fronteiras agrícolas e a possibilidade de escoamento do produto. Os anos de 1870 foram anos de investimento na infraestrutura da corte e das áreas de interesse econômico. Assim, com as terras abundantes e mão de obra subempregada, os lucros eram grandes e incentivavam o aumento progressivo da produção. Isso transformou pequenos sitiantes em ricos fazendeiros em um período pequeno de tempo. O mercado internacional foi absorvendo essa produção de café por décadas, até entrar na crise de superprodução. A economia cafeeira se tornou o grande acumulador de capital no Brasil na segunda metade do século XIX e disso se beneficiou Anacleto – e sua família –, como cafeicultor que era. Se considerarmos as terras e os casarões que possuía; o direito de ser votado; o título nobiliárquico; a compra de terras em região valorizada no município, dá para afirmar, sem erro, que Anacleto Corrêa de Faria também participou desse processo de acumulação de capital proporcionado pelo ciclo do café. É certo que o café era a mais importante produção agrícola em terras do Barão de Itaperuna. Porém, como era de se esperar, ao longo do tempo as terras foram se exaurindo com esse plantio realizado de maneira extensiva. O desenho de Rugendas mostra a colheita do café como era feita no século XIX. Em 1889, houve uma grande crise do café no Brasil, com muitas histórias de miséria e desespero para grandes e pequenos proprietários. Houve, como consequência, uma busca por terras mais férteis, menos esgotadas e mais baratas do que as terras dos municípios próximos dos grandes cerealistas e da infraestrutura de estradas e ferrovias. A região escolhida pelos nossos parentes tinha vantagens: terras incultas, férteis e baratas, clima bom, e um parente, Antônio Corrêa de Faria Sobrinho, que já estava morando por lá. Além do mais,
estava a apenas 14 dias de tropa até Aimorés, onde se encontravam os exportadores de café devido à estação da estrada de ferro inaugurada em 1882. Os prejuízos com a abolição da escravatura A abolição da escravatura afetou a economia agrária em todo o País, e certamente influenciou o modo de produção nas fazendas do barão e o modo de viver de sua extensa família. Entre 1850 e 1888, o volume da mão de obra escrava já vinha diminuindo no País, o que atingia diretamente o trabalho das lavouras. Em 1850, Euzébio Queirós propôs a lei que proibia o tráfico negreiro. Em 1854, outra lei, a Nabuco Araújo, impunha sansões às autoridades que encobriam o contrabando de escravos. Mais de 20 anos passados e, em 1871, surgiu a Lei do Ventre Livre; em 1885, a Lei dos Sexagenários. Finalmente, em 1888, foi declarada a abolição da escravatura. Esse decreto acabou lançando toda a mão de obra escrava no mercado livre do trabalho, deixando um vazio na economia agrária, já tão afetada pela crise do café. As fazendas ficaram sem braços para a lavoura. Essa perda de mão de obra atingiu o fazendeiro acostumado ao acúmulo de capital obtido, entre outras coisas, com o baixo gasto com a mão de obra. Foi necessário um período de 30 anos para que os latifundiários se adaptassem a novos modos de produção e novas tecnologias. Foi o que aconteceu no planalto paulista e na região de Campinas, em São Paulo. Essas mudanças parecem não ter ocorrido na fazenda Fortaleza, de propriedade do Barão de Itaperuna, meu tetravô. Uma relação de escravos do barão, do ano de 1886 –, portanto, depois da Lei do Ventre Livre e da Lei dos Sexagenários –, mostra já um número pequeno de escravos: são 20 ao todo, três em atividades domésticas, e boa parte constituída de famílias, pai, mãe e filhos. Escravos com três e quatro filhos, a maioria, adultos jovens.
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