a águia pudesse pegar o bebé. A mãe fechou os olhos e começou a pedir que Buda protegesse seu filho. Quando a águia mergulhou em direção ao bebé, o macaco soltou o galho, que disparou em direção a cabeça da águia, que morreu instantaneamente. O enorme pássaro caiu no chão, e nesse momento o macaco repetiu o que havia feito, pois uma segunda águia mergulhava em direção ao bebé. No momento certo, o macaco fez o mesmo. E aconteceu que matou cinco águias da mesma forma. As pessoas do vilarejo assistiam espantadas àquela incrível luta, e finalmente compreenderam que, enquanto o macaco lutava para se livrar da concha na praia, ele tinha percebido que as águias sobrevoavam a rocha sobre a qual o bebé se deitava, portanto, assim que se livrou da concha, correu para salvar o bebé. Uma vez terminada a batalha e o perigo fora de alcance, o macaco desceu da árvore e deitou o bebé aos pés da mãe, e voltou para o topo da árvore. Quando o pai do bebé chegou, tudo já havia sido resolvido, e as pessoas da vila se alegraram e comemoraram juntas o final feliz de uma história que parecia só poder ter um fim trágico, e voltaram às suas casas.

O pescador, por sua vez, obteve grande lucro com os mercadores locais, pois vendeu cada uma das penas das cinco águias que o macaco havia derrotado.



O

Porco

que

Era

Esperto

Demais Conto Chinês

Era uma vez, há muito tempo atrás, vivia na vila de Tsan-yang um senhor chamado Li. Todos o chamavam de Li Tai-yeh, ou Grande Mestre, pois ele era o homem mais rico da região. A sua fazenda era gigantesca e a sua casa tinha cem aposentos e um enorme jardim. Ninguém tinha a mínima inveja dele, pois Li Tai-yeh, diferente da maioria das pessoas ricas, era muito generoso com a sua riqueza. O seu amor por animais era bem conhecido nas redondezas e os animais devolviam-lhe todo aquele amor. Com o tempo, Li Tai-yeh passou a ter um grande número de animais na sua fazenda. Alguns foram comprados de mercadores, mas a maioria passava pela sua fazenda e por serem bem alimentados acabavam por ficar. Li Tai-yeh nunca pediu nada em retorno, ele simplesmente cuidava dos animais por amor. Mas acontece que instintivamente, os animais sentiam a necessidade de ajudá-lo em tudo o que pudessem. O cão negro ficava de guarda e protegia a fazenda de qualquer estranho que se aproximasse. O grande galo acordava sempre os trabalhadores pela manhã, fizesse sol ou chuva, ele estava lá pontual cumprindo seu dever. O gato-do-mato, que tinha listras amarelas e pretas, era chamado de Pequeno Tigre. Ele tinha uma alma independente e passava o dia a passear pela fazenda, mas à noite, ele protegia a casa dos ratos. O cavalo levava o filho de Li para a escola, o boi puxava a carroça e o carneiro retirava o capim que crescia entre as plantações de arroz. Todos eles ajudavam com muita dedicação e ficavam contentes em poder retribuir os bons cuidados de Li. Quer dizer, todos, com exceção do porco. Este porco era um animal esperto chamado Chu Lao-erh. Ele observava o que acontecia ao seu redor e pensava, “Já que todos estão a trabalhar menos eu e o mestre continua a alimentar-me, por que deveria eu trabalhar? Ele não me pede para fazer nada, então eu vou mesmo é continuar a comer e a descansar.” Então, Chu Lao-erh comia o dia todo, rolava na lama e ficava imundo e fedorento para que nenhum animal ousasse aproximar-se dele. Todos os dias, ele dormia até o meio-dia, à hora do almoço. Comia até não poder mais e cochilava até a hora do jantar. E após o jantar, dormia até o dia seguinte. Uma vez ou outra, algum animal aproximava-se dele e dizia:


-

Por que não te levantas e fazes algo de útil? Deveria perder peso, estás muito gordo. Mas Chu Lao-erh fingia que não estava a entender o que estavam a dizer e ficava sem responder.

Ele gemia, virava para o outro lado e continuava a dormir. Como resultado, Chu Lao-erh ficou tão gordo, mas tão gordo que, mesmo se quisesse trabalhar, não conseguiria. Às vezes, até para comer se sentia cansado. Começou a reclamar que a sua comida não era bem preparada, não chegava na hora certa. Como se sabe, reclamações trazem sempre algum resultado. As pessoas da fazenda passaram a achar que o porco não estava a sentir-se bem por causa da comida e começaram a preparar alimentos melhores para ele. Mas enquanto isso, o vizinho de Li visitou a fazenda e viu o porco. E disse-lhe: -

Este porco não faz nada para ti! Ele é completamente inútil! Eu troco contigo oito patos por este

porco. Pelo menos os patos dar-te-ão ovos. Li ficou triste, pois sabia que a família do seu vizinho era muito pobre e não conseguiria dar ao seu porco o mesmo tipo de alimentação. Mas entregou o porco ao vizinho. O seu vizinho amarrou Chu Lao-erh e com ajuda de mais duas pessoas, levou-o ao mercado. Era inverno e as pessoas pagavam muito pela gordura do porco, e Chu Lao-erh rendeu-lhe muito dinheiro para cuidar de sua família. “Tsung-ming pei tsung-ming wu”, ou, “Os espertos geralmente caem nas armadilhas de sua própria esperteza”.


A

soberba

da

árvore Conto do Tibete

Há muitíssimos anos no cume mais alto do Himalaia se erguia uma árvore gigantesca, de extraordinária frondosidade, em cuja sombra se protegiam os habitantes daquelas regiões. Ocorreu que certo dia um santo monge budista chamado Shinram, extenuado pelo calor e fadiga de uma longa caminhada, foi sentar-se à sombra acolhedora da grande árvore. E dirigiu ao esplêndido vegetal palavras de agradecimento e admiração. - É evidente -disse- que deves gozar da proteção de algum poderoso deus, posto que nem o furacão nem as nevascas - que tão violentas são no Tibete- conseguiram desbaratar tua magnífica cabeleira, nem abater o teu soberbo tronco no curso dos séculos. É por acaso o deus do Vento quem te protege? - Nada disso! –contestou a árvore com altivez, sacudindo seus ramos com um ruído semelhante ao trovão. Engana-te, ancião. Nunca me protegeu nenhuma divindade, e menos ainda o maligno Vento, que não tem amigos nem perdoa a nada. – Então ... – disse o monge. – O que sucede, - interrompeu a árvore – é que nada nem ninguém pode contra mim, por forte e poderoso que seja. Quando o vento se desata furioso e sopra com seu ímpeto as demais árvores, detém-se esgotado ante a minha potência e se retira, mudo e temeroso, desejando no seu coração que eu não me encolerize contra ele e o castigue severamente. Tais palavras, cheias de soberba e de orgulho néscio, indignaram ao bom Shinram. Olhando fixamente a soberba árvore, o monge budista exclamou indignado: - Não te envergonhas? Como te atreves, miserável, a usar este tom de desprezo para com um dos deuses mais poderosos, que é um terror do universo? E pondo-se em pé, decidiu abandonar aquele lugar, dizendo: - Vou daqui. Ainda que cansado e desejoso de sombra e frescura, não posso deter-me nem mais um minuto a falar com um ser tão indigno e tolo como tu. E seguiu, apoiando-se no seu grosso cajado, murmurando palavras de indignação contra a árvore.


Mas ainda não tinha desaparecido no horizonte, quando o céu escureceu e a terra se pôs a tremer e apresentou-se o Vento em pessoa, com um espantoso sibilo, agitando ameaçadoramente sobre a árvore seus potentes braços feitos de nuvens. Quando a árvore viu o poderoso deus junto a ela, estremeceu até o mais profundo de suas raízes, e no íntimo desejou jamais ter pronunciado aquelas insensatas palavras. - Que tal arvorezinha – falou o Vento – Achas que não sou bastante potente para ti! Hahahaha! E ao rir todas as árvores do bosque se dobraram aterrorizadas até o solo. O Vento prosseguiu, dizendo mal-humorado: - Muito bem! Quer dizer que tenho medo de ti. Não sabes que se eu quisesse te derrubaria num instante como ao menor dos arbustos? Se agora te perdoo a vida, ingrato, e te conservei intacto durante séculos, é porque na noite dos tempos, quando o mundo era em grande parte um caos, o deus Brama, cansado do trabalho da criação do mundo, repousou na tua sombra. Não sabias, por acaso? - Não, não sabia – conseguiu murmurar a árvore. - E é precisamente a memória daquele feito – completou o Vento – que te concedi a vida até hoje. Mas tu insultaste-me, ultrajaste-me e por isso mereces o castigo mais atroz. Mas não o aplicarei agora, mas sim amanhã. - Perdão! – suplicou a árvore – prometo não voltar a fazê-lo. Mas o Vento, sem fazer caso desta súplica, prosseguiu em tom ameaçador: - Quero castigar-te à luz do sol, para que todos possam ver como o Vento trata aos ingratos e soberbos. Até amanhã! E lançando um último sibilo que abateu às árvores da selva e fez as feras irem ao fundo das suas tocas, desapareceu tão rapidamente como tinha vindo. Pouco depois, veio a noite e o silêncio envolveu o mundo. Todas as plantas adormeceram cansadas e temerosas. Só a árvore do Himalaia velava na sua angústia. E dizia para si: - Com que gosto desdiria tudo o que disse ao monge budista e me retrataria de tudo! Agora, quem sabe o que me espera! Provavelmente serei arrancado, feito em pedaços e triturado; meu tronco e ramos serão espalhados pela selva e só serão úteis para arder numa fogueira... Depois de tantos séculos de vida e reinado, serei cinzas na terra...! Mas, à medida que ia meditando essas coisas, ocorreu que talvez existisse um remédio heróico, uma última esperança de sobreviver: resistindo à fúria do Vento. – Sim – murmurou despojado de todos os meus ramos e folhas - poderei resistir melhor aos embates do meu inimigo. Num momento, despojou-se de todos os ramos e arrancou até a última folha e a madrugada encontrou um tronco mutilado e desnudo. Momentos depois apresentou-se o Vento. Vinha cheio de cólera e desejoso de vingar-se. Mas então ocorreu algo surpreendente. Quando o deus estava junto à árvore e a viu sem folhas, a sua cólera desvaneceu-se instantaneamente. E começou a rir, primeiro com um riso breve e logo uma gargalhada forte e sonora, que invadiu a terra toda. Por fim, uma vez recobrado o alento, disse com ironia:


- É verdade que não te conheço, árvore soberba! O castigo que tu mesmo te infligiste foi muito mais atroz do que eu podia aplicar-te com toda a força da minha cólera. Agora és um espetáculo realmente grotesco, porque todos se riem de ti: os animais e plantas, os homens e também os deuses. Que maior vingança contra uma soberba e néscia como tu? Hahahah! E proferindo sonoras gargalhadas, voltou à áurea morada dos deuses, deixando a árvore triste e humilhada.


A donzela que era irmã de sete génios Conto persa Era uma vez, no alto de uma montanha, no antigo Irão, onde morava uma donzela que foi adotada por sete génios que a encontraram na floresta, enquanto caçavam. Levaram-na para o castelo onde viviam e ali foi criada por uma velha ama até fazer 17 anos. Era o dia do seu décimo sétimo aniversário, e estava tão formosa como a mais adorável princesa da terra.

Nesse dia, ao olhar pela janela, viu alguém a aproximar-se pela pequena estrada que

conduzia ao castelo. - Ama! Ama! Que coisa é essa que está a subir pela colina em direção ao castelo? Nunca vi nada parecido em toda minha vida. Senhorita Fátima! – gritou a criada, que era uma mulher horrorosa, com uma verruga na cara – Afaste-se da janela. Isso que está a ver é um ser humano e não deve falar com ele porque os seus sete irmãos ficariam furiosos. - Que parvoíce, ama! – disse Fátima, que era bastante decidida e gostava de fazer as coisas à sua maneira. Vou abrir a janela e chamá-lo, pois parece cansado. Tenho a certeza de que está perdido e faminto. A criada começou a falar e falar, mas Fátima não lhe prestou a menor atenção e, abrindo a janela, chamou o viajante com melodiosa voz: Entre no castelo ser humano para que possa descansar e recuperar forças comendo e bebendo algo. Estou só, pois os meus irmãos estarão a caçar o dia todo. O estrangeiro era um príncipe chamado Nureddin, que tinha perdido o seu cavalo ao passear pelas redondezas.

Nureddin não pode evitar maravilhar-se com aquela formosa jovem que o convidava do alto do castelo. A criada abriu as portas e, meia hora depois, uvas, queijo e delicioso pão.

Nureddin encontrava-se sentado com Fátima comendo


Fátima estava encantada com o jovem. Fez centenas de perguntas e ele falou-lhe do mundo que havia para além do castelo. -Preciso de conhecer essas maravilhas – disse ela. Ah... se os meus irmãos desejassem partir...!. - De forma nenhuma, jovem ama Fátima – repreendeu a criada que os servia – A senhorita sabe que os meus senhores nunca a deixarão partir do castelo, pois eles são muito zelosos e dariam morte a este humano se o vissem aqui. -Então eu mesma descobrirei a maneira de fugir do castelo – declarou Fátima. Assim verei as maravilhas do mundo descritas por este jovem. O príncipe não cabia em si de felicidade e prometeu a Fátima que a levaria ao reino logo que tivesse descansado. Porém, antes que Fátima pudesse dizer algo, foram ouvidos gritos que vinham da entrada e latidos de cães, mesclados a relinchos de cavalos. -Oh, ser humano! – gritou a criada - Esconda-se nesta arca pois os meus senhores voltaram e te farão em pedaços no momento em que te virem. Ainda que ela fosse um génio e também detestasse os humanos, sabia que a sua jovem ama tinha gostado do jovem e por isso queria ajudá-lo. Imediatamente o príncipe entrou na arca e Fátima fechou-o. Ainda mal se tinha escondido, quando a porta se abriu e os sete irromperam pela sala. -Irmã Fátima! Irmã Fátima, que temos

para comer? – vociferou um deles, dando início a um

monumental barulho de vozes e risadas, enquanto tiravam as suas enormes botas. Fátima e a criada ajudaram, nervosas, a tirarem os casacos de pele. - Ama, traga vinho. Estamos cheios de sede! A velha saiu apressada para cumprir a ordem. De repente os génios, um depois do outro, começaram a fungar com seus enormes narizes e gritaram enfurecidos: - Um homem, um homem! Sinto o cheiro de um homem! Fátima ficou pálida e o seu coração bateu violentamente. Dentro da arca, o príncipe moveu-se e cobriu-se com roupas para não ser descoberto. - Alguém esteve aqui, irmã Fátima, onde está? Todos os génios se levantaram e começaram a gritar furiosos. Iniciaram uma febril busca de um quarto para o outro, abrindo todas as portas, cheirando e bufando como bestas selvagens. Estavam tão excitados que não lhes ocorreu, num primeiro momento, olhar para arca e Fátima, aproveitando que estavam noutra sala do castelo, ajudou o príncipe a sair. - Depressa, depressa, vou mostrar-te um caminho secreto para sair do castelo. Se não foges, meus irmãos far-te-ão em pedaços! A noite estava a cair e ouviam-se os génios enfurecidos, verificando sala por sala no castelo todo. Fátima começou a sentir medo. Os dois correram de mãos dadas em direção ao fogão e ali ela ajudou-o a entrar na chaminé. -Vem comigo Fátima!, vou libertar-te deste terrível lugar - sussurrou o príncipe - Ela assentiu silenciosamente. Assim subiram pelas pedras da chaminé, até que finalmente os recebeu uma noite carregada de estrelas.


- Onde estão os cavalos? - perguntou o príncipe com tom de urgência. Fátima conduziu-o ao estábulo. Silenciosamente, como duas sombras, deslizaram por detrás do castelo. Os criados das cavalariças repartiam os dinheiros dos roubos do dia e não viram como um par dos melhores alazões eram retirados por Nureddin. Quando estavam montados, o barulho dentro do castelo aumentou e os sete génios viram, à luz da lua, como fugiam os dois jovens, galopando através dos enormes portões de entrada. - Atrás deles! – rugiu o mais velho – vamos trazê-los vivos e vamos assá-los como duas galinhas! Os cavalos galoparam como o vento, montanha abaixo, como animais encantados que eram. Contudo, logo, vieram os sete génios, montando cavalos igualmente ligeiros e fortes. -Fátima, volta! Perdoamos-te, porém deixa-nos matar este humano! A jovem, assustada, podia ouvi-los gritando e sabia que não passaria muito tempo até que os irmãos a alcançassem. Então ela revistou o seu bolso e encontrou uma semente mágica, e lançou-a por cima do seu ombro esquerdo. No mesmo instante, uma enorme planície de espinhos surgiu entre os génios e os fugitivos. Os cavalos dos génios não puderam correr como antes, pois os espinheiros enroscavam-se nas suas patas e atrasavam-nos, mas ao cabo de meia hora, já estavam no seu encalço e Nureddin perguntou: - Fátima, que vamos fazer? Temos que detê-los pois estamos ainda a meio caminho do reino de meu pai e só chegaremos ao amanhecer, se os génios não nos alcançarem. -Não tenhas medo! – disse Fátima com bravura, e buscando mais uma vez dentro de seu bolso – creio que posso fazer algo. E lançou por cima do seu ombro esquerdo uma pinha. Imediatamente surgiu um incrível bosque de árvores e os fugitivos puderam galopar sem ser vistos. Os intrépidos animais levaram-nos cada vez mais próximos às terras do príncipe. Fátima, com os cabelos flutuando ao vento, começava a sentir-se a salvo quando o príncipe olhou para trás e gritou: -Ah! alcançam-nos de novo. Seremos apanhados em pouco tempo a menos que algo os detenha. Fátima procurou no seu bolso, e já caía em desespero, quando os seus dedos se fecharam sobre um grão de sal. Lançou-o para trás e imediatamente um espumoso mar surgiu detrás dos cascos de seu cavalo e nele caíram os génios e seus cavalos afogando-se, pois os génios não nadam bem em água salgada. Fátima e Nureddin cavalgaram um pouco mais e quando o dia estava nascendo chegaram à bela cidade de Nashapur. Ali, o palácio real brilhava com esplendor de ouro e turquesa, com pavões nas alamedas do jardim, exibindo cheios de pompa suas esplêndidas plumas. Então os soldados das muralhas, vendo o príncipe aproximar-se, fizeram soar as trombetas de prata incrustadas de raras pedras preciosas. Fátima foi recebida como uma princesa e casou-se com o príncipe numa esplêndida festa que durou sete dias e sete noites.


Os cavalos encantados que os levaram até ali desapareceram, quando a lua estava cheia. Eles sabiam que a sua jovem ama era, apesar de tudo, um ser humano, e preferiam viver ao serviço dos génios, pois esta é a lei mágica estabelecida quando o mundo começou através de Salomão, rei dos magos e das bestas encantadas.


A Princesa Sapa Conto da Rússia Há muito muito tempo havia um rei que tinha três filhos. Quando eles chegaram a uma certa idade, o rei chamou-os e disse: - Meus queridos jovens, quero que vocês se casem para que eu possa ver os meus netos antes de morrer. E os seus filhos replicaram: - Muito bem, Pai, dê-nos a sua bênção. Com quem devemos casar? - Cada um de vocês deve tomar uma flecha, ir até a campina e atirá-la. Quando a flecha cair, ali estará o seu destino. Então os filhos curvaram-se diante do pai, e cada um tomou uma flecha e foi a campina executar o que tinha sido determinado. A flecha do mais velho caiu nos domínios de um nobre, e a sua filha apanhou-a. A flecha do filho do meio caiu no quintal de um mercador, e a sua filha apanhou-a. Mas a flecha do mais jovem, o príncipe Ivan, voou e foi-se para um lugar desconhecido. Ele caminhou em sua busca, e já estava quase a desistir quando encontrou um sapo sentado com a flecha na boca. O príncipe Ivan disse: - Sapo, sapo, devolve a minha flecha. E o sapo replicou: - Case comigo! - Como posso eu casar com um sapo? - Case comigo, este é o seu destino. O Príncipe Ivan estava muito desapontando, mas que poderia ele fazer? Pegou no

sapo e

caminhou para casa. O Rei celebrou os três casamentos: o seu filho mais velho com a filha do nobre, o seu filho do meio com a filha do mercador e o pobre príncipe Ivan com o sapo. Um dia o Rei chamou os filhos e disse: - Quero ver qual das minhas noras é mais hábil com a agulha. Que cada uma me faça uma camisa. Os filhos curvaram-se em direção ao pai e saíram. O Príncipe Ivan foi para casa e sentou-se numa poltrona, muito desconsolado. O sapo apareceu pulando no chão e disse-lhe: - Por que estás tão triste, Príncipe Ivan? Estás com algum problema?


- Meu pai quer que faças uma camisa para amanhã de manhã. Disse o sapo: - Não desanimes, príncipe Ivan. Vai para a cama; a noite é mãe dos conselhos. Então o príncipe Ivan foi para a cama e o sapo esperou que ele fechasse a porta, tirou a sua pele de sapo e transformou-se em Vasilisa, a sábia, uma donzela com formosura além de qualquer comparação. Ela bateu as suas mãos e exclamou: - Criadas e amas, estejam prontas para trabalhar! Amanhã de manhã quero uma camisa como meu próprio pai usaria! Quando Príncipe Ivan se levantou, na manhã seguinte, o sapo estava novamente no chão, e numa mesa, enrolada numa fina toalha, a camisa. O Príncipe ficou encantado. Pegou na camisa e levou-a ao seu pai e encontrou-o recebendo os presentes dos seus outros filhos. Quando o mais velho entregou a camisa, o Rei disse: - Essa camisa será de um dos meus empregados. Quando o do meio entregou a sua, o Rei disse: - Esta é boa somente para o banho. Finalmente, o Príncipe Ivan entregou sua bordada em ouro e prata. O Rei tomou-a, olhou e disse: - Agora esta, sim, é a camisa e eu vestirei-a nas melhores ocasiões! Os dois irmãos mais velhos foram para casa e disseram um ao outro: - Parece que rimos antes da hora da esposa de Ivan. Ela não é um sapo, mas sim uma feiticeira. O Rei chamou novamente os seus filhos: - Que as vossas mulheres me façam um pão para amanhã de manhã - disse ele - Quero saber qual delas cozinha melhor. O Príncipe Ivan retornou à sua casa muito triste. A sapa perguntou-lhe: - Por que está tão triste, príncipe? -O Rei quer um pão para amanhã de manhã - replicou seu marido. - Não se apoquente, Príncipe Ivan. Vá para a cama; a noite é a mãe de todos os conselhos. As outras noras do rei que tinham rido da sapa na primeira vez, enviaram um velho criado para ver como a sapa fazia o seu pão. Mas a sapa era astuciosa e adivinhou o que elas queriam. Ela misturou a massa, quebrou os ovos, colocou água, fez uma mistura estranha e colocou no forno. O velho criado correu de volta para as outras esposas e disse-lhes o que tinha visto a sapa fazer. Então a sapa esperou que todos se afastassem e transformou-se em Vasilisa a Feiticeira, bateu palmas e gritou: - Criadas e amas, estejam prontas, trabalhem logo! Amanhã pela manhã quero um pão tão leve e branco como jamais nenhum ser humano tenha experimentado. O Príncipe Ivan acordou pela manhã e encontrou sobre a mesa um pão que lhe pareceu o melhor que já tivesse provado, todo enfeitado com belas figuras. Levou-o imediatamente ao seu pai. O rei, ao experimentar o pão levado por Ivan, exclamou: - Isso é o que chamo de pão! É tão bom que só serve para ser comido nos feriados! E o Rei determinou que seus filhos trouxessem, no dia seguinte, as suas esposas para um banquete. O Príncipe Ivan tornou-se sombrio novamente. A sapa, vendo-o assim, perguntou: - Estás triste, príncipe Ivan? - Sapa, minha sapinha, como me podes ajudar? O meu pai quer que eu te leve ao banquete, mas como podes tu aparecer diante do povo como minha esposa?


- Não te amofines, Ivan - disse a sapa - Vai para a festa sozinho que eu vou depois. Quando ouvires uma batida e um estouro, não tenhas medo. Se te perguntarem, diz somente que é a tua a pular na caixa. Então foi o príncipe Ivan, sozinho. Os seus irmãos mais velhos levaram as esposas, arranjadas e vestidas com roupas finíssimas. Eles aproveitaram para gozar com Ivan: - E então, Ivan, não trouxeste a tua esposa? Ela podia ter vindo embrulhada num lenço. Não deverias deixá-la sozinha por aí, com tanta beleza. Vai procurá-la no pântano! O Rei, os seus filhos e as noras e todos os convidados começaram o banquete. De repente, houve uma batida e um estouro que foi ouvido em todo o palácio. Então o príncipe Ivan disse: - Não tenham medo, boa gente, é apenas minha sapinha a pular na sua caixa. Foi quando uma carruagem dourada, puxada por seis cavalos brancos parou em frente ao palácio e Vasilisa, a feiticeira, num vestido azul-turquesa clamado de estrelas e com uma lua sobre sua cabeça, tomou Ivan pela mão e levou-o até a mesa do banquete. Os convidados começaram a comer, beber e divertir-se. Vasilisa bebeu do seu copo e derramou as sobras na sua luva esquerda. Então comeu e colocou os ossos na luva direita. As esposas dos príncipes mais velhos viram-na fazendo isso e imitaram os seus gestos. Quando a comilança acabou, era hora de dançar. Vasilisa convidou Ivan, e ambos dançaram e rodopiaram, sob os olhares admirados de todos. Ela sacudiu então a sua luva esquerda e... apareceu um lago! Ela sacudiu a luva direita e cisnes começaram a nadar no lago. O Rei e os seus convidados ficaram impressionados com tal maravilha. Então as noras do rei foram dançar. Elas sacudiram uma das luvas, mas apenas vinho caiu sobre os convidados; sacudiram a outra, mas apenas ossos roídos caíram, sendo o Rei atingido na testa por um. Enquanto isso, Ivan correu de volta para casa. Ele encontrou a pele do sapo e deitou-a no fogo. Quando Vasilisa voltou para casa, procurou a pele mas não conseguiu achá-la. Triste, disse a Ivan: - O que fizeste? Tivesses esperado mais alguns dias, eu seria tua para sempre. Mas agora, adeus. Procure-me além das Trinta e Nove Terras, no Décimo Reino, onde Koshchei, o Imortal, vive. Dizendo isto, transformou-se num cuco cinza e voou pela janela. O Príncipe Ivan, desesperado, partiu em busca de sua esposa, Vasilisa. Caminhou, caminhou, até que os seus sapatos perderam as solas, a sua túnica rasgou-se, e a sua capa já não o protegia da chuva. No caminho, encontrou um homenzinho, muito, muito velho. - Bom dia, meu rapaz - disse o velhinho - Para onde vais e qual é a tua missão? O Príncipe contou-lhe o acontecido. - Ah, por que queimaste a pele, Ivan? - disse o velho - Ela não era tua nem era o teu direito fazê-lo. Vasilisa ficou tão sábia quanto o pai, e por isso ele enraiveceu-se e transformou-a em sapo por três anos. Pega nesse rolo de corda e segue para o local que ele desenrolar. Ivan agradeceu ao homenzinho e seguiu o rolo. Num campo aberto, ele encontrou um urso. Estava pronto a matá-lo quando o ouviu falar em voz humana: - Não me mates, príncipe Ivan, pois talvez precises de mim um dia. Ivan então deixou o urso partir. Subitamente ele viu um marreco voando sobre a sua cabeça. Pegou na sua arma e, quando foi atirar, ouviu o marreco falar com voz humana:


- Não me mates, Ivan, pois talvez precises de mim um dia. Ele poupou o pato e foi-se. O mesmo aconteceu em seguida, só que com uma lebre e mais uma vez ele poupou a vida do animal. Ainda a caminho, Ivan chegou ao mar e viu um lúcio a debater-se na areia. - Ah, príncipe Ivan - disse o peixe - atire-me de volta para o mar. Então, ele atirou o peixe e continuou a seguir a bola de corda, indo parar a uma floresta, onde encontrou uma cabana de madeira. Lá, estava sentada Baba-Yaga, a bruxa, com uma vassoura na mão. Quando ela viu Ivan, disse: - Ugh, ugh, sangue russo, nunca encontrado por mim, agora eu sinto o cheiro na minha porta. Quem é? Onde está? - Você poderia dar-me comida e bebida e um banho de vapor antes? - retorquiu Ivan. Então Baba-Yaga deu-lhe um banho de vapor, alimentou-o e colocou-o na cama. Então o Príncipe Ivan perguntou-lhe sobre a sua mulher, Vasilisa, a sábia. - Eu sei, eu sei - disse Baba Yaga - A tua esposa está agora sob o poder de Koshchei, o Imortal. Vai ser duro trazê-la de volta. Koshchei não será fácil vencer.

A morte está na ponta de uma agulha. A

agulha está num ovo. O ovo está num pato. O pato está numa lebre; a lebre num cofre; o cofre no topo do mais alto carvalho que Koshchei, o Imortal, guarda como olhos de águia. Ivan passou a noite com Baba-Yaga, e, pela manhã, ela mostrou-lhe o caminho até o carvalho. Ele caminhou, caminhou, e chegou até ao carvalho, onde viu o cofre de pedra no topo. Mas era muito difícil chegar lá. De repente, surgiu um urso e, atirando-se à árvore, sacudiu-a de tal forma que o cofre caiu, quebrou e abriu-se. Do cofre saiu uma lebre que partiu numa corrida. A outra lebre, cuja vida o príncipe havia poupado, disparou atrás da primeira e capturou-a. De dentro dela saiu um pato, que partiu como uma flecha pelo ar. Mas em seguida o pato, cuja vida Ivan havia poupado, persegui-o, e fez soltar o ovo, que caiu no mar. Ivan caiu em prantos. Como poderia achar o ovo no mar? Neste momento o lúcio, salvo por Ivan, nadou até a borda da praia com o peixe na sua boca. Ivan quebrou o ovo, pegou na agulha e quebrou a ponta. Não demorou muito para Koshchei curvar-se e gritar, mas tudo em vão. Caiu morto. Ivan correu até o castelo de pedras brancas. Vasilisa correu na sua direção, abraçando-o, e beijando-o. O príncipe Ivan e Vasilisa voltaram para sua própria casa e viveram em paz e felicidade até a velhice.


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