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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010

Entrevista

“A globalização tende a aumentar o etnocentrismo"

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 84 • Junho/Julho, 2010

Karol Khaled

UFPA investe em tecnologia

Projeto propõe análise de sofrimentos psíquicos causados pela intolerância diante das diferenças culturais. Rosyane Rodrigues

acontece com as pessoas aqui acontece em qualquer lugar. Os mecanismos psíquicos se assemelham, são universais. O objetivo da Psicanálise é fazer com que aquilo que não é dito em outro lugar possa ser dito ali, no espaço terapêutico

Beira do Rio – Quais são os objetivos do Projeto "Processos identificatórios e diversidade cultural: proposta de constituição de um dispositivo terapêutico”? Suzana Pastori – O objetivo é pensar que a questão psíquica tem relação com a questão cultural. É uma tentativa de constituir um dispositivo terapêutico grupal, destinado a pessoas que vêm do interior. O importante nesse Projeto é você tomar como referência alguns aspectos culturais e voltar a atenção para isso. Ao longo do meu trabalho, percebi que as pessoas que vêm do interior, principalmente, perdem o referencial cultural e familiar.

Beira do Rio – Explique o que seria esse "dispositivo terapêutico"? S.P. – É um espaço onde as pessoas poderiam falar, dizer os "não-ditos", aquilo que não tem espaço para ser dito em outro lugar por não ser socialmente aceito ou ser proibido. Embora existam as especificidades de trabalhar com grupo, ou seja, que você possa partilhar o que é dito, isso faz com que as pessoas sintam-se encorajadas a falar e a dizer coisas que não teriam espaço em outros ambientes. O trabalho é este: fazer com que essas coisas possam ser ditas e partilhadas com outras pessoas com a mesma experiência.

Beira do Rio – Que sintomas apresentam os migrantes que estão em sofrimento psíquico? S.P. – Precisamos ter cuidado para não generalizar, mas os principais são medo, perda da autoestima e ansiedade. Muitos sintomas têm relação com os lutos não elaborados e as crises que se apresentam após as perdas de pessoas, principalmente familiares. Ainda que os sintomas apareçam em outros grupos, entre os migrantes, eles apresentam algumas particularidades, já que eles apresentam uma Medo, perda da fragilidade psíquica. As culturas tradicionais esautoestima e tão colocadas num plaansiedade são no negativo, então, isso tem consequências psísintomas de quicas para as pessoas que estão ligadas a essa sofrimento. cultura. O luto também

Beira do Rio – Em que medida a Psicologia pode contribuir para a construção de uma nova identidade nesse novo lugar? S.P. – A proposta desse trabalho é constituir um espaço onde essas coisas possam ser ditas, possam existir de alguma forma. A Psicanálise, particularmente, trabalha com o que é negativizado, aquilo que é excluído da consciência. O que

acabam formando grandes conglomerados familiares em lugares muito pequenos. Muitas vezes, não há um vínculo afetivo, algumas pessoas se veem compulsoriamente levadas a ajudar, porque a questão familiar é mais forte, nem sempre é por afetividade. Percebo claramente o peso que é receber e sustentar pessoas com as quais não se tem muito vínculo.

Beira do Rio – A globalização tem servido para borrar fronteiras. Isso tem aumentado o etnocentrismo ou contribuído para o exercício da relativização cultural? S.P. – Nós fizemos um congresso internacional baseado nesse tema justamente pensando nas consequências psíquicas dos efeitos da globalização, e isso é uma coisa mundial. A globalização tem um aspecto que é de aproximação, mas ela tende a aumentar o etnocentrismo, porque você não pode se igualar completamente ao outro, você Beira do Rio – De tem necessidade de onde vem a maioria manter uma diferença. dos pacientes atendiEsse apagamento de dos? Como eles chefronteiras faz com que gam até o Projeto? se acirre a necessidade S.P. – A Clínica de de estabelecer a difeA nossa forma Psicologia recebe essas rença em relação ao pessoas. Geralmente, outro. No Brasil, com de lidar com elas vêm para Belém uma experiência de em busca de escolarimigração constituída, a diversidade dade para os filhos e desde o início, por poé negando a tratamento de saúde, vos diferentes e com muitas vezes, em busca grande diversidade diferença. de melhores condições cultural, a tendência é de vida. Eles chegam a negar a diferença. Mas um consultório clínico isso não quer dizer que ou hospital público por encaminhaa gente não procure se constituir como mento. No Projeto, estão os pacientes diferente. Fazemos comparações com que vêm do interior. outras nações como se o Brasil fosse um país onde não existisse racismo. Beira do Rio – É possível fazer em Ele existe sim e talvez a nossa forBelém um mapeamento de migranma de lidar com a diversidade seja tes, ou seja, eles vêm morar em árejustamente negando a diferença ou as ocupadas por conterrâneos? procurando negá-la. Nós precisamos S.P. – Nós não temos esses dados, é poder dar conta da diferença, pois mas muita gente vem para Belém, nela recai essa necessidade de você porque já tem um parente aqui e reconhecer e respeitar o outro.

O Conectados: alunos utilizam rede sem fio na orla do campus universitário, em Belém

Aniversário

Alter do Chão

Ciências para quem está começando

Descoberta reserva de água potável na Amazônia

Clube de Ciências comemora 30 anos de atividades divulgando Ciências e Matemática para o público infanto-juvenil. Pág. 8

Cultura

O aquífero está localizado em uma formação geológica sob os Estados do Amazonas, Pará e Amapá. Os 86

quatrilhões de litros d'água seriam suficientes para abastecer 100 vezes a população mundial. Pág. 10

Tamará Saré/Ag. Pará

Beira do Rio – O que causa maior sofrimento: a perda do contato com a cultura do local de origem ou o processo de adaptação em um novo contexto cultural? S.P. – Acho que as duas coisas estão interligadas. Por exemplo, o novo contexto cultural com a vida em Belém, que é uma cidade grande e cosmopolita, está completamente interligado a uma dificuldade em se apropriar de determinados elementos culturais que possam ser úteis no seu dia a dia. Ser caboclo – como são chamados os que são do interior – é difícil, pois o que marca a sua identidade não são elementos positivos ou favoráveis. Mas você não consegue, simplesmente retirar esses elementos da sua vida, da sua maneira de ser. Esses elementos que são constitutivos. Mas como você vai fazer com que eles existam, façam parte da sua vida numa cidade como Belém?

Suzana Pastori: "Ser caboclo marca a sua identidade com elementos negativos"

Escola de Música da UFPA intensifica movimento cultural na Catedral Metropolitana de Belém. Pág. 4

Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação da Universidade Federal do Pará está desenvolvendo diversos projetos com o objetivo de ampliar e melhorar os serviços de telecomunicação nos campi universitários. Entre eles, está a rede wireless (sem fio), que garante o acesso gratuito à internet em locais abertos da Universidade. Já é possível utilizar o serviço no Campus Básico, na orla, no Restaurante Universitário e no Ver-oPesinho. Além disso, as contas de e-mail e sites institucionais estão com maior capacidade de armazenamento e a rede de informação ganhou agilidade e segurança. Págs. 6 e 7

Saúde

Portas abertas para música clássica

Pesquisa investiga águas minerais Nome da reserva foi inspirado na fomosa praia de Santarém

Professores e alunos de Geologia e Engenharia Sanitária realizarão estudo sobre a qualidade das águas comercializadas no Pará. Pág. 11

Psicologia Entrevista Karol Khaled

tem a ver com os entraves para esse resgate de valores culturais

fotos Karol Khaled

Nos últimos 20 anos, a sensação de que vivemos numa aldeia global está cada vez mais presente. A globalização trouxe consequências para a economia, para os sistemas governamentais e também para o cidadão. Esse novo mundo, onde as fronteiras estão desaparecendo, põe em risco aquilo que o indivíduo tem de mais caro: a sua identidade. Abrir mão da sua cultura para melhor adaptar-se e sofrer menos com a discriminação tem sido a opção para quem precisa sair do seu lugar. O Projeto "Processos identificatórios e diversidade cultural: prosposta de constituição de um dispositivo terapêutico”, coordenado pela professora Suzana Pastori, da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará, tem estudado esse processo na realidade amazônica, com pacientes vindos do interior do Pará. A estratégia de sobrevivência no novo lugar traz um sofrimento psíquico que não passa despercebido nos consultórios médicos. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, a professora explica melhor como isso acontece e de que maneira o Projeto está auxiliando esses pacientes.

Suzana Pastori conversa sobre os sofrimentos psíquicos na globalização Pág. 12

Opinião Rodolfo Salm discute os efeitos da construção da Hidrelétrica de Belo Monte. Pág. 2

Coluna do Reitor Carlos Maneschy escreve sobre o papel da UFPA no fortalecimento da eduação básica. Pág. 2

Laboratório ajuda a lidar com perdas.

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O

Carlos Maneschy

Que tipo de água está na sua mesa?

reitor@ufpa.br

A UFPA e o fortalecimento da educação básica

Karol Khaled

nesse processo? É inegável que as instituições de ensino superior têm contribuído na tarefa de garantir melhores condições de desempenho às ações realizadas no espaço das escolas básicas. Entretanto, muito ainda precisa ser feito! Observe-se, de saída, que às universidades cabe a responsabilidade pela formação do professor de ensino básico, seguindo instruções definidas em leis e normas bem conhecidas. Como nos anos mais recentes é visível o aumento das matrículas em cursos voltados às licenciaturas, e considerando-se que a educação continuada de professores da rede escolar tem sido realizada preponderantemente no ambiente acadêmico, a atuação das universidades no campo da formação docente tem ganhado mais destaque. O resultado dessa contribuição está refletido nas estatísticas que revelam os avanços obtidos na qualificação dos professores atuando na educação básica. Porém, se esse efeito positivo deve ser destacado, algumas lacunas verificadas na relação entre ensino superior e básico são inegáveis, traduzidas no pouco diálogo e intercâmbio entre educadores desses níveis de ensino, bem assim na incapacidade das universidades em apresentar projetos educacionais alternativos que incorporem e valorizem aspectos de diversidade e interdisciplinariedade na apresentação e tratamento dos temas que

compõem os conteúdos das disciplinas e tarefas escolares. Dessas constatações, revela-se a necessidade de um maior envolvimento e olhar mais atento das instituições de ensino superior à "pré-universidade". Experiências desenvolvidas pelos seus pesquisadores que sinalizem para a melhoria do aprendizado e para a eficácia da gestão escolar continuam sendo bastante esperadas. Se a Universidade Federal do Pará não tem contribuído para o fortalecimento das ações desenvolvidas no ensino básico no ritmo e escala esperados, à semelhança de outras instituições, também tem tido participação expressiva no processo de formar e capacitar professores para a rede de ensino estadual. Com um modelo de interiorização considerado um dos mais eficientes do País, a UFPA, por quase 30 anos, vem formando e capacitando docentes para a educação básica. Essa iniciativa institucional, mesmo avaliada como estratégica e de resultados extremamente positivos, não foi suficiente para dar conta do déficit de professores atuando no ensino básico sem a requerida formação, em decorrência do número excessivo de professores leigos em atividade no Estado. Somente pela intervenção de um ambicioso programa federal se conseguiria o apoio para dar cabo de tamanha tarefa com o sucesso devido, o que se es-

OPINIÃO Rodolfo Salm

pera alcançar com a instituição do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). Esse programa é uma ação do MEC, em colaboração com as secretarias de educação e as instituições públicas de educação superior, para ministrar cursos superiores a professores sem formação adequada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). As licenciaturas das áreas de conhecimento da educação básica serão ministradas no PARFOR, nas modalidades presencial e a distância: cursos de 1ª Licenciatura, para professores sem graduação; de 2ª Licenciatura, para licenciados atuando fora da área de formação e de Formação Pedagógica, para bacharéis sem licenciatura. No Pará, a UFPA se incorpora ao PARFOR no propósito de reduzir o número de docentes leigos. Serão mais de 20.000 professores formados nas mais distintas áreas, entre quatro e seis anos. Essa inédita experiência vai exigir um enorme envolvimento institucional. E, no final da coluna, um comunicado: no próximo número do Beira do Rio, a Coluna do Reitor torna-se um espaço editorial que será compartilhado com os pró-reitores. Assim, contamos ampliar a oferta de informação à comunidade universitária, a partir da visão especializada de cada participante da administração superior.

rodolfosalm@ufpa.br

Avatar II: a luta contra Belo Monte

ames Cameron, diretor de Titanic e da badalada aventura ecológico-espacial Avatar, esteve em Altamira, no final de março, para conhecer a região onde se pretende construir a Hidrelétrica de Belo Monte. Dias antes, o cineasta havia “implorado” ao presidente Lula que reconsiderasse a decisão da construção da monumental obra no Xingu. Ele dirigiu-se de barco à Terra Indígena Arara, da Volta Grande do Xingu. Lá, reuniu-se com índios de várias etnias e, mais tarde, encontrou-se conosco, os não-índios que também lutam contra a concretização deste projeto desastroso. Para municiá-lo com informações importantes para esta luta, falamos de nossas preocupações. Eu fiz questão de lembrar a extrema fragilidade ecológica da floresta da bacia do rio Xingu, fragilidade esta que faz com que, nos longos períodos muito secos, a floresta queime com facilidade. Assim, as grandes ondas migratórias que acompanhariam a construção da barragem levariam, em poucos anos, à destruição da metade de toda a floresta amazônica. E que isso tudo faz da campanha contra Belo Monte a mais importante empreitada ecológica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

da atualidade. A reação às declarações de Cameron foi imediata. O jornalista Sérgio Motta publicou, em seu blog no Monitor Mercantil, já dia 29, um artigo que começa assim: “Os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU lideram na produção e exportação de armas e controlam 95% do arsenal nuclear da Terra. Os Estados Unidos foram o único país do mundo a jogar bombas atômicas em seres humanos. A China ocupou o Tibet, mas o premiado diretor de Exterminador do Futuro, Titanic e Avatar, James Cameron, vem ao Brasil dizer que não deve ser construída a Hidrelétrica de Belo Monte”. Curiosa (e, por que não, apropriada) é a comparação da construção da Hidrelétrica de Belo Monte com algumas das maiores tragédias da humanidade, em sua lamentável defesa de que também poderíamos cometê-las. Para o jornalista, Cameron, ao somar-se aos que protestam contra o Projeto Belo Monte, “adverte o Brasil para não crescer, ou então para crescer com base em óleo e carvão”. Como se a energia de Belo Monte, que tem como objetivo final principalmente a mineração nesta região (e a consequente

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Saúde

Coluna do REITOR

ensino básico no Brasil apresenta indicadores de qualidade que revelam uma realidade ainda dramática, apesar dos avanços inquestionáveis observados nos últimos 15 anos. Esse quadro é avaliado por muitos especialistas em políticas públicas como um dos maiores óbices para que o país possa ganhar o impulso socioeconômico que lhe faça emergir e consolidar-se como uma potência. Dos registros e gráficos mais recentes levantados pelo Ministério da Educação (MEC), ressalte-se, de modo particular, o número significativo de jovens entre 18 e 24 anos que não concluíram o ensino fundamental (em torno de 25%); o grande número de professores leigos atuando na escola básica - são mais de 100 mil no Pará; a baixa percentagem de concluintes no ensino médio, considerando que menos de 1/3 dos alunos que ingressam na primeira série desse nível conclui o terceiro ano. Qual o papel das universidades no esforço de alteração desse cenário? De que forma, e em que dimensão, podem elas servir de elemento instituidor de novas práticas e conceitos pedagógicos que, por meio de procedimentos e métodos didáticos mais inovadores, motivem estudantes a perceber a escola como um agente capaz de alterar e valorizar sua vida, tendo professores qualificados como referência decisiva

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –

destruição da Amazônia), fosse nos trazer desenvolvimento econômico. Não traria. Essa energia seria usada, como na história de Avatar, para atender a interesses alienígenas, voltados à exploração da bauxita, o nosso “unobtainium” (fictício minério valiosíssimo do filme), por grandes mineradoras multinacionais que estão instalando-se rapidamente em toda a região amazônica. James Cameron comparou a luta dos Kayapó que se opõem à usina à dos Na’vi, povo criado por ele no filme e que vive na floresta de Pandora. Antes da vinda do diretor ao Brasil, Marina Silva já fizera a mesma comparação: “Quem pensa que a história relatada no filme Avatar só pode ocorrer em outro planeta, engana-se: Pandora também pode ser aqui”, em referência à Belo Monte. Sou mais pessimista que James Cameron quanto à tecnologia e ao futuro da humanidade. Em 2154, não acredito que estaremos chegando a galáxias distantes em naves espaciais colossais para roubar energia de planetas ainda virgens. Estaremos, na verdade, aqui, definhando. Seremos uma espécie ameaçada de extinção pelo longo pro-

cesso de degradação ambiental e por termos exaurido e contaminado nossas principais fontes de vida e energia. Algumas analogias presentes no filme são perfeitamente didáticas. A minha preferida é a observação da Dra. Grace Augustine, a botânica interpretada pela atriz Sigourney Weaver, em relação ao Unobtainium: “a riqueza deste mundo não está no solo, está em toda a nossa volta, os Na’vi sabem e estão lutando para defender isso”. O desfecho desta história real é difícil de antecipar. Apesar do leilão ocorrido dia 20 de abril, não há nada definitivo sobre Belo Monte. Nós não temos aqui, na Terra, aqueles seres gigantes alados, convocados em Pandora para auxiliar os Na’vi na sua luta final contra os terráqueos alienígenas. Mas não faltam guerreiros dispostos a matar e a morrer pela vida do rio, que também é sagrado para os que vivemos aqui. Rodolfo Saml é PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, professor adjunto da Faculdade de Biologia da UFPA, Campus de Altamira.

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Dilermando Gadelha/Diolene Machado/ Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza/Jéssica Souza (1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Moenah Castro/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/ Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Felipe Acosta; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Karen Correia; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Pesquisa investiga qualidade de águas minerais vendidas no Pará Yuri Rebêlo

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egundo os especialistas, cerca de 70% do corpo humano é formado por água. Ela é essencial para o transporte de alimentos, de oxigênio e de sais minerais, além de estar presente em todas as secreções (como o suor e a lágrima), no plasma sanguíneo, nas articulações, nos sistemas respiratório, digestivo e nervoso, na urina e na pele. Por isso é recomendado que um ser humano adulto tome, em média, dois litros e meio de água por dia. Para suprir a sua necessidade diária e por não confiar na qualidade da água do abastecimento público, boa parte da população recorre à água mineral. Mas o que é uma água mineral? Qual a diferença desse tipo de água para águas comuns, provindas de lençóis freáticos? Será que o que nos é vendido realmente atende aos padrões mínimos para ser considerado água mineral? Responder a esses questionamentos é o objetivo da Pesquisa “As Águas Minerais na Região Metropolitana de Belém: diagnósticos e proposições técnicas e sociais”. O Projeto, coordenado pelo professor Milton Matta, do Instituto de Geociências, foi motivado a partir de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no qual o aluno Desaix Paulo Balieiro Silva propôsse a coletar amostras de águas nas fontes de quatro das principais empresas de água mineral de Belém: Belágua, Nossa Água, Mar Doce e Indaiá, e compará-las com amostras

n Potável ou mineral?

Karol Khaled

Mácio Ferreira

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Classificada como mineral, a água tem maior apelo e valor comercial de água tirada de garrafas comuns das mesmas marcas, compradas em supermercados, porque, assim, seria possível verificar como os processos físico-químicos se modificam depois da retirada da água, do envasamento e da venda. Para a surpresa dos pesquisadores, foi constatado que nenhuma das águas poderia ser classificada como “água mineral”, mas como uma “água potável de mesa”. Na época da defesa do TCC, em 2005, o professor Milton Matta foi intimado a prestar depoimento no Ministério Público, acerca desse

problema. O Ministério Público emitiu uma notificação dando prazo de 20 dias para que as empresas relacionadas se pronunciassem e tomou providências após ouvir as partes interessadas. Agora, o Ministério Público Federal, no Pará, formalizou o pedido de mudança nos rótulos das garrafas de água potável que estão sendo vendidas como água mineral no Estado. De acordo com o procurador federal Bruno Araújo Soares Valente, a fraude foi descoberta a partir do estudo realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA).

n Ministério Público comprova irregularidades De acordo com o Ministério Público, novas irregularidades foram encontradas em outras marcas de águas vendidas no Pará. De acordo com o Código das Águas Minerais, aprovado no ano de 1945, “para que seja considerada água mineral, ela precisa ter determinadas substâncias, em determinada quantidade, que possuam uma ação terapêutica comprovada. Isso não é constatado nessas águas”, disse Desaix Silva. Por isso, baseado nessa pesquisa, o professor Milton Matta elaborou um projeto que visa estudar oito grandes marcas de água da Região Metropolitana de Belém, sobre diversos aspectos, tanto geológicos quanto sob o ponto de vista da engenharia sanitá-

ria, a fim de atestar vários fatores que podem estar interferindo na qualidade da água vendida como mineral. Mas qual a diferença entre uma “água mineral” e uma “água potável de mesa”? Segundo o Artigo 1° do “Código de Águas Minerais” do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), as “águas minerais são aquelas provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas, que possuam composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns, com características que lhes confiram uma ação medicamentosa”. Já o Artigo 3° do Código diz que águas potáveis de mesa são as águas de composição normal, provenientes de fontes

naturais ou de fontes artificialmente captadas, que preencham tão somente as condições de potabilidade para a região. Dentro desses parâmetros, as águas coletadas eram “águas potáveis de mesa”. Essa similaridade foi facilmente identificada, pois o professor Milton Matta já tinha estudos com as águas de Belém e os resultados foram os mesmos. “Em minha tese de doutorado, em 2002, estudei as águas subterrâneas da região de Belém e de Ananindeua, e conheço-as muito bem. Então, as águas ditas minerais, das quatro marcas analisadas, apresentam, exatamente, a mesma composição que águas subterrâneas comuns de Belém. Nenhuma delas era diferente”, afirma o professor.

pesquisador conta que, a longo prazo, o consumo frequente de uma água com característica tão ácida pode causar diversos males, como gastrite, úlcera, câncer estomacal. De acordo com o professor, essa não é uma característica somente das águas minerais, isso acontece com todas as águas da Amazônia. De uma maneira geral, as águas da

região são ácidas, quer sejam de poços, de rios, quer sejam minerais. Um outro projeto que está sendo elaborado pela Faculdade de Geologia, em parceria com a área de Medicina, estudará, exatamente, os casos de doenças causadas pelas águas ácidas da Amazônia, entre outras doenças de veiculação hídrica.

O perigo da água ácida O u t ro a s p e c t o q u e t e m interessado o professor Milton Matta é em relação ao pH das águas minerais vendidas em Belém. Para o professor, esse é um problema importante. “Se você pegar qualquer garrafinha de água mineral, o pH varia de 3,6 a 4,2. Ora, isso é ácido. O pH tinha que ser entre 6.5 e 8.5, segundo a legislação vigente”. O

Mas qual a desvantagem de classificar o seu produto como água potável de mesa e não como água mineral? É o mercado e o apelo comercial. O professor Milton Matta comenta que as empresas preferem classificar as águas como minerais para trazer maior credibilidade e apelo comercial ao seu produto. Mas isso não é razoável, porque as pessoas, de uma maneira geral, não tomam água mineral por causa da mineralização, mas pela sua potabilidade. Um fator que deve ser levado em conta para a classificação da água como mineral é a ação medicamentosa que essa água proporciona. E nenhuma das águas analisadas apresentava qualquer tipo de ação dessa natureza. Segundo Milton Matta, não existe nenhum problema no processo de extração, envasamento e comercialização da água, pelo menos em uma das fábricas que deu acesso aos estudantes. “Eu vi o trabalho que eles fazem lá, desde a captação até o engarrafamento. Não há nenhum problema com eles.” O Projeto tem duração de 12 meses, e a proposta é que ele seja feito durante um ciclo hidrológico completo, com coletas de água tanto durante as estações secas, quanto durante as estações chuvosas. Para desenvolver a pesquisa, foram elaborados dez planos de trabalho, que serão executados por dez alunos, cinco de Geologia e cinco de Engenharia Sanitária. Cada aluno será orientado por um dos sete professores envolvidos no Projeto, entre eles, o próprio Milton Matta. Assim, será possível apresentar um resultado mais abalizado com relação à qualidade das águas minerais vendidas em Belém, levando em consideração diversos parâmetros, como pH, salinidade, condutibilidade hidráulica, sódio total dissolvido, transparência, turbidez, dureza, oxigênio dissolvido, temperatura, nitrogênio, cloretos, ferro, oxigênio consumido e coliformes, critérios importantes para a comercialização e a garantia de qualidade. Dessa forma, também é possível reafirmar se as águas são realmente minerais ou não. O Projeto das águas minerais conta com a parceria do governo do Estado do Pará, do Conselho Regional de Engenharia (CREA-PA), do Departamento Nacional de Produção Mineral, do Ministério Público, da Agência Brasileira de Água Mineral, do Congresso de Interação da Sociosfera da Amazônia, além da parceria das próprias empresas de água mineral. Dessa maneira, todos sairão ganhando: as empresas, pois ficaria comprovada a qualidade das águas comercializadas; a sociedade, que obtém informações sobre a qualidade das águas que consome e a comunidade científica, que realiza pesquisas importantes na área.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –

Futebol

Amazônia guarda reserva de água potável

Esporte a serviço da Ditadura

U

ma enorme dimensão física formada por fauna, flora, rios e diversos ecossistemas, componentes fundamentais de manutenção do equilíbrio dinâmico da Terra e de relevância estratégica para toda a humanidade: não é de hoje que a região amazônica atrai olhares do mundo inteiro. A biodiversidade da maior floresta tropical do planeta é tida como uma fonte inestimável de possibilidades econômicas à espera de estudos e descobertas. E é nesse cenário que se localiza o Aquífero Alter do Chão, uma reserva com cerca de 86,4 quatrilhões de litros de água subterrânea, suficiente para abastecer a população mundial em cerca de 100 vezes. É isso mesmo: 86,4 quatrilhões de litros de água potável, localizados em uma formação geológica sob os Estados do Amazonas, Pará e Amapá. Esse número impressionante foi obtido com base em pesquisas realizadas pelo professor André Montenegro Duarte, do Instituto de Tecnologia, da Universidade Federal do Pará, como resultado da sua tese de Doutorado em Geociências, que investigou a potencialidade das águas na Amazônia. A tese, orientada pelo professor Francisco Matos de Abreu, do Instituto de Geociências da UFPA, indicou números preliminares, os quais ainda necessitam de confirmação. O Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos, integrado por André Montenegro, Francisco Matos e ainda

Tamará Saré/Ag. Pará

Aquífero tem água suficiente para abastecer população mundial

Relações de poder beneficiaram militares e clubes

Diolene Machado

"O

Nome da reserva é homenagem à praia situada em Santarém, na região tapajós pelos pesquisadores Milton Mata (UFPA), Mário Ribeiro (UFPA) e Itabaraci Nazareno (Universidade Federal do Ceará/UFC), prossegue as investigações, mas necessita de recursos financeiros para confirmar as informações iniciais reunidas com base no cruzamento de dados provenientes da perfuração de poços para a pesquisa petrolífera e poços de extração de água

construídos em Santarém, Manaus e outras localidades. "Os poços da pesquisa de petróleo perfurados pela Petrobras, por exemplo, foram fontes importantes de informação, porque, sendo bastante profundos, fornecem indicações sobre a espessura dos aquíferos. Já com os poços para abastecimento, chegamos a parâmetros hidrogeológicos funda-

mentais para se ter ideia do volume e da produtividade de água do Alter do Chão”, explica o orientador da pesquisa, professor Francisco Matos. Cerca de 40% do abastecimento de água de Manaus é originário do aquífero Alter do Chão, como também é o caso de Santarém e de outras cidades situadas sobre a Bacia Sedimentar Amazônica.

n Protegida da contaminação

n Valor estratégico da reserva

O aquífero é um tipo de formação geológica capaz de armazenar e liberar a água. Há outras unidades que podem armazenar, mas não permitem que a água que está dentro delas seja utilizada. Para fazer uma analogia, o aquífero seria como uma esponja, como as que servem para lavar louças em casa. A esponja fica cheia d'água, mas se ela for movimentada ou pressionada, a substância é liberada. O nome Alter do Chão se dá em referência a uma das mais belas praias do País, situada na região de Santarém. Segundo Francisco Matos, a existência desse aquífero já é conhecida na literatura da área desde a década de 50. "Ainda não temos uma avaliação exata sobre a sua real extensão e a quantidade de água que contém. A novidade da pesquisa de André Montenegro é, justamente, o valor apontado de 86,4 quatrilhões de litros de água, que é, realmente, uma coisa fabulosa em termos de reserva", ressalta o professor Francisco Matos. As águas subterrâneas representam a maioria das águas no mundo. "Se você pensar, por exemplo, no caso da Amazônia, as águas visíveis, ou seja, as contidas nos rios, lagos, chuvas, representam 16% do total existente, enquanto 84% correspondem à água subterrânea”, explica

Extrapolando o contexto amazônico e analisando o contexto mundial, a água é um recurso que, em grande parte do planeta, está se tornando escasso. Do total de água existente no mundo, 97,5% são de águas que se encontram nos oceanos, ou seja, água salgada, restando apenas 2,5% de água doce, dos quais, 1,75% se encontra em calotas e geleiras polares. Sobra, portanto, tão somente 0,75% que ainda precisa ser repartido entre cerca de seis bilhões de pessoas (total de habitantes da Terra). Em se tratando dessa escassez, o pesquisador da UFPA André Montenegro Duarte, com base nas pesquisas realizadas acerca do aquífero Alter do Chão, propõe um conceito que visa a preservação das águas mundiais denominado valor do "não uso". Esse conceito surgiu há, mais ou menos, 60 anos, mas ainda é muito pouco difundido, tanto no meio econômico como na sociedade em geral. A definição parte do princípio de que os recursos naturais têm um valor de uso, direto ou indireto, como é o caso da água, e o de "não uso", que é o valor de existência desse bem. Isso quer dizer que o recurso ganha valor e importância pelo simples fato de ser mantido na natureza.

o professor. Isso quer dizer que os aquíferos são grandes depósitos de água de qualidade, pois as águas subterrâneas são muito mais protegidas do que as águas superficiais, uma vez que estão menos sujeitas a processos externos de contaminação. É assim que os aquíferos da Amazônia, na relação que estabelecem com as outras formas de ocorrência de água, dentro do chamado ciclo hidrológico, agregam grande valor ambiental, econômico e estratégico. Além do Alter do Chão, outro aquífero importante na região é o denominado Pirabas, situado em profundidades entre 100 e 120 metros. Ele oferece água de excelente qualidade na Região Metropolitana de Belém e é responsável por, aproximadamente, 20% do abastecimento público. No Brasil, há outros aquíferos importantes, como é o caso do Guarani, considerado o maior aquífero nacional e com grande valor estratégico, pois está em uma região com grande demanda de água, abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estendendo-se à Argentina, ao Paraguai e ao Uruguai. No Nordeste, estão os aquíferos Urucuia (BA), Serra Grande(PI) e Cabeças (MA).

"Para citar um exemplo, pensemos no Rio Amazonas, cuja extensão é imensa. Além dos recursos em fauna e flora que nele podemos encontrar ou mesmo da própria água que contém, o Rio tem um imenso potencial de transporte. Esses aspectos lhe conferem valor econômico. E justamente devido à riqueza que oferece, o Rio Amazonas também tem valor só por existir", explica André Montenegro. No caso do aquífero Alter do Chão, as dimensões impressionantes que possui permitem que seja utilizado de forma sustentável como recurso econômico e, ao mesmo tempo, como reserva estratégica. Em outras palavras, o conceito do "não uso" gira em torno da consciência da sociedade de que o recurso natural pode ter grande valia por ser preservado. E complementa o pesquisador: "o mundo, e a Amazônia em de um modo especial, não pode ser visto apenas como um local do qual se retira o que se precisa ou o que pode gerar lucro, uma vez que é um sistema muito suscetível a danos. É grandioso, mas muito frágil. Nós temos abundância de recursos naturais que o 'não uso' deles pode possibilitar uma lógica econômica que privilegie um desenvolvimento mais justo e igualitário". A UFPA tem trabalhado para gerar essa consciência.

Brasil é o país do futebol", "A Inglaterra criou mas o Brasil aperfeiçoou", dizem os apaixonados por esse esporte. A professora de História Sinei Monteiro integra esse time. A paixão pelo futebol, as relações de trabalho e os jogos de poder sempre despertaram sua atenção. Os cinco anos de estudos sobre o tema, iniciados ainda na graduação, resultaram na Dissertação de Mestrado “Futebol, Ditadura e Trabalho: uma análise das relações políticas e sociais no campo desportivo paraense (1964 - 1978)”, apresentada no Programa de PósGraduação em História Social da Amazônia. “No Trabalho de Conclusão de Curso, abordei as torcidas do Clube do Remo. Na especialização, escrevi sobre futebol e ditadura. Agora, aprofundei o estudo sobre o tema abordando futebol, ditadura e as relações de trabalho. Tive, assim, experiência e leitura para desenvolver um trabalho mais maduro na pós-graduação”, explica Sinei Monteiro. A diversidade de documentação dos arquivos da Biblioteca Arthur Viana, das atas de entidades desportivas, dos processos e depoimentos, além de uma vasta bibliografia referente ao objeto de investigação possibilitaram à pesquisadora fazer um trabalho com foco no significado do futebol na sociedade brasileira,

Karol Khaled

Alter do Chão

Jéssica Souza

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Rivalidade entre o Clube do Remo e o do Paysandu foi responsável pela popularização do futebol no Pará enfatizando a sociedade paraense no contexto da Ditadura Militar no Brasil. "A ideia de estudar o campo futebolístico no Pará, neste cenário, surgiu, justamente, na tentativa de compreender o futebol como um objeto rico de significado social, político

e cultural, além das relações sociais e políticas construídas ao longo do século XX, dentro do campo desportivo paraense", enfatiza a professora. O futebol fascina as sociedades desde os primeiros momentos de sua criação, na Inglaterra, no final do século XIX. Cada sociedade apropriou-

se desse esporte de acordo com suas vivências culturais e práticas políticas. No Brasil, a chegada do futebol fez-se por meio de pequenos grupos ligados a uma elite, como em outros países. Mas foi ganhando, aos poucos, contornos mais populares, sendo praticado nos terrenos baldios.

n Construção de identidade nacional na Era Vargas n Mangueirão: a Dos campos improvisados até seu reconhecimento pelas autoridades governamentais, como prática esportiva de grande alcance popular, não levou muito tempo. Desde a primeira década do século XX, já se notava a presença de políticos nos espaços relacionados ao futebol. Mas sua utilização como instrumento de propagação política começou no governo Vargas, na década de 30, reforçando a expansão desse esporte na sociedade, como meio essencial de criação de identidade no Brasil.

Enquanto Getúlio Vargas buscou no futebol um importante apoio para efetivar seu projeto de construção da nacionalidade brasileira, no período militar, o esporte passou a servir como elemento de propaganda do governo dentro e fora do País. "Futebol e Ditadura Militar conviveram e se beneficiaram, mutuamente, durante o regime implementado pelo Golpe de 1964. O governo brasileiro se valia do futebol para sua promoção, já que esse esporte representava um país imbatível e

em desenvolvimento. Também era necessário levar até às massas uma imagem positiva do Golpe. Mas, ainda que o futebol tenha servido ao governo como elemento de estratégia política, não se pode considerar que ele tenha atuado como o ator que roubou a cena. O sucesso do governo foi resultado, em grande medida, da falta de identificação da maior parte da população com os movimentos armados que objetivavam derrubar a Ditadura Militar.

n Século XX: surgem os grandes clubes paraenses A prática desse esporte, trazido do continente europeu por homens de famílias ilustres, também ganhou espaço entre a elite da capital paraense. Considerar os padrões da Europa como modelo de civilização era comum na sociedade brasileira, e Belém também acompanhava esse modelo no momento em que se vivenciava a riqueza proporcionada pela exploração da borracha na região. A difusão desse esporte no Pará, a partir da primeira década do século XX, foi resultado, em grande parte, dos festivais esportivos promovidos nos bairros de Belém e do surgimento de clubes dirigidos pela elite paraense: em 1903, o surgimento da Tuna Luso Caixeral, atual Tuna Luso Brasileira; em 1905, do

Grupo do Remo, atual Clube do Remo e, em 1913, do Paysandu Foot - Ball Club, atual Paysandu Sport Club. O aparecimento desses times foi decisivo para o início da popularização do futebol na sociedade paraense. No entanto, a grande responsável por essa maior aceitação popular foi a competitividade entre os Clubes do Remo e do Paysandu Sport Club. Uma rivalidade construída ao longo do tempo, a partir do processo de popularização do futebol, com a criação de clubes, associações, festivais esportivos e construção de estádios. O fim do amadorismo no futebol brasileiro teve início nos anos 30, com a saída de muitos jogadores para o fute-

bol europeu, resultando na necessidade de estabelecer medidas que pudessem valorizar o jogador de futebol e tornálo um grande profissional. Apesar do esforço, principalmente da imprensa, em modificar as relações nada profissionais dentro dos clubes de futebol, esse assunto tornou-se um problema ao longo das décadas seguintes. Em Belém, por volta de 1964, mesmo os clubes de futebol considerados "pequenos", como o "Júlio César", já mantinham jogadores profissionais. Mas ainda não havia uma rigidez dos clubes paraenses com relação ao caráter profissional do jogador, já que muitos eram emprestados para participar de torneios de bairros.

"praça esportiva"

Com a criação dos primeiros clubes, havia, também, a necessidade de se criar uma "praça esportiva" para a realização das competições e abrigar grupos de dirigentes do esporte. Foi durante o período militar que o futebol ganhou políticas de incentivo para sua manutenção e crescimento, a exemplo da construção de estádios como o "Mangueirão", no Pará. O processo de construção deste estádio teve interferência de autoridades militares e políticos influentes paraenses. O projeto de construção do "Mangueirão" foi assumido em 1969 pelo engenheiro Alcyr Meira, que recebeu essa tarefa do governador Alacid da Silva Nunes. Em 1976, a disputa em torno do nome foi motivo de discussões entre políticos paraenses. Em 25 de fevereiro de 1978, o estádio foi inaugurado como “Alacid Nunes”, em homenagem ao iniciador do projeto. Porém, essa nomeação não alcançou popularidade, pois o torcedor paraense adotou o nome "Mangueirão", sendo utilizado até hoje. A construção de um estádio estadual servia como via de popularidade do governo e de promoção a cargos políticos, além de expressar a ideia de grandiosidade do discurso político entre os militares.


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –

Cultura

Psicologia

Laboratório ajuda a entender perdas

Música na Catedral atrai fiéis

Equipes preparam médicos e pacientes para suportarem a dor

Killzy Lucena

P

Projeto está aberto a todos os grupos que queiram apresentar repertório instrumental e clássico Cavaille-Coll. O Projeto não tem como finalidade criar um grupo exclusivo para se apresentar nos recitais, mas englobar os grupos musicais já existentes em Belém. Para participar do Projeto, os grupos interessados devem mandar para o coordenador

uma pauta com o repertório das músicas que pretendem tocar, preferencialmente sacras ou instrumentais e datadas do período clássico ou anterior. "A música sacra é uma expressão artística riquíssima. Ela leva o homem a entrar no contexto

n Curso terá encerramento com concerto aberto O Projeto também oferece um curso de órgão, que atende a estudantes avançados de piano e profissionais já graduados. O curso, que já está na sétima aula, acontece quinzenalmente na Catedral da Sé e é ministrado pelo professor Guido Oddenino, graduado em órgão pelo Conservatório de Torino, na Itália. "Nas aulas, aprendemos a manusear e a utilizar toda a potencialidade do órgão Cavaille-Coll, assim como a executar os repertórios distribuídos por ele", diz André Gaby, que também é aluno do curso. Como encerramento do curso, será realizado um concerto de órgão na Sé, no dia 1º de julho. “Vai ser bastante interessante. Não me lembro de ter assistido a um recital de órgão solo, em Belém, nos últimos 15 anos”, diz o professor André Gaby. Os participantes do Projeto colaboram com os recitais, com o curso de órgão, com a schola cantorum, que é o coral da Sé, e com os cantos gregorianos na missa das 9 horas da manhã, na Catedral. Segundo o professor, essa colaboração também irá gerar pesquisas sobre a relação entre os fiéis, a Igreja e os cantos, que são caracterizados por uma melodia suave e cantados em uníssono. Pode participar das

missas quem faz parte do Projeto e também quem tiver interesse e conhecimentos musicais sobre os cantos gregorianos. O "Música na Catedral" já teve duas apresentações. A primeira, em março, aconteceu nos salões pontificais e seus participantes interpretaram peças de Bach para violino e viola, acompanhadas de piano. O recital reuniu um público de cerca de 20 pessoas. A segunda apresentação, que contou com a participação do Madrigal da UEPA e da Camareta Instrumental da EMUFPA, aconteceu em abril, em homenagem à Páscoa. Entre as músicas que foram tocadas, estão “A Missa em Si bemol Maior”, do compositor brasileiro José Maurício Nunes Garcia, e "Membra Jesu Nostri", uma música do alemão Buxtehude, formada por sete cantatas, cada uma representando uma parte do corpo de Cristo. Esta apresentação foi na nave central da Igreja da Sé e teve mais da metade de seu espaço ocupado pelo público. Para André Gaby, não há uma grande variedade de eventos culturais para a parcela da população que tem interesse em música clássica e isso gera uma demanda reprimida para esse tipo de evento. Segundo o professor, o fato de o público ter

Órgão é objeto de pesquisa dobrado da primeira para a segunda apresentação mostra que existe interesse da população por apresentações com repertório clássico e o que estaria faltando para o Projeto seria uma maior divulgação, “cultura não é uma questão de poder aquisitivo, mas está relacionada com a educação, com a família”. Por esse motivo, os recitais têm entrada franca.

da religião. Nada tão adequado como esse repertório para religare (religar). O ser humano sente necessidade de ter uma experiência com o extrassensorial, seja qual for a sua crença", afirma André Gaby, ao explicar a escolha da música sacra como foco principal do Projeto.

Saiba Mais Sobre O Cavaille-Coll Aristide Cavaille-Coll foi um artesão francês, do século XIX, responsável por revolucionar a produção de órgãos e a composição de músicas para o instrumento. Essa revolução foi possível porque o artesão criou um novo sistema de funcionamento para o órgão. Contudo, o que torna o instrumento paraense tão especial, além de ser o maior da América Latina, é o fato de ser um dos pouco Cavaille-Coll, no Brasil, com sistema mecânico. "Esse sistema mecânico é o mais antigo que existe, inclusive quando você toca todos os registros, o órgão fica muito pesado, mas ele tem todos aqueles timbres perfeitos para tocar música francesa daquele período. Cesar Frank compôs músicas especificamente para esse tipo de órgão", diz André Gaby. Cavaille-Coll foi, também, o primeiro fabricante, no mundo, a produzir órgãos em larga escala. Ele criou uma estrutura de montagem em que as peças eram enviadas para serem montadas no país que encomendou o instrumento. Para a divulgação do órgão, o professor André criou o blog musicanacatedral.blogspot.com, no qual serão publicadas todas as pesquisas e fotografias produzidas durante o Projeto.

erder é algo a que, definitivamente, o ser humano não está acostumado. Não está e nunca estará, independente de a perda ser grande ou pequena. Não somos educados para perder – da mais simples aposta ao ente querido. Quando isso acontece, os traumas gerados tornam-se um problema. Buscando desenvolver dispositivos preventivos quanto às manifestações complicadas do luto é que foi criado, em novembro de 2008, o Laboratório de Estudos do Luto e Saúde (LAELS). O objetivo do Laboratório é fomentar diálogos interdisciplinares acerca de saberes e práticas relacionadas às condições de luto, crises e de promoção de saúde. O Laboratório também disponibiliza os Grupos de Estudo do Luto (GEL), o Ciclo de Palestra, os Grupos de Suporte em Enfermarias, prestando assistência aos familiares de pessoas que se encontram internadas em estado grave, em cuidados paliativos ou que foram a óbito. O trabalho é desenvolvido em parceria com o Serviço de Psicologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) e com o curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psico-

n Atendimento em hospitais públicos

Alexandre Moraes

N

a Idade Média, quando a Igreja e os reis eram detentores do poder supremo, os grandes espetáculos de música, dança e artes cênicas eram apresentados nas catedrais ou nos salões de palácio. Com o surgimento da burguesia, após a Revolução Francesa, foram criados os teatros, que passaram a dividir o circuito cultural com as instituições clássicas. Já na contemporaneidade e no auge do capitalismo, a cultura passou a ser vista como uma manifestação fútil que vai de encontro aos cânones de funcionalidade do sistema econômico vigente. Resgatar os movimentos culturais da época clássica e a importância de uma expressão artística que serve para a reflexão e o enriquecimento intelectual do homem é um dos objetivos do Projeto "Música na Catedral". O Projeto nasceu de uma parceria entre a Escola de Música da UFPA (EMUFPA) e a Catedral Metropolitana de Belém, cujo padre responsável tinha a intenção de organizar recitais no local, às quintas-feiras, para intensificar o movimento cultural na Catedral e na Cidade Velha. Segundo o coordenador do Projeto, professor André Alves Gaby, o Música na Catedral tem o intuito não só de produzir os recitais, que acontecem numa quinta de cada mês, mas também pesquisar sobre a Igreja e o seu órgão, o

Fotos Alexandre Moraes

Catedral Metropolitana de Belém abre as portas para a música clássica Dilermando Gadelha

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Luto é vivenciado de forma diferente por cada pessoa logia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), dentro da linha de pesquisa “Prevenção e Tratamento Psicológico”. A coordenação é da psicóloga Airle Miranda, professora da Faculdade de Psicologia. As reuniões do Laboratório acontecem no HUJBB, sendo que, por meio dos Grupos, profissionais e estudantes têm a oportunidade

de reflexão e de estudo sobre a temática da morte e do morrer. Em função das demandas de outras instituições de saúde, os Grupos de Estudos do Luto foram implantados também no Hospital de Clínicas Gaspar Viana (FHCGV), na Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP) e no Hospital Ophir Loyola (HOL).

n Processo de "cicatrização" pode levar anos Segundo Airle Miranda, os temas sobre perdas são amplos, podendo envolver a perda de saúde ou óbito do paciente, o rompimento dos vínculos afetivos significativos ou a perda de um bem material, de um animal de estimação e, até mesmo, outras perdas simbólicas. O luto, por sua vez, é o processo em que vai haver um deslocamento da libido dirigida àquele objeto de amor, a novos objetos. Pode ser compreendido, segundo alguns autores, como um processo de cicatrização de uma “ferida”. “O pesar pode ser entendido como pensamentos e sentimentos relacionados e decorrentes de uma perda significativa. Sua expressão nas áreas biopsicossocial, ocupacional e espiritual é denominada de luto, que será vivenciado de modo

diferente por cada pessoa”, explica a professora. A psicóloga lembra que as pessoas acreditam que só vai morrer aquele que estiver na UTI. Estar na UTI significa que você está precisando de cuidados intensivos e pode morrer ou não. A sociedade não consegue lidar com o fato de que todos vão morrer. Para que isso acontecesse, teríamos de passar por um Processo de Elaboração, que está dividido em três fases: o aceite cognitivo da perda (saber que se vai morrer), o aceite emocional da perda (saber que pessoas queridas vão morrer) e a harmonização dos mecanismos internos e externos para que a pessoa se acostume à nova realidade. De acordo com a literatura médica da área, um óbito envolve,

pelo menos, cinco lutos de pessoas próximas e por um tempo que pode variar de meses a anos. Alguns autores falam em dois meses, mas Airle Miranda observa que a mãe da Isabela Nardoni, Ana Carolina Oliveira, ainda vivencia o luto e a morte da filha mesmo passados dois anos. Citando Allá Bozarth-Campbell, Airle Miranda diz que "a dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá fim e não quando fingimos que ela não existe". Por isso é natural que as pessoas mudem de comportamento e sintam-se saudosistas, chateadas, angustiadas, incapazes de trabalhar, sem apetite ou com muita fome e, como não encontram um espaço social para enfrentar a perda de frente, complicam mais ainda o processo de cicatrização.

n Equipe médica pode associar o óbito à falha "Encarar a perda é doloroso, mas é tarefa de todos, principalmente dos profissionais da saúde, os quais podem, consciente ou inconscientemente, associar o óbito do paciente à falha da equipe. A morte de um paciente é significativa para todo mundo que se vinculou a ele, até mesmo para o médico, porque há apego na relação construída médico-paciente”, afirma Airle Miranda. A professora diz que superar

a morte é algo que varia de pessoa para pessoa, mas, em geral, as perdas trágicas e prematuras vão impactar sobremaneira quem está vivo. Quem está internado há muito tempo acaba criando um espaço de construção do luto para familiares e conhecidos, período conhecido como luto antecipatório. Contudo, quando se trata de uma perda trágica, quando um avião explode ou some, por exemplo, as pessoas rejeitam o luto, porque não acreditam no que aconteceu, por ser

trágico demais. “A primeira tarefa de atendimento à pessoa que perdeu alguém é contribuir para o contato com a realidade, pois isso favorece que ela se certifique de que a perda aconteceu. Quando o caso envolve o desaparecimento do corpo, será mais difícil, porque velar, prestar homenagens e enterrar favorece o processo de separação. Mas, sem o corpo, fica a fantasia de que a pessoa não morreu”, explica a professora.

A primeira experiência de pronto atendimento ao enlutado em Belém, segundo Airle Miranda, aconteceu no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), de 2004 a 2008. Discentes do curso de Graduação em Psicologia, da UFPA, foram capacitados para fazer intervenções nas emergências, prestando o pronto atendimento psicológico àqueles que vivenciavam a dor. Em quatro anos, foram atendidos 175 pacientes, a maioria do sexo feminino. Alguns pacientes, entretanto, eram encaminhados a outras unidades por apresentarem um transtorno depressivo maior. Do total de atendimentos feitos, 24% chegaram por demanda espontânea, 76% foram encaminhados pelo Hospital e por outras instituições, 46% dos eventos estavam associados à morte de pessoas significativas, e destes, 23% apresentavam sintomas psiquiátricos, como ataques de pânico recorrentes e limitantes ou até mesmo ideação ou tentativa de suicídio. “Foi um serviço pioneiro, e sentimos a necessidade de ampliá-lo e trabalhar o luto antecipatório. Nesse sentido, quando reunimos com os profissionais e dialogamos sobre o processo de luto, estamos atendendo indiretamente o paciente, nas quatro instituições em que os Grupos estão presentes. Quanto à experiência do pronto atendimento, constatamos a necessidade de que o serviço esteja disponível com equipes multiprofissionais e interdisciplinares, com formação específica ao cuidado em emergências biopsicossociais”, conclui a psicóloga.

Calendário de palestras para 2010 Para fazer inscrição, basta enviar o nome completo para o endereço laels08@gmail.com 30.06.10 - Narcisismo e Luto - Dra. Ana Cleide, psicanalista, coordenadora do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da UFPA, docente da UFPA/IFCH/FP 25.08.10 - Fenomenologia da Violência e do Luto - Dra. Adelma Pimentel, coordenadora do Nufen e do Laboratório de Desenvolvimento Humano da UFPA, docente da UFPA/IFCH/FP. 29.09.10 - Demandas quando da perda de uma pessoa querida - Dra. Danielle Moura, psicóloga clínica. 27.10.10 - Aids e morte na contemporaneidade - Dra. Lúcia Helena Alves, psicóloga clínica. 24.11.10 - Grupo de Estudos do Luto da FSCMP: a roda acontecendo - Dra. Jacilene Casseb Silva e Dr. Victor A. Cavaleiro, terapeuta ocupacional, docente da UEPA e Unama. 1.12.10 - A criança cardiopata e seus lutos - Dra. Karla Aita, terapeuta ocupacional, docente da UEPA.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –

Energia

Comemorações

Projeto aproxima Ciências e Matemática de público infanto-juvenil Acervo Projeto

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979. O Brasil estava passando por um dos períodos mais obscuros da sua história: a Ditadura Militar. As universidades perdiam seu caráter de espaço de livre circulação de ideias. Paralelo a isso, a falta de políticas públicas em educação desencadeava um crescente processo de sucateamento, como explica a professora Terezinha Valim, “foi um período muito crítico. As universidades não tinham nem programas para financiamento de projetos”. Apesar de ser um período em que as pessoas não se sentiam à vontade para dizer o que pensavam e, menos ainda, para propor mudanças para melhorar o diálogo da universidade com a comunidade, uma grande ideia surgiu. Uma turma do curso de Licenciatura Curta em Ciências Naturais, orientada pela professora Terezinha Valim, criou o Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará (CCIUFPA). Um Projeto de Ensino, Pesquisa e Extensão que oferecia aos estudantes de licenciatura a oportunidade de atuarem como professores-estagiários e poderem experimentar, em sala de aula, atividades educativas inovadoras. Aos estudantes do ensino fundamental e médio que participavam como sócios-mirins, o Clube oferecia o

n Aberto para todos os cursos

Atividades acontecem aos sábados pela manhã, no Campus Guamá prazer de aprender ciência por meio de brincadeiras, passeios e experimentos, investigando problemas – em vez de, simplesmente, decorar conceitos e fórmulas. O Clube iniciou suas atividades de forma modesta e, rapidamente, passou a atender um grande número de estudantes. A criação oficial ocorreu em fevereiro de 1981, mas, de fato, são mais de 30 anos de atividades. Na falta de uma data exata para comemorar o ani-

versário, o ano de 2010 foi escolhido pelos coordenadores para a realização das atividades comemorativas. A primeira delas aconteceu em abril, durante a aula inaugural que reuniu professores, pesquisadores, professores-estagiários, diretores de escolas, pais e alunos. Na ocasião, a professora Terezinha Valim, homenageada pela equipe do Projeto, apresentou a trajetória de sucesso do Clube e a sua importância para a Instituição e para a sociedade.

n Estágio é oportuniade para ensinar e aprender Nas décadas de 1970 e 1980, os estágios docentes aconteciam somente ao final dos cursos de Licenciatura, que eram divididos entre disciplinas específicas e disciplinas para formação do professor. Na visão de Terezinha Valim, esse modelo prejudicava bastante a formação profissional dos egressos das licenciaturas. “Os estudantes reclamavam dizendo que não tinham aprendido a ser professor durante o curso”, conta a professora. Desde sua criação, entre os principais objetivos do Projeto, estão a Iniciação Científica no ensino básico e a formação de professores. Estudantes de qualquer licenciatura podem participar como professor-estagiário e desenvolver atividades pedagógicas para ensinar Ciências a crianças de oito a 17 anos. Formam-se turmas interseriadas, coordenadas

por quatro ou cinco professores-estagiários e um professor orientador, que ajuda no processo de preparação das aulas e seleção de atividades. Ao longo da semana, professores e estagiários reúnem-se para fazer o planejamento das aulas que acontecem nas manhãs de sábado. A estudante do 3º semestre de Ciências Sociais, Deizeane Costa, ainda não teve disciplina de Docência, mas já sente vontade de ter experiências em sala de aula. A professora-estagiária, novata no Projeto, avalia a experiência no Clube como muito gratificante. “É uma abordagem multidisciplinar. Na próxima aula, por exemplo, vamos falar sobre aranhas e eu vou falar sobre ‘a sociedade das aranhas’, então, cada um ensina e aprende um pouco. Eles perguntam coisas que a gente não se preparou para responder, então,

pesquisamos e respondemos na aula seguinte e, assim, eu também aprendo”, explica a estudante. Além das aulas semanais, o Projeto inclui, no seu calendário, uma gincana científica que acontece em junho. Nela, os estudantes podem rever o que foi ensinado no primeiro semestre e testar seu aprendizado por meio de jogos educativos, desafios lógicos e um quiz (jogo de perguntas) sobre Ciências. Em novembro, o grupo se reúne e viaja para trocar conhecimento com comunidades ribeirinhas. É o Ciência na Ilha. “Nós priorizamos mostrar a explicação científica para situações de seu cotidiano: Por que certos tipos de vegetação crescem lá e não em outros lugares? Por que algumas ilhas do arquipélago têm formato alongado? Entre outras questões”, explica o professor Jesus Brabo, ex-coordenador do Projeto.

Trajetória do Clube de Ciências 1979

1984

1987

2002

2003

Dia 12 de setembro, aconteceu a primeira aula do Clube.

Curso de Formação Continuada para professores da capital e dos municípios paraenses.

Início da interiorização, aprovado pela CAPES, em 15 municípios do Estado.

Aprovada a criação do Mestrado em Educação em Ciências e Matemáticas.

Criação do Centro de Formação de Professores de Ciências da Educação Básica.

2008

Aprovado o Doutorado em Educação em Ciências e Matemáticas.

2009

2010

Criação do curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens.

Transformação do NPADC em Instituto de Educação em Matemática e Ciência.

Atualmente, as aulas acontecem aos sábados pela manhã, em salas do Bloco Básico da UFPA, cedidas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). São mais de 230 sócios-mirins e 32 professores-estagiários. Para participar, o estudante de graduação deve estar cursando, no mínimo, o terceiro semestre e estar matriculado em alguma licenciatura. Segundo Cristhian Paixão, atual coordenador do Projeto, desde 2000, o Clube aboliu a preferência por estudantes de licenciatura da área de Ciências Naturais e Pedagogia. Atualmente, há professores-estagiários dos cursos de História, Geografia, Ciências Sociais, Letras, entre outros. “Não podemos deixar de fora estudantes que queiram participar. O que realmente conta é a dedicação e, acima de tudo, a vontade de aprender junto com outros”, comenta o coordenador. Durante esses 30 anos, o Clube de Ciências da UFPA fomentou várias discussões e abriu espaço para as pesquisas sobre educação em Ciência e Matemática. São dissertações que discutem desde a precária formação e condição de trabalho dos professores na rede pública, até a relação dos alunos em um ambiente democrático, como o do Clube. As publicações estão disponíveis para consulta no Banco de Dissertações da Biblioteca da Universidade. Além de pesquisas na área, o Clube também fomentou o acesso de estudantes a programas de bolsas, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (PIBIC-Jr.). Vários sócios-mirins já receberam ou ainda recebem bolsas para desenvolver trabalhos que tiveram início no Projeto. Para este ano, as novidades são: o lançamento de dois livros sobre o Clube, um com textos e outro com fotos; e a aproximação do Clube com os pais dos sócios-mirins. A proposta é usar a biblioteca, pouco visitada aos sábados, para realizar atividades de leitura e Oficinas de Redação com os adultos enquanto eles aguardam os filhos. Interiorização – Em 1984, foi realizado, em Belém, o primeiro curso de Formação Continuada para Professores de Ciências e Matemática. O curso pretendia disseminar as ideias produzidas no CCIUFPA a outros professores de Ciências e Matemática e, dessa forma, incentivar a criação de novos clubes na capital e no interior do Estado. Atualmente, existem sete clubes de ciências mesorregionais – também chamados de Centros Pedagógicos de Apoio ao Desenvolvimento Científico (CPADC) - em atividade, nos municípios do interior: Abaetetuba, Breves, Bragança, Castanhal, Santarém, Marabá e Moju. Muitos recebem apoio da prefeitura local ou do governo do Estado.

UFPA tem centro de eficiência energética Pesquisa e qualificação de mão de obra estão entre as atividades

Igor de Souza

O

modelo de desenvolvimento humano é fortemente dependente do uso dos recursos energéticos não renováveis, tais como petróleo, carvão mineral e gás natural. Todos foram tão utilizados que, atualmente, apresentam sinais de exaustão. Some isso ao fato de que esses recursos energéticos são apontados como os principais causadores do agravamento do efeito estufa e, consequentemente, do aquecimento excessivo da Terra. O que fazer então? No Brasil, uma das respostas encontradas pela Eletrobrás é o investimento em centros nacionais de pesquisa em eficiência energética, a partir de convênios com universidades federais. O primeiro foi o Centro de Excelência em Eficiência Energética (Excen), localizado na Universidade Federal de Itajubá (Unifei/MG), inaugurado em 2006, e o segundo, implantado em abril deste ano, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Estamos falando do Centro de Excelência em Eficiência Energética na Amazônia (Ceamazon). O convênio entre a Eletrobrás e a UFPA começou em fevereiro de 2006. As obras para construção do prédio do Ceamazon iniciaram em

EM DIA

Alexandre Moraes

Clube de Ciências comemora 30 anos Moenah Castro

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Coimbra

Até 2011, todos os laboratórios estarão em funcionamento dezembro de 2008, resultado de um investimento de, aproximadamente, R$5 milhões de reais. Coordenado pela professora da UFPA Maria Emilia Tostes, o Centro é constituído por oito laboratórios voltados para pesquisa, desenvolvimento e formação de recursos humanos na área, sob a perspectiva do uso mais eficiente dos recursos energéticos disponíveis, levando em conta as características socioeconômicas e ambientais da região amazônica. Além de ser o segundo Centro de Eficiência Energética do País, o

Ceamazon dá início às atividades do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT-Guamá), onde está inserido. O PCT-Guamá é um projeto idealizado entre pesquisadores da UFPA e o governo do Estado do Pará, cujo objetivo é viabilizar um ambiente de apoio à criação e consolidação de empresas intensivas em tecnologia e ambientalmente adequadas para o Estado. Além da área energética, o PCTGuamá terá como focos prioritários de atuação as áreas de biotecnologia, tecnologia e sistemas de informação, comunicação e tecnologia mineral.

n Formação de recursos humanos é prioridade Fazem parte da equipe do Ceamazon professores, alunos de graduação e pós-graduação, os quais atuam no desenvolvimento de pesquisas voltadas para a eficiência energética na indústria, comércio, edificações, sistemas de geração, transformação e distribuição de energia. A professora Maria Emilia Tostes explica que “o Ceamazon é, antes de tudo, um centro de formação de recursos humanos para a Região Norte. Além disso, temos a prestação de consultorias para empresas, indústrias, comércios e cidadãos que anseiam ter, em suas

residências, um melhor aproveitamento da energia e não sabem como fazer isso". A eficiência energética é uma das temáticas mais discutidas atualmente entre pesquisadores, empresários e governos mundiais, que anseiam a utilização de energia disponível com responsabilidade, sem desperdício. “Eficiência energética é você ter sensores de presença no ambiente, é ter uma lâmpada acesa somente se a sua iluminação estiver sendo utilizada. Na indústria, não se tem eficiência energética quando,

dentro de uma planta industrial, há vazamento de gás, há contatos ruins nas instalações, provocando o gasto exagerado de energia”, exemplifica Maria Emilia Tostes. Nas edificações, há exemplos partindo da observação das cores de parede, teto e piso, as quais devem ser claras para o aproveitamento da luz natural. "Eficiência energética é arquitetar espaços onde haja circulação de ar e protetores que impeçam a incidência direta da radiação solar nos interiores, minimizando o uso da refrigeração artificial”, acrescenta.

n Convênios beneficiam panificação e cerâmica Atualmente, estão em pleno funcionamento o Laboratório de Sistemas Motrizes Industriais e o Laboratório de Modelagem e Simulações em Eficiência Energética. Este último trabalha com empresas do setor elétrico no intuito de minimizar as perdas nas redes de transmissão e distribuição de energia, para que retarde a construção de novas usinas e evite o desmatamento. O Laboratório de Modelagem trabalha, também, com estudos para a implantação de parques que utilizem a energia proveniente da circulação da atmosfera, ou seja, do vento, a chamada energia eólica. Já o Laboratório de Sistemas Motrizes Industriais trabalha com os principais sistemas presentes dentro da indústria, que são as correias trans-

portadoras, o sistema de compreensão industrial, de exaustão e bombeamento. Dentro deste laboratório, existem réplicas reais desses sistemas, as quais possibilitam a reprodução do que acontece dentro das indústrias sem que elas precisem parar a produção para verificar a melhor forma de viabilizar a eficiência energética, como a utilização da automação industrial. Dessa forma, o Ceamazon efetua demonstrações de tecnologias de eficiência energética e suas aplicações, tanto em laboratório quanto em campo, disponibilizando procedimentos, normas e padrões para processos que propiciem o uso mais eficiente da energia, assim como a verificação de indicadores de vazamentos, curtos-circuitos, rompimento de isoladores e outros problemas que provocam o

desperdício energético. “O importante é possibilitar que os proprietários enxerguem se há o desperdício de energia dentro de suas plantas industriais, comércios e residências”, comenta Maria Emilia Tostes. A previsão é que, até 2011, os oito laboratórios estejam em pleno funcionamento. Como exemplo de atuação do Ceamazon no âmbito de consultoria, pode-se citar os convênios estabelecidos com os setores de panificação e de produção de cerâmica vermelha, os quais serão focos de desenvolvimento de pesquisas tecnológicas para melhorar seus processos a partir da eficiência energética. No segundo semestre de 2010, o Centro realizará alguns cursos, entre eles: “Gestão energética para processos industriais” e “Gestão da iluminação pública”.

Estão abertas, até 22 de junho, as inscrições para o Programa CNPq/ Universidade de Coimbra para realização de Doutorado -Sanduíche . As áreas apoiadas são Biologia Molecular ou Celular, Direito e Neurociências. O objetivo é apoiar o intercâmbio entre grupos de pesquisa brasileiros e portugueses. Mais informações no site http://www.cnpq. br/editais/ct/2010/coimbra.htm

Margens A Revista Margens, do Campus de Abaetetuba, está recebendo trabalhos para o seu próximo número. Os artigos devem ter a educação ambiental como tema. Os trabalhos devem ser enviados até o dia 19 de junho. Mais informações joyce@ufpa.br ou http:// www.ufpa.br/nupe/Revista.htm

História No período de 1º a 3 de julho, acontece, em Mocajuba, o I Encontro de História e Educação. O objetivo é estimular a criação de uma rede de discussão sobre ensino e constituição histórica das populações na Amazônia Tocantina. Mais informações nos sites www.encontrohistoriaeeducacao.blogspot.com e www. historiaufpamocajuba.blogspot. com

Mestrado UFPA lança o primeiro mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Região Norte. A expectativa é institucionalizar a pesquisa científica em Arquitetura e Urbanismo na Universidade e fortalecer o ensino de graduação. O curso deverá iniciar suas atividades em agosto.

Prêmio A professora Silvia Maués Santos Rodrigues, do Grupo de Estudo de Transtornos de Humor e Ansiedade, do Instituto da Ciências da Saúde da UFPA, recebeu prêmio no XV Congresso Médico Amazônico, realizado em Belém. O reconhecimento veio com a Monografia “Perfil sócio-demográfico e transtornos psiquiátricos menores de adolescentes grávidas no município de Belém”.


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –

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Tecnologia

UFPA investe em tecnologias de informação e comunicação Projetos do CTIC criam novos serviços e ampliam área de cobertura de internet sem fio

A

Universidade Federal do Pará é um espaço dedicado à formação profissional e à produção e divulgação de conhecimento. As tecnologias de transmissão e compartilhamento de informações são importantes ferramentas que auxiliam na comunicação e no compartilhamento de ações e informações entre professores, alunos, técnico-administrativos, dirigentes e parceiros da Instituição. O Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação da UFPA (CTIC) tem atuado na ampliação, melhoria e criação de redes e serviços de telecomunicação nos campi universitários e consolida-se, também, como uma referência na inovação tecnológica. Já está em fase de funcionamento e ampliação a rede wireless (sem fio) da UFPA, a qual dará acesso gratuito à internet, em locais abertos da Universidade, com foco principal para as salas de aula. A tecnologia de uso de rede sem fio corporativa é um projeto base em softwares livres, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Redes de Computação (Gercom) da Faculdade de Ciência da Computação, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), cuja tecnologia foi transferida ao CTIC. O Campus Básico, a orla da UFPA, incluindo o Restaurante Universitário, e o Ver-o-Pesinho já têm acesso à internet sem fio gratuitamente. Para utilizar o serviço, basta procurar o sinal

n CTIC aumenta capacidade de sites e e-mails institucionais

Fotos Karol Khaled

Glauce Monteiro

Rede wireless já está disponível na orla e no Campus Básico, incluindo o RU e o Ver-o-Pesinho da "UFPA sem fio" que aparece nos notebooks e celulares, dentro da área de cobertura, e utilizar os e-mails @ufpa individuais, para ter acesso à internet. Um Projeto Piloto com seis pontos formando uma rede em malha – com várias possibilidades de conexão sem fio entre os aparelhos – foi instalado próximo às salas de aula do Campus

Básico, em 2009. A iniciativa foi bem sucedida e a tecnologia foi repassada ao CTIC, que administrará as redes da UFPA. "O Projeto funcionou a contento e, agora, estamos num momento de expansão para todo o Campus, começando com a compra de equipamentos e de antenas para fazermos a instalação

dos kits em pontos estratégicos, que permitirão o acesso à internet por toda a Universidade. A ideia é possibilitar o livre acesso à internet nas áreas externas da Universidade e padronizar o serviço, aumentando, também, sua qualidade e a segurança", explica Antônio Abelém, diretor do CTIC e coordenador do Gercom.

n Rede sem fio tem tecnologia desenvolvida na UFPA A solução tecnológica utiliza softwares livres customizados, ou seja, modificados para reconfigurar os roteadores, permitindo que os aparelhos consigam se interligar, formando a rede em malha. O Gercom ainda propõe um conjunto de iniciativas, como uso de programas livres, para solucionar os desafios de acesso à internet. Entre as vantagens desta solução em relação às que estão disponíveis no mercado, estão o baixo custo, a facilidade de instalação e expansão da rede, a compatibilidade com um número maior de aparelhos para acesso à internet sem fio e a possibilidade de gerenciamento centralizado da rede em malha. "A rede é fácil de ser instalada

e estendida, porque criamos os kits, que são caixas herméticas, com um roteador, uma antena e cabos especiais ligados apenas ao sistema elétrico. Cada vez que um kit é ligado, ele, automaticamente, procura a rede e se insere nela. Cada um deles tem um custo máximo de quinhentos reais, o que é muito barato em comparação com as opções disponíveis no mercado para internet sem fio em rede”, explica Vagner Nascimento, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA (PPGEE) e integrante do Gercom. O módulo de gerenciamento da rede recebeu o nome de Abaré, que, em tupi-guarani, significa "amigo do homem" e é fruto de uma dissertação de

mestrado de Billy Pinheiro, aluno do doutorado do PPGEE e ligado ao Gercom. "O Abaré é uma 'arquitetura' para implantar, monitorar e gerenciar redes em malha sem fio. Desde que a rede wireless da UFPA foi instalada, ele já estava funcionando. O ponto central de gerenciamento está fixado no CTIC, responsável pela rede agora”. O grupo também está pesquisando soluções para a mobilidade, o roteamento e o aumento da capilaridade da rede wireless da UFPA. Cada kit com roteador cria sua própria área de cobertura, que se propaga de forma circular em seu entorno, chamada de célula. Quando um usuário caminha com seu celular ligado à rede UFPA sem fio, ele, eventualmente, sai da área

de cobertura de uma célula e entra na de outra. "Esse processo de transição deve ser imperceptível para o usuário, mas, até o momento, os pesquisadores da área de computação ainda estão analisando formas de fazer isso perfeitamente. Nós também estudamos esse assunto e propomos melhorias nos protocolos de funcionamento dessas redes que ainda são baseadas nos modelos de redes celulares e redes com fio, para que funcionem melhor e facilitem essa transição. Na UFPA, se o usuário estiver apenas navegando, a transição é imperceptível, mas, ao realizar um download, ele pode notar esse processo de passagem”, explica Vagner Nascimento.

n Soluções serão utilizadas no Programa Navega Pará Outra linha de pesquisa é sobre técnicas de roteamento, ou seja, de acesso à internet sem fio. "Quando alguém se conecta à rede, os roteadores procuram um caminho até o ponto onde há internet com fio, como se realizassem saltos até o seu destino final. Os roteadores geralmente escolhem o caminho mais curto entre os aparelhos, mas este pode não ser o melhor caminho para a conexão, porque pode, por exemplo, já estar com um número

elevado de usuário naquele momento e, por isso, o caminho mais curto pode não ser o mais rápido ou o de melhor qualidade. Por este motivo, utilizamos softwares livres com múltiplas métricas, ou seja, múltiplos critérios para a escolha do caminho para a internet”, resume Billy Pinheiro. A rede wireless da UFPA também pode se tornar autoexpansiva. Atualmente, quando alguém se conecta à rede, é apenas um usuário

do sistema, a rede em malha, em si, é transparente para ele. “Estamos propondo formas de tornar cada usuário conectado a uma parte da rede como um novo roteador que gera sua própria área de cobertura. Assim, estendendo a rede enquanto ele está conectado, eliminando, de forma mais eficiente, pontos escuros e incluindo, temporariamente, usuários que estariam fora da rede”, explica Antônio Abelém, coordenador do Gercom e diretor do CTIC.

Ainda segundo o diretor, “esses Projetos têm o apoio da Empresa de Processamento de Dados do Estado do Pará (Prodepa), da Secretaria Estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (Sedect) e da Rede Paraense de Tecnologia da Informação e Comunicação (Rede TIC), já que a solução tecnológica será utilizada na expansão do Programa Navega Pará, em locais onde os cabos e a internet com fio têm dificuldade de chegar”.

Contas de e-mails e sites institucionais da UFPA ganharam maior espaço para armazenamento, publicização e troca de informações. A aquisição de novos equipamentos de alta tecnologia permitiu a ampliação dos serviços disponibilizados pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC). Os e-mails @ ufpa já tiveram seu espaço ampliado de 200 para 500 megabytes (MB) e, em breve, passarão a ter capacidade de um gigabyte (GB), assim como os sites das unidades acadêmicas e administrativas. Os principais equipamentos que permitem esse processo de ampliação de serviços de internet são conhecidos como Storage Area Network (SAN), uma rede de armazenamento entre diversos dispositivos, como servidores de internet. O SAN adquirido pela UFPA, com capacidade bruta aproximada de 16 terabytes (16TB), possibilitará a expansão da capacidade de armazenamento útil dos serviços disponibilizados pelo CTIC, como email ou hospedagem de sites, páginas web e banco de dados. Os equipamentos, comprados em 2009, estão sendo entregues e instalados. "Tão logo estejam funcionando plenamente, vamos elevar para um gigabyte o espaço individual de nossos serviços de internet. Os servidores mais modernos e robustos

Membros do Grupo de Pesquisa em Rede de Computação, do ICEN, sob coordendação do professor Abelém permitem que realizemos a 'virtualização de nossos serviços', ou seja, vamos substituir vários servidores físicos instalados por um único, que hospedará, virtualmente, esses servidores menores, cada um responsável por um serviço, como contas de e-mail, hospedagem de sites ou registros acadêmicos. Esses investi-

mentos tiveram o apoio financeiro da PROAD e da administração superior da Universidade. São estratégicos e refletem, diretamente, na melhoria dos serviços para os nossos usuários finais", explica Antônio Abelém. Nos últimos anos, o número de usuários de e-mail institucional da UFPA passou de sete para 25 mil, com

n Rede Darwin potencializa telecomunicação Ainda no primeiro semestre de 2010, o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação da UFPA realizará a substituição total de cabos de fibra óptica e equipamentos de rede no Campus Setorial Profissional e da Saúde. A iniciativa faz parte do Projeto "Rede Darwin", que já atende o Campus Básico e promove qualidade, agilidade na conectividade e segurança da rede de informação da Instituição. "Tínhamos uma rede baseada em tecnologia obsoleta e tinha capacidade distinta em cada local, por conta da falta de padronização. O objetivo da Rede Darwin é organizar, padronizar e modernizar os serviços de rede de comunicação na UFPA, possibilitando maior taxa de transmissão de dados, cerca de um gigabyte por segundo (1 Gps), e diversificação dos serviços oferecidos", explica Antônio Abelém, diretor do CTIC. A Rede recebeu o nome de Darwin em homenagem ao centenário da Teoria da Evolução, celebrado no ano passado. A Rede Darwin do Campus Básico, já implantada, possui 20 anéis de fibra óptica, espécie de via por onde passam as informações, que interligam 45 prédios de unidades acadêmicas e administrativas. No Campus Profissional e no Campus da Saúde, serão 26 novos anéis

Fibra óptica: substituição total de cabos trará qualidade, agilidade e segurança atendendo 33 prédios. "Cada local está ligado ao CTIC por duas vias, ou seja, os dois lados do anel, o que garante que o serviço de rede e acesso à internet não seja interrompido em caso de falha ou rompimento da fibra em um dos lados. A troca de informação entre os setores da Instituição ocorre a uma velocidade de um gigabyte por segundo (1 Gps), com possibilidade de expansão para 10 gigabytes por segundo", resume Antônio Abelém. O próximo passo é estender a modernização para as redes internas dos prédios, ou seja, substituir cabos

e equipamentos dentro das unidades, bem como isolar a rede em relação a outros serviços, como eletricidade e telefonia, que podem provocar interferência na transmissão. A renovação também deve ser implantada nos campi do interior, desta vez com o apoio do Projeto Navega Pará, do governo do Estado. Uma das principais vantagens dessa nova Rede é que ela é gerenciável, o que quer dizer que possibilita uma grande flexibilidade de reconfiguração, assim como um controle maior sobre o seu uso, potencializando o serviço de manutenção, tornando-a mais estável.

a extensão dos serviços para os alunos de graduação. As contas dos alunos estão sendo criadas automaticamente quando ingressam na Instituição e as informações de usuário e senha são enviadas diretamente para as respectivas faculdades, responsáveis pelo encaminhamento das informações para os alunos.

UFPA está pronta para adotar CAFE Instituições de Ensino Superior do Brasil estão aderindo à Comunidade Acadêmica Federada (CAFE) com o objetivo de utilizar e-mails institucionais como login de acesso aos diversos ser viços relacionados às universidades. O primeiro serviço compartilhado é o d e a c e s s o a o Po r t a l d e Pe r i ó d i c o d a CA P E S , que poderá ser acessado de casa ou de qualquer ponto de i nter net, o que, atualmente, é feito apenas de dentro das dependências d a U F PA . N e s t e s e n t i d o, cada instituição será um ' p ro ve d o r d e i d e n t i d a d e ' que certifica que o usuário pertence a uma Instituição Federal de Ensino Superior. A infraestrutura necessária para adentrar no sistema já está pronta na UFPA e deve entrar em operação tão logo a comunidade seja efetivada pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP).


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