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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008

Entrevista

Mulheres permanecem à margem da arena política

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VI • No 66 • Novembro, 2008

Aumenta o trabalho informal

Cotas não garantem participação feminina nos espaços dedicados à prática da “grande política” no Brasil

O

aquecimento da economia não foi suficiente para diminuir o crescimento do trabalho informal nas grandes cidades. Vistos como “um problema” a ser resolvido, muitas vezes, os trabalhadores informais são responsabilizados pela violência e pelo caos em ruas comer-

ciais. Ao estudar os camelôs do centro de Belém, o sociólogo Válber de Almeida Pires constatou que a falta de qualificação dificulta o exercício de outras funções na economia. Assim, a profissão é herdada pelos filhos, que levam o negócio adiante como estratégia de sobrevivência. Pág. 9

BR – A senhora analisou o Orçamento Participativo em Porto Alegre a partir de uma perspectiva de Gênero. Quais foram os principais BR – O Estado do Pará é governado resultados da pesquisa? por uma mulher, e este ano tiveJP – O título “Protagonistas ou Bemos duas candidatas à prefeitura neficiárias” já propõe uma discussão. de Belém. Uma delas usou em seu Nós pensamos o Orçamento Particidiscurso “o cuidar”, reforçando os pativo como uma forma de política papéis historicamente atribuídos pública, dentro de uma perspectiva às mulheres. Como a senhora anade participação e não de represenlisa o resgate desse discurso como tação, e percebemos que, mesmo estratégia de campanha? havendo uma cota para participação JP – No livro “As Prefeitas”, Eva das mulheres, aquelas atribuições Blay elabora uma espécie de tipologia da dupla jornada estavam fazendo dessas candidatas. Ela fala na Prefeita com que elas fossem excluídas do Coronel, na Prefeita Feminista e na processo. Há um critério de exclusão Prefeita que assume esse papel materpor número de falta às reuniões, mesnal. A prefeita Coronel mo sendo delegado ou seria aquela que assumembro do conselho me o lugar do marido. do OP. Dessa maneira, Em algumas regiões as pessoas com maior do País, nós tínhamos possibilidade de serem um número maior de excluídas seriam as prefeitas em função mulheres, e uma das desta “substituição”. E reivindicações era a nós nem sempre temos criação de um espaço a prefeita que fará a para cuidar de criandesconstrução desse ças, para que, nas reudiscurso, que passa por niões, as mães pudesuma postura mais de sem contar com esse O processo de esquerda. Isso não quer tipo de apoio. Normaldizer que candidatas mente, nós chegávasocialização mais à esquerda ,no mos a certa paridade ainda delega campo político-ideoquanto ao número de lógico, também não cotas instituídas para às mulheres o possam ter um discurso homens e mulheres. conservador em relação Em algum sentido, a espaço privado à mulher, de manutencota era problemática

mostra como o processo de socialização, que começa na infância, passa pela adolescência e chega materializado à idade adulta, ainda é marcado por uma distinção de papéis entre esfera pública e esfera privada, de assimetria de relações de poder, que faz com que a mulher não se interesse pela “grande política”, pois é a política que a exclui. E elas conseguem perceber que é mais fácil o trabalho de participação política onde está mais perto, nos centros comunitários, por exemplo. Na “grande política”, as mulheres estão tendo representação política, mas de forma não convencional - elas estão nos movimentos sociais, estão nas ONG’s.

BR – O seu trabalho sobre Juventude, Cidadania, Gênero e Gerações apresenta dados que indicam um desinteresse da juventude pela política e por mecanismos de participação da cidadania. Quais serão as conseqüências desse comportaBR – A produção cultural reforça mento a longo prazo? os estereótipos, os papéis sociais JP – Quando se pergunta o porquê do tradicionais. Isso acaba tendo desinteresse na política, as análises uma conseqüência no exercício da são todas focadas na população de cidadania? eleitores, normalmente maiores de 18 JP – Com certeza, pois do processo anos. E fazendo um estudo que comde socialização fazem parte a escola, para gerações, nós percebemos que, as relações de amizade, a família, os quanto ao interesse por política, não meios de comunicação, eu poderia existe diferença entre dizer até as religiões. uma geração madura Enfim, todo o processo e uma geração mais de socialização conjovem. Então ficamos tribui, de alguma forpensando – se já há ma, para a manutenção esse desinteresse agora, desse discurso. Se penuma população adulgarmos, por exemplo, ta, como ficaria isso a novela, que é uma futuramente, à medida coisa a que as pessoas que o desinteresse acaassistem todo dia, e as ba passando de geração mulheres, mais que os em geração? A resposta homens, esse discurso é que os jovens tenacaba sendo introjeO desinteresse dem a chegar cada vez tado. Além disso, nós mais desesperançosos temos um processo de pela política e desinteressados. Ensocialização que passa tão, percebemos que acaba passando por uma educação setemos uma crise e a xista, por uma relação de geração em possibilidade de uma na família que também geração futura fazer reproduz esses papéis geração uma mudança é pratie esses estereótipos. camente impossível. E com o elemento que É preocupante pensar complementa tudo isso, nesses termos. os meios de comunicação, forma-se um “caldo de cultura” e fica tudo BR – A pesquisa mostrou que o pronto para esses papéis continuarem desinteresse pela política é maior sendo reproduzidos. Algumas pesentre as mulheres. Isso acaba soas é que conseguem romper com sendo utilizado como argumento isso. É preciso modificar o processo por aqueles que questionam a de socialização, porque se não mudacompetência feminina na atividade rem comportamentos, mentalidades, política? atitudes, percepções, pontos de vista, JP – É nesse contexto que a pesquisa continua sendo comum ouvir que sobre a juventude é importante, pois “lugar de mulher é em casa”.

Mácio Ferreira

Coluna do Reitor Alex Fiúza de Mello apresenta os fundamentos para um Projeto PolíticoPedagógico Institucional . Pág. 2

Opinião A professora Sílvia dos Santos de Almeida analisa o perfil dos participantes da VII Parada do Orgulho GLBT, realizada em Belém. Pág. 2

Pesquisa Pesquisa revela que trabalhadores informais são vistos como “bodes expiatórios” para problemas das grandes cidades

Qualificação

Meio Ambiente

Genética avalia qualidade de água na Amazônia Núcleo de Biodiversidade e Bioindicadores utiliza, pela primeira vez, peixe elétrico como indicador

de poluição nos rios da Amazônia. As coletas serão realizadas no Pará e no Amazonas. Pág. 7 acervo projeto

ção do status quo. Mas se pensarmos no processo de educação, naquilo que as próprias mulheres reproduzem, vamos perceber que essa postura está arraigada em todos os processos de socialização e romper com isso é complicado. Eu costumo dizer que ninguém consegue ser coerente 24 horas por dia, mesmo nós, que temos um discurso progressista, muitas vezes nos pegamos caindo nas próprias armadilhas de um discurso contrário àquele que a gente quer fazer.

porque faltavam condições para essa mulher efetivar a sua participação em condições de igualdade, ou seja, não adiantava ter cotas se ela não tivesse uma infra-estrutura para exercer aquele papel. Assim, elas aparecem no estudo muito mais como beneficiárias do que como protagonistas do processo. As políticas públicas ou decisões que emergem do OP acabam tangenciando as questões das mulheres.

A professora Jussara Prá fala da participação feminina na política brasileira. Pág. 12

Lucivaldo Sena/ AG.Pará

Beira do Rio – Em sua opinião, o que mantém as mulheres ainda afastadas da arena política? Jussara Reis Prá – Em princípio, nós podemos pensar em vários aspectos para essa questão. Um deles é a questão das mentalidades e comportamentos que vêm forjando historicamente o papel da mulher na sociedade e delegam a ela o espaço do cuidado, o espaço privado e ao homem, o espaço público. O outro aspecto está na própria estrutura política, que não vem acolhendo as mulheres. As estruturas políticas são extremamente elitistas e elitizadas e a mulher se manteve sempre afastada dessa elite.

Jussara Prá: socialização contribui para manutenção do discurso sexista

Entrevista

Rosyane Rodrigues

A assimetria das relações de gênero tem interferência direta na participação feminina, nos espaços dedicados à prática da “grande política” no Brasil. Ainda que, em alguns casos, o estabelecimento de cotas obrigue o acolhimento das mulheres nos processos, sem o respaldo adequado para exercer os novos papéis, elas acabam sendo afastadas de cena. Essa é uma das análises da Profa. Dra. Jussara Reis Prá, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que esteve em Belém, participando do III Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero: as faces da diversidade, a convite do Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” (GEPEM). Em entrevista ao BEIRA DO RIO, Jussara Prá analisou a maneira como as mulheres vêm ocupando seu espaço na cena política brasileira e apresentou resultados de pesquisas desenvolvidas nas temáticas Política e Gênero. De acordo com a pesquisadora, entre jovens e adultos, é crescente o desinteresse pela política. E diante de uma juventude cada vez mais desesperançosa e desinteressada, a possibilidade de mudança é quase impossível.

Fotos Rosyane Rodrigues

Rosyane Rodrigues

Pimenta-do-reino será beneficiada

Pará participa de Projeto Genoma

Professores e alunos da UFPA compõem a Rede Paraense de Genômica, pioneira na região Norte e Nordeste. Pág. 11

EAD: novo modelo de aprendizagem

Pág. 4

Poluição

Tratamento adequado de resíduos Águas de Tucuruí, Barcarena e Mamirauá serão analisadas

Prefeitura do Campus cria infraestrutura para coleta, triagem e tratamento de resíduos químicos na Cidade Universitária. Pág. 8


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008 –

Coluna do REITOR Alex Fiúza de Mello

UFPA participa do Projeto Genoma Pará

reitor@ufpa.br

Fundamentos para um Projeto Político-Pedagógico Institucional

A

Universidade não pode ser a soma de partes: de campos do conhecimento, de unidades acadêmicas, de departamentos ou campi. Ela deve ser a síntese de um audacioso e competente plano político-pedagógico global que projete no tempo, de forma orgânica e consciente, o sentido do devir de sua missão institucional; os princípios que norteiam, em seu seio, toda ação coletiva; a sua função social específica e os objetivos e metas correspondentes, no contexto de sua historicidade. Daí a importância da tessitura de um Projeto Político-Pedagógico Institucional que traduza, inclusive, em texto oficial, consagrado pelo conselho máximo da instituição, esta autoreflexão da comunidade acadêmica: a sua razão de ser e a sua vontade de potência; o seu compromisso perante a sociedade e a história. E se este é um desafio posto a qualquer instituição universitária, everywhere, tanto mais para aquela que se situa numa região de periferia, como a Amazônia, que já enfrenta, de saída, as fragilidades estruturais inerentes à condição, a escassez generalizada de apoios e a marginalidade na priorização dos investimentos nacionais. Há de se assumir, por princípio, na arquitetura desse Projeto de acade-

mia, de forma explícita e inequívoca, como uma lei dos costumes e um código de ética – para não se restar refém de toda sorte de corporativismo ou do pensamento único (de direita ou de esquerda) –, a defesa dos valores civilizadores mais caros e universais conquistados por essa instituição milenar: a liberdade de pensamento e de expressão; o pluralismo de idéias; o espírito dialógico; o avanço do conhecimento; a autonomia acadêmica; a função inarredável da crítica social; a finalidade pública do ensino e da pesquisa como direito de todos e não como simples mercadoria – todos princípios consagrados na Conferência Mundial sobre Educação Superior da UNESCO, realizada em Paris, em 1998. Para isso – e para além da conquista das eleições diretas para reitor –, importa o resgate e a valorização permanente, em todas as instâncias, da colegialidade como princípio insubstituível da democracia acadêmica; o único capaz de impedir que o individualismo, o privilégio e o corporativismo – raízes recônditas das práticas de privatização branca, infiltradas nas agendas acadêmicas – se transformem em regra autofágica da contracultura universitária. Mas, situando-se na Amazônia, além desses valores universais coletivamente pactuados, a Academia

necessita afirmar, igualmente, outros compromissos fundamentais, inspirados em sua historicidade e regionalidade: o desenvolvimento sustentável; a preservação ambiental; o respeito à diversidade étnica, cultural e biológica; a prestação de serviços à sociedade (particularmente às populações e categorias mais marginalizadas); a afirmação da cidadania do homem amazônico. Tornar-se a academia amazônica, em seus próprios estatutos, planos institucionais e na prática, referência local, regional, nacional e internacional na formação de quadros, técnica e humanisticamente preparados, e na produção de conhecimento de ponta, firmando-se como suporte de excelência e fonte de inspiração para uma Amazônia economicamente viável, ambientalmente segura e socialmente justa. Nesse diapasão, um Projeto Político-Pedagógico para uma universidade amazônica há de conter, no mínimo, seis objetivos institucionais, sendo quatro de natureza universal e dois de timbre mais regional, mas todos interdependentes. No primeiro grupo: a) educação e formação de pessoal altamente qualificado (função do ensino); b) produção de novos conhecimentos (função da pesquisa); c) busca da excelência acadêmica (fun-

OPINIÃO

Sílvia dos Santos de Almeida

E

ção ética); d) autonomia universitária (função cultural institucional). No segundo grupo: e) relevância social (função de pertinência e inclusão social); f) atuação multicâmpica (função de democratização do acesso à educação superior às populações mais distantes dos grandes centros urbanos). Os dois últimos objetivos consagram o que aqui pode ser designado como paradigma da relevância social, a ser perseguido como um dever imposto pelas circunstâncias. Se não é possível o desenvolvimento de um povo ou de uma nação sem instituições de educação superior e de pesquisa adequadas, que formem uma massa crítica de pessoas qualificadas e cultas, este princípio também é válido para as regiões periféricas. Não é viável um desenvolvimento endógeno e auto-sustentável da Amazônia sem o encurtamento, pelo investimento em educação e pesquisa, das distâncias cognitivas que a separam do restante do país e do mundo – e as suas microrregiões internas entre si. Uma Universidade sem um Projeto Político-Pedagógico claro e consistente, portanto, por suas lideranças pactuado e por seus atores atuado, consolidado no tempo, é tudo, uma soma caótica de possibilidades, menos uma Instituição.

salmeida@ufpa.br

A Parada do Orgulho GLBT revelada em números

m todo o Brasil, a tentativa de reaver os direitos à cidadania, por parte das categorias GLBT (gays, lésbicas, bissexuais,travestis e transexuais), é tradicionalmente celebrada em manifestações massivas. As paradas do Orgulho GLBT, como são conhecidas, possuem um caráter político e lúdico (diversão e curiosidade), onde as principais reivindicações, em nome da diversidade sexual e da luta contra o preconceito, são realizadas. Em Belém, a VII Parada do Orgulho GLBT reuniu cerca de 400 mil pessoas, entre anônimos e artistas. O termo homofobia é considerado um neologismo, homo – radical grego que significa semelhante e fobia – medo exagerado, falta de tolerância, aversão. Nas grandes cidades, este tipo de pesquisa, a que levanta discussões acerca das categorias que destoam do padrão binário pré-estabelecido, já é realizado nas Paradas há alguns anos. Neste sentido, e objetivando traçar o perfil dos participantes da VII Parada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br T 91 3201-7577

GLBT, bem como, verificar os possíveis crimes (homofobia) sofridos por estes, devido a sua identidade sexual, é que o Laboratório de Sistemas de Informação e Georreferenciamento (LASIG) e o Grupo de Estudos e Pesquisas Estatísticas e Computacionais (GEPEC), ambos da UFPA, realizaram uma pesquisa amostral por cotas, com erro amostral máximo de 5%. A pesquisa revelou que 98,99% dos participantes da Parada GLBT são oriundos do Estado do Pará, sendo que destes, 79,69% são do município de Belém. A maioria dos participantes se declarou pardo (59,49%), seguida dos que se declararam negros ou brancos, com 18,99% e 16,20%, respectivamente. Com relação à faixa etária, a maioria está entre 15 e 29 anos (72,67%). Observou-se, também, que 44,55% dos entrevistados possuem o ensino médio completo, 22,78% possuem o ensino médio incompleto e 12,41% possuem o ensino superior incompleto.

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Pesquisa

Praticamente a metade dos participantes (49,87%) que compareceu à Parada GLBT em 2008 foi para se divertir, enquanto que 21,01% compareceram por curiosidade e 16,71% para que os GLBT’s tenham mais direitos. Com relação ao uso de preservativos, a maioria dos participantes sempre utiliza preservativos em suas relações sexuais (64,94%), 19,25% utilizam eventualmente e 15,80% afirmam nunca utilizar. Quanto à identidade sexual, a maioria declarou ser heterossexual (58,38%). Enquanto que 41,62% declararam ter algum tipo de identidade homossexual, sendo que 18,53% se identificaram como gays e 10,91%, como bissexuais. Em relação à homofobia sofrida nos últimos 12 meses, 75% declararam que já passaram por algum tipo de discriminação e 10% sofreram violência. Quanto ao tipo de discriminação, destaca-se que 30,31% declararam já ter recebido tratamento diferenciado e 18,18% foram exclu-

ídos ou marginalizados em ambiente familiar. Já com relação à violência, verificou-se que 50% das violências sofridas foram do tipo ofensa verbal e/ou ameaça, seguida de agressão física (27,27%). Um fato preocupante é que 75% das violências não foram registradas em Boletins de Ocorrência Policial (BOP), 26,66% por sofrerem discriminação dentro da delegacia, enquanto que, para 20%, o motivo foi o medo de retaliação. Esses são apenas alguns dos resultados revelados na pesquisa, que visa subsidiar os órgãos de Segurança Pública, assim como a comunidade GLBT, na construção de políticas públicas voltadas para o combate à homofobia no Pará. Sílvia dos Santos de Almeida é Doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora do ICEN/ UFPA, coordena o LASIG e integra o GEPEC.

Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-Reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-Reitora de Administração: Simone Baía; Pró-Reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-Reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta/Cristina Trindade/Glauce Monteiro/Jéssica Souza/Rosyane Rodrigues/Walter Pinto/Hellen Pacheco/ Andréa Mota; Fotografia: Mácio Ferreira; Secretaria: Isalu Mauler/Elvislley Chaves/Gleison Furtado; Beira on-line: Leandro Machado/Camilo Rodrigues; Revisão: Júlia Lopes; Arte e Diagramação: Omar Fonseca/Rafaela André; Impressão: Gráfica UFPA.

Estado é pioneiro na implantação de uma rede de pesquisas na região Hellen Pacheco

Lucivaldo Sena/ AG.Pará

LURDINHA RODRIGUES

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008

I

nfra-estrutura adequada, competência e as demandas biotecnológicas existentes no Estado do Pará foram a base para a criação da Rede Paraense de Genômica e Proteômica (RPGP). Aprovada recentemente, a Rede é resultado de ações conjuntas, desenvolvidas por pesquisadores da UFPA, do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT-Guamá), da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (HEMOPA). Pioneiro na implantação de uma rede dessa categoria dentro das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o Pará terá como objeto de estudo inicial o genoma do organismo Fusarium solani piperis – fungo causador da Fusariose ou Podridão das Raízes e responsável pela morte da pimenta-do-reino (Piper nigrum). “A cultura de pimentado-reino é típica da agricultura familiar. As pessoas mais atingidas, na realidade, constituem a base econômica do Estado. Por esse motivo, o mapeamento deste fungo foi considerado uma prioridade”, afirma o coordenador da RPGP, Dr. Artur Silva. Segundo Silva, a idéia central do projeto “Genoma Pará” reside na identificação do mecanismo biotecnológico de controle da doença, em suas diversas etapas de análise que envolvem desde a coleta do material até o mapeamento do genoma do fungo. O fungo será coletado a partir de folhas infectadas de pimenteiras, em Santo Antônio do Tauá. A massa micelial, passo inicial para a obtenção de amostras de RNA - ácido ribonucléico, molécula intermediária na síntese de proteínas - gerada ao final do processo, será utilizada para a extração do RNA total.

Pesquisa fará mapeamento do genoma do fungo que atinge pimenta-do-reino

n Rede envolve alunos e pesquisadores Com o uso da transcriptômica (técnica que envolve o uso de um pequeno chip ou microarray de DNA que mede os níveis mRNA presentes em cada célula), é possível fazer a quantificação do funcionamento de todos os genes de um genoma. Sendo assim, são maiores as chances de obtenção de resultados satisfatórios sobre a constituição genética do patógeno que está sendo estudado, além do estabelecimento prévio de estratégias biotecnológicas para o controle da praga. Cento e cinqüenta pesquisadores integrarão a RPGP. São docentes e alunos de mestrado e doutorado das instituições de ensino e pesquisa envolvidas. A infra-estrutura envolve oito laboratórios de pesquisa, alguns dentro da UFPA e nos seus campi do

interior, além do HEMOPA, PCTGuamá e UEPA. O genoma do fungo Fusarium deverá ser concluído no prazo de dois anos. Posteriormente outros organismos serão analisados e em função da alta incidência de câncer gástrico no Pará, o governo propôs o desenvolvimento de estudos sobre os agentes causadores dessa patologia. A UFPA integra o Projeto Genoma Brasileiro desde 2000, quando começaram os primeiros estudos oficiais. O grupo de pesquisadores do Laboratório de Polimorfismo de DNA – liderado pela Dra. Maria Paula Schneider - que integra o Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) da UFPA, é uma das unidades de atuação da Rede Nacional de Seqüenciamento na região amazônica.

Simplificando conceitos n O genoma é toda a informação genética de um ser vivo, ou seja, a seqüência completa do seu DNA (do inglês deoxyribose nucleic acid ou ácido desoxirribonucléico, que determina as características genéticas de um indivíduo). n Os genes, que existem em pares no organismo dos seres vivos, são seqüências de nucleotídeos, que estão localizadas estrategicamente na molécula de DNA, distribuídas ao longo dos cromossomos. Cada gene é responsável pela

decodificação de uma ou mais proteínas. n Proteômica é a série de inovações tecnológicas utilizadas na separação, identificação e quantificação de proteínas em grande escala, permitindo a realização de estudos com as mais diversas aplicações na área biológica. n No final do século passado, após anos de estudos, os pesquisadores conseguiram decodificar o genoma

humano quase completo, com uma precisão de 99,9%. Atualmente, sabe-se que ele é formado por 3 bilhões de pares de bases nitrogenadas (A, T, C e G) presentes no DNA da espécie humana. n Um dos precursores no mapeamento do código genético de bactérias - o genoma humano já estava sendo bastante explorado nos demais países -, o Brasil conduziu suas pesquisas genômicas de forma totalmente inovadora.

n Núcleo de Bioinformática Como as pesquisas desenvolvidas a partir do Projeto Genoma produziram um grande volume de dados, tornou-se necessário criar um suporte de informática adequado para a extração e armazenamento das informações geradas. Nessas circunstâncias, a Bioinformática entrou em cena e avançou com o Projeto. Caracterizada por utilizar conhecimentos de várias áreas (Física, Biologia, Química, Informática, Ciência da Computação e Matemática), a Bioinformática, ao unir Ciência Computacional e Biologia Molecular, contribuiu significativamente para o desempenho do Projeto. Por meio de dados gerados com os softwares, ela pôde ser aplicada em várias etapas do processo, inclusive na análise de diferentes genes e no diagnóstico da constituição das proteínas. Atualmente, há poucos cursos de pós-graduação na área em todo o País. Concentrados na região Sudeste, principalmente em São Paulo, esses núcleos de estudos foram fundamentais para as pesquisas relacionadas à Biologia Molecular – como o Projeto Genoma, que produziu uma demanda específica por esses profissionais. “Quando nós elaboramos o Projeto Genoma Pará, decidimos imediatamente construir uma Bioinformática em Belém, com a participação de diferentes grupos que atuam no Pará”, esclarece Artur Silva. O Núcleo de Bioinformática será o responsável pelo fornecimento de serviços automatizados e suporte à coordenação da RPGP para a catálise das diferentes vertentes do esforço de seqüenciamento. Também irá executar a retirada de seqüências não informativas do transcriptoma (rRNA, mtDNA e contaminação bacteriana) das bibliotecas genômicas; compor e publicar em HTML os arquivos de agrupamentos representativos de genes distintos, em formato semelhante ao UniGene, a fim de acelerar a publicação dessa base de dados, mencionada pelo NCBI (National Center for Biotechnology Information) após o término do projeto e liberação das seqüências. PRIORIDADE - Como não há profissionais capacitados para atuar na área, dentro do Estado, a formação de recursos humanos é prioridade. Por isso, será formada uma turma especial de Bioinformática pela PósGraduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) da UFPA. As aulas serão ministradas pelo corpo docente do PPGBM/UFPA e por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O curso terá a duração de quatro anos, tempo de vigência do Programa de Cooperação Acadêmica (PROCAD) firmado entre a CAPES, a UFMG e a PPGBM.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008 –

Intercâmbio

Paixão de LER

Erasmus Mundus amplia mobilidade acadêmica na UFPA

A hora e a vez das cidades ribeirinhas

Artigos apresentam pesquisa sobre a interação entre o rio e a cidade Laïs Zumero

Fotos Mácio Ferreira

G

No momento, a UFPA tem 36 alunos de outros países em seus cursos Glauce Monteiro iajar, conhecer novos lugares, uma nova cultura e investir em sua formação. Reunir tudo isso é possível graças aos programas de mobilidade acadêmica, conhecidos como intercâmbios. A Universidade Federal do Pará mantém 52 convênios com instituições de ensino superior, nacionais e internacionais, que visam à formação acadêmica, à troca de experiências em pesquisas científicas e projetos de extensão. “A UFPA é a maior universidade da Amazônia e precisa dialogar com o mundo. Vários países se mantêm atentos ao Brasil e à Amazônia, por isso incentivam suas universidades a receberem estudantes de outras nações. Isso é uma forma de ampliar o conhecimento de mundo, trocar experiências em várias áreas do saber e estender sua influência por todos os cantos. Nós não podíamos ser diferentes. Devido ao nosso papel estratégico, precisamos aprender a pisar no palco mundial e a nos comunicarmos”, explica Norbert Fenzl, coordenador da Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais da UFPA (ARNI). Recentemente, a UFPA ingressou em três redes de intercâmbio que envolvem universidades estrangeiras e brasileiras. O projeto Erasmus

Fotos Elis Miranda e Montagem Fátima Roque

V

Adjetivos “pequenas” e “tradicionais” não são suficientes para descrever as cidades nhas, diferentemente das cidades beira-rios, têm fortes articulações socioeconômicas e culturais com a escala geográfica local e regional; articulações estas que traduzem estreita relação com o rio, não simplesmente pela localização absoluta daquelas em relação a este último, mas principalmente pelas relações econômicas e socioculturais, que incluem o rio como um dos importantes elementos que referenciam espacialidades e territorialidades urbanas”, dizem os organizadores. Essa questão é discutida na segunda parte do livro, quando são mencionados exemplos de cidades paraenses que expressam conteúdos econômicos e socioculturais fortemente mediados pelo

rio, como Mocajuba, Cametá, São Domingos do Capim e Tucuruí. A terceira parte de “Cidades Ribeirinhas na Amazônia: mudanças e permanências”, busca responder ao seguinte questionamento: os adjetivos “pequenas” e “tradicionais” são suficientes para a compreensão das cidades ribeirinhas na Amazônia? A intenção é mostrar como a cidade ribeirinha não se confunde necessariamente com a pequena cidade, mas se mostra presente em fragmento e como espaço de resistência

Livraria do Campus Rua Augusto Corrêa, n.1, Campus Universitário do Guamá. Telefax: (91) 3201-7965 - Fone: (91) 3201-7911. Livraria da Praça: Instituto de Ciências da Arte da UFPA. Praça da República, s/n Fone: (91) 3241-8369

Fátima Roque

estado a partir do projeto “Espaço e cidadania na orla fluvial de Belém: praticando a Geografia em ambientes não escolares”, o livro “Cidades Ribeirinhas na Amazônia: mudanças e permanências”, organizado pelos professores Saint-Clair da Trindade Júnior e Maria Goretti da Costa Tavares, apresenta o resultado desse projeto de pesquisa, ensino e extensão, desenvolvido na Universidade Federal do Pará e financiado pelo Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (PROINT). São autores desta obra os pesquisadores e bolsistas de iniciação científica que integraram a equipe de pesquisa, como também os interlocutores que, ao longo do processo, dialogaram a respeito da temática relacionada à interação da cidade com o rio na Amazônia. Os organizadores explicam que “as cidades sempre tiveram importância na dinâmica socioeconômica da região amazônica. Os primeiros núcleos urbanos surgiram ao longo dos rios; isso porque desempenhavam papel estratégico no processo de circulação de mercadorias e de pessoas, inicialmente, devido a outros fatores, tais como a agricultura comercial e a exploração da borracha. Cada uma dessas expressões econômicas fez surgir cidades ao longo dos rios”. Os artigos que compõem as três partes em que se subdivide o livro buscam discutir essas e outras questões. Em sua primeira parte, o livro busca identificar um outro perfil de cidade, o das cidades recorrentemente identificadas como tradicionais, que costumam estar relacionadas ao modelo “rio, várzea, floresta” de ocupação do território regional, estreitamente associado aos cursos fluviais, às populações ditas tradicionais, à cultura de raízes ribeirinhas e à produção agrícola e extrativista de pequena escala. Ainda nessa parte, procura-se estabelecer aproximações a respeito de como definir e considerar as cidades ribeirinhas na Amazônia, por meio de suas formas espaciais associadas a um outro tempo menos externo e mais enraizado à região e atentando para suas especificidades. “As cidades ribeiri-

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Mundus, criado pela União Européia, prevê a mobilidade acadêmica para alunos de graduação, pós-graduação e docentes, entre 40 instituições brasileiras e européias. “O Erasmus é um grande passo, não apenas pelo número de alunos ou docentes que participam, mas, principalmente, pela própria execução do projeto, os contatos que serão feitos e os vínculos estabelecidos dentro de poucos anos. Esta é a primeira conquista da Universidade para a internacionalização institucional da UFPA”, avalia Luzia Jucá, Assistente de Coordenação da ARNI. Outro importante projeto de cooperação é o CAPES/FIPSE que envolve universidades brasileiras e norte-americanas. Além da UFPA, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Tecnológica de Michigan e a Universidade de Dakota do Norte participam do projeto. Anualmente, quatro alunos migram de uma instituição para outra. Os universitários paraenses já viajaram para os Estados Unidos e os estudantes americanos chegarão a partir de janeiro de 2009. INTEGRAÇÃO – A Universidade Federal do Pará sempre investiu na integração internacional. Para Roberto Dall’Agnol, Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, “a mobilidade acadêmica e os acordos

Parcerias contribuem para formação acadêmica em todos os níveis internacionais fazem parte da vivência nos cursos de pós-graduação. No passado, isso acontecia através de professores orientadores bem relacionados, que participavam de eventos ou faziam viagens e fechavam contatos. Contatos que evoluíam para um acordo. E os acordos evoluíam para projetos. Atualmente, a Universidade está se estruturando para se manifestar institucionalmente sobre a mobilidade não apenas por meio de grandes projetos de cooperação, como do Erasmus Mundus e do CAPES/FIPSE, mas também para coordenar e acompanhar os acordos fechados a partir de iniciativas de docentes ou unidades”. A grande novidade das redes de intercâmbio com a União Européia e com os Estados Unidos é a possibilidade de incluir a graduação na mobilidade. “Nossos alunos terão a oportunidade de desenvolver uma visão cosmopolita do conhecimento e, desde cedo, começar a ter contato com o mundo; seja para ir e aprender novas técnicas, metodologias e tecnologias, seja para ganhar experiência e perceber que, em determinadas áreas, nós não estamos tão atrás dos grandes centros de pesquisa do mundo. A UFPA é, hoje, uma referência em áreas do conhecimento, como nas de Geologia e de Medicina Tropical”, afirma Licurgo Brito, Pró-Reitor de Ensino de Graduação da UFPA.

n O domínio do idioma é a principal barreira na vida metropolitana que se constituiu na Amazônia. Na metrópole belenense, aparecem, como exemplo, a ilha de Mosqueiro e a ilha de Caratateua, onde se desenvolvem outras práticas socioespaciais que não se resumem ao lazer

metropolitano. Em todos os artigos componentes da coletânea, o rio está presente como compósito das paisagens e/ou da dinâmica das cidades e das relações que nelas se fazem presentes.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS n 1 - “URGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA E METABOLISMO: diagnóstico e tratamento na criança, no adulto e na gestante”, de João Felício; n 2 - “AS AMAZÔNIAS DO SÉCULO XXI”, organizado por Sérgio Rivero; n 3 - “POESIA”, de Paulo Plínio Abreu; n 4 - “TRÊS SENTIDOS FUNDAMENTAIS NA OBRA DE PAULO PLÍNIO ABREU”, de Célia Bassalo; n 5 - “DESMISTIFICANDO A PESQUISA CIENTÍFICA”, de Valéria Rodrigues de Oliveira.

Há muitas maneiras de conseguir uma vaga ou mesmo uma bolsa de estudos para cursar parte da graduação, especialização, mestrado ou doutorado fora do Brasil. “O primeiro passo é saber para onde você deseja ir. Não apenas o país, mas também a universidade específica ou o programa de pós-graduação em que deseja ingressar. Essa informação, o estudante obtém na própria faculdade onde está se formando. Os docentes, por terem mais experiência, conhecem os principais centros de estudos de cada área e podem, inclusive, indicar contatos valiosos para facilitar o intercâmbio”, explica Luzia Jucá, da ARNI. O estudante deve procurar a unidade responsável pelo apoio à mobilidade, de acordo com sua modalidade estudantil. Alunos de graduação devem procurar a Coordenadoria de Apoio ao Discente da PROEG. Estudantes de cursos Lato Sensu e

Stricto Sensu encontram auxílio na Diretoria da PROPESP. Os discentes podem, ainda, receber orientações na Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais, além de se informarem sobre programas de cooperação já disponíveis. “Hoje, a maior barreira à mobilidade acadêmica é o domínio do idioma. Para você ir a outro país, por meio de um programa de cooperação, é preciso ser aprovado em uma prova de proficiência lingüística, que não é uma prova fácil. Essa formação em idiomas não faz parte da maioria dos cursos de graduação. É um conhecimento que o próprio aluno tem de correr atrás”, explica Roberto Dall’Agnol. Para suprir essa lacuna, a UFPA recomenda os Cursos Livres de Inglês, Alemão, Francês e Espanhol, ofertados pelo Instituto de Letras e Comunicação (ILC) ou o curso de Italiano, mantido pela ARNI. “As aulas possuem um preço acessível,

com qualidade e certificação da Universidade. Certamente, são um ótimo caminho para quem precisa vencer a barreira do idioma antes de viajar”, lembra Licurgo Brito. Para estimular os intercâmbios entre docentes, a Universidade apóia a formação de “Cátedras Internacionais”, que são acordos de cooperação para mobilidade entre professores. O Projeto Piloto, em parceria com a Universidade de Milão, já foi realizado este ano pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). Durante 15 dias, professores italianos estiveram na UFPA, dialogando com os docentes da Instituição. “O resultado desse encontro foi a certificação de um curso, emitida pelas duas universidades e a proposta para a criação de uma linha de pesquisa em comum, que deve gerar uma especialização em Relações Internacionais”, garante Norbert Fenzl, coordenador da ARNI.

n Atendimento aos alunos Outra meta da UFPA é preparar-se para receber alunos estrangeiros. “A mobilidade é uma oportunidade que se estende a todos, tanto aos alunos que viajam quanto aos que ficam e recebem os estudantes estrangeiros”, defende Luzia Jucá. A maior parte dos estrangeiros que vem para a UFPA chega à Universidade pelo Programa de Estudantes-Convênio de PósGraduação (PEC-PG), mantido pelo Governo Federal Brasileiro, em parceria com 428 países. “A Amazônia é uma região muito visada em várias áreas do conhecimento, por isso, o interesse desses alunos em vir para a UFPA. Temos, atualmente, 36 alunos de outros países. São alunos americanos, europeus e também africanos”, conta Roberto Dall’Agnol. Para os coordenadores da ARNI, ainda é preciso desenhar uma estrutura concreta para receber esses alunos. “Este ano, a ARNI criou o setor de atendimento aos alunos em mobilidade acadêmica que auxilia quem deseja participar de intercâmbio e orienta estudantes estrangeiros, ficando sempre a postos para atender esses estudantes. Estamos preparando um guia de orientação para esses alunos. Mas precisamos ainda naturalizar este encontro da UFPA com estudantes de outros países”, dizem Luzia Jucá e Norbert Fenzl.

Dall’Agnol: Amazônia é muito visada


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008 –

Qualificação

M

ais do que uma nova modalidade, o ensino a distância está se tornando um novo paradigma de aprendizado ao possibilitar uma mudança no tradicional modelo de ensinar e aprender em sala de aula. Apesar da primeira impressão, a distância entre o aluno e o professor é apenas um elemento desse novo formato. Particularidades como o perfil do aluno ingressante, a relação dele com a instituição e o novo papel do professor na relação de ensino-aprendizagem transformam a educação não-presencial num campo de ensino promissor. No Brasil, a modalidade de ensino a distancia (EAD) vem acompanhando o desenvolvimento das novas tecnologias da informação. Na década de 20, existia, no Brasil, o ensino por correspondência. Em seguida, o País entrou na era das emissões radiofônicas. Entre os anos de 1923 e 1925, Roquete-Pinto utilizou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro para ampliar o acesso à educação no Brasil. Com a difusão da televisão, em meados de 1950, os programas teleducativos ganharam espaço. Atualmente, a informática – aliada a outros meios, como teleconferências e ferramentas multimídias – é amplamente utilizada pelos projetos pedagógicos dos cursos a distância, espalhados pelo País. A possibilidade de levar a educação pública aos vários cantos do Brasil garantiu à modalidade investimentos do Governo Federal e resultou na criação de pólos de ensino a distância nas principais instituições brasileiras de ensino superior. A Universidade Federal do Pará iniciou seus primeiros debates a respeito da utilização da EAD em 1995, com o projeto “Implantação da Educação Aberta e a Distância na UFPA”, elaborado pelas professoras Maria Cândida Mendes Forte, Pró-Reitora de Graduação daquele ano; Selma Dias Leite, atual Coordenadora Geral da Assessoria de Educação a Distância (AEDI) e Estela Amaral de Oliveira. O projeto só seria aprovado em 1999, sob a responsabilidade da Assessoria de Relações Internacionais (ARNI). Com a aprovação, a UFPA firmou parcerias e projetos de cooperação com universidades estrangeiras. Quanto ao treinamento de pessoal, foram ofertados cursos de especialização em Educação a Distância, com incentivo à produção de trabalhos acadêmicos e à capacitação específica de pessoal.

Mácio Ferreira

UFPA já atende mais de dois mil alunos em 17 municípios paraenses

Fotos Mácio Ferreira

Economia

Ensino a distância democratiza acesso à educação Andréa Mota

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Para Selma Leite, a Universidade Aberta estimulou oferta de novos cursos

n Cursos livres, de graduação e pós-graduação Hoje, a modalidade atende 27 pólos em 17 municípios do Pará, com mais de 1.500 alunos matriculados na graduação e 600 alunos nos cursos de pós-graduação, além dos cursos livres. Os cursos de graduação ofertados são: Matemática, Licenciatura em Biologia, Administração, Química, Física, História e Letras. Entre os de pós-graduação estão os de Gestão Hídrica e Ambiental, vinculado ao Instituto de Geociências; de Ensino e Aprendizagem em Língua Portuguesa e de Planejamento e Gestão do Desenvolvimento Regional. Alguns destes cursos foram implantados através de parceria da UFPA com a Secretaria de Estado Educação (SEDUC), para atender a professores sem formação, pertencentes à rede pública de ensino; outros foram ofertados pelo Processo Seletivo Seriado (PSS); outros cursos, como o de Biologia e o de Matemática, obtiveram financiamento por meio do Pró-Licenciatura,

programa financiado pelo Ministério da Educação (MEC) para a formação de professores a distância. “Com o lançamento do PróLicenciatura, a política pública de educação sinalizou, pela primeira vez, a necessidade de consolidar a educação a distância nas instituições públicas de ensino e, em particular, nas federais. Começou a financiar a consolidação de cursos existentes e estimulou a implantação de novos cursos na área das ciências exatas e naturais”, afirma Selma Leite. Atualmente, o Ministério da Educação, em parceria com Instituições Públicas de Ensino Superior, com Estados e Municípios, criou a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Na UFPA, cursos como os de Química, Letras e Matemática recebem apoio do programa de bolsas da UAB. Em junho deste ano, o pólo UAB Benevides foi implantado com a reforma do Núcleo Tecnológico Educacional (NTE) e atenderá a comunidade dos

municípios de Santa Izabel, Marituba e Santa Bárbara. Dentre os cursos ofertados pelo programa UAB, estão os de Administração, Biologia, Letras (Português) e Matemática. No Pará, a Universidade Aberta também está presente, com pólo presencial, em Dom Eliseu, Parauapebas, Bujaru, Goianésia do Pará, Santana do Araguaia e Santana. Em dezembro de 2008, a Assessoria de Educação a Distância espera inaugurar seu primeiro prédio. O espaço será reservado para funcionar toda a parte técnico-administrativa, atendendo todos os cursos de educação a distância. “Inclusive a área de desenvolvimento de software, a parte gráfica, a de avaliação e a gerência de projetos. No andar superior, devem ficar as coordenações dos diferentes cursos. Com a construção do prédio, poderemos ter, por exemplo, videoconferência, reprografia e salas de treinamentos”, complementa Selma Leite.

n Pesquisa ouve concluintes de Matemática Rosana Pinto

O projeto intitulado “A formação Universitária no Curso de Matemática a Distância na UFPA: Construindo Elementos para Avaliação Institucional”, iniciado em 2007, foi desenvolvido pela Profa. Dra. Sônia de Jesus Nunes Berloto, juntamente com professores do curso de Matemática. O projeto, aplicado por meio de questionários, analisou, em diferentes pólos, a percepção dos alunos de Matemática a distância sobre o curso. Dentre os critérios de avaliação, estavam aprendizado do aluno, infra-estrutura dos pólos, administração e auxílio ao alunado e auto-avaliação do discente. Segundo a pesquisadora, o aluno a distância necessita de um esforço adicional, já que precisa criar autonomia para suprir a “ausência” do professor. “Sinto que estamos aprendendo mais agora, por nossa conta e pela busca de matérias, do que quando estudávamos no ensino regular. Hoje me dedico mais a aprender, porque o conhecimento depende do interesse de cada um”, comenta Vânia Cristina dos Santos, aluna do curso de Matemática a distância do pólo Santarém. Na prática, os alunos dispõem da seguinte dinâmica: rece-

Aquecimento da economia não consegue deter o crescimento da informalidade, apontada como consequência da degradação do mundo do trabalho

Camelôs: vítimas ou vilões ?

Em Belém, trabalhadores informais são responsabilizados pelo caos urbano Walter Pinto

A

o realizar estudo sobre a realidade dos camelôs do centro de Belém, pelo enfoque da integração social, o sociólogo Válber de Almeida Pires constatou que a situação desses trabalhadores do setor informal é de grande desamparo. Paralelamente à falta de qualificação técnica para exercício de outras funções na economia, os camelôs são desprovidos de capital social, recaindo sobre eles visões negativas de cunho criminalizante, discriminante e segregacionista. Responsabilizados pelo caos urbano, pela violência, por roubos no centro comercial, os camelôs são tomados como “bode expiatório, até para legitimar a inoperância do Estado e da própria sociedade”, afirma o sociólogo, Apresentado como dissertação no Núcleo de Altos Estudos Amazô-

nicos da UFPA, o estudo teve como objetivo observar de que forma o crescimento do trabalho degradado impacta no interior da sociedade. O autor tomou por referencial teórico o sociólogo francês Robert Castel, que atualizou as contribuições de Émile Durkheim sobre a Teoria da Integração Social para o contexto da crise do trabalho, vivenciada na Europa, a partir da década de 1980. “Castel percebeu que aquela crise não estava localizada na classe trabalhadora, nem no mercado de trabalho, mas, englobando tudo, transformou-se numa questão social que contesta a própria sociedade e contribui para o seu desmantelamento”, afirma. O pesquisador buscou visualizar, por meio de análise estatística, se a crise do trabalho observada na Europa era também visível na América Latina, no Brasil e em Belém. Os dados revelaram que, embora a

economia da América Latina tenha apresentado um crescimento pujante a partir de 2001, houve um aumento exponencial da degradação no mundo do trabalho, sobretudo por meio da informalidade. No Brasil, ocorreu a mesma coisa, mas com crescimento do trabalho protegido (carteira assinada e direitos garantidos) nos últimos dois anos. Na indústria, porém, houve um processo de precarização do trabalho, com redução do valor pago por hora trabalhada (U$ 6,5 para U$ 3,5), dado que contraria a recuperação do valor da força de trabalho nos últimos anos. REALIDADE LOCAL – Em Belém, os dados do IBGE e do Anuário Estatístico do Município indicaram uma realidade mais crítica. Apesar do crescimento da economia acima de 10%, registrou-se um aumento do trabalho informal e a manutenção da taxa

de desemprego em 12%, superior à média nacional (8,1%). O trabalho informal não pára de crescer nas ruas da cidade. Onde há fluxo, os camelôs vão se estabelecendo. “Ao mesmo tempo em que a economia cresce, o desemprego mantém-se elevado. Enquanto a informalidade vai às alturas, o valor da força de trabalho segue em baixa”, sintetiza Válber Pires. “Percebe-se, portanto, que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres”. A análise do pesquisador se distancia da lógica estruturalista que tende a jogar a responsabilidade da crise às estruturas econômicas ou ao mercado. Segundo ele, não se trata de um problema estrutural, mas, de falta de políticas eficazes de promoção e distribuição da renda e de incentivo ao desenvolvimento social da cidade – criação de novos postos de emprego, qualificação da força de trabalho, entre outras medidas.

n Um raio-X do trabalho informal

Aulas presenciais são utilizadas para tirar dúvidas e orientar estudos

bem o conteúdo via correio; seguem um roteiro de estudo proposto pelo projeto pedagógico do curso e tiram dúvidas, surgidas durante a semana, em aulas presenciais com tutores. As avaliações e alguns trabalhos são presenciais. Sônia Berloto constatou que, para os alunos, a infra-estrutura dos cursos ainda não atende às demandas. A primeira turma de Matemática a distância concluirá o curso este semestre. “Essa turma que

está saindo possui muitos alunos aprovados em concursos públicos. Isso indica que o formato estimula, sobretudo, a independência. Não é fácil romper com o modelo presencial. Então, quem conseguir superar essa dificuldade, certamente vai ser um profissional independente e, para ter sucesso, já é um passo”, conclui o Prof. Dr. Geraldo Araújo, diretor da Faculdade de Matemática e coordenador do Programa PróLicenciatura.

O estudo do impacto do trabalho degradado sobre a sociedade de Belém baseou-se em dados estatísticos coletados junto aos camelôs do centro da cidade. Os dados revelaram que há camelôs com idade superior a 50 anos, mas a maioria ainda é formada por jovens até 30 anos. Em torno de 70% estão na informalidade há mais de cinco anos. Grande parte dos camelôs acentua a importância de trabalhar com carteira assinada, mas a maioria nunca teve uma. Mais de 90% dos camelôs não pagam previdência. Em geral, não sabem responder como pretendem se aposentar. Trabalhadores com idade superior a 50 anos demonstraram vontade de trocar a informalidade por um trabalho protegido, mas faltalhes oportunidade. Estudo realizado pela Prefeitura de Belém afirma que cerca de 30% dos traba-

lhadores do mercado informal herdaram a profissão dos pais, o que desmistificaria a idéia do crescimento da informalidade em função da incapacidade do mercado absorver essa força de trabalho. Para Válber Pires, porém, é preciso considerar a questão da fatalidade social: “em geral, esses trabalhadores ganham muito pouco e não possuem condições de educar seus filhos, o que acaba os empurrando para a informalidade, como estratégia de sobrevivência”. ESCOLARIDADE – A baixa escolaridade é bastante elevada entre os camelôs. Mais de 70% não possuem ensino médio e muitos não concluíram o ensino fundamental. Para o pesquisador, isso dificulta a saída desses trabalhadores da situação de informalidade, “principalmente porque Belém está passando por uma reor-

ganização na forma de operacionalizar a sua economia. As empresas estão se organizando, se informatizando e exigindo qualificação”. Segundo Válber, a questão dos camelôs em Belém é agravada por tratar-se de uma espécie de ponte entre o mundo do trabalho e o mundo do capital, “ao longo do tempo, a burguesia de lojistas se tornou vulnerável à expansão dos camelôs, que atuam como seus concorrentes, sem pagar impostos e oferecendo preços mais acessíveis”. Os camelôs contribuem também para tornar vulnerável a situação dos trabalhadores das lojas, mais de 90% dos lojistas entrevistados disseram que estão fechando suas lojas, altamente endividados, ou rebaixando os salários dos trabalhadores. “É uma situação de grande vulnerabilidade econômica”, finaliza.

Sem qualificação, muitos herdam a profissão dos pais


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008 –

REUNI

Gestão Ambiental

Novos cursos em Breves e Bragança Programa federal garante suporte para novos cursos de graduação Fotos Mácio Ferreira

Cristina Trindade Fotos Mácio Ferreira

A

Ainda em novembro serão inaugurados o entreposto de armazenamento, o laboratório de tratamento e abrigo para contêineres de lixo hospitalar

Resíduos terão tratamento adequado

Estrutura garante coleta e triagem de resíduos químicos e lixo hospitalar Jéssica Souza

E

m favor do meio ambiente, da saúde e segurança de quem freqüenta, trabalha e estuda na Cidade Universitária “Prof. José da Silveira Netto”, a Prefeitura da UFPA, juntamente com setores acadêmicos, está desenvolvendo um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Químicos, Biológicos e Perigosos. A mobilização para criação do projeto iniciou-se em junho de 2005, após um incidente que resultou em um princípio de incêndio no Laboratório de Química e Pesquisa do Campus do Guamá, provocado pela disposição inadequada de um composto altamente reativo, o sódio metálico. O incidente não trouxe prejuízos materiais, mas chamou a atenção dos técnicos e da comunidade acadêmica para a destinação adequada a ser dada a esse tipo de resíduo na Universidade. A Gerência Ambiental da Prefeitura da UFPA, atualmente Coordenadoria de Meio Ambiente, convidou o professor Dr. José Pio de Souza, na época, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Química, para encabeçar o desafio. O primeiro passo foi formar uma comissão para o gerenciamento dos diferentes tipos

de resíduos químicos, biológicos e contaminantes, produzidos na Instituição, com a participação de integrantes de diversas faculdades, em uma iniciativa multi e interdisciplinar. Formada a COGERE, como foi chamada, partiu-se para a criação de um inventário, que tornou possível quantificar e qualificar os tipos de resíduos manipulados dentro do campus. “A pesquisa foi feita por meio de formulários respondidos pelos dirigentes dos laboratórios e nos permitiu concluir que o principal problema da UFPA, nesse sentido, não é a grande quantidade, mas sim, a enorme diversidade de resíduos produzidos”, explicou o professor José Pio. “Contamos mais de 300 tipos de produtos químicos diferentes dentre as substâncias laboratoriais que precisam ser manipuladas no campus. A quantidade maior, como já esperávamos, é a de solventes orgânicos, que formam mais de 80% do total de resíduos químicos aqui produzidos, os quais, inclusive, podem ser reaproveitados”, continua o pesquisador. A elaboração do inventário durou cerca de dois anos. Depois dessa etapa, o passo seguinte foi orientar a Prefeitura da UFPA a projetar três estruturas básicas: um entreposto

de armazenamento de resíduos, um laboratório de tratamento de resíduos e um abrigo para contêineres de lixo hospitalar. OBRAS – De acordo com o professor José Pio, essas três construções são fundamentais para o desenvolvimento do plano, pois irão facilitar o processo de triagem e finalização dos resíduos. As obras já foram iniciadas. A previsão é de que as estruturas estejam prontas em novembro de 2008. O entreposto e o laboratório ficarão localizados no campus Setor I, entre o Laboratório de Fármacos e o Setor de Transportes, às proximidades dos prédios de Química, Instituto de Ciências Biológicas – ICB e Instituto de Geociências – IG. Essa localização favorecerá o transporte de substâncias químicas, como solventes orgânicos, soluções ácidas e alcalinas, soluções que contêm metais pesados e extremamente tóxicos, além de reagentes de sínteses orgânicas. Já os resíduos oriundos do ICB, tais como produtos de pesquisas, de experimentos e aulas práticas, como resíduos de sangue, urina e animais mortos, serão encaminhados pela firma contratada para incineração. No abrigo que será construído para os contêineres, situado no

campus Setor IV - Saúde, próximo ao Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, serão depositados os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS), que incluem os materiais perfurocortantes e infectantes. Para o pesquisador, além do cuidado com a segurança e com o meio ambiente, o Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos da UFPA tem uma importante função pedagógica. “Esse plano foi criado não tanto em função da quantidade de resíduos gerados na Universidade, mas sim, e principalmente, porque a Instituição forma recursos humanos e, por isso, deve mostrar o exemplo e o aspecto educacional de uma postura ética e ambientalmente responsável. Assim, cuidamos do meio ambiente e conscientizamos nossos alunos”, afirma José Pio. Após a formação da comissão e a realização do inventário, falta apenas o término das obras e a contratação de técnicos para se dedicarem exclusivamente à manipulação desse material, que consiste na coleta, triagem e encaminhamento dos resíduos. A previsão é de que, atingidas essas metas, a comissão se transforme em setor específico que atuará continuamente e permanentemente nessa atividade.

n Coordenadoria desenvolve ações educativas

José Pio: segurança à comunidade

Foi também pensando no meio ambiente que a Prefeitura do Campus criou a sua Coordenadoria de Gestão Ambiental, em atuação há cinco anos, na Cidade Universitária. Além do Plano de Gerenciamento de Resíduos, a coordenadoria trabalha com atividades socioeducativas e tem diversos projetos ambientalmente responsáveis em desenvolvimento na Instituição. Entre eles, está a Comissão da Coleta Seletiva Solidária, cujo objetivo é fazer a triagem e encaminhar o lixo reciclável, produzido no campus, para cooperativas de catadores. O trabalho teve início em janeiro de 2007, com o recebimento de um memorando do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, enviado para todos os órgãos públicos federais, instituindo a coleta seletiva nas

organizações e entidades da administração pública. Desde então, segundo informa Lúcia Almeida e Liana Figueira, educadoras do Grupo de Gestão Ambiental, a Prefeitura está empenhada em fazer a coleta dos resíduos na Instituição, com base no princípio dos 3R’s: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. INCENTIVO - Segundo as educadoras, ainda é necessário incentivar e estimular a separação dos resíduos na UFPA. A Universidade também carece de infra-estrutura adequada para a triagem e a coleta seletiva dos materiais recicláveis. Por isso, até agora, atua apenas com a separação de papel, destinado a um depósito localizado atrás do Ginásio de Esportes, até ser transportado para as cooperativas beneficiadas. A Coordenadoria de

Meio Ambiente também vem trabalhando para implantar a Agenda Ambiental da UFPA, baseada na Agenda da Administração Pública, conhecida como A3P. O programa é uma ação de caráter voluntário, que pretende induzir a adoção de um modelo de gestão pública, capaz de corrigir e diminuir os impactos ao meio ambiente, gerados durante a jornada de trabalho. Na UFPA, os critérios preconizados na agenda já estão sendo contemplados. Atualmente, o projeto está em fase de articulação e vem incentivando a participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica na formação de grupos de trabalhos em cada setor da Universidade. Os interessados em participar podem procurar Lúcia Almeida ou Liana Figueira, na Prefeitura do Campus, pelo telefone 3201-7370.

té 2010, os docentes lotados no campus de Bragança da Universidade Federal do Pará terão mais conforto e espaço adequado para o desenvolvimento de suas atividades acadêmicas. A construção de um bloco de 720 metros quadrados, que abrigará 50 gabinetes para pesquisadores, é uma das obras previstas para os próximos três anos, dentro do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), do Ministério da Educação (MEC), ao qual a UFPA aderiu no ano passado, garantindo recursos de R$ 44 milhões para infra-estrutura física e R$ 33 milhões para equipamentos. A expansão do corpo docente é uma das metas a serem cumpridas no campus de Bragança. Para vencer o desafio de adequar o quadro docente à demanda, já está garantida, a partir de 2009, a abertura de 47 vagas que vão possibilitar a contratação de novos professores até 2010. “O Projeto REUNI trará novas oportunidades aos jovens e adultos da região bragantina. A oferta de cursos do campus será ampliada e diversificada com a implantação de cursos de Licenciatura em História, Matemática, Letras (Língua Inglesa), Pedagogia e Ciências. Essa expansão proporcionará mudanças na educação básica, que será beneficiada com professores qualificados”, ressalta a coordenadora do campus, professora Rosa Helena Sousa de Oliveira. Os recursos do Programa garantirão melhorias no espaço fí-

Prêmio I

Em Bragança, obras de expansão incluem laboratórios e salas de aula sico do campus, como a construção de laboratórios e blocos de salas de aula e as reformas do auditório e das salas de aula já existentes. Tudo para dar suporte acadêmico e administrativo à consolidação dos cursos e à oferta de novas opções para a graduação. As Licenciaturas em Matemática e Letras (Língua Inglesa), já estão inseridas na relação dos novos cursos ofertados no Processo Seletivo Seriado 2009. GALPÃO DE PESCA – O curso de graduação em Engenharia de Pesca será um dos beneficiados com as obras de ampliação do espaço físico e melhoria da infraestrutura, que a Prefeitura da UFPA está realizando em todos os campi universitários. Em dezembro, será inaugurado o Galpão de Técnica de Pesca, que permitirá um melhor desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa para os docentes e

discentes do curso. O espaço ocupa uma área de 692m², composto por dois pisos: laboratórios no piso superior e salas de aula e galpão no térreo. O curso de Engenharia de Pesca foi implantado em Bragança, em 2006 para atender a vocação do nordeste paraense, concentrada na atividade pesqueira. Juntamente com o programa de pós-graduação em Biologia Ambiental, que oferece os cursos de mestrado e doutorado, vem qualificando profissionais para o desenvolvimento de estudos sobre a diversidade ecológica da região. O trabalho teve início na década de 90, com o projeto Manejo e Dinâmica de Manguezais (MADAM), desenvolvido no campus pelo Núcleo de Meio Ambiente da UFPA, em parceria com a Universidade de Bremen, na Alemanha, com o objetivo de garantir o uso sustentado dos recursos naturais da região.

n Investimento consolida presença da UFPA no Marajó O campus de Breves, localizado numa das regiões mais carentes do Marajó, já está sendo beneficiado com o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). O curso de Serviço Social, cuja criação foi solicitada há um ano, durante o encontro da administração superior da UFPA com a comunidade do município, já está sendo ofertado para o PSS 2009. “São ações concretas como essa que consolidam a presença acadêmica da Universidade Federal do Pará na região do Marajó”, afirma Carlos Élvio Paes, coordenador do campus. O município de Breves possui 94 mil habitantes e tem um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano de todo o País. A chegada da Universidade, por meio de um Núcleo de Educação, no início dos anos 90, implantando os cursos de licenciatura, proporcionou ações voltadas para a área de formação de professores na região. Da oferta de uma turma no curso de Licenciatura em História, as ações acadêmicas avançaram, e, hoje, o campus oferece os cursos de Ciências Naturais, Geografia, História, Letras (Língua Portuguesa), Matemática e Pedagogia. Atual-

EM DIA O pôster “As Barricadas do Desejo na Constituição da Subjetividade: uma aproximação entre a teoria do édipo e a questão do poder” ficou em 1º lugar entre os painéis científicos do III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental. O trabalho, apresentado por Ronildo Deividy Costa da Silva, bolsista de iniciação científica, teve orientação da psicóloga Ana Cleide Guedes Moreira.

Prêmio II

A mestranda Soelange Bezerra Nascimento teve seu trabalho aprovado como o melhor painel no 54° Congresso Brasileiro de Genética. Sob a orientação da professora Cláudia Regina de Souza, o painel faz parte da pesquisa que analisa, em nível molecular, o mecanismo de resistência das pimenteiras nativas da Amazônia à fusariose, doença que ataca a pimenteira-doreino.

Prêmio III

A equipe “The Primers”, formada pelos alunos da UFPA, Rafael Baraúna, Amanda Nunes Cardoso, Diego Assis das Graças (do curso de Farmácia), Nathália Oliveira de Lima e Edivaldo Costa Souza Júnior (do curso de Biomedicina), foi classificada para a etapa nacional do Desafio Sebrae. Como prêmio, os alunos ganharam uma viagem a uma fábrica de calçados e participarão do curso de empreendedorismo realizado pelo Sebrae.

Prêmio IV

Recursos proporcionam melhorias e maior oferta de vagas mente, são 522 alunos regularmente matriculados. Em 2009, além das 80 vagas já ofertadas, haverá mais 40 vagas para o curso de Serviço Social. Além da criação de um novo curso, os recursos do REUNI também vão propiciar melhorias na infra-estrutura física para aperfeiçoar o suporte às atividades acadêmicas. De acordo com a Prefeitura da UFPA, entre as obras previstas estão a ampliação do laboratório de Ciências; a construção de laboratórios para os cursos de Pedagogia e Letras; a revitalização da biblio-

teca, dos banheiros e das salas de aula; a construção de um Centro de Treinamento e Acesso à Informação e de um Sistema Elevatório de Água, que irá resolver a falta de água tratada no campus. A ampliação do corpo docente e administrativo também está prevista. “Ainda este ano, serão contratados 12 professores para o quadro permanente, atendendo a demanda dos cursos de Pedagogia, Serviço Social e Letras. Em 2009, a previsão é de que 10 novos técnicoadministrativos sejam contratados”, informa o coordenador.

A tese “Viagem e Turismo, conceitos na literatura e nos relatos de viagem”, do professor Silvio Lima Figueiredo, ganhou Prêmio Mario de Andrade, na categoria Tese, em terceiro lugar. O Prêmio,lançado pelo Ministério da Cultura, através do Iphan, e com apoio da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), é voltado a dissertações e teses relacionadas à temática “Museus, memória social e patrimônio cultural”, defendidas entre os anos de 2000 a 2007.

Vestibulinho

De 04 a 20 de novembro estarão abertas as inscrições para o Processo Seletivo à Mobilidade Acadêmica Externa 2008. As inscrições devem ser feitas pela internet, pelo site www.ceps.ufpa.br.

Doutorado

A UFPA aprovou o doutorado em Ciência Animal. O curso integrará o Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. A primeira turma está prevista para março de 2009.

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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2008 –

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Elcimar Neves/ AG. Pará.

Meio Ambiente

Genética monitora rios da Amazônia Projeto pioneiro realiza estudos citogenéticos em peixe elétrico

fotos acervo projeto

Ana Carolina Pimenta

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Grupo realiza palestras, cursos e oficinas em escolas públicas e particulares na Região Metropolitana de Belém

GPEAA promove educação ambiental

Interdisciplinaridade possibilita diálogo com todos os conteúdos escolares Walter Pinto

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m nível global, foi a partir da década de 1960 que aumentaram, de modo significativo, as preocupações da sociedade com questões ambientais decorrentes do desequilíbrio do meio ambiente, causado pela própria sociedade, durante o processo de acumulação de capital e geração de vida. O nível de degradação acendeu o sinal de alerta. Entre as medidas tomadas com objetivo de reduzir o impacto, as que se voltam à formação de uma consciência ecológica tendem a ser mais efetivas. Neste contexto, o ensino da disciplina Educação Ambiental tornou-se ferramenta de extrema importância. A disciplina surgiu na década de 1970, após a constatação da necessidade de participação ativa do indivíduo e da coletividade na resolução de problemas concretos. No Brasil, a Lei Federal n.º 226/87 determinou a inclusão da educação ambiental nos currículos escolares de 1º e 2º graus. Na década de 1990, novos parâmetros curriculares definiram-na como tema transversal em todas as demais disciplinas. Constatou-se que a questão era ampla demais, impossível de ser contemplada com um componente curricular específico. Foi dentro desse enfoque interdisciplinar que um grupo de alunos dos cursos de Química, Biologia e Pedagogia começou a trabalhar cientificamente, em 1999, no Clube de Ciências da UFPA. Juntamente com professores, do então Centro de Ciências Biológicas, o grupo desenvolveu atividades de educação ambiental nas escolas públicas e particulares de Belém e região metropolitana. O grupo foi o embrião do atual Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Ambiental (GPEEA), criado há sete anos, responsável

pela linha de pesquisa em educação ambiental do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica (NPADC), da Universidade Federal do Pará. O GPEAA está instalado no prédio do NPADC, no campus básico da Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto. Sob coordenação da professora Terezinha Valim Oliver Gonçalves, o antigo grupo realizou atividades em várias frentes, buscando formar massa crítica e contribuir para a transformação da sociedade em relação aos cuidados com o ambiente. Para a sua clientela de 1º e 2º graus, o grupo produziu material didático, promoveu palestras e organizou visitação ao Bosque Rodrigues Alves, ao Parque Ambiental, ao Planetário do Pará, aos museus e também ao Lixão do Aurá. Também desenvolveu projetos de investigação científica, com destaque para temas como reciclagem de resíduos sólidos, compostagem, desmatamento, produção e tratamento adequado de lixo, recursos hídricos e naturais. Os resultados das atividades foram

apresentados em feiras de ciências promovidas pelo Clube de Ciências e pelo governo do Pará. REESTRUTURAÇÃO – Em 2001, o grupo se transformou no Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Ambiental, já sob coordenação da professora Ariadne Peres, mestre em Zoologia, doutoranda em Antropologia e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. O trabalho passou por um processo de reestruturação. Para além das áreas originais (Química, Biologia e Pedagogia), a interdisciplinaridade ampliou seu raio de ação, envolvendo também Matemática, Oceanografia, Engenharia de Pesca, História e Estatística. Para Ariadne Peres, dada a sua natureza transversal e interdisciplinar, a educação ambiental deve perpassar conteúdos e não pontuar uma ação isolada nos currículos. “Penso que a grande contribuição do grupo direciona-se aos docentes e discentes no sentido de aplicar, futuramente, durante o exercício da profissão, a transversalidade e a interdisciplinari-

dade da questão ambiental no ensino de Ciências”, explica. As atividades desenvolvidas pelo GPEEA (palestras, cursos e oficinas) enfatizam a necessidade de romper com a fragmentação da relação entre ensino e aprendizagem. “Nossas ações são focadas na interdisciplinaridade, na dialética e no trabalho em grupo”, diz Ariadne Peres. “Assim, buscamos contribuir com a melhoria não só do ensino de Ciências, mas também com a da educação básica como um todo”. Uma dessas ações, o grupo realiza como integrante do Programa de Formação, Tecnologia e Prestação de Serviços em Educação em Ciências e Matemáticas (Educimat), ligado à Rede de Formação Continuada de Professores, da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Cultura. É constituído por três grandes eixos de trabalho e tem por objetivo melhorar a educação em ciências e matemáticas no Estado do Pará e região. O grupo também atua no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências Matemáticas do NPADC.

n Coordenadora defende ação conjunta Por sua temática transversal e ação interdisciplinar, o GPEEA tem interagido e atuado em várias linhas dentro da tríade ensino, pesquisa e extensão. No ensino, por meio da oportunidade aos licenciados de uma prática docente contextualizada com a realidade do espaço e do alunado. Na pesquisa, ao registrar e analisar essa prática. Na extensão, atendendo o alunado do ensino fundamental, principalmente, das escolas públicas situadas no entorno da UFPA. De acordo com a coordenadora, a prática docente, no âmbito das

metodologias inovadoras da educação ambiental, facilita e estimula o ensino e aprendizagem. “Recentemente, realizamos estudos sobre a biodiversidade do Parque Ambiental de Belém, cujos resultados foram apresentados em um evento científico internacional e dois trabalhos, em eventos locais”. Para ela, é possível concluir que ações em educação ambiental “podem efetivamente contribuir para a melhoria do quadro social, porém, precisam ter continuidade, envolvendo a comunidade, o poder público e as Secretarias de Educação, pois

o enfrentamento das diversificadas problemáticas ambientais requer agir no coletivo”. O GPEEA está registrado na PROPESP/UFPA/CAPES/CNPq. Uma de suas unidades mais procuradas é a Sala Verde Pororoca - Espaço Interativo Socioambiental Paulo Freire, mantida pelo convênio UFPA/ Ministério do Meio Ambiente. Tratase de uma biblioteca pública especializada em educação ambiental, cujo acervo, além de livros, possui vídeos, CDs e jogos didáticos, entre outros meios de divulgação pedagógica.

Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo, concentrando 1/5 da água doce da Terra. A descarga amazônica equivale a 20% da água doce que é despejada nos oceanos por todos os rios do planeta. Apesar de toda a grandiosidade, já é difícil encontrar, em alguns estados banhados por ela, áreas completamente livres de poluição. É o caso dos rios do Estado do Pará que, desde a década de 80, vêm sofrendo enormes pressões em virtude do avanço da indústria, sobretudo, da exploração mineral. Para avaliar os aspectos físicoquímicos e biológicos dessas águas, detectando, entre outras coisas, os níveis de metais pesados como mercúrio e alumínio, foi aprovado, no primeiro semestre de 2008, o projeto “Definição de Organismos Aquáticos com Potencial para Utilização como Bioindicadores de Qualidade da Água”, com o apoio da Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM). A iniciativa é do Núcleo de Estudos de Biodiversidade e Bioindicadores, coordenado pelo Laboratório de Citogenética, em colaboração com o Laboratório de Organismos Aquáticos e o Laboratório de Química Analítica e Ambiental da UFPA, com o Grupo de Estudos em Biota da UFRA e o Laboratório de Biologia Molecular e Genômica da UFRN. O Núcleo busca estudar peixes elétricos da ordem Gymnotiformes, conhecidos como Ituís, quanto a sua biodiversidade genética e morfológica e seu potencial como bioindicador. “O Projeto é pioneiro na Amazônia. É a primeira vez que esse peixe terá suas características estudadas de modo interdisciplinar, visando ao monitoramento das águas da região”, informa Júlio Pieczarka, coordenador geral do Projeto e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. Organismos bioindicadores são seres vivos que reagem a alterações ambientais, modificando suas funções vitais e/ou sua composição química e, com isso, fornecem informações sobre a saúde do ecossistema. A escolha pelo Ituí deve-se ao fato de o peixe ser encontrado em toda a Bacia Amazônica e, mesmo a pequenas variações de stress ambiental, seu campo elétrico sofrer alterações significativas.

n Alterações genéticas Ituí será utilizado como bioindicador da qualidade das águas da Bacia Amazônica

n Projeto avalia poluição no rio Guamá Imortalizado pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro, o rio Guamá agoniza frente às agressões que vem sofrendo nos últimos anos. O acelerado crescimento, sem condições adequadas de habitação e saneamento básico, tem prejudicado excessivamente a qualidade da água nessa região. Alguns estudos já comprovaram o elevado índice de poluição existente, principalmente, no igarapé Tucunduba. “Uso do teste com Allium cepa na análise da influência das marés na dispersão de poluentes no rio Guamá e igarapé Tucunduba em Belém/PA” e “Aplicação das técnicas de micronúcleo e cometa em eritrócitos de peixes da ordem Gymnotiformes como bioindicadores no Estado do Pará” são estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Citogenética, que busca analisar as alterações mutagênicas, induzidas pela presença de poluentes na região. Com metodologias baseadas na exposição de raízes de cebola (Allium cepa) e peixes Ituís a diferentes amostras de água coletadas, os trabalhos, coordenados pelo doutor José Augusto David, têm como objetivo analisar as possíveis alterações genéticas causadas pelos poluentes presentes nas águas, sendo possível fazer inferências sobre o papel das marés na movimentação desses poluentes.

RESULTADOS – Os estudos, iniciados em abril, terão seus resultados divulgados ainda este ano, mas já apresentam alguns resultados preliminares interessantes do ponto de vista ambiental. Segundo José David, nas condições em que foram realizados os testes, não foi detectado “dano mutagênico”, ou seja, não foi observado quebra de DNA nas raízes e peixes analisados, indicando que as águas do rio Guamá e do igarapé Tucunduba possivelmente não apresentam níveis relevantes de metais pesados, sendo sua poluição causada por dejetos orgânicos. “Em termos práticos, podemos dizer, num primeiro momento, que essas águas podem, certamente, ser recuperadas. De qualquer maneira, os testes serão refeitos para que tenhamos certeza dos resultados”, explicou o pesquisador. “No geral, o que eu acho mais importante é alertar o paraense sobre as condições dos rios daqui, porque temos a impressão de que um rio largo e volumoso, como o Guamá, nunca terá uma carga de poluentes capaz de prejudicar a população e o que ocorre, na verdade, é que os poluentes percorrem um grande caminho, principalmente, pela margem do rio, justamente onde as pessoas se banham, lavam roupas, bebem água”, afirma o geneticista.

O projeto pretende analisar a qualidade da água de três localidades: Tucuruí e Barcarena, supostamente contaminadas; e a Reserva Mamirauá, no Amazonas, certamente preservada e que servirá de controle para os estudos. “Escolhemos a Reserva de Mamirauá, mais distante, portanto mais dispendiosa, por não encontrarmos, em território paraense, um local seguramente isento de poluição”, comentou Pieczarka. Desse modo, Mamirauá é a referência para se comparar a quantidade e distribuição de espécies, bem como as freqüências de mutações genéticas observáveis na ausência de poluição. A demanda por um projeto de monitoramento da qualidade das águas em Barcarena é grande, pois o município apresenta um dos casos mais emblemáticos com relação aos impactos gerados nas águas pela indústria mineradora no Pará. Estudos efetuados em ecossistemas aquáticos de regiões com indústrias beneficiadoras do caulim indicam elevadas concentrações de ferro, zinco e cádmio. De acordo com as análises feitas no Laboratório de Citogenética, será possível estabelecer correlações entre variantes ambientais e diferentes graus de alteração genética nas espécies bioindicadoras. Esses dados permitirão a análise de outras localidades, pois estabelecerão parâmetros de comparação.

O projeto pretende analisar a qualidade da água no Lago da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, em Barcarena e na reserva de Mamirauá


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