Meditações sobre a pedra e o deserto “Educação pela pedra” e “Fábula de Anfion” (João Cabral de Melo Neto)
Quando decidi que João Cabral deveria ser um tema para o bordado em fotografia, fiquei pensando também que deveria ser um bordado de paisagem ou de textura. Essa decisão estava relacionada à sonoridade do seu poema e à sua intimidade com o real, com a superfície e extensão das coisas, de maneira objetiva e direta. Seria uma forma de respeitar as próprias decisões do poeta, ao preferir a concretude à abstração; a objetividade à subjetividade, e dessas matérias retirar com mais força o caráter simbólico da linguagem. Quis, assim, bordar a pedra. A pedra mesma, a coisa mesma. Quis bordar a objetividade da pedra, sua carnadura concreta , seu adensar-se compacta , numa tentativa de mergulhar mais intimamente nessa linguagem poética das coisas, e poder encontrar, de certa maneira, um olhar sobre esse mineral que, por seu peso e gravidade, é uma força centrípeta ao chão, à superfície, tão necessária nesse momento histórico. Escolhi uma das fotografias que eu havia disponibilizado na oficina sobre o poeta, e que, apesar de ser a minha preferida, não foi escolhida por nenhuma das participantes. Achei que esse era também um chamado interno, um desafio para mim mesma - bordar a pedra que eu havia escolhido para outras pessoas bordarem.