A emergência e a expansão da escravatura africana e do tráfico negreiro continuam a ser, nos dias de hoje, tema de polémica, definindo todavia, as revelações do continente africano com a Europa, a América e a Ásia. A longa duração deste fenómeno de uma extrema violência, se põe em evidência a crueldade dos homens, deu origem a uma diversidade de itinerários da memória construído em torno de lugares visíveis ou invisíveis: monumentos, topónimos, etnónimos, rotas e redes de circulação dos homens, contos, lendas, mitos… A memória colectiva recicla constantemente esse tecido fundador. Esta Exposição consagrada ao reconhecimento dos itinerários e dos lugares de memória dos países de África que falam a língua portuguesa, é o de identificar, de inventariar, de cartografar, de dar a conhecer diferentes tipos de marcadores: os que podem ser vistos e tocados, sem esquecer aqueles que graças à tradição oral reactualizam o processo criador. Todos os espaços africanos – as aldeias como os caminhos, as florestas como os rios – são habitados pelas presenças do passado, cujas marcas é necessário manter vivas. Tanto as palavras como os objectos e os monumentos lembram a complexidade da existência, evocando as condições difíceis nas quais um homem vende outro homem, seu semelhante, ou um homem passa da plena liberdade ao estatuto repressivo da escravatura.
Os itinerários e os lugares de memória não dizem, por isso, respeito apenas aos grandes monumentos, são também feitos de concentrações de todas as formas, mesmo as mais humildes, que permitem que o grupo, a região, a nação ou o Estado, o continente, recuperem a vibração interna da sua decisão de nunca renunciar ao que constitui esta capacidade de criar futuro que deve levar os homens a empenharem-se na análise dos percursos históricos. Como fazer sem proceder ao inventário apaixonado e meticuloso de todos os espaços de memória? Como esquecer que é graças a esse trabalho da memória que o homem africano se inscreve no quadro dos Direitos do Homem, que o próprio sofrimento da escravatura e do tráfico negreiro tornam irrefragáveis?