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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012

Fotos Alexandre Moraes

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 106 • Agosto, 2012

Sociedade

Educação na Belle Époque é alvo de análise

Alexandre Moraes

De olho na qualidade das águas Dissertação aponta como Instituto de Educandos Artífices formava jovens desvalidos no século XIX. Página 3.

Cidade

Thaís Braga

fonte de informação para nosso webouvinte.

Rádio Web da Universidade Federal do Pará (UFPA) entra no segundo semestre com uma proposta nova. O portal em que está hospedada, o www.radio.ufpa.br, terá, além da programação, mais informação. Bolsistas e jornalistas vão produzir notícias para o site com base nas entrevistas e nos debates veiculados. Segundo a professora Alda Cristina Costa, doutora em Ciências Sociais, a qual assumiu a coordenação da Rádio Web em maio deste ano, a ideia é esgotar os assuntos abordados. "São tantas coisas interessantes que, às vezes, para se ter acesso, só fazendo o download do programa todo", explica. "Nesse formato, vamos esmiuçar os temas abordados em matérias." Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, a professora Alda Costa faz um balanço dos três anos de existência da Rádio Web e comenta os próximos desafios.

Beira do Rio – Quais foram as principais conquistas da Rádio Web nesses três anos de existência? Alda Costa – Estão em fase de finalização, agora, em 2012, dois projetos contemplados em 2010 em editais nacionais. O "Eureca", que explorava o conhecimento científico voltado para crianças, e o "Ciência Legal", também direcionado ao público infantil que compartilhava o conhecimento científico produzido pelas instituições de pesquisa, principalmente, a UFPA. O "Grito Ribeirinho" é outro destaque, pois foi um dos 40 projetos premiados no Edital "Nossa Onda 2012", promovido pelo Ministério da Cultura e pela Cinemateca. Trata-se de um radiodocumentário sobre a nova cartografia social da Amazônia. Narra a vida do ribeirinho nas ilhas próximas a Belém. Nós também recebemos prêmios pelo apelo social dos programas, como o Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Proint) 2008, pela UFPA; RoquettePinto, pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura. É um reconhecimento nacional do trabalho local.

A

Beira do Rio – Como começou a ser pensada a Rádio Web? Alda Costa – A Rádio Web começou a ser pensada em 2006, com o Projeto "Estudos em Rádio e Divulgação Científica". Em 2009, começou a funcionar em caráter experimental, no período de realização do Fórum Social Mundial e, no mesmo ano, foi implementada de maneira definitiva. A Rádio Web é pioneira no Estado. Dados de 2009 apontam que, das 58 Instituições Federais de Ensino Supeior do País, apenas 15 tinham rádios AM, FM ou on-line – e a UFPA se insere nesse grupo seleto. Hoje, nós temos um bom acesso na Região Amazônica e no Brasil, como um todo, mas também temos registro de webouvintes que acompanham dos Estados Unidos, da Argentina, de Portugal, da Espanha, da Irlanda, do Japão, de Moçambique, da Nigéria e de outros países. Beira do Rio – Em que consistem as mudanças pelas quais o Portal da Rádio Web vai passar? Alda Costa – As alterações entram no ar este mês e visam tornar o site mais informativo. São tantas coisas interessantes abordadas numa entrevista que, às vezes, para se ter acesso, só fazendo o download do programa todo. Nesse formato, vamos esmiuçar os temas abordados em matérias. Será mais uma

Beira do Rio – Quais são os principais desafios da sua gestão? Alda Costa – O grande desafio da Rádio Web é divulgar o conhecimento científico produzido na UFPA para a sociedade. Não que isso já não seja feito por meio de outros canais na Instituição, mas é preciso que usemos todos os recursos tecnológicos disponíveis para que esses dados cheguem a toda a comunidade externa. E a Rádio Web se inspira nas características do radiojornalismo tradicional, pois é capaz de difundir as informações de forma rápida e mais compreensível. Na Amazônia, o rádio ainda é a grande mídia, pois, ainda em alguns lugares, há carência de energia, de internet e os grandes jornais não conseguem penetrar. Outro desafio é fazer com que, dentro da UFPA, passem a ouvir a rádio. Queremos mais acesso de docentes, servidores, alunos e de outros usuários. Beira do Rio – Há mais facilidade em trabalhar em um ambiente digital? Alda Costa – Não é tão fácil assim, pois é necessário um aparato tecnológico para que a rádio funcione. A banda larga tem que ser boa, senão o sinal

cai e o contato é perdido. Por isso, temos discutido com o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) estratégias para facilitar o acesso ao conteúdo da Rádio Web. Hoje, estamos na base do site da UFPA, no endereço www.radio.ufpa.br. Nossa intenção é que, em todos os espaços físicos da Instituição, seja disponibilizada a programação da Rádio Web. Estamos em fase de elaboração desse projeto, pois é necessário um planejamento para saber quais prédios são estratégicos. Beira do Rio – A Rádio Web também funciona como um espaço de formação? Alda Costa – Sim, a Rádio Web é educadora não só para nossos ouvintes, mas também para a equipe. Trabalhamos com dez bolsistas, oito, de Comunicação, entre Jornalismo e Publicidade e Propaganda; um, de Informática; um, de Administração; além de dois jornalistas profissionais. Muitos estudantes que passaram por lá, hoje, estão na pós-graduação, atuando com projetos de pesquisa, ou mesmo no mercado. A coordenação e os jornalistas profissionais orientam os bolsistas, durante reuniões, para saber quais as dificuldades e onde o trabalho pode ser melhorado. Beira do Rio – Pode-se dizer que a Universidade é a grande parceira da Rádio Web? Alda Costa – Sim. Estamos ligados ao Instituto de Letras e Comunicação (ILC), mas recebemos o apoio da Administração Superior, que possibilitou a implantação da Rádio Web; da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e da Universidade como um todo. Produzimos mais de 15 programas fixos e alguns programetes com todo o conhecimento produzido na UFPA. Fazemos um link com a sociedade, mas geralmente buscamos nossos pesquisadores para ser a referência. A programação musical vem apenas para compor a grade de informação. E, mesmo na música, procuramos valorizar cantores da Amazônia, cantores paraenses. Procuramos seduzir o público. Nosso grande programa é o "UFPA na Madrugada", pois é direcionado aos vestibulandos. Lá, são dadas orientações para o dia da prova, dicas sobre as questões e abordados temas específicos. Muitas vezes, são sugestões dos próprios alunos, enviadas pelo radioweb@ufpa.br. Aliás, é por esse e-mail que o webouvinte pode entrar em contato conosco.

Página 9.

Professores da UFPA desenvolveram filtros capazes de absorver graxa e demais óleos despejados pelas embarcações

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esquisa desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia (ITEC) da Universidade Federal do Pará (UFPA) realiza o biomonitoramento da qualidade das águas dos rios da Amazônia. O objetivo é desenvolver a preocupação com o meio ambiente na Região Metropolitana de Belém. O estudo propõe, ainda, a criação de filtros a partir do

reaproveitamento de resíduos sólidos consumidos - a exemplo de garrafas PET, latinhas de cerveja e refrigerante. A coordenação está a cargo da professora Carmem Gilda Dias. Colaboram também com o trabalho integrantes das Faculdades de Engenharia Naval, Engenharia Mecânica e Engenharia Sanitária e Ambiental. Página 4.

Teatro

Coletânea reúne textos de dramaturgos da Amazônia

Ruído do tráfego prejudica moradores

Entrevista Alda Costa comenta as conquistas e os desafios da Rádio Web nesses três anos. Página 12.

Coluna da Reitoria

Segurança

Acervo já catalogou em torno de 45 autores, totalizando 70 peças. Desse total, dez são do dramaturgo

Nazareno Torinho. Documento está disponível em arquivos eletrônicos e também impressos. Página 7.

Acervo do Projeto

Rádio Web inova para apresentar ainda mais informação para o público

Alexandre Moraes

Desafio é expandir a audiência

Pressão sonora se intensifica em edifícios.

Análise em presídio de Santarém aponta que fatores socioeconômicos e familiares contribuem para delitos. Página 11.

Extensão

Pró-Reitor João Cauby destaca que qualificação dos servidores reflete em melhores serviços. Página 2.

Atenção com pacientes da melhor idade

Opinião Ubiratan Holanda Bezerra discute a importância da Universitec para o Pará. Página 2.

Estudo revela motivos que levam ao crime

Levi Hall de Moura, autor de "A Casa da Viúva Costa", também está no livro

Projeto da Faculdade de Farmácia orienta idosos, gratuitamente, quanto ao uso de medicamentos. Página 5.


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012 –

Coluna da REITORIA

João Cauby - Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal

Música kkk

Estúdio Ópera forma cantores atores

jcaubyj@ufpa.br

A gestão do desempenho e das competências dos servidores públicos

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Alexandre Moraes

ma organização com objetivos definidos e um planejamento estratégico bem concebido e estruturado para alcançá-los é conhecedora da importância da gestão do desempenho dos seus integrantes. A gestão do desempenho engloba, além da avaliação de desempenho, o planejamento, o acompanhamento e o aprimoramento das competências das pessoas que compõem as organizações, tanto públicas quanto privadas, com a finalidade de desenvolver seu pessoal e alcançar os propósitos estatutários/ estratégicos dessas organizações. Assim, a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal da Administração Pública Federal tem como algumas de suas finalidades o desenvolvimento permanente do servidor público e a adequação de suas competências aos objetivos das instituições, a partir do seu plano estratégico. Como autarquia especial integrante dessa estrutura, a Universidade Federal do Pará tem

estabelecido planos e programas para valorização, capacitação e qualificação do seu quadro de pessoal. Ciente de que, na sociedade do conhecimento, este último é produzido, disseminado e apropriado por pessoas, a UFPA tem girado seu processo formativo de modo a desenvolver capacidades e aprimorar competências internas, individuais e organizacionais. Além dos servidores que já estão realizando pós-graduação stricto sensu na área de Planejamento e Desenvolvimento, uma nova turma de técnicos acabou de ser selecionada para a realização de mestrado no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), desta feita, para a área de Gestão Pública. Formar gestores públicos altamente qualificados para atuar na Universidade, a partir de análises de problemas e potencialidades inerentes às organizações públicas, é um dos objetivos do novo curso de pós-graduação ofertado, que se junta aos cursos de graduação

e especialização, também em Gestão Pública, já em execução (http:// www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia. php?cod=6674). Para avaliar os resultados dessas ações de desenvolvimento de pessoal, o Programa de Avaliação de Desempenho da UFPA foi aperfeiçoado e mais um projeto começará a ser desenvolvido neste ano, relacionado à pesquisa de impacto da capacitação na atuação dos servidores da UFPA. Essas novas propostas foram formuladas a partir dos dados já coletados pelo Projeto de Mapeamento de Competência dos servidores públicos da UFPA, em fase de conclusão. Esse projeto, realizado em parceria com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tem contribuído para o aperfeiçoamento das ações de capacitação e de avaliação de desempenho dentro da Universidade, na medida em que permite cotejar as competências imprescindíveis ao cumprimento dos

OPINIÃO

Ubiratan Holanda Bezerra

objetivos institucionais com as competências ora existentes na organização. Dada a importância estratégica do projeto para a gestão do desempenho de servidores públicos, sua metodogia já está sendo compartilhada com outras organizações públicas, das esferas federal e estadual e, recentemente, foi aprovada sua apresentação no XVII Congresso Internacional do Centro Latinoamericano de Administración para el Desarrollo (CLAD), a ser realizado em novembro deste ano, na Venezuela. Percebe-se que tanto a gestão de desempenho quanto a gestão por competências estão inseridas num cenário estratégico de desenvolvimento de pessoas, no qual a sociedade é a principal beneficiária dessas tecnologias, dada a qualidade dos serviços prestados por servidores públicos que têm seu desempenho e suas competências avaliados, aprimorados e reconhecidos pela organização.

bira@ufpa.br

O papel da Universitec no desenvolvimento do Pará

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as sociedades atuais onde os padrões técnico-economicistas da chamada Era da Economia do Conhecimento são hegemônicos, as universidades se tornam, gradativamente, agentes estratégicos nas concorrências que se travam entre nações, regiões e empresas. Cenário esse em que a inovação tecnológica figura como elemento diferencial nessas disputas. No Brasil, uma das constatações desse novo papel protagonista das universidades como integrantes do esforço nacional para o desenvolvimento econômico é dada pela Lei Nº 10.973/2004, mais conhecida como Lei da Inovação, que, entre outras, dispõe sobre o estímulo à participação das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) no processo de inovação e prevê os núcleos, ou agências, de Inovação Tecnológica na estrutura das ICTs. Em nossa universidade, a Resolução CONSUN 662/2009 criou a Agência de Inovação Tecnológica da UFPA, denominada Universitec. A Universitec, no âmbito do sistema nacional de inovação e em consonância com as orientações da UFPA, deve desempenhar as seguintes funções: Prestadora de serviço – A proteção da propriedade intelectual, a

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

incubação de empresas de base tecnológicas e a prestação de consultorias e serviços tecnológicos consubstanciam as competências institucionais operacionais da Universitec; Geradora de receita – A Universitec visa trazer à UFPA retorno financeiro do investimento realizado em pesquisa, em forma de royalties, consultorias e serviços tecnológicos e outros pagamentos pela propriedade intelectual gerada; Promotora de desenvolvimento – A Universitec atua como agente de desenvolvimento da economia ao promover a agregação de valor nos produtos e processos regionais. Com apenas três anos de existência, a Universitec, para lograr êxito nos desafios postos à sua efetiva atuação, definiu linhas de trabalho estruturantes, imprescindíveis à consecução dos seus desígnios institucionais. Dentre esses trabalhos, lista-se a elaboração da política de inovação tecnológica da UFPA, em fase conclusiva na discussão interna da Agência, que se constitui nas referências normativas no que se refere ao fomento da capacidade criativa como instrumento promotor de desenvolvimento; à difusão da cultura empreendedora no ambiente acadêmico; à promoção da transferência de conhecimento e de tecnologia produzidos

na Universidade e ao estabelecimento de estratégias e ações coordenadas ao estímulo às parcerias com o setor produtivo. Na mesma categoria de trabalho estruturante, a Universitec recentemente organizou a vitrine tecnológica que, atualmente, disponibiliza onze tecnologias desenvolvidas no âmbito da UFPA para o direito de uso, sem exclusividade. No âmbito da atividade de incubação de empresas de base tecnológica, o trabalho estruturante se traduz na apropriação da metodologia Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (CERNE), que consiste na sistematização dos processos de uma incubadora de empresas. Há a necessidade da Incubadora da UFPA sintonizar suas estruturas e serviços com as novas exigências da sociedade, uma vez que a mudança expressiva na natureza da competição entre empresas e regiões é cada vez mais latente. Portanto, com essa metodologia, visa-se ampliar a capacidade da incubadora em gerar, sistematicamente, empreendimentos inovadores e bem-sucedidos. Outro trabalho estruturante é a organização do Sistema de Gestão da Qualidade dos Laboratórios (SIS-

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LAB UFPA), o qual tem por objetivo adequar a capacidade dos laboratórios às crescentes demandas por confiabilidade aos resultados de ensaios, calibrações e análises em saúde, sejam relacionadas às atividades de prestação de serviços à sociedade, sejam relacionadas às atividades acadêmicas. Tal adequação tem efetivo potencial para repercutir na melhoria do desempenho dos indicadores de ensino, pesquisa e extensão da Instituição. Ainda no âmbito do SISLAB UFPA, inicia-se um processo que visa apoiar laboratórios à acreditação pelo Inmetro. Por fim, com a criação da CPGA (em curso), visa-se estruturar um desenho organizacional necessário ao funcionamento da Agência, desenho esse que exige especificidades operacionais consonantes ao timing de instituições e agentes externos à UFPA que rotineiramente estabelecem relações com a Universitec (o mercado, por exemplo), sem olvidar as atribuições típicas de unidades de planejamento e gestão. Ubiratan Holanda Bezerra é doutor em Engenharia Elétrica pela UFRJ, professor titular da UFPA e diretor da Agência de Inovação Tecnológica da Universidade.

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues/ Thaís Braga; Reportagem: Ericka Pinto (1.266-SRT/PA)/ Mayara Albuquerque/Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rosyane Rodrigues (2.386-SRT/PE)/ Thaís Braga (2.361-SRT)/ PA); Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Alunos da EMUFPA têm aulas de interpretação e de técnicas vocais Ericka Pinto

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o palco, o canto e a interpretação de uma obra emocionam. Cada gesto, andar ou olhar formam os elementos cênicos necessários para a apresentação de uma ópera. Por isso, saber encenar é tão importante quanto saber cantar e esse conjunto é fundamental para a formação de qualquer músico. Segundo o professor Milton Monte, da Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA), no Brasil e, principalmente, nos países da Europa, atualmente, as casas de ópera priorizam o trabalho cênico do cantor ator. "O cantor, muitas vezes, canta maravilhosamente bem, mas precisa ter mais esse domínio cênico", afirma. Pensando nisso, foi elaborado o Projeto "Estúdio Ópera Pará-Amazônia", que recebe o apoio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex/UFPA). A proposta é ampliar a formação e a experiência em ópera tanto dos alunos da EMUFPA como de todas as entidades que trabalham música e canto no Estado. "Nós temos, aqui, nosso Festival de Ópera desde 2002, mas nós precisamos também fazer esse trabalho acadêmico, educativo, para que esses alunos sejam realmente inseridos no mercado de trabalho", disse Milton Monte. O professor cita a experiência de cantar óperas, que teve ao trabalhar durante cinco anos como cantor do Coro Paulistano, no Teatro Municipal de São Paulo. Também destaca nomes como das sopranos Adriane Queiroz e Carmen Monarcha, bem como do tenor Atalla Ayan, os quais, hoje, são reconhecidos no Brasil e no mundo. "A partir desse projeto, queremos fazer com que os alunos tenham essa possibilidade de trabalhar mais a parte cênica, porque o trabalho em sala de aula é voltado especificamente para

Fotos Marivaldo Pascoal

Mácio Ferreira

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Nos espetáculos, estudantes revelam que dominam tanto a parte cênica quanto a parte vocal da Ópera a parte vocal e musical. É óbvio que se trabalha o teatro, mas é pouco em relação ao foco, que é a interpretação", ressalta. Para ampliar esse conhecimento, o Projeto inclui atividades como oficinas de interpretação para cantores. Uma delas foi ministrada pelo professor Paulo Santana, da Escola de Teatro e Dança da UFPA, e o resultado foi apresentado no Teatro Cláudio Barradas, com trechos da Ópera Orfeu, do compositor italiano Cláudio Monteverdi. "Nas oficinas, eles recebem orientações de como andar no palco, como olhar e, a partir daí, foram trabalhando vários elementos interpretativos. É importante observar

o nosso ambiente, as pessoas e pegar esse leque de possibilidades expressivas faciais e corporais para trazer para ópera", diz Milton Monte. Outra grande apresentação dos alunos que participam das oficinas aconteceu durante o 38º Encontro de Artes do Pará (Enarte), realizado ano passado, no Theatro da Paz. Entre os convidados, a Camerata da Escola de Música da UFPA, com instrumentistas, professores e alunos; o Madrigal da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e os alunos das oficinas. "A participação deles nesse encontro foi mais uma ação do Projeto. Os alunos têm demonstrado excelente desempenho e interesse em aprender. Eu

acho que nós estamos, com certeza, atingindo os nossos objetivos", afirmou o professor. A formação musical dos alunos do Projeto também ganhou reforço internacional, com o regente francês Philippe Forget, que esteve em Belém a convite do professor Milton Monte. Além de instrumentista, Forget é cantor, regente de coro e de orquestra, poeta e compositor. Entre as suas obras, está a Ópera Awatsihu, baseada numa lenda do Xingu, com 45 minutos de duração, com libreto do mesmo Forget. Em março deste ano, ele estreou uma versão em francês do Macbeth, de Shakespeare.

Projeto busca aproximação com crianças e adolescentes Para o professor Milton Monte, a ópera é uma maneira de chegar mais próximo às crianças e aos adolescentes. Com esse propósito, o Projeto de extensão também levará até esse público ações de incentivo por meio de concertos didáticos. Além da formação de plateia, a iniciativa pretende contribuir para a descoberta de novos talentos da música. "O povo paraense responde à vontade de ópera. A gente tem esse espaço maravilhoso, que é o Theatro da Paz, e não é à toa. A gente

tem que responder a isso da melhor forma possível, criando espectadores, educando as crianças para que elas entendam que é uma coisa que elas podem fazer. O Projeto Estúdio Ópera pretende mostrar que todos são capazes, sendo necessário apenas o treinamento", diz. A busca por novos talentos vai ainda mais longe e deve chegar ao interior do Estado. A ideia é estender o Projeto "Estúdio Ópera Pará-Amazônia" para outros municípios, com

uma estrutura menor em função do deslocamento. Segundo Milton Monte, as montagens cênicas serão feitas em locais pequenos para que não haja necessidade de tantos instrumentistas e cantores no palco. "É muito importante abrir oportunidade para as pessoas. Deve ter muita gente talentosíssima no interior. Já temos instrumentistas e, agora, vamos procurar cantores", enfatizou. A experiência do professor em apresentações feitas em outras cidades

do Estado, como Santarém e Tucuruí, confirma o interesse do público pela ópera. No repertório, Gianni Schicchi, de Puccini. "A gente acha que as pessoas do interior não se interessam como nós. Pelo contrário, eles até querem mais do que a gente, porque a gente tem acesso e sempre há concertos aqui, na capital", relata. Em junho deste ano, em Belém, houve apresentação de uma ópera, a qual envolveu mais de 60 pessoas, entre alunos cantores, orquestra e técnicos.

Gênero nasceu na Itália, mas já ganhou o mundo inteiro No início do século XVII, surge a ópera, um gênero de música teatral que, partindo da Itália, ganha os palcos do mundo, passando a ser apreciado, principalmente, pela burguesia e pela aristocracia. Apresentada em italiano, sua origem remonta às tragédias gregas e

aos cantos carnavalescos italianos do século XIV. A ópera consiste em uma ação cênica, acompanhada do canto e de instrumentos musicais. As apresentações são geralmente feitas em teatros de óperas, acompanhadas por uma orquestra ou grupo musical menor. O gênero faz parte da tradição da música

clássica europeia e ocidental e possui, basicamente, uma programação padrão. A abertura é feita pela orquestra de música e segue com o recital em forma de diálogo entre os atores. Os personagens secundários participam do coro, enquanto os principais interpretam as árias (composições para voz solista).

Entre as óperas mais famosas, destacam-se: Carmen de Bizet; Aída de Verdi; Guilherme Tell de Rossini; Flauta Mágica de Mozart; La Gioconda, de Amilcare Ponchielli; o Barbeiro de Sevilha, de Gioacchino Rossini; Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni.


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Sociedade

Saúde

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Karol Khaled

Meta é descobrir mecanismos de controle e padronizar o tratamento no País

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Caso não sejam tratadas, as crises de pressão alta podem reduzir, em até 30 anos, a expectativa de vida do paciente A natureza do Projeto é a pesquisa. Contudo, de acordo com o cardiologista, o estudo também tem um caráter de extensão, pois a comunidade é atendida no HUJBB. Foram selecionados pacientes que estivessem em repouso e com diagnóstico para hipertensão a partir de “16 por 10” – quadro considerado grave. Segundo o docente, a pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg). Quando a pressão é de “120 por 80”, o que se denomina de “12 por 8”, é considerada normal e entende-se que a pressão máxima,

medida durante a sístole, movimento cardíaco de contração, chega a 12 mmHg. Já a mínima, medida durante a diástole, movimento cardíaco de relaxamento, chega a 8 mmHg. O professor Eduardo Costa salienta que, até hoje, não se encontrou a cura para a doença. O que há é apenas o tratamento e a possibilidade de controle. “Inclusive, se não for controlada, a pressão alta pode abreviar a vida, em média, em até 30 anos. Como não há sintomas, ela é silenciosa, portanto, grave. Só é possível detectá-la, medindo-se a

pressão arterial”, esclareceu. “Atualmente, de cada cinco pessoas adultas no mundo, duas são hipertensas.” A Medicina também não tem conhecimento sobre a causa da hipertensão. Segundo o médico cardiologista, o que se sabe é que a causa é genética. Vários estudos sobre os polimorfismos genéticos que a desencadeiam estão em desenvolvimento no mundo inteiro. Talvez, em breve, palpita o professor Eduardo Costa, o descobridor desse mecanismo de ação da doença ganhe um Prêmio Nobel.

primeiro órgão a sofrer é o coração, que precisa trabalhar contra essa alta pressão. Com esse esforço a mais, depois de algum tempo, o órgão musculoso aumenta de tamanho, dilata, entra em falência e, assim, não funciona mais. Se não tratada, a hipertensão, além de afetar o coração, pode comprometer o cérebro e desencadear um Acidente Vascular Cerebral (AVC), bem como os rins, ocasionando, assim, insuficiência renal, que só poderá ser tratada com hemodiálise. “Mas, com o controle adequado, a vida é normal e se

pode fazer todas as atividades que convencionalmente se desempenha. Como os hipertensos convivem para sempre com a doença, a ingestão do remédio tem que fazer parte da vida como o café da manhã. Se a medicação for interrompida, a pressão volta a alterar-se”, pondera o professor da UFPA. Ao ingressarem no ReHot, os pacientes admitidos no Projeto – que aceitaram participar voluntariamente mediante assinatura de um documento – passaram a ser tratados sistematicamente com medicamentos para

controlar a pressão. Se o remédio não surtir o efeito esperado e a pressão não baixar, ele será substituído, até que se encontre um mais eficaz. Além disso, segundo o coordenador, dependendo das necessidades, as doses são aumentadas. Esse procedimento, de acordo com ele, precisa começar a ser implementado pelo governo federal, pois as doses fornecidas, muitas vezes, são exíguas em relação à real necessidade do paciente. “Trata-se, justamente, do hipertenso de difícil controle”, declarou o cardiologista.

Grupo atendido no HUJBB tem melhora no quadro clínico Desde quando iniciaram as atividades no Hospital Barros Barreto, já foram atendidas mais de 100 pessoas. Além do recebimento dos medicamentos, cada uma delas, assim que começou a participar, já passou pela aferição da pressão arterial, pelo menos, uma vez por mês. Conforme relata o professor Eduardo Costa, alguns pacientes deram início ao tratamento com a hipertensão sinalizando “20 por 12”. Quando estavam próximos à dé-

Instituto de Educandos Artífices formava mão de obra para a Belle Époque Paulo Henrique Gadelha

Cardiologista alerta para risco de AVC e problemas renais Consoante o professor Eduardo Costa, a pressão arterial (tensão exercida pelo sangue sobre a parede das artérias, que são os vasos que conduzem sangue do coração a todas as partes do corpo) fica acima do normal quando pequenas artérias, chamadas arteríolas, por motivo ainda desconhecido, reduzem o diâmetro e aumentam a pressão em todas as artérias do indivíduo – como se uma pessoa apertasse a ponta de uma mangueira e aumentasse a pressão em seu interior. Mantido esse processo, explica o cardiologista, o

Educação, formação e controle

cima consulta, já apontavam “15 por 9”. O trabalho conta, ainda, com 14 discentes da Faculdade de Medicina da Universidade, que desenvolvem atividades como voluntários. Os resultados dos testes realizados pela UFPA, no Hospital Barros Barreto, bem como nas demais universidades que integram a pesquisa nacional serão publicados em revistas nacionais e internacionais. De acordo com o docente, “no momento, a UFPA

conta com o maior número de pessoas atendidas, entre todas as instituições participantes.” A maioria dos pacientes já conseguiu controlar a doença, com o uso do remédio correto e das doses adequadas ao quadro clínico apresentado, bem como com a aferição sistemática da pressão, aponta o cardiologista. Aqueles que ainda não conseguiram estão próximos disso. O pesquisador destaca que o ReHot foi bem recebido

pela comunidade. Segundo ele, há outras pessoas que solicitam ingressar no Projeto, mas, atualmente, o grupo atendido está completo. O professor Eduardo Costa ressalta, ainda, que o convite realizado pela USP para a UFPA integrar o estudo multicêntrico mostra deferência especial, já que leva em consideração todas as dificuldades que existem na Região Amazônica para o desenvolvimento de pesquisas.

fim de analisar um importante capítulo do Período Imperial, em Belém, no que tange à formação educacional e profissional para crianças e adolescentes, o pedagogo Andreson Carlos Elias Barbosa elaborou a Dissertação O Instituto Paraense de Educandos Artífices e a Morigerância dos Meninos Desvalidos na Belém da Belle Époque. O trabalho, orientado pela professora Sônia Maria da Silva Araújo, foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Educação, do Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA). "A proposta era entender de que forma o Instituto Paraense de Educandos Artífices se apresentou como uma política de atendimento aos meninos desvalidos, no final do século XIX, em Belém. Nesse momento, a cidade passava por importantes transformações, as quais sinalizavam a necessidade de mão de obra especializada para suprir as demandas que surgiam. Assim, a alternativa encontrada foi a criação de uma instituição que atendesse crianças e adolescentes pobres, os quais pudessem, após receberem a devida formação, contribuir para o desenvolvimento da Província", explica Andreson Barbosa. O recorte temporal do estudo começa em 1870 e Belém, seguindo o ideário de desenvolvimento preco-

Reprodução

Universidades investigam a hipertensão

Paulo Henrique Gadelha om o acesso mais facilitado à internet e às novas tecnologias, os trabalhos científicos no âmbito da área de saúde passaram a ter abrangência nacional ou até mesmo mundial. Nesse sentido, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), por meio do Instituto do Coração (Incor) e sob a coordenação do professor Eduardo Moacyr Krieger, principal pesquisador de Cardiologia do País, realiza, desde 2011, o Resistant Hypertension Optimal Treatment (ReHot) – Tratamento Ótimo da Hipertensão Resistente. O trabalho também é chamado de “Estudo Multicêntrico de Pacientes com Hipertensão Arterial para Identificação de Pacientes Resistentes e Padronização de Esquemas Terapêuticos”. A pesquisa, de abrangência nacional e financiada pelo Ministério da Saúde, contempla 25 universidades federais, entre elas, a Universidade Federal do Pará (UFPA), a única da Região Norte. Pela UFPA, o trabalho é coordenado pelo cardiologista Eduardo Augusto Costa, professor e coordenador da disciplina Cardiologia, da Faculdade de Medicina, que funciona no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). “O estudo visa descobrir que medicamentos conseguem controlar a hipertensão, no caso, a de difícil controle e, assim, tentar padronizar o tratamento da doença. Com o resultado deste trabalho, a expectativa é de que o governo federal passe a gastar recursos e forneça somente remédios que sejam, de fato, úteis”, explicou o professor Eduardo Augusto Costa.

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De 1872 a 1889, foram atendidos cerca de 1.500 menores carentes de Belém nizado no contexto da Belle Époque, embelezava-se e transformava-se rapidamente. Segundo o pedagogo, grandes empreendimentos urbanísticos eram implementados, como a construção de palacetes, a abertura de avenidas, a

ampliação no sistema de iluminação. Esse crescimento urbano necessitava de profissionais especializados para as obras de infraestrutura em curso. Para suprir as demandas apresentadas, de acordo com o autor da Dissertação,

a Província do Pará criou, em 1870, o Instituto Paraense de Educandos Artífices, uma instituição para atender apenas crianças e adolescentes do sexo masculino, o qual passou a funcionar, efetivamente, em 1872.

Pesquisador analisou jornais e documentos da época "O desvalido era aquele menino muito pobre, que não tinha uma família ou um tutor que pudesse oferecer educação e segurança. Por isso, esse menino, muitas vezes, precisava vender coisas nas ruas para ajudar no sustento da casa. Era considerado desvalido também o órfão e o menor abandonado", esclarece o pesquisador Andreson Barbosa. Segundo o pedagogo, os intelectuais e governantes da época consideravam as classes pobres brutas e selvagens. Nessas classes, estavam os mestiços, os descendentes de índios e os negros. As elites defendiam que as pessoas com poucos recursos, inva-

riavelmente, estavam destinadas aos vícios, à prostituição, à mendicância e ao roubo. Assim, os meninos desvalidos, além de servirem a Província, também seriam morigerados, ou seja, doutrinados, polidos. Para avaliar o que representou o Instituto Paraense de Educandos Artífices para a sociedade de Belém, o pesquisador teve acesso a jornais e documentos do período de vigência da Instituição e analisou-os. Entre os materiais que consultou, concentrou-se, notadamente, no levantamento dos relatórios produzidos tanto pelos presidentes da Província do Pará quanto por diretores do estabeleci-

mento, no período em que esses gestores exerceram os seus respectivos cargos. De acordo com Andreson Barbosa, a instituição oferecia várias oficinas de formação. "As oficinas eram variadas, como carpintaria, alfaiataria e funilaria, mas todas voltadas à formação prática. Nesse sentido, essas atividades eram desprovidas da intenção de formar sujeitos pensadores e contestadores. Como a admissão era a partir dos sete anos, a ideia era doutrinar os ingressantes o mais cedo possível e devolvê-los à sociedade como trabalhadores especializados", revela.

No Instituto, existiam duas etapas da formação. A primeira referente às primeiras letras, momento em que os meninos aprendiam as noções elementares de leitura e escrita. A segunda consistia nas oficinas especializadas. Segundo Andreson Barbosa, para um menino ser aceito, a família ou o tutor precisava solicitar a entrada por meio de uma carta formal ao presidente da Província, ao qual o Instituto era diretamente subordinado. Se o presidente considerasse viável o pedido, a criança ou o adolescente era encaminhado a uma junta médica, que avaliaria se ele tinha condições higiênico-sanitárias de ser admitido.

Adoecimento era estratégia para evasão dos estudantes Durante a permanência no estabelecimento, a rotina dos meninos era intensa, "começava às cinco horas da manhã e terminava, aproximadamente, às 22 horas. Durante essa longa jornada, havia sempre uma atividade para ser executada. Os alunos eram extremamente controlados e até mesmo explorados", relata o pesquisador. O Instituto Paraense de Educandos Artífices funcionou em Belém até 1889, ano em que o Brasil passa de Império para República. Andreson Barbosa destaca que o estabelecimento começou com 25

meninos e chegou a atender 123 crianças e adolescentes. Ao longo do seu tempo de vigência, foram atendidos cerca de 1.500 meninos. Para o pesquisador, "um número muito pequeno diante da população desvalida que existia na época". A partir de 1889, a Instituição passou por uma transição, para transformarse, em 1891, no Instituto Lauro Sodré. O pesquisador diz que, apesar da subjugação que os meninos sofriam no Instituto, as famílias consideravam um diferencial a passagem dos seus filhos pelo espaço

formador. Segundo ele, isso se dava pelo fato de que, com a formação profissional, aumentavam as chances de esses jovens conseguirem um emprego para contribuir ou garantir o sustento das suas famílias. Ainda de acordo com o pedagogo, apesar de muitas famílias terem solicitado a admissão de seus filhos no Instituto, foram constatados muitos casos em que os artífices não retornavam após as férias, principalmente após terem completado a primeira etapa da formação. "As famílias encontravam estratégias para mantê-los consigo, não permi-

tindo que retornassem ao Instituto. Uma das estratégias era dizer que o aprendiz estava doente, condição na qual não era permitido permanecer na Instituição. Além disso, a formação parcial já vislumbrava uma boa possibilidade de inserção no mercado de trabalho", afirma. De acordo com Andreson Barbosa, "se o Instituto não causou grande impacto na situação de pobreza vivenciada na Província do Pará, certamente, causou grande transformação na vida dos meninos que puderam receber a formação oferecida por ele", finaliza.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012 –

Tecnologia

Meio ambiente

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esenvolver filtros com a função de promover o biomonitoramento da qualidade da água dos rios, estimular a conscientização ambiental e aplicar os conhecimentos técnicos na busca de soluções para o meio ambiente. Esses são os objetivos do Projeto "Desenvolvimento de Filtros Integrantes e Eco-Barco para o Biomonitoramento da Água dos Rios", desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia (ITEC) da Universidade Federal do Pará, sob a coordenação da professora Carmem Gilda Dias. O Projeto integra atividades das Faculdades de Engenharia Naval, Engenharia Mecânica e Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA. A poluição da água é a modificação das características de um ambiente pela adição de substâncias ou formas de energia que alteram sua natureza, de forma a prejudicar seu uso, a vida e o bem-estar de todos os seres vivos. Atualmente, uma grande quantidade de materiais pós-consumo e combustíveis de embarcações são lançados diariamente nos rios. Os impactos no ecossistema aquático aumentaram nos últimos anos com o uso indiscriminado de alguns produtos, como detergentes, pesticidas, aditivos, plásticos, entre outros. Outros fatores que comprometem o ambiente hídrico são o crescimento

Alexandre Moraes

Equipamento absorve graxa e óleo nocivos despejados por embarcações

O

Filtros foram desenvolvidos em múltiplas camadas, obtidas a partir de material reciclado populacional, o processo de urbanização desordenada e a deficiência dos serviços de saneamento básico. Com o objetivo de usar o conhecimento adquirido na Universidade para mudar essa realidade, o Projeto "Eco-Barcos para Educação Ambiental" propõe a reciclagem dos

materiais pós-consumo para transformá-los em embarcação de coletas de resíduos sólidos. Assim, o eco-barco é construído a partir de garrafas PET, latinhas de cerveja e de refrigerante. A base para sua construção e o grande diferencial do produto são a técnica de roto-moldagem, que reprocessa

polímeros e outros materiais reciclados. A embarcação é a primeira, no Brasil, construída com essa técnica. O trabalho também propõe promover a conscientização ecológica de quem mora na Região Metropolitana de Belém, para evitar o despejo de resíduos sólidos nos rios da região.

conscientizar a população? Foi essa a ideia que incitou este Projeto," explica a professora. Os filtros são desenvolvidos pela equipe no Laboratório de Engenharia Mecânica da UFPA e sua arquitetura é constituída por um conjunto de funções, entre as quais, estão a conservação da fauna de macroinvertebrado e a remoção dos sólidos e líquidos viscosos. Ele foi desenvolvido em múltiplas camadas, obtidas a partir de materiais reciclados de embalagens pós-consumo, polietileno e celulose e argilominerais naturais. Segundo Ana Paula Soares, as fibras de celulose são obtidas por meio da polpa da madeira e de outras fontes naturais. Para a construção dos filtros, o grupo usou as fibras contidas em embalagens cartonadas multicamadas,

que são constituídas por três matériasprimas: estruturação de celulose, lâminas de alumínio e filmes poliméricos. Ela explica que a celulose é o composto responsável pela retenção dos óleos devido a sua compatibilidade química. Os polímeros, como o polietileno, o polipropileno e o poliestireno, são amplamente utilizados como matériaprima para embalagens poliméricas (filmes plásticos metalizados) e apresentam algumas propriedades, como alta resistência ao impacto, baixo custo, excelente processabilidade, além de serem inertes a muitos produtos químicos e terem sido utilizados para dar resistência aos filtros, protegendo a celulose. De acordo com a pesquisadora, esses compósitos foram escolhidos devido a suas características seletivas

e, de acordo com a sua formulação, conseguem identificar, em meio a inúmeras substâncias, aquela na qual o grupo esteja interessado, ou seja, são utilizadas substâncias que reagem de acordo com o que se quer detectar, filtrar ou imobilizar, neste caso, graxas e óleos nocivos ao meio ambiente aquático. "O acelerado crescimento, sem condições adequadas de habitação e saneamento básico, tem prejudicado excessivamente a água dos nossos rios. Alguns estudos citados já comprovam o elevado índice de poluição existente, por exemplo, no rio Tucunduba. A nossa intenção é pegar tudo aquilo que iria para o lixo e transformar em elementos filtrantes e filtros, transformando este material reciclável em bens para a própria comunidade", explica.

Atividades de extensão envolvem educação ambiental Além do desenvolvimento dos filtros, o Projeto propõe a conscientização da população que tem contato diariamente com os rios. As atividades estão vinculadas às atividades de extensão dos cursos de Engenharia Sanitária e Ambiental. Segundo a coordenadora, os alunos trabalharam com a comunidade Porto do Açaí, na Baía do Guajará, em Belém, mostrando como fazer a destinação adequada do lixo. "Fizemos um trabalho com a

Óleos vegetais da Amazônia são alternativa aos derivados do petróleo Pedro Fernandes

Pesquisa seleciona no próprio lixo elementos filtrantes Atuando no Projeto, a estudante Ana Paula Soares desenvolveu sua pesquisa de mestrado com a perspectiva de fornecer para o eco-barco filtros que pudessem fazer o biomonitoramento da água dos rios, fazendo a integração entre as comunidades acadêmica, ribeirinha e estudantil. De acordo com a professora Carmen Gilda, os filtros foram constituídos por múltiplas camadas de elementos filtrantes com características seletivas. "Um dos graves problemas que encontramos em nossos rios é em relação à contaminação de óleos e graxas despejados pelas embarcações. Se estamos preparando embarcações com a função de preservar o meio ambiente, por que não destinar algumas embarcações para fazer a limpeza dos óleos e graxas e, ao mesmo tempo,

Motor consome dendê, e não diesel

comunidade, mostrando como deve ser feito o tratamento adequado do lixo produzido, ressaltando a importância da preservação da água para a vida da população," explica Carmen Gilda. Durante a ação no Porto do Açaí, a equipe testou, também, os filtros para coletar dados em relação à sua eficiência, que foi comprovada. Segundo a professora, a ideia é que os eco-barcos equipados com os filtros

sejam doados para que a comunidade possa utilizá-los na preservação dos rios. O Projeto "Desenvolvimento de filtros integrantes e eco-barcos para o biomonitoramento da água dos rios" foi desenvolvido no período de 2008 a 2011 e já iniciou novos planos para o futuro. Utilizando o mesmo processo de roto-moldagem, o grupo pretende fazer filtros para o tratamento de outros tipos de rejeitos encontrados nos rios, como os metais contaminantes.

"Nossa universidade tem um diferencial geográfico em relação às outras, os nossos rios. Devolver o conhecimento para a população preservando o que é nosso é um orgulho," conclui a professora Carmem Gilda. O "Eco-Barcos" é financiado pelo CNPq e tem como colaboradores o ETPP, CEFETPA, IBAMA, POEMATEC, PROEX, FAPESPA, VALE e COPALA. Informações: 3201-7324.

uso de óleos vegetais in natura como combustível de motores diesel tem se intensificado no Brasil. O grande potencial de cultivo de oleaginosas no País, sobretudo na Amazônia, favorece a substituição do óleo diesel, combustível poluente, pelo óleo vegetal, fonte renovável de energia. Diante deste cenário, o mestrando Ricardo da Silva Pereira, da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolveu a Dissertação Avaliação e Desempenho de Motor de Injeção Indireta Consumindo Óleo de Palma in Natura, defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (PPGEM) da UFPA, área de concentração "Térmica e Fluidos". Sob a orientação do professor doutor Manoel Nogueira, o pesquisador testou um motor de injeção indireta consumindo óleo de palma in natura e comparou os resultados a uma base de informações referentes ao desempenho do óleo diesel. A proposta do trabalho é utilizar óleo de palma (dendê) in natura como combustível de motores de injeção indireta e avaliar se o uso de óleo natural promove um bom desempenho da máquina, bem como se ameniza o impacto ambiental causado pelo emprego do óleo vegetal em motores de injeção direta. "Tive que fazer uma revisão bibliográfica para saber dos trabalhos que já existiam. A maioria das pesquisas que encontrei utilizava motores de injeção direta. Nesse tipo de motor, o óleo é pulverizado diretamente na

Alexandre Moraes

ITEC desenvolve filtros para monitorar rios

Mayara Albuquerque

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Ricardo Pereira (à dir.) e o professor Manoel Nogueira: uso do óleo de palma produz menos impacto ambiental câmara de combustão", explicou o pesquisador. "Para melhorar a eficiência do motor funcionando com óleo vegetal, os trabalhos já desenvolvidos mostram a viabilidade do uso de motores de injeção indireta. Por isso, nós mudamos o tipo de injeção para ver se melhora a qualidade da queima do combustível, do óleo vegetal." O óleo de palma pode ser usa-

do como combustível, sem precisar sofrer processos químicos relevantes. Ele precisa somente de filtragem e neutralização, dois processos simples, segundo Ricardo. Todavia o uso do óleo de palma in natura em motores diesel de injeção direta também possui alguns problemas. Entre eles, a alta de viscosidade do óleo de palma à temperatura ambiente e a demanda por maior

tempo de combustão, comparado ao óleo diesel, na mesma temperatura, aponta o estudo. O primeiro problema foi resolvido preaquecendo o óleo vegetal, com o auxílio de uma resistência térmica, antes de injetá-lo no motor. O segundo, mantendo a temperatura dentro da câmara de combustão alta, de modo a acelerar a queima do combustível.

Desafio é fazer o equipamento trabalhar por mais tempo Apesar dos obstáculos, o uso de óleo de palma em motores diesel de injeção indireta mostra-se viável, em especial para o suprimento de energia elétrica em localidades isoladas. Antes dos testes, foram feitas em laboratório a caracterização energética e a análise elementar do óleo diesel e do óleo de palma. Os ensaios foram da seguinte maneira: primeiro, foi usado um motor de injeção indireta (Hyundai), acoplado a um gerador, consumindo óleo diesel; em seguida, trocou-se o óleo diesel por óleo de palma in natura. Essa mudança também foi feita usando um motor de injeção direta (Cummins).

O trabalho observou as diferenças percentuais absolutas desta troca de combustível para os dois motores. As características físicas dos motores não foram consideradas, apenas a troca de diesel para óleo vegetal. Os testes para os grupos geradores, motor e gerador, foram realizados para diferentes percentuais da carga máxima do gerador, 100%, 85% e 75%. A comparação do desempenho dos motores foi feita pelas emissões dos gases produzidos (CO, CO2, NOx), pela temperatura dos gases de escape (medida na saída do cilindro do motor), pela potência gerada, pela vazão

de combustível, pelo consumo específico de combustível e pelo rendimento para os dois motores. "Levando em consideração as diferenças entre o diesel e o óleo vegetal no motor de injeção direta e no motor de injeção indireta, foi provado que o motor de injeção indireta tem o potencial de funcionar melhor. Mas há a necessidade de algumas adaptações no motor. Esse foi o primeiro diagnóstico a que chegamos, ou seja, o motor de injeção indireta é bom. Mas ele ainda não está preparado para funcionar de forma adequada com o óleo vegetal. Então, a ideia é

desenvolver ainda mais a tecnologia para adequá-la, de forma permanente, à realidade do óleo vegetal", esclarece o pesquisador. "A ideia é boa, mas o problema é que, no motor, o sistema de alimentação tem que ser adaptado. Por exemplo, se nós pegarmos o óleo vegetal agora e colocarmos dentro de um motor a diesel, vai funcionar. Mas logo vai parar. Por isso, temos que modificar as variáveis de funcionamento do motor para que ele consiga trabalhar com o óleo vegetal à baixa potência e por muito tempo", acrescenta Manoel Nogueira.

Com produção local, custo do combustível pode ser menor Em 2010, ainda em fase de elaboração, o trabalho foi aplicado no município de Igarapé-Açu do Moju, localidade do Alto Moju, no Pará. A tecnologia foi instalada no local para gerar energia elétrica e atender a demanda de 56 famílias. A central foi mantida em funcionamento durante um mês e trabalhava das 18h às 23h30, consumindo apenas óleo de palma. "Nós adotamos o dendê, porque é uma oleaginosa abundante na região. Mas a ideia é usar qualquer óleo vegetal", afirmou o professor

Manoel Fernandes. "Produzir óleo vegetal é uma coisa relativamente simples. A semente é esmagada, o óleo é extraído e filtrado. Tem-se o combustível. Ele pode ser usado em motores de barco, no carro e na geração de energia elétrica", explicou. Hoje, o dendê é extraído no interior do Estado, levado para a capital, transformado e misturado com diesel. Retorna às comunidades como biodiesel, por um valor mais alto do que se fosse produzido e comercializado por elas mesmas. Nesse sentido,

se aplicada em tais localidades, a tecnologia elaborada pelo pesquisador pode incentivar a produção local e diminuir o custo do combustível, encarecido pela logística do transporte e pela tecnologia sofisticada de produção de biodiesel. Além disso, com essa nova tecnologia, não mais seria necessário transformar o óleo de palma em biodiesel (processo de transesterificação). Por ter um ciclo de produção de gases de efeito estufa próximo a zero (o carbono emitido é absorvido pela

oleaginosa durante o seu crescimento), o óleo de palma é uma alternativa energética benéfica ao meio ambiente. O óleo diesel, além disso, contém o enxofre, um dos principais agentes de poluição da natureza. "A ideia é diminuir o consumo de derivados do petróleo", disse Ricardo Pereira. O objetivo do trabalho ainda não foi totalmente alcançado. Até então, conseguiu-se fazer o motor trabalhar a 70% de sua potência nominal. A meta é baixar para 50%, limite da aplicação comercial do motor.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012 –

Extensão

Estudo discute motivações do crime

EM DIA

Karol Khaled

Segurança

Fronteira e território Estão abertas as inscrições para o I Seminário Internacional Defesa e Fronteira na Pan-Amazônia e III Seminário Reforma do Estado e Território. Os dois eventos acontecerão no dia 26 de outubro de 2012, no Centro de Capacitação da UFPA. As inscrições podem ser feitas gratuitamente no site http://www.obed.ufpa.br/

Mayara Albuquerque

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iferentes crimes têm a mesma motivação? Fatores socioeconômicos contribuem para a ocorrência? Com o objetivo de responder a essas e a outras perguntas, o professor Jarsen Guimarães defendeu a Dissertação Motivações do Crime Segundo o Criminoso: Condições Econômicas, Interação Social e Herança Familiar, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido. O estudo analisou a criminalidade cometida por presos, na região oeste do Pará, relacionando-a com variáveis econômicas e sociais. A pesquisa, orientada pelo professor Durbens Martins Nascimento, foi realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Dados do Instituto Sangari apontam que, de acordo com os homicídios ocorridos no Brasil durante o período de 2002 a 2007, houve redução de 4% nos índices de criminalidade, em função, principalmente, das taxas negativas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Porém, na maior parte das capitais brasileiras, a criminalidade aumentou no período. No Norte, o Pará detém o maior índice de criminalidade – 85,83%. Na região oeste do Estado, conforme dados da Polícia Civil, no período de 2008 a 2010, Santarém registrou aumento de crimes em 15,55%. Já observando entre 2000 e 2010, verifica-se um aumento na ordem de 114,64%, o que retrata a significância dessa atividade no município. Professor Jarsen Guimarães explica que motivação é a condição do indivíduo que impulsiona a direção do comportamento. Na pesquisa, essa condição é retratada em três

Alexandre Moraes

Dados foram coletados com detentos de penitenciária em Santarém

Marabá

Participantes do Projeto recebem acompanhamento farmacoterapêutico

Atenção à saude do idoso

Farmácia orienta uso e controle de medicamentos Pedro Fernandes

Trabalho visa contribuir para elaboração de políticas públicas de combate à criminalidade no Estado do Pará campos: econômico, social e familiar. A conduta desviante do indivíduo caracteriza-se, então, como uma consequência da motivação constituída pela internalização diferenciada de normas e valores. Indivíduos expostos ao mesmo ambiente social apresentam condutas diferentes e, consequentemente, motivações diferentes. O pesquisador afirma que o trabalho tem o intuito de servir de auxílio para a elaboração de novos trabalhos, bem como servir de referência na construção de políticas públicas de segurança específicas de comba-

te à criminalidade. Segundo ele, o município foi escolhido devido ao grande recente aumento nos índices de criminalidade e em consquência da sua localização geográfica. “Santarém é próximo das duas grandes capitais, Belém e Manaus, então, fica localizada em um ponto estratégico do tráfico de entorpecentes, que influencia outros crimes. A gama de informações que tivemos lá era muito grande, porque os presos de lá não são só do município, mas também de toda a região oeste do Estado do Pará, além de outros Estados e até de outros

países”, explicou. O estudo foi realizado por meio da coleta de informações feita em questionários com detentos da penitenciária Silvio Hall de Moura, no primeiro semestre de 2011. O professor Durbens Martins defende que a importância e a inovação do trabalho estão em estudar o agente ativo do crime e não a vítima. “Objetiva-se traçar um perfil do criminoso e verificar as reais motivações do crime. Dados sobre a vítima não refletem a real motivação do crime, então, nós deslocamos o foco da investigação”, ressaltou.

Interação social e busca por herança favorecem os delitos Para investigação da possível relação existente entre variáveis socioeconômicas e criminalidade, os crimes praticados por detentos da penitenciária de Santarém foram divididos em quatro categorias: crimes contra a vida, crimes contra o patrimônio, crimes contra os costumes e crimes de tráfico de entorpecentes. Nos crimes contra a vida, estudaramse homicídio e tentativa de homicídio. Contra o patrimônio, incluíram-se

roubo, furto e extorsão. Contra os costumes, estupro e atentado violento ao pudor. A população carcerária pesquisada oscilou de 500 a 520, sendo preenchidos 408 questionários – praticamente o universo de presos no presídio. Os dados revelaram que 180 delitos foram cometidos por indivíduos santarenos e 228, por indivíduos de outras localidades. Ainda de acordo com os questionários preenchidos, 85,

crimes eram contra a vida; 123, contra o patrimônio; 32, contra os costumes; 156, de tráfico de entorpecentes e 12, outros. Os resultados indicaram que, para crimes contra a vida, a principal motivação é a interação social; crimes contra o patrimônio, a situação econômica do indivíduo delinquente; crimes contra os costumes, herança familiar, acompanhada da interação social; e nos crimes de tráfico de entorpecentes, encontra-se um misto de

motivações, ou seja, a condição econômica, a interação social e a herança familiar do indivíduo, pois esse tipo de delito é uma espécie de motivador para todos os outros crimes. Professor Jarsen argumenta que as políticas de combate aos delitos devem ser conjuntas. “Ninguém, em seu juízo perfeito, sai roubando, traficando ou matando pessoas. Alguma coisa deve ter motivado o indivíduo a agir dessa maneira”, pontuou.

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as últimas décadas, o Brasil vem apresentando um novo padrão demográfico, o qual se caracteriza pela redução da taxa de crescimento populacional, pelo aumento da expectativa de vida e por um aumento significativo na população de idosos. Antes, o que caracterizava o perfil epidemiológico do País era o alto índice de morte provocada por doenças infecciosas e parasitárias. Hoje, o que define o padrão epidemiológico da população são as doenças crônicas não transmissíveis, próprias das faixas etárias mais avançadas. Visto isso, é necessário que os profissionais da saúde ampliem seus conhecimentos sobre o envelhecimento, principalmente sobre as doenças típicas de terceira idade, e direcionem suas práticas a iniciativas

que promovam melhores condições de vida e saúde aos idosos. Para atender a essa demanda, a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Projeto de Extensão "Cuidados Farmacêuticos na Atenção à Saúde do Idoso: Uma Nova Visão Acadêmica no Serviço da Farmácia Universitária", oferece atendimento gratuito aos idosos. O Projeto faz a avaliação e o monitoramento farmacoterapêutico dos idosos que usam medicações de forma contínua, orientando-os sobre o uso e o controle das medicações. O objetivo é regular o uso de medicamentos por parte dos idosos, melhorando, assim, a qualidade de vida deles. "O idoso é um grupo que vem crescendo muito e com o qual precisamos ter atenção diferenciada, principalmente, quanto ao uso contínuo de medicamentos. Como

farmacêuticos, precisamos monitorar o uso que o idoso faz do medicamento para evitar os danos que o mau uso pode provocar", explica a professora Marcieni de Andrade, coordenadora do Projeto. Além dos idosos, a ação também atende diabéticos e hipertensos. Iniciado em 2011, o Projeto conta, hoje, com a participação de professores e alunos da Faculdade de Farmácia, alunos da pós-graduação da Residência Multiprofissional em Saúde, do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), na área de concentração em saúde do idoso. Entre as ações do Projeto, está previsto o atendimento individual (consulta farmacêutica), a identificação de problemas relacionados aos medicamentos (PRM), o monitoramento farmacoterapêutico e a intervenção farmacêutica.

Programa alerta para o risco da automedicação

Estado precisa resgatar valores sociais, diz pesquisador

"Primeiro, fazemos o levantamento de doenças, do uso de medicamentos e histórico de reações alérgicas. Caso a avaliação mostre que os medicamentos usados não são compatíveis, orientamos uma visita ao médico para substituição da medicação", conta Marcieni de Andrade. Outra iniciativa são as dinâmicas de comunicação e informação sobre o uso de medicamentos. A ação visa conscientizar os idosos sobre os riscos da automedicação, ensiná-los a monitorar o uso de medicações,

informá-los sobre as doenças típicas da terceira idade, bem como sobre as alterações corporais. Nesse sentido, o Projeto funciona como campo de estágio para os alunos da Graduação e da Pós-Graduação em Farmácia. É um espaço onde os alunos podem desenvolver estudos sobre o perfil farmacoterapêutico dos idosos, promover cursos, seminários e palestras sobre saúde e medicamentos, realizar ações assistenciais contra doenças como hipertensão e diabetes, entre outras atividades.

Recentemente, o curso de Farmácia sofreu uma mudança curricular. Desde então, o projeto pedagógico do curso é voltado para a formação generalista do farmacêutico, baseada em dois princípios: assistência e atenção farmacêutica. Hoje, o foco do atendimento não é só a medicação, mas o paciente que vai usar o medicamento. "Essa nova visão traz termos como 'cuidados farmacêuticos', 'anamnése farmacêutica', 'monitoramento'", conta Marcieni de Andrade.

Jarsen Guimarães frisa que, além do caráter econômico, a criminalidade é um fenômeno social também relacionado ao respeito às normas e aos valores existentes na sociedade, adquiridos pelo indivíduo a partir do tripé família, escola e religião. Desta forma, torna-se essencial resgatar tais valores. “Governo e sociedade precisam criar mecanismos mais eficientes para combater o fenômeno, agregando-os aos já existentes. A interação

Por se tratar de um serviço comunitário voltado à atenção farmacêutica, o Projeto garante aos alunos uma formação integral. "Depois de formados, eles irão lidar com o público idoso. Por isso, precisam de uma formação diferenciada. E o Projeto oferece isso", acrescenta Marcieni de Andrade. No futuro, este deve ser um

projeto permanente da Instituição. "Hoje, nós estamos fazendo o monitoramento farmacoterapêutico, a verificação da pressão arterial, do peso e da glicemia. Em breve, queremos dispor de tecnologias que tragam respostas mais rápidas. Também temos a intenção de aumentar as parcerias e montar uma equipe multiprofissional, farmacêuticos, nutricionistas e outros

profissionais da saúde, para atender os idosos", finaliza a coordenadora.

social do indivíduo e os estímulos para a sua boa formação, com escolas de qualidade, praças de esporte/lazer, bibliotecas públicas, entre outros, assim como as condições oferecidas pelo poder público para a criação de empregos são fatores primordiais para que o problema da criminalidade seja controlado, além de um processo de ressocialização dos presos”, opinou. Já o professor Durbens Martins destaca a importância da pesquisa para

o meio acadêmico. “Este trabalho abriu para o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), para a UFPA e para a UFOPA uma linha de pesquisa que, até então, não existia nesta área. O enfrentamento de qualquer problema social é um dos temas que exigem das autoridades, da sociedade civil e da comunidade universitária um esforço no sentido de compreender sua natureza e as motivações presentes, para subsidiar os formuladores de

políticas públicas”, disse. Seguindo a mesma linha de pesquisa, o professor Jarsen Guimarães também desenvolve um projeto de extensão, aprovado na Ufopa, que realiza palestras sobre a criminalidade em escolas, associações de bairros, igrejas e universidades. “A ideia não é só divulgar os dados, mas também se prevenir. Mostramos de que forma devemos combater isso ainda na formação do indivíduo”, declarou.

Perspectiva é formar equipe multiprofissional

Serviço: Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 12h. Local: Farmácia Universitária da UFPA, Complexo "Vadião", no Campus Guamá, em Belém. Contato: 3201-7581 ou 3201-8075

Entre os dias 1º e 3 de outubro de 2012, o Campus da UFPA em Marabá realiza o I Encontro Nacional de Ensino de Língua e Literatura (ENACIELL). A programação inclui palestras, oficinas e minicursos. Para mais informações, acesse o site do evento: http://www.enaciell.com. br/index.html

Resistência Durante todo o mês de agosto - às quintas e sextas-feiras -, acontecerá a III Mostra Latino-Americana de Cinema de Resistência. Inscrição e programação podem ser acessadas no site do evento http://iiiselcir. wordpress.com/2012/03/11/bemvindosiiiselcir/

Concurso I Estão abertas, até o dia 31 de dezembro, as inscrições para o Concurso Literário "Prêmio Samuel Mac-Dowell" – 2012 (Gênero Ensaio). De acordo com o regulamento, os livros devem estar redigidos em português e ser apresentados em três (3) vias, sob pseudônimo, digitados na fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5, devendo ter entre 50 e 100 folhas.

Concurso II No momento da inscrição, o concorrente entrega a obra impressa em papel A4 e uma cópia em CD. No envelope lacrado, devem constar a identificação e o endereço, além do título da obra. Mais informações: (91) 32220630, site www.apl-pa.org.br, e-mail apl-pa@ig.com.br e na secretaria da Academia Paraense de Letras, na rua João Diogo, n. 235, Comércio.

Finalistas Os estudantes de Comunicação Social (Jornalismo) da UFPA Igor de Souza Pinto, Kleiton L. Nascimento e Phillippes Sendas de Paula Fernandes são finalistas na categoria Destaque Acadêmico do 1º Prêmio Belém de Jornalismo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará e pela Prefeitura Municipal de Belém. O resultado final será divulgado no dia 31 de agosto, durante o 8º Congresso Estadual de Jornalistas. Igor de Souza Pinto concorreu com matéria publicada no Jornal Beira do Rio.

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2012 –

Teatro

Cidade

Dramaturgos da Amazônia em cena

Engenharia para diminuir ruídos

Acervo reúne textos clássicos e contemporâneos de autores da região Fotos Acervo do Projeto

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e acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Belém é a capital nacional do ruído. À medida que aumentam os problemas de ruído causados pelo tráfego, cresce a preocupação com o grau de incômodo gerado na população. Com o objetivo de desenvolver meios para quantificar e reduzir tal desconforto, Erick Casseb Guimarães desenvolveu pesquisa que resultou na Dissertação Influência do Ruído de Tráfego em Edifícios e Proposta de Solução Desenvolvida com Auxílio de Modelos Numéricos, defendida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, sob a orientação do professor Gustavo Melo. Na capital paraense, circulam, diariamente, mais de 380 mil veículos. Somente entre os anos de 2008 e 2009, o número de automóveis nas ruas aumentou 23%. Esse crescimento tem impacto imediato: engarrafamento das vias e estresse de motoristas e pedestres, além de aumento do nível de ruído, principalmente em horários de maior fluxo. Dados recentes do Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran-PA) indicam que a frota de veículos no Estado ultrapassou 1.000.000 em março de 2011, sendo 400 mil veículos só na Região Metropolitana. Segundo Erick Casseb, na cidade de Belém, o processo de verticalização de edificações se intensificou, nos últimos anos, como consequência da falta de espaço horizontal. Os modernos projetos de edificações

Wagner Meier

Moradores de apartamentos são os que mais sofrem com pressão sonora Mayara Albuquerque

O espetáculo A Casa da Viúva Costa foi apresentado durante a terceira edição do Seminário de Dramaturgia Amazônida Paulo Henrique Gadelha

A Mais de 380 mil veículos circulam em Belém, todos os dias. Além de engarrafamento, tráfego intenso incomoda os ouvidos. verticais investem em prédios de muitos andares, em consequência da restrição cada vez maior dos espaços horizontais, fato que colabora para um fenômeno conhecido como "amplificação sonora causada pela reverberação urbana". Ele explica que os "desfiladei-

ros urbanos" podem amplificar o ruído de tráfego, em razão das múltiplas reflexões nas fachadas das edificações que margeiam as vias de tráfego. Para o pesquisador, a verticalização absorve vários problemas de ordem ambiental existentes, por exemplo, o ruído de tráfego diário, problema que

exerce influência direta no sono e na qualidade de vida da população. "Em edificações situadas frontalmente nas principais vias de tráfego, o ruído gerado por veículos leves e pesados se agrava à medida que aumenta o fluxo dos veículos no decorrer do dia", afirma Erick Casseb.

Em Belém, sons extrapolam nível recomendado pela OMS Em Belém, o ruído de tráfego é elevado a níveis que extrapolam os valores recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Normalmente, as edificações são construídas sem preocupação com a acústica do lugar, somente com a estética. Nosso objetivo foi desenvolver novas geometrias e composição de materiais existentes, de forma a minimizar a penetração do ruído nos ambientes internos das edificações", afirma Erick Casseb. Na capital, o aumento do fluxo de veículos ocorre nos horários de pico, isto é, no intervalo das 12h às

13h e das 17h às 18 h. Nesses dois períodos, o congestionamento eleva os níveis de pressão sonora, gerando incômodo à população que habita às proximidades dessas vias. O pesquisador explica que, por conta disso, escolheu uma edificação ainda em fase de construção, situada na rua Antônio Barreto – rua que mais se assemelha a uma grande avenida na região central da cidade –, para as medições. As dependências externas e internas da edificação investigada foram cedidas pela Empresa Porte Engenharia. Para realizar os testes, o pes-

quisador utilizou minicâmaras geminadas – câmaras que possibilitam a medição de perda de transmissão sonora de partições quaisquer ou o quanto essas partições podem conter um som. As simulações foram realizadas por meio do software ODEON, utilizado pelo Grupo de Vibrações e Acústica (GVA) da UFPA. Erick Casseb explica que um dos materiais mais usados em fachadas de edifícios é o vidro, que, geralmente, está acoplado a uma esquadria de suporte nas portas e janelas e até em peitoris de sacadas, formando o conjunto de elementos externos des-

sas edificações. Normalmente, este conjunto de elementos é usado apenas como elemento estético e de proteção contra intempéries. Para a pesquisa, ele desenvolveu partições de vidros duplos e triplos com a finalidade de atenuar o ruído no interior dos apartamentos. Essas partições, quando acopladas aos seus suportes (geralmente, esquadrias de alumínio), mantêm as mesmas características estéticas e de proteção, porém, com a vantagem de possuir grande isolamento acústico. O custo de confecção e instalação é viável em todos os aspectos do projeto.

Forros rígidos refletem ondas para o interior dos edifícios Outra alternativa apresentada foi a mudança do material usado para a formulação dos forros. Atualmente, quase a totalidade das construtoras utiliza materiais rígidos como o gesso para a construção dos forros das sacadas, em razão do baixo custo, pela durabilidade e pela questão estética. Para substituir esses materiais, o grupo desenvolveu elementos absorvedores, viáveis em todos os aspectos construtivos. "O gesso é rígido e o ruído do

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tráfego apresenta uma frequência média para alta, assim, as ondas sonoras tocam no teto e são refletidas para dentro dos apartamentos. O nosso forro tem as características físicas parecidas com as do gesso, mas é feito de outro material, microperfurado de metal, que absorve o som, diminuindo este fenômeno", explica o engenheiro. Erick Casseb afirma, contudo, que tais problemas poderiam ser resolvidos facilmente se houvesse um rigor

maior na hora da construção. "O mais fácil, normalmente, é combater o ruído na fonte, ou seja, nos veículos, mas nós não podemos. Quando alguém solicita o serviço para diminuir o ruído no seu apartamento, nós resolvemos através da implantação destes materiais, mas vira um serviço particular, caro e nem todos os moradores podem ter acesso. A construtora pode evitar este transtorno se tiver um cuidado com a acústica ainda durante a construção

dos prédios", avalia. Para Erick Casseb, essa temática é importante, porque demonstra a possibilidade real da utilização de materiais com bons níveis de isolamento e absorção acústica. "Nossa pesquisa caracteriza um progresso significativo no campo da construção civil e fornece aos órgãos financiadores subsídios convincentes para o investimento na melhoria dessas edificações", conclui.

s diversas formas de manifestação da arte possuem um percurso histórico de produção. Em relação à arte cênica e ao teatro, é possível existir um número expressivo de obras que integrem a cena de uma determinada cidade ou região, mas sejam desconhecidas do público. Este é o caso da Amazônia, tem uma rica história, com grandes autores e textos, mas ainda é pouco conhecida. Para reavivar essa memória e divulgar essas obras para um amplo

público interessado em artes cênicas, a professora e pesquisadora Bene Martins, da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), coordena, desde 2009, o Projeto de Pesquisa "Memórias da Dramaturgia Amazônida: Construção de Acervo Dramatúrgico". "A proposta é coletar, reunir, organizar, tratar e divulgar textos que foram escritos por dramaturgos da região, construindo um acervo com materiais que estavam dispersos. Assim, ao revelar esse tesouro que estava escondido, os amantes do teatro poderão conhecer a drama-

turgia amazônida dos pioneiros das letras escritas para os palcos", diz a coordenadora. Uma importante parte do acervo dramatúrgico – dez peças do dramaturgo Nazareno Torinho – já está disponível no site http:// dramaturgiaamazonida.ufpa.br/. Outras, encontradas em seções de obras raras, estão em fase de digitação para serem inseridas no site do Projeto. A pesquisa inicia com visitas às bibliotecas públicas de Belém, como a Arthur Vianna, da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, e

à Academia Paraense de Letras, a fim de se procurar, nesses espaços, textos antigos. Outras bibliotecas e acervos particulares ainda serão visitados e, de acordo com a professora, certamente, contribuirão para o enriquecimento do Projeto. A iniciativa já catalogou em torno de 45 nomes de autores e encontrou 70 peças, sendo de 1808 a mais antiga, intitulada "A felicidade do Brasil", de Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha. "Infelizmente, várias peças ainda não foram encontradas, mas vamos persistir", diz Bene Martins.

Material disponível em arquivos eletrônicos e impressos Depois de organizado, o material passará pelo tratamento adequado. "Algumas das primeiras peças foram encontradas entre as obras raras da Biblioteca Arthur Vianna, em estado precário de conservação", lembra a professora. Depois de digitalizados, os textos serão reunidos no endereço eletrônico do acervo e também terão publicação impressa. Para isso, é necessária a autorização do autor ou de sua família. Esse critério só é preterido se o material já tiver caído em domínio público. O Projeto começou abrangendo dramaturgos de Belém e, aos poucos, está se espraiando para outros municípios do interior do Estado.

De acordo com a coordenadora, a intenção é expandir o trabalho para o maior número possível de cidades paraenses. No futuro, a meta será ainda mais ambiciosa: contemplar dramaturgos de todos os Estados da Amazônia brasileira. Uma das ações decorrentes da iniciativa é o Seminário de Dramaturgia Amazônida, o qual presta homenagens a grandes nomes da cena. Um dos objetivos do evento, assim como do Projeto, é contribuir para que os jovens estudantes de Teatro e de áreas afins conheçam os dramaturgos e as produções mais antigas. Na primeira edição, em 2010,

Nazareno Tourinho foi o homenageado. Em 2011, o dramaturgo Ramon Stergmann recebeu as honrarias. Além do paraense Paulo Faria, compareceram ao evento alguns dramaturgos do Amazonas, como Márcio Souza, Jorge Bandeira e Sérgio Cardoso. Segundo a docente, a terceira edição do Seminário de Dramaturgia Amazônida, realizada em 2012, foi ainda mais abrangente. Com o intuito de promover o encontro entre dramaturgos, alunos, pesquisadores, professores e demais interessados em artes cênicas, a programação incluiu pesquisadores e dramaturgos do Amapá, do Acre, de Roraima e de

Rondônia e contou, também, com a participação do poeta e dramaturgo João de Jesus Paes Loureiro. O encontro, que homenageou o escritor paraense Levi Hall de Moura – já falecido, que deixou sete peças escritas, as quais já foram autorizadas pela família para serem incluídas no site do acervo –, promoveu, ainda, apresentações dos espetáculos A Casa da Viúva Costa e No Trono. Para 2013, os planos são realizar o IV Seminário Pan-Amazônico envolvendo outros países e, assim, tornar o evento de abrangência internacional. O dramaturgo Paes Loureiro será o homenageado da edição.

Primeiro volume da coletânea está em fase de impressão A iniciativa também conta com a colaboração de docentes da ETDUFPA e quatro bolsistas (dois efetivos e dois voluntários, estudantes de Licenciatura em Teatro da Escola). Há, também, a contribuição externa da pesquisadora Zeffa Magalhães, servidora da Biblioteca Arthur Vianna. Outras ações estão programadas para breve. Entre elas, a releitura e remontagem de textos clássicos da dramaturgia, como a peça de Nazareno Tourinho Nó

de quatro pernas, que completou 50 anos de publicação em 2011. Autorizados pelo dramaturgo, dois bolsistas são responsáveis pelo processo. "Nessa encenação, o texto será seguido na íntegra. Trata-se de uma releitura, mas sem interferência na escrita do autor. Assim, o público poderá conhecer uma das peças revitalizadas pelo acervo", destaca Bene Martins. A organização de coletâneas, com textos de dramaturgos paraenses, é outra ação a ser desenvolvi-

da. Já há uma coletânea concluída, organizada por Bene Martins e Zeffa Magalhães, que conta com 18 textos. A obra está no processo de impressão pela Editora ValerAM. A docente revela, inclusive, que já há material para um segundo volume. A pesquisadora ressalta que há dois projetos de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de discentes de Licenciatura em Teatro encaminhados, bem como dois projetos de mestrado. "O Projeto

busca, na medida do possível, preencher essa lacuna de pesquisa que existia no Pará e na Amazônia. Os dramaturgos revisitados e suas famílias estão gratos e felizes com a iniciativa. Essa receptividade é gratificante e serve como motivação para a continuação das atividades. Além disso, ao valorizar essa memória, teremos valiosas referências de autores e textos clássicos da dramaturgia amazônida para futuras encenações e estudos", finaliza Bene Martins.


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