Bruna Gabriele | Portfólio | UFBA

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Bruna portfólio artístico

Bruna Gabriele, nascida em 2001 e crescida na cidade de Alagoinhas, Bahia, é artista visual e criadora independente. Atualmente, cursa Bacharelado em Design na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Sua prática transita entre a ilustração manual, o design gráfico, a escrita e a encadernação artesanal, com foco em narrativas identitárias. Vive, estuda e trabalha entre Alagoinhas e Salvador, desenvolvendo projetos autorais voltados para a afirmação de identidades, afetividades e resistência cultural.

Este conjunto de ilustrações foi desenvolvido na disciplina de Técnicas de Representação Gráficas (TRG), durante o semestre 2024.2, sob orientação do professor e artista Roddolfo Carvalho. A proposta da disciplina foi reinterpretar os 22 Arcanos Maiores do Tarot, utilizando diferentes técnicas tradicionais de ilustração.

Cada estudante escolheu um tema próprio como fio condutor do projeto, e a partir dele criou versões autorais das cartas. No meu caso, escolhi como tema o universo de um livro distópico e pós-apocalíptico que estou escrevendo. A narrativa se passa em um mundo devastado após o colapso do Sol, onde as temperaturas intensas e mutações variadas deram origem a novas formas de vida, organização social e espiritualidade.

Este portfólio reúne 11 das 22 cartas que ilustram esse mundo distópico.

Os Amantes

Aquarela sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: amor, união, beleza, atração, harmonia.

Palavras invertidas: fracasso, tentação, frustração.

Nesta carta, escolhi representar os pais da personagem principal antes do nascimento da filha e antes do colapso do mundo. A ilustração centraliza apenas os dois, sem cenário concreto ao redor, como se o mundo não existisse ou apenas não importasse. Usei a técnica de aquarela para reforçar a suavidade e a fluidez dessa ligação: um momento suspenso, delicado, onde o tempo e o entorno parecem se dissolver ao redor deles.

OSol

Aquarela sobre papel Canson 240g

29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: alegria, sucesso, amor, prazer simples. Palavras invertidas: os mesmos, porém em menor grau. Nesta carta, represento o Sol em seu auge, precedente ao colapso que virá. Aqui, ele continua sendo símbolo de potência, vitória e liberdade: um momento de plenitude, onde tudo brilha com força total. As rachaduras sutis, no entanto, sugerem que esse brilho já começa a pesar. Escolhi representá-la com aquarela porque a técnica traz fluidez à luz, mas as cores quentes e os contrastes apontam que o limite está próximo.

O Eremita

Monocromia com sanguínea sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: sabedoria, solidão necessária, cautela. Palavras invertidas: medo de exposição, disfarce. Nesta carta, representei uma senhora que vive isolada em uma pequena caverna, onde mantém uma grande coleção de livros. Ela carrega o papel da sabedoria silenciosa, alguém que escolhe o recolhimento como forma de proteção, tanto contra o mundo externo quanto contra o próprio desgaste. Seu afastamento é uma estratégia: as temperaturas extremas provocadas pela instabilidade solar a impedem de viver fora da caverna. A escolha da sanguínea reforça esse ambiente de introspecção e resistência, com traços densos que traduzem o peso do tempo e da memória.

O Imperador

Monocromia com sépia sobre papel Canson 240g

29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: proteção, autoridade, estabilidade.

Palavras invertidas: imaturidade, obstrução, crédito.

Nesta carta, representei o pai da personagem principal ao lado dela, ainda criança, mas já pós colapso. Ele foi uma figura de autoridade em sua comunidade e também uma figura de referência afetiva. O Imperador aqui não é representado pelo controle frio, mas pela estabilidade conquistada com justiça, firmeza e cuidado. A escolha pela sépia reforça o tom ancestral da cena, como uma memória sólida e estruturante: a de alguém que ensinou, guiou e esteve presente.

A Justiça

Nanquim sobre papel Canson 240g

29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: equilíbrio, verdade, imparcialidade.

Palavras invertidas: injustiça, distorção, desequilíbrio.

Nesta carta, representei a Justiça como um Baobá, uma árvore ancestral, símbolo de força, memória e estrutura. Seus galhos menos ramificados sustentam dois ninhos em equilíbrio, em referência à balança tradicional do arcano. A escolha por uma árvore, em vez de uma figura humana, reforça o caráter inabalável da Justiça: ela não se apressa, mas permanece. As raízes rompem o solo rachado, como se sustentasse um mundo que sofreu uma ruptura. A caneta nanquim foi a técnica escolhida para destacar os altos contrastes desse equilíbrio entre luz e sombra, firmeza e fragilidade.

O Diabo

Nanquim sobre papel Canson 240g

29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: aprisionamento, dinheiro, destruição.

Palavras invertidas: fraqueza, mesquinhez, fatalidade.

Nesta carta, representei o Diabo como uma figura colossal e humanoide, formada a partir das atitudes humanas. Ele não é um ser externo ou separado, é um reflexo da própria humanidade. As correntes ao seu redor ligam as pessoas entre si, numa estrutura onde todos estão presos e todos sustentam a prisão. Sua forma é imperfeita, cheia de rupturas e espinhos, porque é resultado de múltiplas vontades, contradições e erros humanos. Ao redor, não há natureza, apenas ruínas criadas por nós. A escolha do Nanquim reforça o contraste absoluto entre preto e branco, culpa e responsabilidade, sem espaço para neutralidade.

A Morte

Nanquim sobre papel Canson 240g

29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: transformação, ruptura, fim de ciclo.

Palavras invertidas: estagnação, medo do novo.

Nesta carta, representei o colapso do Sol, o acontecimento que encerrou um mundo e permitiu o início de outro. Apesar da destruição e das perdas, o planeta não chegou ao fim. Houve sobrevivência, e com ela, possibilidades de reconfiguração. A carta da Morte representa exatamente isso: o fim de uma era e a abertura para novas formas de existência. A escolha pelo nanquim reforça o caráter definitivo da cena: uma técnica que, assim como o evento representado, não permite retorno o correção, mas uma nova ilustração a cada novo risco.

O Mundo

Técnica mista (aquarela, nanquim e lápis de cor) sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: realização, plenitude, conclusão.

Palavras invertidas: estagnação, bloqueio. Esta carta foi representada por uma figura centralizada de frente, em pé entre dois mundos: à esquerda, um ambiente fértil e azul, com vegetação viva; à direita, um cenário árido e ressecado, com prédios em ruínas. Ela

segura uma muda de planta, simbolizando o renascimento. A personagem é a protagonista da narrativa, escolhida para representar o Mundo por estar no centro da história e porque ela é o ponto de virada, o elo entre o que se perdeu e o que ainda pode surgir. A escolha da técnica mista se deu por ser uma técnica que permite abordar a carta como ela é: complexa.

O Julgamento

Técnica mista (giz seco e lápis de cor) sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: sentença, rejuvenescimento, deliberação.

Palavras invertidas: indecisão, fraqueza.

A carta do Julgamento retrata o encontro dos líderes políticos das comunidades deste universo literário, reunidos em um conselho. A cena acontece ao redor de uma grande mesa feita do tronco de uma antiga árvore, símbolo daquilo que foi destruído. Acima, uma força irradia luz e tensão, evocando a urgência de uma deliberação que pode selar destinos. A escolha pelo lápis de cor e pelo giz seco permitiu explorar a multiplicidade de sentimentos e nuances presentes, criando um ambiente carregado de cores que representam esperança e tensão. Essa técnica mista foi ideal para representar a atmosfera solene, mas instável, de um momento que exige clareza, coragem e responsabilidade.

A Temperança

Técnica mista (café, giz seco e lápis de cor) sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: harmonia, frugalidade, paciência.

Palavras invertidas: desunião, interesses competitivos. Na carta da Temperança, a personagem retratada é o par romântico da protagonista e representa a tranquilidade da história, alguém que suaviza os conflitos e acalma os excessos. Ela simboliza harmonia e equilíbrio, conduzindo os momentos de conciliação com sensibilidade e firmeza. A técnica mista reforça essa fusão de forças complementares, onde o café líquido marca os tecidos com tons terrosos e acolhedores, o lápis de cor constrói detalhes com precisão e leveza, e o giz seco colore o céu de forma etérea.

O Mago

Técnica mista (aquarela, nanquim e lápis de cor) sobre papel Canson 240g 29,7 x 21 cm (mancha gráfica em A3) 2025

Palavras-chave: engenhosidade, arte, inteligência.

Palavras invertidas: sofrimento, ciladas, desastre.

A carta do Mago retrata a mãe da protagonista, uma figura central no universo da narrativa. Grávida e rodeada por símbolos e arte e ciência, ela representa a inteligência ativa, a criação consciente e a união entre razão e sensibilidade. Seu ateliê é também um laboratório: pincéis, frascos e livros dividem o espaço com uma pintura em andamento. Ao fundo, uma janela revela o sol intenso que precede ao Colapso que ela, enquanto cientista, sabia que se aproximava. Mas é também como artista que ela marca o mundo: foi ela quem ilustrou o baralho de tarô que sobrevive ao fim, e sua condição de cegueira facial explica a ausência de rostos nas figuras retratadas. A técnica mista reforça a complexidade da personagem.

Bruna Gabriele, Gabby

Mulher negra. Crescida em Alagoinhas, interior da Bahia, Brasil. 2001. Vive, estuda e faz arte entre Alagoinhas e Salvador.

Declaração de artista

Sou artista e autora de imagens, palavras e objetos. Minha prática transita entre a ilustração, a escrita, o design gráfico e a encadernação artesanal. Trabalho com técnicas manuais e materiais acessíveis como lápis de cor, aquarela, grafite e papel kraft criando cadernos, desenhos e composições gráficas que se organizam em torno de uma estética afetiva, política e cotidiana.

Crio com as mãos e com a escuta. Meu processo é guiado por memórias, ritmos e silêncios, muitas vezes atravessado por músicas negras brasileiras que influenciam tanto a construção visual quanto a sensibilidade do gesto. Meus trabalhos surgem da ausência de referências que me representassem na infância e, por isso, são também uma forma de preencher espaços que antes me negaram presença.

Afirmo identidades por meio da materialidade. Cada caderno que faço carrega algo de mim e de muitas, transformando o cotidiano em lugar de expressão. Ao misturar imagem e texto, traço e palavra, tento criar obras que abracem, provoquem e deixem marcas. Faço arte porque existir, para mim, sempre foi também um ato de resistência e (re)invenção.

Currículo artístico

Exposições individuais

2026

Retratos e Raízes

Centro de Cultura de Alagoinhas

Alagoinhas, Bahia

Lares Reais

Faculdade de Arquitetura da UFBA

Salvador, Bahia

Void

Galeria do Aluno da EBA/UFBA

Salvador, Bahia

Exposições coletivas

2025

Entre Arcanos

Galeria do Aluno EBA/UFBA

Salvador, Bahia

Curadoria de Roddolfo Carvalho

2023

Urbanos Arquivos

Aliança Francesa

Salvador, Bahia

Orientadora: Junia Mortimer

Prêmio Arquisur 2024

Um Lugar de Memória FAUFBA

Salvador, Bahia

Curadoria de Gabriela Leandro

2016

A Bela Adormecida

Centro de Cultura de Alagoinhas

Alagoinhas, Bahia

Ballet Carolina Vila Nova

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