

Neste ano, faz um século que Henrique Wolland, o Alemãozinho, em meados de 1914, chefiando um piquete de jagunços tão fanáticos quanto valentes e sanguinários, atacou Papanduva, sitiando o vilarejo e trancando em casa as dezenas de famílias que começavam a construir a herança a ser deixada para nós
Já éramos polacos e ucranianos, aqui chegados a partir de 1880, que, anos mais tarde, se misturaram com a caboclada sertaneja, com os alemães, italianos, portugueses, xoclengs e demais etnias bugrinas que popularam nossas terras. Com o tempo, apenas duas grandes gentes brigavam pelo espaço e dividiam a cultura: de um lado, os caboclos, resultado e consequência da miscigenação das raças via casamentos e entrelaces diversos, de outro, os imigrantes, cheios de charme e tecnologia E espírito empreendedor mais destacado que os primeiros. Éramos todos brutos e selvagens, silvícolas mesmo, catadores de pinhão e de erva mate Viemos lá de Viamão, no Rio Grande do Sul, e queríamos chegar em São Paulo, na feira de Sorocaba Viajem longa e cansativa, paradas necessárias para a sesta e o pastoreio, descobrimos um generoso papanduval para alimentar o gado e as mulas, ali por perto do rio São João, que ganhou o nome de Passo Ruim de tão feio que era o banhado, intransponível em época de cheias. Sem condições de seguir pela BR Caminho das Tropas, fomos ficando, amassando o papuan, meio que forçados a gostar das paragens e do lindo por do sol que nos cercava. E fomos fazendo filhos, isso era fácil, o único laser dos adultos e a curiosidade mais latente dos guris de calças curtas E, para manter o corpo seco e a roupa limpa, um casebre aqui, um puxadinho ali, um abrigo mais adiante, até uma igrejinha para receber os padres e os monges puseram à prova nosso nascente empreendedorismo construtor. Em cada edificação, um quintalzinho de couve para alimentar João Maria, um fogo de chão para esquentar o couro e preparar o café tropeiro e o mate, tudo de acordo com o que Deus queria. Mas, para o Império, isso era pouco Tinha que se aproveitar melhor a fertilidade do solo e os cabos de enxadas toscas não eram suficientes, precisávamos de arados, de cavalos para puxar os arados e de gente para puxar os cavalos Com o passar dos anos, as famílias que habitavam a região de Papanduva foram se estabelecendo e construindo uma comunidade rica em diversidade cultural
Os imigrantes vindos de diferentes partes do mundo se misturaram com os caboclos locais, formando uma sociedade única e cheia de histórias para contar
A necessidade de trabalhar a terra e aprimorar a agricultura fez com que novas técnicas fossem introduzidas, trazendo desenvolvimento e prosperidade para a região.
Os pequenos casebres deram lugar a casas mais sólidas, os quintais se encheram de variedades de plantações e os habitantes de Papanduva viram a sua comunidade crescer e se fortalecer As tradições se mesclaram, as festas se tornaram ainda mais animadas e o espírito empreendedor continuou a guiar cada passo dado por aquele povo tão batalhador
Assim, Papanduva se transformou em um lugar de acolhimento, de trabalho árduo e de celebração da diversidade. Os descendentes daqueles primeiros colonizadores carregam consigo as histórias e os ensinamentos de seus antepassados, mantendo viva a memória daqueles que ajudaram a construir as bases dessa comunidade tão especial
Então, vieram os colonos europeus, cheios de charme e de tecnologia De teimosia, de arrogância e de superioridade Aí apareceu o Alemãozinho, o tal de Wolland, que só não arrasou o povoado porque, desta vez, os superiores se uniram aos inferiores no combate comum contra os ainda mais inferiores e mais pioneiros espoliados de seus lares primitivos e de suas posses legitimadas sem documentos comprobatórios
A política da época não tinha partidos, siglas ou coligações
Tinha republicanos, aglutinados entre os mandantes eufóricos, seguidores de Deodoro e, depois, de Hermes da Fonseca; tinha os imperialistas, ferrenhos adversários dos republicanos, e os monarquistas, saudosos de um rei para venerar Mas, quem ou o que decidia os rumos era mesmo o colonialismo britânico, ávido por nossas riquezas e patrimônio inexplorado. A “Geração Coca Cola” ainda não nascera e os americanos ainda engatinhavam no seu conquistalismo desenfreado Esse quadro, claro, não agradava nem um pouco os até então submissos caboclos sertanejos destas terras contestadas, cada um, a seu modo, defendendo sozinho os seus pertences e as suas famílias A necessidade de um líder que lhes abrisse os olhos quanto aos seus direitos e deveres era notória e não havia padres ou políticos com suficiente autoridade para apontar seus rumos, abrindo uma brecha favorável à presença de conselheiros de todas as regiões do Brasil De Missal em punho, apareceram os profetas do sertão, auto denominados monges, cada qual com sua filosofia e seu modo de vida característico Uns mais adeptos da paz e do diálogo para resolver os problemas do povo, outros com espírito bélico disfarçado ou explícito, três eremitas ganharam força e fama no Contestado catarinense: João Maria D’Agostini, de ascendência italiana; João Maria de Jesus, meio espanhol, meio caboclo, e José Maria de Santo Agostinho, cujo verdadeiro nome era Miguel Lucena de Boaventura Este último, de político não tinha nada, pois só pensava em guerra armada para dar fim ao conflito que ajudou a criar, tanto que morreu em batalha nas cercanias do Irani, no meio oeste catarinense. Nenhum deles tinha uma origem muito clara, apenas o último teve destino conhecido. Dos outros dois, um deles passou por aqui, fincou cruzes de cedro, abençoou grutas e fontes, rogou pragas e sumiu, deixando como legado uma fé inabalável nos seus milhares de seguidores
A batalha quente, de facão e garrucha, durou pouco tempo, não mais que uns quatro anos, mas a guerra fria, de ameaças e de pressão, muitas décadas antes e muitos anos depois. Os britânicos e os americanos da serraria tomaram quase tudo, enricaram uns poucos imigrantes, empobreceram ainda mais alguns milhares de camponeses. E formaram-se novos patrões e novos subalternos, um novo comando num Estado novo. E viramos catarinenses. Catarinenses do Planalto Norte. Planalto Norte despojado de suas riquezas, o maior patrimônio nativo de Santa Catarina com seus pinheiros, suas imbuias e sua erva mate; e cedros abençoados pelos monges. Levaram tudo, mas deixaram a esperança de uma nova Pátria, não aquela idealizada pelos guerreiros do Contestado, um novo Império ou uma Cidade Celestial, mas uma Pátria com raízes, crenças, lutas e nomenclatura de coisa importante. Somos brasileiros, do Brasil, de Santa Catarina, Distrito do Município de Canoinhas. Papanduva. Esse é o nome. É o nome do capim, origem humilde, rasteira e comum. Mas, apesar das pragas de João Maria, esse é o nome, o nosso nome.
Os gabinetes decidiram. Deixamos de ser distrito rionegrense para sermos colônia canoinhense. Gritamos nossa independência do Paraná e engolimos nossa dependência de Santa Catarina. Se foi bom ou se foi ruim, saberemos em mais algumas décadas, talvez. Por hoje, estamos felizes, pois chegamos ao status de município. Quanta alegria, quanta vaidade. Somos município. Emancipados da política e da administração de Canoinhas para gerirmos nós mesmos nossos destinos. Não estava tão ruim. Tínhamos escola estadual, tínhamos paróquia, um clube atuante com salão e pista de corridas de cavalos, colégio de freiras e muitas outras coisas importantes antes mesmo de nos tornarmos município. Mas nosso orgulho aflorou da pele, ah!, como aflorou. Agora, somos a Pátria Papanduvense. A Pátria do padroeiro São Sebastião. Não exatamente como apregoava João Maria, que preconizava o nome São Sebastião para o município, ao invés de Papanduva, jurando e rogando praga para que a cidade nunca se desenvolvesse enquanto mantivesse esse nome, mas, para não desagradar o profeta e, por via das dúvidas, para garantir o crescimento, adotamos o “seu” santo como padroeiro. Bom para todos. Um nome oficial, nascido de suas origens, para sermos mais legítimos, com a homenagem também oficial ao soldado romano que virou santo pela defesa de sua fé. E deu certo. Papanduva cresceu, virou uma vila de verdade, com ruas, casas, escolas, hospital, cinema... E Prefeitura. E Câmara de Vereadores. E padres de batina e rosário. E pastores de todas as linhas evangélicas. E centros espíritas, terreiros e crenças na reencarnação, igualzinho ao tempo dos jagunços. E políticos, muitos políticos, por mais mal ou bem que façam à comunidade, muitos políticos decidindo por nós os rumos das nossas vidas.
UM MAPA PARA RECONSTITUIR
Há sessenta anos vinha uma estradinha do Rodeiozinho, ( que na época era apenas Rodeio, não havia os CTGs nem o Rodeio Grande de Monte Castelo), que passava na frente da nossa primeira escola, hoje mais ou menos a entrada da Madeireira Beira Rio, e da raia de corridas de cavalos, ali onde hoje se localiza o Bairro Rondinha, que já tinha esse nome mas ainda não era bairro. A cabeceira da raia está ocupada atualmente pela Escola Maria Avelina. A estrada sinuosa, usada apenas pelos carroceiros e seus cavalos, fazia uma curva à esquerda para desviar a casa de João Gelinski, perto do estádio municipal, depois se bifurcava, dobrando à direita para adentrar os terrenos de Paulino Furtado ou seguindo em linha mais ou menos reta passando em frente da
propriedade dos Humenhuca, depois da casa do “Seu Bilano”, do colégio das Irmãs e da Igreja Santo Antonio e se encontrando com a outra estrada que vinha do São Tomaz e ia dar na Vila, hoje o centro da cidade.
Esse “ramal” que passava pelos Furtado, um pouco mais adiante se bifurcava também e, à direita, seguia para a oficina mecânica do “Seu” Albino, para a marcenaria do “Seu” Antonio Chupel, atual Tratorama, para a casa do dentista alemão Rudolf Adam, seu Rodolfo; passava na frente da propriedade de Severo Almeida, de Rogério Marques,dos Calabaide, da serraria do “Seu” Severo, da fazenda de João Reusing e ia dar na Estrada Federal BR 2, hoje BR 116, já no Passo Ruim. Na altura da serraria, um ramal à direita levava para o Pocinho do Monge João Maria e para a Estiva. Antes, na bifurcação próxima à oficina do “Seu” Albino, seguindo à esquerda passava pela casa da Dona Catarina Truch, onde o Menino Milagroso se hospedou e deu bênçãos aos fiéis fanáticos por religião, depois se encontrava com a estrada do São Tomaz, já no centro da Vila. Seguindo no sentido da Lagoa Seca, fronteava a casa de José Zadorozny, marido de Irene Reva Zadorozny, mais ou menos onde hoje está a casa do expedicionário José Correia, que, por sinal, foi durante muitos anos a sede do Correio; ao lado dessa casa, havia o Cine Glória do “Seu” Esmeraldino Maia de Almeida, onde hoje está a Farmácia Farmalu; no lado oposto, um pouco mais adiante, ficava a primeira sede do Correio, administrado exatamente por José Zadorozny, que era também guarda livros, ou contador; depois dele e antes de José Correia, as pessoas mandavam e recebiam cartas e telegramas, ainda por telefone de manivela, nessa casa que, até hoje, permanece em pé (fica ao lado da atual prefeitura). Então, o Correio era administrado por Antonio da Cunha Ramos, uma dos pioneiros do recém criado município. Dali, a estrada seguia para o Salto do Itajaí. Chegando na Vila e dobrando à direita, atual Rua Tenente Ari Rauen, passava em frente do comércio do “Seu” Narciso Guebert, da barbearia do “Seu”Leopoldo Matoso, da farmácia do “Compadre” Floriano, do bar do João Pereira Moço (das moças, como ele gostava de dizer), do barracão dos Schadeck e descia o morro em direção ao Barro Preto onde havia mais alguns estabelecimentos residenciais e comerciais, entre eles a sorveteria do Catarino, perto do campo de futebol. Isto tudo no lado direito da rua/estrada para quem vinha do Rodeiozinho ou do São Tomaz; no lado esquerdo, a bodega do Victor Malakoski, a casa comercial do “Seu” Jahir, a delegacia, o Clube Papanduvense e a bodega do judeu Jacób Schadeck, ao lado da qual funcionou a prefeitura nos primeiros anos da criação do município. A frente da prefeitura e da casa do seu Jacób, não sei porque motivo, as vacas e os cavalos escolheram como privada; a bosta só saía dali quando chovia muito forte e era levada pela água rua abaixo. Mas, mesmo em tempo seco, faziam a fubica do seu Paulino Furtado patinar e encalhar.
Com exceção da delegacia, da prefeitura e da casa comercial do Schadeck, as demais construções de madeira deram lugar aos “arranha céus” de dois andares, contando com o térreo, e causaram uma concorrência nas alturas entre Jahir Damaso da Silveira, Jacob Schadeck e Victor Malakoski. “Seu” Jahir desmanchou o casarão e ergueu uma construção de tamanho e altura considerados suficientes para suas necessidades de residência e comércio; os Schadeck, demoliram o casarão anterior e ergueram seu “prédio”, na frente da “Casa Progresso” do Jahir, com meio metro mais alto; Victor Malakoski, levantou mais meio metro na sua construção e ficou com o “edifício” mais alto de Papanduva durante muitos anos. Mais alto que o seu prédio, só a torre da matriz, e o Moinho do Schadeck...
Essas construções, com algumas reformas, ainda existem, inclusive o Clube Papanduvense que poderá ser tombado pelo patrimônio histórico e transformado em museu.
No Rio de Janeiro e no Brasil, mandava Getúlio, não mais como Ditador, mas, agora, levado ao Palácio nos braços do povo Despediu-se voluntariamente da vida no dia 24 de agosto do mesmo ano da emancipação de Papanduva, 1954. Logo depois, começaria a “era Jusceliniana”, combatida par e passo pelos udenistas de Carlos Lacerda Em seguida, Jânio Quadros, o homem que fê-lo por que ki-lo, passou a vassoura na política brasileira e acabou com Ademar de Barros, Marechal Lott e Plínio Salgado. E mais Brizola e Jango. Acabou varrido pela ditadura militar, junto com todos os outros Cá na Papanduva, a UDN – União Democrática Nacional, dos Schadeck, dos Almeida, dos Furtado, dos Tabalipa e do Seu Narciso Guebert, unida, foi vencida pelo PSD – Partido Social Democrático de Jeca Ribas, Brasil Alves Fagundes e do “Seu” Jahir Com a prestimosa ajuda do golpe militar em 1964 O PTB –Partido Trabalhista Brasileiro, do Victor Malakoski, só ficava na espreita, e o PRP – Partido de Representação Popular, do Plínio Salgado, do Paulino Furtado e do Eugênio Sidoraki, assistia tudo de camarote No Estado, Irineu Borhausen, da UDN, mandava do lado de lá e do lado de cá da ponte. No lado de cá, veio visitar Papanduva no dia em que o pequeno Zezinho “orou” um discurso escrito pela minha mãe para puxar saco dos políticos udenistas. Era o dia 11 de abril de 1954, no Grupo Escolar Alinor Vieira Corte, e o discurso do Zezinho rendeu para o menino uma Bolsa de Estudos e a emancipação político administrativa do então Distrito de Papanduva. A tal Bolsa de Estudos, que eu pensava ser uma coisa de comer ou uma sacola pra
levar os cadernos da escola, foi retirada mais tarde, porque o pai do Zezinho, Seu Paulino, saiu da UDN para fundar o PRP. O município de Papanduva continua emancipado até hoje, mesmo com as pragas de João Maria
Partidos à parte, o pessoal brigava muito, por qualquer coisa, até para ver quem construía o prédio mais alto. Ganhou o Padre Onofre, que invadiu a prefeitura do “Seu” Fagundes e fez a torre da matriz mais alta que qualquer um dos outros prédios Perdeu o município de Papanduva que, unido, poderia ser muito mais forte. Com ou sem praga de profeta.
Neste segmento, vamos juntar dois tempos em um só.
Se, para falarmos de Papanduva de cem ou de sessenta anos atrás temos que buscar nas nossas memórias a realidade que nos cerca, há dez anos ou hoje os acontecimentos estão gravados no cotidiano de quase todas as pessoas que aqui vivem
O cenário é o mesmo, com algumas mudanças importantes. Já éramos um povoado há cem anos, uma vila há sessenta, hoje podemos dizer que somos uma cidade. Ainda com muitas deficiências e benfeitorias a serem feitas Se hoje vivemos melhor que ontem, cada um pode fazer a sua própria avaliação.
Há dez anos tínhamos a Madeireira Beira Rio como principal fonte de empregos e arrecadação do nicípio; essa empresa continua sendo a maior pregadora e a Master, recém vinda, tomou seu ar como principal contribuinte de impostos. Há z anos tínhamos 17 mil habitantes e um efetivo icial de 18 indivíduos; hoje, salvo erro do IBGE, mos os mesmos 17 mil moradores, e um efetivo icial de dez homens. Conquistamos nesses mos dez anos a guarnição do Corpo de mbeiros, uma das poucas evoluções que emos. Há dez anos tínhamos várias ruas vimentadas com calçamento de pedras, fruto, ncipalmente, ainda da administração de Félix wzeniak; hoje o asfalto comprovou ser solução lhor, apesar de mais caro e, por isso mesmo, is raro. Há dez anos já tínhamos estádio de futebol, ginásio de esportes, terminal rodoviário; o mesmo Clube Papanduvense, a mesma igreja matriz, a ucraniana, os templos evangélicos e os centros espíritas; as lavouras de soja e de fumo que substituíram as de milho e feijão; o agronegócio, como um todo, que substituiu o extrativismo e plantou uma nova perspectiva para o município, mas continuamos sendo o pobre planalto norte catarinense; pobre e esquecido; sem energia elétrica decente, sem estradas modernas, sem escolas de nível superior; sem água e esgoto à altura das necessidades do povo. Mas temos religião de sobra, em todos os segmentos E não faltam rodinhas de cacheta, poker e pontinho. Nosso futebol meio que esmoreceu, já foi muito melhor, assim como outros esportes nos quais nos destacamos em outros tempos.
Temos, ontem e hoje, muitos talentos em várias áreas, bons cantores, bandinhas musicais, estudantes inteligentes, escritores consagrados, até confeiteiras e costureiras com destaque regional; e padres nascidos aqui e formados lá fora Já fomos melhores em muitas coisas, mas avançamos em outras Já temos até “portal de entrada”, quem sabe logo teremos um portal de saída. Mas, que não seja para os papanduvenses irem embora e não voltarem mais. Muitos foram, alguns voltaram. Os bons e mais enraizados ficaram aqui. Que venham os imigrantes, senão da Europa, pelo menos do Rio Grande do Sul e do Paraná E que tragam sua contribuição, seja em tecnologia, seja em investimentos, e que venham para somar, não para dividir. O que temos é suficiente para nós, não sobra para exportação nem para doação. Mas, como preceito divino, onde come um, comem dois; é só colocar mais água no feijão. Somos generosos, hospitaleiros, gostamos de dar, mas também temos que receber Isso vale para os políticos, vale também para os ditos investidores, esses que vêm aqui com suas lojas em busca do nosso dinheiro escasso, ou com seus voos panorâmicos à cata dos nossos votos.
Na política, continuamos como sempre fomos. Se, em dois mil e tantos anos o homem não mudou, por que temos que mudar em cem, sessenta ou dez anos? O homem sempre foi e sempre será vaidoso, seja em regimes ditatoriais, democráticos ou socialistas; o homem sempre usará o povo como fonte do seu poder. E o seu poder sempre será voltado às suas realizações pessoais Há pouco mais de cem anos, a República veio para acabar com o imperialismo escravagista; há pouco menos de sessenta, um golpe militar surgiu para matar o comunismo individualista; nos últimos dez, nada parece ter mudado, mas, se bem observado, veremos algumas melhorias, entre as quais, a punidade pregada pelo Ministro Joaquim Barbosa que pode, ao longo dos próximos anos, diminuir a corrupção Quem sabe até acabar com ela
Há pouco mais de cem anos, não havia siglas políticas com força partidária para mudar o país, apenas os contra e os a favor da escravidão, do imperialismo ou do republicanismo; há sessenta, a ditadura acabou com os partidos, pretextos usados pelos políticos para conquistar espaço na sociedade; há dez anos éramos e continuamos sendo uma parafernália de siglas que não representam nenhuma filosofia confiável, mas servem para tempo na televisão, coligações e conchavos diversos.
Há pouco mais de dez anos, Lula e Dilma eram terroristas de esquerda; Raimundo Colombo era do PFL, que mudou para DEM, depois pulou para o PSD, sempre na direita; Saliba era presidente do PMDB, depois fez parceria com o PSB de Gildo Lisboa, foi para o PFL e desembarcou no PP do Maluf e da Prefeitura de Papanduva Humberto Ribas sempre foi fiel ao seu velho MDB de guerra de Luiz Henrique da Silveira e Ulisses Guimarães; Dário Schikoski não tinha muito a ver com política e não precisou do seu partido, o PSDB, para chegar à prefeitura.
Há pouco menos de sessenta anos, o MDB era um movimento que contracenava e contrapunha com a ARENA, depois colocaram na frente o P de Política para descaracterizar um movimento legítimo de se opor à Ditadura; quanto à ARENA, virou estádio de futebol. Há pouco mais de dez anos Papanduva vivia no ostracismo, sem comunicação a nível estadual ou nacional;
hoje temos emissora de rádio e jornal. Hoje, Papanduva está no mapa de Santa Catarina e do Brasil graças aos seus meios de comunicação e, principalmente, ao empreendedorismo do seu povo Se há o que mostrar, mostramos com muito prazer E torcemos para ter sempre mais para mostrar: a eterna construção de uma Pátria digna dos anseios de nossa gente.
O Clube Papanduvense não foi tombado pelo Patrimônio Histórico, mas foi tombado literalmente Sua sede foi vendida e hoje dá lugar ao maior edifício atualmente, que abriga salas comerciais, agência bancária e apartamentos residenciais
O atual prefeito é Jefinho Chupel com a vice-prefeita Marli de Luca. Eles foram eleitos pela Câmara de Vereadores depois que o ex-prefeito Luiz Henrique Saliba sofreu um processo de cassação e seu vice Jaime Iankoski renunciou ao cargo
As ruas do centro da cidade estão quase todas pavimentadas, porém, Papanduva sofre com alagamentos e falta de saneamento básico
A população atual do município é de 19 422 (IBGE/2019), 13.583 eleitores (TSE/2019) e PIB de R$ 599 305 000,00 (IBGE/2018)
Nos últimos 10 anos não houve mais a instalação de grandes empresas na cidade, mas Papanduva vem recebendo cada vez mais mão de obra de fora do município.
O Hospital São Sebastião vem crescendo notoriamente, tendo inclusive inaugurado recentemente um Heliporto. Papanduva realiza todos os anos na semana do seu aniversário a maior festa da região – a Agrofest, reunindo artistas renomados a nível nacional, Rodeio, Exposições, Corrida Rústica e Caminhada, Cavalgada, etc
Segundo o dicionário, a palavra “tradição” deriva do latim “traditio” que significa transmissão, algo que é transmitido (ou transferido) do passado para o presente. Podemos, assim, retratar a tradição como um conjunto de crenças de um povo que são seguidas e partilhadas sucessivamente durante as gerações Cultuar a tradição não significa ser ultrapassado Quem cultua tradições, demonstra seu respeito pela história. E é respeitando a história de um povo, a história que passa de geração para geração, que o Correio do Contestado lança o Caderno Especial “Raízes da Nossa Terra”
Além dos fatores étnicos, faremos uma abordagem em linhas gerais, da história do município, da sua colonização, da chegada dos imigrantes, que transformaram essa querida cidade em um campo miscigenado de culturas, raças, histórias, e tradições a serem seguidas. Falaremos das nossas raízes, dos Índios, dos Caboclos, dos Tropeiros, dos bravos homens que enfrentaram guerras e das batalhas que mancharam de sangue o solo papanduvense
E as raízes antigas, daquelas que se firmam no solo mesmo com a passagem de tantas tempestades e resistiram a invernos e verões, dos mais amenos aos mais rigorosos. Por essas raízes, muitas gerações passaram, muitas histórias foram vividas e as raízes permaneceram firmes no solo, mesmo com o peso da idade Mas nenhuma raiz, por mais firme que esteja, permanece assim para sempre. Ela envelhece e aos poucos vai perdendo a sua firmeza, até chegar o dia em que ela seca, mas sempre deixa seus vestígios, suas marcas... E foi assim que em 2017, assistimos o adeus de duas das mais antigas e firmes raízes da nossa terra: Antonio Bueno, uma raiz centenária, e o Clube Papanduvense, uma raiz arrancada do solo amado Mas toda raiz já foi semente um dia, e toda semente tem que ser cultivada, tem que ser irrigada, tem que ser amada, tem que ser respeitada. E é com respeito às tradições, às culturas, à historia do nosso povo, que apresentamos o Caderno Especial Raízes da Nossa Terra!
A história de Papanduva começou em meados do século XVIII, quando os tropeiros gaúchos, viajando pelo famoso "Caminho das Tropas", levavam o gado de Viamão, no Rio Grande do Sul até a Feira de Sorocaba, em São Paulo e preferiam a região de Papanduva como um de seus pontos de pouso, devido à existência de uma pastagem rica em proteína e de fácil digestibilidade- o Capim Papuã (Brachiaria plantagínea), que auxiliava na recuperação do gado desgastado pela viagem Por este motivo o município foi denominado Papanduva, nome indígena originário da junção do nome do capim papuã com o sufixo duva, que significa muito.
Por volta de 1828, os primeiros moradores, procedentes do Paraná estabeleceram-se no município, dedicando-se à economia da pecuária, da agricultura de subsistência e principalmente do extrativismo da erva-mate Entre os pioneiros estavam: Antônio Bueno, Francisco Torquato, Manoel Amora, Ladislau Tabalipa, famílias Haas, Mendes, Lisboa, Almeida, Furtado e Prestes. Mas a colonização, propriamente dita, começou em torno de 1880, com os imigrantes ucranianos e poloneses, que trouxeram em sua bagagem, além das misérias da guerra, grande vontade de ficar e vencer.
A cidade foi palco de sangrentos ataques dos fanáticos, que armados e municiados, saqueavam e queimavam propriedades. Para se ter uma ideia de quão sangrentas eram as batalhas, existe em Papanduva uma localidade chamada Queimados, que leva esse nome porque durante uma batalha, famílias inteiras foram queimadas vivas Existem ainda hoje nessa localidade, resquícios de um cemitério onde eram sepultados os mortos durante a Guerra do Contestado.
A Tomada de Papanduva (do livro Resgate de Memórias – Sinira Damaso Ribas)
Em 26 de agosto de 1914, a vila de Papanduva foi completamente sitiada. Muitas famílias tiveram que se refugiar em localidades vizinhas por meses, perdendo quase tudo O bando que tomou Papanduva era chefiado por Aleixo Gonçalves, que a seguir enveredou para Itaiópolis. Outro chefe jagunço, Henrique Wolland – o alemãozinho era o chefe do piquete que por aqui se instalou Segundo o 1º Livro Tombo da Paróquia de São Sebastião, “entrincheiravam-se na praça de Papanduva”, no centro da Vila. Aqui permaneceram fazendo terrorismo por três meses Foi nesta ocasião, que chegados do Pinhal, atacaram a casa de morada de Francisco Hass (onde hoje é o Clube Papanduvense). A família conseguiu fugir, com exceção de dois filhos. Um deles, Felipe Hass, foi atirado pelas costas, em frente à sua morada Mesmo ferido, conseguiu descer em direção à Voltinha do Rio Papanduva, local aonde veio a falecer, e o outro, Henrique Hass, conseguiu escapar pela mata adjacente.
A família Hass se refugiou de início na Estiva, depois em Rio Negro, no sítio dos Rauen
A área conflagrada vivia sob a ameaça dos jagunços A população se recolhia apavorada ou punha-se em fuga. Em 6 de setembro de 1914, sob as ordem do major Benjamim Augusto Lage, as forças paranaenses, instaladas em Papanduva para combater os fanáticos, montaram acampamento, atrás da Capela de São Sebastião, mais ou menos onde é hoje o Salão Paroquial O local foi escolhido porque oferecia uma boa visão das redondezas Chegaram a cavar valas fundas no chão para ali montar guarda e usar seus winchesters
Quando a guarda de reconhecimento estava chegando à vila, com 120 praças e oficiais, a um quilômetro abaixo da Igreja da vila, foi atacada de emboscada por um contingente de 150 fanáticos, partindo forte tiroteio de uma trincheira, o que foi respondido pela força policial com cerrada descarga de infantaria e metralhadora que funcionou perfeitamente, ocasionando grandes baixas e debanda momentânea da força fanática.
Logo depois, os rebelados, em torno de 300, instalaramse em barracas, no local onde hoje é o Ginásio de Esportes do Colégio Alinor Vieira Corte e a passaram a usar a Voltinha do Rio Papanduva para todos os fins necessários
... A população papanduvense viveu três meses subjulgada pelo medo.
Em meados de outubro, um grupo de civis, muito valente, abateu 18 jagunços numa manhã, junto à Voltinha Neste lugar, nas barrancas do rio, se postaram seis papanduvenses com armas cedidas pelos militares, numa espera para uma emboscada
Ao amanhecer, os fanáticos costumavam fazer filas, manobras e marchas, proferir palavras de ordem e costumeiros “vivas”. Só depois disso é que tomavam o chimarrão como desjejum. (Era “ Viva São João Maria”, “ Viva São Sebastião” e “Viva a Monarquia”)
Na ocasião, um dos jagunços que passou mal e visitou o mato algumas vezes durante a madrugada, percebeu que havia alguma coisa de anormal porque as mulas estiveram inquietas a noite toda. Avisou aos outros, mas um “vidente” descartou a possibilidade de perigo. Esse jagunço foi o primeiro a tombar, seguido de outros tantos O tiroteio foi grande e o barulho das garruchas acordou o que restava da população que vivia aos sobressaltos Fugiram dali os demais caboclos, alguns em “trajes menores”, deixando tudo o que lhes pertencia, rumando a maioria deles, para a Serra do Rio da Prata.
Nestes dias veio mais reforço militar de Rio Negro, tentando retomar a vila, mas logo retornou instalandose na Estiva
Mais tarde os fanáticos se reuniram no Salto do Rio Canoinhas, sob o comando do chefe Aleixo Gonçalves, valente revolucionário.
Fora capitão da guarda nacional, ousado e de grande influência entre seus comandados, no momento, em torno de 300 homens, entre eles o bandido Alemãozinho.
Consta que nas ribanceiras do Rio Itajaí, na Estrada da Moema, encontrava-se outro reduto jagunço, chefiado por Antonio Tavares. Era muito visada a Vila de Papanduva, por estar entre os covis de Aleixo e Tavares. Tentava-se resolver a questão por meios pacíficos, mas as tentativas estavam sendo respondidas com novos roubos e assaltos
Táticas duras de um grupo de heróis papanduvenses serviram para nos trazer uma paz temporária, porque novas investidas viriam Papanduva vivia constantemente ameaçada de ataques pelos caboclos rebelados.
Foram muitas as mortes nas colônias dos arredores da vila e até em pontos distantes da sede do distrito. Em quase todos os lugares existem cemitérios de jagunços, com suas cruzes e em outros tantos mais, os mortos foram enterrados em lugares desconhecidos Jazem sem identificação os restos mortais dos combatentes, bem como parte de nossa história
Em 9 de novembro de 1914, o Presidente do Estado do Paraná autorizou que o Batalhão de Infantaria fosse organizado como “Batalhão Tático”, sob o comando do bravo Major Benjamim Augusto Lage, para assim, se tentar manter a ordem com mais eficiência.
No Rodeiozinho, próximo à vila, foram vários os ataques dos fanáticos. Meu bisavô Manoel Estevão Furtado, por ser concessionário de terras em Papanduva e Lucena, e autoridade no Distrito de Papanduva, era especialmente perseguido pelos rebeldes. Andou na época, o Capitão Furtado, com a “cabeça a prêmio”, segundo sua própria expressão, perseguido por um dos grupos de fanáticos Formou e armou por sua própria conta, um grupo de “vaqueanos” para a defesa da população “Quando os jagunços chegavam, ficava-se às escuras, faziam-se barricadas e eles eram recebidos à bala”.
As mulheres e as crianças fugiam para o mato, ou se escondiam sob um estrado feito especialmente para esse fim
Em um dos ataques dos jagunços, (1914) a família se escondeu a princípio, atrás de uma cachoeira de uma roda d’água, e depois se refugiou por um longo tempo em Paraguaçu
A família do Coronel Severo de Almeida se refugiou na Estiva, onde tinha extensas propriedades.
Baixas dos dois lados
Em outra ocasião, com a ajuda das forças do Regimento de Segurança do Paraná, os jagunços foram rechaçados e o combate trouxe muitas baixas de ambos os lados
Foi preciosa a presença heroica dos milicianos paranaenses, nesta campanha que jamais será apagada das páginas de nossa história. Quem tinha condições, saía do lugar para só retornar muito tempo depois para contar os prejuízos, e outros foram embora para outras plagas.
As casas de comércio eram saqueadas, sendo tudo levado ou destruído Geralmente os fanáticos levavam víveres, animais para abate e montaria, bem como armas e munições
Relatos de pai para filhos nos contam que o dinheiro da Coletoria de Papanduva, foi guardado, a salvo dos jagunços, dentro dos canos de uma cama de ferro. Era melhor do que enterrar e perder. Correu-se o risco da casa ser incendiada, como aconteceu em outras localidades
O bando de jagunços fanatizados era composto de grande número de “arigós e homens mal encarados”, segundo expressão de Manoela Hass Furtado. Registramos, a seguir, mais uma história dos fanáticos, acontecida em agosto de 1914, no interior do então Distrito de Papanduva: “Um bando de fanáticos assaltou a casa de Joaquim Bueno, na localidade de Pinhal, onde ele vivia com sua mulher e cinco filhos: Nabor, Jango, Vitor, Rosa e Antonio Simões Bueno.
Em outra ocasião, com a ajuda das forças do Regimento de Segurança do Paraná, os jagunços foram rechaçados e o combate trouxe muitas baixas de ambos os lados. Foi preciosa a presença heroica dos milicianos paranaenses, nesta campanha que jamais será apagada das páginas de nossa história.
Quem tinha condições, saía do lugar para só retornar muito tempo depois para contar os prejuízos, e outros foram embora para outras plagas.
As casas de comércio eram saqueadas, sendo tudo levado ou destruído Geralmente os fanáticos levavam víveres, animais para abate e montaria, bem como armas e munições
Relatos de pai para filhos nos contam que o dinheiro da Coletoria de Papanduva, foi guardado, a salvo dos jagunços, dentro dos canos de uma cama de ferro Era melhor do que enterrar e perder Correu-se o risco da casa ser incendiada, como aconteceu em outras localidades
O bando de jaA mãe fugiu para o mato com os cinco filhos, onde passaram a noite escondidos. As crianças choravam de frio e fome
Os jagunços levaram o Sr Joaquim, cinco quilômetros adiante, atravessaram o Rio Iraputã e ali o mataram covardemente Tamanha violência não tem explicação Após o incidente, a menina Rosa foi criada por Lalau Tabalipa.
Os fanáticos, quando chegavam às moradias, era um “salve-se quem puder” Os adultos agarravam as crianças e fugiam, nem todos para o mesmo lado. Dona Maria Avelina de Oliveira Furtado, conta que um desses ataques à residência de uns vizinhos seus, Antonio Matoso e dona Lourença perderam seu filho, um bebê de 15 dias de idade. Ainda em dieta, esta mãe desesperada, procurou exaustivamente pela criança, até que ficou demente pelo resto da vida. Diga-se de passagem, que durante a permanência dos jagunços, só as mulheres podiam sair à rua Claro, o menino foi achado, cresceu, tornou-se adulto e dona Lourença continuou procurando pelo filho, invadindo as casas
dos parentes e vizinhos, perguntando pelo Sebastião, até vir a falecer por volta de 1940
Também segundo Maria Avelina, seu pai, Alfredo Lopes de Oliveira, com 15 anos de idade, teve que fugir dos jagunços, quando atacaram a localidade de Pinhal, mas seu avô, Dúrcio Lopes de Oliveira, foi assassinado
Por aí, pode-se ver quanta tristeza, sustos, pavor, inquietação, perdas e desgastes o fanatismo nos causou.
Os jagunços tomaram a vila por diversas vezes, também por estarmos às margens da “Estrada da Mata” Foi preciso a intervenção das forças legais para acabar com esta ação entre conterrâneos
Mal que se expandia
Muitas localidades, como Queimados, Rodeiozinho, Taiozinho, Pinhal, Campina Jungles, Floresta, Carijos, Palmito, Rio da Ponte, Rio da Prata e Passo Ruim, entre outras, viveram os horrores de ataques e emboscadas onde muitos tombaram, cidadãos, vaqueanos, militares ou fanáticos (Vaqueanos eram os peões das fazendas, treinados e armados pelos fazendeiros para proteger as propriedades)
Os caboclos fanáticos rebelados formaram redutos em vários pontos da região contestada, como Taquaruçú, Caraguatá e Santa Maria.
Todas as famílias de moradores antigos deste lugar contam as mais diversas histórias de escaramuças dos jagunços, que marcaram a sua nefasta presença em todos os recantos do então Distrito de Papanduva Dentre outras localidades, famosos foram os ataques a Curitibanos, Calmon e Lages.
Medidas extremas se fizeram necessárias para debelar um mal que se expandia Era muito difícil para os militares protegerem a zona deflagrada, por apresentar uma extensão muito grande por onde os fanáticos se espalhavam e, protegidos pela mata espessa do sertão, emboscavam as tropas Formaram o exército de São Sebastião, e pretendiam o controle de uma grande região. A irmandade treinava exercícios militares (formavam “os pares de França”) e preparava-se para a guerra
Sucediam-se chefes espirituais e grupo deixava-se guiar por videntes. A fé fazia com que acreditassem na volta de seu líder e numa vitória milagrosa.
A luta pela retomada da Vila
O Batalhão Tático recebeu a incumbência de retomar Papanduva das mãos dos jagunços, cujo objetivo já havia sido traçado
Foi determinado um reconhecimento nas adjacências da vila, antes do avanço da tropa policial militar Para este fim, um piquete composto de apenas 12 homens partiu de Itaiópolis Depois de percorrer o treco da estrada que ia até os Furtado, no Rodeiozinho, chegou até o Passo Ruim, só não conseguindo transpor o rio, porque as chuvas elevaram o nível das águas
Quando conseguiram chegar em Papanduva, se depararam com um grupo de fanáticos que saqueavam uma casa de comércio.
Eis os relatos de Alves da Rosa, 1998.
“A marcha foi apressada, mas ao se aproximarem da casa que estava sendo assaltada, o comandante do piquete verificou, depois de uma revista cautelosa, não ser possível enfrentá-los com tão pouca gente. Usando de estrategema, retrocedeu, com cautela, vindo esperá-los pouco distante, emboscado em uma vala do caminho. E ali ficou longo tempo em completo silêncio. Caiu a noite. Passava das 11 horas quando ouviu-se, na estrada, os rumores da caravana de fanáticos que avançava descuidadamente. Aguardou-se-lhes a passagem e quando o grupo desfilou pela armadilha, uma descarga de rifle abateu de súbito, alguns vultos e animais. Houve pânico.
Os mais acovardados dispersaram, fugindo sob a discreta proteção da noite. Mas os valente ficaram. E, passado esse instante do primeiro susto, investiram violentamente contra o piquete, que topou com firmeza o entrevero, a facão sanguinolento e longo.
Após meia hora de luta tumultuária, em que os golpes se sucediam entremeados de tiros, os bandoleiros debandaram com prejuízo de 11 mortos
Conta-se que ao alvorecer, eles voltaram ao lugar da peleja, em maior número, donde conduziram, tomando a direção de Queimados, dez cadáveres e mercadorias roubadas
Tomando conhecimento do fato, o comandante Lage deslocou-se com sua força rumo a Papanduva em marcha forçada, caminhando 36 quilômetros de estrada em domínio dos rebeldes. A vila foi retomada sem dificuldade. O Major Lage, quando acampou ali- no dia 11 de novembro de 1914- mandou sepultar vários corpos no local de encontro com o piquete.
Era voga, na época, a organização de obras de fortificação, nos pontos estratégicos existentes nas proximidades dos acampamentos e, em lugares adequados, linhas de tiro para exercício das praças
Em Papanduva, o Batalhão Tático permaneceu na defensiva, entrincheirado, sendo, às vezes de noite, atacados por grupos esparsos que outro fim não visavam senão distrair a força, enquanto outros bandoleiros campeavam livremente o gado e saqueavam fazendas
A reconquista de Papanduva fora salutar. Os habitantes da vila reanimaram-se confiantes Nas próprias fazendas afastadas, mais sujeitas ao saque dos bandidos, os donos animaram-se a romper a resignação com que se deixaram mudamente espoliar, pedindo a garantia da força para seus bens.”
Mas as investidas dos jagunços não pararam por ai Logo, porém, Papanduva passou a ser, com mais insistência atacada por sertanejos dos bandos de Aleixo, Tavares, Alemãozinho e outros “Assim fizeram os bandidos nos dias 18,19,20 e 21 de novembro de 1914. Os militares, que conseguiam abrir claros nos grupos adversos, chegaram a ficar quase sem munição de guerra, tendo que repelir o inimigo com arma branca” (General Setembrino de Carvalho, apud Alves da Rosa)
Em seguida, a força do Major Lage, sediada em Papanduva, foi remuniciada e devidamente reforçada. O comboio de munição veio escoltado por uma guarnição de infantaria, com 200 homens do Exército, que chegou em tempo de auxiliar no desbaratamento do inimigo na sua última investida a Papanduva
As forças estaduais se uniram às forças federais até dizimá-los pela fome e pelas armas
Só a partir de 20 de outubro de 1916, com o Acordo dos Limites, Papanduva pertence definitivamente a Santa Catarina, com o final da Guerra dos Fanáticos na área do Contestado, quando tombam soldados e também jagunços, numa luta insana até o limite máximo de suas forças
As terras manchadas de sangue ao sul de Rio Negro e Iguaçu, e a leste do Rio do Peixe, passam a pertencer a Santa Catarina. Os Campos de Palmas passam a pertencer ao Paraná.
Essa guerra desnecessária foi o resultado violento de um fracasso político na região em litígio
Papanduva foi marcada por talvez séculos pela presença dos Índios Xokleng, ou Botocudos Eles eram exímios caçadores; apanhavam suas presas de diversas maneiras inclusive com boleadeiras, arapucas, armadilhas ou fojos Pescavam com anzóis de osso, fechas ou covos de taquara em águas paradas e com jiqui nas corredeiras No fundo do covo, usavam pupa de vespa como isca, que depois de sapecada, exalava um odor de atraía os peixes Sabiam defumar peixes e outras carnes de caça, com o intuito de conservá-las. Eram exímios em preparar cascudos na brasa Coletavam frutos e completavam sua saudável dieta com mel.
Quantos usos e costumes herdamos dos índios Foi inevitável a aculturação.
Eram naturalmente saudáveis, mas sabiam fazer uso de plantas medicinais, costume difundido entre todos os povos e culturas.
Nossos gentios não tinham grande inclinação para a agricultura, mas plantavam mandioca, milho, cará, abóbora, moranga, amendoim e tabaco
Fabricavam panelas de barro cozido, pilões, arcos, lanças, flechas e tacapes Teciam redes de cipó para descanso Construíam canoas de cedro, balaios e peneiras, cuias, bem como cestos revestidos com cera, usados como vasilhame para água.
Faziam fogo friccionando pedras até saírem faíscas que eram chegadas em chamiscos. Geralmente o fogo permanecia aceso e o trabalho era só conservá-lo
Dentre as figuras ilustres da Guerra, o Monge João Maria também andou por Papanduva e deixou para a história muitos mitos e tradições Em seu caminho, plantou pinheiros, benzeu nascentes e ensinou crendices. Os caboclos da região acreditavam receber mensagens do Monge, mesmo anos após a sua morte. Acreditavam também que o Monge João Maria era reencarnação do ermitão Giovanni Maria D’Agostini, ou João Maria d’Agostini, imigrante italiano que viera ao Brasil em 1844. Sua saga apostólica costumava despertar nos homens a prática do bem, orientando e receitando ervas medicinais às pessoas que o procuravam, deixando cruzes nos caminhos por onde passava. Dizia-se inspirado por Deus e passou a ser visto pelos sertanejos como um milagreiro Os locais onde dormia, a água que bebia, tudo era santo para seus seguidores. Mas nada de profético fazia. Viveu por alguns anos entocado na Gruta do Monge, na cidade da Lapa, no Paraná Sem deixar fotos nem desenhos, João Maria foi embora e nunca ninguém soube como e onde havia morrido. João Maria liderou os jagunços e os conduziu em uma batalha sangrenta que em nada ajudou nas conquistas confusas a que se dedicaram. Mas com o passar dos anos, somente suas mensagens de verdade e fé permaneceram entre seus seguidores. Ainda hoje, o povo cultua as passagens do Monge João Maria e atribui a ele suas curas
Eram seminômades; no verão dirigiam-se ao litoral, mas no inverno davam preferência ao planalto pela fartura do pinhão, pois as florestas de araucárias eram seu melhor habitat
Seus abrigos eram reunidos em aldeias As ocas eram revestidas com barro e cobertas com folhas de taquara, palmeiras ou butiá.
Dentro, num canto, sempre havia um girau e redes para dormir
Usavam agasalhos de pele de animal para enfrentar o frio rigoroso do planalto.
As índias usavam tipoias para carregar seus bebês e terem os braços livres para o artesanato e culinária.
Praticavam rituais com cantos e danças, vestidos de tanga, corpo pintado e cocares com belos penachos
.... Os nossos índios faziam fogo, num ponto da Serra do Tamanduá, numa chapada rechã, planificadas por eles próprios, com vestígios até hoje, onde realizavam rituais religiosos e festivos, em sincronia com outros índios do Morro do Taió, com os quais se comunicavam pela fumaça
Na localidade de Rodeiozinho, existe bem visível, os resquícios de uma aldeia indígena. O mesmo já se constatou no Rio das Pedras, Rio do Engano e Rio da Prata
O índio reinava soberano em nossos sertões
Nossos indígenas, legítimos donos dessa terra, perderam sua morada natural à medida que as matas e os prados foram sendo conquistados pelo homem branco a partir do século XIX. Com a chegada dos colonizadores, foram paulatinamente sendo alijados, sofrendo humilhações e praticamente perdendo sua verdadeira identidade.
Sua cultura, aos poucos vai sendo dizimada, apesar das tentativas de grupos que tentam sua preservação (do Livro Resgate de Memórias – Sinira Damaso Ribas).
Caboclo é a designação dada no Brasil para o indivíduo que foi gerado a partir da miscigenação de um índio com um branco. Este nome também é usado para adjetivar a figura do homem do sertão brasileiro, que possui modo rústico, desconfiado ou traiçoeiro.
Também chamado de mameluco, caiçara, cariboca, curiboca e caboco, o caboclo é a representação do indígena brasileiro, de pele acobreada e características físicas do homem branco europeu O caboclo é uma das "subetnias" que existe no Brasil e que se originou a partir dos processos de miscigenação que ocorreram no país durante o período da colonização. Com o passar do tempo, começaram a percorrer nossas matas, alguns sem moradia e trabalho, e acabavam se estabelecendo em Papanduva.
Por muito tempo, representou a colonização principal, até a chegada dos imigrantes em meados do século XVIII. Joaquim Torquato foi um dos caboclos de Papanduva Famílias com sobrenome caboclo em Papanduva: Torquato, Passos, Alves, dos Anjos, Tabalipa (o nome na verdade é de origem indígena Vem do cacique Inca Ataualpa), entre outros Lembrando que os sobrenomes portugueses e espanhóis são em parte caboclos, já que o caboclo é a união do índio com o homem branco
Originalmente, a rota dos tropeiros foi um importante corredor aonde circulavam bravos homens levando riquezas e desenvolvimento a locais distantes
A cada 40 quilômetros em média, as tropas paravam para o repouso merecido, após uma longa e difícil jornada. Inicialmente as paradas se davam sob as árvores ou as margens de rios, ao relento. A preparação do acampamento ou do pouso era trabalhosa e todos participavam tirando os sacos, as bruacas, cangalhas e arreios das mulas As camas eram os “apeiros”, feitos com ramas de árvores sob as quais eram colocados os pelegos A base da comida tropeira eram o feijão, o arroz e a carne salgada desfiada No território paranaense (Papanduva pertencia ao Paraná na época em que os Tropeiros por aqui passaram),
encontravam condições privilegiadas com campos propícios para pastagem e assim estacionavam as tropas por até seis meses, quando então prosseguiam rumo ao seu destino final e em razão desta atividade este caminho ficou conhecido como Caminho das Tropas, Caminho Viamão, Estrada Real, Estrada do Sul ou ainda Estrada da Mata Esse movimento perdurou desde o início do século XVIII até por volta do ano de 1930, quando a modernidade passou a decretar o fim deste ciclo
Com a era do caminhão, a partir especialmente do fim da Segunda Guerra Mundial, a importância do tropeirismo foi aos poucos se esvaindo. As tropas de mulas e cavalos foram substituídas pelos caminhões e as picadas, pelas estradas de rodagem
Por volta de 1880, algumas famílias vieram se fixar em Papanduva (lembrando que foram os Tropeiros que deram o nome ao município devido à abundância do capim papuã, que faziam com que eles parassem nas terras papanduvenses para alimentar os animais), ponto de passagem pela Estrada da Mata.
A migração de gaúchos começou no final do século XIX, com destino ao Oeste de Santa Catarina Tomou vulto a partir de 1918, com o fim da Primeira Guerra Mundial, estendendo-se ao Sudoeste do Paraná. Era composta de agricultores, denominados “colonos”, e de pequenos empresários todos de origem italiana, alemã e polonesa Com eles vinham também elementos lusos, negros e caboclos, inclusive alguns estancieiros dos pampas. Desbravaram as terras onde se implantaram; montaram serrarias, produziram alimentos para os grandes centros do Brasil; formaram vilas, cidades e grandes empresas ligadas ao agronegócio Prosperaram, enriqueceram e depois se expandiram mais para o Norte, onde transplantaram o mesmo modelo de trabalho e empreendedorismo Sua passagem, com milhares de quilômetros de extensão e centenas de largura, é marcada pelo trabalho incansável, sacrifício, arrojo e visão, de futuro, em marcha pacífica e construtiva.
Os tropeiros, conduzindo mulas, boiadas e charque aos mercados de São Paulo, abriram caminhos desde os campos de Vacarias e de Viamão até Sorocaba, passando pelos campos do planalto central catarinense. No seu trajeto nasciam pontos de observação e vilas em cada “pousada”, onde também se implantavam os costumes dos pampas
O auge da migração gaúcha ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, quando saíram do Rio Grande do Sul 375 000 e 1.000.000 de pessoas, respectivamente. Esses migrantes abandonavam a terra natal com suas famílias, seus bens, seu capital e seus instrumentos de trabalho para logo sobreviverem e prosperarem nas novas terras que ocupavam, a citar Papanduva.
O auge da migração gaúcha ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, quando saíram do Rio Grande do Sul 375 000 e 1 000 000 de pessoas, respectivamente Esses migrantes abandonavam a terra natal com suas famílias, seus bens, seu capital e seus instrumentos de trabalho para logo sobreviverem e prosperarem nas novas terras que ocupavam, a citar Papanduva
Ucranianos
A imigração de ucranianos para o Brasil começou efetivamente nos anos de 1890 Em apenas dois anos, cerca de 15 mil ucranianos desembarcaram no Brasil. A grande maioria foi encaminhada para o Paraná e Santa Catarina, onde investiram na agricultura de subsistência e criação de animais.
Papanduva é considerada uma das cidades do planalto norte de Santa Catarina com maior população de descendentes de ucranianos Este povo preserva os costumes do país de origem A língua ucraniana ainda é falada pelos descendentes mais antigos, e repassada às crianças em casa. Em Papanduva, temos a Igreja Santo Antônio, uma comunidade ucraniana com traços fortes da cultura, parte das missas é rezada no idioma estrangeiro, e possui traços característicos, que se distinguem das celebrações católicobrasileiras.
Sobrenomes de origem ucraniana em Papanduva Krochmalney, Gresczuk, Oracz, Iaskio, Krochmalny, Arendartchuk, Bosse, Seredniski, Popadiuk, Minikowski, Szperun, Kaspechak, Bodnar, Ferens, Bileski, Barabach, Czornei, Seredniski, Hunka, Bossi, Oratch, Kluska, Yurquevitch, Andrustchechen, Bobko, Martynychen, Sidorack, Karpen, Ditiuk, Povaluck, Holls, Reva, Kossar, Skwara, Hlenka, Cembalista, Miketchuk, Busko, Maxemoviti, Huinka, Nalevaia, Dudka, Pivovar, Maidanchen, Vatraz, Zadorosny, Zacaluzne, Farynyki, Korinivski, Komar, Heuko, Kuchnir, Arendartchuk, Humenhuk, entre outros Gastronomia ucraniana
A Gastronomia é importante na cultura ucraniana, usando materiais como frango, carne de gado, cogumelos, carne de porco, legumes e outros verdes para fazer pratos incríveis.
Principais Pratos Típicos
Borscht: É uma sopa com uma ampla variedade de legumes da estação, carne, feijão e ervas frescas Os ucranianos não se referem a borscht apenas como “sopa” Borscht tem seu lugar especial entre as outras refeições. Holubtsy ou Haluske: É difícil imaginar a mesa ucraniana, sem holubtsi. Feito com couve fresca ou repolho, e recheado com tatarca e carne moída, pode ser servido com molho de cogumelo ou frango Na Ucrânia, os recheios de holubtsi variam em todo o país Nas regiões dos Cárpatos foram utilizados grãos de milho; na área de Poltava foram preferidos trigo sarraceno Salo ou Smaletas: Salo ocupa um lugar especial na culinária ucraniana. Trata-se de toucinho cru e pode ser comido com pão caseiro. Varenyky ou Pirogue: Varenyky é um tipo de pastel cozido originário da Polônia e oeste da Ucrânia, onde é chamado Pyrohy Também escrito perogi, pierogy, perogy, pierógi, pyrohy, pirogi, ou pyrogy e forma diminutiva: pierożki, são pasteis de massa primeiro cozidas e depois assadas ou fritas,tradicionalmente recheados com requeijão, batata, chucrute, carne moída, queijo e, para as receitas mais ousadas, até frutas.
Cultura e Arte
O primeiro ponto que podemos destacar desta cultura única é o seu artesanato, já que a tradição artesanal da Ucrânia é inigualável e bastante complexa Diversos objetos destinados à decoração são produzidos, como bonecos, ovos decorados, bordados e até xilogravuras
Os verdadeiros criadores e portadores da cultura ucraniana continuam a ser os camponeses, Cossacos e carpinteiros. Pêssankas
Pêssanka ou pysanka, são ovos inteiros e crus decorados à mão com motivos místicos e arte ucraniana. Tradicionalmente, as pêssankas são feitas na última semana da Quaresma e levadas à igreja no Domingo de Páscoa, para serem abençoadas Então são presenteadas às pessoas amigas.
São utilizados vários grafismos (desenhos de animais, flores, geométricos entre outros), cada qual com o seu significado. Cada forma, cada cor, está impregnada de um simbolismo que, por sua vez, gera sentimentos positivos em quem os vê O trabalho artesanal não é somente poesia. Existem ovos simplesmente decorados com figuras geométricas e cores escolhidas ao acaso, apenas para se conseguir uma composição agradável e para comercialização. Mas as legítimas pêssankas trabalhadas com cunho artesanal são cheias de simbolismo, tal como num poema, que tenta mostrar o interior, o espírito, a essência.
Na história do povo ucraniano sempre esteve presente as pêssankas Em escavações arqueológicas, foram encontrados indícios desta arte há mais de 3.000 anos antes de Cristo e, naquela época, eram utilizadas ferramentas muito rústicas para se confeccionar uma pêssanka. A explicação para o interesse antigo do ser humano pelo ovo está no fato deste possuir uma magia incrível, pois de uma forma simples e rude, surgiria a vida
O ovo, portanto, simboliza o princípio de todas as coisas, a criação da vida
Pintura em Porcelana
A pintura em porcelana também um ponto forte da tradição ucraniana Vasos, canecas, pratos, bonecas, são lindamente decorados
Os poloneses começaram a desembarcar em Santa Catarina, a partir do mês de Agosto de 1869 Viajando no Vapor Victoria, um total de 16 famílias da Aldeia de Siolkowice, região da Alta Silésia, que na oportunidade se encontrava sob o domínio prussiano, desembarcaram no porto de Itajaí e foram estabelecidas na colônia Príncipe Dom Pedro, atual município de Brusque
Tem-se que referenciar a visão empreendedora e criativa de inúmeros descendentes que se destacam na Região Norte do Estado, o maior núcleo da etnia polonesa que atuam no ramo industrial, comercial e cultural, principalmente nas cidades de São Bento do Sul, Mafra, Itaiópolis, Papanduva, Canoinhas, Porto União e Rio Negrinho, que dignificam a gente polaca catarinense
Na virada do século XIX para o século XX, Papanduva recebeu significativa leva de imigrantes poloneses. Quando aqui chegaram, viveram em situação extremamente precária, adquirindo doenças e passando por todo tipo de sofrimento Como lavradores, queriam colônias próprias ao invés de trabalho como empregados ou serviçais nas fazendas.
Os poloneses que se estabeleceram em Papanduva, também sofriam com os ataques dos Índios Xokleng, picadas de cobras e animais peçonhentos, ou na derrubada de madeiras. O pinheiro imperava soberano nas florestas e era necessário desbravar extenso sertão de mata virgem para cultivar a terra e constituir moradia Nem todos conseguiam ferramentas do governo, como foices, machados, enxadas e serras. Sementes, armas e munições se faziam necessárias. As flechas dos Índios Botocudos eram mortíferas Seus tacapes e machados de pedra estavam sempre em ação
A devoção a Nossa Senhora de Czestochowa e a religiosidade deste povo, serviu de ânimo e amparo para vencer as adversidades
Mas aos poucos foram se instalando, armando barracas, fazendo suas hortas de repolho, batata e cebola. Aprenderam a comer moranga e milho verde. Urgia plantar centeio para fazer broas e garantir a alimentação
Com o tempo, se construíam as moradias para as famílias As araucárias tombavam aos milhares, cedendo lugar às rudimentares culturas.
O polonês encontrou em Papanduva, extensas e produtivas terras, com terra boa a abundância de água para cultivarem suas lavouras. Aqui, o polonês aguerrido e trabalhador formou colônias, mas sempre mantendo os elementos culturais da sua origem
Os primeiros filhos de poloneses nascidos em Papanduva eram das famílias Cerniak, Wichineski, Jubanski e Kovalski (Com trechos do livro Resgate de Memórias – Sinira Damaso Ribas)
Gastronomia polonesa
Barszcz: sopa de beterraba Żurek: sopa a base de centeio, acompanhada de ovo cozido e linguiça Pierogi: tipo de pastelzinho cozido recheado, os recheios mais comuns são carne, repolho, cogumelo, russo (cebola e batata), tem também sua versão doce recheado com frutas Bigos: guisado de repolho e carne, linguiça e cogumelos Kotlet Schabowy: bisteca de porco empanada servidas com batata cozida. Golonka: joelho de porco com legumes cozidos. Pączki: sonhos com variados tipos de recheios, sendo o mais comum o de rosas e geleias de frutas Kremówka: o doce preferido do Papa João Paulo II, que é uma massa folheada recheada com um creme de nata e polvilhado com açúcar de confeiteiro
Sobrenomes de origem polonesa em Papanduva Ianczkovski, Novaki, Glevinski, Radziminski, Piekarzewicz, Oczkovski, Drozdek, Drozdzak, Kohut, Ostrowski, Mirek, Petruk, Pietruka, Staszkowian, Staskowiak, Lopacinski, Lopachinski, Kmiecik, Kulcheski, Kraczinski, Wojciechowski, Sabatke, Fronczaka, Wiliczinski, Cieslinski, Rogalevski, Kowalski, Urbanek, Slabiski, Karasinski, Sczepanski, Stemposki, Kasmrczak, Jancoski, Kaluzny, Caskoski, Gmach, Iarocheski, Ziezkowski, Dobkovski, Poloninski, Politello, Mastei, Osinski, Breginski, Romanio, Chupel, Gula, Mathioski, Popadiuk, Sempkoviski, Niedvieski, Sulczewski, Malikoski (os imigrantes vieram na verdade da Alemanha, mas a origem do sobrenome é polonesa), Kuiaski, Minikoski, Viliczinski, Kelczeski, Smangogeski, Szychowski, Fladzinski, Rudnik, Glonek, Makoski, Felczak, Nogikovski, Malakovski, Pockszevnicki, Filakoski, Kichileski, Smentcoski, Saskoski, Malikoski, Symczack, Riboski, Iglicoski , Kustulski, Kieski, Fladzinski, Banaczek, Zaranski, Fronchak, Iachombeck, Vojciechovski, Minikovski, Koaski, Jankovski, Nieckarz, Gochinski, Marciniak, Dombrovski, Kaspechake, Zesczylinski, Ratuchinski, Slugovieski, Grabovski, Bilik, Mikus, Vosniak, Kachimareck, Kietz, Chicoski, Cikoski, Lesniovski, Pujak, entre outros
Cultura e tradições
A Polônia é um país antigo e culto, que tem a glória de ter deixado como legado à cultura universal a obra de dois grandes gênios: o astrônomo Nicolau Copérnico (1473-1543), que descobriu que o sol é o centro do sistema solar e a terra gira a seu redor; e Frédéric Chopin (1810-1849), o compositor nacional por excelência, que quando gravemente doente de tuberculose, viveu em Maiorca a agonia de sua paixão pela escritora francesa Georges Sand
O grande romântico compôs em sua curta vida uma obra imensa, quase integralmente para piano: 3 sonatas, entre elas a Marcha Fúnebre; 25 Prelúdios, que incluem a Gota d’água, 14 valsas, entre elas a Valsa do minuto, 19 noturnos; 27 estudos; baladas, scherzos, mazurcas, polcas
A Polônia é um país amante da música, com um elenco de compositores e intérpretes muito extenso, entre eles, e a título de exemplo: o compositor Krystoff Penderecki e o pianista Arthur Rubinstein.
Na tradição científica tão brilhantemente inaugurada por Copérnico, inscreve-se Madame Curie, descobridora do polônio e do rádio, prêmio Nobel de Física em 1903 e de Química em 1911.
Pela peculiar história do país, a literatura na Polônia, muitas vezes escrita do exílio, foi um veículo de fomento e conservação da identidade nacional A primeira obra escrita em polonês é a Bugorodzica, um texto religioso do século XIII. Desde então até hoje, há uma abundante e importante produção literária.
Três autores obtiveram o prêmio Nobel: Henrik Sienkiewicz, autor do popular romance Quo vadis (1896); Wedislaw Reymont, com Chlopi (1924); e Czeslaw Milosz, com A mente cativa (1980) Outros escritores destacados e relativamente conhecidos são: Alfred Jarry, Tadeusz Kantor, Jerzy Andreievsky e Witold Gombrowicz.
Em artes plásticas, as primeiras obras que se conservam são uma coleção de quadros do gótico tardio Até o século XVIII, as obras mais significativas são as encomendadas aos grandes artistas estrangeiros. Por isso, os museus poloneses contam com obras de pintores tão importantes como Brueghel, Rembrandt ou Canaletto.
No século XIX, forma-se a escola de pintura polonesa, em que se destacam o pintor romântico Piotr Michalowsky e o impressionista Jan Matejko Uma peculiaridade da arte polonesa são os cartazes e a ilustração satírica. Em Varsóvia há um importante Museu da Caricatura.
Em arte, incluem-se as Pêssankas, também tradição ucraniana
Alemães
A imigração alemã no Brasil intensificou-se a partir da segunda metade do século XIX, estimulada pelo governo brasileiro que pretendia industrializar sua economia O ano de 1824 é marcado pela vinda de famílias como Brand, Boehnen, Schmitz e Gesser que desembarcaram na região sul.
Hoje são aproximadamente 5 milhões de descendentes alemães morando no Brasil.
No extremo norte catarinense, a partir do Paraná (então ainda parte da Província de São Paulo, até 1853), os primeiros alemães entraram pelo Rio Negro, em janeiro de 1829. A região era então considerada paranaense em ambas as margens do rio. Lá foram estabelecidas naquele início de 1829 mais de cem imigrantes, que compunham 29 famílias.
A penetração paranaense de alemães se fez sentir até em Santa Cecília, região bem adentrada do Estado de Santa Catarina
Quando os imigrantes alemães chegaram ao Brasil, muitos nomes e sobrenomes foram "abrasileirados", de modo proposital ou não. Este fato também ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil, por influência dos Estados Unidos, se tornou opositor da Alemanha Outro fator que ocorreu para o abrasileiramento de alguns sobrenomes era o desconhecimento da língua alemã por parte dos escrivães. Muitas vezes ao ouvir a pronúncia de um sobrenome, o escrivão o escrevia em seus livros de registro da maneira como o mesmo soava, e não como ele realmente era escrito
Sobrenomes de origem alemã em Papanduva
Em Papanduva, as primeiras famílias alemãs começaram se estabelecer a partir de 1900. Notamos a presença ainda hoje das famílias Schmidt, Becker, Schneider, Hoffmann, Rech, Kuhn, Stein, Bauer, Richter, Schuhmacher, Klein, Schermack, Chermack, Adam, Kraus, Wormsbecker, Köhler, Krieck, Granemann, Greinert, Schafaschek, Lang, Rank, Reichhardt, Wolf, Gruber, Schadeck, Marom, Karvat, Beje, Knop, Herbst, Thiesen, Elicker, Hendges, Schons, Litz, Grein, Rauen, Wagner, Duns, Wunsche, Steidel, Frank, Fritz, Hass, Kessin, Seidel, Kothrade, Hellinger, Ulbrich, Baar, Fink, Jungles, Guebert, Augustin (autríaco), Wohl, Mülher, May, Schultz,Bär, Henzen, Althoff, Pscheidt, entre outros
Portugueses e Espanhóis
Muitos espanhóis provieram das três províncias cisplatinas: Argentina, Uruguai e Paraguai, chegando ao Planalto Norte Catarinense através do Rio Grande do Sul e Paraná
Já o português, teve papel preponderante na formação do nosso caboclo. Uma das primeiras famílias de origem portuguesa a chegar em Papanduva foi a família Furtado, com Manoel Estevão Furtado, vindo de São José dos Pinhais, no Paraná.
No entanto, Furtado era na verdade Hurtado de Mendoza, descendentes da família real espanhola e dos Llodin Imigraram para Portugal usando o sobrenome Furtado de Mendonça e assim chegaram ao Brasil.
Sobrenomes de origem portuguesa em Papanduva Souza, Silva, Soares, Ferreira, Pereira, Carvalho, Reis, Pires, Mota, Guimarães, Sampaio, Albuquerque, Castro, Veiga, Silveira, da Rosa, Bittencourt, Vasconcelos, Azevedo, Florença, Varela, Moreira, Calisto, Calixto, Macedo, Nascimento, Pimentel, Barros, Góes, Góis, Andrade, Assis, Amorim, Padilha, Pinheiro, Lemos, Furtado, de Paula, Bezerra, Biscaia, Trindade, Cavalcante, Saldanha, Sarmento, Medeiros, Barbosa, Farias, Resende, Rezende, Santana, Tavares, Peixoto, de Lara, Moraes, Morais, Ramos, Caldas, Siqueira, Oliveira, Bandeira, Neves, Matoso, Brum, Gonçalves, Lopes, Paes, Guedes, Peres, Dias, Chaves, Teles, Meireles, Chagas, Martins, Munhoz, Dorneles, Correia, Barão, Lourenço, Amaral, Teixeira, entre outros
Sobrenomes de origem espanhola em Papanduva Figueiroa, Rodrigues,Ribas, Lustoza, Alves, Fernandes, Velasques, Espíndola, Lopez, Garcia, González, Rodríguez, Fernández, Martinez, Sánchez, Marquéz, Ximénez, Córdoba, entre outros.
Os imigrantes italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da década de 1870. Foram impulsionados pelas transformações socioeconômicas em curso do norte da península itálica, que afetaram, sobretudo, a propriedade da terra Um aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália (1871), razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil. Estima-se que, entre 1870 e 1970, em torno de 28 milhões de italianos emigraram (aproximadamente a metade da população da Itália) Entre os destinos principais estavam diversos países da América do Sul, o Brasil foi um desses destinos, onde Santa Catarina foi um lugar escolhido para ser colonizada por eles. Um grande número de italianos que vieram para Santa Catarina era originário de uma região do norte da Itália conhecida com “o Trentino”, que tem seu ponto central na cidade de Trento
Os imigrantes italianos se dirigiram inicialmente a duas áreas de colonização: Brusque e Blumenau Daí partiram em grupos, para regiões do interior visando fundar novas colônias.
O agricultor italiano difundiu em Santa Catarina, as culturas agrícolas com as quais já estavam familiarizados: a uva, o arroz, o milho, o fumo O vinho logo começou a ser produzido, pois era um produto muito apreciado pelos italianos; depois se buscou a sua industrialização
Na localidade com interessante nome de Nova Trento viveu Amábile Lucia Visintainer que nasceu na Itália e, acompanhada de seus pais, veio para o Brasil ainda criança. Mais tarde, como religiosa sob nome de Madre Paulina foi reconhecida pela igreja católica como a primeira Santa do Brasil
Atualmente, vivem em Santa Catarina três milhões de italianos e descendentes representados cerca da metade da população catarinense
Sobrenomes de origem Italiana em Papanduva Sonaglio,Bordignon, Boggiano, Nicolai, Pisetta, Busnelo, Borges, Antoniazzi, Pasinato, Falchetti, Telles, De Luca, Acordi, Lara, Benini, Perin, Margoti, Toretti, Sonda, Zeferino, Largura, Panceri, Quinterno, Marquetti, Atanasio, Poma, Geraldi, Geremia, Balena, Senna, entre outros.
Sobrenomes de origem japonesa em Papanduva Huzioka, Fujioka, Miajima, Yoshio, Igarashi, Kumagai, Shiokawa, Ikeda, Odawara, Komakome, entre outros.
“ O conselho que tenho pra dar é que façam o mesmo que eu fiz: que peçam pra Deus dar bastante saúde e bastante anos de vida. E que sejam honesto”.
A partir da metade do século XX, japoneses trouxeram novas técnicas de plantio e uma notável cultura exótica De geração em geração, a pluralidade cultural se fez presente, tanto na gastronomia variada, que, adaptou-se ao clima e às misturas, como nas tradições e no folclore
Quando Antonio Bueno nasceu, não havia viagem ao espaço, nem nada próximo disso Não havia nenhum satélite ou a estação espacial ISS O primeiro vôo teste tripulado aconteceu quando ele já tinha dois anos de idade
Não havia internet e a comunicação era muito diferente A primeira chamada telefônica foi feita em 1915 por Alexander Graham Bell em Nova Iorque e Thomas Watson em São Francisco
Também não havia nenhum computador de verdade. A primeira coisa que se pode chamar de computador foi fabricada com o nome de “Computador Instrumental Ford”. Mas não era nada mais do que um dispositivo analógico mecânico, e certamente não era algo para consumidores Hoje carregamos no bolso telefones celulares super poderosos e levamos nosso computador para onde quisermos, nada parecido com o telefone de Graham Bell e o “Instrumental Ford”
Muito antes das modernas máquinas fotográficas digitais, o senhor Antonio Bueno deve ter pelo menos ouvido falar da famosa câmera Parvo Model L- uma das primeiras câmeras fotográficas portáteis
Antonio ainda estava no ventre de sua mãe quando o mundo chocava-se com uma das maiores tragédias marítimas da história, o naufrágio do Titanic, deixando 1502 vítimas fatais Ele também viu a Revolução Bolchevique em 1917, a criação e derrocada do Bloco Soviético, a humilhação estadunidense na guerra do Vietnã e Iraque, duas guerras mundiais, e, bem de pertinho, a Guerra do Contestado Também viu a destruição causada pela bomba atômica, a formação dos blocos econômicos dos países da União Europeia (EU) e da América do Norte (NAFTA), a movimentação da malfadada Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a crise da modernidade e do liberalismo econômico e do neoliberalismo capitaneado pelas grandes potências econômicas mundiais.
Viu a revolução comunista em Cuba, o suicídio do presidente Vargas, o Golpe Militar de 1964 e viu pela primeira vez na história, um operário ser eleito presidente da República e governantes serem depostos.
Foi tanta coisa que Antonio viu…
Antonio Simões Bueno, podemos chamar de, a raiz mais antiga de Papanduva Ele faleceu no dia 27 de agosto de 2017, aos 105 anos, idade documentada, mas a idade biológica era 107 anos Com 4 filhos – dois falecidos e duas filhas vivas, 43 netos, 23 bisnetos e 18 tataranetos, ele era o homem mais idoso de Papanduva
Nascido em 1910, Antonio Bueno ainda era criança quando ocorreu a Guerra do Contestado O que sabia, foi o pouco do que presenciou no final da guerra ou o que ouviu da mãe e de Nabor, o irmão mais velho Já na época da Segunda Guerra Mundial, ele já era homem feito, e as lembranças de um dos períodos mais bárbaros da história mundial, permaneceram em sua memória
Da Guerra do Contestado, seu Antonio contava que via o bando do Adeodato de Carvalho jogar as crianças para cima, depois, aparando com a espada, cortando-as no meio Seu pai Joaquim Bueno foi assassinado por fanáticos que invadiram a casa de comércio da família Antonio, seu irmão mais velho e sua mãe, foram abandonados à própria sorte. “Nós morava (sic) ali no Guarany, perto da ponte, onde tem aquela casa de comércio. Eles vieram, prenderam ele e levaram, passaram aqui, passaram o rio Iraputã, passaram mais um riozinho, chegaram no Salto, mataram ele e deixaram lá e levaram o cavalo dele”, relatou Antonio Bueno ao Correio do Contestado em 2015.
Ele tinha cinco anos quando seu pai foi morto pelos jagunços.
“Naquele tempo não tinha carro à gasolina, eu puxava com a minha mãe, fumo e erva mate de Papanduva para Mafra (de carroça) eu levava quatro dias, dois pra ir e dois pra voltar. O Henrique Martiniak tinha bodega em Papanduva, e nós carregava (sic) erva ali e levava pra Mafra ” Antonio Bueno relatando as dificuldades que enfrentou com a família depois da morte do seu pai
Seu Antonio Bueno contava que havia na região do Pinhal uma caixinha de dinheiro que os moradores esconderam para não serem roubados pelos jagunços Quando voltaram, não lembravam aonde haviam enterrado a caixinha e ele garantiu que ela está lá ainda hoje: “Não adianta procurá (sic), eles perderam o lugar, e não vale mais nada tem ouro, tem diamante, naquele tempo se reunia todo dinheiro pra esconder Hoje em dia as pessoas são estudadas, mas não sabem responder qualquer uma pergunta dos antigos Naquele tempo vendia-se milho por “mão de milho” Quatro espigas de milho era um “atílio” Se você queria uma “mão de milho” contava quantas espigas dava Não tinha balança pra pesar, era medida de um litro até vinte o dinheiro era mirreis O tostão era cem réis hoje Eu, quando queimou a casa aqui, perdi um bauzinho cheio só de moedas de níquel”, (Relatos de Antonio Bueno)
Para Antonio Bueno, a receita para a longevidade dele era: feijão, dormir e acordar cedo, nada de fumo nem bebida alcoólica. Perguntado: Por que Deus deixou o senhor viver tanto?, ele respondeu: “Decerto porque eu merecia, né (risos).
Ainda falando da Guerra do Contestado: “Em Três Barras tinha uma serraria dos americanos, (a Lumber), tinha muitos moradores lá, minha mãe tinha uma carroça e cada mês ela fazia compras nas colônias, verduras, galinhas, essas coisas, e levava lá para vender. Chegava lá, encostava a carroça ali à par, em poucos minutos não tinha mais nada, vendia tudo que levava. E tinha uma irmã minha que morava ali na divisa. Era ali uns 4 quilômetros depois de Três Barras, no rio.”
“ O conselho que tenho pra dar é que façam o mesmo que eu fiz: que peçam pra Deus dar bastante saúde e bastante anos de vida. E que sejam honesto”, finaliza.
“Eu ainda tenho muitas coisas pra contar pra vocês...”
Antonio Simões Bueno:1910-2017.
Durante a entrevista, seu Antonio Bueno trouxe uma latinha que ele guardava com dinheiro antigo.
Construção do Clube Papanduvense Como permaneceu até sua demolição
Aos 77 anos de idade, vai ao chão o querido Clube Papanduvense. O que deveria ser um patrimônio público, foi simplesmente abandonado, até chegar o momento que nada mais tinha para preservar ou restaurar. As dívidas adquiridas ao longo de várias administrações, impossibilitou qualquer investimento para manter vivo aquele que foi patrimônio da comunidade, de gerações em gerações
Vários projetos foram apresentados pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para que o Clube fosse restaurado e tombado pelo Patrimônio Público O que faltou para isso acontecer? Desinteresse da administração municipal, que não apresentou os relatórios solicitados por perder o prazo, ou simplesmente por falta de vontade Preocupados em desenvolver o município, em deixar as estradas bonitas, construir escolas, postos de saúde, quadras de esporte, preocupados com o futuro, “esqueceram” de olhar para o passado É claro que o município tinha suas prioridades, mas sempre vai ficar o porquê de se jogar fora a história da cidade, e sua própria história, a histórias de gerações de papanduvenses
O que precisava para isso acontecer? A Administração Municipal apresentar um projeto de tombamento histórico do Clube aos vereadores, e os edis aprovarem o projeto, que seria enviado ao Governo do Estado e posteriormente ao Governo Federal. Simples assim. Feito o tombamento, as verbas chegariam para a restauração da edificação.
Hoje no local existe um prédio que abriga uma agência bancária, salas comerciais e apartamentos residenciais.
E o nosso Clube ainda estaria lá, mas agora foi literalmente tombado
A história de Papanduva não é apenas a da sua colonização, dos índios, dos tropeiros, dos caboclos, dos imigrantes, da Guerra do Contestado, dos Expedicionários, da emancipação A história da cidade se fez também com os casarões antigos, com os Moinhos, das escolinhas rurais e do Clubão Tudo foi ao chão!!!
A história do Clube Papanduvense
Em 28 de Julho de 1940 foi criada a Sociedade Recreativa e Esportiva Papanduvense A primeira reunião aconteceu na residência de Olivéro da Silva Froes, para tratar de uma fundação de uma sociedade recreativa, dançante e esportiva, com o nome de Clube Papanduvense.
Os sócios fundadores foram: Rogério Marques- presidente; João Matuiko- vice-presidente; Nicolau Matuiko Sobrinho- 1º Secretário; Agostinho Teixeira de Lima- 2º Secretário; Adolfo Kalabaide- 1º Tesoureiro; Alfredo Lopes de Oliveira- 2º Tesoureiro; Olivéro da Silva Froes- 1º Orador; João Rodrigues Gonçalves- 2º Orador; João de Almeida- 1º Procurador; Dercílio Furtado – 2º Procurador; Severo de Almeida, João Maria Alves, Antonio Cunha Ramos, Graciliano Machado e Joaquim Mendes- Conselho Fiscal.
1.
Hoje Papanduva cresce sem perder suas culturas simples e plurais. Preserva seus rios e nascentes, preserva hábitos, cultua costumes e lendas. Com 727 Km², as áreas rurais equivalem a 90% da geografia do município e a agricultura garante 48% da economia papanduvense, compensando grandes investimentos que buscam novas técnicas de lavouras, sem abandonar o equilíbrio agro ecológico. Em Papanduva, no Rio da Prata havia corrente d’água capaz de fornecer força para movimentar pedras de moer. Por este motivo, o primeiro moinho papanduvense foi instalado no Salto do Itajaí, pela família do imigrante Miguel Cerniak (Sharnek), chegado a Papanduva nos primórdios do século passado.
A civilização romana introduziu o moinho rotativo com pedras planas, movimentadas pela força d’água A água corrente era a fonte de energia natural usada para mover o tal moinho com duas grandes mós Com pedras talhadas em forma horizontal plana, e numerosos moinhos à força d’água foram construídos pela Europa E foi esta tecnologia que chegou até Papanduva através dos poloneses, mais especificamente com a família Sharnek Na agricultura papanduvense, as principais culturas são: Soja, Trigo, Tabaco, Atividade Leiteira, e desponta atualmente o plantio de cevada
Além da agricultura, a suinocultura, depois da chegada da Master Agropecuária, passou a ter papel fundamental no desenvolvimento econômico do município