O menino que queria ser menina

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O AntĂłnio desde muito cedo sentia-se diferente dos outros meninos, no mais Ă­ntimo do seu ser pequenino, sentia-se preso e isolado do mundo que o rodeava. Foi crescendo e apercebia-se cada vez mais distante dos seus amiguinhos da escola, pois nĂŁo gostava do mesmo tipo de brincadeiras, por isso preferia ter nascido menina.

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Só gostava das bonecas da irmã (Barbies, Nenucos,…) e até as levava escondidas na mochila para a escola, o que provocava o riso e o gozo dos colegas.

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No Natal e nos seus anos, os pais, os avós e os amigos da família ofereciam-lhe os melhores carrinhos, os melhores skates, as melhores bolas e chuteiras de futebol e outros brinquedos que tantos meninos gostariam de ter! Ele agradecia mas ficava aborrecido e não tinha coragem de pedir o que realmente gostava. E quando via a irmã abrir os presentes, ele ficava triste porque também queria aqueles brinquedos. No seu quarto, punha a um canto os brinquedos que lhe davam e apenas brincava com os que tirava à irmã.

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Às vezes, as meninas queriam ver as bonecas, mas depois não o incluíam nas brincadeiras, gozavam com ele e chamavam-lhe nomes (meninola, mariquinhas, Antonieta, Antónia,…). Os meninos gozavam com ele e porque gostava das bonecas, não podia jogar à bola e punham-no de parte. O António acabava por ficar sempre sozinho e triste, apenas com os seus brinquedos. Todos os dias, no recreio da escola, lá estava o António, isolado num canto a observar as outras crianças que corriam de um lado para o outro felizes soltando gritos de alegria. E ele, ali estava triste, abandonado e sem amigos, pensando como seria bom brincar com os outros, mas sempre que se chegava perto de algum colega, logo o mandavam embora e chamavam-lhe nomes.

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Acontece que um dia, na hora do recreio, as meninas queriam jogar à macaca e os rapazes decidiram jogar futebol no mesmo local e expulsaram-nas de lá. Elas revoltaram-se e surgiu uma grande confusão, andaram à luta e alguns meninos e meninas ficaram magoados. António que estava a observar como sempre, quando viu tal violência quis ajudar a resolver a briga, mas quando se aproximou, eles continuaram a dizer que não brincavam com meninas porque quem o fazia era «mariquinhas» e deram-lhe um murro, que o fez cair ao chão e esfolar os joelhos. Uma menina que o viu a sangrar chamou uma funcionária que o socorreu e de seguida informou a Coordenadora.

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A Coordenadora, para tentar resolver o assunto fez uma reunião com os envolvidos e deu a palavra a todos para se manifestarem, mas todos se mantiveram calados e sem argumentos para justificar tal violência, porque sabiam que tinham culpa. O António como era muito bom e corajoso pediu para falar: - Acho que todos têm o direito de estar no recreio a brincar ao que mais gostam, o mais importante é serem amigos e respeitarem as preferências de cada um. Se todos pudéssemos brincar à nossa vontade e sem ninguém criticar, todos seriamos mais felizes e não havia confusão. Eu sou amigo de todos e gostava de brincar com todos, se conversarmos não é preciso lutar nem andar à bulha. António

calou-se

e

todos

ficaram

impressionados. A coordenadora e a professora elogiaram a atitude e a coragem dele.

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Então a professora disse: - O António mostrou que é um bom menino e tem um bom coração. Sabe compreender os outros e quer ser compreendido. Com sabedoria mostrou que o importante é serem amigos e brincarem juntos, sem brigas, que não levam a lado nenhum. Espero que todos tenham aprendido com ele, porque apesar de magoado está disposto a perdoar. E continuou: - Parabéns António, acabaste de dar uma grande lição aos teus colegas. Os meninos e meninas ficaram envergonhados pelas suas atitudes. No final todos bateram palmas e abraçaram o António, pediram desculpa e prometeram nunca mais lhe chamar nomes feios e ficaram todos amigos.

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Desde esse dia o António foi aceite por todos os alunos da escola, todos o chamavam para as suas brincadeiras por ele ter muitas ideias e mostrar ser um bom companheiro, sempre amigo de todos e pronto para ajudar. Ele conseguiu unir as meninas e os meninos nas brincadeiras porque os compreendia e tinha um bom coração. Ele foi eleito pelos colegas para ser o representante dos alunos da escola, pela sua inteligência, determinação e principalmente por ser justo e bom. Quando havia confusões ou algum problema consultavam-no. Todos perceberam finalmente que pelo facto de ele querer ser menina, não o tornava menos humano ou menos amigo. O que engrandece um ser humano não são as suas preferências, mas sim ter amor no coração, aceitar e compreender os outros com todas as diferenças que cada um de nós possa ter.

FIM

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