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ISSN 1982-5994

UFPa • aNo XXViii • N. 118 • aBriL e Maio, 2014

Frutas regionais têm alto valor nutricional Páginas 6 e 7

Clima

Chuvas e cheias Estudo discute fenômenos climáticos e vulnerabilidade social. Página 12 Tecnologia

Sistema Enigma Jogo educacional leva linguagem de programação para o ensino médio. Páginas 16 e 17


UniVeRSidAde FedeRAL dO PARÁ JORNAL BEIRA DO RIO cientificoascom@ufpa.br Coordenação: Prof. Luiz Cezar Silva dos Santos Edição: Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE) Reportagem: Amanda Pinho, Marcus Passos, Paloma Wilm e Vitor Barros (Bolsistas). Walter Pinto (561-DRT/PA) Fotografia: Alexandre Moraes e laís Teixeira Fotografia da capa: laís Teixeira Ilustrações: Benelton Lobato/Márcio Dias/CMP/Ascom Charges: Walter Pinto Projeto Beira On-Line: Danilo Santos Atualização Beira On-Line: Rafaela André Revisão: Júlia Lopes e Cintia Magalhães Projeto gráfico e diagramação: rafaela André Marca gráfica: Coordenadoria de Marketing e Propaganda CMP/Ascom Secretaria: Silvana Vilhena Impressão: Gráfica UFPA Tiragem: Mil exemplares

Reitor: Carlos Edilson Maneschy Vice-Reitor: Horácio Schneider Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas Pró-reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho Pró-Reitora de Planejamento: Raquel Trindade Pró-reitor de relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar Prefeito: Alemar Dias Rodrigues Junior Assessoria de Comunicação Institucional - ASCOM/UFPA Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto Rua Augusto Corrêa n.1 - Prédio da Reitoria - Térreo CEP: 66075-110 - Guamá - Belém - Pará Tel. (91) 3201-8036 www.ufpa.br


O sabor, nós já conhecemos e não é de hoje. O que o estudo de Bianca Alves trouxe de novo sobre as frutas regionais foi a comprovação do seu alto valor nutricional. De acordo com a pesquisadora, essas informações são raras na literatura e, quando existem, ficam limitadas ao cupuaçu e açaí. A pesquisa analisou o teor de concentração mineral em 22 frutas amazônicas e como esses minerais são absorvidos pelo organismo. Escolhido pela comunidade acadêmica, “Direitos Humanos e Tecnologia” é o tema que norteará as atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFPA, em 2014. Esta edição traz duas reportagens sobre o assunto: Mais educação para a Amazônia, assinada por Amanda Pinho, apresenta detalhes do dossiê publicado recentemente pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. O texto de Marcus Passos, Abordagem fere os direitos humanos, divulga os resultados da pesquisa realizada com policiais militares paraenses que atuam no policiamento ostensivo. A edição também traz: os ex-combatentes que estiveram na Segunda Guerra, a maneira divertida de aprender com o Sistema Enigma, a história de superação e sucesso do curso de Geologia, entre outras histórias. Boa leitura!

Índice Uso de drogas entre adolescentes no Pará ...........................4 Abordagem fere direitos humanos ......................................5 O valor das frutas amazônicas ..........................................6 Nossa herança da Segunda Guerra ......................................8 Uma história de superação e sucesso ........................................ 10 Pesquisa analisa chuvas e cheias ..................................... 12 Convênio atrai jovens estrangeiros .................................... 13 Mais educação para a Amazônia ....................................... 14 Capacitação no ensino médio.......................................... 16 Artesanato, cultura e identidade .................................... 18

Rosyane Rodrigues Editora

O Campus de Cametá foi fundado em 1987, como resultado do Projeto de Interiorização da UFPA. Por sua localização, ele atende estudantes de toda aquela região. Na fotografia de Alexandre Moraes, temos a orla da cidade.


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BENElTON lOBATO

ACERVO PESSOAL

oPiniÃo Uso de drogas entre adolescentes no Pará

A

adolescência é a fase que marca a transição entre a infância e a idade adulta. A Organização Mundial da Saúde define adolescente como o indivíduo que se encontra com idade entre 10 e 20 anos. Mudanças biológicas, emocionais e sociais são características da adolescência. Essa fase é um momento relevante para a adoção de novos hábitos e práticas. Por outro lado, a adolescência também é marcada pela indecisão, fator que pode expor o adolescente a comportamentos de risco à saúde. Geralmente, a problemática decorrente do uso de drogas começa na adolescência, passando a ser frequente ainda nesse período ou na fase adulta. No Brasil, o panorama do uso de drogas por adolescentes mudou completamente nas últimas décadas. No início da década de 80, os estudos epidemiológicos não encontravam prevalências de uso alarmantes entre estudantes da educação básica. Porém levantamentos realizados entre 1987 e 2010 reportaram uma tendência ao crescimento da experimentação e do uso regular de drogas entre os adolescentes. O álcool e o tabaco ocupam os primeiros lugares como as drogas mais utilizadas e com mais problemas associados, como os acidentes no trânsito e a violência. Além disso, uma tendência ao aumento do uso da maconha, da cocaína e seus derivados em diversas capitais tem sido observado. Recentemente, um levantamento sobre uso de drogas entre estudantes no Pará foi concluído. No período de

2010 a 2013, cerca de 21 mil estudantes de 33 escolas públicas, localizadas nos municípios de Ananindeua, Belém, Marituba, Bragança, Capanema, Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Curralinho, Melgaço, Gurupá e Soure, contribuíram com informações sobre o uso de drogas lícitas e ilícitas. A maioria dos participantes estava na adolescência (88,6%) e pertencia ao sexo feminino (61,9%). O álcool e o tabaco foram as drogas mais utilizadas. A prevalência de experimentação de alguma bebida alcoólica, pelo menos uma vez durante a vida, foi de 61,6%. Sendo observado que cerca de 40% dos estudantes bebem regularmente alguma bebida alcoólica. Por outro lado, a prevalência de experimentação de tabaco, pelo menos uma vez, foi de 23,8% e, aproximadamente, 9% dos estudantes fumam regularmente. Diversos fatores associados ao uso regular de álcool e de tabaco foram determinados. Entre tais, destacaram-se: idade superior a 16 anos, ausência de participação dos pais na vida escolar dos estudantes, defasagem nos estudos, o uso regular de drogas lícitas por pais, amigos e familiares. Já em relação ao uso de drogas ilícitas, a prevalência de experimentação de maconha e/ou cocaína, pelo menos uma vez, foi de 8,7% e cerca de 4,7% dos estudantes usam regularmente maconha e/ou cocaína. Entre os estudantes que usam regularmente drogas ilícitas, a prevalência de uso de maconha, maconha + pasta de cocaína e oxi foi 65,5%, 25,5% e 9,0%, respectivamente. A ausência de participação dos pais na vida escolar dos estudantes e a existência de pais, amigos e familiares que usam droga lícita e/ ou ilícita foram fatores associados ao uso de drogas ilícitas. De forma geral, os resultados obtidos no Pará são semelhantes aos obtidos em estudos epidemiológicos realizados com estudantes de outros Estados brasileiros. Entretanto informações específicas foram identificadas na comunidade estudantil em cada município

e, provavelmente, auxiliaram a comunidade e as instituições locais a buscarem soluções para o controle e a prevenção do uso de drogas. Esses resultados estão sendo divulgados nas escolas públicas e também entregues às instituições de ensino e de saúde nos municípios. Além disso, cerca de 30 estudantes de Licenciatura em Ciências Naturais da UFPA participaram da equipe técnica da pesquisa e estão utilizando os dados para desenvolvimento de seus respectivos Trabalhos de Conclusão de Curso e divulgando os resultados em eventos e periódicos científicos, nacionais e internacionais. Em suma, a nossa responsabilidade não é somente conhecer e aceitar a atual situação de uso de drogas, mas também buscar mudanças. Essencialmente, essas mudanças devem ser iniciadas, estimuladas e exemplificadas pelas famílias. diversos estudos têm mostrado que a não utilização de drogas por pais e familiares e o bom relacionamento familiar são fatores de proteção aos adolescentes e jovens. Além disso, os profi ssionais de instituições de ensino e de saúde devem ser capacitados para reconhecer e atender adolescentes e jovens usuários de drogas, seja álcool, tabaco, maconha, seja cocaína. Nesse ponto, o Estado deve incentivar e capacitar os profi ssionais de Educação a reconhecer e a atender, de forma primária, os usuários de drogas. Da mesma forma, o Estado também deve criar estrutura adequada de assistência à saúde e a programas de capacitação de profissionais de saúde para atender e tratar, de forma efetiva, os usuários de drogas, desde iniciantes até dependentes. Possivelmente, a parceria família, escola e Estado será fundamental para minimizar e, até mesmo, reverter a atual situação relacionada ao uso de drogas entre adolescentes. Aldemir Branco de Oliveira Filho - docente do Campus de Bragança da UFPA E-mail: olivfilho@ufpa.br


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Polícia

Abordagem fere direitos humanos Foram entrevistados 335 PMs do policiamento ostensivo Alexandre Moraes

Marcus Passos

Pesquisador concentrou atividades nos bairros Guamá e Terra Firme, que apresentam altos índices de criminalidade.

P

ara um policial militar, a percepção da condição de suspeito de um indivíduo que pode representar uma situação de perigo para o convívio social baseia-se, principalmente, em um conjunto de estigmas, como a forma de se vestir, os adereços utilizados, a condição étnica e a segregação espacial do sujeito. Essa estratégia de identificação e definição do grau de periculosidade do indivíduo, que resulta no ato da abordagem policial, apresenta-se como uma notável violação de direitos humanos. Na sociedade brasileira, especificamente na Região Norte, os padrões sociais não são claramente definidos e o perfil de uma pessoa “suspeita” varia de acordo com os fatores socioeconômicos e culturais. A avaliação que traz esse resultado faz parte de uma análise quantitativa e analítica envolvendo 335 policiais militares que executam o policiamento ostensivo em Belém. Esse é apenas um dos resultados apresentados pelo Projeto de Pesquisa “Abordagens Policiais de

Rotina e Direitos Humanos em Belém -Pará”, coordenado pelo professor Jaime Luiz Cunha de Souza, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará. A pesquisa, que contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concentrou suas atividades nos bairros Guamá e Terra Firme. Os bairros apresentam os maiores índices de criminalidade da capital, possuem grande concentra-

ção populacional e estão localizados próximos um ao outro. O principal objetivo da pesquisa foi “analisar as dinâmicas que envolvem as instituições policiais e avaliar como a ‘mentalidade’ desse órgão público se choca com o interesse das comunidades em que atuam, além das discussões sobre qual seria a sua função na sociedade contemporânea e por quais parâmetros o trabalho do policial deve ser avaliado”, explica o pesquisador Jaime Cunha.

Esgotamento, autoproteção e autoritarismo O estudo revelou a existência de altos níveis da síndrome do esgotamento profissional, do uso do código de silêncio (como forma de autoproteção) e do autoritarismo entre os policiais militares, segundo uma avaliação feita com 50 sargentos dessa corporação. A relação entre esses fatores leva aos desvios de comportamento e à violação de direitos humanos, definindo a cultura/ subcultura policial. No entanto o professor Jaime Cunha ressalta que os dados utilizados não representam uma amostra suficiente para conclusões definitivas. A maior contribuição desse trabalho é o esclarecimento de algumas

questões sobre a instituição policial. A pesquisa também revela que os policiais não se sentem confortáveis com a discussão sobre direitos humanos por associarem o tema com uma forma de denegrir ou acusar o trabalho da corporação policial. Mesmo assim, eles compreendem que, em uma sociedade democrática, se deve levar em consideração o direito de cada pessoa. Publicação – Um dos resultados do projeto foi o lançamento do Livro Na Periferia do Policiamento – Direitos Humanos e Práticas Policiais, organizado pelos professores Daniel Chaves de Brito e Jaime Luiz Cunha de Souza.

“Essa pesquisa é importante, pois estamos produzindo conhecimento a respeito da nossa realidade e da polícia que atua no Estado do Pará. Além disso, o trabalho não é uma abordagem descritiva, mas, sim, analítica”, enfatiza o pesquisador. Nove artigos compõem a obra, que aborda alguns temas inéditos para a Região Norte, a exemplo do texto “Agentes Prisionais: Percepções e Conflitos de uma Profissão de Risco”, que mostra a percepção dos agentes penitenciários sobre suas atividades na instituição e sobre os detentos, além do funcionamento do processo de sociabilização dos presos.

Serviço O livro pode ser adquirido na Editora Paka-Tatu e na secretaria do Programa de Pós-Graduação em Defesa Social e Mediação de Conflitos da UFPA. Mais infomações: (91) 3201-7798.


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Química

O valor das frutas amazônicas Açaí, bacuri e tucumã apresentam alto teor de ferro Amanda Pinho

A

Dissertação Determinação e Avaliação da Bioacessibilidade in vitro de Constituintes Inorgânicos em Frutas da Região Amazônica objetiva a valorização de frutas regionais, a partir da divulgação da propriedade nutricional de frutos, como açaí, taperebá, pupunha, jambo, entre outros, popularmente consumidos não só no Pará, mas também na Região Amazônica. Bianca Alves, autora da pesquisa, conta que a literatura existente carece de registro de informações sobre as frutas regionais, frequentemente limitando-se ao cupuaçu e ao açaí, frutos que já apresentam uma

certa notoriedade nacional e internacional. “Não há referências ao teor de proteínas, vitaminas, e minerais principalmente. Queremos mostrar o potencial que a Amazônia tem com relação às frutas. Um potencial nutricional enorme, que é desconhecido”, afirma a pesquisadora. Realizada em duas etapas, a pesquisa estudou o potencial nutricional de vinte e duas frutas típicas da região, identificando o teor total de oito minerais (cálcio, cobre, ferro, potássio, magnésio, manganês, sódio e zinco) em cada uma delas. A segunda etapa foi a realização do processo de bioacessibilidade, que analisa, a partir do teor total, a quantidade de mine-

ral disponível para absorção pelo organismo. Nessa fase, em razão do tempo e do trabalho necessários para a realização do processo, apenas cobre, ferro e manganês foram selecionados para estudo em quatro frutas: o açaí, o açaí branco, o bacuri e o tucumã. Apresentada em 2013, no Programa de Pós-Graduação em química, vinculado ao Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), sob a orientação da professora Kelly das Graças Fernandes Dantas, a pesquisa, agora, aguarda publicação no meio acadêmico e serve de base para o desenvolvimento de outros projetos, como Trabalhos de Conclusão de Curso dos alunos da Graduação em química.

Seleção considerou as frutas mais consumidas Bianca Alves conta que a escolha pelas vinte e duas frutas region a i s deu-se c o m base

no consumo desses frutos na região, os quais, segundo a pesquisadora, “têm consumo contínuo por parte da população”. Ela acrescenta que foi coletado o número máximo de frutas com o qual fosse possível trabalhar dentro do tempo estipulado para o desenvolvimento da dissertação. A escolha pelos minerais a serem analisados também se deu a partir de seus graus de relevância, sendo escolhidos os mais importantes ao nosso organismo. “Todos esses minerais estão relacionados ao nosso metabolismo e são todos essenciais para o nosso organismo, cada um com a sua função”, explica. Nessa etapa da pesquisa, os valores totais dos minerais foram comparados com os recomendados para a ingestão diária. Entre

os resultados obtidos, destaca-se a baixa concentração de zinco e magnésio e a alta concentração de manganês. No caso do zinco, a ingestão diária recomendada pelo Food & Institute of Medicine varia de 8mg a 11mg, enquanto os valores encontrados nas vinte e duas frutas analisadas ficaram entre 0,51mg e 2,34mg. Já o magnésio, cuja recomendação fica entre 240mg e 420mg diários, apresentou variação entre 35,9mg e 219,85mg. A concentração do manganês, entretanto, variou de 0,19mg a 70,99mg, enquanto o recomendado fica entre 1,8mg e 2,3mg por dia. Segundo a pesquisadora, todo mineral, dependendo da concentração, pode ser bom ou tóxico para o organismo. O açaí, por exemplo, por ser “plantado em áreas de várzea, com grande concentração de água, apresenta maior concentração de minerais. No caso do manganês, foi observada uma concentração alta nas amostras de açaí”, revela.


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Bioacessibilidade diz como o mineral é absorvido FOTOS lAÍS TEIxEIrA/AlExANdrE MOrAES

A alta concentração de determinado mineral não significa a absorção completa por parte do organismo, o que justifica a segunda etapa da pesquisa. “Só a partir do estudo de bioacessibilidade, é possível dizer quanto o organismo está absorvendo desse mineral e, então, iremos saber se ele está trazendo malefício ou benefício para o organismo”, acrescenta Bianca Alves. O processo de bioacessibilidade consiste na simulação in vitro das digestões gástrica e gastrointestinal das frutas. Para essa etapa, foram selecionadas quatro frutas: o tucumã, o açaí branco, o açaí e o bacuri, nas quais, apenas o cobre, o ferro e o manganês foram analisados, uma vez que esses foram os elementos que apresentaram as maiores concentrações. Entre os resultados encontrados nessa etapa, a amostra de bacuri apresentou o menor percentual de bioacessibilidade para o cobre. A bioacessibilidade

Primeira etapa da pesquisa analisou 22 frutas regionais.

encontrada para o ferro no açaí, no açaí branco, no bacuri e no tucumã foram semelhantes, sendo que todas as frutas apresentaram concentração acima do percentual de absorção diária de ferro e manganês.

Segundo Bianca, “os resultados obtidos neste estudo valorizam as frutas cultivadas no Brasil, em especial, as frutas da Região Amazônica, mostrando seu potencial nutricional, quando relacionado ao teor de minerais”.

mineraiS Servem Para... Minerais

Função

Cálcio

Auxilia na coagulação do sangue, na contração dos músculos, na transmissão de impulsos nervosos e na liberações de hormônios.

Cobre

Desempenha funções de suma importância no transporte de ferro necessário para a síntese de hemoglobina e na manutenção de vasos sanguíneos.

Ferro

Exerce o transporte de oxigênio do sangue (hemoglobina) e nos músculos (mioglobina) e faz parte da composição de diversas enzimas do processo oxidativo. Também está envolvido na função imunológica e no desempenho cognitivo.

Magnésio

Participa na produção de energia, no metabolismo da glicose, na oxidação dos ácidos graxos e na ativação dos aminoácidos e, ainda, na síntese e transmissão do código genético do dNA e rNA.

Manganês

Este elemento está associado à formação de tecidos conjuntivo e esquelético e colabora na formação de cartilagens e ossos.

Potássio

Tem como função a transmissão de impulsos nervosos e a contração muscular e ajuda a manter os níveis de pressão.

Sódio

Participa do potencial de membrana, da absorção de água e glicose e atua também na condução de impulsos nervosos e contração muscular.

Zinco

Está envolvido na estabilização da membrana estrutural e na proteção celular. Este mineral é indispensável para a atividade de enzimas envolvidas com a síntese de dNA e rNA.


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História

Nossa herança da Segunda Guerra Pracinhas paraenses são exemplo de longevidade Fotos Acervo do Pesquisador

Ex-combatentes no Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente.

Paloma Wilm

O

s desfiles em comemoração ao Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro, são abertos, em Belém, pelo grupo dos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, também conhecidos como “pracinhas paraenses”. Entretanto, depois de certo tempo, os pracinhas não estavam mais apresentando interesse em participar dos desfiles e muitos explicavam que isso acontecia pelo fato de já possuírem uma idade muito avançada e não apresentarem condições físicas para desfilar. Mas essa explicação era verdadeira? Como estava a saúde dos ex-combatentes da Segunda Guerra? Por que o desfile repentinamente tinha perdido a importância para eles?

Essas especulações despertaram discussões acerca da qualidade de vida desse segmento da população idosa, nos aspectos da saúde física e da dignidade humana, assunto ainda pouco investigado cientificamente, em particular, na Região Amazônica. Com base nisso, os Programas de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA/UFPA) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia (PPGSSEAM/UFPA/UFAM/FIOCRUZ), por meio do Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente (LEBIOS), desenvolveram o Projeto “Resgatando a Dignidade: História de Vida e Saúde dos Pracinhas Paraenses”. Coordenado pelo professor Hilton Pereira da Silva, juntamente com o professor

Elton Vinicius Oliveira de Sousa, do Campus de Castanhal, o projeto visa identificar os pracinhas paraenses ainda vivos e conhecer a história de vida, as condições socioeconômicas e ambientais, a situação de saúde e a participação da Segunda Guerra Mundial. “É de conhecimento público que o número de pessoas idosas no mundo está aumentando, assim, é importante identificar quais são os fatores sociais, culturais e biológicos associados a essa longevidade e como as pessoas envelhecem na nossa região. A Amazônia tem predominância de jovens e a precariedade socioambiental diminui a expectativa de vida da população, o que faz com que haja ainda poucos estudos a respeito dos idosos”, explica o professor Hilton da Silva.


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Registros estão em áudio, vídeo e fotografias Os pracinhas paraenses pertencem à Associação dos ExCombatentes de Guerra do Brasil, Secção Pará. Durante a pesquisa, realizada entre 2010 e 2012, os ex-combatentes responderam a questionários qualitativos sobre qualidade de vida, fizeram avaliações bioantropológicas (peso, altura, gordura corporal, avaliação física e de força de preensão) e participaram de uma entrevista registrada em áudio, vídeo e fotos, descrevendo a sua trajetória e o seu envolvimento na Guerra. Ao todo, foram entrevistados 20 idosos do sexo masculino, com uma média de 90 anos de idade. “Observando as atividades físicas, a capacidade cognitiva e o cotidiano, os ex-combatentes são pessoas que têm uma vida bastante ativa, demonstrando que a questão da longevidade pode ser atingida por qualquer pessoa, desde que tenha as condições necessárias para isso. Essas condições são, principalmente, infraestrutura ambiental adequada, acesso a serviços de saúde e apoio familiar”, explica Hilton Pereira da Silva. O professor conta que, dentro de uma cidade como Belém, podem ser encontrados idosos vivendo nas mais diversas condições. Esses 20 idosos analisados são uma mostra particular, uma vez que possuem experiências de guerra. Esse fato fez com que, no período

No sentido horário: Grupamento da FEB, na Itália, em 1945; Cemitério italiano onde estão enterrados os brasileiros mortos no cambate; Navios brasileiros atingidos no Atlântico.

pós-guerra, eles tenham recebido apoio institucional e familiar, o que fez com que tivessem uma qualidade de vida melhor do que a média da população paraense. “Isso demonstra que, se você tem melhores condições de vida, independente de onde viva, é possível alcançar a longevidade”, avalia. O estudo ajuda a compreender melhor o processo de envelhecimento ao demonstrar que é possível envelhecer com qualidade de vida, sem, necessariamente, adoecer. Também foi possível avaliar, a partir de entrevistas e

exames, que a principal razão dos ex-combatentes não participarem dos desfiles comemorativos ao Dia da Independência do Brasil não tinha nenhuma relação com a saúde, “mas com a crença de que a população não tinha interesse por eles. Isso nos leva a outro ponto do projeto: resgatar a história da Amazônia e as experiências dos pracinhas, via relatos orais, além de valorizá-los como cidadãos longevos também contribui para o conhecimento das gerações mais jovens”, ressalta o professor Hilton.

Financiamento vai garantir a criação de museu O projeto, que contou com a participação de alunos da Iniciação Científica Júnior, da graduação e do mestrado, já gerou alguns produtos: o videodocumentário Por Terra, Céu & Mar, que resgata a participação amazônica e paraense na Segunda Guerra Mundial; a Dissertação Capacidade Funcional e Condições Socioecológicas em Idosos Longevos: uma amostragem dos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial em Belém do Pará, de autoria de Elton Sousa,

no Programa de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA), e o livro Por Terra, Céu & Mar: Histórias e memórias da Segunda Guerra Mundial na Amazônia, de autoria de Hilton Silva, Elton Sousa, Murilo Teixeira e Samuel Mendonça, realizado em parceria com a Editora Paka-Tatu. “Estamos planejando ações para resgatar a memória e dar aos pracinhas o prestígio que eles

merecem. Graças à mobilização gerada, os ex-combatentes foram homenageados pela Assembleia Legislativa e, agora, estamos discutindo uma proposta de transformar a Associação num Centro de Memórias da Segunda Guerra Mundial, como um museu, no qual, ficarão expostos materiais, livros, relatos e memórias dos ex-combatentes. Estamos procurando financiamento para isso, mas queremos garantir que essa memória não seja perdida”, conclui o professor.


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Entrevista

Raimundo Netuno Nobre Villa

Uma história de superação e sucesso Curso de Geologia comemora 50 anos entre os melhores do País Laís Teixeira

Walter Pinto

O

curso de Graduação em Geologia da UFPA completou 50 anos. Nas avaliações a que é submetido, o curso sempre se destaca entre os melhores do Brasil. Esta qualidade se reflete na formação dos graduandos, sob responsabilidade de um corpo de professores, do qual, 95% são doutores. Na entrevista a seguir, o professor Raimundo Netuno Nobre Villa, do Grupo de Pesquisa em Geologia Econômica, conta um pouco da história do curso, da fase crítica inicial à excelência acadêmica de hoje.

Amazônia desconhecida O curso foi criado a partir de uma necessidade nacional de formar pessoal capacitado para desenvolver programas de exploração mineral na Amazônia, região cujo potencial era, até então, desconhecido. Tive, inclusive, um professor na graduação, no Rio de Janeiro, que dizia que a Amazônia não tinha nenhuma vocação mineral. Argumentava que, com exceção de depósitos minerais da Bacia Sedimentar do Solimões, no Amazonas, o restante da região não era favorável à formação de nenhum outro depósito. Hoje, sabe-se que isso é uma total inverdade. Naquela época, os amazônidas sequer sabiam o que era geologia ou, no máximo, relacionavam-na com exploração de petróleo. É fato que já havia algumas empresas atuando na região, mas eram poucas e a maioria estava mais preocupada com depósitos de fácil exploração, como os aluviares de ouro ou alguma cassiterita. Mas não havia um mapeamento básico, algo extremamente importante para conhecer o potencial mineral da


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região. Nesse sentido, a criação do Curso de Geologia tornou- se uma prioridade.

Dupla jornada O Curso de Geologia começou a funcionar em 1963, em um casarão localizado na Rua Arcipreste Manoel Teodoro, em frente à Praça Ferro de Engomar. Algumas aulas ocorreram na Travessa Três de Maio, antes de o curso se instalar definitivamente no Campus da UFPA. Um problema sério desta etapa inicial era a falta de um corpo próprio de professores. Os primeiros docentes eram, em grande maioria, geólogos da Petrobras, e as aulas eram noturnas. O início foi, então, marcado por essa dificuldade: os professores, depois de uma jornada diária de trabalho na empresa, tinham que enfrentar outra, no curso. A maioria deles afastou-se do quadro docente, mas, pelo menos dois permaneceram: os professores Rui Bahia e Vicente Caputo, que muito contribuíram dentro de suas áreas específicas. Nesta fase pioneira, o curso também contou com a presença de alguns professores egressos da Universidade de São Paulo (USP).

Anos de chumbo Apesar de todo o esforço do pessoal da Petrobras, o curso realmente “capengava” – esse é o termo certo. Cinco anos depois de criado, um relatório do antigo Departamento de Assuntos Universitários do MEC chegou a recomendar a sua extinção. A situação inicial pouco havia mudado, não foram realizadas contratações de docentes à altura da necessidade do curso. Nessa época, surgiu a ideia da formação de um Grupo de Pesquisa em Geociências na Amazônia, a ser composto, se possível, por pessoal da própria região. O objetivo era a criação posterior de um Centro de Excelência em Geociências

para o desenvolvimento de estudos nas áreas de Geofísica, Geoquímica e Geologia. Quem encabeçou esse empreendimento foi o professor Carlos Alberto Dias. Mas vivíamos uma época extremamente difícil, a fase mais dura do Regime Militar. A Ditadura retaliava quem não se identificasse com a ideologia vigente. O fato é que o projeto do professor Dias não foi aprovado. Ele, então, procurou outros centros até que encontrou guarida na Universidade Federal da Bahia, onde criou o Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geofísica. O plano de formar um Centro de Excelência na Amazônia, entretanto, não foi abandonado.

na Universidade de Berkeley, encontrou um ambiente mais favorável à efetivação do plano do professor Dias. À época, Aloysio Chaves era o reitor da UFPA. O chefe de Gabinete da Reitoria era Inocêncio Coelho, sogro de Bassalo e conhecedor do projeto. Foi ele quem convenceu o reitor de que, apesar da ideologia contrária ao regime, o Grupo da Geociência estava realmente interessado em formar gente capacitada para desenvolver ciência na Amazônia. Então, Seixas Lourenço pôde iniciar um programa análogo ao que Carlos Alberto Dias havia criado na Bahia, que se tornou o primeiro programa de pós-graduação da UFPA.

Massa crítica

Estrutura administrativa

A efetivação do plano passava pela formação de massa crítica local. Nesse sentido, uma estratégia colocada em prática foi recrutar, em Belém, particularmente no Colégio Paes de Carvalho, jovens com grande potencial para cursar a graduação no Sul-Sudeste do País. Devo destacar o papel desempenhado pelo físico José Maria Filardo Bassalo, a quem, como professor do colégio, coube a tarefa de escolher os alunos. Na primeira leva, José Seixas Lourenço e José Ricardo Sousa foram estudar Física na USP. Eu fui na segunda leva para o Rio de Janeiro, juntamente com Haroldo Sá e Olivar Lima. Depois, seguiram outros, como Gabriel Guerreiro e Bernardino Figueiredo, que se tornou um dos responsáveis pela criação do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Parte desse pessoal voltou para Belém. O plano estava, então, em pleno desenvolvimento. A segunda etapa aconteceu com a realização dos estudos de pós-graduação. Alguns fizeram doutorado no Brasil, outros foram para o exterior. Quando José Seixas Lourenço retornou do doutorado

Há um aspecto curioso em relação ao Curso de Geologia na fase inicial. A UFPA formou-se agregando as antigas faculdades então existentes. Praticamente, não havia cursos nas áreas de Ciências Humanas e de Exatas e Naturais. Então, foi difícil enquadrar a Geologia nas áreas existentes. Assim, a vinculação administrativa foi feita diretamente à Reitoria. Isso favoreceu o crescimento do curso, porque as decisões eram tomadas pelo próprio reitor ou por quem ele indicasse, sem passar pela intermediação dos colegiados de centros, departamentos e faculdades.

Crescimento Com a vinda desse pessoal com uma cabeça mais voltada para o mundo acadêmico, tivemos condições de montar bons projetos, que receberam financiamento das agências de fomento à pesquisa. Os recursos nos permitiram construir laboratórios, dotá-los de equipamentos e materiais, ampliar o acervo bibliográfico e realizar viagens de campo. Não há dúvida de que foi muito importante o apoio recebido das

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várias administrações superiores que sucederam a do reitor Aloysio Chaves. É aquela história: quando todos perceberam que o grupo começou a crescer, trouxe recursos, levantou prédios e laboratórios. Negar apoio ficou mais difícil. A Geociências foi crescendo em todos os sentidos e não parou mais. Hoje, se temos uma pós-graduação que alcançou o nível 6 na avaliação da Capes, um dos mais elevados, é porque o nosso material humano vem, fundamentalmente, da graduação, em que os alunos se integram a projetos de pesquisa desde cedo, por meio da Iniciação Cientifica. Eles recebem bolsas do CNPq, da Fapespa e de outras instituições, podem apresentar trabalhos em eventos locais ou fora daqui e isso é uma experiência importante na formação desses jovens. Eles interagem com os outros pesquisadores, conhecem horizontes e formam uma consciência científica própria.

Qualidade Para uma universidade localizada numa região como a nossa, normalmente vista com muita desconfiança pelo Sul e Sudeste e sem o apoio devido, é motivo de orgulho ter um curso que alcança a excelência e disputa, no mesmo nível de qualidade, com os melhores do Brasil. A Geologia da UFPA não deve nada a outros cursos de qualidade do Brasil e do exterior. Isso não quer dizer que não temos deficiências, mas quando você compara, as diferenças não são marcantes. Prova disso é o fato de o nosso curso estar entre os mais bem avaliados, inclusive pelo Guia do Estudante, da Editora Abril. Se você olhar os concursos públicos, como o recentemente realizado pela CPRM, constata que, entre os aprovados, é grande o número de egressos do nosso curso. Certamente, isso reflete o que a UFPA oferece aos seus estudantes.


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Clima

Pesquisa analisa chuvas e cheias Boletins de alerta podem ser elaborados para municípios atingidos Vitor Barros

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relação dos moradores da Amazônia paraense com a água – do rio ou da chuva – é um laço difícil de desfazer. Mas é possível aplacar a fúria da natureza que devasta municípios no interior do Estado, de tempos em tempos. Prever a ocorrência desses fenômenos e a sua magnitude pode ser um mecanismo de grande valia para elaborar estratégias de enfrentamento quando o momento chegar.

A mestranda de Ciências Ambientais, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Vânia Franco, premiada no V Simpósio Internacional de Climatologia, diz ser possível visualizar fenômenos meteorológicos ou climáticos que influenciam o aumento do nível dos rios. “O que apresentei no simpósio foi um trecho da minha dissertação”, diz a pesquisadora, que será titulada mestre no primeiro semestre de 2014. A Dissertação Previsão

hidrológica e análise de vulnerabilidade social em Marabá, Altamira e Santarém no Estado do Pará, orientada pelo professor Everaldo de Souza, do Instituto de Geociências (IG), pretende apontar um modelo estatístico hidrológico, com a finalidade de avaliar a qualidade de estimativas de precipitação (chuva) e prever enchentes nos rios Xingu, Tapajós e Tocantins, sub-bacias da Amazônia Oriental. E mais: a pesquisa ainda classifica a vulnerabilidade social, rela-

cionada a esse fenômeno nos municípios de Altamira, Marabá e Santarém. “Como analisamos a cota dos rios e os índices de vulnerabilidade, ou seja, um enfoque científico interdisciplinar que engloba aspectos sociais com a física do clima, esperamos que os resultados possam contribuir para a elaboração de boletins de alerta de cheia. A hipótese da dissertação é que tais municípios tenham alta vulnerabilidade a enchentes”, afirma Vânia.

Artigo premiado observou rio Xingu entre 1980 e 2011 Os dados sobre a precipitação nessa região foram colhidos de um satélite chamado TRMM. Esse satélite faz uma estimativa da chuva e não apresenta falhas de dados de superfície, diferente de estações pluviométricas terrestres. Os indicadores de pobreza, população e outros utilizados para analisar a vulnerabilidade social são dados secundários, fornecidos pelo IBGE. Por meio do monitoramento dos padrões climáticos que ocorrem sobre o Oceano Pacífico tropical, é possível prever maior ou menor quantidade de chuvas na Amazônia, cuja ocorrência influencia no regime hidrológico (a cota ou o nível fluviométrico) dos

rios estudados. Esse sistema influencia a América Latina como um todo. O artigo premiado analisou a cota do rio Xingu, em anos de El Niño e La Niña – fenômenos climáticos que provocam a diminuição e o aumento da chuva e estão relacionados às secas e enchentes. A ideia era analisar a evolução do nível desse rio, no período de 1980 a 2011. Para isso, foi definido um ano hidrológico, entre o mês de outubro, quando começa o fenômeno El Niño ou La Niña, até o mês de setembro, quando se encerra. O ano hidrológico permite perceber o comportamento do ciclo da água na natureza. Primeiro, foi feita uma

média total da cota do rio durante os 30 anos; depois, foi tirada a média da cota nos anos de El Niño (1983, 1987, 1992, 1995, 1998, 2007 e 2010) e outro cálculo em relação aos anos de La Niña (1985, 1989, 1996, 1999, 2000, 2008 e 2011). Conclusão: na diferenciação entre as médias, em anos de La Niña, ocorrem valores maiores em precipitação, diferente de anos de El Niño, quando, na estação chuvosa, a quantidade de precipitação foi menor. Ou seja, durante o La Niña, a cota esteve acima da média, ocasionando enchentes e inundações e, durante o El Niño, ficou abaixo do normal, afetando as atividades econômi-

cas e básicas dos indivíduos que têm o modo de vida diretamente ligado ao rio, podendo dificultar atividades como a navegação e a pesca. Na estimativa, a cota média do rio Xingu é de 400 cm, porém, em anos de La Niña, o nível do rio chega próximo a 700 cm. A pesquisadora diz que, nos períodos em que ocorre maior ou menor precipitação, os fenômenos potencializam seus efeitos. “No período seco, de setembro a novembro, em anos de El Niño, a precipitação diminui ainda mais. E no período chuvoso, de janeiro a abril, em anos de La Niña, aumenta a quantidade de chuva na Região Amazônica”, afirma. Alexandre Moraes


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Graduação

Convênio atrai jovens estrangeiros Desde 1970, UFPA oferta vagas para países em desenvolvimento Alexandre Moraes

Marcus Passos

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quantidade de estrangeiros cursando a graduação em solo brasileiro cresce a cada ano. Estima-se que sejam mais de 2.000 alunos, segundo dados do Ministério da Educação. Atualmente, um dos principais programas que têm possibilitado esse acesso é o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). Criado oficialmente em 1965, o programa tem como objetivo oferecer a estrangeiros residentes em países em desenvolvimento a oportunidade de cursar a graduação em uma das Instituições de Ensino Superior (IES) cadastradas no programa. A sua administração é feita pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Divisão de Temas Educacionais e pelo Ministério da Educação (MEC). O PEC-G foi criado com a finalidade de amparar os estudantes que vinham de outros países e possibilitar uma regulamentação como estudantes no Brasil. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, de 2000 até 2013, 7.676

estudantes foram atendidos pelo convênio. 56 países participam do PEC-G: 24 africanos, 25 americanos e sete asiáticos. Estão envolvidas no programa cerca de 100 Instituições de Ensino Superior (IES), entre universidades públicas e particulares. Os cursos com o maior número de vagas são Letras, Comunicação Social e Administração. Na Região Norte, oito instituições aderiram ao programa e três delas estão no Pará: Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade da Amazônia

(UNAMA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Na UFPA, Julieta Cristina Jatahy, é responsável pela Coordenadoria de Admissão e Cadastro, do Centro de Registro e Indicadores Acadêmicos (CIAC). “A participação da UFPA refere-se à oferta de vagas e ao controle da vida acadêmica dos estudantes, enquanto eles tiverem vínculo com a Universidade”, explica Julieta Jatahy. A UFPA tem oferecido uma vaga por curso, exceto na área de saúde, em que são duas.

Alunos precisam de proficiência em português O estudante estrangeiro que tiver interesse em participar do programa deve comparecer nas missões diplomáticas brasileiras ou repartições consulares. O dia e o horário são definidos pelo Ministério das Relações Exteriores. Segundo Kristopher Samuel, aluno jamaicano atendido pelo PEC-G, o edital de seleção dos candidatos é elaborado no Brasil e enviado para embaixadas e consulados para que seja realizada a seleção. Quem não estiver inserido na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) deverá apresentar o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras). Para isso, os estudan-

tes realizam um curso preparatório para o exame, que é aplicado na UFPA, desde 2006. Por meio do Celpe-Bras, o aluno firma o seu vínculo com a universidade na qual pleiteou a vaga. “Os níveis são: Intermediário, Intermediário Superior, Avançado e Avançado Superior. Caso o aluno não alcance nenhum dos níveis exigidos, deve retornar ao seu país de origem, pois o programa não permite que o estudante refaça a prova”, explica Rosana Assef Faciola, professora da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (Falem) e coodenadora do exame. As provas são aplicadas nos meses de abril e outubro. Em 2014, serão ofertadas 21 vagas para o curso preparatório.

A equipe responsável pelo curso de Língua Portuguesa é composta pela professora-coordenadora, por bolsista e por voluntários. De acordo com Rosana Assef, entre os problemas enfrentados, estão o número insuficiente de bolsistas para atender ao curso e a falta de material didático e recursos multimídia. “O projeto não recebe recursos, mas conta com a dedicação da equipe”, ressalta a coordenadora. Aprovados no exame, os alunos podem iniciar os estudos no Brasil. Após a conclusão da graduação, eles retornam ao seu país. “O diploma é encaminhado às missões diplomáticas brasileiras, no país de origem do estudante”, diz Julieta Jatahy.

Gael Mayombo Cibasu, Aaron Kadima, Acha Hilary, Evelino Deolino e Sarah Kibinda Masanga são alunos da UFPA por meio do Convênio de Graduação.


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Direito

Mais educação para a Amazônia Dossiê propõe melhorias para o sistema educacional da região FOTOS AlExANdrE MOrAES / lAÍS TEIxEIrA

Autores defendem o respeito à diversidade, à igualdade e à liberdade nas escolas.

Amanda Pinho

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ublicado em 2013, o Dossiê intitulado “Direito Humano à Educação na Amazônia: uma questão de justiça” foi elaborado pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), com o financiamento da Fundação Carlos Chagas (FCC), em parceria com militantes, pesquisadores, artistas e entidades de defesa de direitos, como o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, a Associação das Casas Familiares Rurais (ARCAFAR),

o Instituto Popular (UNIPOP), o Grupo Homossexual do Pará (GHP), o fotógrafo Miguel Chikaoka, além da própria Universidade Federal do Pará (UFPA). “A Fundação Carlos Chagas fez um levantamento na Região Norte, considerando quais eram as entidades que tinham um histórico de defesa dos direitos, e nos convidou a participar do projeto que se chama ‘Norte de Saberes’ e engloba várias outras atividades, como a defesa das casas familiares rurais”, explica Flávia Marçal, or-

ganizadora do dossiê, professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e doutoranda em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Pará (UFPA). A professora afirma que o objetivo da publicação era conseguir reunir diversas discussões e reivindicações sobre os Direitos Humanos à Educação em um único documento, “nós sentíamos falta de um documento que pudesse reunir não só as características da educação na região, a partir dos movimentos sociais e dos pesquisadores que estão aqui, mas também que apresentasse propostas para a melhoria do nosso processo educativo”. A parceria entre UFPA e SDDH já é antiga. Há dois anos, a Universidade financiou o Sarau de Memórias, atividade desenvolvida pela Sociedade, que visou à recuperação de fotos antigas, além de reuniões em que antigos militantes contavam as histórias eternizadas nas fotografias. Durante a realização do dossiê, a UFPA envolveu-se principalmente na divulgação do projeto, pela Rádio Web e pelo Portal de Notícias. “Em agosto de 2013, nós fizemos o lançamento da pesquisa em uma entrevista na Rádio Web. Em dezembro, nós tivemos o lançamento do livro, que também foi divulgado no site da Universidade”, relembra Flávia.

37 anoS em deFeSa doS direitoS HumanoS Fundada em 1977, a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos tem como missão a valorização e a defesa dos Direitos Humanos, na perspectiva de uma sociedade justa e igualitária. Ao longo dos anos e a partir das mudanças históricas, a SDDH assume outras bandeiras e, hoje, desenvolve ações que são um

misto de pesquisa, proteção, denúncia e proposição, de âmbito regional e internacional. Considerada de relevância pública pela Legislação do Estado do Pará, a SddH é uma Organização Não Governamental, a qual atua sem fins lucrativos, promovendo suas atividades por meio de doações

de parceiros ou de financiamentos externos. Site: http://www.dhe.sddh.org.br Jornal Resistência: https://www. facebook.com/resistenciaonline Download do Dossiê, na íntegra, disponível em: http://www.dhe. sddh.org.br


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Grupo quer debater as propostas nas escolas A parceria com a Universidade foi fundamental. Os pesquisadores que contribuíram com artigos ao dossiê “foram extremamente receptivos, além de serem historicamente militantes em favor dos Direitos Humanos”, conta Flávia Marçal. Entre os professores envolvidos, estão o professor Antônio Maués, conselheiro da SDDH, professor da UFPA e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos; a professora Sandra Fonseca, vinculada à Faculdade de Serviço Social; e a professora Violeta Loureiro, que desenvolve o Projeto “Educação Básica, Direito Humano e Capital Social na Amazônia Paraense”, financiado pela Capes e vinculado à UFPA, em parceria com a Ufopa. Uma vez publicado, o projeto visa, agora, à distribuição do conteúdo em cursos de graduação e

pós-graduação, tanto no Pará quanto em outros Estados, além da estruturação das informações apresentadas pelo dossiê, de modo mais sucinto e didático. “Nosso intuito é levar as propostas do dossiê para dentro das escolas, com foco na disseminação desses conteúdos e no alcance do maior número de pessoas na comunidade escolar e externa”, afirma a professora. Ela ainda acrescenta que, “reconhecendo a relevância do tema e o respeito ao direito à informação e à educação”, a SDDH optou por deixar o material disponível a pesquisadores e a demais interessados, para download gratuito, e na íntegra, pelo site da entidade. Quem estiver interessado em obter a versão impressa poderá adquirir o exemplar por r$ 40,00, na sede da SddH. A professora Flávia Marçal salienta que o dossiê não é um projeto isolado. Ele faz parte de um

programa, o qual envolve outros dois projetos: “Memórias” e “Ações de Resistência”. O “Memórias” visa resgatar as lembranças de militantes e estudiosos sobre a história da educação na Amazônia. Já o “Ações de Resistência” objetiva a conscientização de programas pensados e executados por entidades genuinamente amazônidas, comprovando a expertise e o vasto conhecimento sobre as principais questões que envolvem a educação na região Norte. O foco da pesquisa é desmistificar o senso comum de que em nossa região não há a produção de novas tecnologias educacionais ou que estas só são efetivamente de qualidade quando geradas por pesquisadores ou entidade de outras regiões do País. Entre os locais visitados pelo “Ações de Resistência”, estão Curro Velho, República de Emaús, Rádio Margarida e Unipop.

Três vertentes de um mesmo direito Direito Humano à Educação, Direitos Humanos na Educação e Educação em Direitos Humanos: podem parecer conceitos semelhantes, mas não são. A professora Flávia explica que são todos vertentes dos Direitos Humanos e “o dossiê trabalha com esses três conceitos, que funcionam como um tripé sobre o qual se edifica o direito Humano à Educação. Se você retirar uma dessas bases, não se pode mais falar em um conceito pleno de defesa e garantia desse direito”. O primeiro, o Direito Humano à Educação, é o direito básico à educação: o ingresso na escola, por exemplo. A professora afirma que, muitas vezes, esse é o único buscado pela população. “É um avanço que as pessoas estejam preocupadas em colocar seus filhos na escola. Mas nós precisamos nos preocupar, também, com qual tipo de escola está sendo oferecida”. A qualidade da educação, com respeito à diversidade, à liberdade e à igualdade, é o papel da segunda vertente, o Direito Humano na Educação, que deve prezar, por

exemplo, pela não propagação de estereótipos e preconceitos entre os alunos. Aqui, Flávia Marçal ressalta a implantação de conteúdos que valorizem o ensino sobre a história e a cultura afro-brasileira e indígena. A Educação em Direitos Humanos, por sua vez, trata-se da disseminação do conhecimento em Direitos Humanos e de uma cultura pautada no respeito à dignidade humana por meio da promoção de valores, como liberdade, justiça, igualdade e solidariedade, com a consolidação de ações e práticas em favor desses valores. “É quando nós buscamos a sensibilização para os Direitos Humanos e incentivamos que a sociedade participe não só de sua contínua cons-

trução, mas especialmente de sua defesa e garantia”. A Educação em Direitos Humanos é uma das áreas contempladas pela SDDH, por meio da realização de cursos e palestras.

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Tecnologia

Capacitação no ensino médio Jogo ensina linguagem de programação de forma lúdica Benelton Lobato

Sistema Enigma aproxima alunos do ensino médio à teoria e prática de algoritmos.

Amanda Pinho

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Projeto de caráter extensionista intitulado “Capacitação de alunos de Ensino Médio por meio de um Sistema Lúdico e Colaborativo” visa à capacitação de alunos do ensino médio em programação. Iniciado em novembro de 2012, o projeto contou com a colaboração de discentes e docentes dos Cursos de Engenharia Elétrica, Sistema de Informação e Engenharia da Computação e Telecomunicações, tanto dos programas da pós-graduação quanto da graduação da Uni-

versidade Federal do Pará (UFPA). Entre os objetivos do grupo, o professor Ádamo Lima de Santana, coordenador do projeto, destaca a necessidade de atrair futuros graduandos para os cursos de computação, além de familiarizá-los com a teoria e prática de algoritmos e linguagens de programação o quanto antes, buscando, assim, diminuir o número de evasão de alunos, algo comum não só na UFPA, mas também em diversas Instituições de Ensino Superior, especialmente, no decorrer dos primeiros semestres do curso. “O aluno que vem para a

graduação, às vezes, não está preparado, o que acaba resultando em altos índices de evasão. Assim, esse primeiro contato com a área já auxilia bastante”, afirma o professor. Ele acrescenta, ainda, que os dois principais pilares do curso de Engenharia da Computação são a matemática e a computação, mas “se fôssemos disponibilizar um curso de extensão com o foco específico em matemática, talvez não houvesse uma demanda tão alta quanto tivemos no de computação”. Foram ministrados quatro cursos de capacitação, cada um com carga horária aproximada de 40 horas semanais. Além das aulas e dos exercícios, os colaboradores do projeto desenvolveram um jogo online educativo, o Sistema Enigma, com o intuito de incentivar e avaliar o desempenho dos alunos. Segundo Antônio Jacob, colaborador do projeto e discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE), o jogo serve como um complemento às instruções passadas durante as aulas. “O jogo educacional irá ‘medir’ a aprendizagem. Ao responder a algumas perguntas, o aluno é bonificado ou punido por isso”, explica o pesquisador. Além disso, a competitividade serve de motivação para os participantes.

Sistema utilizou modelo centrado no usuário O Sistema Enigma, jogo utilizado pelos alunos durante a capacitação, foi desenvolvido por Luiz Danin, graduando em Sistemas da Informação na UFPA, a partir do modelo centrado no usuário. Proposto pelo desenhista Henry Dreyfuss, o modelo, quando aplicado à computação, propõe a elaboração de softwares que considerem as necessidades do usuário, observadas por pesquisas e feedback constantes. Antônio Jacob explica que, no início da década de 1980, quan-

do o desenvolvimento de software se consolidava, os programadores enfrentaram diversas situações, nas quais, “faziam o desenvolvimento e não conversavam com o usuário. Isso fez com que vários sistemas fracassassem. Estamos tentando realizar o desenvolvimento tendo esses retornos”. Assim, o desenvolvimento do programa não depende do que os programadores acreditam como funcionalidade, mas, sim, do que os alunos julgam como mais agradável

e melhor para o seu aprendizado. Eulália Matos, colaboradora do projeto e discente do PPGEE, explica que um questionário foi aplicado no início e no término das aulas de capacitação. “Os alunos eram livres a responder. Quanto ao que eles mais gostavam de fazer, a resposta mais frequente foi ‘jogar videogame’, e como o projeto utiliza um jogo, estava de acordo com a realidade deles”. Também foi possível observar a melhora no processo de aprendizagem dos participantes.


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Parceria garante atendimento da RMB Inicialmente, os cursos de capacitação seriam voltados apenas para os alunos do ensino médio da Escola de Aplicação da UFPA, onde dois dos quatro cursos foram ministrados, um, referente ao módulo básico; e outro, ao módulo avançado, nos quais, 22 alunos foram capacitados. Antônio Jacob conta que, antes mesmo da submissão do projeto, o contato com a escola já havia sido estabelecido. As outras duas turmas foram montadas a partir da demanda observada após a divulgação dos cursos. Foram capacitados 13 alunos de diversas escolas de Belém, Santa Bárbara e Ananindeua, em um curso

básico ministrado na própria UFPA, além de outros 13, atendidos pelo Movimento República de Emaús, os quais tiveram a capacitação realizada nas dependências do Movimento. Os cursos foram divulgados em redes sociais na internet e as vagas foram ocupadas de acordo com a capacidade dos laboratórios de informática em que as aulas seriam ministradas. Alisson Souza, graduando em Engenharia da Computação da UFPA, foi quem ministrou as aulas dos cursos realizados na Universidade e na Escola de Aplicação e comenta a experiência: “Na Escola de Aplicação, a turma desenvolvia cada vez mais com

o andamento do conteúdo. Já na UFPA, precisei de um esforço extra para ganhar a atenção dos alunos, mas eles cresceram e aprenderam muito rápido”. O curso realizado na sede do Emaús enfrentou alguns problemas de infraestrutura, com relação à internet e aos equipamentos a serem utilizados. Ainda assim, a capacitação foi um sucesso. “A parte boa é você ver o brilho no olhar dos alunos quando eles começam a programar. Acho que foi válido, apesar dos imprevistos”, conta Eliane Costa, graduada em Engenharia da Computação, responsável pelo curso ministrado na ONG.

Graduação já tem alunos oriundos do projeto Anderson Lobato, 18 anos, ex-aluno da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio do Outeiro, participou das aulas de capacitação ministradas no campus da UFPA e, recentemente, foi aprovado no curso de Ciência da Computação da Universidade. Ele conta que já tinha curiosidade pela área tecnológica desde os 11 anos e interessou-se de imediato pelo curso, do qual tomou conhecimento por meio de uma rede social. “Meu sonho de infância era ser médico! Mas a internet me mostrou um mundo tecnológico

que mudou esse sonho”, conta o calouro. Ele destaca o empenho do professor Alisson Souza durante as aulas e salienta a dificuldade em participar do curso, por causa do deslocamento necessário de sua casa, em Outeiro, para a UFPA, avaliando positivamente o resultado de seu esforço. Atualmente, o grupo de pesquisadores espera resposta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sobre uma possível prorrogação do projeto de extensão. “Queremos amadurecer o

sistema, que, em teoria, era algo complementar, mas se tornou um grande objetivo. A extensão, cujo objetivo era atrair alunos para a área de computação, nós já conseguimos cumprir”, comemora Antônio Jacob. O grupo salienta outro resultado alcançado , o de fomentar a pesquisa acadêmica: duas das colaboradoras, Eulália Matos e Márcia Fontes, desenvolvem parte da dissertação de mestrado a partir do Sistema Enigma, além do Trabalho de Conclusão de Curso do desenvolvedor do programa, Luiz Danin.

Infográfico Márcio Dias


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Salvaterra

Artesanato, cultura e identidade Oficinas retomam produção artesanal em 16 comunidades quilombolas Acervo do Projeto

Artesãos ensinam técnicas de cestaria para produção de paneiros, cestos e tipitis.

Marcus Passos

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número de comunidades quilombolas existente no território brasileiro é estimado em mais de três mil, de acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Segundo o Instituto, comunidades quilombolas são grupos étnicos predominantemente constituídos pela população negra, rural ou urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, a ancestralidade, as tradições e as

práticas culturais próprias. No Pará, existem mais de 240 comunidades quilombolas, sendo que muitas ainda estão em processo de reconhecimento e sequer tiveram suas terras tituladas. No arquipélago do Marajó, na microrregião do Arari, desenvolve-se o Projeto “Marajoculturarts: Cultura, Artesanato e Sustentabilidade Socioambiental nas Comunidades Quilombolas de SalvaterraPA”. Coordenado pela servidora técnico-administrativa Maria Páscoa Sarmento de Sousa, do Campus

Soure, da Universidade Federal do Pará (UFPA), o projeto busca atender cerca de 16 comunidades quilombolas: Caldeirão, Campina, Bacabal, Baiano, Barro Alto, Boa Vista, Deus me Ajude, Santa Luzia, São Benedito da Ponta, Mangueiras, Pau-Furado, Providência, Rosário, Salvá, Siricari e Vila União. O projeto tem por objetivo promover a difusão e a preservação do patrimônio cultural, imaterial e natural das comunidades quilombolas situadas no município de Salvaterra. Essa difusão ocorre por meio das palestras, dos cursos e das oficinas sobre a produção artesanal quilombola, ou seja, “selecionamos a produção mais significativa das comunidades e convidamos os próprios artesãos a ensinarem as técnicas aos mais jovens”, revela Maria Páscoa de Sousa. São atividades artesanais relacionadas à produção de paneiros, cestos, peneiras, tipitis e cuias. O Marajoculturarts surgiu da inquietação, por parte da coordenadora, diante da ausência de ações estratégicas direcionadas às comunidades quilombolas, quer fossem nas áreas de ensino, pesquisa ou extensão. Outro fator decisivo é a origem de Maria Páscoa, natural da comunidade quilombola de Barro Alto, em Salvaterra.

Algumas técnicas estavam sendo esquecidas Ao terminar o curso de mestrado, em 2011, Maria Páscoa Sarmento de Sousa dedicou um período a pesquisas de temas que pudessem servir de alicerce para executar um projeto em comunidades quilombolas. A opção foi realizar ações na área da cultura, direcionadas ao artesanato. “Sabíamos que técnicas e conhecimentos relacionados à produção artesanal vinham sendo ‘esquecidos’, como a técnica de produção e tingimento de cuias. Pensamos, então, que seria importante para a preservação

da cultura local realizar atividades nesse sentido”, explica. As palestras e oficinas tiveram início em 2012, por meio de parceria com a Escola Prof. Ademar de Vasconcelos e com as Comunidades quilombolas de Barro Alto e Deus me Ajude. As atividades desenvolvidas têm a Pró-Reitoria de Extensão como principal financiadora. A Proex é responsável pelo pagamento das bolsas dos estudantes ligados ao projeto. Gastos com transporte e alimentação são su-

pridos com recursos próprios. Alguns parceiros locais auxiliam o projeto, como os presidentes das associações quilombolas e os diretores das escolas onde ocorrem as oficinas. A produção e a impressão do material didático são feitas no Campus Universitário de Soure. O Marajoculturarts é organizado sob uma perspectiva multidisciplinar, permitindo aos estudantes e profissionais envolvidos uma visão mais ampla acerca do artesanato, sua relação com a cultura e com o meio ambiente local.


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A História na Charge

Em Tempo Novos Cadernos

Doações

Extensão

Está aberta a chamada para submissão de artigos científicos para publicação na Revista Novos Cadernos NAEA, Volume 17. As publicações ocorrerão em junho (n.1) e dezembro (n.2) de 2014. São aceitos trabalhos em português, inglês, espanhol e francês, de autores brasileiros e estrangeiros. Mais informações: (91) 3201-8515/ revistancnaea@ufpa.br

O Museu da UFPA está recebendo doação de livros de Artes para sua Biblioteca. As obras farão parte do acervo de pesquisa, que será disponibilizado para consulta a pessoas interessadas no assunto. Para colaborar, entre em contato com Júlia ou Alda, pelo telefone (91) 3224-0871. O MUFPA fica na Av. Governador José Malcher, 1192, esquina com a Av. Generalíssimo Deodoro.

A UFPA vai sediar o 6º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Sob o tema Diálogos da Extensão: Saberes Tradicionais e Inovação Científica, o evento ocorre no período de 19 a 22 de maio, em Belém. Mais informações, na Secretaria do evento: (91) 3201-7979/cbeupara@ufpa.br Para conferir a programação completa, acesse o site http://6cbeu.ufpa.br/.

Cinema I

Cinema II

Obesidade

Pensamento, inventividade e ação estão na base do Inventar com a Diferença, projeto de formação de professores da rede pública de ensino de todo o Brasil para a realização de trabalhos com audiovisual em sala de aula. Belém é um dos 10 municípios selecionados para participar do projeto durante o primeiro semestre de 2014.

As atividades iniciaram em fevereiro, quando os professores selecionados participaram de um curso de formação em audiovisual e direitos humanos. Na segunda etapa, os educadores realizarão oficinas semanais, com duração de 2h, em suas escolas, sob a supervisão quinzenal do mediador. Mais informações: www.inventarcomadiferenca.org

O Hospital Bettina Ferro apresentou projeto para ser o primeiro Centro de Referência de Tratamento da Obesidade Infantojuvenil do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. O projeto, elaborado em parceria com a Faculdade de Nutrição da UFPA, será avaliado e aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde e, em seguida, enviado ao Ministério da Saúde para deliberação final.



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