Beira 92

Page 1

issn 1982-5994

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

Fotos Edvaldo Pereira

Entrevista 25 Anos JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 92 • Março, 2011

Comunicação

Rede Darwin é ampliada na UFPA

Lenne Santos e Maria Lúcia Morais

C

riada pela Lei nº 12.085, de 5 de novembro de 2009, por desmembramento das unidades da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) tem o objetivo de ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas do conhecimento e promover a extensão universitária nesta vasta região da Amazônia. Em plena construção, a Universidade prepara-se para receber, a partir de março, mais 1.200 alunos, a primeira turma selecionada por processo seletivo que adotou integralmente as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ingressando em estrutura acadêmica inovadora. Em entrevista ao Beira do Rio, o reitor pro tempore da UFOPA, professor José Seixas Lourenço, ex-reitor da UFPA, ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), fala sobre o desafio de implantar a primeira universidade federal no interior da Amazônia. BR – Como surgiu a proposta de criação da UFOPA? José Seixas Lourenço: O projeto inicial de implantação da UFOPA, com atuação multicampi e sede em Santarém (PA), foi entregue ao ministro da Educação, Fernando Haddad, por ocasião da solenidade de celebração dos 50 anos da UFPA, em julho de 2007. A proposta recebeu, de imediato, a adesão da comunidade científica nacional. Outro fator que contribuiu para a sua criação foi a disposição do governo federal em expandir a rede de ensino superior e ampliar os investimentos em Ciência e Tecnologia. A criação da UFOPA, com desmembramento da UFPA e da UFRA, atende a esses propósitos e também às demandas de uma região com economia e cultura peculiares. BR – O que a sociedade pode esperar dessa Universidade? Qual o seu diferencial? José Seixas Lourenço - O objetivo maior da criação da UFOPA é a construção da cidadania por meio de produção de conhecimento, inovação tecnológica, soluções sociais inovadoras (fomento de ideias) e formação de recursos humanos qualificados, ou seja, quadros profissionais competentes a serviço da sociedade. A UFOPA tem por princípio a relevância social traduzida, por um lado, em formar e pesquisar por meio do engajamento social do trabalho acadêmico. A formação de nível superior, para estar comprometida, de fato, com o desenvolvimento regional, não

pode ficar confinada às salas de aula, aos laboratórios, nem aos muros dos campi. O contato orientado do aluno com a realidade circundante é a verdadeira pedagogia, o que tem inspirado o conteúdo curricular dos cursos e das demais atividades acadêmicas da nova universidade. BR – Quais foram as prioridades do primeiro ano da Universidade? José Seixas Lourenço – Em primeiro lugar, a criação do Conselho Consultivo da UFOPA, com representantes de diferentes segmentos da sociedade, em respeito ao princípio da gestão democrática do ensino público. Em seguida, a consolidação da nova estrutura acadêmica, que vinha sendo elaborada desde 2008 pela Comissão de Implantação da Universidade, criada pelo MEC e presidida por mim. Alvo de muitas discussões abertas à comunidade, o modelo acadêmico da UFOPA estrutura-se nos princípios da inovação, interdisciplinaridade, flexibilidade curricular e formação em ciclos, visando à educação continuada. Entre as conquistas, está o primeiro processo seletivo, utilizando exclusivamente o ENEM, com 17.585 inscritos. Isto comprova a aceitação do novo modelo acadêmico. Outro ponto fundamental foi a fixação de profissionais qualificados. Com a realização de concursos, triplicamos, em apenas um ano, o efetivo de docentes e de técnicos. A estruturação dos nossos campi em Santarém foi outra prioridade. Conseguimos a incorporação da área da SUDAM ao Campus Tapajós, que agora conta com 16 hectares, e estamos investindo mais de R$ 10 milhões em obras, como a construção de dois grandes prédios que abrigarão laboratórios e salas de aula. BR – Na década de 80, quando era reitor da UFPA, o senhor deu início ao processo de interiorização da Universidade no Estado, na época, uma experiência inovadora. A criação da UFOPA está ligada a esse processo ou é algo independente? José Seixas Lourenço - Sim, entendo que a UFOPA está ligada à necessidade de ampliação da oferta de vagas no interior da Amazônia. Em 1985, assumi a Reitoria da UFPA e, já no ano seguinte, demos início ao ousado projeto de interiorização com a criação de oito campi em cidades do interior. Naquela época, não tínhamos apoio federal e fomos muito criticados por diversos setores da Instituição. Os cursos de licenciatura receberam muitos alunos que já atuavam como professores, o que resultou numa significativa melhoria na qualidade da educação. Enfim, considero que a UFOPA é, sem dúvida, o fruto que amadureceu mais rapidamente com o processo de interiorização da UFPA.

BR - Uma das propostas da Universidade é o investimento em pós-graduação. Como estão as perspectivas nesta área para 2011? José Seixas Lourenço - Consideramos a pós-graduação absolutamente essencial. Em março de 2009, antes da criação oficial da UFOPA, a Universidade já tinha um Mestrado em Recursos Naturais da Amazônia, que, hoje, conta com 30 alunos. Recentemente, a CAPES aprovou o Mestrado em Matemática, que já conta com mais de 300 candidatos inscritos para 15 vagas. A aula inaugural está marcada para o dia 2 de abril próximo. Estimulados pela CAPES, já encaminhamos novas propostas de criação de mestrados nas áreas de Águas e Florestas, além de uma proposta de doutorado interinstitucional em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento. Temos, também, pelo menos cinco cursos de especialização implantados ou em fase de implantação. BR – Mesmo estando em pleno funcionamento, a UFOPA ainda está em construção. Quais as perspectivas em termos de infraestrutura? José Seixas Lourenço - Primeiro,completar os investimentos iniciados em 2010, como as construções do prédio que abrigará o Instituto de Ciências da Educação no Campus Rondon, e do Centro de Formação Interdisciplinar, no Campus Tapajós. Estão previstos para 2011 mais de 36 milhões em investimentos, cujas prioridades serão a construção do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) e a Biblioteca Central, ambos no Campus Tapajós. BR – O que o senhor tem a dizer sobre as críticas que o modelo acadêmico da UFOPA recebe? José Seixas Lourenço – O novo modelo acadêmico visa atender aos interesses maiores da sociedade e seu futuro, e não aos corporativismos internos ou às receitas ideológicas ultrapassadas. Isto exige muito mais criatividade dos professores, pois se trata de conceber o “novo”, mais que a transposição dos modelos de formação já vigentes, muitas vezes inadequados à realidade social regional. Deveríamos nos inspirar nos versos de Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo. E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.” Portanto, mudança é travessia e, no contexto da nossa nova universidade, exige, além da ousadia, um percuciente olhar rumo às novas gerações numa perspectiva amazônica.

Asfalto

Radar analisa qualidade de pavimentação

Pág. 10

Construções desordenadas modificam a vida marinha e mudam a paisagem na praia do Atalaia

G

rande atrativo para quem quer fugir do calor durante o período de seca na Amazônia, as praias do litoral paraense têm sofrido com a ocupação desordenada. Obras de calçamento da orla, construção de residências e hotéis, perfuração de poços têm ameaçado esse patrimônio natural. Professores da Universidade Federal do Pará estão realizando

pesquisas e buscando propostas para frear os abusos. Eduardo Brandão, em parceria com o Projeto Orla, está percorrendo diversos municípios e identificando os problemas ambientais existentes. Já o professor Milton Matta tem orientado pesquisas que propõem mudanças na política de abastecimento de água e preservação das praias de Salinas. Págs. 6 e 7

Sustentabilidade

Frutos nativos são novas alternativas para biodiesel

Estudantes realizam testes na UFPA

Entrevista Para José Seixas Lourenço, reitor da UFOPA, é tempo de criatividade e ousadia. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Ciência

Proposta dos pesquisadores do Laboratório de Operações de Separação da UFPA (LAOS/UFPA) é ampliar

o uso da biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável na região. Pág. 3

Karol Khaled

UFOPA propõe inovação, interdisciplinaridade e formação em ciclos

Campi II e III recebem equipamentos que garantem melhor desempenho na rede de informação da Universidade. Pág. 5

Acervo do Pesquisador

Um novo modelo acadêmico para a Amazônia

Milton Matta

Ocupação urbana ameaça litoral

Pesquisadores da UFPA, da UNOPAR e da USP pretendem produzir rebanho inteiro de touros da raça girolando. Pág. 4

Geoprocessamento

Gestores recebem treinamento

O pró-reitor Flávio Nassar fala sobre os avanços da coorperação internacional na UFPA. Pág. 2

Opinião Cláudia Palheta mostra como o Ver-o-Peso é apresentado nos carnavais de Belém. Pág. 2

Cooperação técnica garante clonagem

Óleo de dendê está sendo explorado para geração de biocombustível

Com ajuda do software livre TerraView é possivel elaborar diagnóstico habitacional e mapear assentamentos precários. Pág. 8


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011 –

Coluna da REITORIA

Flávio Sidrim Nassar - Pró-Reitor de Relações Internacionais

O

George Maués

Educação kkk flavionassar@gmail.com

UFPA avança na cooperação acadêmica internacional

ano de 2010 foi, para a Prointer, um ano de consolidação de algumas ações, de expectativas e frustrações em relação a outras e amadurecimento do projeto do futuro organograma da Pró-Reitoria. Para entender melhor este “resumo da ópera”, precisamos fazer uma volta ao passado da cooperação internacional na UFPA. A cooperação na UFPA começou com a Casa de Estudos Germânicos, por iniciativa do governo alemão com o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). A exemplo desta denominação foram criadas outras “Casas”, mas já por iniciativa da UFPA: Casa de Estudos Franceses, Italianos, LusoAmazônicos, Hispano-Americanos e a Casa Brasil África. Estas casas ficaram abrigadas na Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais (ARNI), na travessa Três de Maio, à exceção da Casa de Estudos Germânicos e da Casa Brasil-África, estas no Campus. A coordenação da ARNI ficava em uma sala no NAEA. Desde os anos 1990, a internacionalização das universidades entrou na agenda das instituições com iniciativas no campo da cooperação e da mobilidade acadêmica internacional, a

exemplo do Programa Erasmus Mundus e estimulada pelo Processo de Bolonha, da União Europeia. Neste contexto, é criada, na UFPA, a Pró-Reitoria de Relações Internacionais, que começou a ser implantada a partir de julho de 2009, como “o órgão responsável pela definição da política de cooperação internacional da UFPA, cabendo-lhe intensificar a inserção e ampliação das parcerias com a comunidade acadêmica em todo o mundo...” Como é possível perceber, a estrutura montada para promover a cooperação no ambiente das novas demandas era inadequada por ser extemporânea. Outra questão que preocupava a comunidade acadêmica era que, estando a maioria das Casas localizadas fora do Campus, a ARNI ficava isolada da maior parte do público interno da UFPA, concentrado no Campus do Guamá. Em função disso, decidimos centrar nossos esforços na construção de uma nova sede para a Prointer, onde pudéssemos abrigar todas as nossas atividades conjuntamente e, desse modo, atender melhor o nosso público-alvo. Alguns passos importantes foram dados nesse sentido e esperamos que esta expectativa se cumpra no presente.

Além da adequação do espaço físico, o organograma funcional da Pró-Reitoria precisa ser alterado para atender aos novos desafios. O organograma atual, aprovado na resolução que criou a Prointer, abriga seis diretorias de cooperação distribuídas em áreas geográficas (Ibero-Latino-Americana, Franco-Amazônica, Ítalo-Amazônica, Germano-Amazônica, Afro-Amazônica, Anglo-Amazônica). A cooperação no campo científico e cultural vai sempre junto com a política de comércio exterior de um país. Tradicionalmente, as relações comerciais do Brasil estiveram voltadas para os países do hemisfério norte, principalmente Estados Unidos e Europa. Acertadamente, o governo Lula mudou esta direção privilegiando as transações com a África, o Oriente Médio, a China e a Índia, o que, acentue-se, é o responsável por não estarmos sofrendo os efeitos da crise da economia e das finanças americanas. Pois bem, acompanhando este movimento, são muitas as solicitações destes novos parceiros de intercâmbio com o Brasil. Seria impossível, neste momento, criar diretorias de cooperação para os novos e privilegiados parceiros do Brasil e, ao mesmo tempo, manter a cooperaçao com os parceiros tradicionais.

OPINIÃO Cláudia Palheta

Uma nova estrutura está sendo discutida. Resumidamente, é o seguinte: a Prointer teria três diretorias, uma para tratar da cooperação acadêmica, outra para a cooperação cultural e uma terceira dedicada aos programas de mobilidade internacional. Mesmo enfrentando tamanhas dificuldades, o balanço do período é favorável, pois o profissionalismo aliado ao amor à causa da UFPA tem orientado a equipe de trabalho, que recebeu novos profissionais e conservou outros, com mentalidade renovada. Assim sendo, destacamos algumas ações importantes da Prointer até dezembro de 2010: aprovação de um Projeto Capes-FIPSE com a Universidade de Michigan, a inclusão da UFPA no Instituto de Estudos Europeus, a ampliação da participação no Programa Erasmus Mundus, o convênio com o Santander Universidades e a assinatura de 17 novos convênios de cooperação. Também deveremos lançar, neste semestre, o edital para o restauro de dois casarões na Ladeira do Castelo. Um será usado como moradia para alunos de intercâmbio internacional e outro para receber professores-pesquisadores que venham em projetos de maior tempo de permanência.

claudiap@ufpa.br

O Ver-o-Peso remoldado de significações nos desfiles carnavalescos

R

ecorro às primeiras arguições de Loureiro (2007), na elaboração do conceito de conversão semiótica, a partir da modificação da função dominante na qual realça a capacidade humana de promover modificações simbólicas, para propor a observação dos processos de criação e reordenação pelos quais o Mercado Ver-o-Peso é apresentado em enredos carnavalescos das escolas de samba. O Mercado Ver-o-Peso é um dos temas mais presentes nos enredos carnavalescos de Belém, além de já ter sido representado também em escolas de samba de Macapá, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Seja por conta de seus aspectos arquitetônicos, sociais, seja pelos aspectos culturais, o Ver-o-Peso dá samba e excelentes enredos. Muitos Ver-o-Pesos já desfilaram e há sempre um novo Ver-o-Peso passeando na mente dos carnavalescos, o que pode ser comprovado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

pelas inúmeras referências cantadas pelos sambas-enredo, bem como pelas fantasias e alegorias desfiladas, percebidas e reconhecidas pelo público como representações, ainda que parciais, do Mercado como símbolo de uma identidade regional. No enredo criado por mim para o Grêmio Recreativo Carnavalesco e Cultural Deixa Falar, no ano de 2009, intitulado "Ervas da floresta, cheiros do Pará são magia na Deixa Falar", a alegoria que representava o Ver-o-Peso trazia uma única torre no lugar das quatro existentes no Mercado, e esta torre era toda revestida com vidrinhos de perfume, as conhecidas mutambas, e com fogareiros de defumação feitos de latas de leite, objetos facilmente encontrados no Mercado. Uma combinação de elementos e materiais a qual criou uma representação alegórica da constituição arquitetônica do Mercado de Ferro e de seus produtos característicos, que faziam parte do

contexto do enredo. Nos versos de Dio, Ademar Carneiro e Pedrão do Cavaco para o samba-enredo da Embaixada de Samba do Império Pedreirense, no enredo Ver-o-peso, ver-o-tempo, portal de encantos e magia, cenário vivo da cultura popular, no ano de 2004, é possível perceber a referência ao sistema de crenças presente no imaginário paraense que atribui poder curativo às ervas vendidas no Mercado, quando diz que "ervas e raízes curam e dão sorte/o cheiro do norte é sedução". Na letra do samba-enredo Eneida, amor e poesia, de 1973, para o Império de Samba Quem São Eles, Paes Loureiro dá nova significação à palavra ver-o-peso, utilizando-a para criar significações sobre o peso da história e a densidade da vida de Eneida de Morais: O tempo triste calado/Vejo a esperança vazia/Vero-peso desta noite/Ver-o-peso deste dia/ Quem São Eles/ quem foi ela/

11

Parceria para melhorar a educação básica UFPA vai acompanhar Planos de Ações Articuladas em quatro Estados

Aretha Souza

S

e o projeto de lei do novo Plano Nacional de Educação (PNE) for aprovado pelo Senado Federal, o Brasil terá que universalizar o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos, até 2016 e erradicar o analfabetismo até 2020. Nas 20 metas descritas no projeto de lei do PNE 2011-2020, o regime de colaboração entre os entes federados é tido como estratégia vital para que Estados e municípios melhorem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e ofereçam educação pública de qualidade à população. Na Amazônia Legal, pelo menos quatro Estados já estão monitorando seus Planos de Ações Articuladas (PAR) a fim de verificar os principais gargalos na educação municipal e solucionar os problemas. A convite do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a Universidade Federal do Pará (UFPA) coordena a etapa no Pará, no Maranhão, em Roraima e no Tocantins. Criado pelo Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de efetivar o regime de colaboração entre os entes federados, o PAR é o instrumento ao qual, desde 2007, estão vinculadas todas as transferências voluntárias e a assistência técnica do MEC aos municípios, Estados e Distrito Federal. Esse mecanismo permite aos

Equipe técnica da UFPA orienta gestores municipais durante todas as etapas do processo municípios identificar quais ações devem ser priorizadas pela administração municipal para melhorar a gestão educacional, possibilitar a formação de professores e profissionais de serviços de apoio escolar, o desenvolvimento de recursos pedagógicos

e a expansão da infraestrutura física da rede escolar. Feito o diagnóstico educacional, o qual inclui demandas de segmentos historicamente excluídos das políticas educacionais no Brasil, entre eles, indígenas e comunidades qui-

lombolas, as Secretarias Municipais de Educação elaboram diagnósticos da situação educacional e seus Planos de Ações Articuladas. Desta forma, município, Estado e União identificam as ações que cabem a cada um, garantindo o regime de colaboração.

Ações precisam ser articuladas desde o diagnóstico

Que a voz do povo anuncia/Eneida sempre viva/Eneida sempre cor/ Eneida sempre linda/Eneida sempre amor. Em enredos, sambas, alegorias e fantasias, os desfiles carnavalescos propõem novos significados sobre o Mercado, a feira e o signo vero-peso, confirmando o processo de conversão de sentidos, teorizado por Loureiro. O Ver-o-Peso é bom para viver, para pensar e para criar enredos carnavalescos que o representam remoldado, reformulado e convertido nas mais diversas significações da vida amazônica na avenida. Possui em si a capacidade constante de exercitar mudanças reordenadoras de funções simbólicas, possibilitando novas conversões semióticas a cada novo desfile de carnaval.

O coordenador do Plano de Ações Articuladas Amazônia, Alberto Damasceno, professor da UFPA, argumenta que os municípios ainda têm dificuldade de construir as etapas deste processo - diagnóstico, plano, monitoramento e acompanhamento. Daí a importância de lhes garantir apoio para cumprir essas tarefas. "A melhor forma de fazer isso é realizar o regime de colaboração com os três entes juntos, planejando, definindo e executando, de modo articulado, as ações que garantam a melhoria dos indicadores educacionais. Foi isso que deu certo no Pará e fez com que o FNDE nos convidasse

Cláudia Palheta é professora da ETDUFPA/ICA, coordenadora do Projeto de Extensão Artes Carnavalescas e mestranda do PPGARTES.

Em março, a equipe técnica do PAR Amazônia fará o monitoramento dos Planos de outros 215 municípios da Amazônia Legal, nos quais verificará, entre outros aspectos, se o Comitê Local do PAR funciona de fato. Esse comitê é responsável pela mobilização da sociedade e pelo acompanhamento das metas de evolução do IDEB local, por meio do exercício do controle social. A ausência ou a precariedade no funcionamento dos comitês nos municípios resultam na falta de regularidade e de frequência no monitoramento. No

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG)/ Aretha Souza (1.748-DRT/PA)/Dilermando Gadelha/Ericka Pinto (1.266-DRT/PA)/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/ Killzy Lucena/ Lenne Santos (3.413-DRT/PR)/ Maria Lucia Morais (6.261-DRT/MG) /Paulo Henrique Gadelha/ Vito Ramon Gemaque; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: RafaelaAndré/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Acervo do Pesquisador

Mácio Ferreira

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

a monitorar o PAR em outros quatro Estados da região. Somamos esforços com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação do Pará, a Secretaria de Estado de Educação e as Associações e Consórcios de Municípios, os quais já tinham uma excelente articulação com os gestores municipais. O resultado desse arranjo tornou o Pará referência nacional no monitoramento do PAR, sendo o Estado que mais apresentou demandas qualificadas ao governo federal", afirma o professor. Na primeira etapa do monitoramento e acompanhamento do PAR, 250 municípios já foram atendidos pela equipe técnica formada pela

UFPA. Mais da metade desses municípios são considerados prioritários pelo MEC, ou seja, apresentam IDEB abaixo da média nacional 3,6. Setenta e oito deles estão localizados no Pará e pelo menos dez estão no arquipélago do Marajó, uma das regiões mais pobres do Brasil. De acordo com um levantamento do MEC, 1.827 municípios apresentaram IDEB abaixo da média nacional em 2005 e 2007. Deste total, cerca de 300 estão concentrados nos cinco Estados monitorados pela rede PAR Amazônia, sendo 15 no Amapá, 12 em Roraima, 34 no Tocantins, 124 no Maranhão e 114 no Pará. A educadora Emina Santos,

também coordenadora do PAR Amazônia, explica que, durante o monitoramento, ao informar o estágio de execução das ações previstas para um determinado período, o município pode identificar os principais entraves no planejamento e corrigir os gargalos. "O monitoramento das ações deve ser permanente. É preciso ficar atento a cada etapa ou não será possível avançar. Assim, os municípios que deixarem de monitorar os seus planos não terão como revisar as ações daqui a algum tempo, e isso implica prejuízos financeiros e ausência de assistência técnica", explica a coordenadora.

Comitê local funciona como ferramenta de controle Pará, por exemplo, em 2008, a atuação do comitê era ineficiente em 80% dos municípios do Estado. O Plano de Ações Articuladas Amazônia é a espinha dorsal da política educacional, uma vez que todos os programas e ações do MEC estão contidos nele. No entanto, segundo Emina Santos, falta maior envolvimento dos prefeitos e dos próprios gestores da área no planejamento e execução dos Planos. Essa deficiência ficou clara durante o atendimento aos municípios na primeira etapa de monitoramento

realizada entre novembro de 2010 e janeiro de 2011. Entre os indícios disso, estão a baixa frequência dos dirigentes municipais nas oficinas e a ausência e ineficiência de atuação dos comitês locais nos municípios, cuja mobilização é responsabilidade do secretário municipal. Outra dificuldade relatada pela equipe técnica é a falta de hábito dos dirigentes e dos próprios técnicos municipais de acessar os sites do MEC e do FNDE e os e-mails repassados às Secretarias Municipais de Educação. Uma pesquisa realizada pela

Coordenação do PAR Amazônia, com 97 dirigentes municipais de educação do Pará, entre novembro de 2009 e janeiro de 2010, já revelava essa situação. De acordo com o levantamento, 36% dos entrevistados não dominam informática e 34% não acessam regularmente o site do MEC. Além disso, 5% dos entrevistados têm apenas o nível médio. Cursos de mestrado e doutorado parecem um sonho distante, pois a única secretária que cursava mestrado, à época, era a do município de Jacareacanga. Nenhum outro dirigente cursa ou cursou doutorado.


10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011 –

Sustentabilidade

Asfalto

C

otidianamente, deparamo-nos com buracos, rachaduras e afundamento em vias públicas. Algumas dessas avarias, além de obstruírem, geram insegurança no trânsito. Esses defeitos poderiam ser detectados antes mesmo que surgissem na superfície do asfalto? Sim. E é exatamente esse o mote da Dissertação "Investigação Geofísica por meio de radar de penetração do solo para verificação de pavimentos", a qual está sendo desenvolvida por Carolina Narjara, no Programa de Pós-Graduação em Geofísica do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob orientação da professora Lúcia Costa e Silva. A pesquisa, pioneira na Amazônia, começou no final de 2008 e deve ser concluída até julho de 2011. Seu principal objetivo é mostrar a eficiência do uso do Ground Penetrating Radar (GPR) ou Radar de Penetração do Solo, em uma tradução literal para o português, na verificação da qualidade de pavimentos novos e, também, na verificação de defeitos em pavimentos antigos nas camadas subjacentes ao revestimento asfáltico. "Como o uso do GPR ainda é pouquíssimo difundido no Brasil, a ideia da pesquisa é revelar que, com o uso do instrumento, é possível avaliar a qualidade de obras recém-construídas

Acervo do Pesquisador

Ferramenta pode evitar buracos e rachaduras em vias públicas

Pesquisadores estudam as potencialidades de frutos oleaginosos da região Ana Carolina Pimenta

A

Radar de Penetração do Solo foi utilizado para diagnosticar problemas na Travessa Mauriti e identificar os problemas nas camadas abaixo do revestimento, antes que eles apareçam na superfície", explica Carolina Narjara. Segundo a pesquisadora, o GPR funciona da seguinte forma: uma antena, colocada na superfície da área que se quer investigar, transmite

ondas eletromagnéticas de frequência entre 10 MHz e 2500 MHz, as quais se propagam nos materiais da subsuperfície, sofrendo reflexão, refração e difração. As ondas refletidas retornam à superfície trazendo informações sobre aquele meio. As informações são detectadas na mesma antena

transmissora ou em outra, próxima a esta. O processo é análogo ao dos exames tomografia, ultrassonografia e raio-x. As informações recebidas são registradas em um computador acoplado ao equipamento para serem, futuramente, processadas e interpretadas.

Ideal para prevenção, o GPR é pouco utilizado no Brasil Carolina Narjara realizou pesquisa bibliográfica sobre outros trabalhos científicos que também analisaram o uso de GPR aplicado a pavimentos e pesquisa de campo nas dependências da UFPA e em um perímetro da Travessa Mauriti, em Belém. Durante a pesquisa bibliográfica, Carolina Narjara consultou trabalhos de pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá e de alguns países da Europa. Um dos objetivos era descobrir o quão está avançado o uso do GPR nesses lugares. Neste

Aumentam alternativas de biodiesel

sentido, a pesquisadora teve acesso a estudos que tratavam tanto do controle de qualidade de pavimentos novos, como também da utilização do instrumento na identificação de defeitos em construções antigas. O resultado dessas pesquisas foi a constatação de que o GPR já é usado com regularidade no exterior, contribuindo, de maneira eficaz, para a constante melhoria da qualidade das vias públicas nesses países. Já no Brasil, o uso da ferramenta ainda é incipiente. Para a orientadora da dissertação, de fato,

estamos atrasados, em relação a outros países, quanto ao uso do GPR. "No Brasil, preocupa-se mais com o conserto de estradas. Não há uma busca efetiva para evitar os problemas de pavimentação e compreender suas raízes. É comum no País, por exemplo, buracos que são tapados voltarem a aparecer após um curto período de tempo. O GPR é o equipamento ideal para monitorar esses defeitos e executar o controle de qualidade da pavimentação, porque dá uma visão tridimensional das camadas da subsuperfície. Esse

procedimento já acontece com regularidade em alguns países", avalia a professora Lúcia Costa e Silva. Em campo, Carolina Narjara analisou um trecho do asfalto recém-construído nas proximidades do Centro de Excelência em Eficiência Energética na Amazônia (Ceamazon), nas dependências da UFPA, para avaliar se as especificações preconizadas no empreendimento foram cumpridas. Os dados ainda estão sendo analisados e os resultados irão sinalizar se a obra foi executada de acordo com o Projeto.

ndiroba (Carapa guianensis), buriti (Mauritia flexuosa), pracaxi (Pentaclethra macroloba), murumuru (Astrocaryum murumuru). Produtos tipicamente amazônicos e quase sempre associados ao seu potencial farmacêutico e/ ou cosmético. Mas pesquisas realizadas pela Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará surpreendem ao investigar as potencialidades dessas oleaginosas nativas para a produção de biodiesel. Por meio de estudos sobre processos químicos alternativos e métodos de separação e purificação, o projeto desenvolvido pelo Laboratório de Operações de Separação da UFPA (LAOS/UFPA) e coordenado pelo professor Luiz Ferreira de França busca a viabilização técnica e econômica dos óleos destas matérias-primas na produção de alternativas renováveis de combustíveis. Ao propor a criação de um banco de dados com as características físicas e físico-químicas dos quatro frutos oleaginosos (andiroba, buriti, pracaxi e murumuru), o Projeto "Investigação do potencial de oleaginosas da Amazônia como matéria-prima para a produção de biodiesel" pretende ampliar o aproveitamento da biodiversidade da

Karol Khaled

Radar verifica qualidade de pavimentação Paulo Henrique Gadelha

3

Andiroba, buriti, pracaxi e murumuru estão sendo analisados pelo Laboratório de Operações de Separação da UFPA região, gerando renda e despertando a população ribeirinha para a importância da extração sustentável desses produtos. Outro objetivo é sensibilizar os investidores para a geração de biocombustíveis a partir de espécies endêmicas da Amazônia.

O biodiesel substitui, total ou parcialmente, o óleo diesel de petróleo em motores. Sua utilização vem aumentando nos últimos anos, uma vez que se trata de uma proposta de solução ambiental, energética e social. Os especialistas apontam como

vantagens do biodiesel a economia de divisas com a importação de petróleo e derivados, a redução da poluição ambiental, a geração de empregos em áreas geográficas menos atraentes para outras atividades econômicas e, assim, a inclusão social.

Andiroba apresenta grande potencial bioenergético O Brasil tem investido em diversas matérias-primas para produção do biodiesel (mamona, soja, girassol, pinhão manso, babaçu, amendoim, pequi e outros). Na região amazônica, o dendê (Elaeis guineensis), planta exótica de origem africana, destaca-se como a principal alternativa explorada para este fim. O Pará, inclusive, é o maior produtor nacional do óleo de palma e do óleo de palmiste, oriundos da palmeira do dendê. Contudo o professor Luiz França destaca que a produção destes óleos é muito complicada e apresenta alguns aspectos negativos. "Fala-se muito em produzir combustível a partir do dendê, mas

isso é algo complicado. Quando o óleo é extraído, ele forma duas fases: uma sólida e outra líquida. Isso é algo que dificulta seu processamento. Além disso, na forma de óleo bruto, ele se degrada muito fácil", explica. Os estudos realizados pelo LAOS e pelo Laboratório de Pesquisas e Análise de Combustíveis (Lapac/UFPA) avançam no sentido de provar que as oleaginosas nativas são as mais viáveis, tecnicamente, para a produção de combustíveis. Para Luiz França, só falta vontade política e investimentos no setor. Atualmente, os órgãos de financiamento têm dado atenção a duas espécies de palmeiras

nativas da região: o inajá (Maximiliana maripa) e o tucumã (Astrocaryum vulgare). Segundo o coordenador do LAOS, os técnicos governamentais alegam que as oleaginosas nativas ainda não estão domesticadas por isso é difícil a produção em grande escala. "O dendê é uma planta exótica e foi domesticada e adaptada. Com espécies nativas, isso será ainda mais fácil. O que precisamos é unir esforços com outras instituições, como Embrapa e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), para desenvolver técnicas que aumentem a produção de diversas oleaginosas

da nossa região e, juntos, provarmos que elas também podem ser viáveis economicamente". Além de suas propriedades medicinais e fitocosméticas, o óleo de andiroba pode ser utilizado para a produção de biodiesel, sendo apontado pelo coordenador do LAOS como a oleaginosa nativa com maior potencialidade para uso bioenergético. "O óleo desta planta tem uma cadeia carbônica muito parecida com a do óleo de soja e ainda possui um alto rendimento, o que significa que ele tem uma ótima qualidade para uso na produção de biodiesel", destaca o professor.

Em Belém, Travessa Mauriti teve pavimento analisado

Murumuru é alternativa para Engenharia Aeronáutica

Outro local visitado por Carolina Narjara foi a Travessa Mauriti, em Belém. No trecho escolhido, há um antigo problema que, até o momento, não foi resolvido em definitivo. Trata-se de buracos que já receberam reparos várias vezes, porém o defeito reaparece dentro de pouco tempo, causando transtornos para os que transitam nas imediações. O GPR ajuda a compreender problemas recorrentes em pavimentos antigos, o que, neste caso, não está relacionado à qualidade do pavimento, pois, se fosse assim, os buracos não apareceriam em pontos específicos, mas em toda a superfície do asfalto. Embora ainda não haja resulta-

O professor Luiz França ainda ressalta, como aspectos positivos da andiroba, o fato de ela ser uma árvore com madeira muito boa e com múltiplos usos. "É possível explorá-la de maneira sustentável, aproveitando sua casca e seus frutos, além de utilizá-la para o reflorestamento e a recuperação de áreas degradadas". O pesquisador esclarece, também, que é possível fracionar o óleo de andiroba de modo que sejam obtidas, simultaneamente, duas qualidades distintas de óleo, um destinado à produção de biodiesel e outro para a indústria de dermocosméticos (cosméticos com propriedades medicinais). Além

dos conclusivos desse monitoramento, a pesquisadora levanta duas hipóteses a partir da análise preliminar dos dados, "a Mauriti comporta uma extensa galeria que integra o sistema de esgoto daquela área. Então, o solapamento do asfalto pode estar ocorrendo exatamente em pontos de vazamentos da tubulação da galeria. Com o GPR, será possível indicar quais são esses pontos. Outra hipótese seria que a tubulação da galeria, por estar entupida, não suporta mais o fluxo de água, o que leva à infiltração e ao transbordamento", considera Carolina Narjara. Parceria – A pesquisa conta com o

apoio de professores do Laboratório de Geofísica Aplicada (LGA) da Universidade de Brasília (UnB). Essa parceria, de acordo com a professora Lúcia Costa e Silva, é antiga. Entre os projetos já implementados pelas duas universidades, destaca-se a busca pelos restos mortais dos envolvidos na Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1972 e 1974. O GPR não se limita à verificação de pavimentos. De acordo com as pesquisadoras, a ferramenta também é aplicada em investigações arqueológicas, prospecção mineral e de água subterrânea, investigação criminal, entre outras áreas. Depois de concluído e pu-

blicado, o estudo poderá contribuir para o desenvolvimento local, com a possível popularização do instrumento entre os órgãos do município. "Essa dissertação tem como função mostrar o funcionamento do GPR em pavimentos. Isso, praticamente, ainda não havia sido feito em lugar nenhum no Brasil. Na Amazônia, é inédito. Diante desse contexto, seria interessante que a pesquisa pudesse auxiliar a popularização do instrumento em órgãos públicos, como na Secretaria Municipal de Urbanismo (SEURB), para que as competências que lhes cabem sejam cumpridas com mais eficiência e rapidez", conclui Lúcia Costa e Silva.

disso, a massa obtida pela extração do óleo pode ser aproveitada como biomassa energética. Ribeirinhos e agricultores locais poderiam estar envolvidos no cultivo em escala comercial das oleaginosas nativas, indo ao encontro dos anseios do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, que enfatiza a inclusão social em toda a cadeia produtiva do biodiesel. Existe, inclusive, uma proposta para a implantação de um projeto piloto de cultivo em Cametá (Pará), o qual poderá beneficiar até cinco mil famílias. A ideia é explorar não somente os frutos, mas também outros

bioprodutos gerados a partir das oleaginosas nativas, já que elas são subutilizadas na atualidade. O resíduo obtido da prensagem do buriti, por exemplo, é riquíssimo em fibras, betacaroteno e vitaminas, e pode ser base para a produção de alimento e ração animal. O pracaxi talvez seja mais útil à indústria farmacêutica, dadas suas propriedades cicatrizantes. O que o LAOS faz é, justamente, inventariar esses frutos, de modo a determinar seus componentes, suas características (quantidade de óleo, água, proteína, minerais, entre outras), a qualidade dos óleos e suas principais potencialidades de uso. Ainda há muito a ser estudado.

O murumuru, por exemplo, descrito pelo professor Luiz França como uma joia rara da Amazônia, tem inúmeras potencialidades e necessita ser investigado com mais profundidade. O engenheiro explica que a pasta obtida do fruto é formada por ácidos graxos de cadeias curtas e médias, o que dá origem a um biocombustível mais específico. Assim, ele apresenta propriedades parecidas com as do querosene utilizado nas turbinas de aviões. "Produzido em grande escala, o biodiesel do murumuru pode, por exemplo, substituir o derivado do petróleo e ser uma alternativa mais limpa para a Engenharia Aeronáutica", acredita Luiz França.


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011 –

Terremotos

Ciência

Sensores irão monitorar interior do País

Cooperação técnica garante clonagem

UFPA, UNOPAR e USP querem assegurar sobrevivência das espécies

O professor Otávio Ohashi, na fazenda da UNOPAR, com dois indivíduos clonados da raça girolando um oócito enucleado (célula germinativa feminina). "Você coloca o núcleo de uma célula adulta dentro de um oócito, que se desenvolve e vira um embrião clonado. Este embrião é introduzido em uma receptora que, caso fique gestante, dará origem ao clone", explica o professor

Moysés Miranda, um dos coordenadores da pesquisa na UFPA. Cópias de animais geneticamente idênticos podem ser criadas por meio da clonagem, em um intervalo de tempo mais curto do que pela reprodução natural. Para a agroindústria, isso acelera

o ganho genético de animais com desempenho zootécnico comprovado. A clonagem se torna, assim, uma ferramenta para o desenvolvimento de estratégias de melhoramento animal. A meta dos pesquisadores é atingir a produção de um rebanho inteiro de Irãs.

Próximo passo é a produção de animais transgênicos Segundo Otávio Ohashi, chefe do Laboratório de Fecundação in Vitro da UFPA e coordenador geral do Projeto, a escolha da raça girolando veio em função de um outro projeto já desenvolvido na fazenda da UNOPAR, o qual consiste no investimento para a multiplicação desses animais. Os touros da raça girolando possuem dupla-aptidão: têm boa resistência a alterações de temperatura e são bons produtores de leite. "A raça, assim, tem grande potencial para se adaptar a climas mais quentes e isso é muito bom, visto o seu valor econômico. É um tipo de animal que compensa

ser clonado", afirma o pesquisador. O investimento total da pesquisa, até agora, chega a R$ 2,5 milhões. A clonagem dá origem a um animal que nasce como se fosse um bebê prematuro: precisa ir para a incubadora e receber todos os cuidados neonatais. E as técnicas da neonatologia em bovinos estão sendo desenvolvidas recentemente, tendo surgido exatamente com os avanços da clonagem. O que existe entre UFPA, UNOPAR e USP é uma soma de esforços nesta direção: fazer com que o bezerro nasça e fique saudável. Assim, a pesquisa busca

contribuir para a cadeia produtiva agropecuária. O fato de poucos animais clonados permanecerem vivos após o nascimento tem sido o atual desafio da pesquisa. "Até então, o que nós tínhamos eram poucos animais chegando até a fase de nascimento. Essa dificuldade já foi ultrapassada, pois, na última bateria de clonagens, chegamos ao resultado de dez animais clonados nascidos. Dez nascimentos de clone é um resultado que fica realmente acima da média. A perda que tivemos, dessa vez, foi pós-nascimento, por questões referentes

ao ambiente externo e ao manejo de animais recém-nascidos", ressalta Moysés Miranda. O objetivo final do Projeto é a produção de animais transgênicos (modificados geneticamente), considerada verdadeira biofábrica, com grande potencial de aplicação em diversas áreas. Segundo o pesquisador, o animal transgênico é aquele que possui um gene de interesse em seu genoma. O genoma é o material que está dentro das células e definem as características físicas ou psicológicas de qualquer ser vivo, de modo que cada ser tem um genoma único.

Novos resultados poderão beneficiar a comunidade Produzir um animal transgênico implica conferir a ele um gene que não lhe pertence e que é inserido em seu genoma por meio de técnicas laboratoriais. A intenção é criar fêmeas bovinas transgênicas, que possam produzir no seu leite alguma proteína de interesse chamada biofármaco, como a insulina humana, o hormônio do crescimento humano ou os fatores de coagulação, entre outros. "Podemos colocar diversos tipos de proteínas no leite desse animal para que sejam produzidas em larga escala, depois extraídas e comercializadas, tornando-as mais acessíveis à população em função do aumento de escala de

Hoje, a Região Nordeste apresenta o maior número de ocorrências

Alexandre Moraes

I

rã é nome de país e até de gente, mas é também nome de touro. Isso mesmo, um touro da raça girolando, que foi clonado devido a uma parceria de cooperação técnica na área de Biotecnologia da Reprodução entre a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) e a Universidade de São Paulo (USP). Desde junho de 2010, nasceu um total de 13 animais (vacas e touros). Irã é fruto de uma fase do projeto em que onde ocorreram 25 transferências de embriões já clonados. O touro original, falecido naturalmente no início do ano, deu origem a 10 animais idênticos a ele, reproduzidos em laboratório, dos quais três sobreviveram. A pesquisa é liderada pelo Laboratório de Fecundação in Vitro, pertencente ao Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, responsável pela produção dos embriões clonados, tem o apoio da UNOPAR, instituição particular proprietária da fazenda que serve às atividades da sua Faculdade de Medicina Veterinária; e também conta com a colaboração acadêmica da USP. Qual o resultado esperado? O domínio da técnica da clonagem para que mais animais permaneçam vivos no período pós-nascimento. Clonagem é a produção de indivíduos geneticamente iguais. A técnica consiste em um tipo de reprodução assexuada, ou seja, feita de forma artificial, que utiliza uma célula da pele do animal adulto para introduzi-la no interior de

Acervo do Projeto

Jéssica Souza

9

produção", explica o professor Moysés Miranda. O ponto principal da parceria institucional se resume em "transferência de tecnologia". "Trata-se da soma de esforços entre instituições para que o conhecimento não fique restrito às estantes e prateleiras destinadas a dissertações e teses. Não adianta dominarmos as teorias se não temos como colocá-las em prática por falta de infraestrutura", continua Otávio Ohashi. De acordo com o pesquisador, também é importante que as pesquisas possam trazer resultados que beneficiem a comunidade,"se não houver esse retorno, não haverá mudança social".

Outra pesquisa desenvolvida com a parceria UFPA e UNOPAR é o Projeto de "Termotolerância da Raça Girolando", o qual envolve professores e alunos das duas instituições. Otávio Ohashi explica que há uma grande demanda por esse tipo de touro, que representa um significativo diferencial para a agropecuária, especialmente em países tropicais, onde as temperaturas são mais elevadas. Este, inclusive, foi um dos motivos para a escolha do touro Irã como exemplar a ser clonado. A fundação de um rebanho com animais de característica termotolerante é o que se pretende atingir com as técnicas da fecundação in vitro e da clonagem.

A linha básica de produção de pesquisa do Laboratório do ICB é a produção in vitro de embriões. No momento, as investigações estão desenvolvidas para o melhoramento da qualidade desses embriões, tendo em vista a criopreservação e a clonagem. Uma vez dominada a clonagem, é possível passar para a etapa da transgenia, passo seguinte a ser dado na parceria entre a UFPA e a UNOPAR. O Laboratório também já vem desenvolvendo, com resultados positivos, uma vertente de pesquisa com células tronco adultas, visando à terapia celular e a sua utilização para a melhoria da técnica de clonagem em nível de laboratório.

Novos softwares têm permitido registrar com maior precisão a duração, magnitude e intensidade dos abalos Vito Ramon Gemaque

C

onta a lenda que, quando a cidade de Belém foi fundada, ela foi construída sobre a "casa" da cobra-grande, ou boiuna, como chamavam os índios. Os primeiros missionários que vieram à cidade decidiram esmagar a cobra. Para isso, construíram a atual Catedral da Sé, com o altar e a imagem de Nossa Senhora em cima da cabeça da cobra e sobre a calda da boiuna ergueram o altar da Basílica de Nazaré. Os padres tentavam simbolizar a subjugação do mal (a cobra) pela Virgem Maria.

Na madrugada de 12 de janeiro de 1970, Belém foi sacudida por um tremor de terra. Os moradores disseram que o terremoto havia sido causado pela cobra-grande que tinha se mexido. Os mais aflitos falavam que caso a cobra se libertasse, a cidade seria jogada na Baía do Guajará e todos os habitantes morreriam. A explicação para o fenômeno reforça o mito, mas não responde às questões científicas da causa do terremoto. Aliás, entender essa questão não é tarefa fácil ou simples. Os terremotos, também conhecidos por sismos, são eventos naturais

do nosso planeta. Eles são gerados por movimentos bruscos da crosta terrestre, ocasionados pela natureza ou por alguma ação humana (sismos induzidos). O professor de Geofísica e pesquisador de sismos, Lourenildo da Costa Leite, da Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que todo lugar do planeta já teve algum tremor de terra, em menor ou maior intensidade. Eles não são sentidos quando acontecem em grande profundidade na crosta terrestre descendente ou quando são de pequena intensidade. Os efeitos dos terremotos já

são conhecidos. Além de destruição e mortes, como no caso recente do Haiti, eles podem trazer efeitos secundários, mas nem por isso são mais amenos, como tsunamis e incêndios. Estudá-los como forma de prevenção é fundamental. A ciência responsável pelo estudo dos terremotos é a Sismologia, palavra derivada do grego (seismos significa abalo + logos tratado). A Sismologia faz parte das Geociências, ou ciências da terra, que são os ramos científicos responsáveis por estudar a estrutura e a dinâmica do globo terrestre.

No Brasil, tremores de terras têm intensidade de 0 a 3 Com os avanços científicos, já é possível explicar a origem dos terremotos. No entanto ainda não é possível prever quando e onde ocorrerão os sismos. Sabe-se, hoje, que só existem terremotos porque a camada superior do planeta Terra é frágil. "A crosta terrestre é rúptil, isso significa que ela acumula tensão, deforma e quebra. O terremoto tem sua origem natural nestas fraturas geológicas", explica Lourenildo Leite.

A crosta do planeta faz parte da Litosfera, subdividida em blocos denominados de placas tectônicas. A maioria dos terremotos tem origem na colisão dessas placas. Poucos casos ocorrem em consequência das erupções de vulcões. O exemplo do terremoto de 1970, em Belém, contradiz a crença de que não há tremores de terra no Brasil. Segundo o pesquisador, no País, os terremotos são pequenos, com intensidade de 0 a 3, conheci-

dos como microterremotos. Considera-se o Brasil, sismicamente, não ativo. Isto é explicado porque o país está no meio da placa tectônica sul-americana, formada por todo o território sul-americano que começa no meio do oceano Atlântico - entre o Brasil e a África -, e se estende até a Cordilheira dos Andes do Chile e da Argentina e à Colombia/Venezuela. Apesar da "calmaria", já ocorreram muitos microterremotos

no nordeste do Brasil. Na década de 1980, "chegaram a ser registrados 400 terremotos por dia, movimentando o turismo local", relata o pesquisador, que visitou a região na época. Além disso, pequenos tremores são comuns nos Estados do Sudeste, e sismos induzidos são causados por atividades produtivas, como a exploração de petróleo, o bombeamento de água das cidades e as barragens para as hidroelétricas.

Avanço da tecnologia contribui com captura de dados Os microterremotos podem ser causados por falhas geológicas ou serem originados pela ação humana. As fraturas das placas podem ter poucos centímetros ou milhares de quilômetros. No Nordeste, há uma falha denominada "Falhamento de Pernam-

buco", que se estende desde o meio do oceano Atlântico até o Maranhão. Por mais que tenham pouca intensidade, os microterremotos causam danos aos dutos de água e petróleo e às construções de má qualidade. Um fator que contribui para o

estudo dos tremores de terra são os registros que permitem medir a duração, a magnitude e a intensidade dos abalos. Com a tecnologia, a captura dessas informações foi aprimorada. Instituições de pesquisa, entre elas o Observatório Nacional, estão

criando uma rede nacional de sismógrafos, instalando sensores em todo o país. Os equipamentos ficarão em pontos estratégicos e os dados coletados serão compartilhados com a comunidade acadêmica. A UFPA é candidata a atuar no monitoramento.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011 –

Comunicação

Geoprocessamento

Gestores municipais são capacitados para uso de software

Karol Khaled

Maranhão tem polo do Projeto

Assentamentos precários: com o TerraView, é possível mapear áreas da cidade com mais carências de infraestrutura Dilermando Gadelha

O

Brasil, em 2011, passou pelo maior desastre natural da sua história, o qual, até o início do mês de fevereiro, já tinha contabilizado mais de 800 mortos e 500 desaparecidos. A tragédia aconteceu na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, em cidades como Nova Friburgo e Teresópolis, onde as chuvas destruíram milhares de casas em encostas de morros, lugares sem infraestrutura adequada para habitação. Na Amazônia, a configuração dos problemas habitacionais não é diferente dos da realidade dos Estados do sudeste do País. Aqui, não

possuímos morros prestes a desabar, mas temos pessoas morando em condições precárias nas beiras de rios, igarapés e nascentes. Essas são tragédias silenciosas, como define a professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará e coordenadora do Programa de Apoio à Reforma Urbana (PARU), Maria Elvíra Rocha de Sá. "Quando desmorona um morro, há como saber quantas pessoas morreram, quantas desapareceram. Mas quantas pessoas morrem por contaminações, por doenças propagadas pelo meio hídrico nas beiras de nossos igarapés e rios?", questiona a professora. É para contribuir com a pauta de lutas sociais pela reforma urbana

e com os governos municipais na proposição e implementação de políticas urbanas dos Estados do Pará e Maranhão que a professora Maria Elvíra de Sá coordena, desde 2007, o projeto que visa à utilização de geotecnologias como ferramenta para a elaboração de planos habitacionais. Esta iniciativa, em sua segunda versão, refere-se ao Projeto "Capacitação de Agentes Públicos no Uso do Software TerraView para Gestão das Políticas Municipais de Habitação de Interesse Social", aprovado no Edital PROEXT MEC/CIDADES 2009, com vigência até agosto de 2011, o qual propõe a capacitação de gestores municipais no uso de software livre de geoprocessamento.

Ferramenta ajuda no planejamento habitacional A reforma urbana é uma luta que vem sendo travada a um longo tempo pelos movimentos sociais que buscam o direito à cidade. Na Constituição de 1988 e na aprovação da Lei nº 10.257/ 2001, popularizada como Estatuto da Cidade, esta luta ganhou visibilidade. "A Constituição de 1988 traz uma novidade para os brasileiros, dois artigos tratando, especificamente, da Política Urbana e, ao tratar da política de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Público municipal, prevê, por exemplo, a implementação de instrumentos de planejamento, como os Planos Diretores, mas também aborda princípios norteadores para o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade", explica a professora Maria Elvíra de Sá. Ainda para a professora, essa luta pela reforma urbana existe porque as pessoas que não possuem poder

aquisitivo para comprar imóveis em locais com boa infraestrutura moram em situação precária nas encostas de morros e beiras de igarapés. É papel do governo, em todas as esferas, garantir a essas pessoas uma moradia digna. Então, aí entram as geotecnologias. Conhecendo profundamente os territórios municipais, os gestores podem formular diagnósticos no âmbito da habitação, da regularização fundiária, do saneamento e do transporte. Foi justamente o incentivo para que os municípios qualificassem técnicos para a elaboração de Planos Locais de Habitação de Interesse Social que norteou as ações do Projeto. "Nós queríamos que os gestores compreendessem a importância não só de dominar a ferramenta, mas também de saber o que fazer com ela", afirma a professora. Um bom exemplo do uso das geotecnologias para cartografar o

território está na dissertação defendida pelo professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) Welson de Sousa Cardoso, estatístico e colaborador do Projeto. Em seu trabalho, Welson Cardoso utilizou o software livre TerraView para elaborar o diagnóstico habitacional e o mapeamento dos assentamentos precários do município de Belém, possibilitando a construção de indicadores socioespaciais urbanos. "No mapeamento de Belém, identificamos todos os assentamentos precários, ou seja, áreas que não dispõem de infraestrutura. São 447 assentamentos precários em todos os bairros da cidade e eles não estão localizados apenas em áreas de baixada. Com os mapas temáticos que construímos, percebemos que, em todo o território de Belém, mais de 50% dos domicílios estão alocados nesse tipo de assentamento", explica Welson Cardoso.

A primeira fase do Projeto aconteceu em 2007, apenas no Estado do Pará. Representantes de 40 municípios vieram à UFPA, escolhida como o primeiro polo de capacitação, para aprender a utilizar o TerraView, software criado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o qual alimenta o Sistema Nacional de Informações das Cidades (SNIC), o Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (SNIU) e o Sistema Nacional de Indicadores de Saneamento (SNIS), todos disponibilizados de forma livre pelo Ministério das Cidades. Por intermédio de um banco de dados, o TerraView permite a criação de mapas temáticos de municípios das mais diversas regiões do Brasil. A capacitação acontece durante uma semana, em período integral, em laboratórios de informática. "O curso tem momentos teóricos e práticos. Assim, a capacitação deve acontecer necessariamente num laboratório, porque os técnicos vão exercitando os conceitos teóricos e aprendendo a navegar no software, conhecendo os sistemas", explica a professora Maria Elvíra. Após o curso, os participantes recebem um kit contendo o software e o manual para instalação. A primeira capacitação foi ministrada pelo professor Joaquim Queiroz, da Faculdade de Estatística da UFPA e doutor em Geoprocessamento. Em 2010, o Projeto firmou parceria com o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) para expandir sua atuação até o Estado do Maranhão, já que o Ministério das Cidades estipulou que 38 dos 40 municípios a serem capacitados seriam desse Estado. Segundo a professora Maria Elvíra, como o SIPAM já tinha um trabalho que também qualificava gestores municipais do Maranhão no uso de geotecnologias - o SIPAMCidade -, a parceria ia viabilizar a expansão do Projeto. A primeira capacitação aconteceu na cidade maranhense de Pinheiro. No total, 23 técnicos de vários municípios, como São Bento, Guimarães, Bacurituba e Santa Helena, participaram do curso, com ministrantes do próprio SIPAM e da equipe do Projeto, sendo este responsável pela abordagem de conteúdos específicos sobre a elaboração dos Planos Locais de Habitação de Interesse Social. O processo de seleção dos técnicos enviados para os polos de capacitação é feito pelo prefeito de cada cidade. O SIPAM faz a articulação com o governo do Maranhão pela Secretaria de Meio Ambiente e esta, então, mobiliza as prefeituras municipais.

Segunda fase da Rede Darwin Campi Profissional e da Saúde serão contemplados

Killzy Lucena

A

tualmente, possuir uma conexão de baixa velocidade na Internet pode significar estresse e prejuízos. Nessas condições, atividades de maior complexidade e até o tráfego de dados em sistemas com altas requisições são um transtorno para o usuário. Até pouco tempo, a Universidade Federal do Pará (UFPA) passava por situações como essas ao utilizar a conexão de 100 Mbps, taxa baixa perto do 1 Gbps que, agora, é alcançado com a instalação da Rede Darwin. O Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) já disponibilizou a Rede em todo o Campus Básico e, nos próximos seis meses, ela estará avançando para os 33 prédios dos Campi Profissional e da Saúde. A Rede Darwin é uma rede de comunicação de dados construída em uma arquitetura de anéis de fibra óptica, a qual promove qualidade e agilidade na conectividade e segurança da rede de informação da Instituição. Uma taxa de transmissão de cerca de um gigabyte por segundo (1Gps) passa a ser possível. Os serviços de substituição total dos cabos de fibra óptica dos Campi Profissional e da Saúde foram finalizados em novembro de 2010 e, no mês de dezembro,

Alexandre Moraes

Tecnologia em prol do desenvolvimento

EM DIA

Em seis meses, todos os 33 prédios do Profissional estarão na nova Rede começou a migração dos prédios, um a um, para a nova rede. Todos os 33 prédios já possuem a infraestrutura óptica pronta, com exceção de dois prédios, que estão em reforma e construção. De acordo com Márcio Aragão, coordenador da área de Suporte e Infraestrutura do CTIC, agora se inicia a fase de instalação dos novos equipamentos de rede, os quais viabilizarão

a conexão do prédio à Rede Darwin. A instalação dos equipamentos e a migração do prédio para a nova rede são feitas em um passo único, conforme adequação técnica e agendamento prévio. Márcio Aragão é uma das pessoas à frente do trabalho. Junto com ele, atuam, ainda, o professor Eloi Favero, diretor do CTIC; e Marcelo Moraes, analista da área de Suporte e Infraestrutura.

de aula) da UFPA ao núcleo da rede no CTIC. A antiga rede da Universidade funcionava com um cabo de fibra óptica ligando cada unidade ao CTIC e, no caso de um rompimento desse cabo, a unidade ficava sem acesso à rede até o cabo ser recomposto. "A Rede Darwin foi construída na topologia anel, na qual dois cabos, seguindo caminhos diferentes, atendem cada unidade. Neste caso, se um cabo romper, a unidade continua conectada pelo outro cabo e não perde acesso à rede. Isso nos dá tempo para recompor o lado danificado. O sistema é tão eficiente que o usuário não percebe que houve o rompimento", explica o coordenador. Em termos de taxas de trans-

missão, o salto na capacidade de tráfego da Rede Darwin é significativo: se, no ambiente antigo, a maioria dos pontos operava a um limite máximo de 100 Mbps, agora, todos eles contarão com 1 Gbps. "Futuramente, a depender da necessidade de alguns perfis de usuários, poderão ser suportadas velocidades de até 10 Gbps. Além disso, os equipamentos de rede utilizados são de ponta, em termos de qualidade, para atendimento de redes de grande porte, como a da UFPA", avalia Márcio Aragão. O aumento na velocidade possibilitará, por exemplo, que um laboratório envie uma quantidade maior de dados para ser processada por servidores de outros laboratórios, dentro da Universidade.

Desempenho, estabilidade e disponibilidade Entre os benefícios, estão maior desempenho, estabilidade e disponibilidade. A rede óptica foi totalmente construída numa arquitetura de anéis de fibra óptica, os quais saem do CTIC pelo lado A (próximo à avenida Perimetral) e retornam pelo lado B (próximo ao rio Guamá). Desta forma, os prédios se conectam ao CTIC por dois caminhos distintos. A Rede Darwin também se destaca pelo leque de funcionalidades ofertadas no suporte às aplicações e pelas ferramentas de gestão embutidas, reforçando a disponibilidade e o nível de desempenho.

A Revista Novos Cadernos NAEA está recebendo, até o dia 15 de abril, artigos para publicação no volume 14. Os trabalhos serão submetidos à Comissão Editorial por sistema eletrônico. Os artigos devem cumprir as Normas Editoriais da Revista. Mais informações: (91) 3201-8515 e e-mail: revistancnaea@ufpa.br

Curso de verão

Ampliação atende às necessidades acadêmicas A Rede Darwin foi criada em 2009 com o projeto de rede de fibras ópticas e especificação de equipamentos de rede. Esses equipamentos são conhecidos como switches e servem para interligar computadores e impressoras dentro de uma rede local. Para efetuar a gestão geral de todo o parque de switches, foi adquirido um software de gerência. Esta ferramenta é capaz de elaborar relatórios diversificados para subsidiar o trabalho dos administradores da rede no CTIC, assim como monitorar todo o tipo de evento ocorrido nos switches. Segundo Márcio Aragão, no caso da Rede Darwin, são utilizados switches modernos e de grande desempenho para interligar as unidades (institutos, laboratórios e pavilhões

Publicação

Além da implantação da rede óptica em si, foi contratado o serviço de organização de cabeamentos lógicos locais, os quais receberão as novas conexões ópticas. Com isso, atacouse um problema detectado na Rede Darwin fase 1: parte significativa das instalações de rede das unidades possui graves deficiências na organização do cabeamento de rede, o que reduz os efeitos benéficos da nova rede. Na fase 2, o cabeamento lógico foi organizado, o que garante os benefícios e também torna o processo de implantação muito mais rápido e simples.

Além da conectividade padrão entre as unidades e mais a Internet, a Rede Darwin está sendo construída para suportar aplicações complexas, típicas do meio acadêmico, mediante o emprego de recursos de QoS (Qualidade de Serviços), que efetivam a priorização do tráfego. Márcio Aragão diz que, deste modo, além dos serviços baseados em VoIP (Voz sobre IP), poderão ser contemplados os requisitos especiais impostos pela canalização de grandes volumes de informações, como em pesadas trocas de dados a partir dos departamentos de Física e Biologia.

A Universidade de Tours está ofertando cursos de verão destinados a estudantes e professores estrangeiros. Os programas abordam língua, civilização e culturas francesa e europeia. As inscrições podem ser feitas até 31 de março. Há uma quantidade limitada de bolsas oferecidas pelo Conseil Général d’Indre-et-Loire. Para mais informações, acesse http:// www.univ-tours.fr/

Doutorado I A Comissão Fulbright está recebendo inscrições para bolsas de doutorado para o Programa The International Fulbright Science and Technology Award for Outstanding Foreign Students. Os candidatos devem ser jovens graduados, talentosos, inovadores e com excelente desempenho acadêmico.

Doutorado II As três melhores candidaturas brasileiras participarão de competição, em nível internacional, para as 40 bolsas de doutorado oferecidas pelo Programa nas melhores universidades dos Estados Unidos. As inscrições ficam abertas até 30 de abril de 2011. Mais informações: http://www.fulbright.org.br

Permanência Estão abertas, até 25 de março, as inscrições para solicitação de Bolsa Permanência, cujo objetivo é auxiliar, financeiramente, estudantes em situação de vulnerabilidade social. Serão disponibilizados 1.197 auxílios, entre renovação e novos candidatos. Para mais informações: (91) 3201-7262 / 3201-7268 e e-mail: daie_proex@ufpa.br

Equipamentos O Hospital Bettina Ferro recebeu novos equipamentos para o Laboratório de Patologia. O objetivo é agilizar e ampliar o atendimento do Laboratório, cujo espaço servirá também para a realização de pesquisas dos estudantes da Faculdade de Odontologia da UFPA. Atualmente, o Laboratório realiza cerca de 70 laudos e diagnósticos por mês.

5


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2011 –

7

Meio ambiente

Ocupações desordenadas ameaçam praias do litoral paraense Pesquisadores da UFPA buscam soluções que visam proteger esse patrimônio natural Praias, rios, furos, igarapés, mangues e dunas são atrativos naturais do município de Salinópolis, um dos mais procurados durante o verão paraense e as festas de fim de ano. O cenário seria perfeito, não fosse a ocupação desordenada que já apresenta seus efeitos nocivos, como a contaminação das águas subterrâneas provocada por construções irregulares. O alerta é do professor Milton Matta, doutor em Hidrogeologia. Ele afirma que a água retirada dos poços construídos em residências, hotéis e pontos comerciais é imprópria para o consumo e representa uma bomba-relógio para os órgãos de saúde. Formado por rochas porosas e permeáveis, o aquífero serve como reservatório que abastece rios e poços artesianos e pode ser utilizado como fonte de água para consumo. Na região de Salinas, o aquífero superior está comprometido pelo processo de salinização das águas. Obras, como o calçamento da orla da praia do Maçarico e a construção de hotéis, estão contribuindo para esse processo. "Os aquíferos são abastecidos com a água da chuva e, como a área ficou impermeabilizada por essas construções, menos água vai entrar. Com menos infiltração de água doce, a

Milton Matta

Eduardo Brandão

Poços rasos deixam água imprópria para o consumo

Hotéis, residências, barracas e carros são responsáveis pela mudança no cenário natural de Salinas cunha salina vai penetrando na água, e tornando-a salgada, imprópria para consumo", explica. Outro problema apresentado por Milton Matta está na abertura desenfreada de poços artesianos, a maioria tem perfuração inferior à re-

comendada pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará (CREA-PA). São poços rasos, que usam o aquífero superior, comprometido pela salinização. Além disso, a profundidade fica vulnerável a fossas, lixo hospitalar, posto de gasolina, en-

tre outras fontes potenciais de contaminação. "Vou apresentar denúncia ao Ministério Público do Estado, com a proposta de se criar uma lei municipal que proíba a construção de poço com profundidade inferior a 20 metros", diz o professor.

Milton Matta

Eduardo Brandão

Orla: esgoto, lixo e pedras fazem parte da paisagem Muito procurada durante o verão, Atalaia está entre as praias que vêm sofrendo com os abusos da interferência humana Ericka Pinto

A

s praias do litoral paraense são um grande atrativo para quem busca fugir do estresse da vida urbana. Bastam algumas horas de viagem para contemplar a natureza. O destino? Você escolhe. Mosqueiro, Salinas, Alter do Chão, Ajuruteua e Algodoal costumam estar entre as praias mais procuradas pelos paraenses e turistas do Brasil e do exterior. A diferença entre esses lugares ainda está no processo de ocupação urbana, alguns com maior intensi-

dade. É o caso de Salinas, onde os efeitos da interferência humana já são visíveis, como construções irregulares de hotéis, residências de veraneio e barracas, além de calçamento e pavimentação inadequados. Ajuruteua, aos poucos, caminha para o mesmo processo. Quase toda a extensão da praia é ocupada por barracas e a estrada que dá acesso ao local provocou o desaparecimento de grande parte do mangue, uma vez que a pavimentação impediu que a água das marés chegasse ao manguezal na região, transformando parte dos bosques de mangue em um

cemitério verde. Em Algodoal, apesar da grande procura no período de férias escolares, ainda é possível observar maior conservação do ambiente natural. Eduardo Brandão, pesquisador do Laboratório de Avaliação e Medidas do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN/UFPA), pós-graduado em Gestão Pública e Governo, faz uma previsão nada otimista afirmando que, em pouco tempo, o cenário será igual ao dos outros lugares. De acordo com Eduardo Brandão, a soma dos fatores naturais e antrópicos coloca em risco o futuro

dessas praias. "A situação reflete dois fatores principais: por um lado, sabemos que as mudanças climáticas estão provocando a aceleração de algumas dinâmicas, tais como a ocupação das áreas de manguezal pelas areias das praias e o aumento da erosão. Por outro lado, a demanda apresentada para esses territórios vem agravando situações recorrentes em todas elas, como lixo, ocupações irregulares em área de risco, esgoto sem tratamento, conflitos fundiários, entre outros. Aliado a esses dois fatores, está a ineficácia da gestão pública", critica.

Projeto prevê a criação de política nacional de proteção Para tentar reverter os efeitos negativos provocados por esses fatores (natural e antrópico), a Universidade Federal do Pará tornou-se parceira do Projeto Orla, uma iniciativa do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). As ações do Projeto visam implementar uma política nacional elaborada de forma compartilhada, articulando ações de incentivo ao turismo e de proteção ao meio am-

biente, por meio de planejamento do uso e da ocupação urbana da orla brasileira. Inicialmente, o Projeto Orla foi planejado para atender as demandas da zona costeira marítima brasileira, a qual possui diferenças estruturais em relação às orlas flúvio-estuarinas da Região Norte. Assim, pesquisadores e técnicos da UFPA precisam discutir com os Ministérios do Planejamento e do Meio Ambiente a adaptação metodológica

aos ambientes estuarinos e fluviais da Amazônia. Para promover a revisão do protocolo metodológico, os pesquisadores da UFPA percorreram vários municípios, identificando os problemas ambientais existentes. Os encontros também contaram com a participação de representantes de vários órgãos governamentais (federal, estadual e municipal), de institutos de pesquisa e de organizações da sociedade civil.

Eduardo Brandão ressalta que é preciso um esforço conjunto de vários órgãos governamentais e não governamentais e da sociedade em geral, para colocar o projeto em prática, "precisamos evitar a perda do patrimônio público e privado existente no litoral, bem como o comprometimento da renda e das condições de sobrevivência daqueles grupos que sobrevivem dos recursos naturais e das dinâmicas, como o turismo".

Banheiros construídos de forma irregular transformam trechos da praia em esgoto a céu aberto De acordo com Milton Matta, três alunos de doutorado vão desenvolver pesquisas na costa nordeste do Estado para a elaboração de propostas de modificações quanto ao abastecimento de água - e a preservação das praias de Salinas. Para isso, os pesquisadores farão o levantamento da quantidade de água que está sendo retirada dos poços, o cadastro e a medição da vazão. A partir desse monitoramento, será possível estabelecer a vazão máxima e evitar que novos poços sejam abertos aleatoriamente. "O poço de um hotel, por exemplo, daria para abastecer um bairro. Mas todo mundo quer fazer seu poço particular. A permissão tinha que ser dada pela

prefeitura ou por um órgão competente", critica. Segundo o geólogo, para construir um poço, é necessário que ele tenha registro no CREA, por ser uma obra de Engenharia Hidrogeológica. "Essas obras não usam canos adequados, os que possuem filtros, e sim canos de PVC branco, furados à mão, os quais deixam passar água e contaminação", alerta. Outro problema ambiental, encontrado no município, é o esgoto a céu aberto dos banheiros das barracas. Construídas nas praias, as fossas irregulares contaminam o ambiente com o despejo de fezes e urina. Mais pedra, menos areia – Não

é só a contaminação das águas, o esgoto e o lixo que ameaçam as praias de Salinas. O aparecimento de pedras na areia é cada vez mais frequente e pode comprometer a beleza natural do lugar. "Há 15 anos, essas pedras não existiam ali, era só areia. O aporte de areia que está vindo para a praia é menor que a quantidade retirada", explica Milton Matta. De acordo com o geólogo, a ação do homem está modificando a dinâmica marinha nesta área e, como consequência, a areia está dando lugar às rochas. Os pesquisadores ainda não sabem o que é causa geológica - resultado dos ciclos na dinâmica marinha - e o

que realmente está relacionado à interferência humana no ambiente, como a ocupação de carros, barracas, hotéis e residências. A praia do Atalaia é o exemplo mais visível das mudanças no cenário natural de Salinas. Por ser a mais procurada pelos banhistas, poderá desaparecer em pouco tempo. Aos poucos, outros lugares estão sendo ocupados pelo homem, como a praia da Corvina, onde já é possível observar a presença de barracas. "Mas não é só nessa região que temos esse problema. Ajuruteua e Algodoal, importantes do ponto de vista turístico, apresentam o mesmo processo de ocupação e interferência humana", diz Milton Matta.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.