Beira 96

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011

Fotos Karol Khaled

Entrevista 25 Anos JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 96 • Agosto, 2011

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Roteiros propõem a interação entre visitantes e visitados

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ara muitos de nós, aproveitar bem os dias de folga – férias ou feriados prolongados – significa viajar. Ao arrumar as malas e partir para algum lugar distante da nossa casa, estamos, num só tempo, fazendo um bem para o corpo, para a alma e para a economia. Sim, a atividade turística movimenta cerca de 10% do PIB mundial. O que é sinal de crise para uns pode ser visto como oportunidade para outros, com isso, as bagagens não deixam de ir e vir por ar, terra e mar. Além dos pacotes comerciais, com roteiros conhecidos e percursos cronometrados, há um novo nicho sendo explorado pelo mercado: o turismo cultural. Para falar sobre o assunto, o Jornal Beira do Rio entrevistou Fernanda Delgado Cravidão, professora catedrática do Departamento de Geografia da Universidade de Coimbra – coordenadora e investigadora do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT). Segundo a professora, "o que o paradigma do ‘novo turismo’ propõe é em vez de ver, perceber; em vez de olhar, mexer; em vez de passear, interagir". Beira do Rio – Como relacionar turismo e cultura? Como isso tem sido feito em Portugal? Fernanda Delgado Cravidão – Minha perspectiva é que todo turismo é cultural. Do meu ponto de vista, viajar é salutar para o corpo e para a mente. Quando regressamos ao nosso lugar de partida, já olhamos esse lugar com outros olhos. Em Portugal, os paradigmas da atividade turística têm mudado. Durante a segunda metade do século XX, o turismo era essencialmente praia e balneário. Progressivamente, entre 1950 e 1970, passamos do turismo massificado para o das preocupações ambientais. Hoje, estamos em outro paradigma: temos uma população que é mais escolarizada e melhor informada, com maior esperança de vida e que viaja mais. Uma das grandes conquistas da atividade turística é saber olhar o outro e respeitá-lo. Há um exercício de cidadania e de educação ligado à atividade turística. E neste contexto, entra o patrimônio natural, material e imaterial. O patrimônio é tudo: a gastronomia, a música, as igrejas, os edifícios, as ruas e, sobretudo, as pessoas. Hoje, o território português oferece um número imenso de atividades turísticas que podem ser "consumidas" durante todo o ano. Estamos entrando no paradigma do "novo turismo": em vez de ver, perceber; em vez de olhar, mexer; em vez de passear, interagir. Beira do Rio – Que efeitos a globalização tem sobre as

atividades turísticas e a maneira como nos interessamos pelos espaços? F.D.C. – O turismo é um fenômeno em contradições e global. Até uns anos, a língua era o inglês, e a moeda era o dólar. Hoje, as coisas modificaram-se. Claro que se viaja mais de um país para o outro e que há mais turistas em determinadas regiões por razões históricas, sociais e econômicas.Aglobalização fez com que houvesse a necessidade de identidade, de singularidade, de diferença, de respeito pelo outro e, portanto, esse sentido de lugar que a globalização anula, o turismo reacende com novas roupagens. Por isso aparece a cozinha de autor, a qual liga o antigo ao moderno. São nichos novos da atividade turística. Beira do Rio – Normalmente, os centros antigos guardam a memória da cidade. Revitalizar esses espaços contribui para gerar interesse por eles? F.D.C. – Os centros históricos são espaços vazios e envelhecidos, com edifícios degradados, em alguns casos, onde vivem populações esquecidas socialmente. Os projetos devem manter os traços originais e garantir, interiormente, o conforto do século XXI. Isso é necessário e obrigatório. Na Europa, a população mais jovem, de classe média, entende que viver no centro histórico é ter acesso mais fácil ao trabalho, é viver em uma casa com mais qualidade e esteticamente mais bonita, é estar em um espaço de memória e contribuir para que esse espaço não morra, é conviver com a população que ainda lá vive. Isso é extremamente salutar, pois permite que classes etárias e grupos sociais diferentes possam conviver num espaço bem concebido do ponto de vista urbano. Depois, essa recuperação leva a que se abram pequenas lojas de roupa e artesanato, bares, centros de revistas, cafés, bibliotecas, isto é, novos espaços de sociabilidade. A experiência do centro histórico de Coimbra é extremamente positiva. Beira do Rio – O que é possível fazer para que a população se aproprie desses espaços? F.D.C. – Eu acho que essa população que vive no centro histórico gosta de que ele tenha vida, não gosta de que interfira no seu sossego. Em Coimbra, nós temos um autocarro que se chama "pantufinha", serve o centro histórico e é só para as pessoas de idade, por isso não tem paragem obrigatória. Isso é um compromisso que se vai progressivamente construindo. Mas acho que, de uma maneira geral, o resultado é positivo, sobretudo para a estética da paisagem e para a segurança no local. Beira do Rio – O que difere um roteiro cultural de um

roteiro comercial? F.D.C. – Os roteiros comerciais são feitos pelas agências de viagens. Os cruzeiros são bons exemplos de um roteiro comercial. Tudo o que se faz no cruzeiro é dentro do cruzeiro. E o mar, que, no meu ponto de vista, é o maior cartaz de turismo, não se usufrui. Os grandes operadores turísticos já perceberam que os roteiros têm que ser feitos à medida do perfil de quem compra. Se for um turista jovem e informado, provavelmente não gosta de andar de autocarro pela cidade. Se for um turista de certa idade, habituado a não viajar, vai gostar de visitar as igrejas, porque elas fazem parte dos seus símbolos. Tem que haver roteiro para toda a gente, não podemos ser tão fundamentalista. No meu ponto de vista, viagem é o melhor que existe, quer sejam cinco, 500, quer sejam cinco mil quilômetros. O roteiro cultural pode ser um roteiro temático visitando as aldeias históricas na fronteira entre Portugal e Espanha. Posso fazer um roteiro cultural em que apenas se vá ver o mar, as dunas, os faróis ao longo da praia. Depende muito de a quem se dirige e do modo como é construído.

Tecnologia

Empresas paraenses não investem em TI

Pág. 4 O quilo da amêndoa é vendido a R$ 0,20. Com o beneficiamento, o litro do óleo pode chegar a R$ 10,00

Vestibular

UFPA renova lista de leituras recomendadas

Beira do Rio – Esse pode ser considerado um nicho de mercado? As agências já descobriram isso? F.D.C. – É um nicho de mercado em ascensão. Quando visito, por meio de uma agência turística, um bocadinho da favela da Rocinha, eu estou fazendo turismo cultural. Os roteiros gastronômicos e religiosos acabam todos estando ligados ao turismo cultural, que são nichos que vêm dar sentido ao lugar. Por que este lugar no mundo global é diferente daquele? A resposta é alguma coisa que passa pela cultura, qualquer que ela seja. É preciso saber olhar o outro. Começa a haver outros roteiros culturais temáticos: a rota dos castelos, o patrimônio militar, a rota dos escritores – onde vamos visitar os lugares descritos nos livros. Ligar a literatura à paisagem é o puro turismo cultural. Beira do Rio – Como isso muda a formação do guia turístico? F.D.C. – Em Portugal, a atividade turística consolidou-se nos anos de 1980. O turismo sempre teve essa visão muito econômica, de gestão, de marketing. A dimensão holística e humanística não estava presente na formação. Em Coimbra, criou-se, na Faculdade de Letras, a Licenciatura em Turismo, Lazer e Patrimônio. Em seguida, criamos os cursos de Mestrado e Doutorado em Turismo, Lazer e Cultura. Nosso objetivo é formar gente que entenda de turismo e saiba como a cultura e o lazer podem estar associados a ele. Precisamos de um profissional que perceba quem é o turista que está à sua frente.

Memória

Para o Processo Seletivo de 2012, lista terá 12 obras. De acordo com a comissão responsável pelas indicações,

o programa de Literatura precisava estar adequado ao Exame Nacional do Ensino Médio. Pág. 3

Arquitetura conta história da saúde

Pág. 11

Entrevista

Karol Khaled

Rosyane Rodrigues

Karol Khaled

"Estamos vivendo um novo turismo"

á um ano, as comunidades do Mutirão, no município de Igarapé-Miri, vêm explorando a andiroba como fonte de renda alternativa para o período de entressafra do açaí. O Projeto "Capacitação de comunidades do Baixo Tocantins para a exploração de plantas oleaginosas com foco na geração de renda e inclusão social", desenvolvido pelo Laboratório de Operações de Separação (LAOS) do Instituto de Tecnologia da UFPA, instalou uma pequena unidade de extração de óleo vegetal para beneficiar as sementes coletadas. Além dos já conhecidos efeitos fitoterápicos, o óleo da andiroba também pode ser utilizado para produção de cosméticos e biodiesel. Pág. 10

Fotos Alexandre Moraes

Igarapé-Miri explora andiroba

"Viajar é salutar para o corpo e para a mente", afirma a professora Fernanda Cravidão. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Equipamentos têm alto custo

O pró-reitor Fernando Arthur Neves fala sobre extensão e meio ambiente. Pág. 2

Música

Livro homenageia Helena Maia

Pág. 7

Opinião Obras do Humanismo, Barroco e Arcadismo estão entre as indicadas

Theodomiro Júnior discute os eventos ambientais globais e a geopolítica amazônica. Pág. 2


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011 –

Coluna da REITORIA

Fernando Arthur de Freitas Neves - Pró-Reitor de Extensão da UFPA

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Mácio Ferreira

Memória kkk proex@ufpa.br

Meio Ambiente Meio

teoria do valor na tradição econômica clássica co mp reendeu, funda mentalmente, o valor trabalho como expressão da riqueza apartada das condições telúricas e cósmicas. A humanidade vê, assombrada, os desconcertos na natureza promovendo outras tantas acomodações no planeta e, a cada arranjo, há um alto preço pago em vidas por tantas mutilações impostas ao meio ambiente. Recentemente, estudiosos apresentaram outro referencial sobre as mudanças climáticas de nosso tempo, dizendo não ser mais que uma fração no longo curso de nossa existência ou do universo, portanto, não estamos a ver catástrofes pela ação humana, tão somente o pulso natural a manifestar a existência. Se assim é, podemos continuar a pilhar todas as reservas minerais, vegetais e animais encontrad a s e , p o r e n c o n t r a r, u s u fruir de tantas experiências quantas nosso devir exi-

gir para satisfazer nossa egolatria de substantivar as experiências no tempo biológico das gerações humanas.O princípio da incerteza de Heisenberg já demonstrou quão insuficiente pode ser nossa percepção sobre os fenômenos, portanto, vivenciamos, sem dúvida, um átimo da história do universo e seu pulso natural nos escapa, porém, isso não nos autoriza a tudo tornar propriedade enquanto se deixa de responder às dramáticas necessidades materiais e espirituais. Acredito na importância da solidariedade na gestão de soluções, como proposto por Richard Sennett ao conclamar a fusão do fazer político com o fazer social, particularmente ao perceber a relevância do agir social para promover a agenda da sociedade civil. Alerta, porém, que os objetivos devem ser modestos diante das diferenças

e incompletudes inerentes ao projeto de crítica à sociedade capitalista. A universidade tem sido um campo bastante fértil para propor questões na elaboração de políticas públicas contribuindo, deste modo, para tornar a extensão universitária um tributo aos reclamos de satisfação às condições de vida. Em florestas e cidades, em mares e populações ou em desertos e povoações, temos sido interpelados sobre essa experiência de viver sob o natural e o humano. Por mais tentativas de dispensar o natural, o humano não pode prescindir desta condição para exercitar a criação, por isto chega a constituir uma unidade do ambiente meio com experiência humana. Em nível mundial, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA, tem alimentado a ideia de fortalecer a utilização do desenvolvimento sustentável dos recursos do planeta, suscitando o cuidado necessário para os cidadãos

OPINIÃO

Theodomiro Gama Júnior

do mundo estarem vigilantes sobre problemas e ameaças ao meio ambiente, tentando estabelecer uma série de compromissos para favorecer melhores condições de vida com vistas à preservação para/das futuras gerações. A governança ambiental é muito ambiciosa, mas podemos contribuir para alicerçar esta intervenção a partir da dinâmica local. A criação de estações de ciência e lazer em cada município do Estado deve ser uma meta a ser alcançada, tomando como horizonte próximo os locais onde estão implantados os campi da UFPA. Ali, poderemos testar os saberes produzidos na universidade, na sociedade e conviver com eles, mesmo em formas mais simples, engajando uma rede de colaboradores dos setores governamental e não governamental, acadêmico, público e privado, em torno de propostas de trabalho a considerar a sustentabilidade ambiental e a nossa.

gamajr@ufpa.br

Eventos ambientais globais e a geopolítica amazônica

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atual projeção internacional do Brasil se deve não somente à importante participação das Regiões Sul e Sudeste como indutoras do desenvolvimento econômico, mas também, em parte, à importância estratégica geopolítica da região amazônica. Os compromissos assumidos pelo governo brasileiro durante a Conferência de Copenhague, no que concerne à redução do desmatamento na Amazônia e ao gerenciamento de suas bacias hidrográficas, devem estar embasados no conhecimento científico e tecnológico. Na porção norte da Placa Sul-Americana, encontra-se a região amazônica, a qual,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

em 2005, e também em 2010, passou por uma de suas piores secas. Alguns dos rios de sua imensa bacia hidrográfica tiveram vários trechos de seus leitos expostos, causando grande mortandade da fauna e flora aquáticas desse sistema fluvial, refletindo gravemente sobre as comunidades humanas locais. Pesquisas recentes demonstraram que existe uma relação direta entre a expansão do desmatamento, as queimadas na região amazônica e os seus impactos negativos sobre o clima da Terra. Outros resultados dessas pesquisas têm conteúdo e implicações mais complexas para o futuro da Amazônia. Foi demonstrado

que as suas florestas tropicais, apesar de emitirem diversos gases de efeito estufa, também contribuem para o sequestro do CO 2. Do ponto de vista geopolítico, essas florestas tropicais causam um grave incômodo global. Ou seja, o seu reconhecimento como bem ambiental, mais do que nunca, recrudesce sobre os países tropicais as pressões internacionais, com vista ao virtual congelamento desse imenso território. Com isso, a confirmação da imagem sugerindo que esses países se tornem, aos poucos, prisioneiros de uma agenda internacional. Contudo é incontestável

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que as divergências internas tenderão a se agravar, estimuladas pela assimetria de poder. Logo, ocorrerão disparidades de todos os tipos entre os parceiros, com impactos das ingerências externas ao sistema regional. Portanto, deve-se ter em conta que essas divergências devem ser enfrentadas internamente, sob o risco de transformarem-se em fraturas geopolíticas que promoverão, ao cabo de um curto período, o definhamento do Bloco Regional. Theodomiro Gama Júnior é doutor em Geologia e professor da Universidade Federal do Pará, Campus Castanhal.

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Caroline Soares/Dilermando Gadelha/Ericka Pinto (1.266-DRT/PA)/Flávio Meireles/Igor de Souza/Paulo Henrique Gadelha/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Vito Ramon Gemanque/Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/ Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Cleidson Barbosa/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Inventário conta história da saúde no Pará Projeto envolve análise arquitetônica e pesquisa antropológica

Yuri Rebêlo

O

s preceitos da boa arquitetura estão presentes em todos os tipos de edificações, seja mercado, seja residência, seja instituição de saúde. Embora estas últimas sejam mais valorizadas pela qualidade dos serviços que prestam, seus edifícios também contêm uma função simbólica e estética. Construídas por iniciativas portuguesas, a Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1650 (com a sede atual concluída em 1900), o Hospital da Ordem Terceira de São Francisco de Assis (1867) e o Hospital Beneficente Portuguesa (1877) sofreram uma série de adaptações e mudanças com o tempo, de forma a se tornarem mais eficientes para trato com as doenças e com os pacientes. O artigo Asilos, Sanatórios, e Hospitais: A Arquitetura da Saúde em Belém, de autoria da professora Cybelle Salvador Miranda, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), faz uma análise sobre as mudanças arquitetônicas e como elas interferem no cotidiano daquelas instituições. A análise faz parte do Projeto "Inventário do Patrimônio Cultural da Saúde, Bens Edificados e Acervos", desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que objetivava pesquisar e inventariar o patrimônio das instituições de saúde no Brasil. A ideia era criar um estudo multidisciplinar, de forma a analisar todos os aspectos dessas edificações. Por isso, no Pará, o estudo foi coordenado pelas professoras Cybelle

Alexandre Moraes

Mácio Ferreira

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Moderno: Em 1959, a estrutura em formato de "H" do Barros Barreto possibilitou a setorização dos serviços médicos Salvador Miranda, responsável pela pesquisa e análise arquitetônica, e Jane Felipe Beltrão, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, responsável pela pesquisa histórica e antropológica. Também participaram do estudo Márcio Couto Henrique, professor da Faculdade de História, a arquiteta Carla Albuquerque e Laura de Carvalho da Costa, aluna do curso

de Arquitetura. O inventário envolveu pesquisa em bibliotecas e arquivos públicos para coletar imagens antigas e atuais, depoimentos sobre essas instituições com o objetivo de levantar a importância de cada uma delas para a sociedade. "Nós levantamos 23 instituições, não só as mais antigas, como a Santa Casa, a Beneficente

Portuguesa e o Hospital da Ordem Terceira, mas também instituições mais modernas e contemporâneas, que tenham uma importância para a saúde, como o Hospital Barros Barreto e o Hospital Ophir Loyola. Tentei pinçar as instituições que representam as várias fases históricas do tratamento da saúde em Belém", conta Cybelle Miranda.

Resultados estarão no Portal Latino-Americano de Saúde O estudo foi desenvolvido ao longo de um ano e teve como meta principal a elaboração de fichas, nas quais estão presentes o histórico das edificações, a descrição arquitetônica, as imagens das construções, bem como as impressões de pessoas que vivenciaram os espaços de saúde como profissionais ou como pacientes. "Esse material será disponibilizado no Portal Latino-Americano da Saúde e qualquer pessoa poderá acessá-lo", explica a professora. Uma versão impressa do Inventário será publicada ao final de 2012,

contendo, além das fichas, artigos de pesquisadores da UFPA acerca do tema. "Durante a pesquisa, enfrentamos muitas dificuldades. As próprias instituições não têm consciência da importância da preservação da memória desses espaços. Também enfrentamos dificuldades institucionais, inclusive, com o próprio governo do Estado", relata a pesquisadora. A arquitetura das instituições de saúde evolui em decorrência dos avanços da ciência médica. Nos primeiros séculos, as principais instituições de saúde de Belém eram asilos

ou hospitais que funcionavam como abrigo. Além disso, várias dessas instituições não estavam voltadas apenas para a saúde. Muitas vezes, os "pacientes" eram pessoas pobres, indigentes, que não tinham onde ficar. Existiam, também, os asilos voltados para pacientes com doenças infectocontagiosas, como hanseníase, febre amarela, tuberculose e doenças mentais. As primeiras instituições de saúde eram construídas de forma precária, sem a estrutura necessária. "Nós temos imagens muito anti-

gas dos primeiros asilos, que eram construções isoladas, em madeira. Eram instituições, até certo ponto, improvisadas, sem uma estrutura técnica muito definida", conta Cybelle Miranda. Posteriormente, esses asilos foram substituídos por hospitais, como o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, situado na Avenida Tito Franco, atual Almirante Barroso, com estrutura pavilhonar, e o Hospital Universitário João de Barros Barreto, construído em caráter modernista, no tipo monobloco vertical.

Hospital Barros Barreto tem projeto em estilo modernista Essa estrutura "pavilhonar", comum no século XIX, dividia todos os setores dos hospitais com pavilhões específicos e independentes para homens, mulheres e crianças, cada ala bem arejada e com boa incidência de sol. Além disso, o Hospital Juliano Moreira, demolido em 1984, foi projetado pelo Engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro, mesmo projetista da Santa Casa de Misericórdia. Ele aplicou conceitos

franceses, aplicando o uso do porão e platibandas encobrindo a cobertura, o que era um "avanço" arquitetônico na época. Daí porque Belém era chamada de "Paris n’ América". Já no Hospital João de Barros Barreto, inaugurado em 1959 como Sanatório João de Barros Barreto, é possível notar diferenças consideráveis em sua arquitetura de monobloco, em relação ao estilo pavilhonar de antes. Projetado em estilo modernista,

a sua estrutura em formato de "H" possibilita a setorização dos serviços e as especialidades médicas, além de criar um volume interessante esteticamente. Além disso, a sua estrutura com disposição vertical difere bastante da estrutura das instituições mais antigas, predominantemente horizontais. Outro hospital que se enquadra neste estilo é o Ophir Loyola. A pesquisa, inédita em Belém, foi importante para fazer um levan-

tamento histórico da cidade que, de certa forma, pode ter a sua linha do tempo marcada também pela evolução das suas instituições de saúde. "São instituições que têm grande importância para a população, mas, do ponto de vista do patrimônio, não são tão apreciadas. Elas são mais valorizadas pela sua funcionalidade, não pela memória e por seu valor arquitetônico", conta Cybelle Miranda.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011 –

Vestibular

Economia

Andiroba é fonte de renda em Igarapé-Miri

UFPA adota nova lista de leituras

Autores paraenses ganham destaque entre as 12 obras indicadas Paulo Henrique Gadelha

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Além de oferecer a infraestrutura para a instalação dos equipamentos, o Projeto também realizou cursos de capacitação para moradores da comunidade

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uito indicada pelas avós para tratar contusões, inchaços, reumatismos e para acelerar cicatrizações, a andiroba (Carapa guianensis) tem lugar cativo na farmácia tradicional dos povos da Amazônia. A árvore, natural da região, já teve suas propriedades fitoterápicas reconhecidas pelo Ministério da Saúde. Um fruto da andiroba tem entre

quatro e seis sementes. As famílias que vivem nas comunidades do Mutirão, no município de Igarapé-Miri, coletavam as sementes para vender sempre que aparecia alguém interessado em adquiri-las. Essa era uma alternativa de renda para as famílias que vivem, principalmente, da colheita do açaí. O quilo da amêndoa da andiroba é vendido por R$0,20. Com as sementes transformadas em óleo, o preço sobe para R$10,00 por litro,

representando uma diferença de R$9,20 já que, para produzir cada litro, são necessários quatro quilos de amêndoa. Os extrativistas faziam seus negócios sem perceber a capacidade de renda que poderiam ter. Para reverter essa situação, foi implementado o Projeto de Extensão "Capacitação de comunidades do Baixo Tocantins para a exploração de plantas oleaginosas com foco na geração de renda e inclusão social", coordenado pela professora Nadia

Cristina Fernandes, do Laboratório de Operações de Separação (LAOS) do Instituto de Tecnologia (ITEC), com financiamento do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). As ações foram desenvolvidas de dezembro de 2007 a junho de 2010, em parceria com a Associação do Mutirão, que reúne 22 comunidades. Uma pequena unidade de extração de óleo vegetal foi instalada para beneficiar as sementes coletadas e aumentar a renda das famílias.

Óleo pode ser aproveitado em cosméticos e biodiesel O óleo da andiroba possui componentes que o qualificam como uma alternativa viável em diversos setores, pois, além dos poderes fitoterápicos, ele pode ser usado na produção de cosméticos e de biodiesel. Por ser uma espécie nativa, está em vantagem frente a outras plantas oleaginosas exógenas, como o dendê, a soja, o girassol e o peão-manso, mais suscetíveis às pragas. Essas qualidades garantem ao produtor o retorno do investimento.

Outro fator faz com que a andiroba atenda perfeitamente aos moradores do Mutirão: o florescimento da árvore ocorre na estação chuvosa e a colheita de frutos pode ser realizada no período de janeiro a julho, durante a entressafra do açaí. Apesar dos aspectos favoráveis, a andiroba não era vista como uma fonte de renda pela comunidade. Os moradores já tinham os equipamentos necessários para a extração do óleo, doados pelo Plano de Assistên-

cia da Eletronorte, mas não possuíam treinamento para instalação e uso das máquinas. A equipe de pesquisadores da Universidade verificou a situação e avaliou a possibilidade de implantação da unidade de extração de óleo. A produção poderia chegar a 20 litros por dia. Em 100 dias, a Unidade poderia gerar uma renda de R$20 mil. Se fosse vendida in natura, a mesma quantidade de sementes renderia apenas R$1.600,00. Para o professor Luiz Ferreira de França,

o desconhecimento dessa possibilidade de aumentar a renda utilizando a planta é um dos principais empecilhos para que comunidades como as do Mutirão não valorizem a andiroba. "A extração do óleo não é complicada, o que falta é a informação sobre o sistema de processamento, que tem início com a coleta e a seleção das melhores sementes", afirma o professor do Laboratório de Operações de Separação (LAOS).

Qualificação da mão de obra

Projetos precisam de apoio

Todas as etapas do Projeto foram realizadas em parceria entre os pesquisadores e a Associação do Mutirão. O primeiro passo foi a reunião para decidir onde a unidade de extração seria implantada. A sede da Associação foi o mais indicado. Em seguida, foram feitos levantamentos sobre a situação socioeconômica dos ribeirinhos, os equipamentos disponíveis e a potencialidade dos frutos oleaginosos presentes na região. Nesta etapa, foram verificados dois problemas principais: a necessidade da manutenção dos equipamentos e a qualificação da mão de obra local.

De acordo com o professor Luiz França, para que a andiroba tenha um melhor aproveitamento e seja fonte de renda para a comunidade, é necessário que os órgãos e as instituições desempenhem seus papéis. Às universidades públicas, como a Universidade Federal do Pará, a Universidade Federal Rural da Amazônia e a Universidade do Estado do Pará, cabe elaborar pesquisas sobre o tema e desenvolver projetos que visem formar e capacitar os extrativistas. O governo deve entender que a agricultura familiar na Amazônia não

Os equipamentos estavam guardados há quase dois anos e sofreram desgastes. Após uma avaliação, eles passaram por limpeza, manutenção e testes. Cursos de técnicas básicas de análise, produção de óleos vegetais e controle de qualidade foram ofertados para a população. Só então, com a construção de um galpão de processamento e do secador solar, a instalação da prensa, do filtro prensa e do sistema de conversão da energia elétrica para essas máquinas, que funcionam com energia trifásica, e a aquisição de um moinho, o Projeto montou a infraestrutura necessária para a extração do óleo.

se restringe apenas a plantio de feijão e arroz, mas também envolve o extrativismo. Investimentos nesse tipo de projeto podem, inclusive, mudar o conceito errôneo que se tem sobre o extrativismo. "Aqui, nós vivemos de extrativismo, o que nós devemos melhorar é a maneira como ele é praticado. Existe aquele extrativismo arcaico, que precisamos superar para chegarmos ao extrativismo com tecnologia. Nós podemos fazer manejo e plantio de mudas sem precisar mexer com o ecossistema", explica o professor.

onsiderada uma arte, a Literatura utiliza seus estilos, gêneros e autores para falar sobre o homem e sobre a natureza em diferentes contextos históricos e espaciais. Além de entreter, a obra literária gera conhecimento. Essa rede de inter-relações é encontrada nos conteúdos programáticos de vários vestibulares, materializando-se nas leituras obrigatórias ou recomendadas, que contemplam as literaturas brasileira e portuguesa. Para o próximo Processo Seletivo (PS) da Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2012, essas leituras passaram por mudanças. A proposta é manter a tradição e contribuir para que o candidato ao PS enriqueça o seu arcabouço cultural. "É uma tradição de muitos vestibulares a indicação de leituras recomendadas aos vestibulandos. A UFPA, naturalmente, faz parte disso. A ideia fundamental, seja qual for a lista, é proporcionar ao estudante uma ampliação do seu horizonte cultural, por meio de um diálogo com esses textos. Os livros não devem ser concebidos como meros materiais consultados para passar no vestibular", explica o professor Sílvio Holanda, da Faculdade de Letras (Fale) da UFPA e membro da comissão responsável pelas leituras indicadas. De acordo com Sílvio Holanda,

Karol Khaled

Fotos Acervo do Pesquisador

Extração de óleo vegetal é alternativa para entressafra do açaí

Vito Gemaque

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Nova lista recomenda a leitura de 12 obras, entre elas, O Carro dos Milagres, do paraense Benedicto Monteiro alguns fatores contribuíram para as mudanças. Entre eles, estão a defasagem do programa de Literatura da UFPA e a necessidade de adequação desse conteúdo ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que com-

preende a primeira fase do Processo Seletivo da Universidade. E uma terceira motivação, explica o docente, deveu-se à decisão de dar, ainda, mais destaque aos autores paraenses. Então, procurando cumprir

essas diretrizes, definiu-se que, para o PS 2012 – a segunda fase do vestibular da UFPA –, 12 obras devem ser estudadas. Na relação, estão várias escolas literárias tradicionalmente cobradas.

Importante é também ler o contexto da obra literária Dessas obras selecionadas, conforme explica o docente, é possível o candidato extrair diversas informações, como é o caso do monólogo O pranto de Maria Parda, que representa o Humanismo de Gil Vicente, primeiro conteúdo a figurar na nova lista. "O monólogo se passa no século XVI, em Lisboa, Portugal. Nesta história, é possível perceber uma situação atípica. Uma mulher – e não um homem –, velha e mendiga, que vaga pela capital portuguesa, é

tomada pelo vício da bebida alcoólica. Então, por meio dessa mensagem, é possível fazer referência à condição de, exclusão da mulher", considera Sílvio Holanda. Avançando no conteúdo programático, o estudante depara-se com o Barroco do poeta brasileiro Gregório de Matos Guerra. Segundo o professor, a leitura mostra o lirismo religioso e amoroso e, notadamente, a sátira do escritor baiano. Em relação a essa última vertente, é possível

observar a crítica aos governantes de Salvador, como nesta estrofe de um dos seus sonetos: "A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro". A próxima escola literária é o Arcadismo, que floresceu na Europa no século XVIII. Nas leituras, esse estilo aparece com os poemas do português

Manuel Maria Du Bocage. Sílvio Holanda destaca que o estilo pode ser observado na arquitetura de Belém, o que, de acordo com ele, deve ser ressaltado pelo professor em sala de aula. "Na nossa paisagem arquitetônica, há prédios que seguem o neoclássico, valorizado no Arcadismo. O prédio da Prefeitura de Belém, por exemplo, segue esse modelo. Então, o professor deve fazer essa relação. Dessa forma, ficará mais claro para o jovem que literatura é uma fonte de conhecimentos", afirma.

Analisar, refletir e interpretar

Um passeio pela cidade

O professor lembra que as obras são trabalhadas ao longo de três anos, no ensino médio. O segredo para os estudantes vencerem as adversidades encontra-se "no seu poder de exercer a análise e a reflexão, para, então, interpretarem as leituras", sugere Sílvio Holanda. As próximas leituras indicadas são os poemas românticos Navio Negreiro, de Castro Alves, e I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias. Sílvio Holanda destaca um traço fundamental em Gonçalves Dias, o indianismo. Essa questão, de acordo com o professor, é estudada por outras áreas, como a Antropologia e a História. Então, "é possível o aluno fazer uma relação entre a Literatura e outros campos do conhecimento e,

Após essas obras, o candidato é apresentado ao Simbolismo, quando o estudante irá conhecer alguns poemas do português Camilo Pessanha e do brasileiro Cruz e Sousa. E chega, finalmente, ao Modernismo. A última obra da lista é o romance A viagem do elefante, do prosador português José Saramago. Todavia, antes de Saramago, o Modernismo é contemplado pelos paraenses Benedicto Monteiro e Dalcídio Jurandir. O primeiro é trabalhado por meio do conto O carro dos milagres. "Benedicto Monteiro aborda os promesseiros durante o Círio de Nazaré e, ao mesmo tempo, faz uma leitura política da cidade de Belém", explica Sílvio Holanda. Há também no conto, segundo o profes-

assim, ampliar as suas possibilidades de construir essas conexões", defende o professor. Nos contos Desilusão e Que bom marido, de autoria do paraense Marques de Carvalho, o aluno vai caminhar pelas ruas e praças da cidade e observar os hábitos da população, os quais vão mudando com a chegada da eletricidade e da água encanada. Marques de Carvalho também trabalha um tema social, o adultério, presente em Que bom marido, cujo título, na verdade, é uma ironia. Nesse bloco, está o poeta carioca Olavo Bilac, que tem quatro crônicas entre as leituras recomendadas: Trabalho feminino, Antônio Conselheiro, Prostituição infantil e Recenseamento.

sor, "a valorização, por exemplo, de nomes de peixes e plantas da região amazônica. Essas referências irão proporcionar ao aluno um mergulho na cultura regional". A valorização de Belém também aparece em Primeira manhã, de Dalcídio Jurandir. "Na história, o candidato é apresentado à primeira manhã de aula do Alfredo. O personagem mora na José Pio, no Telégrafo, sai de lá diariamente e segue pela Senador Lemos, que antigamente se chamava Avenida São João. Alfredo, chegando a 28 de Setembro, continua a sua jornada até entrar no Liceu, onde estuda. Os três autores paraenses – Benedicto, Dalcídio e Marques de Carvalho – ‘andam’ pela capital paraense", conclui Sílvio Holanda.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011 –

Qualificação

Tecnologia

Escola Ativa capacita professores

Fazer parte da nova economia custa caro

Microempresas paraenses não investem em tecnologia da informação

Professores vêm a Belém, onde participam de seis cursos de formação com temáticas relacionadas à Educação do Campo Dilermando Gadelha Entre as 75 micro e pequenas empresas analisadas, 12 representavam o comércio de materiais de construção nibilizou o acesso ao seu cadastro eletrônico, emitindo, inclusive, um comunicado às empresas, incentivando-as a participar do processo. Das 272 empresas fornecedoras cadastradas e qualificadas no PDF até março de 2010, 75 foram selecionadas, por meio de amostragem aleatória simples, para aplicação de questionários. A seleção reflete o cenário empresarial do Pará, composto majoritariamente por empresas incluídas no segmento de Micro e Pequenas

Empresas (MPE), as quais encontram dificuldades em atender os padrões exigidos por grandes empresas compradoras instaladas no Estado, como a própria Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce), uma das maiores empresas privadas do Brasil. Na Vale, quase todo o processo de gestão de fornecedores é eletrônico, utilizando ambiente da web e aplicações em Tecnologia de Informação (TI), que é caracterizada pela integração da informática (hardwares e softwares)

dentro da administração de empresas e organizações. "Esta integração é colocada à disposição da gestão, viabilizando informações qualificadas e análise de dados, fatores que são pertinentes à formulação de estratégias de negócios e de competitividade", esclarece o professor Helder Aranha. Assim, a pesquisa buscou identificar quais são os fatores inibidores à adoção de TI das MPEs paraenses fornecedoras de produtos e serviços da Vale.

Custos elevados e descrédito são principais inibidores Foram selecionadas MPEs localizadas em Abaetetuba, Ananindeua, Belém, Castanhal, Marabá, Marituba e Parauapebas, 15 empresas do ramo de alimentação e 12 empresas representando o comércio de materiais de construção. Os questionários foram aplicados aos proprietários ou aos gestores das MPEs. Entre os resultados encontrados, destaca-se que 48% das empresas não possuem suas próprias homepages, 34,67% afirmam não possuir

pessoa ou setor responsável pela TI nos estabelecimentos e 66,67% não realizaram nenhum tipo de capacitação em TI para seus empregados nos últimos dois anos. Quase metade das empresas pesquisadas (43%) ainda utiliza recursos antigos de acesso à internet, como rádio, linha discada ou via telecentros, cybers e lan houses, sendo este acesso pouco utilizado para gerenciar operações logísticas. O custo elevado de software e hardware e a falta de suporte técnico

na região estão entre os principais fatores técnico-financeiros inibidores da adoção de TI pelas empresas pesquisadas. A pesquisa constatou, ainda, que existe um descrédito nas estratégias e ferramentas da Tecnologia de Informação devido a experiências anteriores frustradas, além do temor, por parte dos funcionários da empresa, de serem monitorados em suas atividades individuais. Para o professor Helder Aranha, os resultados constatam "a gran-

de desvantagem e, por conseguinte, os fatores inibidores mais relevantes no Pará, os quais são o custo (o preço da internet via banda larga, por exemplo) e a má consultoria. O descrédito diagnosticado em função de experiências anteriores no uso de TIs dessas MPEs aponta para a existência de atendimentos mal encaminhados que geraram um ‘trauma’ nos gestores dessas empresas, por isso a inibição em adotar as Tecnologias de Informação".

Hoje, as compras são virtuais e não há intermediários No âmbito teórico, é consenso que a economia está crescendo com bases nas TIs. Alguns estudiosos descrevem esse crescimento como uma nova economia, ao inserir as empresas em comércios eletrônicos. Outros apontam que essa nova economia é apenas a "velha economia" dotada de ferramentas modernas. Porém é inegável que o uso das Tecnologias de Informação provoca uma profunda alteração na forma de fazer negócio. Um exemplo mencionado pelo professor Helder Aranha diz respeito ao caso das indústrias fonográficas: "elas estão em um momento de tran-

Público-alvo são aqueles que atuam em classes multisseriadas Fotos Karol Khaled

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o âmbito dos negócios, quase a totalidade das empresas lida com informações. Número de clientes, dados de compras, controle de vendas e estoque não estão mais registrados nos livros contábeis. Com a chegada do século XXI e o avanço da tecnologia, as informações estão digitalizadas. Para manter a produtividade e enfrentar a concorrência, são necessários os ajustes e as adaptações na gestão das empresas. Mas, no Brasil, muitas barreiras são encontradas para que isso aconteça, tais como o custo das redes de conectividade, a educação e a inclusão digital, o que atrasa a inserção do País nas mudanças e nas tendências globais. Neste contexto, as dificuldades enfrentadas pelas empresas no Pará receberam atenção especial na Dissertação do professor Helder da Silva Aranha, da Faculdade de Administração da UFPA, intitulada Fatores inibidores à adoção de Tecnologias de Informação em Micro e Pequenas Empresas fornecedoras da Vale no Estado do Pará. A Dissertação foi orientada pelo professor Manoel Veras de Sousa Neto e defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para fazer a pesquisa, o professor Helder Aranha buscou parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), por meio do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), que dispo-

Karol Khaled

Igor de Souza

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sição devido à desintermediação e virtualização de suas mercadorias, o que altera a cadeia de fornecimento, pois o consumidor tem acesso direto aos produtos no ciberespaço. É uma nova conjuntura, pois, antes, na dita ‘velha economia’, pressupunham-se cadeias de intermediários, mas, com a web, há a desintermediação". Trabalho a distância – Outra mudança apontada pelo professor é o surgimento do "teletrabalho", o trabalho a distância, realizado em casa e viabilizado pelo suporte da empresa, via internet. A proposta é incrementar a "velha economia" com

qualidade de vida do empregado, permitindo um trabalho mais saudável, sem deixar de lado a produtividade e a competitividade. Atualmente, o sucesso dos sites de compras coletivas tem sido motivador para a adoção das TIs. Mas os inibidores existem e a concorrência com outras regiões do Brasil acaba firmando um abismo digital no País. "Neste sentido, é fundamental a participação governamental para erradicar esse problema. Agências reguladoras, empresários e universidades devem estudar como melhorar o impacto dos custos em TIs, principalmente, referentes à

manutenção e à consultoria. Quanto mais periféricas as cidades, mais elevados são esses custos", pondera o professor. Helder Aranha anseia promover uma discussão nacional entre universidades a partir da formação de um observatório para análise permanente de fatores inibidores de adoção das TIs. "Assim, teremos a possibilidade de apresentar uma análise melhor fundamentada sobre a adoção das Tecnologias de Informação no mundo dos negócios. As empresas paraenses não podem ser marginalizadas porque a economia se tornou virtual", conclui.

S

alas de aula refrigeradas, com cadeiras acolchoadas, quadros magnéticos, bibliotecas com livros de todas as áreas, professores graduados e pós-graduados. Isso é o que se espera das escolas. Porém a realidade nos diversos municípios de alguns Estados, como o Pará, é completamente diferente. Neles, a pobreza relega os alunos a estudarem, muitas vezes, em locais sem infraestrutura, com professores sem formação adequada às necessidades dos alunos e sem

os materiais pedagógicos apropriados para o bom aprendizado. Em alguns casos, alunos que cursam anos diferentes precisam estudar na mesma turma, criando uma classe multisseriada. O Programa Escola Ativa foi criado, em 1997, pelo Ministério da Educação (MEC) para tentar solucionar alguns dos problemas dessas classes. Desde então, o Programa funciona em Estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, chegando ao Pará em 2008, por meio do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da Universidade Federal do

Pará (UFPA). Coordenado no Estado pelos professores do ICED Orlando Souza e Evanildo Estumano, o Escola Ativa tem como principal objetivo capacitar professores de classes multisseriadas em escolas municipais do campo, onde, segundo dados do MEC, está concentrado um grande número desse tipo de turmas. A capacitação dos professores é feita por meio de seis cursos de formação que abordam temáticas relacionadas com a Educação do Campo. Os módulos são: Metodologia do Programa Escola Ativa,

Participantes devem atuar como multiplicadores Segundo o professor Orlando Souza, a partir da compreensão desses pontos pelos professores de turmas multisseriadas, pode-se modificar a educação no interior do Pará. "Não é mais aquela educação bancária que Paulo Freire criticava. As experiências e as vivências dos alunos são aproveitadas, então, promovemos uma educação que leva em conta a realidade e todos os elementos culturais locais. É esta a proposta: ser uma educação contextualizada, não uma educação que vai para o campo, mas que brota daquela realidade", afirma o professor. Para participar do Programa

Escola Ativa, as prefeituras aderem ao Programa por intermédio do Plano de Ações Articuladas (PAR), em um portal da web, aberto com esse propósito. De cada 25 escolas com classes multisseriadas, é enviado um professor para Belém, onde acontecem seis capacitações ao longo de uma semana cada. As despesas com a viagem são pagas pelo município de origem, já a hospedagem e a alimentação são responsabilidade do Programa. Após a capacitação, os professores certificados voltam para as suas cidades com o dever de multiplicar os conhecimentos adquiridos."O Programa oferece uma bolsa para esse

professor multiplicador, que, depois de ser capacitado, deve acompanhar os demais professores e apresentar relatórios mensais", explica Orlando Souza. Pelos relatórios, é possível acompanhar a efetivação do Escola Ativa nos interiores. Em Belém, o Projeto já teve duas adesões. A primeira aconteceu em 2008, com cerca de 200 professores de classes multisseriadas inscritos, de 135 municípios paraenses. As capacitações para essa adesão iniciaram no mês de dezembro de 2009 e terminaram em abril deste ano, com o curso sobre Informática Aplicada à Educação do Campo.

História de vida e memória compõem conteúdos Segundo o professor Orlando Souza, o módulo de informática não estava previsto, inicialmente, no Programa Escola Ativa, que é padronizado nacionalmente, mas foi acrescentado no início de 2010, pois algumas escolas já tinham infraestrutura para explorar tais recursos. "Uma série de escolas já possui energia elétrica e conta com o mínimo de segurança, por isso algumas foram contempladas com uma impressora e cinco computadores para as pessoas poderem acessar a internet", explica o professor. A segunda adesão aconteceu

em 2009, com o início das capacitações em setembro de 2010. Desta vez, foram 100 professores inscritos, completando os 143 municípios do Pará. Este ano, os participantes já tiveram o Módulo II, com Alfabetização e Letramento, e o Módulo III, com Práticas Pedagógicas na Educação do Campo, o qual foi dividido em três turmas dirigidas por formadores vindos dos municípios de Marabá e Tocantins. Segundo a professora Lucia Maria Batista, uma das formadoras do Programa Escola Ativa, os módulos utilizam a metodologia

básica do programa, mas levando em consideração a realidade dos professores presentes. "Todas as nossas discussões estão voltadas para a história de vida deles, para a memória que eles têm em relação ao processo de alfabetização e letramento em interação com o que está posto, hoje, por uma teoria que fundamenta a alfabetização diferenciada, o construtivismo. O grupo é fantástico. Eles estão dispostos e com muita vontade de aprender, conhecer e melhorar a realidade educacional dos seus municípios", avalia a professora.

Alfabetização e Letramento, Práticas Pedagógicas em Educação do Campo, Educação do Campo, Gestão Educacional do Campo e Informática aplicada à Educação do Campo. Os módulos, de 40 horas cada, abordam temas centrais para a compreensão das peculiaridades das áreas rurais e do seu processo de educação, como as suas características socioculturais, políticas e econômicas, além de noções de desenvolvimento sustentável, políticas de educação no campo, práticas pedagógicas e estratégias de leitura e produção de textos.

Estratégias para sala de aula Além dos seis módulos, o Programa também traz uma série de estratégias para auxiliar os professores dentro da sala de aula, tanto com relação à organização do espaço escolar quanto com relação às melhorias no processo de aprendizagem dos alunos de classes multisseriadas. Entre elas, estão os Cantinhos de Aprendizagem, espaços em que materiais relacionados às áreas do conhecimento e à cultura local são disponibilizados para que os alunos possam pesquisar e socializar esses conhecimentos. "Os cantos da sala de aula são pouco aproveitados, então, em cada canto, é trabalhada uma disciplina. Vai se estabelecendo um conjunto de elementos que tem ligação com o local, o aluno vai aprendendo e, quando há qualquer dúvida, ele corre lá naquele cantinho", explica o professor Orlando Souza. Outra estratégia é o Colegiado Estudantil, um coletivo formado por estudantes, com o objetivo de estimular a auto-organização, a tomada de decisões coletivas e a capacidade de gestão. Para a professora Lucia Maria Batista, essas estratégias "ajudam as crianças a adquirir autonomia, a construir sua cidadania, a ter independência e também evitam que o professor carregue sozinho essa responsabilidade."


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011 –

Extensão

Educação

Flávio Meireles

S

eja brasileiro ou norueguês, ribeirinho ou quilombola, da cidade ou do campo. Todo agrupamento humano desenvolve, criativamente, formas diferenciadas de explicar sua realidade a partir das relações que estabelece com o meio ambiente. Essas diferenciações consolidam hábitos, valores, costumes, línguas e outros fatores que, juntos, podem ser definidos como cultura. E, por mais diferentes que sejam as práticas culturais, a Matemática é algo comum entre as sociedades. A partir de 1970, com o surgimento do conceito de Etnomatemática, o ensino da disciplina começou a considerar os contextos culturais. Nessa perspectiva, as estratégias de aprendizagem passam a ser específicas aos seus públicos. Foi inspirado nessa proposta que o professor Hélio Simplício Rodrigues elaborou a Dissertação Magistério Indígena: contribuições da Etnomatemática para a formação dos professores indígenas do Estado do Tocantins, sob a orientação do professor Erasmo Borges de Sousa Filho. Defendida em maio deste ano no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas, a dissertação propõe reflexões sobre como a Matemática é vista pelos indígenas e como pode ser um fator crucial para a valorização das raízes culturais. O interesse pelo assunto surgiu logo que Hélio Rodrigues integrou o corpo docente do Curso de Formação

Acervo do Pesquisador

Professor defende uso de contexto cultural para facilitar aprendizagem

U

Alunos-professores em atividade durante curso de formação na cidade de Paraíso (TO) Inicial para Magistério Indígena em nível médio, oferecido pela Secretaria de Educação do Estado do Tocantins. Criado em 1999, o curso tem como objetivo habilitar representantes das etnias Apinayé, Karajá Xambioá, Javaé, Krahô, Krahô Kanela e Xerente

como professores em suas respectivas comunidades. "Em sala de aula, percebi que muitos professores indígenas tinham dificuldade em estabelecer um diálogo entre o conhecimento matemático tradicional e o conhecimento das

suas próprias culturas", explica o professor. Para ele, a falta de material didático--pedagógico específico e o descuido com a realidade indígena são fatores que prejudicam o entendimento da Matemática por parte dos indígenas.

torna essa situação escolar pior é o fato de muitos professores aceitarem e reforçarem esses mitos. Mas, hoje, os tempos são outros. A mudança de paradigma em que o emprego de técnicas e as demonstrações matemáticas são pautados na realidade cultural do aluno-professor tem valorizado os saberes tradicionais, sem perder de vista a apropriação de outros saberes. "Busco um diálogo inter e intracultural entre os campos

de conhecimento. São estratégias distintas, porém não excludentes e podem se complementar mutuamente", pondera Hélio Rodrigues. Para a pesquisa, o professor utilizou, além da coleta de dados, a observação presencial, devido às relações estabelecidas com os sujeitos. "Não raramente obtive informações importantes por meio de conversas informais que aconteciam tanto no local onde era realizado o curso quanto

durante as visitas às aldeias", afirma o professor, que ministra aulas para índios desde 2006. Segundo Hélio Rodrigues, os indígenas reconhecem a importância das suas práticas sociais e sabem que nelas estão embutidas, também, as práticas matemáticas, pois é preciso saber quantos peixes foram pescados, como dividir os grupos para atividades de canto e de dança, quantas pessoas vivem na aldeia, por exemplo.

Criação de licenciatura intercultural não é suficiente Nos últimos anos, o Brasil deu um salto qualitativo com a criação de licenciaturas interculturais voltadas para as comunidades indígenas em universidades públicas. Mas, além de criar os cursos, é preciso formar profissionais com sensibilidade para a reflexão intercultural, uma vez que a diversidade cultural não é algo específico das comunidades indígenas. Desde a Constituição de 1988, a legislação brasileira vem avançando nas discussões a respeito da educação escolar indígena. Os resultados se devem mais à organização das comunidades do que à sensibiliza-

19 estudantes recebem Prêmio Jovem Extensionista

Ericka Pinto

Falta articulação entre os conteúdos ministrados Além disso, o ensino linear e burocrático, sem articulação entre os conteúdos, também dificulta a aprendizagem. "Infelizmente, isso alimenta os mitos em torno da Matemática. Um deles é que só uns poucos 'iluminados', também chamados de 'gênios' e superdotados, aprendem a disciplina. A maioria dos alunos deve aceitar que não aprende porque não possui inteligência e capacidade suficientes para isso", explica o pesquisador. O que

Arte e saúde entre os melhores

ção dos governantes. "É importante que todo professor, indígena ou não, esteja comprometido com o desenvolvimento crítico de seus alunos, fazendo-os entender que todos são brasileiros com direitos e deveres", afirma o professor. Outro ponto de discussão é o domínio ou não da Língua Portuguesa. Como nem todos os professores terminaram o ensino médio, muitos não falam fluentemente a Língua. "Por um lado, é bom, pois o professor certamente irá ministrar suas aulas na língua materna e este é um dos pilares da educação escolar indígena", avalia.

Contudo, como o Curso de Magistério Indígena é totalmente ministrado em Português e as aulas nas comunidades são ministradas nas línguas indígenas, é bem provável que haja dificuldades na tradução de alguns termos. "A educação escolar indígena se caracteriza por ter sido introduzida nas comunidades pelo contato com o não índio. Desse modo, os conhecimentos tradicionais já não são mais suficientes para garantir a sua existência. É preciso, agora, apreender o conhecimento da outra cultura para fazer frente a essa situação e tornarse seu próprio porta-voz", finaliza

Hélio Simplício Rodrigues. Saiba mais: O Tocantins possui 92 escolas indígenas, atendendo cerca de 4.530 alunos. Apenas 34 possuem um coordenador pedagógico. Ao todo, são 315 professores atuando em escolas indígenas, sendo 209 indígenas e 106 não indígenas. Dos 209 índios, apenas 105 são habilitados em Magistério Indígena. Os professores indígenas são escolhidos por suas comunidades, assim que a escola é implantada na aldeia. O professor, ao ser escolhido, é automaticamente matriculado no Curso de Formação Inicial em Magistério Indígena do Estado.

m projeto que cria um novo canal de comunicação para levar ao conhecimento da comunidade a história das artes cênicas em Belém; um outro que leva assistência e educação em saúde a uma população ribeirinha no interior do Pará, com ações preventivas contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). O que há em comum entre esses dois projetos de extensão é, sem dúvida, a experiência acadêmica que proporcionaram a estudantes e professores da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ambos deram origem aos artigos A arte de comunicar a arte: divulgação da produção e história das artes cênicas, de autoria da estudante de Jornalismo Caroline Soares de Araújo, e Conhecendo e prevenindo infecções sexualmente transmissíveis em comunidades ribeirinhas, do aluno Ildson Rosemberg Alves de Souza, do curso de Ciências Biológicas. Os trabalhos dos estudantes estão entre os 19 vencedores do Prêmio Jovem Extensionista 2010, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão. Os artigos foram apresentados durante a 13ª edição da Jornada de Extensão da

Karol Khaled

Aprender Matemática é para todos

EM DIA

A estudante de Jornalismo Caroline Soares está entre os premiados UFPA, evento que visa incentivar a participação dos alunos nas atividades extensionistas. A comunicação do Teatro Universitário Cláudio Barradas foi o foco do artigo da estudante Caroline Soares, o qual teve como objeto de estudo o Projeto de Extensão "As artes cênicas em diálogo: difusão da produção e da memória", coordenado pela professora Margareth Moura Refkalefsky.

A proposta da bolsista foi identificar o canal de comunicação mais acessível e procurado pelo público interno e externo sobre a programação do Teatro. Além disso, a produção de matérias sobre as companhias e os espetáculos, a participação em todo processo que envolve uma assessoria de comunicação cultural e a produção de um programa de TV deram o suporte necessário para que a estudante desenvolvesse o seu artigo.

do Teatro Universitário Cláudio Barradas. A página também integra widgets (aplicativos que proporcionam maior interatividade com o usuário) e outras ferramentas, como o twitter. "Avaliamos o que foi feito – o blog, o atendimento à imprensa, a segunda edição do Projeto Ribalta – e percebemos como tudo contribuiu para a construção de um espaço que cumpre o seu papel social e cultural em uma universidade pública", afirma Caroline Soares. As atividades de extensão desenvolvidas no Teatro Universitário Cláudio Barradas visam ao melhor

aproveitamento do espaço, bem como oportunizam à comunidade o conhecimento e a participação em manifestações artístico-culturais. Neste contexto, insere-se o Programa "As artes cênicas em diálogo: difusão da produção e da memória". As atividades do Programa incluem: pesquisa documental (reportagens, fotos e artigos) sobre grandes nomes das artes cênicas, apoio estrutural e comunicacional a grupos artísticos com proposta educativa, realização e divulgação de oficinas, seminários, mesas-redondas e parcerias com festivais.

Educação em saúde para comunidade ribeirinha Sob a coordenação da professora Mihoko Tsutsumi, o Projeto "Luz na Amazônia", uma parceria entre a UFPA e a Sociedade Bíblica do Brasil, desenvolve ações de assistência e educação em saúde para a população ribeirinha do Pará. Em 2010, a comunidade assistida foi a de Santa Maria, localizada no município de Acará, onde foram realizados exames preventivos entre as mulheres em idade fértil, palestras sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), distribuição de cartilhas e de preservativos cedidos pela Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SESPA). As viagens às comunidades ribeirinhas, realizadas uma vez por mês, contam com a participação de acadêmicos de Farmácia, Biologia e Biomedicina. "Eles orientam as formas de prevenção das Infec-

O CNPq acaba de aprovar a Proposta “Experimentação em Futuro da Internet entre Brasil e Europa”, coordenada pelo prof. Antônio Jorge Gomes Abelém. Entre os objetivos do Projeto, está a construção de um ambiente de experimentação para validar propostas de arquiteturas para sucessores da internet atual.

Jovem Cientista I

Canal mais adequado para falar com o público O primeiro passo foi traçar um diagnóstico da troca de informações entre o Teatro e o seu público. A equipe definiu que o melhor método era uma pesquisa quantitativa. O resultado apontou que a maioria dos entrevistados, isto é, 91%, tinha acesso pela internet, mas alguns também buscavam informações sobre os espetáculos por outros meios (69%). Esses dados serviram como base para definir que tipo de mídia o Teatro precisaria utilizar para melhorar a comunicação com o público. O resultado foi a criação do website10,

Internet

ções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e trocam experiências com os ribeirinhos, aprendendo coisas novas a cada viagem. Isso é ação extensionista, pois professores e alunos trabalham para melhorar as condições de vida da comunidade e ganham mais experiência", destaca a professora Maisa Sousa, do Núcleo de Medicina Tropical da UFPA. Prevenção – Neste projeto, insere-se a contribuição do bolsista Ildson Rosemberg com o artigo intitulado Conhecendo e prevenindo infecções sexualmente transmissíveis em comunidades ribeirinhas. O trabalho faz parte do Projeto de Extensão "Integração de serviços clínico-ambulatorial e laboratorial na prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)", coordenado pela professora Maisa

Sousa. A partir das atividades de extensão, o estudante Ildson Rosemberg desenvolveu um trabalho de conscientização e apresentou um diagnóstico com o perfil de mulheres ribeirinhas vulneráveis às DSTs. Foram entrevistadas 53 famílias. As informações obtidas referem-se à idade, à escolaridade, ao início da vida sexual, ao número de parceiros, à contracepção, a exames ginecológicos, à gestação e ao aborto. A condição socioeconômica e a baixa escolaridade estão entre os fatores que contribuem para o desenvolvimento de DSTs na comunidade. "Fiquei satisfeito com o interesse da comunidade. Muitos tinham um conhecimento superficial sobre o assunto. A maioria desconhecia, por exemplo, a relação do Papiloma Vírus Humano (HPV) com o câncer de colo uterino", explica.

Estão abertas, até o dia 31 de agosto, as inscrições para o Prêmio Jovem Cientista. O tema da 25ª edição é “Cidades Sustentáveis”, o qual visa estimular boas ideias e reconhecer trabalhos científicos de pesquisadores e estudantes. Os trabalhos podem ser inscritos em uma das seguintes categorias: Graduado, Estudante do Ensino Superior, Estudante do Ensino Médio e Mérito Institucional.

Jovem Cientista II Além das quatro categorias, será concedida uma Menção Honrosa ao pesquisador com título de doutor, como reconhecimento pelo seu trabalho na área relacionada à temática do concurso. Os orientadores das categorias Graduado, Estudantes do Ensino Superior e Estudantes do Ensino Médio e as escolas dos três classificados do Ensino Médio também serão premiados com laptops e bolsas de estudos do CNPq. Mais informações no site http://www.jovemcientista. cnpq.br/

Literatura Estão abertas as inscrições para o Concurso Literário “Prêmio Samuel Wallace Mac-Dowell (gênero Romance). Os livros devem ser apresentados em três (3) vias, sob pseudônimo e acompanhados de uma (1) cópia em CD. A identificação, o endereço do concorrente e o título da obra devem ser entregues em envelope lacrado. Mais informações: (91) 3222-0630, apl-pa@ig.com. br e www.apl-pa.org.br

Software O Laboratório de Engenharia de Software, da UFPA, recebeu o Prêmio Dorgival Brandão Júnior, do Programa Brasileiro de Qualidade e Processamento de Software (PBQP-Software) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). A premiação reconhece o trabalho realizado com o curso Residência em Arquitetura de Software, desenvolvido durante dois anos, em parceria com a UFPA, o Centro Universitário do Pará (Cesupa) e a Universidade da Amazônia (Unama).

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2011 –

História

Música

Uma Viagem Filosófica pela Amazônia

Helena Maia: a nobre pianista

Manuscritos e desenhos podem ser acessados no site da Biblioteca Nacional Epistemologia de uma viagem: Alexandre Rodrigues Ferreira e sua Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, escrito

pelo professor Mauro Cezar Coelho, da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará. Na introdução do livro, o professor Mauro Cezar Coelho

afirma que o objetivo central da obra é analisar o processo de produção de conhecimento, especialmente aquele realizado a partir do marco do movimento Iluminista, sinalizado pelo rompimento com as formas de conhecimento baseadas nas revelações divinas, típicas do período da Idade Média, dos séculos XI a XV depois de Cristo. A viagem realizada por Alexandre Rodrigues Ferreira ao Vale Amazônico, entre os anos de 1783 e 1792, foi a maior empreendida pelo reino português à América durante todo o período colonial. O naturalista e seus ajudantes percorreram aproximadamente 39 mil quilômetros da região, que, na época, era dividida entre as capitanias do Grão-Pará e Maranhão, do Rio Negro e parte do Mato Grosso. Essas capitanias formavam o que são, hoje, os sete Estados da Região Norte e mais a porção oeste do Estado do Maranhão e norte do Mato Grosso.

Expedição seguiu manual de viagem feito pela Coroa A expedição foi ordenada por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, e tinha como principais objetivos verificar a ocupação das áreas de fronteira entre os territórios portugueses e espanhóis, além de sugerir alternativas para o aumento da produtividade da colônia portuguesa. "A expedição do Alexandre Rodrigues Ferreira buscou dar conta destes dois objetivos: exercer o controle sobre o território e verificar como a produção colonial poderia ser intensificada. Alexandre Rodrigues Ferreira veio verificar todos os estabelecimentos portugueses nessa

região, se as políticas implementadas desde 1750 deram os frutos esperados, qual a situação dessas políticas, além de produzir mapas dessa região para a delimitação desses territórios, especialmente, em algumas regiões, como as que hoje são o Amapá e o Rio Branco", explica Mauro Cezar Coelho. Além desses objetivos mais práticos, a expedição também era uma maneira de buscar a equiparação entre Portugal e outros impérios europeus, como a França, a Alemanha e a Inglaterra, com relação à produção de conhecimento e ao trabalho. De acordo com o profes-

sor, o império lusitano vivia certo atraso por causa do grande apego às tradições e à supervalorização do ócio. "Portugal não se encontrava, àquela altura, na vanguarda daquele pensamento que se convencionou chamar de 'Moderno', então, o objetivo da expedição era, também, fomentar o apego ao trabalho. Vários pensadores portugueses criticavam a sociedade lusa daquele momento, em função da compreensão corrente de que as atividades produtivas não constituíam uma ocupação nobre. As considerações de Alexandre Ferreira tentavam reverter essa compreensão

na colônia", afirma. De acordo com o professor, esse objetivo também era ambíguo, uma vez que a tentativa de impulsionar o pensamento "Moderno" e de fomentar o apego ao trabalho não poderia colocar em risco a ordem social. Por isso Alexandre Rodrigues Ferreira foi monitorado durante toda a sua viagem. Esse monitoramento existia, inclusive, na elaboração de um manual de viagem, feito pela Coroa Portuguesa, o qual indicava, passo a passo, como Alexandre e seus assessores deveriam agir durante toda a expedição.

Acervo disponível no Brasil

Denúncias de exploração

Durante os nove anos de viagem, Alexandre Rodrigues Ferreira coletou amostras de espécies vegetais e animais (vivos e empalhados), indumentárias indígenas, utensílios, além de ter produzido inúmeros textos, cartas e relatórios que davam conta dos costumes da população que vivia na região, das dinâmicas sociais e dos processos observados nas capitanias. Em 1838, o governo brasileiro comprou de Portugal os manuscritos da viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira, mas estes se perderam ao chegar ao País. Hoje, a Biblioteca Nacional do Brasil conseguiu reunir grande parte desse acervo e as matrizes das pranchas de desenho que foram feitas mostrando fauna, flora, paisagens, instalações portuguesas e populações indígenas do Vale Amazônico. De acordo com o professor Mauro Cezar Coelho, a expedição

O próprio título da expedição - Viagem Filosófica - também remete à conceituação Iluminista de filosofia, que, em contraste com o conhecimento revelado divinamente, estava baseado na observação e experimentação dos objetos de estudo. "O filósofo era aquele que agia e pensava. Todo o conhecimento estava remetido à filosofia, porque tinha por objetivo a busca da verdade", diz Mauro Coelho. A viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira para as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá trouxe várias contribuições para o conhecimento histórico que se tem da Amazônia. De acordo com o professor, uma dessas contribuições é a formulação de um panorama amplo da sociedade colonial da região no século XVIII e a desmitificação da imagem dos indígenas, "ele ajuda a desconstruir os mitos de

de Alexandre Rodrigues Ferreira é uma demonstração do modo como a produção de conhecimento era vista na vanguarda do movimento Iluminista, por exemplo, na maneira como o naturalista via a relação dos indígenas da Amazônia com a natureza, a qual era exposta em seus manuscritos. "Para eles, o que diferenciava indígenas e europeus era o grau de civilização. A distância que os separava poderia ser vencida pelo trabalho e pela educação. Para Alexandre Rodrigues Ferreira, as populações indígenas estavam no que ele chamava de 'infância da civilização', por isso elas viviam na dependência da natureza, o que era um problema, pois a dependência não estimulava a criatividade, não encaminhava a produtividade. Essa dependência deveria ser revertida. Segundo ele, aquelas populações deveriam dominar a natureza", explica o professor.

uma sociedade colonial em que as populações não tinham voz. Além disso, ele nos mostra que alguns processos, como a exploração irresponsável da natureza, são, na verdade, bastante antigos. Alexandre Rodrigues Ferreira, já no século XVIII, enviou cartas a Portugal denunciando: a derrubada de árvores além da medida, a extinção de animais e de gêneros vegetais. Este é um testemunho importante sobre como essa região vem sendo explorada." Serviço: - O livro A Epistemologia de uma viagem foi lançado na UFPA em maio deste ano. Para adquirir a obra, acesse o site da editora www. livrariadafisica.com.br - Para conhecer o acervo da Viagem Filosófica, acesse http://bndigital.bn.br/projetos/alexandre/

Biografia permite análise do cenário político e cultural paraense Caroline Soares

A

os seis anos, já tinha iniciado seus estudos de piano. Cresceu em meio a recitais, saraus e apresentações musicais realizados pelos membros da própria família. Não demorou muito para que Lenita, como é chamada carinhosamente, se tornasse Helena Maia, premiada pianista e responsável pela formação de vários músicos em Belém. Sua trajetória, que se confunde com a história da música paraense, é narrada no livro Ode a uma nobre pianista, escrito pelas professoras Líliam Barros e Gilda Maia, da Escola de Música da UFPA (EMUFPA), e editado pela Paka-Tatu. A ideia de escrever uma biografia surgiu a partir de um recital organizado em homenagem à Helena Maia. "O professor Silvério, um grande amigo de Lenita, disse que seria interessante se, além do recital, fosse dado a ela, em nome de todos ali presentes, algo que ela pudesse se recordar para sempre", lembra Gilda Maia, que também é filha da pianista. O professor Celson Gomes, atualmente diretor do Instituto de Ciências da Arte (ICA) e, na época, diretor da EMUFPA, entusiasmou-se com a ideia e sugeriu a elaboração de um livro a partir de depoimentos, fotos e uma pequena biografia

Karol Khaled

E

m 1500, o português Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil. Antes, em 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa Espanhola, descobriu, na América do Norte, o território que hoje conhecemos como os Estados Unidos da América. O período é conhecido como o das Grandes Navegações. Essas viagens de navio, empreendidas pelas grandes potências do Velho Mundo, Portugal e Espanha, principalmente, eram bastante comuns à época. Os destinos dependiam dos objetivos: partiam rumo às Índias, centro comercial do período, para fazer comércio. Iam aos territórios recém-descobertos para demarcálos e ampliar os mercados. É nesse contexto que acontece a viagem do naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, foco central do livro A

Karol Khaled

Obra analisa produção de conhecimento no século XVIII

Dilermando Gadelha

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Como professora, Helena Maia trouxe novas práticas pedagógicas para o ensino de Música na UFPA contando os principais momentos da vida da pianista. A produção do livro foi iniciada em 2003, quando Gilda Maia apresentou a proposta para a professora Líliam Barros, ex-aluna de Helena. Foram três dias de entrevistas, mais pesquisas em jornais, em documentos e no acervo pessoal

da família. Certificados, currículos antigos e até partituras dos irmãos Nobre, tios-avós de Helena, foram organizados na montagem "de um verdadeiro quebra--cabeças", como define Gilda Maia. As 144 páginas do livro estão divididas em cinco capítulos. Segundo Líliam Barros, o objetivo

foi retratar três aspectos de Helena Maia: o aprendizado, a docência e a atividade camerística. O primeiro capítulo, A nobre Lenita, fala do contexto sociocultural e político em que viveu a família de Helena. No capítulo seguinte, Lenita em recital, é tratada a relação da pianista com o instrumento.

Obra traz depoimentos de alunos, amigos e familiares Na sequência, Tocar em conjunto: um ato de doação aborda a experiência de Helena Maia com a música de câmara, que são as apresentações de um grupo pequeno, com, no máximo, oito instrumentos. O capítulo Orquestra Juvenil do SAM destaca a sua participação na criação da orquestra. E, por último, Lenita entre nós, que traz reflexões teóricas sobre o indivíduo e a música a partir da biografia da pianista paraense. O livro traz depoimentos de ex-alunos, amigos e familiares de Helena Maia e uma "memória mu-

sical", composta por mais de 20 partituras coletadas durante a pesquisa. "Tivemos a intenção de deixar bem claro que se tratava de uma homenagem à professora Helena Maia, por isso usamos a palavra 'ode' no título do livro.", ressalta Líliam Barros. De acordo com Liliam Barros, a homenagem também é importante para o estudo da Música, "pois apresenta a formação artística de uma pianista proeminente de nossa região, bem como um panorama do seu contexto formador, contribuindo para a construção da história da mú-

sica do Pará", afirma. O "nobre" no título da obra não se refere somente à relevância da pianista, mas também à família Nobre, berço em que nasceu Helena Maia. As autoras iniciam a biografia contando a história dessa família, que marcou o contexto musical de Belém, do final do século XIX até os dias atuais. A família Nobre deu uma grande contribuição para a música durante o esplendor artístico que a cidade viveu no final do século XIX e no início do século XX. Em Ode

a uma nobre pianista, as autoras voltam mais de 100 anos no tempo e remontam a história de cinco gerações de músicos na família de Helena Maia. Sobretudo, a vida dos irmãos Nobre: Ulysses e Helena Nobre, tios-avós da pianista. Por serem portadores de hanseníase, a dupla de músicos passava a maior parte do tempo em sua casa, um casarão na Avenida Campos Sales, na capital paraense. A música dos irmãos era difundida pelo rádio desde as primeiras transmissões desse veículo na cidade.

Prestígio político garantia acesso ao Theatro da Paz A biografia de Helena Maia foi ponto de partida para uma análise do cenário cultural e político de Belém. As investigações documentais também ajudaram a esclarecer fatos da vida da musicista e das políticas culturais do Estado. Um exemplo é o acesso que a pianista tinha ao Theatro da Paz, o que, de acordo com o estudo das professoras, contribuiu para o perfil concertista de Helena Maia e também estava relacionado ao prestígio político que a família Nobre tinha com o governo de Magalhães Barata. Outro traço abordado no livro é o gosto da pianista pela

música de câmara. No início dos anos 80, Helena Maia formou um trio camerístico intitulado Trio da UFPA, composto por Luis Cuevas, na flauta, e por Fiorela Sollares, no violoncelo. A fotografia de uma das apresentações do grupo é, inclusive, a capa do livro. Apesar dessa experiência, de acordo com as professoras, "foi ainda no ambiente familiar que Helena Maia iniciou sua prática camerística, inicialmente, de forma espontânea, depois, como acompanhadora oficial dos tios Helena e Ulysses Nobre." A música de câmara tornou-se o centro do ensino musical na Escola de Música da UFPA

(EMUFPA), chamada, à época, de Serviço de Atividades Musicais (SAM), onde Helena Maia atuou ministrando aulas e fundou a Orquestra Juvenil do SAM. As professoras destacam a contribuição de Helena Maia para o ensino de Música na UFPA, no qual a musicista aplicou novas práticas pedagógicas a partir do contato com educadores de outros Estados. Em meados de 1970, durante o Primeiro Encontro de Artes do Pará, a Orquestra Juvenil do SAM realizou sua primeira apresentação. "Este primeiro concerto ficou marcado na história da Música do Pará, tanto pela apresentação da

nova orquestra de alunos, quanto pelo estabelecimento de algo que viria a se tornar um tradicional encontro que reúne artistas paraenses", evidencia Gilda Maia. Serviço: Ode a uma nobre pianista ficará disponível nas bibliotecas Central da UFPA, da EMUFPA, do Programa de Pós-Graduação em Artes, do Instituto Estadual Carlos Gomes e da Universidade do Estado do Pará. O livro pode ser adquirido na livraria da Editora Paka-Tatu, no valor de R$ 30 reais. Para conferir mais informações, partituras e fotos, acesse www.odeaumanobrepianista.com.br.


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