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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011

Fotos Alexandre Moraes

Entrevista 25 Anos JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 95 • Junho/Julho, 2011

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“O abandono é sintoma de doença social”

s funções anti-inflamatórias, antibióticas e cicatrizantes da andiroba e da copaíba são conhecidas dos povos amazônicos há muitos anos. Agora, o mercado de dermocosméticos também está apostando nas potencialidades fitoterápicas das oleaginosas. Para garantir a qualidade desses produtos, o Ministério da Saúde encomendou o Projeto Fitodermo, desenvolvido, em parceria, pela Universidade do Amazonas e pela Universidade Federal do Pará. Na UFPA, o professor Alberto Cardoso Arruda, da Faculdade de Química, é quem coordena a pesquisa. As análises irão garantir às empresas regionais a certificação dos produtos e de suas cadeias produtivas. Pág. 6

Karol Khaled

UFPA certifica dermocosméticos

Pesquisa em abrigos revela que pobreza é elemento sempre presente

Amadurecimento

Beira do Rio – É possível traçar um perfil das crianças que encontramos nos abrigos? Isso muda de acordo com a região geográfica? Débora Dellaglio – Existem as variações que estão relacionadas com a população de cada Estado. Mas, em 2004, foi realizado um levantamento nacional com 20 mil crianças abrigadas em todo o país. Em mais de 500 abrigos, a maioria das crianças é de classe socioeconômica desfavorecida – ou seja, a pobreza é um elemento muito presente –, tem entre sete e 12 anos, é negra e do sexo masculino. Beira do Rio – Passar por um abrigo deve ser uma experiência marcante. O que pode ser feito para que diminuam as consequências do sofrimento? D.D. – Muitas variáveis estão em jogo. Uma delas é o tempo de permanência que precisaria ser reduzido. Algumas pesquisas indicam que, atualmente, o tempo médio dessas crianças no abrigo são seis anos. Isso está completamente inadequado, a Lei 12.010/2009 diz que o tempo máximo deveriam ser dois anos. O fato de termos uma nova lei que

Beira do Rio – Garantir os vínculos familiares durante o abrigamento é um direito. Que estratégias são utilizadas para que isso ocorra? D.D. – Depende de cada caso. A nova Lei, inclusive, prevê que seja feita uma avaliação da criança a cada seis meses. Mas é preciso lembrar que – independente de qualquer situação – a criança vai querer ter contato com os pais. Em casos excepcionais, quando os pais representam perigo, isso precisa ser evitado. Mas essa criança tem irmãos, primos, tios, avós, então, pode e deve manter contato com esses familiares. A Lei diz que a criança deve ser levada para uma instituição de acolhimento que seja o mais perto possível de onde residem seus familiares, pois isso facilitaria as visitas. Essa “ideia” de família não pode ser apagada, pois é ela quem garante a identidade da criança. Beira do Rio – Para respeitar o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente, os programas de acolhimento institucional devem ter equipe multiprofissional. Como isso tem sido feito atualmente? D.D. – Existe uma variação muito grande entre regiões, cidades e dentro das próprias cidades. Por exemplo, em Porto Alegre, cidade onde eu moro e conheço melhor a realidade, temos instituições de

acolhimento mantidas pelo governo do Estado, pela Prefeitura e por organizações não governamentais conveniadas com a Prefeitura. As instituições governamentais, em geral, têm equipe composta por pedagogo, professor de Educação Física, psicólogo, assistente social, enfermeira e médico. As ONGs, que, muitas vezes, dependem de doações, têm muito mais dificuldade para contratar esses profissionais. Há uma necessidade de que os governos – estaduais e municipais – garantam um número de instituições suficiente para atender essas crianças, com as condições e a equipe adequadas. Beira do Rio – Família, sociedade e Estado têm responsabilidade mútua. É possível dizer que, em alguns casos, os três falham? D.D. – Sem dúvida. Não deveria haver crianças sem assistência e sem cuidado. Isso é um sintoma de uma doença social. Mas vamos analisar as causas que levam as crianças para essa situação: em geral, são dificuldades que a família enfrenta por desemprego, envolvimento com drogas ou álcool. Há um problema social, econômico e político. Uma coisa é como deveria ser e a outra é o que se consegue fazer. Beira do Rio – Podemos considerar o PROCAD como uma alternativa para diminuir as desigualdades entre os programas de pós-graduação no País? Quais são os resultados dessa parceria entre UFPA E UFRGS? D.D. – Existe um esforço do governo para o desenvolvimento da pesquisa científica e da educação, principalmente, nas Regiões Norte e Nordeste, onde há menor concentração de doutores. Por exemplo, essas regiões estão recebendo mais bolsas de pós-graduação e as parcerias entre as universidades estão sendo incentivadas como forma de suprir esses locais com o que ainda está faltando. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, temos recebido alunos daqui para o Programa de Mestrado e Doutorado Sanduíche. Essa experiência promove uma troca muito rica – professores e alunos experimentam novos olhares, novos horizontes –, além de desenvolver um senso critico ao perceber como as coisas são feitas de outras formas em outro lugar. O benefício é para todos os envolvidos.

Facom comemora 35 anos

Laboratório vai certificar produtos que a Chama D'Amazônia pretende lançar com potencial anti-inflamatório

Casamento

Eventos planejados por professores e alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda devem acontecer ao longo do ano. Pág. 7

Graduação

Auxílio garante conclusão de cursos Pág. 9

Implante coclear

Pesquisa analisa regras para escolha do cônjuge Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFPA investigou como acon-

tecem os casamentos na atualidade. Surpreendentemente, famílias ainda influenciam as escolhas. Pág. 3

Alexandre Moraes

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professora Débora Dellaglio, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, esteve na Universidade Federal do Pará a convite do Programa de Pós-Graduação em Teoria do Comportamento, ministrando o curso “O acolhimento institucional de crianças e adolescentes no Brasil: avanços e desafios”. A atividade faz parte do intercâmbio entre as duas universidades, promovido pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD/Capes). Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, a professora falou sobre os desafios provocados pela Lei Nacional de Adoção (12.010/2009), que propõe, por exemplo, a diminuição do tempo que crianças e adolescentes devem permanecer nas instituições de acolhimento. “Algumas pesquisas indicam que, em média, as crianças permanecem seis anos no abrigo. A sociedade e as instâncias governamentais precisarão efetivar ações que diminuam esse tempo de permanência”, avalia Débora Dellaglio.

determina um prazo, de alguma forma, traz consequências. A sociedade e as instâncias governamentais precisarão efetivar ações que diminuam o tempo de permanência. Além disso, a instituição de acolhimento deve ter características próximas às de uma família: ser constituída em pequenas unidades, manter os grupos de irmãos juntos, garantir os contatos com os familiares e com a comunidade. Os funcionários precisam ser capacitados para realizar um trabalho adequado. Vale lembrar que grande parte das consequências psicológicas no desenvolvimento dessa criança não está relacionada ao abrigo, mas às situações de violências vividas antes de ser acolhida: maus tratos, abandono, negligência e a própria ruptura dos vínculos familiares. Quem causa o trauma não é o abrigo, ele já recebe essas crianças em situações desfavoráveis: problemas com drogas, álcool e violência doméstica. São eles que geram as consequências negativas.

Pacientes recebem apoio psicológico Programa do Hospital Universitário Bettina Ferro ajuda pacientes a enfrentar dificuldades antes e após cirurgia. Pág. 4

Saúde

Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

UFPA no combate ao crack Estabilidade financeira é requisito para levar planos de casamento adiante

Entrevista

Taxa Zero: refeições gratuitas no RU

Débora Dellaglio discute os desafios do acolhimento institucional no Brasil. Pág. 12

Opinião As professoras Rosa Acevedo e Joseline Trindade apresentam o Projeto Nova Cartografia Social. Pág. 2

Universidade é parceira no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e a Outras Drogas lançado pelo governo federal. Pág. 5

Coluna da Reitoria O pró-reitor Cauby de Almeida Junior fala sobre a nova política de atenção à saúde do servirdor. Pág. 2


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011 –

Folguedos kkk

Coluna da REITORIA João Cauby de Almeida Junior

jcauby@ufpa.br

A nova política de atenção à saúde do servidor público federal

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delimitação do problema que uma política pública visa a enfrentar e os papéis a serem desempenhados por instituições/ regras e atores na produção ou na implementação dessa política são importantes questões sobre as quais o gestor público deve se debruçar, na condição de agente desse processo político-administrativo. Em matéria de políticas públicas, o servidor público federal, há muito tempo, ressentia-se, e, em parte, ainda se ressente, de uma política de promoção à saúde e de prevenção de agravos colocada à sua disposição pelos órgãos e entidades em que atua. E no momento da adoção de uma política pública relativa ao ambiente laboral, não se pode perder de vista o elemento humano, que deve estar sempre no centro de qualquer preocupação sobre o mundo do trabalho. Na esteira desse entendimento, interessante e alentadora proposta surge com a nova política de aten-

ção à saúde do servidor, em fase de implementação no serviço público federal, a qual tem como diretrizes a democratização das relações de trabalho, a gestão partilhada de recursos organizacionais e orçamentários entre as instituições e os órgãos parceiros e o diálogo negocial com os atores e agentes que intervenham na sua implementação. Essa política fundamenta-se na abordagem biopsicossocial, em informações epidemiológicas, no conhecimento transdisciplinar, no trabalho em equipe multidisciplinar e na avaliação dos ambientes e das relações de trabalho em que o servidor está inserido. Um dos marcos reguladores dessa política é o Decreto nº 6833/2009, que instituiu, no âmbito do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal – SIASS, o qual objetiva coordenar e integrar ações e programas nas áreas

OPINIÃO

Rosa Acevedo e Joseline Trindade

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de assistência à saúde, perícia oficial, promoção, prevenção e acompanhamento da saúde dos servidores da administração federal direta, autárquica e fundacional. Diante dessa inovadora proposta, a Universidade Federal do Pará integrou-se ao SIASS, implantando, em julho de 2010, sua primeira unidade na Amazônia, o que lhe garantiu a capacitação de seus profissionais e a possibilidade de utilizar um sistema de informações que permite a integração de informações e ações em promoção e assistência à saúde, perícia médica e avaliação dos ambientes e dos processos de trabalho. As informações epidemiológicas geradas a partir desse sistema permitem à Universidade formular programas e projetos direcionados para atender às efetivas necessidades dos seus servidores e, ainda, acelerar as parcerias com instituições públicas para potencializar recursos e ações de saúde e qualidade de vida.

Parte-se da premissa de que a abordagem em gestão de pessoas deve ser sistêmica, daí porque não se pode conceber um programa de desenvolvimento de pessoas sem levar em conta os fatores que influenciam a qualidade de vida e a produtividade delas, como os agravos em saúde; nem se pode estabelecer uma política de valorização de servidores sem importar-se com o bem-estar biopsicossocial. Nessa direção, a Universidade busca conjugar sua política de pessoal com as novas diretrizes da política de atenção à saúde do servidor, de modo a promover programas e ações integrados e direcionados para a valorização e o desenvolvimento de seus servidores, na perspectiva do desenvolvimento institucional e do aprimoramento dos serviços prestados ao cidadão e à sociedade. João Cauby de Almeida Junior, pró-reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal

joseline@ufpa.br e ream30@hotmail.com

Novos mapas de povos e comunidades tradicionais na Amazônia

arrativas de diversos agentes sociais - indígenas, quilombolas, pescadores, quebradeiras de coco babaçu, ribeirinhos, afroreligiosos, artesãos - e suas territorialidades específicas são representadas em croquis e essas imagens, produzidas em oficinas, acompanhadas em trabalho de campo pelos próprios agentes e pesquisadores, possibilitam a construção de mapas que expressam e canalizam direitos territoriais, objetivo central do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA. O que é o mapeamento social e como contribui para as reivindicações territoriais de povos e comunidades tradicionais na Amazônia? Por que se fala do poder de mapear e a quem serve? A cartografia oficial propõe representações homogêneas e limitadas do território, em conformidade com seus critérios e interesses. Geralmente, nela omitem-se os conflitos, negligenciam-se as formas coletivas de existência social, oculta-se ou modifica-se o sentido das disputas de direitos territoriais. Assim, o poder de mapear significa a apropriação e o uso social, por parte de povos e comunidades tradicionais, de técnicas e conhecimento cartográficos, a elaboração de estratégias de capacitação, a definição de projetos de uso e manejo dos recursos com base nas cartografias, a luta para garantir direitos de permanência e de usufruto dos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

territórios de pertencimento. Esta união de técnicas convencionais da cartografia com os saberes tradicionais resulta na nova cartografia social, que divulga as reivindicações e as demandas por meio dos mapas situacionais. As oficinas constituem o lugar privilegiado de produção do material da pesquisa que é lançado em atos realizados em espaço público e encaminhado para as diversas esferas do judiciário, legislativo, executivo e também para a imprensa. Desde 2005, desenvolve-se o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA, que se constitui como uma rede de pesquisadores e movimentos sociais que articulam e organizam as atividades do mapeamento social de diversas identidades coletivas que visualizam, por meio de relações de pesquisa, a concretização de atividades cujos produtos são: fascículos, boletins, mapas – síntese, vídeos, livros de bolsos, cadernos de pesquisa, além de seminários, simpósios e encontros. As atividades de mapeamento foram solicitadas pelos pescadores e extrativistas ao PNCSA, com o objetivo de situar o conflito socioambiental que os atinge e demandar a intervenção do governo do Estado do Pará e do município de Belém para um problema socioambiental que se agrava pelo abandono das famílias que organizam sua vida nas ilhas ao sul de

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Belém (Combu, Jussara, Maracujá, dos Papagaios e dos Patos). O Projeto Nova Cartografia Social lançou o Fascículo 29, com o título “Pescadores e Extrativistas das Ilhas ao Sul de Belém”, em 2010, para contribuir com as mobilizações deste grupo. Em fevereiro, foi divulgado o Boletim Informativo Nº 4, sobre a luta dos povos tradicionais que serão atingidos pelo Projeto de Aproveitamento Hidrelétrico de Marabá (AHE Marabá). O povo Gavião e os moradores das ilhas têm em comum as suas lutas para impedir que os territórios de pertencimento sejam destruídos, a busca por respeito aos direitos consagrados na Constituição Federal de 1988 e em convenções internacionais assinadas pelo governo brasileiro. Segundo a Eletronorte, a construção da Hidrelétrica de Marabá atingirá mais de 10 mil famílias, cerca de 40 mil pessoas, que vivem em 12 municípios dos Estados do Pará, Tocantins e Maranhão. A construção da Hidrelétrica invade a vida dos assentados, indígenas, pescadores, ribeirinhos, moradores dos bairros da cidade e interfere nela produzindo um espaço de relações específicas com cada uma dessas categorias, e a finalidade do Boletim Informativo Nº 4 foi divulgar e ampliar o conhecimento sobre esse Projeto que desconsidera os direitos de assentados, quebradeiras e

indígenas. Entre maio e setembro, realizaram-se atividades de pesquisa em Marabá, com a participação de representantes de instituições públicas, associações e movimentos sociais. Oficinas foram realizadas no assentamento PA Araras, na Vila de Apinajés, na aldeia dos Gaviões, e reuniões com Quebradeiras de Coco Babaçu de São Domingos do Araguaia e Palestina do Pará. No 4º Boletim Informativo do PNCSA, os povos tradicionais relatam suas preocupações e a decisão de lutar para permanecer em seus territórios. O Fascículo sobre os Indígenas Guarani, no sudeste do Pará, encontrase no prelo, assim como foi iniciado o trabalho com as quebradeiras de coco babaçu de São Domingos do Araguaia e Palestina do Pará. O poder de mapear sugere as inúmeras possibilidades de apropriação cartográfica de movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais para produzir leituras sobre direitos territoriais e étnicos. Os boletins informativos, fascículos, livros e artigos produzidos podem ser lidos no site do Projeto Nova Cartografia Social. (www.novacartografiasocial.com). Rosa Acevedo e Joseline Trindade são pesquisadoras do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) e professoras da Universidade Federal do Pará.

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Dilermando Gadelha/ Ericka Pinto (1.266-DRT/PA)/ Flávio Meireles/ Igor de Souza/ Jéssica Souza(1.807-DRT/ PA)/ Paulo Henrique Gadelha/ Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/ Vito Ramon Gemaque/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/ Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Diogo Adriel; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Antônio, João e Pedro anunciam a alegria Santos do mês de junho fazem a marcação de quadrilhas e pássaros

Jane Felipe Beltrão

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fogueira tá queimando, em homenagem a São João, o forró já começou, vamos, gente, rapapé neste salão ... assim João fogueteiro chamava a criançada para iniciar as festanças juninas, ao som de Gonzagão. Belém era diferente ... pense numa cidade dos anos 60 do século passado, poucas eram as ruas calçadas, portanto, muitas eram as fogueiras que ardiam em homenagem a Antônio, que abria as festas de 12 para 13 de junho. O arraial era grande, afinal, os namorados, os casados e, sobretudo, os casadoiros se comprometiam em festas e promessas para conseguir parceiros ou conservar almas gêmeas. O "pobre" Antônio podia ficar dias amarrado, às vezes, de rosto para a parede até que o promesseiro alcançasse o milagre, o qual podia ser impossível. As soleiras das casas se iluminavam, cadeiras em roda para permitir conforto aos mais velhos e aos convidados, a criançada em polvorosa a "soltar foguetinhos" (estalinhos e fósforos coloridos eram permitidos), rojões e pistolas ficavam por conta do fogueteiro. Risos por todo lado, baião, xote, forró e a famosa quadrilha completavam os ruidosos festejos. Marcada por Gonzagão e "sua gente", permitia dança Joaquim com Isabé, Luiz com Iaiá, dança Janjão com Raqué e eu com Sinhá, traz a cachaça, Mané, eu quero vê, quero vê páia [palha] voar. O sotaque evitando os "erres" e acentuados lembrando o francês (aquele que se diz ser de Cametá, como anunciam os marcadores, ainda hoje), fazia parte da tradição. Desde maio, a moçada se preparava, comprava tecidos especiais, em florão de chita ou em xadrez de quadrilha. As saias eram rodadas e às vestes se costuravam, em retalhos, os supostos remendos às roupas recém-confeccionadas. Os cavalheiros tinham as barras das calças suspensas e muitos retalhos, em bandeirinhas – tal qual os enfeites em papel de seda, espalhados em cordel pelo salão – eram cuidadosamente costuradas às calças que se completavam com camisas de xadrez. As vestes facilitavam a inversão de papéis, homens vestindo saia e mulheres em calças, era farra bem marcada pelos diversos "Joãos" que se esmeravam em anunciar os passos da dança, sempre solicitando o belo balancê, afinal, o show era ver as saias rodando. Para além das danças, muita comida! Mingau de milho, canjica, pamonha, aluá, bolo de macaxeira e de tapioca, paçoca de gergelim, cocadas para os que gostam de adoçar a boca; para os que gostam de salgados, vatapá, caruru, tacacá e, como festa precisa ser quente, cachaça de Abaté de dois em dois dedos, fazendo a alegria de todos. Passou Antônio, chega João, de 23 para 24 de junho, santo que, na hierarquia da Igreja, é primaz, tanto que as festas eram joaninas e transformaram-se em juninas. Na sequência, Pedro, de 28 para 29 de junho, e, finalmente, de 29 para 30 de junho, encerrando o ciclo, chega São Marçal. As fogueiras de encerramento eram feitas com paneiros e daí, só no ano seguinte. Mas, nem só de quadrilhas se fazia a tradição, os pássaros eram/são o forte do Pará! De nomes engraçados, os grupos de pássaros percorriam a rua em busca de alguém que pagasse a comédia e oferecesse dois dedos da branquinha de Abaeté e de Igarapé-Miri, na melhor tradição de esmolar dos santos da Igreja Católica. Eram solicitados de junho ao final julho, para animar as férias da criançada e dar descanso aos adultos, pelo menos enquanto o pássaro contava a história do vaqueiro, marido da mulher desejosa, que tantos problemas causou. A confusão era tamanha, a ponto de ter que chamar o pajé para ressuscitar o boi que per-

Fotos Karol Khaled

Mácio Ferreira

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deu a língua (desejada pela mulher do vaqueiro) e era requerido vivo pelo dono. O momento era mágico, afinal, roceiros e índios se juntavam solidariamente para enfrentar o patrão. Hoje, o espetáculo das quadrilhas mudou, mas parece recuperar a longínqua tradição francesa, os passos são rigorosamente coreografados e as vestes rigorosamente iguais, os ensaios começam cedo, afinal, quadrilha que se preza só tem gente que brilha e traz troféu, Viva São João! São Pedro e São Marçal, Santo Antônio, que é o santo casamenteiro, quebra o galho pra eu casar! Os pássaros lutam por manter a tradição e por se fazer presentes nos concursos, mas as fogueiras não mais ardem, a não ser no coração das crianças de ontem. Hoje, a madeira é enfeite e o fogo se faz de brincadeira, assim como as quermesses que faziam a festa da criançada nas escolas, com casamentos na roça e muitas misses caipiras. As disputas pela festa mais bonita eram acirradas. Muitas escolas construíram espaços

de lazer, como quadras de esporte, e compraram fanfarras, que tocavam alegremente por ocasião das festas da Semana da Pátria, com a arrecadação das festas em homenagem aos santos de junho. Os estudantes vendiam os tijolos em cartelas de bingos e sorteio, até mesmo leilões que se realizavam em meio ao ruído dos rojões dentro de uma tradição que se mantém. Hoje, fogueiras e balões – outra bela tradição junina – não são politicamente corretas e, na cidade, não há espaços adequados para queima de fogueiras, mesmo que a madeira fosse fruto de reflorestamento. Assim, vá ao Jurunas, à Cremação, à Condor e a tantos outros bairros, veja os ensaios e as apresentações de quadrilhas e pássaros, e brilhe com os grupos fazendo a festa, junte-se aos fogueteiros de plantão e cante os versos em louvor a São João! Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA e pesquisadora do CNPq.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011 –

Cultura

Cidadania

ProJovem Urbano cria oportunidades

Casamento não saiu de moda

Dissertação analisa regras e estratégias para escolha do cônjuge Paulo Henrique Gadelha

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Para participar, o candidato deve ter entre 18 e 29 anos e não ter concluído o ensino fundamental

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o Brasil, muitos jovens são obrigados a abandonar a escola antes de concluírem o ensino fundamental. As motivações vão desde a necessidade de trabalhar e contribuir com a renda familiar até o envolvimento em episódios de violência. Para mudar essa situação, a Universidade Federal do Pará (UFPA) é parceira, desde 2005, do ProJovem Urbano. O Projeto visa incluir, socialmente, jovens com ensino fundamental incompleto, na faixa etária dos 18 aos 29 anos, dando-lhes a oportunidade de concluir os estudos e aprender um ofício. O ProJovem Urbano é uma das modalidades do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, o qual conta, ainda,

com as modalidades ProJovem Adolescente, ProJovem Campo e ProJovem Trabalhador. O Projeto é desenvolvido na parceria entre o governo federal, os Estados, os municípios e as universidades. Com duração de 18 meses, o Programa oferece a certificação do ensino fundamental, o treinamento em informática, a qualificação profissional inicial e as atividades de participação cidadã. Aos jovens que cumprem determinados requisitos de frequência e elaboração de trabalhos, é concedido um auxílio financeiro no valor de R$100,00. Eixos estruturantes – O Programa foi concebido para atender às necessidades dos jovens que querem voltar a estudar, mas encontram dificuldades. Essa particularidade levou a equipe

responsável a propor uma nova maneira de ensinar. O currículo do ProJovem Urbano é constituído de seis eixos estruturantes que duram três meses cada. Todos os eixos relacionam juventude com outro tema, como cultura, cidade, trabalho, comunicação, tecnologia e cidadania. São realizadas atividades em sala de aula, visitas, pesquisas de campo, participação em palestras, práticas relacionadas ao campo de qualificação profissional e à participação cidadã, sob a supervisão de um educador. No Pará, existem 17 mil alunos participando do Programa, divididos entre quatro coordenações municipais – Belém, Marabá, Ananindeua e Santarém – e a coordenação estadual, que compreende 48 municípios do Estado. Além disso, o Programa atende 171 jo-

vens que estão, atualmente, presos nas penitenciárias estaduais localizadas nos municípios de Ananindeua, Marituba e Santa Izabel do Pará. Já a qualificação profissional no Pará oferece os cursos de Vestuário, Turismo, Marcenaria, Construção e Reparos 1 e 2, Metalmecânica, Serviços Pessoais, Telemática, Saúde e Administração. "O objetivo do Programa é proporcionar a inclusão social de jovens que estão às margens da sociedade. Assim, a formação escolar, a qualificação profissional e a participação cidadã em ações na comunidade são seus eixos fundamentais. São eles que garantem a ressocialização e o exercício da cidadania", afirma o coordenador do Sistema de Monitoramento e Avaliação (SMA Norte I), professor Aluísio Fernandes da Silva Júnior.

Avaliação e monitoramento

Prêmios reconhecem resultados

A Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), é a instituição responsável pelo monitoramento e avaliação do Programa. A coordenação do Sistema de Monitoramento e Avaliação (SMA Norte I) está localizada nas dependências da Escola de Aplicação da UFPA. "A avaliação é importante para que a Coordenação Nacional do ProJovem Urbano possa acompanhar o programa, avaliar e reavaliar as ações e fazer valer a responsabilidade que as coordenações municipais e os Estados assumem com o governo federal", afirma Aluísio Júnior. É a partir desse monitoramento que a Coordenação Nacional do ProJovem Urbano pode cobrar as ações pedagógicas e financeiras do Projeto e intervir.

A parceria entre a UFPA e o ProJovem tem dado resultados. Além de educar jovens para o mundo e capacitá-los para o trabalho, ela já gerou dois prêmios e homenagens à Universidade. No ano passado, a UFPA foi homenageada com o Prêmio Mérito ProJovem Urbano, pela Coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República. O Prêmio proporcionou o reconhecimento da contribuição que a Universidade tem prestado para a construção do Projeto. Ainda em 2010, a UFPA recebeu a Medalha Paulo Freire com o Projeto Saberes da Terra da Amazônia Paraense (ProJovem Campo), durante a II Semana de Educação de Jovens e Adultos, organizada pelo Ministério de Educação (MEC).

Para um melhor desenvolvimento das ações, o SMA Norte I é dividido em três Grupos de Trabalho (GTs): Avaliação Externa do aluno, Avaliação do Programa e Supervisão. Segundo o coordenador, a finalidade dos GTs é reunir informações e disponibilizá-las para a coordenação nacional. Esses dados poderão ser discutidos em reuniões nacionais, as quais contam com a participação de pesquisadores de diferentes universidades envolvidas no Programa. "A pesquisa desenvolvida dentro do GT de Avaliação do Programa, por exemplo, verificou que grande parte dos jovens matriculados não foi atraída apenas pelo auxílio financeiro, mas reconhecem o ProJovem como uma oportunidade", explica o coordenador.

O Projeto atende 1.226 estudantes em 19 municípios do Pará e une o saber tradicional das comunidades com o conhecimento das escolas. As premiações demonstram que a parceria tem gerado frutos e resultados positivos, tanto para os jovens e as comunidades atendidas quanto para a Universidade. Como participar? Para participar do ProJovem Urbano, é preciso ter 18 e 29 anos, saber ler e escrever – o que será verificado por meio de um teste de proficiência – e não ter concluído o ensino fundamental. Mais informações no site www. projovemurbano.gov.br ou na Central de Relacionamento do ProJovem Urbano 0800 722 7777.

casamento é um dos grandes símbolos culturais da humanidade. Ao longo dos períodos históricos, ele tornou-se intrínseco à cultura de diversas sociedades do mundo, ganhando valor e importância peculiares em cada lugar. A manifestação da temática é comum, por exemplo, em telenovelas, nas quais há a realização de casamentos no último capítulo, o que possivelmente revela, simbólica e tacitamente, que a união matrimonial é concebida como o ideal de felicidade a ser alcançado. Como ilustração desse paradigma, é possível citar o casamento do Príncipe William com a plebeia Kate Middleton, ocorrido no último dia 29 de abril, na Inglaterra. O evento, com elementos de "conto de fadas", foi transformado em um espetáculo midiático. Ao debruçar-se sobre o tema, o antropólogo Breno Rodrigo de Oliveira Alencar se propôs a observar, minuciosamente, o casamento nos tempos de hoje, tendo como referência espacial a cidade de Belém. A pesquisa resultou na Dissertação Entre a regra e as estratégias: uma abordagem antropológica do processo de escolha do cônjuge, orientada pela professora Carmem Izabel Rodrigues e defendida no Programa

Alexandre Moraes

Foto Alexandre Moraes/ Arte Rafaela André

No Pará, 17 mil alunos buscam qualificação profissional

Vito Ramon Gemaque

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Realidades econômicas, sociais e culturais diferentes justificam diversidade nos padrões de escolha de Pós-Graduação em Ciências Sociais, área de concentração em Antropologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O estudo de Breno Alencar é o desdobramento do seu Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC). Na ocasião, o pesquisador traçou o perfil de casais que contraíram matrimônio na transição do século XX para o XXI, nos bairros Guamá, São Brás, Pedreira e Cidade Velha, em Belém. "Já o mote da dissertação era analisar como se dão os casamentos

na atualidade. Que perfis de cônjuge são idealizados pelas pessoas e suas famílias para que elas façam as suas escolhas? O que motiva tais preferências? Fui buscar as respostas dentro do contexto de Belém", explica ao revelar o principal objetivo do trabalho.

Literatura e curso de noivos

Família interfere na escolha

Embora o mestrado tenha sido concluído em tempo hábil (dois anos), o pesquisador considera que seu estudo teve início na graduação, quando participou da Pesquisa "Casamento e famílias em uma capital amazônica: estrutura e valores (Belém, 19952005)", coordenada pela professora Cristina Donza Cancela. Na ocasião, foram analisados 2.376 registros de casamento, o que lhe forneceu um rico banco de dados. Em relação à metodologia utilizada, Breno Alencar realizou pesquisa bibliográfica, procurando referenciais teóricos que tratassem de questões relacionadas ao casamento. Neste sentido, ele teve acesso, sobretudo, a periódicos franceses e norte-americanos e procurou extrair dessas consultas dados e demais informações que pudessem estar ligados ao processo de escolha do cônjuge. Entre os referenciais teóricos pesquisados, o antropólogo utilizou em suas análises, notadamente, as ideias do sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre o casamento. O autor também buscou referências em obras literárias que ajudassem a explicar como surge o

De acordo com o pesquisador, a principal variável que determina a escolha do cônjuge, ao lado das características pessoais do parceiro, é a interferência familiar. "O individualismo alterou significativamente alguns paradigmas, como os casamentos arranjados e combinados por conveniências familiares. As mulheres passaram a ter mais autonomia no momento de fazer a sua escolha. Todavia muitos ainda recorrem à família no momento de tomar a decisão quanto ao futuro marido ou mulher, o que revela que as escolhas não são tão livres assim", avalia Breno Alencar. Para explicar a escolha, os noivos da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré dão explicações religiosas e misteriosas, como "porque Deus quis" e "porque o destino quis". Para o antropólogo, esse tipo de resposta é uma estratégia para escamotear as doses de interesse inseridas no processo. Desta forma, afastam-se as desconfianças de se estar casando para obter vantagens financeiras ou familiares. Em relação, ainda, à questão das limitações do individualismo no momento de escolher o cônjuge ideal,

individualismo, o que, segundo Breno Alencar, propicia a escolha do cônjuge. "A Literatura me serviu como referência de análise para entender o casamento na Modernidade, momento em que a ideia do individualismo passa a figurar mais claramente, por volta dos séculos XVIII e XIX. Essa característica sinaliza e legitima que, nos séculos subsequentes, sobretudo na Europa, as pessoas teriam mais liberdade para escolher o seu par. E dentro desse contexto analítico, a romancista inglesa Jane Austen foi o meu principal aporte teórico", explica Breno Alencar. A pesquisa de campo foi realizada na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, em visitas ao curso de noivos. O objetivo, segundo o antropólogo, era avaliar, entender e registrar a preparação para o casamento e, também, como se deu o processo que levou à escolha dos noivos. Neste sentido, para Breno Alencar, seria possível, talvez, estabelecer um parâmetro de certos padrões de seleção de marido ou esposa considerado ideal na capital paraense. Essa etapa de pesquisa foi realizada em duas interfaces: formulário e entrevistas.

Breno Alencar destaca que muitos entrevistados afirmaram que não casaram com os seus ex-namorados por influência direta da família. Essas respostas também foram encontradas, com frequência, nos questionários preenchidos. Outro discurso comum entre os noivos é considerar que a decisão do casamento aconteceu "na hora certa". Segundo o pesquisador, esse argumento oculta outros significados atribuídos ao casamento. "Quando eu perguntava aos casais por que eles não haviam casado antes, eles respondiam que um ou o outro, ou até mesmo os dois não tinham estabilidade financeira. Após a mudança de status social, muitos noivos acharam que era o momento de marcar a data do casamento. Neste sentido, percebe-se claramente que a noção de estabilidade, bem como a interferência familiar, que, muitas vezes, está relacionada a essa questão, são presentes e caracterizam a escolha do cônjuge. A utilização desses argumentos tem lógica, já que uma vida a dois requer planejamento e segurança", pondera Breno Alencar.

Belém não apresenta padrão de escolha único e definido Belém revela-se, então, como uma cidade que tem traços de determinados perfis e padrões de escolha. Porém, Breno Alencar ressalva que não há um padrão único e definido, pois, na capital paraense, convivem grupos sociais diferentes, que vivem em rea-

lidades econômicas, sociais e culturais diferentes. Por exemplo, os moradores dos bairros centrais e periféricos frequentam poucos lugares em comum, o que implica outras dinâmicas sociais e, consequentemente, outros processos de escolha do cônjuge.

Segundo o antropólogo, o casamento é uma prática social que não saiu de moda, tem o seu encanto, a despeito das mudanças ocasionadas pelo advento de um estilo de vida cada vez mais volátil. "O ethos moderno, que implica constantes transforma-

ções sociais vividas cotidianamente, reserva espaço para tradições como o casamento, que mantém o seu perfume. As pessoas casam acreditando que será para sempre ou, pelo menos, 'infinito enquanto durar'", conclui Breno Alencar.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011 –

Graduação

Implante coclear

E

xiste uma expressão na língua inglesa chamada "turning point" (ponto de viragem), usada para enaltecer um acontecimento importante na vida de uma pessoa, a qual passa a encarar a vida de outra maneira, com outras perspectivas. Na vida de Luciléia Silva dos Reis, dois "turning point" são evidentes. Um deles aconteceu aos seus 18 anos, quando, três dias após o nascimento de seu primeiro filho, perdeu a audição devido a uma infecção hospitalar. Desde então, nunca teve a oportunidade de ouvir a voz de seu primogênito. O segundo "turning point" de Luciléia dos Reis está diretamente ligado ao Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), com o seu Grupo de Implante Coclear, coordenado pelo professor José Cláudio Cordeiro. Decorridos 14 anos após a perda de sua audição, Luciléia dos Reis foi uma das primeiras pacientes do Grupo a submeter-se, em outubro de 2010, à cirurgia do implante coclear, caracterizada por implantar um dispositivo eletrônico no ouvido do paciente o qual capta os sons e transmite-os ao cérebro, por meio de eletrodos que estimulam o nervo auditivo. Até o mês de março, o HUBFS realizou oito cirurgias do implante coclear via encaminhamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), e dezenas de

Alexandre Moraes

Receios, contexto familiar e cuidados pós-cirurgia são temas discutidos

D

Cirurgia: pacientes são encaminhados pelo Sistema Único de Saúde e avaliados por equipe multidisciplinar pessoas estão sendo avaliadas pelo Grupo, composto por uma equipe multidisciplinar formada por otorrinos, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais. Mas submeter-se à cirurgia gera expectativas, dúvidas e medo nos pacientes. Por essa razão, a psicóloga

e professora da UFPA Maria Tereza Nassar elaborou o projeto "Acompanhamento Psicológico no Programa de Implante Coclear do HUBFS". O objetivo do Projeto é proceder com avaliações psicológicas individuais e em grupo, desde o momento

por estudantes bolsistas da Graduação em Psicologia da UFPA. A coordenadora do Projeto explica que nem todos os encaminhados ao HUBFS estão aptos a receber o implante coclear, considerado uma alternativa àqueles deficientes auditivos que não se adequaram às próteses auditivas convencionais. "Primeiramente, os pacientes precisam ter surdez profunda. Eles são avaliados por toda a equipe e, se apresentarem as condições do ponto de vista de cada

área médica que envolve a cirurgia, são eleitos candidatos a fazerem o implante. Geralmente, são pessoas que já estão surdas há dez, quinze, vinte anos, e o implante é uma mudança significativa na vida delas", explica Maria Tereza Nassar. Neste cenário, o apoio familiar é fundamental durante todo o processo. "Nós buscamos trabalhar com a família do paciente, analisando em que condições familiares esse paciente está inserido e conscientizando a

Dados devem gerar futuras pesquisas É importante ressaltar que a cirurgia do implante coclear não transforma o deficiente auditivo em um ouvinte da noite para o dia. Só após o período pós-operatório é que o aparelho é ativado, mas o paciente ainda terá as dificuldades de um indivíduo surdo, porém minimizadas pelo uso do implante. Com o auxilio de um fonoaudiólogo, o aparelho será regularizado no decorrer do tempo, para viabilizar, aos poucos, a audição do paciente. Além do receio por ser uma cirurgia na cabeça, outro problema enfrentado pelos pacientes está relacionado com a autoestima no pós-operatório, quando eles precisam descobrir seus potencias nessa reconquista da capacidade de ouvir, assim como outras habilidades que estavam

Auxílios pagam alimentação, moradia, saúde e material didático

Yuri Rebêlo

da tomada de decisão do paciente de submeter-se à cirurgia, observando as condições físicas e psicológicas da receptividade do implante, até a fase de habilitação e adaptação ao aparelho, acompanhando as mudanças na vida dos implantados.

Apoio familiar é necessário durante todo o processo Com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX), por meio do Programa Institucional de Bolsa de Extensão (PIBEX); e da direção do HUBFS, representada pelos professores Paulo Roberto Alves de Amorim, diretor geral, e Renato Ferreira da Silva, diretor adjunto; o Projeto promove, todas as sextas-feiras, no Hospital, o encontro dos pacientes implantados e pacientes candidatos à cirurgia do implante coclear, sendo mediados pela coordenadora Maria Tereza Nassar e

Bolsas garantem permanência no curso

inibidas por conta da surdez. Outro aspecto comum vivenciado nas conversas no grupo é o fato do aparelho possuir uma parte visível externamente, o que pode causar estranheza. "Alguns pacientes são jovens e trazem essa inibição com relação ao aparelho. Alguns relatam, por exemplo, que, se entram no ônibus, todos ficam olhando para essa parte externa. Neste sentido, as conversas em grupo ajudam, pois cada um conta o que fez para superar as dificuldades. É um lugar de apoio mútuo, de troca de experiências e de fortalecimento", pontua a coordenadora Maria Tereza Nassar. Neste contexto, os bolsistas envolvidos no Projeto esperam que a riqueza de dados coletados no Grupo

possam gerar material para futuras pesquisas e para a escrita de trabalhos científicos na área. Os "turning point" da paciente Luciléia dos Reis já despertaram a atenção de uma das estagiárias do Projeto, a qual está interessada em pesquisar a relação mãe-filho quando a linguagem falada fica comprometida por conta da surdez da mãe. Hoje, com o implante coclear, Luciléia dos Reis não cansa de repetir sua maior emoção pós-cirurgia, "a ativação do meu aparelho aconteceu no dia 8 de novembro e, neste dia, eu já consegui ouvir os primeiros sons, os primeiros barulhos depois de 14 anos. Mas a emoção maior foi ouvir meu filho me chamar de mãe. Todo dia é uma emoção, porque o implante coclear é um milagre".

família dos cuidados que ele terá que receber pós-cirurgia", acrescenta a professora. No caso Luciléia Silva dos Reis, esse apoio familiar não foi fácil. "No começo, a minha família não me deu total apoio, porque eles tinham medo que essa cirurgia me tirasse a vida. Eles disseram que era para eu desistir, mas eu disse não. Fui atrás de mais informações, consultei os médicos do HUBFS, tudo para eu conseguir o apoio da minha família", lembra a paciente.

Saiba mais O Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Bettina Ferro, por meio do Grupo de Implante Coclear, é o único a oferecer a cirurgia em Belém. Coordenado pelo professor José Cláudio Cordeiro, o setor oferece, atualmente, dois serviços à população: o implante coclear, mais conhecido como "ouvido biônico", e a prótese auditiva, ambos viabilizados por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes de qualquer idade, com perda auditiva neurossensorial profunda, podem ser encaminhados às análises da equipe médica para viabilizar a cirurgia do implante coclear, que dura, em média, três horas. A ativação do aparelho acontece, geralmente, 30 dias após o implante.

os quase quatro milhões e meio de estudantes que ingressam em uma instituição de ensino superior no Brasil, quase 900 mil desistem e não concluem a graduação. Também é grande o número de alunos que fica reprovado e atrasa o ano de conclusão do curso. Esses problemas ocorrem por um motivo: faltam condições de permanência na universidade. "Não basta a universidade ter computadores, laboratórios e bibliotecas. Esse aluno tem outros gastos com materiais de instrução, os quais, muitas vezes, são caros", afirma o professor José Maia, diretor de Apoio e Integração à Assistência Estudantil (DAIE) da PróReitoria de Extensão (PROEX). Para apoiar aqueles que têm dificuldades para continuar estudando, a Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolve uma série de atividades de assistência estudantil. Mas, afinal, o que é assistência estudantil? É a criação de subsídios a quem precise de apoio, para que possa entrar e sair da universidade com um bom desempenho. Nesse sentido, a UFPA está oferecendo bolsas e serviço para esses alunos. "Antigamente, dizia-se que uma universidade pública e de qualidade garantiria o acesso ao diploma de nível superior. Hoje, reco-

Alexandre Moraes

Projeto oferece apoio psicológico a paciente Igor de Souza

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Programa "Taxa Zero" garante refeições gratuitas nos Restaurantes Universitários nhecemos que isso não é suficiente", explica José Maia. Apesar das políticas de ações afirmativas voltadas para negros, alunos

oriundos de escolas públicas e indígenas, muitas vezes, esse aluno não tem como se manter na universidade. "Ele não tem como arcar com os custos que

envolvem alimentação, transporte, material didático e equipamentos necessários, por isso precisa de auxílio financeiro", argumenta o diretor.

Público é quem tem renda de até três salários mínimos Quase todas as bolsas são voltadas para alunos que estão em situação de vulnerabilidade social. No padrão estabelecido pela PROEX, isso significa ter renda familiar de até três salários mínimos e uma conta de energia de até 180 Kilowatts por mês. O professor José Maia explica, no entanto, que essa não é uma fórmula rígida, "aquela pessoa que vive sozinha com três salários mínimos é diferente da de quem tem uma família de cinco pessoas e ganha o mesmo valor. A vulnerabilidade deste é muito maior

do que a daquele que vive sozinho". Por coincidência, grande parte dos alunos que recebe bolsas dentro da Assistência Estudantil é cotista. "Não é algo dirigido. O que ocorre é uma convergência de realidade, e o aluno cotista está dentro da faixa de vulnerabilidade social", explica o professor. Entre os programas desenvolvidos pela Política de Assistência Estudantil da UFPA, está o "Bolsa Permanência". Os alunos ganham uma bolsa de R$ 310,00 para ajudar mas despesas durante

o mês. Este ano, 800 bolsas serão concedidas, 106 foram criadas exclusivamente para estudantes indígenas ou deficientes físicos. O "Auxílio Moradia" concederá 340 bolsas no valor de R$ 300,00 para serem gastos com o aluguel e a manutenção de moradia. Esse auxílio é voltado exclusivamente para alunos que não tenham conseguido vaga na moradia estudantil – casas pagas, equipadas e mantidas pela própria UFPA. A Universidade tem cinco moradias estudantis,

uma em cada campus, atendendo 162 alunos. O Restaurante Universitário (RU) recebe verbas para subsidiar o almoço e o jantar. Para um aluno regular, a refeição no RU custa R$ 1,00. A diferença entre o preço cobrado e o custo real da refeição é paga pela UFPA. O aluno que participa do Programa "Taxa Zero" está isento do pagamento. "Quem participa do ‘Taxa Zero’ deixa de gastar R$ 40,00 com almoço e jantar no RU, considerando 20 dias úteis por mês", explica José Maia.

Kit Acadêmico garante financiamento de equipamentos Com a Bolsa Auxílio "Kit Acadêmico", é possível financiar material específico para alguns cursos, como Odontologia, Oceanografia, Enfermagem, Engenharias, Medicina, Arquitetura, Artes Visuais, Música, Geologia, Farmácia e Medicina Veterinária. São disponibilizadas 255 bolsas: 100 com valor de até R$ 1.500,00, 80 de R$2.000,00 e 75 de R$2.500,00. Os valores podem ser gastos com livros e outros materiais de instrução ou

equipamentos necessários ao curso. "O aluno que recebe essa bolsa supre, em até 90%, as suas necessidades para se manter no curso", conta José Maia. Ainda dentro das estruturas criadas para ajudar o aluno a concluir o curso, existe a Bolsa "Auxílio Acadêmico Intervalar", voltada para os alunos que fazem cursos intensivos ou intervalares. Nessa modalidade, as disciplinas são ofertadas de forma intensiva durante os meses de janeiro,

fevereiro, julho e agosto. Por isso boa parte desses alunos é de outros municípios e precisa, durante um período de dois meses por semestre, deslocar-se para a cidade onde o curso é ministrado. O beneficiado recebe uma parcela única de R$750,00 para ajudá-lo com as despesas na nova cidade. Para ajudar na formação do aluno, a Diretoria de Apoio e Integração à Assistência Estudantil (DAIE) dispõe, ainda, de 300 Bolsas de Língua Es-

trangeira. Os alunos da UFPA podem escolher entre os cursos de Inglês, Francês, Espanhol e Alemão. Dessa forma, o aluno sai da Universidade não só com a graduação, mas também com um diploma de língua estrangeira, uma necessidade básica no mercado atual. Além de pagar os cursos, realizados no Instituto de Letras e Comunicação e na Casa de Estudos Germânicos, a UFPA se responsabiliza pelos custos com os livros necessários.

Bettina Ferro: parceria deve ampliar assistência médica A assistência estudantil também atua no setor da saúde. Hoje, diversos exames e consultas podem ser feitos pelos estudantes da Universidade sem nenhum custo. O Serviço de Apoio Psicossocial, por exemplo, oferece atendimento psiquiátrico, assistência

social, acompanhamento pedagógico e atendimento psicológico. Esse serviço também é estendido aos familiares de primeiro grau dos alunos. Nas clínicas de Psicologia e de Odontologia, os alunos são atendidos gratuitamente. Para ampliar o atendimento

ao aluno, a Diretoria está firmando parceria com o Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza e com os Laboratórios de Análises Químicas de Farmácia e de Biomedicina. O Programa de Atenção Básica à Saúde do Aluno pretende oferecer consultas

com nutricionistas, oftalmologistas, entre outros médicos especializados. Assim, por meio da assistência estudantil, a UFPA procura apoiar o aluno e minimizar as dificuldades enfrentadas durante o seu tempo de permanência na Universidade.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011 –

Saúde

Pesquisa

Laboratório discute Direitos Humanos

Tratamento e prevenção UFPA compõe frente de combate ao crack

Alexandre Moraes

O

atentado terrorista às Torres Gêmeas e ao Pentágono, nos Estados Unidos, deixou mais de 2000 mortos e pode ser considerado um ataque aos Direitos Humanos, uma vez que fere os direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal, previstos na Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948. Por outro lado, o assassinato de Osama Bin Laden, em maio deste ano, em uma operação da Inteligência Americana, fere a mesma declaração, a qual prevê o direito a uma audiência justa e imparcial para decidir sobre qualquer crime. Para discutir essas questões, o professor Jean-François Deluchey propôs a criação do Laboratório de Análise das Políticas Públicas de Segurança e Direitos Humanos (Ladis), cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O principal objetivo do Laboratório é reunir e produzir trabalhos de pesquisa ligados às duas temáticas, mas de maneira interdisciplinar, trazendo pesquisadores de várias áreas de conhecimento e de diversas instituições de ensino do Pará. "Quando cheguei à Faculdade de Serviço Social, percebi que muitas pessoas trabalhavam com as questões da Segurança e dos Direitos Humanos. A partir de uma conversa com um colega, veio a ideia de fundar um Grupo de Pesquisa que

Vildan Uysal/ Stock Xchng

Grupo reúne pesquisadores de diversas áreas dedicados ao mesmo tema Dilermando Gadelha

“Transamazônica e Xingu: políticas públicas e dinâmicas socioespaciais” será o tema do I Encontro de Geografia promovido pelo Campus de Altamira, de 27 de junho a 1º de julho. Mais informações: marcelopadinha@ufpa.br e luizfernando@ ufpa.br

Salinópolis

Ensino de Línguas Seis vezes mais potente do que a cocaína, crack é mais barato e provoca rápida dependência física Ericka Pinto Um dos projetos discute com policiais e assistentes sociais das seccionais de Belém ações de não violência pudesse reunir todos esses pesquisadores. Então, propus a criação desse grupo e fui bem recebido", explica o professor. O grupo é formado por pesquisadores de Serviço Social, Psico-

logia e Direito, além de um professor do curso de Direito da Faculdade Ideal (Faci). Ao todo, o Laboratório engloba 11 professores e 12 estudantes de graduação e pós-graduação. De acordo com o professor Jean-

e pesquisa de Direitos Humanos, na UFPA. De acordo com o professor, é importante ter a dimensão de como os cursos fazem essa discussão ou se esses estudos estão restritos às Ciências Sociais e Jurídicas. "Será que, no curso de Engenharia Elétrica, há uma disciplina de DH programada no currículo de graduação, por exemplo? Esse levantamento talvez sirva para criar um movimento de sensibilização pela temática na Universidade", explica o professor. A linha de pesquisa Políticas de Segurança Pública é formada por

três projetos, dois do professor JeanFrançois Deluchey e um coordenado pela professora Flávia Lemos, da Faculdade de Psicologia. "Avaliação e Planejamento na Área de Segurança Pública" é um dos projetos da linha, cujo objetivo é pesquisar, tanto no meio polícial quanto na população da Região Metropolitana de Belém, os indicadores de segurança nesses espaços. Nesta pesquisa, já se criou um indicador chamado "Mapeamento das Zonas de Sombra da Segurança Pública", o qual busca verificar a

Ética, diálogo e não violência nas delegacias Componente da segunda linha de pesquisa do Ladis, o Projeto "A Construção Social da Vitimização: perfil das mulheres vítimas de violência no sistema de Justiça Criminal - uma análise comparada entre São Paulo e Pará" contrasta, a partir da Psicologia Social, a situação dos presídios femininos no Pará e no Estado de São Paulo, mais precisamente, as condições de vida das mulheres que estão em conflito com a lei. A pesquisa também é feita na Fundação da Criança e do Adolescente do Pará (Funcap),

Geografia

A UFPA recebeu, oficialmente, a doação do terreno que abrigará o Polo Universitário no município de Salinópolis. A previsão é que o Polo seja inaugurado em, aproximadamente, dois anos. No local, irá funcionar o Instituto Científico e Tecnológico, onde serão ofertados cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural e de Engenharia Oceânica.

François Deluchey, o Laboratório conta, ainda, com cerca de 30 candidaturas de alunos da Universidade, o que demonstra a sua relevância para o tripé da Instituição: aliar o ensino à pesquisa e à extensão.

Projeto investiga percepção de alunos sobre a temática O Ladis é estruturado em três linhas de pesquisa, correspondentes aos projetos que já estão em execução. A primeira é Direitos Humanos e Políticas Públicas e conta com um projeto que investiga os conhecimentos e a percepção que os estudantes da Universidade têm sobre os Direitos Humanos. Para isso, foram aplicados questionários aos alunos de todas as unidades acadêmicas da UFPA. A fase atual é de processamento dos dados obtidos. Os resultados serão cruzados com um levantamento sobre ensino

EM DIA

que aplica medidas socioeducativas a jovens que cometeram atos infracionais. A terceira linha, "Ética, Diálogo e Não Violência", é baseada nas experiências do Projeto de extensão Defesa e Paz Social, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UFPA. O Projeto trabalha nas delegacias de polícia do Estado, propondo maneiras de promover o diálogo, a ética e a não violência nesses locais. Segundo Jean-François Deluchey, a proposta é ampliar as ações para

outras corporações e público – o qual, atualmente, é formado por policiais civis e assistentes sociais das seccionais urbanas. Os resultados dos projetos de pesquisa realizados no âmbito do Ladis serão divulgados em seminários bianuais, além de serem publicados em artigos científicos. "É provável que, em 2012, seja possível apresentar os primeiros resultados das pesquisas. Esses dados poderão servir de insumo para as políticas públicas do Estado", avalia o professor.

abrangência territorial dos serviços de segurança no Estado. Também foram aplicados 500 questionários para verificar a opinião da população da Região Metropolitana de Belém quanto ao trabalho da polícia e como seria uma segurança ideal na cidade. No Projeto "Atores, Processos e Redes de Políticas Públicas", coordenado pelo professor, o enfoque é a política de "segurança cidadã" lançada pela governadora Ana Júlia Carepa, quando à frente do governo do Estado, nos anos de 2007 a 2010.

Centro Interdisciplinar O Laboratório de Análise das Políticas Públicas de Segurança e Direitos Humanos é parceiro do Centro Interdisciplinar de Direitos Humanos (CIDH), criado na UFPA, no início de 2011, com o objetivo de realizar ações de ensino, pesquisa e extensão entre os professores e alunos que tenham interesse na área. O CIDH conta com a contribuição das universidades integrantes do Consórcio Latino-Americano de Pós-Graduação em Direitos Humanos, também criado na Universidade em 2008. "O Ladis é um dos cinco projetos coletivos de pesquisa que o CIDH está financiando este ano. Estamos com uma relação irmã entre as duas dinâmicas", finaliza o professor.

U

ma equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e outros profissionais da Universidade Federal do Pará (UFPA), vai compor uma das frentes de trabalho de combate ao crack no Estado do Pará. Essa equipe será responsável pela capacitação de todos os profissionais da área da saúde que irão atuar no acolhimento e tratamento de usuários de drogas e na orientação às famílias dos pacientes. A ação faz parte do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e a Outras Drogas, lançado em maio do ano passado pelo governo federal. O Plano prevê a criação de Centros Regionais de Referência no Combate ao Crack em todo o país e conta com a parceria de várias instituições, entre elas, a UFPA. No Pará, a expectativa é que,ainda neste mês de junho, sejam liberados recursos na ordem de R$ 300.000,00 para o início das atividades, que consistem em cursos, palestras, seminários, oficinas e reuniões para os profissionais de saúde. A capacitação será orientada pela equipe da Universidade, sob a coordenação do professor Benedito Paulo Bezerra, doutor em Psiquiatria

pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O espaço para a realização das capacitações será o Hospital de Clínicas Gaspar Viana, referência em Psiquiatria no Estado. Segundo o professor, essa preparação profissional para o atendimento ao usuário de drogas é fundamental para o processo de acolhimento e tratamento do paciente nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), os quais são unidades de atendimento intensivo e diário aos portadores de sofrimento psíquico grave. De acordo com Benedito Bezerra, no Brasil, existem poucos profissionais capacitados para lidar com os usuários de drogas. "Inicialmente, vamos capacitar todos os profissionais da Região Metropolitana de Belém. Posteriormente, ampliaremos a ação para todo o Estado do Pará", afirmou Benedito Bezerra. Frentes – O Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas vai investir um total de R$ 410 milhões em ações de saúde, prevenção ao uso de drogas, assistência e repressão ao tráfico. O Plano está dividido em várias frentes de trabalho que terão como parceiros os governos estaduais,

municipais e a sociedade civil. No Pará, a ação inicia com um projeto de extensão da UFPA para a capacitação de profissionais da área da saúde. O objetivo é prepará-los para lidar com os usuários e seus familiares. A fase seguinte contará com a participação dos governos estadual e municipal para a implantação de novas unidades de acolhimento e a ampliação do número de leitos para o atendimento dos casos que necessitem de internação em hospitais gerais e em unidades do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). "É fundamental que o Ministério da Saúde e os Estados, em conjunto com as universidades, continuem com o incentivo para que os profissionais da área da saúde possam ter condições de desempenhar bem suas atividades", enfatizou Benedito Bezerra. Além da saúde, o Plano envolve a área de Segurança Pública dos Estados, com levantamento dos pontos de venda e de distribuição, e ainda o trabalho de prevenção ao uso de drogas. "Ainda não temos um estudo específico sobre a situação do consumo de crack e este Plano já é um trabalho de levantamento acerca de como anda o consumo da droga no Brasil", explica o professor.

Efeito tem curta duração e é devastador O crack é seis vezes mais potente que a cocaína e, consequentemente, provoca um efeito ainda mais devastador. Em apenas 10 segundos, o usuário já começa a sentir seus efeitos, como euforia, respiração e batimentos cardíacos acelerados, seguido de depressão, delírio e desejo por novas doses. A droga é composta de cloridrato de cocaína (cocaína em pó),

bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada. Vendido em forma de pequenas pedras, fumadas em cachimbos, o crack é mais barato que a cocaína. Seu efeito tem curta duração, o que leva o usuário a consumir maiores quantidades, provocando rápida dependência física e até a morte por sua ação fulminante sobre o sistema nervoso central e cardíaco. "O crack

torna-se mais perigoso, porque, como impregna muito mais rápido no organismo, deixa uma marca mais profunda e, por isso, a tendência de recaída é bem mais frequente", afirmou o psiquiatra Benedito Bezerra, que, ao longo de sua prática profissional, tem dado assistência a pacientes com transtornos psíquicos decorrentes do uso de drogas.

Estão abertas as inscrições para o “II Seminário: Interação e Subjetividade no ensino de línguas”. O evento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Discurso, Sujeito e Ensino (DISSE) do Instituto de Letras e Comunicação da UFPA acontecerá no período de 22 a 24 de setembro. O prazo para submissão de trabalho é até 31 de julho de 2011. Mais informações no site: http:// www.2sisel.leehoan.com/

Tucunduba A Revista Tucunduba está recebendo, até o dia 30 de junho, propostas para publicação. O edital está aberto à comunidade universitária (alunos, docentes e técnicos da UFPA). As propostas enviadas serão submetidas ao Conselho Editorial e aprovadas de acordo com a linha editorial da publicação. As áreas temáticas são: Artes Cênicas, Artes Visuais, Música, Audiovisual, Literatura, Arquitetura e Design, Memória e Patrimônio. Mais informações: revistatucunduba@ gmail.com

Prêmio O professor Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior foi contemplado com o V Prêmio Milton Santos, na categoria “Artigo A”. O trabalho "Cidades na floresta: os 'grandes objetos' como expressão do meio técnico-científico informacional no espaço amazônico" foi publicado originalmente na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. A cerimônia de premiação ocorreu no Rio de Janeiro, durante o XIV Encontro Nacional da ANPUR.

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011 –

Amadurecimento

Amazônia

T

ípicas da Amazônia, as oleaginosas andiroba e copaíba são as apostas atuais do mercado nacional quando se trata de dermocosméticos produzidos com motivos regionais. Essas plantas, possuidoras de propriedades fitoterápicas, desempenham funções anti-inflamatórias, cicatrizantes e até antibióticas. O óleo de copaíba, por exemplo, é indicado para o tratamento de caspa, de todos os tipos de desordens de pele e até de úlceras de estômago. Já o óleo da andiroba é utilizado como protetor solar, como antisséptico, relaxante muscular e repelente de insetos, sendo que a casca e a folha da planta, segundo a Medicina Popular, servem ainda contra reumatismo, pneumonia e até depressão. Com o objetivo de investigar o potencial amazônico para a fitoterapia e para a produção de dermocosméticos de qualidade, o

Karol Khaled

Faculdade de Química certifica produtos fabricados na região

O Laboratório Central de Extração é responsável pelas análises Ministério da Saúde, com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), encomendou ao Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), órgão pertencente à Superintendên-

cia da Zona Franca de Manaus, o Projeto Fitodermo, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a Universidade Federal do Pará (UFPA). O

Fitodermo é composto de quatro subprojetos, sendo dois voltados para insumos, um voltado para a produção de fitoterápicos e o outro, para a análise de dermocosméticos. Na UFPA, o professor Alberto Cardoso Arruda, da Faculdade de Química, é o coordenador responsável pelo subprojeto de dermocosméticos. A meta é realizar uma análise microbiológica, fase que será comandada pelo CBA, em Manaus, e outra fitoquímica e analítica, que será feita no laboratório da Central de Extração da UFPA, para a certificação de produtos dermocosméticos fabricados na Amazônia e de suas cadeias produtivas. Tais análises levarão em conta o trabalho de empresas especializadas em tecnologias, soluções e matérias-primas dermocosméticas, como a Chamma D'Amazônia e a Beraca. O empenho atual da UFPA é certificar quatro produtos que a Chamma D'Amazônia pretende lançar no mercado com potencial anti-inflamatório.

Produtos devem trazer algum benefício ao usuário De acordo com o pesquisador Alberto Arruda, é importante destacar a diferença entre dermocosméticos e cosméticos: "os cosméticos são criados basicamente para embelezamento e perfumaria. Já os dermocosméticos têm que oferecer ao usuário algum benefício específico". Assim, o xampu anticaspa, além de embelezar e perfumar, é um dermocosmético, porque combate uma "enfermidade" capilar, a caspa. Um protetor labial hidratante é dermocosmético, porque evita o ressecamento dos lábios. Hidratantes de pele e filtros solares também são exemplos de dermocosméticos, porque trazem benefício direto, além de beleza, cor ou aroma que suscitam.

Segundo o professor, o potencial da Amazônia para tais fabricações é muito grande. A variedade de insumos oleaginosos, por exemplo, os quais são a base para diversos produtos, é enorme na região. É o caso da andiroba, da copaíba e também da castanha-do-Pará. "Essas cadeias são as chaves para a produção de dermocosméticos atualmente", aponta Alberto Arruda. O que se quer investigar é se as propriedades fitoterápicas desses elementos, quando aplicados em fórmulas dermocosméticas, de fato, chegam aos produtos. "Qual o efeito que se obtém ao acrescentarmos a um sabonete ou xampu uma determinada quantidade de andiroba? Há algum efeito medicinal ou apenas

estético? São essas as respostas que as análises do Projeto pretendem alcançar", explica o professor. A maioria dos insumos da Amazônia, conforme dados da pesquisa, não tem um padrão, não se desenvolve segundo uma norma técnica que siga parâmetros pré-estabelecidos. No entanto, "se há interesse de uma empresa em exportar os seus produtos, há de se ter tais parâmetros especificados. Neste caso, os produtos dermocosméticos têm que passar por testes de eficiência, de foto e dermo sensibilidade. O papel da Academia é, justamente, estabelecer parâmetros de qualidade para os dermocosméticos e avaliar desde a matéria-prima até o produto final",

ressalta o coordenador. "Se identificarmos, por exemplo, que um determinado óleo fornecido está fora de padrão para a produção de dermocosméticos, a empresa poderá trocar de fornecedor antes mesmo de lançar o produto final no mercado. Isso também possibilita a certificação da cadeia produtiva e evita que os cosméticos sejam fabricados com produtos alterados ou contaminados com micro-organismos", complementa Alberto Arruda. Segundo o pesquisador, grande parte dos dermocosméticos produzidos no Brasil não é certificado. E, no caso dos produtos fabricados na Amazônia, isso ocorre, porque a matéria-prima utilizada não tem parâmetros.

Qualidade das cadeias produtivas serão analisadas Em compensação, os produtos nacionais e/ou internacionais usam matéria-prima no estilo commodities, ou seja, que segue um determinado padrão de referência, de qualidade quase uniforme, produzida em grandes quantidades e por diferentes produtores. Por exemplo, se há uma commodity (fórmula química) para xampu, todas as empresas utilizam a mesma base e alteram alguns ingredientes para dar um efeito diferente aos diferentes tipos de cabelos. Tratando-se de insumos regionais, o efeito do produto final, isto é, a alteração da fórmula base se dá mediante o acréscimo de matéria-prima da biodiversidade amazônica. Sem parâmetros pré-estabelecidos, será que os acréscimos de elementos regionais estão tendo algum efeito comprovável? No caso de um sabonete acrescido de andiro-

ba, por exemplo, se a ação esperada é anti-inflamatória, de combate a acnes ou ainda à oleosidade, será que 1% dessa substância na base do produto é o suficiente para obter tal efeito? Ou o melhor seriam cerca de 10%? Ou menos de 1%? "O insumo da Amazônia não pode funcionar apenas como marketing ou motivo para onerar o preço do produto", pondera Arruda. Composição – E, quando o insumo é a andiroba ou a copaíba, também há diferença se o que se utiliza é o óleo puro ou uma formulação desse óleo. Se for formulação, é preciso verificar a dosagem, a composição, entre outras características importantes para que o elemento tenha o efeito desejado. Por isso também é importante investigar a qualidade da cadeia produtiva dessas plantas. "Faremos várias coletas para inves-

tigar, por exemplo, se a composição do óleo varia entre a estação chuvosa e a estação seca. A análise levará em conta a variação do produto em função do seu modo de armazenamento após coletado na natureza", especifica o professor Alberto. A coleta de material botânico para ser analisado já está sendo feita pela equipe da Central de Extração da UFPA. A etapa seguinte é comparar os padrões gerados no laboratório com o que vem dos fornecedores, e assim, passar para a certificação, ou não, do produto final que as empresas pretendem colocar no mercado. Os primeiros resultados de análises são esperados para o final de 2012. O Projeto está em fase de estruturação, que se refere à compra e montagem de equipamentos, coleta de material botânico e levantamento de informações. Será necessária uma reforma laboratorial

a fim de preparar a Central de Extração para receber novos aparelhos de análises. Neste momento, o andamento da pesquisa depende da instalação de dois equipamentos. Um deles será o único equipamento desse porte, no Brasil, a funcionar em uma Universidade. Trata-se do HP TLC, um cromatógrafo em camada fina de alta performance, que visa ao aumento de precisão, reprodutibilidade e repetibilidade de análises quantitativas e qualitativas, as quais determinam as classes de substâncias presentes em uma determinada amostra vegetal. O outro equipamento, em fase de importação, é o cromatógrafo GC com FID, que serve para determinar a composição de ácidos graxos nos óleos vegetais. A Central de Extração fica no Setor Básico da UFPA, no Campus do Guamá.

É tempo de transformações na Facom

Ampla programação celebra 35 anos do curso de Comunicação Social Flávio Meireles

"F

azer de um momento um movimento". É assim que a professora Rosane Steinbrenner justifica a comemoração deste aniversário do curso de Comunicação da Universidade Federal do Pará, criado em 1976. A celebração de três décadas e meia de existência contará com uma vasta programação, a qual visa garantir integração, visibilidade, e, sobretudo, gerar uma "onda de comunicação" nos corredores, auditórios e salas de aula. Mas engana-se quem pensa que serão celebrados somente os anos vividos. Os 35 anos, na verdade, assinalam um tempo de transformações, o qual começou na década de 90 com a elaboração do planejamento estratégico, responsável pela realização de um mestrado interinstitucional e consequente qualificação dos professores, pela revisão da grade curricular, pela integração dos laboratórios, entre outras mudanças. Em 2010, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) aprovou o Mestrado em Comunicação, Cultura e Amazônia, o primeiro stricto sensu do Pará e o segundo da região. Ainda no passado, os alunos do Laboratório de Comunicação Institucional decidiram usar a própria Faculdade como cliente. A tarefa era planejar e executar um projeto de comunicação para a Facom. Casa de ferreiro – "A ideia da turma era 'em casa de ferreiro, o espeto não é de pau'. Estamos acostumados a fazer comunicação para os outros, mas

Alunos visam ao mercado

Alexandre Moraes

Dermocosméticos de qualidade

Jéssica Souza

7

Infraestrutura: hoje, três laboratórios estão disponíveis para os alunos nunca para nós mesmos", pondera a professora. Com esse projeto, os alunos fizeram o diagnóstico e planejaram atividades de curto, médio e longo prazos. Entre elas, estava a comemoração dos 35 anos. A mobilização vista hoje surgiu "com a necessidade de fazer uma Faculdade de Comunicação que se comunique permanentemente", alega Rosane Steinbrenner, deixando claro que as atividades previstas para este ano servirão para os próximos. "Que venham os 36, 37, 38, o que queremos mesmo é gerar uma cultura acadêmica", afirma a professora. Não à toa, a equipe de organização criou um slogan que conceitua o momento como um ponto de partida, Facom 35 – Movimento de Inquietação coletiva. A apresentação oficial do conceito e das atividades programadas para a comemoração do aniversário

ocorreu em maio, no Instituto de Letras e Comunicação. A comissão organizadora é formada pela direção da Faculdade, professores, alunos bolsistas e voluntários. Para realizar as atividades, tanto de produção quanto de ação, diversos núcleos foram criados, nos quais projetos estão sendo pensados e, na medida do possível, executados. O núcleo fotográfico fará um resgate memorial da Facom, além de realizar diversas atividades que incitem o interesse dos alunos pela fotografia. O núcleo de rádio irá compilar todo o material já elaborado por alunos e produzir uma programação especial na Rádio Web, projeto de extensão da Facom. Os outros núcleos da comissão são: TV, divulgação, marketing e eventos. Ao longo do ano, devem ocorrer palestras, seminários, shows, debates e exposições.

Boletim semanal, eventos e outras atividades Os professores da Faculdade de Comunicação ficaram incumbidos de gerar uma sinergia em seus laboratórios, ou seja, englobar a temática dos 35 anos nos conteúdos ministrados nas duas habilitações – Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Além da história da Facom, outros temas poderiam ser abordados, "convergência tecnológica, midiatização na Amazônia, mercado de trabalho, enfim, temas relevantes ao longo desses anos, os quais fazem parte do campo

da comunicação", explica a professora Rosane Steinbrenner. Aos alunos da disciplina de Laboratório Impresso II, foi proposta a produção de uma revista. A partir de uma das pautas da publicação, houve uma reunião entre os antigos e os atuais membros do Centro Acadêmico de Comunicação (Caco). O que era para ser uma simples matéria tornou-se um evento intitulado "Juntando os Cacos", uma referência à reunião de duas gera-

ções que representam três décadas de luta estudantil. Outras atividades são as "Terças da Comunicação", durante as quais alunos e ex-alunos irão se reunir em ciclos de palestras, e o boletim digital semanal "Aqui pra nós", produzido na disciplina de Assessoria de Comunicação, vai divulgar a programação ao longo do ano, especialmente, entre o público interno. O público externo poderá acessar o boletim no endereço http://facom35.blogspot.com/.

Como em outras regiões, o curso de Comunicação S o c i a l d a U F PA s u r g i u e m pleno Regime Militar. Mesmo destinando pouco mais de 3% do orçamento da União à educação, o Regime fez com que proliferassem cursos de Comunicação em todo o país. "Era mais conveniente manter as massas atadas à reprodução de um pensamento mistificador, para que pudessem aderir à ideologia oficial do Regime. A educação – ou deseducação – das massas era um poderos ís s imo aliad o do R eg ime" , explica a professora Rosaly Brito, que também foi aluna do curso e fez parte da 3ª turma da Graduação. A ausência de laboratórios, a pouca qualificação dos professores foram alguns dos problemas estruturais enfrentados no início, os quais repercutiram negativamente por muitos anos. Para Rosaly Brito, o inconformismo e a disposição de luta dos alunos, na sua época de estudante, contribuíram para que o curso chegasse a ser o que é hoje. "Vivenciar os dois lados do balcão é uma experiência muito boa. Somando o tempo em que fui aluna e aquele em que sou professora, já estou há quase trinta anos no curso de Comunicação. Já temos ganhos importantes, mas temos que investir permanentemente na busca dessa valorização no âmbito institucional", destaca a professora. "Fazer comunicação de forma ética, criativa e compatível com as demandas técnicas do mercado é, sem dúvida, fundamental, conseguir ainda pensar a comunicação que se faz na região a partir das peculiaridades amazônicas é nosso desafio permanente", complementa a professora Rosane Steinbrenner.

Linha do tempo 1976

1979

1980

Criação Criação Final da do Curso do Centro censura de Comu- Acadêmico oficial ao nicação de Comu- telejornalismo Social da nicação Social, o UFPA. segundo criado na UFPA.

1981

1983

1985

O curso é Criação Primeiro reconhe- da inter- Encontro Naciocido pelo net. nal dos MEC. Estudantes sediado na UFPA.

1989

1991

1995

Brasil tem Criação da Criação primeira Academia do primeiAmazônia. ro jornal eleição eletrônico, direta JB online. depois de anos de ditadura militar.

1999

2002

É implan- Entra em vigor tado o mestrado o novo interinstitu- projeto cional em pedagógiparceria co. As habilitações com a tornam-se UFBA. independentes.

2003

2004

2007

2008

2009

2010

Reativação da Oficina de Criação, antiga Agência Modelo que funcionou nos anos 90.

Começa o desenvolvimento das redes sociais.

Incorporação da Academia Amazônia à Facom.

Primeira edição da "Muvuca na Cumbuca", realização dos alunos da Facom.

Extinção do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão.

Aprovado o Mestrado em "Comunicação, Cultura e Amazônia".


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