A vitória do Reino

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Não é nada fácil traduzir teologicamente um tema controverso na vivência da Igreja brasileira neste recente pós-movimento de renovação espiritual no Brasil. A professora Durvalina Bezerra, de larga experiência de cátedra, apresenta neste livro, com muita segurança, clareza, didática e embasamento bíblico, os vários aspectos do tema e lança sobre ele muita luz, orientação e disciplina. Os novos vocacionados, principalmente, terão nesta obra importante referência sobre batalha espiritual. A missionária Durvalina é mestra na Palavra, usada por Deus no preparo dos santos para a obra do ministério. Vale a pena conferir. Ageo Silva Fundador e pastor da Igreja Evangélica da Vila Yara, Osasco (SP) É bem-vindo este terceiro livro da Durvalina. Entre tantas aberrações teológicas sobre batalha espiritual ensinadas largamente no Brasil, este livro traz bases bíblicas e equilíbrio aos leitores. Após anos de estudo como professora dessa matéria em várias escolas, a autora compartilha nesta obra, de fácil leitura, seu vasto conhecimento do assunto. Muito obrigada, Durvalina! Que o Senhor continue usando sua vida para ensinar a Palavra de Deus! Barbara Burns Missionária no Brasil há 40 anos, professora, doutora em Missiologia A vitória do Reino deve ser lido por todos os que se engajam no serviço do Reino, pelo conteúdo de fundamental importância para a vida dos obreiros da seara do Senhor. Com profundo conhecimento bíblico e maestria advinda de experiência de toda a vida como formadora de milhares de obreiros, Durvalina expõe fluentemente os amplos aspectos da realidade da luta travada no dia a dia dos servos de Deus. É uma leitura que nos aprofunda o entendimento de nossas lutas pessoais e que nos leva à conscientização do espectro cósmico da batalha nas regiões celestiais. Esclarecidas as dúvidas, conseguimos encarar os problemas pela perspectiva correta e pertinente, e isso nos encoraja e nos dá alegria no sofrimento. Os passos práticos aqui descritos para enfrentar cada problema, baseados na compreensão bíblica, são necessários e preciosos. Trata-se, portanto, de um livro abençoador, a ser lido repetidamente como um lembrete animador a cada luta enfrentada pelos servos do vitorioso Rei dos reis. Margaretha N. Adiwardana Diretora da AME e SOS Global O livro A vitória do Reino, com ênfase em batalha espiritual e missões, preenche e enriquece uma sentida lacuna. É uma obra que promove a sanidade espiritual, a intimidade com Deus e a entrega apaixonada às missões. A autora traz também a importância da postura íntegra, fruto de uma vida em comunhão com Deus. Silas Tostes e Márcia Tostes Diretores da Missão Antioquia


Uma vida de serviço abnegado e entrega apaixonante ao Senhor resume os 45 anos de ministério de Durvalina Bezerra, autora deste livro. Fomos seus alunos no curso de bacharel em Teologia e Missões e temos tido o privilégio de trabalhar com ela na formação de nossos missionários no curso de Especialização em Missiologia, no Centro de Estudo Transcultural e Missiológico da JAMI. Fruto de laborioso estudo, compromisso com a Palavra, pesquisa acurada, anos de ensino, prática e vivência em seminários e escolas de preparo e treinamento de missionários para a seara cultural e transcultural, este livro é uma ferramenta valiosa para entender o Reino e os embates espirituais travados pelos que laboram nos campos do Senhor e são chamados pelo seu nome. Muito já se disse e se tem dito sobre batalha espiritual, mas Durvalina Bezerra, numa abordagem bíblica, equilibrada, sólida e edificante, nos ensina o que é de fato essa batalha segundo a Palavra e nos convoca a descobrir as verdades contidas nas Escrituras sobre o assunto, a encontrar as raízes de sua origem e como vencê-la. Não temos dúvida de que este livro é um instrumento valioso para os que proclamam o evangelho como mensageiros do Reino de Deus porque, afinal, a missão e o chamado provêm da missio Dei, que é a reconciliação de todas as coisas com Deus. Ronald Carvalho e Cecília Carvalho Junta Administrativa de Missões da Convenção Batista Nacional Com vida e ministério que expressam compromisso com as Sagradas Escrituras, Durvalina Bezerra apresenta um livro que logo entrará nas bibliotecas de nossas escolas teológicas e missionárias. Se o assunto batalha espiritual é importante, mais importante é conhecê-lo por meio de quem o expõe baseado tão somente no que as Escrituras dizem. Recomendo este livro não apenas para missionários, mas para todo cristão que deseja aprender mais sobre a vitória do Reino. Sérgio Ribeiro Fundador e presidente da Missão JUVEP O assunto da batalha espiritual é desmistificado nesta obra ao mostrar o poder de Deus conforme revelado nas Sagradas Escrituras, que garante nossa participação na vitória de Cristo sobre o Maligno. Sua leitura ampliará a certeza de que as lutas que enfrentamos comprovam que não somos vítimas neste mundo. Pelo contrário, estamos triunfantemente envolvidos no plano eterno de Deus. Nossa vitória está garantida. Aleluia! Jonas Neves Pastor titular da Igreja Batista do Povo – Vila Mariana – São Paulo


Sumário Prefácio..................................................................................................... 9 Introdução.............................................................................................. 11 1. O conhecimento de Deus e de seu Reino.................................... 15 2. Identificação do ser maligno e discernimento espiritual............. 31 3. Ciladas do Diabo: a tentação de Jesus no deserto....................... 43 4. O aprendizado de Paulo ao lidar com um espinho na carne....... 57 5. As faces do Inimigo e aspectos da defesa cristã........................... 65 6. A oposição de Satanás ao avanço do Reino de Deus .................. 99 7. O adversário da obra missionária em Tessalônica:

ações de Paulo no alcance da cidade........................................... 123

8. Discernindo a batalha espiritual na diversidade cultural........... 135 9. Responsabilidade humana........................................................... 151 10. O poder do Espírito e a armadura espiritual ............................. 157 11. O uso da autoridade delegada por Cristo.................................. 185 12. A vida de oração e de vigilância no Reino.................................. 205 Conclusão............................................................................................. 233 Bibliografia........................................................................................... 235


Prefácio Os missionários têm o privilégio de viver na fronteira entre dois mundos. Depois de alguns anos transitando entre culturas tradicionais xamânicas do interior da floresta amazônica e observando suas práticas, que mesclam beleza e caos, de repente meus olhos se abriram para um fato inusitado: em sua matriz, tais culturas têm traços profundamente semelhantes às nossas culturas pós-modernas. Valores transmitidos por ideologias nas sociedades secularizadas são transmitidos apenas com outra roupagem nas sociedades tradicionais, por meio de mitologias. Noções naturalistas de uma têm suas correspondentes místicas na outra. O que é ritualizado nas sociedades tribais às vezes é apenas virtualizado nas sociedades globais. A tendência de fazer o mundo girar em torno do homem expressa-se de maneira mais coletivista em uma e mais individualista em outra. Nos níveis mais profundos das ideias fundantes, nossas culturas são muito similares, apenas andam por caminhos paralelos, entre o místico e o cientificista. Parece que uma mente única exerce influência sobre todas as culturas, com um propósito único: distanciá-las o máximo possível do Criador. Talvez seja este o nível mais sutil e mais nocivo da batalha espiritual: o nível sistêmico, muito além do pessoal, mais complexo do que os olhos podem ver, mais socialmente entranhado do que nossos recursos humanos são capazes de perceber. Só o discernimento espiritual, a partir


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de uma base escriturística consistente e de uma vida marcada pela piedade, será capaz de detectá-lo. Naturalmente, uma boa leitura cultural da sociedade e de seus fatos sociais trará uma relevante contribuição a esse processo de discernimento, e um sólido conhecimento teológico possibilitará a elaboração de respostas relevantes e necessárias. Em A vitória do Reino, Durvalina traz-nos a proposta de descer a níveis mais profundos, de ir além do trivial e exótico, que não raro desperta mais interesse. Sua abordagem é nada menos que bíblica, sem deixar de fazer uso de ampla bibliografia na área. Ela começa pelo ponto mais sólido possível: Deus e sua soberania, para só então propor uma identificação do Maligno. Então segue pelo caminho mais seguro possível: a batalha espiritual nas experiências de Cristo e de Paulo, e prossegue desenvolvendo seu texto em áreas de estratégica relevância, até chegar à dimensão pessoal. O resultado é um texto abrangente e ao mesmo tempo específico; profundo, mas também aplicável; simples, mas não simplista; de leitura agradável, mas longe de ser superficial. Não resulta apenas de uma pesquisa bibliográfica nem de um projeto academicista, mas principalmente de seus mais de vinte anos de docência dessa disciplina, nos mais diferentes contextos e aos mais diversos públicos. Este livro traz a marca de sua longa experiência na área de intercessão, de suas leituras antropológicas e de sua sólida formação teológica. Esta é uma daquelas obras que certamente se tornará leitura obrigatória nos currículos de formação missionária. Pastores terão nela uma rica fonte de orientação para seu ministério e todos os interessados no assunto serão profundamente edificados com sua leitura. Cácio Silva Pastor presbiteriano. Missionário da WEC Brasil (Missão AMEM) e APMT entre indígenas da Floresta Amazônica, no Projeto Amanajé. Professor de Fenomenologia da Religião e consultor do Instituto Antropos nas áreas de Antropologia e Missiologia.


Introdução Uma retrospectiva de nossa história recente dirá que o movimento missionário brasileiro intensificou-se nas décadas de 1970 e 1980 com o crescimento da igreja evangélica, em grande parte resultante do movimento de renovação espiritual no Brasil. Sem dúvida, Lausanne (1974), Congresso Brasileiro de Evangelização (1983), Congresso Missionário Ibero-Americano (COMIBAM, 1987) e as conferências missionárias realizadas nas igrejas locais de todo o país contribuíram para um despertamento missionário nunca visto no Brasil. A partir daí as juntas de missões mundiais das denominações históricas se desenvolveram, e surgiram agências missionárias interdenominacionais e centros de preparação de obreiros de missões. Em 1976, foi fundada a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) e, em 1992, a Associação de Professores de Missões do Brasil (atual Departamento de Educação Missiológica da AMTB). O 1º Congresso Brasileiro de Missões (CBM) foi organizado em 1993, e já chegamos ao oitavo. Com esse avanço, centenas de missionários foram enviados: em 1989, havia 880 missionários transculturais; em 2005, já eram 3.195. E, segundo estimativa do Centro para o Estudo do Cristianismo Global, os evangélicos brasileiros teriam hoje cerca de 5.800 missionários transculturais. Tendo parte ativa na liderança desse movimento, a APMB, em consultas anuais, trabalhou para elaborar um currículo que atendesse a necessidade


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de um preparo integral para o missionário. A disciplina Batalha Espiritual e Missões foi incluída, devido aos confrontos espirituais enfrentados em diversas culturas, inclusive a brasileira, uma realidade vivida por vários obreiros. O componente curricular continua sendo oferecido em alguns centros de treinamento missionário em nosso país. E, pela relevância do tema, ele também deve fazer parte do currículo de preparação da liderança evangélica, pois de fato enfrentamos embates espirituais em qualquer tipo de ministério. Propus-me a publicar este livro após vinte anos ministrando esse conteúdo em diversos centros de preparação de missionários, alguns da linha de renovação espiritual e outros conservadores, mas que perceberam a necessidade de uma reflexão sobre o assunto como parte essencial do preparo para a vida missionária. Nossa proposta, que busca fundamentar todo o conteúdo na Escritura Sagrada, é refletir sobre aspectos da vitória do Reino de Deus no contexto da missão da igreja, uma vez que o assunto se aplica não só ao missionário e às lideranças eclesiásticas, mas a todo cristão. Estou convicta de que o assunto é complexo e explorado por diferenciadas vertentes. O interesse especulativo pela “batalha espiritual” tem crescido nas últimas décadas. Mas o que a Bíblia revela de fato sobre o assunto? Como devemos nos posicionar nessa guerra? Meu posicionamento é claro: não aderimos à denominada batalha espiritual estratégica, cujo equívoco é elevar experiências pessoais acima da verdade bíblica e enfatizar práticas engenhosas que prometem funcionar ou trazer resultados imediatos — é assim que surgem erros doutrinários e heresias! De fato, não podemos fazer da experiência um princípio. Esta é nossa preocupação: viver e ensinar apenas o que a Escritura diz, sem nos deixar levar pela mera funcionalidade de estratégias praticadas por quem quer que seja. Muitos cristãos não consideram esse tema atraente. Por medo de admitir ou por preferir ignorar os ataques malignos, escudam-se na declaração bíblica: “O Maligno não o atinge” (1Jo 5.18). De fato, Satanás não é capaz de arrebatar as ovelhas da mão do bom Pastor (Jo 10.28).


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Não pode dominá-las nem possuí-las, mas recebe permissão de Deus para tentá-las e oprimi-las. Por isso, temos de estar atentos aos seus ataques. Os apóstolos tinham consciência de que precisavam lutar para não ser vencidos pelas artimanhas do Diabo e não deviam ignorar-lhe as intenções (2Co 2.10-11). Na realidade, “uma das máscaras utilizadas por Satanás é se ocultar completamente. O Diabo está no auge de sua esperteza quando persuade pessoas de que não existe diabo algum. A dissimulação é a arte da pesca de anzol”.1 A igreja evangélica divide-se em extremos quanto a esse assunto. Um segmento, influenciado pela racionalidade e pela materialidade do mundo pós-moderno, prefere ignorar a atuação maligna. Outro dá forte ênfase ao tema: vê o Diabo em tudo e atribui aos demônios até as ações do mundo natural. C. S. Lewis afirma que o Diabo gosta de dois tipos de pessoas: as que não acreditam que ele existe e as que lhe dão atenção demasiada. Há, entre os evangélicos conservadores, os que negam na prática a existência do Diabo, embora admitam sua realidade em razão da crença na inerrância da Bíblia. Essa negação prática é manifestada de várias formas. Alguns pregadores, por causa de exageros neopentecostais, quase não alertam os crentes sobre as ações malignas e evitam atribuir a elas os males do mundo. Entre os pastores, poucos consideram a expulsão de demônios a resposta a determinadas situações, embora biblicamente tenham de admitir a probabilidade da possessão e da opressão malignas. Tendem a identificar o coração humano como a única fonte dos problemas e das crises. A verdade é que não devemos dar demasiada atenção ao mundo das trevas, mas também não é prudente ignorá-lo. Iniciaremos o livro enfatizando a importância de conhecer a Deus e entender seu Reino, pois, para discernir o mundo espiritual da maldade, precisamos conhecer o Supremo Senhor que governa sobre todos os poderes, tanto o maligno quanto o benigno. Seria imprudente observar o reino das trevas para discernir as intervenções de Satanás sem antes tentar entender como age o nosso Deus soberano e compreender seu 1 D. M. Lloyd-Jones, O combate cristão, p. 96.


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Reino um pouco mais. Só então procuraremos identificar a personalidade maléfica de Satanás e seus métodos de atuação. Devemos observar suas investidas na vida de Jesus e dos apóstolos, de forma direta e indireta, para saber como ele age no indivíduo e na cultura dos povos no intuito de atingir e impedir a expansão do evangelho. Procuraremos explicar como usar nossas armas nessa batalha, inclusive aspectos relacionados com a oração e com a vigilância. Para isso, contaremos com os vários autores pesquisados, além de citar testemunhos de alguns missionários. Estejamos entre os cristãos que têm buscado o equilíbrio no assunto. Desejo que a leitura deste livro encoraje você na jornada cristã. Oremos para que o Deus soberano, mediante a vitória definitiva de Jesus Cristo conquistada na cruz e na ressurreição, nos capacite com o poder do Espírito Santo para enfrentar o combate cristão e assim proclamar a vitória do Reino.


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O conhecimento de Deus e de seu Reino Para nos relacionarmos de forma correta com Deus, é imprescindível que o conheçamos por meio de sua revelação ao ser humano. Precisamos entender os desígnios divinos e tudo que envolve a vida conforme ele nos revelou nas Escrituras Sagradas.

Fundamentos doutrinários Nesta primeira parte do capítulo, iremos considerar, de forma sucinta, aspectos da doutrina cristã que fundamentam nossa fé. As Escrituras: a fonte da revelação de Deus O homem e a mulher sempre buscaram os próprios caminhos tentando conhecer a Deus. O imaginário humano cria perfis ou imagens de um deus que se coaduna com a consciência e a necessidade humanas. A imagem que temos de Deus, portanto, deve ser avaliada, porque a maneira que o entendemos irá determinar nossa relação com ele e manifestar nossa compreensão das doutrinas cristãs.


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A Bíblia é a única fonte adequada e autorizada por Deus, pela qual obtemos informações a respeito do mundo espiritual. Embora Deus se revele por meio das coisas criadas (Rm 1.19-20), é pela revelação especial, nas Escrituras, que nos faz conhecer seu caráter e seus propósitos eternos. A Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável a ele. O novo nascimento é o ponto de partida para as demais experiências da vida cristã (cf., por exemplo, Jo 3.1-7). A partir da conversão, Deus nos conduz no processo de conhecê-lo através de sua Palavra. O conhecimento da revelação de Deus não se reduz ao estudo teológico nem à habilidade no uso da hermenêutica bíblica e da exegese. Mesmo quem não domina essas indispensáveis ferramentas de estudo mais aprofundado não está privado de conhecer o Deus da Palavra. Não podemos dizer que conhecemos a Deus apenas pelo fato de estudar algo a respeito dele. Ele não pode ser contido numa forma de raciocínio nem na sistematização do conhecimento. Paulo deslumbra-se com a revelação divina e exclama: “Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor?” (Rm 11.33-34). Deus se revelou nas Escrituras (cf., por exemplo, Jo 1.1). Nela, seus princípios, valores, propósitos e intervenções na história humana são plenamente conhecidos. O salmista declara: “A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples” (Sl 119.130, Almeida revista e atualizada – ARA). É também pela Escritura que o Senhor revela o que podemos conhecer a respeito de nosso inimigo: sua queda, sua condenação e suas intervenções na criação e na história dos homens. Conhecer a Deus é requisito para discernir o mundo espiritual da maldade. “Podemos perceber a verdade sobre Satanás somente à luz da verdade sobre Deus. Só através da apreciação da bondade de Deus podemos formar qualquer ideia acerca da malignidade do Diabo”.1 Pois bem, a Escritura Sagrada deve ter a última palavra em tudo. Não é séria nem confiável a demonologia baseada em experiência pessoal, 1 J. I. Packer, Vocábulos de Deus, p. 77.


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com tendência a especulações e imaginações transcendentais. Os cristãos que veem a dor, o sofrimento, as doenças, a depressão, o desemprego, os conflitos pessoais e o pecado — enfim, toda a miséria que existe no mundo — unicamente como ações de espíritos malignos estão pondo sua fé em risco. Convém lembrar que a maioria dos problemas que os cristãos experimentam procede das próprias faltas, incoerências, características comportamentais e enfermidades físicas e emocionais. Não negamos que Satanás usa essas nossas fraquezas para prejudicar nossa vida, apenas destacamos que elas têm origem em nossa natureza decaída. Também cremos que Deus nos prova permitindo tribulações e privações (por exemplo, Jó 1.12). Deus nos testa na Palavra como o parâmetro divino para tratar conosco. Não se trata de uma avaliação quantitativa — quanto sabemos sobre a Escritura —, mas um teste de qualidade: quanto vivenciamos dela. Grandes homens de Deus foram testados na Palavra. Sobre José, está escrito que “a Palavra do Senhor o provou” (Sl 105.17-19, Almeida, revista e corrigida – ARC). Assim, aprendemos a desenvolver uma relação profunda com Deus e somos exercitados na piedade (1Tm 4.7). É esse conhecimento que produz a vida de Deus em nós, nos dá percepção do mundo espiritual e nos faz confessar a veracidade da Palavra. Quando deparamos com as investidas de Satanás, as tentações e provações do conflito espiritual, recorremos à verdade bíblica, como fez Jesus, nosso exemplo. A leitura meditativa e orante das Escrituras é uma forma de ouvir a Deus pela Palavra e ser provado por ela. Mesmo assediados por Satanás, continuamos crendo que a Palavra eterna de Deus prevalece. Precisamos de uma nova reforma, de voltar às Escrituras e conhecer a sã doutrina, para ter uma vida cristã sadia (Tt 2.1). Confiar na exclusividade e na suficiência do ensino da Palavra é o único caminho para entrar equipado no combate espiritual e obter a perspectiva correta do mundo e dos poderes espirituais. Este é o princípio fundamental para qualquer assunto da vida cristã: só a Escritura!


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A graça: provisão de Deus para nossa relação com ele A Bíblia descreve a primeira manifestação de Satanás no Éden, onde nossos primeiros pais foram colocados sob uma norma de obediência. Usando uma serpente, ele chegou para os incitar a pecar contra Deus induzi-los a desobedecer à ordem divina. O intento maligno logrou êxito, de modo que “o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte” (Rm 5.12). Ao atender a voz da antiga serpente, o homem corrompeu-se, distanciou-se de Deus e tornou-se carente da glória divina. Na Queda, conheceu o mal e ficou preso aos intentos do Maligno. O pecado de Adão trouxe gravíssimas consequências aos seus descendentes ao macular a personalidade humana (Sl 14.1-3). Todos, sem exceção, são naturalmente corrompidos e inclinados para o mal (Rm 3.10-18). Augustus Nicodemus Lopes diz que “o pecado penetrou em todas as faculdades do homem e as contaminou, como pensamentos, emoções, vontade. Também indica que essa contaminação é de tal forma que, se deixado entregue a si mesmo, o homem seguirá naturalmente caminhos que o desviam de Deus e o levam cada vez mais ao pecado”, para atender seu coração “endurecido, teimoso e rebelde”, e se recusará em submeter-se a Cristo.2 No entanto, o Deus da graça prometeu que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15) e lançou o antídoto para o mal: faria a graça sobrepujar o pecado e a justiça se sobrepor à culpa. Desse modo, “um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida [...] a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.18,21). Em sua justiça, Deus puniu o homem, que agora está debaixo da condenação eterna. O justo juízo de Deus foi promulgado, e o pecador não tem condição de se livrar dele. Mas o Senhor, para redimi-lo, executou o pacto da graça, a Nova Aliança (Mt 26.28; Hb 10.14-18). 2 Quatro princípios bíblicos para se entender a batalha espiritual. Disponível em: <http:// solascriptura-tt.org/Seitas/Pentecostalismo/4PrincipiosEntenderBatlhEspiritual-ANicodemus. htm>. Acesso em: 1 set. 2017.


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Nenhum ser humano pode livrar-se das consequências da Queda se não pela graça — a manifestação do amor imerecido de Deus pelo pecador. Ninguém pode manter uma relação saudável com Deus se não o conhecer como o Deus da graça e aprender a desfrutá-la em suas multiformes expressões. A Palavra declara que Jesus veio ao mundo expressando o Pai, cheio de graça e de verdade (Jo 1.14,17). Pela graça, ele nos fez novas criaturas (2Co 5.17). Paulo, discorrendo sobre o caminho da identificação com o Senhor, diz que considerou refugo todas as coisas, “para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo” (Fp 3.9-10). É nada menos que receber a retidão, ou “justiça”, que procede de Deus e é baseada na obra de Cristo. Trata-se da justificação, a “perfeita defesa, no tribunal divino, mediante a posse de uma justiça aceitável, isto é, relacionamento correto com Deus, concedido pelo pró­prio Deus”.3 Quem está em Cristo faz parte da nova criação, da nova humanidade cujo cabeça é Cristo; desfruta a presença do Espírito Santo como penhor do que ainda está por vir (Ef 1.14); compartilha da natureza de Cristo; já tem a vida eterna, que significa conhecer ao Pai e ao Filho (Jo 17.1-3); foi liberto do domínio do pecado e da Lei (Rm 6.1-14; 7.1-6); é guiado pelo Espírito de Deus (Rm 8.1-17); nenhuma condenação existe contra ele (Rm 8.1). Assim, Satanás já não detém mais qualquer autoridade ou direito sobre ele, apesar de ainda o tentar ao pecado. A Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todos os principados e potestades (Ef 1.20-22). No combate espiritual, não minimizamos a perfeição e a eficácia da obra de Cristo, antes levamos a sério o ensino bíblico acerca da relação que o crente desfruta com o Deus da graça. Quem vive à luz da gloriosa verdade do evangelho não teme pragas, maldições, encostos, mau-olhado, despachos ou coisa semelhante. Constatamos essa verdade na Antiga e na Nova Aliança, em Números 3 Ralph P. Martin, Filipenses: introdução e comentário, p. 146. Grifo do original.


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23.8,23 e Romanos 8.31-39. A graça é a garantia de que não seremos “amaldiçoados” por nenhum dos pecados de nossos pais: tudo foi anulado na cruz. Não quer dizer que os verdadeiros cristãos são imunes à influência de espíritos malignos, mas, por desfrutar a intervenção graciosa de Deus, vivem num estado de graça, porque não é possível anular a suficiência da obra da redenção. A graça salvadora, que transforma o pecador num redimido e o conduz à santificação, deve ser usufruída em todos os aspectos da vida cristã e ministerial. A graça é a forma de se relacionar com Deus em plena dependência. É a capacidade de viver acima do natural. Viver na graça significa negar mérito pessoal e não reivindicar dádiva, como se Deus fosse obrigado a doar o que desejamos para nos provar sua fidelidade. Também é no conflito espiritual que precisamos depender mais da graça, que se revela de forma abundante para nos dar apoio na luta contra o pecado e contra Satanás. A graça tem a medida certa para cada situação. Quando Paulo estava com um espinho na carne, mensageiro de Satanás, o Senhor declarou-lhe: “Minha graça é suficiente a você” (2Co 12.9). Só a graça nos capacita a viver a vida vitoriosa de Cristo em nós. O salmista aprendeu a viver na graça e declarou que nada na vida é tão precioso e indispensável: “A tua graça é melhor do que a vida” (Sl 63.3, ARA). A soberania de Deus: poder acima de todos os poderes Conhecer o atributo da soberania de Deus e reconhecer seu supremo poder, é um requisito indispensável para uma vida vitoriosa. O Deus dos deuses e Senhor dos senhores tem o controle absoluto sobre sua criação em todo o Universo. Ele reina sobre tudo, é o Criador de “todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos sejam soberanias, poderes ou autoridades” (Cl 1.16). Quando afirmamos que Deus é soberano, significa que ele tem poder ilimitado para fazer o que quiser com o mundo e com suas criaturas e que nenhuma delas pode frustrar os planos de Deus.


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O ensino bíblico sobre a soberania de Deus está em harmonia com o ensino bíblico sobre a “responsabilidade das criaturas moralmente responsáveis, como os homens e os anjos, bons e maus [...]. O próprio Satanás está debaixo da soberania divina. [...] Punido por Deus com a destruição eterna, o anjo rebelde tem entretanto a permissão divina para agir por um tempo na humanidade, a qual, através de seu representante Adão, acabou por seguir o mesmo caminho do querubim soberbo. Pela permissão divina, Satanás e os demais anjos que aliciou dos exércitos celestiais, cumprem nesse mundo propósitos misteriosos, que pertencem a Deus apenas. Alguns deles transparecem das Escrituras, que é o de servir como teste para os filhos de Deus e agente de punição contra os homens rebeldes. [...] Num universo em estado de rebelião contra o seu santo e soberano criador, onde habitavam seres morais responsáveis, decaídos espiritual e moralmente, era perfeitamente concebível que Deus, em seu plano de redenção, interagisse com homens e anjos decaídos, usando-os conforme seu querer soberano.4 O Senhor não precisa medir forças com Satanás. Quem se propõe conhecer o mundo espiritual deve entender que os poderes malignos intentam contra Deus, mas estão limitados por Deus e nunca poderão se sobrepor a ele. Em toda a narrativa bíblica e em toda história, fica demonstrada a soberania do único Deus verdadeiro sobre as entidades benignas e malignas, sobre todos os sistemas e estruturas humanos e espirituais e sobre todas as formas de poderes do presente e do porvir. Todo ser criado é chamado a reconhecer e a se submeter ao Deus soberano. Lutero afirmou: “Até o Diabo é o Diabo de Deus”, ou seja, está sujeito ao Senhor. Para conhecer o Soberano e seus propósitos, o cristão deve render-se à sua soberania, pois nosso Deus se revela aos pequeninos, aos que se desnudam de toda racionalização, de todo endeusamento do ego, de toda consciência meritória e de toda religiosidade. Para os altivos, que se estribam no próprio entendimento, Deus está oculto — não por falta da revelação, mas por consequência de um posicionamento exacerbado que eclipsa a luz divina (cf. Mt 11.25-26). 4 Ibidem.


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