No Tempo Dos Coronéis

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co Penna, um simples arrieiro de tropa chegado de Portugal. Esse português se casaria com a filha Ana de Manuel e viria a ser o meu avô, figura que tive a sorte de conhecer muito bem. Eu o respeitava, amava e admirava, vendo-o, já velho fazendeiro, na varanda da fazenda do Limoeiro. Ele tinha poder sobre as pessoas. Um poder que ele exercia de forma mansa, firme, silenciosa e bem humorada. Nos capítulos nove e dez, conto algumas histórias de casais formados por netos ou netas do Barão de Itaperuna, a terceira geração. Não foi uma escolha. Descrevo os casais que mais apareceram nas entrevistas, ou aqueles sobre os quais encontrei informantes dispostos a falar. Atenho-me, nesses dois capítulos, ao cotidiano da vida daqueles “tropeiros”, “comerciantes”, “sitiantes”, “fazendeiros”, “coronéis”, “capitães” e suas mulheres valorosas, “sinhás-dona”, “amantes”, “comadres”, “parteiras”, “benzedeiras”, que habitaram as margens do ribeirão Laranjeira, do ribeirão Santa Maria e do rio Manhuaçu, no período de suas gerações. Afastados das estradas de ferro e de cidades mais desenvolvidas, viviam principalmente em função da produção e venda do café para os escoadouros naturais. Diferentemente da primeira geração, de grandes proprietários de terras, essa segunda geração era de fazendeiros menores. Por sua vez, esses fazendeiros, ao dividirem suas terras, deixavam como herança aos filhos apenas pequenas propriedades. Descrevo como viveram esses “Corrêa de Faria”, “Cândido de Faria”, “Cândido de Oliveira” e os “Penna”, que a eles se agregaram, labutando para formar ou manter sua herança, levantar suas fazendas e criar seus filhos no trabalho duro da lavoura. Em cada família vou apontando como os descendentes da quarta geração foram se desligando das terras e migrando para cidades maiores em busca de progresso ou mesmo de sobrevivência. Nos capítulos 11 e 13, falo exclusivamente de

Francisco Penna e sua extensa família, quando já morava no município de Caratinga. Aí estou num terreno que pisei, conheci, e do qual guardo fortes lembranças. No capítulo 12, uso uma foto tirada em maio de 1948 para descrever a escola municipal de Laranjeira e reproduzir um pouco da vida escolar e outros acontecimentos dos anos 1930 e 1940 naquelas paragens. O momento de maior nostalgia fica para o capítulo 14, quando desaparecem pessoas e lugares da minha infância. Para escrever o último capítulo, busquei me aproximar da realidade atual dos parentes que vivem ainda na Zona Rural, em Laranjeira, em Santo Antônio do Manhuaçu e em Ipanema. Visitei as terras e alguns descendentes. Percorri alguns dos caminhos dessa gente. Achei poucos vestígios arquitetônicos desse passado. Os casarões estão quase todos demolidos. As poucas sedes de fazenda ainda existentes passaram para outras mãos ou estão descaracterizadas. Baseei-me também nas informações obtidas por mim e por minha mãe em visita a Ribeira de Pena, Portugal. Nesse capítulo final, faço uma viagem nostálgica. Registro impressões, lembranças, de apego e desapego àquelas terras. Terras que um dia tiveram grandes extensões, mas que, pouco a pouco, por sucessivas divisões de herança, tornaram-se menores. Ou mesmo terras que foram vendidas ou que se tornaram difíceis de administrar, já que os descendentes procuravam um centro maior, longe das dificuldades do campo. Quanto à genealogia, resolvi construí-la fazendo quatro escolhas consecutivas relacionadas aos personagens que descrevo no livro. Primeiro, decidi registrar os casais formados pelos filhos e genros do Barão de Itaperuna que aparecem na escritura de compra das terras da Laranjeira em 1893. São os casais I, II, III e IV, como aparecem nas últimas páginas do livro.

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