Leticía Cangussu Coui - ARTE E RESISTÊNCIA O espaço como experiência de formação e transgressão

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ARTE

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O espaço como experiência de formação e transgressão

Letícia Cangussu Coui


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Leticía Cangussu Coui

Arte e Resistência O espaço como experiência de formação e trangressão

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Teatro, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Licencianda em Teatro.

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Orientador: Prof. Dr. Luiz Otávio Carvalho

Belo Horizonte 2017


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o período de outubro a dezembro de 2016, ocorreu um movimento estudantil na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, o qual foi denominado “Ocupa Belas Artes”. Essa Ocupação configurou-se como uma resposta contra a Proposta de Emenda Constitucional do Novo Regime Fiscal do Governo Federal Brasileiro denominada PEC 241 na Câmara e, posteriormente, PEC 55 no Senado. Paralelamente,

estava ocorrendo um movimento dos estudantes secundaristas contra a Reforma do Ensino Médio. A medida governamental do Novo Regime Fiscal foi apelidada pelos brasileiros de PEC do Fim do Mundo uma vez que propunha o congelamento dos gastos públicos, incluindo a saúde e a educação, por um prazo de vinte anos. Sua finalidade anunciada era a de contenção e controle da ‘crise econômica brasileira’. Entretanto, a

população a entendia como uma medida que ignorava as conquistas sociais e os direitos fundamentais do povo brasileiro e que tentava convencer que era uma medida necessária para alavancar o crescimento do país. As Universidades brasileiras, motivadas por esse contexto nacional, ao aderirem ao movimento de Ocupação juntamente com as Escolas Secundaristas apresentaram um panorama de revolta estudantil de mais

de mil escolas ocupadas e outras centenas de unidades do ensino público e privado por todo o país. No que diz respeito exclusivamente à UFMG, o movimento se desenvolveu da seguinte forma: no dia 19 de outubro, o Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD1) foi o primeiro prédio a paralisar as atividades na Universidade Federal de Minas Gerais, seguido da Faculdade de Educação (FaE) no dia 21, e logo depois, o Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD2), Instituto de Geociências (IGC) e Escola de Arquitetura foram ocupados no dia 24, estendendose, assim, para a Escola de Belas Artes, Teatro/Dança e Teatro Universitário, Escola de Música, Faculdade de Letras (FALE), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), Escola de Ciências da Informação (ECI), Instituto de Ciências Extas (ICEx), Faculdade de Farmácia, Colégio Técnico (COLTEC), e Rádio UFMG. A Escola de Belas Artes foi ocupada em 28 de outubro de 2016 após o encerramento de uma Assembleia Geral que terminou com o grito “Ocupa Tudo!” e uma grande ovação. Desde então, ficou deliberada a Ocupação da Escola de Belas Artes. Até aí tudo bem. Faltava, entretanto, entrar na pauta, como isso, de fato, aconteceria. O público havia se dispersado, estávamos há horas discutindo exaustivamente e pouco sabíamos o que fazer a partir dali. Um grupo composto por mais ou menos quinze alunos se reuniram para discutir estratégias de como seria o funcionamento da Escola, regida pela Ocupação. Em seguida, fomos buscar nossas coisas em casa, roupas,

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pedir barracas e colchões emprestados, trazer um pouco de comida coletada daqui e dali. Decidimos nos dividir em grupos de trabalho (GT’s) e fazer ronda no prédio durante toda a madrugada para garantir a integridade do nosso espaço. Mal dormimos aquela noite.

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Do dia 31 de outubro em diante, fazíamos reuniões diárias para que a gestão ocorresse de forma horizontal, sem um responsável, líder ou partido, tomando frente do movimento. Todos os dias éramos surpreendidos com novos desafios, reclamações, sugestões e críticas. Queríamos fazer daquele lugar um espaço de convivência agradável, de afeto e partilha, de integração com outras mobilizações, de discussão de medidas políticas, de acolhida para apoiadores, e, principalmente, de produção artística. Para além da luta contra a PEC 55, uma vez que esta já havia sido aprovada na Câmara e se encontrava no Senado com tal designação, o espaço que ocupávamos foi nos instigando a questionar o papel dos estudantes na Escola e de seus processos de disseminação de conhecimento e fazer artísticos – aquela Belas Artes maquiada

de desconstrução, retocada de politizada, mas que não custa muito (ou quase nada) para cair a máscara e revelar posturas retrógradas e conservadoras. Começamos a reunir reivindicações dos estudantesartistas para ganharem voz naquele espaço que, por direito, também é nosso. E nos perguntávamos: Belas Artes para quem? As aulas entre quatro paredes foram paralisadas e levamos propostas de ‘aulões’ para o piscinão – espaço comunitário do foyer da Escola –, para o gramado e para a rua. “Ocupa Tudo!” era nosso grito de ordem, que nos uniu e reuniu, somando forças para continuar na luta, mesmo diante da situação política nada favorável aos estudantes. Assim éramos, um grupo de pessoas reunidas pela mesma causa que se apropriou de locais na escola, inventando novos significados e transformando o espaço e, é claro, sendo transformado por ele. As aulas já não cabiam dentro da sala de aula. Era preciso expandir, aproveitar novas formas de explorar o movimento estudantil como formação de alunos, professores e, principalmente, cidadãos. No período em que estávamos articulando a ocupação e as

aulas ainda não haviam sido paralisadas, despertei meu fascínio pelas aulas que não ignorou a realidade cotidiana da Ocupação e utilizou o contexto que vivíamos para agregar conteúdo e interesse tanto como exemplificação teórica como na realização prática de atividades. Por exemplo, o professor da disciplina de Fotografia Básica abandonou seu planejamento usual proposto no início do semestre para adaptar às circunstâncias que a Escola estava vivendo. As aulas práticas e seus métodos avaliativos foram baseados em realizar fotografias da produção de materiais para as manifestações ou até mesmo registrar atividades corriqueiras; e assim, o professor foi tecendo uma experiência convidativa para refletir a atuação transgressora da arte no contexto político para instigar seus alunos que, em sua maioria, eram ocupantes. A noção clássica de cidadania está vinculada ao sujeito participativo na vida política. No entanto, ao observarmos a atuação do cidadão contemporâneo, o que vemos é um indivíduo que aponta falhas nos sistema e, por meio de sua reivindicação de direitos, ajuda a

A arte ‘pensa’ pela lógica da transgressão, ela é risco, dissolve, abala, nega.

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Carminda André


melhorar a performance do maquinário social. Portanto, o cidadão das sociedades liberal é colaborador (espectador atento) e de fundamental importância para a manutenção do “espetáculo democrático”. (ANDRÉ, 2008, p. 2).

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Dessa forma, a partir dessa minha experiência na ocupação, pude ver e perceber como o professor desempenha um papel de condutor para criar abordagens de interesse, apropriação e cuidado com o espaço, pois através da “presença da arte nos projetos pedagógicos, nos planejamentos do ensino, no espaço físico e no cronograma escolar é possível justificar seu valor agregador, formador da sensibilidade do indivíduo identificado à sociedade, atributos que ajudam a diagnosticar problemas e elaborar ‘reformas’ (ANDRÉ, 2008, p. 3). Foi notável como alunos e professores partilharam aquele mesmo espaço a partir da horizontalidade – e como alguns professores tiveram uma dificuldade descomunal em aceitar essa nova estrutura organizacional. Em 2012 quando participei do Programa Escola Integrada no bairro Parque Riachuelo, frustrava-me a falta de estrutura da escola, o baixo orçamento, o fato da Escola não dispor de uma sala para cumprir o planejamento das minhas aulas de teatro e sentia, com isso, que eu decepcionava aquelas crianças por não ter um espaço para produzir algo. Por diversas vezes tínhamos que ir para o porão de uma igreja que mal cabia os vinte alunos. Lá, tínhamos que dividir a pequena sala sem ventilação com

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um altar de mármore no centro, ou então, ir para a rua tentar um “plano B”. Eu me preocupava muito mais para que nenhuma criança se machucasse com o altar ou que quebrasse alguma coisa na igreja do que em desenvolver minhas proposições de atividades; direcionava minha atenção para manter as crianças na calçada (apesar do pouco movimento que a rua tinha) e para que não se dispersassem. Analisando hoje minha conduta, a partir da experiência com a Ocupação da Escola de Belas Artes, percebo que naquele momento me apeguei a ideia de que a igreja e a rua eram uma problemática e a falta de sala de aula, um empecilho para realizar minhas aulas, ao invés de aceitar o desafio de utilizar o espaço como provocador de reações. Ainda não sabia, ou não conseguia, verdadeiramente, ver o espaço como alvo provocador. Assim como ANDRÉ (2008), acredito na arte como uma experiência de transgressão dentro e fora da escola, que não se conforma com a retirada de direitos, não mascara uma política opressora, que está sedenta de questões que confrontam regras e tabus, que nos coloca em posição de debate e ação.

A propósito da menção feita ao ‘espaço como alvo provocador’, gostaria de trazer uma contribuição valiosa na minha formação como professora de teatro através do Estúdio Fisções do Curso de Teatro da Escola de Belas Artes. O Estúdio Fisções é um laboratório de pesquisa e treinamento de atores e professores de teatro, coordenado pelo Professor Luiz Otávio Carvalho. Nesse espaço de pensar e produzir teatro, desenvolve-se trabalhos de pesquisa e experimentações em ação física sob os princípios de Stanislávski por meio da utilização da teoria do alvo proposta por Declan Donnellan, diretor britânico de teatro. O Espaço segundo Donnellan (2011) nunca é neutro. O Espaço sempre oferece facilidades e limitações para os propósitos de quem precisa dele para determinados fins. O que se precisa fazer é ver essas possibilidades de suas utilizações para os fins almejados. Se quisermos, a vida toda, passarmos por um Espaço e não vê-lo, isso assim ocorrerá; por mais

que Ele esteja lá chamando nossa atenção para que nos apropriemos dele para realizarmos nossas metas. O Espaço nos instiga propostas de movimentos e gestos que podem construir a comunicação que precisamos seja para exaltar, seja para protestar. Nunca devemos rejeitar o Espaço antes de analisarmos suas potencialidades comunicativas artísticas, sociais e culturais. Hoje, somando essa minha formação das pesquisas no Estúdio Fisções com a vivência da Ocupação da Escola de Belas Artes em 2016, tenho a lucidez de que posso ver melhor e, portanto, tirar proveito dos espaços que vier a me deparar com eles na minha profissão de atriz e professora de teatro. Outra contribuição dos estudos donnellianos está relacionado ao Medo. Em sua teoria do Alvo, Donnellan alega que nossa cegueira para com os

alvos provocadores – aqueles sobre os quais devemos atuar para atingir nossos propósitos, como o caso do espaço, demonstrado anteriormente – pode ser causada pelo Medo. O Medo, segundo o diretor britânico, nos afasta do tempo presente, do aqui e agora, transportando-nos para o passado ou para o futuro. No passado, experimentaremos uma sensação de Culpa de não ter realizado nosso propósito. No futuro, alimentaremos uma Ansiedade que nos bloqueará para que ajamos adequadamente para atingirmos nossos propósitos. Assim, seja no passado, seja no futuro, nossos propósitos estão condenados ao fracasso. Por isso, é necessário que sempre estejamos no presente, no aqui e agora, para que atinjamos nossas metas almejadas. Mais uma vez, a vivência da Ocupação proporcionou-me a experimentar a teoria na prática artística com propósitos sociais e políticos. No dia 29 de outubro de 2016, fomos a Brasília para uma manifestação contra a

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Ê, boi (2x) Escute o seu sinhô (2x) Não pense em crise, trabalhe Nao pense trabalhador

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Ô ,gado (2x) Retire seu cabresto (2x) Não trabalhe em crise, pense Conteste seu sinhô Sinhô, sinhô (2x) Não quero esse cabresto Direito não tem preço Conteste esse sinhô

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votação da medida dos gastos públicos. Realizamos uma performance inspirada na obra “Divisor”, de Lygia Pape, e na performance denominada “Painting Reality” do IEPE & The Anonymous Crew, surgindo assim o “Mar de Gente”.

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Caminhamos sob o sol da Esplanada até o Congresso Nacional, colorindo aquela cidade acinzentada, fria, inóspita. Era por volta de quatro da tarde, a votação no Senado não havia começado. Estávamos chegando próximo ao espelho d’água. Cerca de vinte mulheres, com escudos de madeira disfarçados de cartaz, seguiam na frente protegendo outros 200 manifestantes que integravam a performance. Entoávamos ladainhas e gritos de ordem, sincronizávamos os passos e a voz acompanhava os tambores dos músicos. Antes mesmo de chegarmos no Congresso, ouvimos bombas estourarem, passaram voando pelas nossas cabeças. Carros começaram a ser tombados. Houve muita correria e gritaria. De um lado, portávamos arte, música e cor; do outro, ignorância em gás e covardia em bala. Pior do que um cenário de guerra, a vala do Congresso tornou-se palco para massacre.

Retornamos novamente à Brasília para realizar nova performance no ato do dia 13 de dezembro. Dessa vez, o cordão de isolamento da polícia estava armado, impedindo-nos de chegar à Esplanada dos Ministérios. Sem conseguir avançar, começamos a nos preparar ali mesmo. Tomamos nossas posições, levantamos a voz e diversos manifestantes começaram a organizar a performance intitulada “Boi”. Mas, diferentemente do dia 29 de outubro, ao mesmo tempo em que cantávamos, tocávamos e coordenávamos os movimentos do cortejo, tínhamos que perceber o que estava acontecendo ao nosso redor. Pairava um clima de tensão, pois pressupúnhamos que a qualquer momento poderia irromper um confronto. Nossa atenção estava dividida entre cumprir nosso objetivo naquele espaço e cuidar da integridade física do coletivo. A presença do Medo estava instaurada na maioria dos participantes e isso acarretou uma imensa dificuldade de ouvirmos e vermos uns aos outros.

No momento não me dei conta de que estávamos bloqueados pelo Medo (retratado aqui em letra maiúscula como referência àquele conceito donnelliano) e por isso não conseguíamos verdadeiramente nos ver. Meus múltiplos alvos provocadores que deveriam ser a música, os sinos que tocavam, o espaço, a fala do outro ator foram ofuscados pelo Medo. Toda a energia que eu deveria estar concentrando no alvo foi transferida em suposições do que poderia ocorrer naquela situação diante da polícia. Verifica-se aqui o fato de que Donnellan menciona em seu livro: o Medo me transportando para o futuro através da Ansiedade e impedindo que eu atingisse meu propósito através da devida reação proposta naquela performance. O Medo é como uma “corrente de retorno” ou “vala”, estreitos canais de água que se movimentam em direção ao mar aberto, responsáveis por inúmeros afogamentos todos os anos. Da mesma forma, quando nos deixamos ser consumidos pelo Medo, vamos sendo puxados para o mar aberto, e quanto mais pânico, mais nos afogamos. Para evitarmos essas correntes, primeiramente devemos saber identificá-las, mas caso ocorra de entrarmos na referida “vala”, a recomendação primordial é manter a calma e nadar na direção certa. Assim funciona o alvo: ele é nosso servo e nosso guia, e é o que nos conduzirá para sairmos das amarras do Medo e evitar um afogamento. Declan Donnelan nos esclarece que “o Medo corrói a nossa confiança, mina a nossa segurança e coagula o nosso trabalho” (DONNELAN, 2006, p. 26), sendo indispensável encarar os efeitos dele para que possamos enxergar nossos alvos.

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O alvo é nossa fonte de energia. É a faísca que inflama e faz eclodir vida no trabalho atoral. Bem, mas onde é que o Medo entra na história? Exatamente assim: ocupando nosso campo de visão, obscurecendo nossa vista ao tapar nossos olhos, sufocando nosso espaço a ponto de nadarmos sem rumo para o mar aberto. Quando chegamos nesse ponto, passamos a acreditar que o alvo não mais poderá nos socorrer, ou que simplesmente nos abandonou.

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As regras do alvo são ocultadas pela presença do Medo. O primeiro passo é reconhecer nossa fonte de bloqueio, identificá-la e posteriormente clarificála como nos livramos do bloqueio com clareza e muita, muita calma. Uma breve (e pra lá de útil) explanação que Donnellan nos presenteia é que o Medo não existe no presente, ele se atreve a governar no passado e reinar no futuro. Ora, então é só nos mantermos atentos no momento presente. Simples, não? Não. Porque o medo nunca anda só. Culpa, responsabilidade,ansiedade, autocrítica, frustração e angústia são fiéis companheiros que podem vir à tona em qualquer momento da atuação artística. Esquecer uma fala, criticar-se por ter errado, responsabilizar-se pelas reações de outro ator ou temer o erro são atos tão comuns na vida do artista cênico quanto escovar os dentes. Em segundo, “manter-se atento” pode ser uma solução incrível, mas não é tão banal assim. Praticar a atenção é um exercício diário e contínuo, que aperfeiçoa na medida de constante treinamento: ela não nos é dada, mas construída.

“Para não cair nas artimanhas do Medo, o [artista cênico] deve ficar atento a cada instante presente da cena. Se sua atenção se volta para o que veio antes ou se projeta para o que virá depois, corre o risco de atrasar ou antecipar as reações. Prestar atenção é quesito basilar para que o [artista cênico] possa reagir adequadamente aos alvos.” (ALBRICKER, 2014, p. 114, grifos do autor). O trabalho com os alvos nos ajudam a isolar o Medo e impedir o domínio deste sobre todas as regras do alvo, a direcionar o nosso olhar para os alvos e trabalhar a atenção com consciência. Donnellan nos diz que o medo não existe no “aqui agora”, e é assim que a arte do teatro existe através na nossa própria existência: estamos aqui, persistimos, existimos. E resistimos. E devemos resistir. Naquele dia não consegui perceber que tudo isso estava acontecendo e que tentávamos, em vão, abstrair nossos anseios e preocupações e a cada minuto nos bloqueávamos para os alvos que estavam ali, gritando para que fossem vistos. O jogo com os parceiros falhavam e, antes mesmo que pudéssemos nos organizar melhor, já estávamos respirando mais gás.

Pude refletir melhor sobre o que não havia funcionado conforme o esperado e partilhar essas observações posteriormente com os participantes. Eu tinha cada dia mais clareza sobre a funcionalidade da teoria do alvo na minha formação como atriz e licencianda e ocupante. Toda uma prática, a princípio, apenas artística, passou a ter uma representatividade

transformadora para a minha profissão de professora de teatro. Treinar os estudantes a ver, a se apropriarem dos espaços, a minimizarem a suas atenções para o Medo e a reagirem sempre em busca de seus propósitos sociais, artísticos e culturais. Num panorama geral da minha experiência artística potencializada com meu ingresso na Universidade, percebo o alvo e sua metodologia como uma abordagem didática que fomentou vivências múltiplas com um novo olhar sempre atento sobre o espaço que ocupamos. No meu percurso curricular, tive o privilégio de encontrar colegas e professores que me provocaram outra visão de mundo proporcionando questionar o “modelo tradicional”, seja ele na esfera da cultura, da política e principalmente, do ensino. Enquanto professora e artista, planejo toda minha caminhada pautada na experiência de perceber atentamente o outro no espaço, o espaço em constante transformação, e a nos transformar. Que a arte ocupe o lugar de incômodo, de reflexão, de resistência, de onde não foi convidada. Para fora dos muros da Universidade, seja no gramado da Esplanada, na rua ou no confronto com a polícia, onde quer que esteja, acredito em seu poder transformador da realidade.

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Referências ALBRICKER, Vinícius Assunção. A fala cênica sob o entrelaçamento dos princípios e procedimentos de Konstantin Stanislavski e Declan Donnellan. Belo Horizonte: Dissertação (Mestrado em Arte e Tecnologia da Imagem) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, 2014. ANDRÉ, Carminda Mendes. Escola é lugar para artes? Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, 2008. _______. Espaço inventado: o teatro pós-dramático na escola. Belo Horizonte: Educação em Revista, 2008, p. 125 – 141. BONATTO, Mônica Torres e CUNHA, Susana Rangel Viera. A cena teatral contemporânea na escola: navegando na fluência tecnológica das novas gerações. IX ANPED Sul, Seminário de Pesquisa em Pós Graduação da Região, 2012. 24

Canal Ocupação UFMG Disponível em: https://goo.gl/4XDDjr. Acesso em 12/ 07/ 2017 Canal Revista Transite Disponível em: https://goo.gl/N8ahoN. Acesso em 14/ 07/2017 CARVALHO, Luiz Otávio e ALBRICKER, Vinícius Assunção. Resumo expandido – O Estúdio Fisções. Colaboração de Camila Flávio, Camila Vaz, Cora Rufino, Décio Nogueira, Nicoli Frabrini, Samuel Macedo. Revista Lamparina, 2015, p.9599 _______. Conexões: uma prática para a formação do ator. (Comunicação, Apresentação de Trabalho), 2008. DONNELLAN, Declan. The Actor and the Target. Londres: TCG, 2006 PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Tradução de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. 2. ed. São Paulo: perspectiva, 2005.

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Créditos Design e diagramação: Clarkson Alexandre e Letícia Cangussu Impressão: Editora Diacrítico Encadernação: Rosceli Vita Silveira Arte “golpinho”: Augusto Lara, Del Lopes, Thiago Amoreira Instalação Memorial: Gabriel Santana, Júlia Monteiro, Lídice Calixto, Maíra Miquilini Gravação, Mixagem e Masterização: Márcio ‘Susuno’ Lelis Gravação de entrevista: Gabriel Santana 26

Edição de vídeo: Stênio Galgani e Letícia Cangussu Fotógrafos: André Damásio, Nina Marina, Patrícia Azevedo, Pedro Casanova Produtor musical: Stênio Galgani Músicos e Musicistas: Danusa Rosa - Voz e Coro Douglas Rafael - Coro, Pandeiro e Tantan Lucas Ferrari - Voz, Coro e Cavaquinho Mayra Tardeli - Voz e Coro Rafael Zeringota - Voz, Coro e Surdo Stênio Galgani – Voz e Coro Victor Mendes - Voz, Coro, Violão, Tamborim e Conga

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